Você está na página 1de 6

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


FACULDADE DE SERVIÇO SOCIAL
DISCIPLINA: FHTM 3
DOCENTE: PROFª DRA. VERÔNICA DO COUTO ABREU

BRUNA FIGUEIRÓ MARTINS


CLEYSE DA SILVA CARNEIRO
ELIANE DE JESUS CUNHA SARDINHA
MARIA LIDIANE S. FERREIRA
ROBSON LUIZ DOS SANTOS GUIMARÃES
WESLEY FELIPE FREITAS ROSA

ATIVIDADE AVALIATIVA
MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO NA AMÉRICA LATINA:
CHILE E ARGENTINA

BELÉM/PA
2023
1. MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO DO CHILE

A transição ao socialismo no Chile entre 1970 e 1973 é um ponto de partida crucial para
uma compreensão aprofundada da transformação pela qual o Serviço Social passou na
região. Nesse período, o Chile testemunhou um cenário de luta política aberta, enquanto
muitos outros países da América Latina, incluindo o Brasil, estavam sob regimes militares
autoritários. Sob a liderança de Salvador Allende, o governo chileno buscou uma transição
democrática em direção ao socialismo, encontrando resistência acirrada das forças
conservadoras. Essa mobilização política e popular resultou em uma organização sindical
vigorosa, ocupações de terras urbanas e uma reforma agrária significativa. No entanto, as
forças conservadoras, apoiadas pelos Estados Unidos, empreenderam estratégias de
boicote e outras táticas, visando sufocar o governo da Unidade Popular. Este período foi
marcado por um conflito constante entre as forças hegemônicas e um movimento contra-
hegemônico.
O primeiro passo na reestruturação dessas duas escolas foi uma imersão na história
do Chile, com foco na análise da dependência e da dominação no contexto da
transformação. Adotando uma perspectiva marxista, a intenção era compreender a história
e sua totalidade, bem como o papel do Serviço Social nesse processo. Refletir sobre o
Serviço Social significava concebê-lo em seu contexto histórico e em sua relação com a
mobilização política. A proposta da Escuela abalou o objeto e os objetivos do Trabalho
Social, repensando os campos de atuação e a metodologia com uma perspectiva de
transformação da sociedade capitalista. Isso levou à formulação de uma nova
epistemologia para a construção do objeto, afastando-se da resolução de problemas
fragmentados em prol de uma abordagem mais integrada da realidade em constante
mutação.
Neste estudo, investiga-se o Movimento de Reconceituação do Serviço Social na
América Latina, com ênfase na experiência da Escuela de Trabajo Social da Universidad
Central de Venezuela (UCV). Esse movimento marcou uma transformação significativa na
maneira como o Serviço Social era abordado, voltando-se para uma análise crítica das
estruturas sociais e para a promoção de uma ação transformadora em parceria com as
classes trabalhadoras.
A Reconceituação emergiu em um contexto de crescente politização e mobilização
social na América Latina, especialmente na década de 1960. A região estava passando por
mudanças políticas, econômicas e sociais profundas, e o Serviço Social, tradicionalmente
associado a práticas assistencialistas e conservadoras, enfrentava desafios na adaptação
a essa nova realidade. O estudo realça a experiência da UCV, onde a Reconceituação do
Serviço Social se manifestou profundamente. A escola se tornou um espaço de reflexão
crítica, onde a relação entre teoria e prática foi explorada minuciosamente. Estudantes e
docentes se envolveram em atividades de campo que os aproximaram das lutas populares
e das classes trabalhadoras. Essa abordagem promoveu uma compreensão mais
abrangente das dinâmicas sociais e uma valorização do papel central desempenhado pelas
classes trabalhadoras na transformação da sociedade.
A Reconceituação adotou uma abordagem dialética, enfatizando a interconexão entre
totalidade e contradições. Isso implicou que o Serviço Social não poderia ser compreendido
de forma isolada, mas deveria ser compreendido como parte integrante de um sistema
social mais amplo. Essa perspectiva contribuiu para superar abordagens simplistas e
assistencialistas, permitindo uma compreensão mais aprofundada das complexidades
sociais. A escola colaborou de perto com sindicatos, movimentos de trabalhadores,
agricultores e grupos populares urbanos, promovendo a conscientização, a mobilização e
o engajamento político das classes trabalhadoras.
O estudo ressalta a importância de capacitar as pessoas para se tornarem agentes da
mudança, rejeitando a visão de que o Serviço Social era meramente um agente externo
que provia soluções. Além disso, o movimento incentivou uma integração mais estreita
entre teoria e prática. Estudantes e professores se envolveram em atividades de campo
que eram posteriormente analisadas à luz das teorias críticas. Essa abordagem resultou
em uma formação mais sólida e transformadora dos assistentes sociais, capacitando-os
com as ferramentas necessárias para enfrentar os desafios apresentados pelas classes
trabalhadoras e pelos movimentos sociais.
Contudo, a experiência da UCV evidenciou que a Reconceituação não se resumiu a
uma retórica idealista, mas sim a uma abordagem eficaz que permitiu ao Serviço Social se
envolver de forma significativa na luta contra a dominação e na busca por uma sociedade
mais equitativa. Essa abordagem crítica e dialética fomentou uma compreensão mais
profunda das complexidades sociais, uma colaboração estreita com as classes
trabalhadoras e uma integração eficaz entre teoria e prática. A Reconceituação representa
um marco na história do Serviço Social na região, permitindo que os assistentes sociais
desempenhassem um papel mais significativo na transformação social.
2. MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO DA ARGENTINA

O Movimento de Reconceituação na Argentina emergiu durante um período de


efervescência em vários campos culturais e sociais da sociedade, impulsionado pela crise
do capitalismo na década de 1970. Além disso, é fundamental ressaltar a etapa de
industrialização tardia que caracterizou todos os países latino-americanos nesse período,
resultado tanto de eventos na história global quanto do interesse das nações já
desenvolvidas.
Conforme a teoria marxista, o capitalismo atravessa ciclos de crises que se agravam
ao longo do tempo. Após a Grande Depressão de 1929, o capitalismo experimentou
momentos de crescimento notável, particularmente de meados da década de 1940 até o
final da década de 1960. No entanto, em 1970, ocorreu outra grande crise econômica,
provocando reflexões nas sociedades, sobretudo na Argentina, que começou a questionar
o modelo econômico de dependência ao qual o país estava submetido no contexto do
capitalismo global. Como resposta a essas preocupações, o liberalismo econômico
reformulou suas bases, criando o neoliberalismo. Nesse clima de repressão de revoltas e
questionamentos sociais, ocorreu o golpe militar argentino em 1976.
Diversas teorias foram elaboradas para explicar o modelo econômico de dependência
colonial adotado pela Argentina, com a crença de que isso a integraria ao mercado global,
gerando desenvolvimento e reduzindo a dependência a longo prazo.
Nesse cenário, o Serviço Social Argentino buscou sua renovação, inicialmente focado
em atender as demandas liberais geradas por esse período de efervescência social.
Paralelamente, houve uma renovação do serviço em prol das classes trabalhadoras. Além
disso, a entrada da política nas organizações armadas, influenciada pelos peronistas e pela
atuação de Che Guevara na Bolívia, desempenhou um papel significativo. Isso conduziu a
um confronto com a sociedade burguesa em busca da construção de uma sociedade mais
justa para a classe trabalhadora.
Nesse contexto, discursos e protestos surgiram na Argentina, com destaque para
Cordobazo e Rosariazo, movimentos compostos por estudantes e operários, que
incomodaram os líderes da política de ditadura e a classe burguesa da Argentina. Em 1976,
os militares tomaram o controle do país, dando início a uma das ditaduras mais violentas já
vista no território da América Latina.
É importante notar que o contexto dessa época foi marcado por intensas
transformações, incluindo a Revolução Cubana, a derrota dos EUA na Guerra do Vietnã e
a revolução cultural na China. Todos esses eventos demonstraram a necessidade de rever
conceitos culturais, científicos, sociais e humanos. Eles enfatizaram que somente o povo
unido poderia efetuar mudanças significativas.
Nesse sentido, o grupo de esquerda exerceu uma influência significativa no Movimento
de Reconceituação argentino, que também ficou conhecido como o "florescimento do
Serviço Social". Nesse período, os assistentes sociais estavam ainda se descobrindo e
encontrando seu lugar, principalmente em universidades e em ambientes onde a luta de
classes era mais evidente. Essa transformação desempenhou um papel crucial no
desenvolvimento do Movimento de Reconceituação.
José Paulo Netto destaca no texto as conquistas que foram essenciais para a
reconceituação, incluindo a nova concepção latino-americana, os avanços nas ciências
sociais e o apoio de alguns membros da Igreja Católica, entre outros. Isso resultou na
criação de um projeto modernizador com o objetivo de aprimorar o trabalho dos assistentes
sociais na abordagem de questões sociais, permitindo-lhes desenvolver uma visão mais
ampla e crítica dessas questões.
No processo de desenvolvimento, em 1957, o governo argentino solicitou à ONU a
presença de um profissional para aprimorar a área de Serviço Social. A assistente social
chilena Maidagen de Ugarte foi designada como avaliadora e instrutora, e suas
recomendações contribuíram para o avanço da profissão. Essa evolução levou à criação
de uma revista de Serviço Social pelo grupo Ecro em 1964. A partir de 1966, houve uma
radicalização nas ações dos jovens nas universidades, que também trouxeram sindicatos
e partidos (que antes eram proibidos) para o movimento. Como resultado, surgiram mais
faculdades de Serviço Social com o objetivo de valorizar a profissão.
Portanto, apesar das críticas à época em relação aos profissionais de Serviço Social, o
Movimento de Reconceituação desempenhou um papel de extrema importância para os
assistentes sociais. Isso levou a um aumento das lutas sociais em prol da classe
trabalhadora e ao desenvolvimento de um senso crítico mais aguçado em relação à
profissão.
REFERÊNCIAS

DE PAULA FALEIROS, Vicente. Reconceituação do Serviço Social: processo e


movimento da Escuela de Trabajo Social da Universidade Católica de Valparaíso|
Reconceptualization of Social Work: process and movement of Catholic University of
Valparaiso’s “Escuela de Trabajo Social”. Revista Em Pauta: teoria social e realidade
contemporânea, v. 15, n. 40, 2017.

BERTA MOLJO, Carina; SIQUEIRA DA SILVA, José Fernando; ZAMPANI, Roberto.


Movimento de Reconceituação e Serviço Social argentino. Em Pauta, v. 15, n. 40,
2017.

Você também pode gostar