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Histórico do Serviço Social no Brasil

A origem do Serviço Social como profissão tem as marcas profundas do


capitalismo com seu modo de produção antagônico, contraditório e alienante,
desde o início de sua fase industrial é considerado um divisor de águas na
história da sociedade e suas relações sociais.
O Serviço Social surgiu no Brasil na primeira metade do século XX,
tendo suas raízes cristas de assistencialismo ligado à igreja católica, pois esta
patrocinada pela burguesia controlava todo o processo de ajuda ao próximo e
benefícios aos menos favorecidos. Era uma forma de camuflar a desigualdade
social, utilizando-se de um discurso humanitário e assim garantia o crescimento
econômico e a expansão do capital. Conforme a Encíclica Rerum Novarum

Com esta encíclica deu-se início à sistematização


do pensamento social católico, passado a chamar-
se vulgarmente de Doutrina Social da Igreja
Católica. Este pensamento vai muito além de
apresentar uma simples alternativa ao capitalismo
e ao marxismo. 

Na década de 30 o país enfrentava momentos de tensão onde suas


origens estão profundamente relacionadas com o complexo quadro histórico-
conjuntural onde a classe trabalhadora reivindicava melhores condições de
trabalho pois a acumulação capitalista sofreu alteração quando os
trabalhadores migraram do campo para os grandes centros urbanos e a
burguesia não conseguia conter as manifestações.
Neste período, a burguesia uniu-se ao Estado e a Igreja, como poderes
organizadores e dominante buscando estratégia no âmbito da disciplina e
desmobilização do proletariado.

O Estado que despontou como República nova[...]se auto


atribuindo a missão de resgatar o clima de “harmonia
social”. Como estratégia para baixar a tensão reinante
entre os trabalhadores, trouxe para si próprio a
responsabilidade de cuidar da reprodução de sua força
de trabalho. Para tanto buscou o fortalecimento de suas
alianças com a igreja e com os setores mais abastados
da burguesia, com os quais dividiu a tarefa de
circunscrever a hegemonia do poder ao restrito âmbito da
classe dominante. (Martinelli,2011,p.122)
Assim, nasce em São Paulo, o primeiro evento que marcou a longa
caminhada do Serviço Social, no meio do movimento constitucionalista de
1932, o Centro de Estudos e Ação Social de São Paulo – CEAS. Sendo o
primeiro curso de preparo para o exercício da ação social, chamado de Curso
Intensivo de Formação Social para Mocas e ministrado pala assistente social
belga Adele de Loneux, da escola Católica de Serviço Social de Bruxelas e a
criação da primeira escola de Serviço Social, em São Paulo, em 1936.
Na década de 40 e 50 o Estado junto com a classe dominante abriu
espaço para que o Serviço Social avançasse no seu processo de
institucionalização onde sofreu forte influência norte-americana através de
Mary Richmond que foi a primeira a escrever sobre a diferença entre fazer
assistência social, caridade, filantropia e o Serviço Social. sua pratica no início
era abordagem individual apoiada na linha psicanalítica, agora com os
americanos desenvolveram outros métodos de trabalho em grupo que
compuseram a denominada tríade metodológica: as teorias de CASO,GRUPO
e COMUNIDADE.
Desta forma o Serviço Social era utilizado na perspectiva educacional e
sua estrutura cientifica fundamentada nas teorias sociológicas de Durkheim,
Weber, Simmel e nas teorias da psicologia Social e da pedagogia , pois seu
foco era o indivíduo, seu autodesenvolvimento ,ajuda a se adequar aos valores
e normas vigentes do contexto social onde estava inserido , ou seja, objetivava
o ajustamento social do indivíduo e ao mesmo tempo realizava um trabalho
assistencial.
Operando sempre com a identidade atribuída pelo
capitalismo e ostentado a face dos detentores do poder a
que estava vinculado- Estado, Igreja, classe dominante, o
Serviço Social caminhava em seu processo de
institucionalização, atravessado continuamente pelo
signo da alienação, que, como que encobrindo a
consciência social dos agentes profissionais com um véu
nebuloso e místico, os levava a se envolver com práticas
conservadoras, burguesas, que visavam apenas a
reprodução das relações sociais de exploração,
fundamentais para a sustentação do processo de
acumulação capitalista.( Martinelli,2011,p.135)

Esse período foi considerado para a profissão o chamado “período de


ouro”, onde o fortalecimento do profissional se deu com as organizações de
congressos, cursos de reciclagem e a criação, em 1945,da Associação
Brasileira das Escolas de Serviço Social(ABESS),em 1946,a Associação
Brasileira de Assistentes Sociais Assistentes Sociais(ABAS),a criação do
Código de Ética(1948),a regulamentação do ensino(1954) onde o Presidente
Getúlio Vargas assinou o decreto Lei n.35.311,de 08/04/1954. e o
reconhecimento da profissão (1956).
Entre os anos 60 e 70,momento em que se iniciou a deflagração do
movimento de reconceituação, onde buscou-se respostas a uma crise interna
da profissão provocada pela “crise” estrutural e conjuntural da realidade
brasileira, o que demandou novas alternativas de prática, novas formas de
aproximação da realidade e com isso surgiram também “ideias
revolucionárias”, assim, na categoria conviviam alienação e crítica sendo
consequência a ampliação dos espaços críticos da categoria e tornando
dialético o ser social dos agentes profissionais.
O país envolvido na expansão do capitalismo e sua consolidação no
mundo, tinha suas atenções mais concentradas nas questões econômicas e de
política externa do que nas questões sociais, o que mais tarde possibilitou o
desenvolvimento de manifestações de vários segmentos da classe
trabalhadora.
Com esses movimentos buscou-se alterar o modo tradicional,
conservador da profissão e com a realização de vários seminários promovidos
pelo Centro Brasileiro de Cooperação e Intercambio de Serviços
Sociais(CBCISS), como:
- 1967-Araxa-MG:Teorizacao do Serviço Social
- 1970-Terezópolis-RJ-Metodologia do Serviço Social
- 1978-Sumaré-RJ-Cientificidade do Serviço Social
O seminário de Araxá de 19 a 26 de marco de 1967 contou com a
participação de 38 profissionais e o de Teresópolis em 1970 contou com 103
assistentes sociais convidadas, mas 33 estiveram presentes onde se discutiu
novas técnicas, metodologias na perspectiva modernizadora da profissão. Mas
foi no seminário em Sumaré oito anos depois que as 25 assistentes sociais
elaboraram um documento preparatório para o deslocamento na perspectiva
modernizadora da profissão com base nos três pontos: o Serviço Social e a
cientificidade, a fenomenologia e a dialética.
Enfim o documento de Araxá foi uma quebra de paradigma, onde se
buscou a reconceituação da profissão, desenvolvendo uma metodologia que
consistiu em produzir um conhecimento científico dos fatos sociais
Desta forma no plano do exercício profissional, no final dos anos 70 e
início da década de 80, ocorreu um avanço significativo da prática social, onde
foi construído com base nas alianças com a classe trabalhadora.

Era na realidade concreta, no movimento de luta de


classes, no conjunto de relações, diferenças, interações e
contradições que sua construção poderia consolidar-se,
ganhando materialidade, concretude histórica e
movimento interno incessante. [...]determinava um novo
percurso para a caminhada da categoria profissional, pois
colocava-se como um verdadeiro imperativo a busca de
aproximação com as classes populares. .
(Martinelli,2011,p.147).

Com o fim da ditadura militar, no final da década de 70 e o início da abertura


política, os assistentes sociais já se posicionavam em relação a formulação das
políticas sociais enquanto intervenção social e discutiam inovações na
profissão, do ponto de vista teórico-metodológico, mercado de trabalho e
realidade do Brasil.

Outro marco dos anos 80 foi o movimento das “diretas já”, que foi de
extrema importância para a democracia, marcados pelas manifestações da
população pela liberdade de expressão e insatisfação com as políticas
vigentes.

Neste contexto, o Serviço Social após o rompimento com o


conservadorismo reconhece a pluralidade teórica-metodológica, onde a teoria
Marxista direciona o projeto ético-político da profissão tendo como valor central
os princípios de democracia, liberdade, justiça social e dignidade humana, mais
tarde definidos e explicitados no Código de Ética de 1993, marco significativo
para a profissão nos anos 90,firmando um compromisso com o trabalhador.

Neste período a profissão é situada no âmbito da divisão sócio técnica


do trabalho e observa também a consolidação das políticas públicas na área da
seguridade social com o tripé: saúde, assistência social e previdência social.

O grande marco no campo das políticas sociais foi a Constituição


Federal de 1988 e a partir daí a implementação do projeto da Seguridade
Social brasileiro: Lei Orgânica da Saúde(LOS),Lei orgânica da Assistência
Social(LOAS) e o movimento da categoria profissional em torno do seu Projeto
Ético-Político Profissional, que é considerada por Netto como conjunto de

Valores que a legitimam socialmente, delimitam e


priorizam seus objetivos e funções, formulamos requisitos
(teóricos, institucionais e práticos)para o seu exercício,
prescrevem normas para o comportamentos dos
profissionais e estabelecem as balizas de sua relação
com os usuários de seus serviços, com as outras
profissões e com as organizações e instituições sociais.
(1999,95 apud Behring, Elaine Rossetti, Ivanete
Boschetti, São Paulo,Cortez,2011)

A Lei Orgânica de Assistência Social(LOAS),de dezembro de1993,que


deveria ser um instrumento capaz de gerar alterações eficazes na organização
da prestação de serviços assistenciais, permaneceu por mais de uma década
como uma “carta de intenções”, com exceção sobre o Benefício de Prestação
Continuada(BPC) que foi ainda implementada na década de 1990.
Com a implantação do LOAS a população em situação de pobreza deixou
de ser “assistida” ou “favorecida” para se tornar usuária ou beneficiaria. A
LOAS inaugurou um novo debate político-institucional no campo da
Assistência, propondo mudanças estruturais e conceituais e novas relações
interinstitucionais e intergovernamentais, sendo reconhecimento público da
legitimidade das demandas dos usuários.

Somente na IV Conferência Nacional de Assistência Social, em


dezembro de 1993 que define as diretrizes objetivas com relação a
organização deste setor no sentido de conferir uma nova institucionalização a
política de Assistência Social.

No ano de 2004, é criado o Ministério de Desenvolvimento Social(MDS)


que investe na reconstrução da política de assistência social para atuar com
programas intersetoriais e confere um caráter na perspectiva de
profissionalização da área, rompendo assim com o legado clientelista e
assistencialista que marca esta área. Ainda neste ano tornou-se pública a
versão final da Política Nacional de Assistência Social(PNAS), onde se destaca
a criação do Sistema Único de Assistência Social(SUAS).

Um dos programas centrais do MDS, o programa Bolsa Família(PBF),


traz expressa a preocupação do enfrentamento da fragmentação da
intervenção do Estado na área social, pois além da descentralização e do
controle social, o PBF é fortemente pautado na intersetorialidade. Para se
manter no Bolsa Família, as famílias beneficiarias devem cumprir as
condicionalidades da educação e saúde, o que já exige um mínimo de
integração entre as áreas envolvidas.

A Assistência Social encontra dificuldades para sua implantação em


vários municípios para prestação de serviços de serviços da política social na
construção das estruturas mínimas que são os Centros de referência de
Assistência Social(CRAS)e Centro de Referência especializado de Assistência
Social (CREAS).

Outro desafio de implementação de intersetorialidade a ser vencido se


dá em função do próprio objeto de intervenção para o qual a assistência social
se volta: indivíduos e famílias em situação de vulnerabilidade social, onde,
muitas vezes os laços familiares já estão rompidos.

Nesta trajetória observamos que nas ultimas 3 décadas a profissão no


Brasil obteve uma renovação nos parâmetros teórico-metodológico, técnico-
operativo e ético-político dado assim uma resposta as diversas mudanças e as
demandas da sociedade.

O profissional assume compromisso com os interesses e defesa dos


direitos da classe trabalhadores, sendo seus valores e pilares definidos no
Código de Ética Profissional, na Lei de Regulamentação da profissão (Lei n
8662/1993) e nas Diretrizes curriculares do curso aprovada pela Associação
Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social(ABEPSS), que vem
orientando a atuação do profissional tanto em sua formação quanto no
exercício prático da profissão.

Na década de 90 o Serviço Social sentiu os efeitos da política neoliberal


da acumulação flexível no mundo do trabalho e da compressão dos direitos
conquistados ate os anos 80 e reafirmados na Constituição de 1988.Neste
contexto os profissionais passaram a atuar no terceiro setor pois houve um
aumento da demanda resultado da minimização do Estado. Isto se agravou até
os anos 2000 onde aumentou a discussão em torno da eficiência das políticas
sociais e o agravamento das expressões da questão social. Com isso ocorreu
um aumento nos cursos de graduação e de graduação a distância e os
profissionais atuam em diversos setores.

Diante de tantas alterações os profissionais devem manter seus valores


centrais tanto em sua formação quanto atuação no que diz respeito ao

“compromisso com a autonomia, a emancipação e a


plena expansão dos indivíduos sociais. [...]o projeto
profissional vincula-se a um projeto societário que propõe
a construção de uma nova ordem social, sem dominação
e/ou exploração de classe, etnia, ou orientação sexual”
(CFESS,1993)

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