* Fonte: Márcia Jacoby, Professora de Serviço Social da ULBRA e ex-
professora de Serviço Social da Universidad Nacional de Lomas de Zamora - Argentina
O Serviço Social da Argentina é mais um expoente da trajetória do Serviço
Social na América Latina. Há escassez de estudo e pesquisa sobre a história do Serviço Social argentino mas, as fontes bibliográficas existentes indicam a correlação de forma de inserção e intervenção da profissão na realidade social brasileira e argentina. Por este motivo, pode-se afirmar que o processo histórico da profissão na Argentina assemelha-se ao processo do Serviço Social ocorrido no Brasil apesar da diferença no surgimento da primeira instituição formadora e da institucionalização do exercício profissional que estavam vinculados ao Estado. A conjuntura político- econômica de ambos países demarca uma sociedade com problemática social extrema, provenientes da ordem social legitimadora da desigualdade da população na produção e acesso a bens e serviços resultando uma imensa crise na complexa trama das relações sociais, econômicas, políticas e culturais. Assim, a semelhança dos caminhos assumidos pelo Serviço Social no contexto histórico brasileiro e argentino deve-se às normativas postas pelo Estado baseadas na subordinação do interesse nacional às determinações governamentais internacionais.
As estratégias de enfrentamento da questão social realizada no período do
Governo Perón (1946-1955), foram assumidas como responsabilidade estatal distanciando-se das normativas internacionais assumidas pelos governos anteriores e posteriores. É importante assinalar que foi neste período que as políticas sociais foram valorizadas coo direito do cidadão e dever do Estado, transformando a tradicional sociedade de beneficiência.
Foi notória a intensificação da crise político-econômica e social que se
instalou a partir do governo Menem, levando ao máximo a expressão de Estado neoliberal negligenciador da responsabilidade de gestor das políticas sociais, privatizando as suas principais sociedades públicas, quebrando os avanços conquistados no plano dos direitos sociais agudizando a miserabilidade social e a instabilidade política. Neste cenário inscreve-se o Serviço Social buscando respostas às demandas societárias, ao mesmo tempo em que os profissionais são atingidos pelo desmantelamento da estrutura administrativa e financeira das instâncias responsáveis pela execução, pela perda de seus vínculos como funcionários e pelo desemprego elevado da categoria.
O Estado sempre foi o detentor majoritário das garantias das políticas
sociais e o maior empregador do trabalho dos assistentes sociais. A intervenção do Serviço Social nos espaços privados e da sociedade civil organizada é recente, considerando que a perspectiva estatal anterior ao regime político militar era de gerar estratégias governamentais para enfrentar a questão social. A intervenção estatal era sistemática, contínua e universal.
As características particularidades da formação acadêmica corresponde aos
princípios educacionais de um projeto de universidade pública construída com o protagonismo dos discentes, inserida no cenário societário, com um plano pedagógico baseado na co-responsabilidade de organização do conhecimento, com ingresso amplo dos interessados, com uma estrutura administrativa composta de representantes do corpo docente e discente, a função executiva distribuída em Conselhos e Departamentos e com intercomunicação entre comunidade e academia.
Os cursos tem o currículo dividido por cátedras que congregam disciplinas
correspondentes. Nas cátedras um professor responsável denominado de titular, um professor substituto, chefes de trabalho e ajudantes de cátedras. Os chefes de trabalho são os professores que ministram as disciplinas e são responsáveis por manter uma relação da teoria com a prática seja ela prática de campo ou dos trabalhos práticos de laboratório, bem como são os supervisores de estágio. Os ajudantes de cátedras são alunos ou monitores que trabalham diretamente com os chefes de trabalho. O professor titular é responsável pelo planejamento, pela reunião com todos os chefes de trabalho na organização da lógica e estrutura entre as disciplinas e de ministrar aulas com os chefes de trabalho apontando conteúdos inter- relacionados com todas as disciplinas de sua cátedra e das demais. O professor substituto deverá também ministrar suas aulas devendo enriquecer os conteúdos teórico-metodológicos e práticos das disciplinas priorizando aqueles conteúdos que se relacionam com as disciplinas.
Os pressupostos teórico-metodológicos do Serviço Social na Argentina
acompanharam a ruptura dos pressupostos médico-jurídicos norteadores da profissão desde os seus primórdios e a modificação da dinâmica profissional em torno do movimento de reconceituação em 1960. Impulsionados pela reconceituação, os assistentes sociais (trabajadores sociales) apresentam conhecimento teórico relevante com edições bibliográficas importantes e estudos investigatórios que revelam a produção científica em nível de outras profissões.
O conhecimento especializado e habilidades específicas estão postos no
exercício profissional junto aos espaços comunitários e institucionais na operacionalização de programas e projetos vinculados às políticas sociais. Não podemos esquecer que a maioria dos Assistentes Sociais estão inseridos na esfera pública. A dimensão profissional aparece num conjunto de orientações apontando: A uma visão de usuário incrementando o nível de informações no acesso aos serviços através de meios massivos de comunicação, participação em organizações e espaços de capacitação; Necessidade de especialização na área de atuação sem que isto parcialize o enfoque da problemática trabalhada; Utilização dos conhecimentos adquiridos no processo de formação acadêmica; Incorporação de recursos tecnológicos no fazer profissional; Consideração de que aparece na tarefa profissional o incremento na complexificação das demandas sociais; Intensificações de produções escritas inéditas e sistematizações de processos investigatórios com rigor científico.