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NOTA DE AULA

HISTÓDIA DO SERVIÇO SOCIAL NA AMÉRICA LATINA


(CASTRO, Manoel Manrique. História do Serviço Social na América Latina. São
Paulo: Cortez, 2000).
CAPÍTULO I
Como o Serviço Social surgiu na América Latina?
A primeira escola de Serviço Social na América Latina surge no Chile em 1925,
por nome: Alejando Del Río.
A data da primeira escola marca a institucionalização do Serviço Social neste
continente, sob uma forte influência – quase um reflexo – europeia. Entre 1925 e 1940
foi tributário em especial do influxo belga, francês e alemão, posteriormente, recebendo
a influência quase exclusiva dos EUA.
A primeira escola é fundada por um médico, que entendia na época que
poderiam cercar-se de sub-profissionais para garantir o atendimento médico em todas as
suas frontes sem exaurir-se. Logo, o assistente social é convocado para participar desse
movimento.
Em seguida, os profissionais que irão requisitar o “apoio” das assistentes foram
os advogados, seguidos pelas instituições de caridade e filantropia.
Há três fases sucessivas que marcam sua gênese: Assistência Social, Serviço
Social e o Trabalho Social.
A Assistência Social desenvolve um projeto de fazer o bem por meio da técnica,
é o exercício da caridade. O Serviço Social possui preocupações técnico-científicas de
ajustamento dos indivíduos, nessa etapa, há uma elevação do nível do estatuto
profissional, uma psicologização e um tecnicismo neutro e asséptico.
O surgimento do Serviço Social não está ligado diretamente à luta de classes e
ao desenvolvimento das forças produtivas, ele se deu sob a dependência de forças
derivadas de outros meios, como a requisição por outros profissionais.
“Como pôde nascer o Serviço Social latino-americano se este foi, por largos
anos, um mero reflexo do Serviço Social europeu e, depois, do norte-americano? ”. (p.
18).
O surgimento do Serviço Social a nível continental não pode ser simplificado a
um evento, ao surgimento de uma escola em um único país desse continente, sem correr
o risco de ser insuficiente para dar conta do complexo fenômeno que se trata.
A década de 1920 no Chile é marcada pela emergência de novas classes sociais,
em razão da integração das economias latino-americanas ao mercado mundial
capitalista.
Em contrapartida, é um momento de organização da classe trabalhadora em prol
de melhores condições de vida e de trabalho. Nesse aspecto, o Estado se colocava a
partir de uma “aliança” de classes, que considerava aos trabalhadores a impossibilidade
do atendimento integral de suas requisições.
O desenvolvimento das forças produtivas e o acumulo do capital no Chile trouxe
todas as sequelas das consequências desse desenvolvimento: “Miséria, crescimento
urbano caótico, migrações de camponeses expulsos de suas terras, etc., instauraram o
solo fértil e propício para a emergência e a proliferação de agentes encarregados de
trabalhar estes fenômenos – agentes entre os quais, naturalmente, contam-se os
assistentes sociais”. (p. 20).
Não é à toa que um médico, posteriormente, um corpo de advogados, encabeçam
a iniciativa de uma escola de Serviço Social. No contexto tratado no Chile, eram esses
profissionais que dominavam as ações estatais nas instituições. Considerando as
condições de vida e de trabalho da classe trabalho, e a negação do capitalismo em dar
respostas a esse fenômeno, foi quase natural que os profissionais buscassem outros
meios que fugiam às suas atribuições e competências.
O surgimento de novos fenômenos diante do desenvolvimento e da acumulação
do capital requerem o trato diferenciado e mais preparado da ação social sob as
consequências desses fenômenos. Entretanto, não surgem novas forças de ação social
para excluir as anteriores.
Ora, a nosso juízo, se se recorreu à Europa como modelo para
legislação trabalhista, para a previdência social ou para a assistência
pública, foi porque existia uma compatibilidade entre os projetos de
classe que algumas faixas das classes dominantes sustentavam e o
conteúdo e a mensagem das fórmulas de ação importadas. Era este
nível de identidade que criava as condições para que se visualizassem
naquelas fórmulas um mecanismo de ação aplicável às realidades de
nossos países. (p. 21).
Não é possível compreender o nascimento da profissão sob a ótica exclusiva do
espírito visionário de Alejando Del Río, é preciso considerar o processo amplo em que
isso se insere, reconhecendo a importância de sua iniciativa.
Boris Lima acentua que o Serviço Social dá o primeiro passo para se tornar
científico quando começa a questionar as razões e bases dos fenômenos que chegam ao
profissional como demandas. O que demonstra uma visão endógena do
desenvolvimento da profissão.
CAPÍTULO II
O surgimento da primeira escola de Serviço Social na América Latina cristaliza
uma situação prévia e traz mudanças significativas para a própria profissão.
As formas de organização das classes trabalhadoras foram impondo novas
exigências. Em resposta, as classes dominantes foram buscando enquadrar as
reivindicações a legislação burguesa, da qual o Estado é o encarregado do controle.
O objetivo era tornar a luta pelos direitos uma concessão da burguesia.
Entretanto, as formas de controle vão se tornando insuficientes e carecendo de maior
complexidade. Ao desenvolverem novos métodos de controle e de intervenção na luta
dos trabalhadores, a burguesia se instaura no campo ideológico, sob mecanismos que
possibilitam a ampliação do capital.
É esse o ponto central do surgimento da profissão, sob a necessidade de
desenvolvimento de novos mecanismos.
A vida do proletário começa a ser reorganizar em prol de sua condição de
trabalhador, de vendedor da sua força de trabalho: “Os hábitos, a organização do
consumo de toda a economia doméstica, o papel da mulher no lar, o uso do tempo livre
etc., todos esses aspectos passam a organizar-se em consonância com a sua condição
básica de proletário”. (p. 25).
Esse processo de adaptação é acompanhado e moldado por profissionais de
diversas áreas. Como os assistentes sociais, que moldavam e organizavam a vida do
proletariado sob as exigências da burguesia.
A relação entre o Serviço Social e a Igreja também precisa ser reconhecida sobre
as mudanças que o sistema impôs ao catolicismo, sobre as práticas caritativas. Tudo se
molda e se transforma sobre esse sistema.
Os elementos que mais colaboram para o surgimento do Serviço
Social têm sua origem na Ação Católica – intelectualmente laica,
estritamente ligada à hierarquia católica –, que propugna, com visão
messiânica, a recristianização da sociedade através de um projeto de
reforma social.
A Ação Católica busca recuperar a hegemonia católica, adentrando espaços do
Estado e lutando contra as ideias liberais e comunistas.
Os dogmas emitidos pela Igreja tinham objetivos mais profundos do que apenas
levar a verdade, entre eles, era manter-se no centro do poder, mesmo em meio a luta de
classes. Por isso, monopolizaram o conhecimento por muito tempo, favorecendo ora um
e ora outro, desde que tudo sempre girasse em torno de si própria.
A Igreja estava perdendo seus espaços em razão das modificações provocadas
pelo capital, tornando os trabalhadores – e os burgueses – adeptos da ideologia marxista
ou das ideias liberais, com isso, para acompanhar esse processo, a Igreja difundiu ainda
mais seu alcance: “Nestes, cabe destacar o ensino confessional, os centros de estudo, a
Ação Católica, as universidades, os sindicatos católicos, as novas formas de ação
paroquiais, etc”. (p. 27).
As encíclicas papais são uma das normas genéricas para o exercício da fé
católica. Durante a institucionalização do Serviço Social no meio universitário, duas
encíclicas papais tiveram maior expressividade entre a categoria: Rerum Novarum
(1891) e a Quadragesimo Anno (1931).
A encíclica Rerum Novarum é dividia entre as soluções: do socialismo e da
Igreja. Ela começa deixando clara a sua intenção de versar sobre a Questão Social,
entretanto, impõe a solução de suas expressões como atribuição exclusiva da Igreja, em
razão desta última ter em mente o bem comum e coletivo.
Se coloca criticamente contra a ganância da burguesia, embora seja favorável a
permanência da propriedade, em uma posição claramente antissocialista: “De acordo
com a encíclica, o direito à propriedade é um direito natural que procede da
generosidade divina: quando Deus concedeu a terra ao homem – diz-se –, fê-lo para que
a use e desfrute sem que isto se oponha, em qualquer grau, à existência humana”. (p.
28).
Defendem que Deus deu a terra para os homens, mas não a repartiu para eles,
deixando nas mãos das leis e vontade humana, a repartição e a dominância sobre ela.
Assim, a encíclica, que data do último decênio do século passado,
elude a desigualdade central que remete à exploração do proletariado e
a sua incontornável brutalidade, mesmo que estas fossem tão cruas na
Europa de então (como na América Latina de hoje) e mesmo que
subordinação do trabalho ao capital não só acrescesse sofrimentos
centenários, mas novos padecimentos que multiplicavam as denúncias
à capacidade capitalista. (p. 29).
Sendo a propriedade privada – segundo a encíclica – um bem divino e sagrado, o
Estado, as formas de organização da sociedade e o próprio sistema de classes também se
faz de acordo com a vontade de Deus, logo, se colocar contra isso é ir de encontro à
vontade divina. Por essa razão, os católicos se colocam contra os socialistas,
defendendo que não se trata de eliminar a propriedade privada e o Estado, mas de
humanizar as ações dos proprietários capitalistas.
Por isso, defendem que não há solução viável fora dos muros da Igreja. As
demais entidades envolvidas, inclusiva as classes sociais, podem ser subsidiárias no
processo de transformação.
“Na sociedade civil não pode haver igualdade” [trecho da encíclica] (p. 29).
Não só reconhecem a desigualdade como processo natural da humanidade e
parte da vontade divina, mas enxergam ela como necessária para a variedade de talentos
e ofícios.
O sistema capitalista propõe uma visão de igualdade para a sociedade, é objetivo
ideológico que todos – especialmente os trabalhadores – pensem estarem vivenciando
pesos e medidas iguais entre as classes. O salário é o que é devido ao trabalhador pelo
trabalho que possui, e por não ser detentor de nada além de sua força de trabalho; o
capitalista se apossa da mais-valia por ser dono dos meios de produção e ter domínio
sobre a própria força de trabalho.
Os trabalhados designados pela encíclica para as classes sociais assim se
designam: aos trabalhadores é aconselhado que não façam uso da força ao reivindicar
seus direitos, que executem seu trabalho e não se oponham aos seus patrões; aos
proprietários, é pedido que não sejam tão cruéis e insensíveis com os seus trabalhadores.
Como já indicamos, a mensagem papal parte da ideia de que o
operário faz uso de sua liberdade ao aceitar o jugo do capital.
Juridicamente isto é certo, mas de trata de uma liberdade sem opção –
a única maneira de exercê-la é entregar-se ao dono do capital, que se
beneficia daquela “liberdade”. (p. 30).
A encíclica assume um caráter eminentemente político ao se posicionar
favorável ao consenso de classe. Estabelece a Igreja acima de todas as classes,
consequentemente, de sua luta.
A encíclica estabelece um papel ideológico e político para além da palavra
divina e da caridade, assumindo um papel exclusivo no bojo da luta de classes.
A Quadragesimo Anno (1931) é iniciada por um apelo aos católicos para que
assumam a responsabilidade de educação cristã dos indivíduos, para livrá-los do
paganismo e das mazelas ideológicas do mundo.
Por ter sido desenvolvida em um contexto histórico de pós-Revolução Russa,
Primeira Guerra Mundial e Crise de 1929, ela possui uma conotação mais radical do que
a sua antecessora.
A encíclica reconhece a importância do trabalho que vinha sendo desenvolvido
pelos assistentes sociais e reforça a sua interligação com as doutrinas da Igreja.
Tratar a luta de classes através da harmonia entre elas era prejudicial aos
trabalhadores e vantajoso aos capitalistas. Ao se considerar as condições insalubres e
violentas – para dizer o mínimo – de vida e de trabalho, sob a ótica do assistencialismo
que era ofertado, disso resultava o bloqueio das lutas reivindicatórias e barateava ainda
mais o valor pago à força de trabalho.
“Realizada com profunda fé religiosa e dedicada caridade ao próximo, a
distribuição de alimentos, de roupas, remédios, leite para crianças, etc [...]” (p. 35).
O associativismo foi fomentado para que os trabalhadores assumissem cada vez
mais a responsabilidade por sua subsistência (caixas de socorro e ajuda mútua)
tornavam a atuação do Estado mais distante e favorecia aos capitalistas.
O desenvolvimento de uma série de métodos de intervenção pela Ação Social foi
possibilitando ao Serviço Social delimitar o seu próprio perfil profissional, bem como o
perfil dos seus usuários e as demandas atendidas. Que em geral, culminavam em uma
individualização e uma singularização dos problemas sociais.
A doutrina social da Igreja pode se infiltrar na sociedade civil e demais polos
pois as condições históricas prevalecentes no continente assim o permitiam. A burguesia
entendia Igreja como uma medida de intervenção viável para atenuar os males sociais.
CAPÍTULO III
Na década de 1920, no Chile, o movimento operário passa por um meio processo
de organização da classe trabalhadora. Nesse mesmo período, havia um clima de
instabilidade política sob o país, em razão das intensas transformações do mercado e a
pressão dos trabalhadores.
O surgimento de todas as escolas de Serviço Social parte de duas iniciativas:
pelo Estado ou pela Igreja. A primeira escola do Chile parte da necessidade de expansão
estatal.
A Escola Elvira Matte de Cruchaga, fundada em 1929, por Miguel Cruchaga, um
notável homem público, possibilitou um grande investimento desde as suas bases. É
interessante pensar o que levou a criação de uma segunda escola, quando a primeira
tinha acabado de ser inaugurada.
“O projeto da nova escola representava para a Igreja uma tentativa de responder
– de forma complementar e não antagônica – à criação da escola de Del Río. É certo que
ambas compartilhavam uma base doutrinária comum, como o atesta – entre outros
aspectos – o estrito laço com o Serviço Social belga. Mas há diferenças”. (p. 39).
A escola não se ateve a nenhum campo de atuação profissional específico,
ampliando suas possibilidades de formação. Há uma intensa valorização da vocação,
embora exija o desenvolvimento da ciência e da técnica como aliadas ao trabalho
desenvolvido.
“Ciência que oferece a compreensão dos problemas sociais e indica os meios
para remediar os males; caridade, que dá o estímulo à ação desinteressada e generosa”.
(p. 39).
Enquanto isso, a escola de Del Río, embora estivesse sobre a direção de uma
assistente social europeia, seguia os parâmetros definidos pelo corpo médico.
A Escola Elvira Matte foi uma requisição da Igreja para que pudesse
organização um Serviço Social dentro de suas próprias exigências. Nessa escola, os
antecedentes das alunas eram tão importantes quanto a formação oferecida.
Os requisitos eram: idade entre 21-35 anos, boa saúde, honorabilidade e
recomendação paroquial, estudos em ciências humanas, apresentação de um texto
manuscrito sobre a história de vida pessoal da aluna.
A prática que orientava a seleção diferia conforme os casos, mas se
direcionava sempre segundo um óbvio elitismo, de modo que quase só
as “damas da sociedade” conseguiam preencher tais requisitos – e isto
sem mencionar as taxas de matrícula e, ainda, todas as provas de uma
sólida educação religiosa. (p. 41).
A grade curricular era dividida entre as atividades teóricas e as práticas, sendo:
Atividades teóricas: Atividades práticas:
Religião, psicologia, pedagogia, Tratamento de caso individual,
sociologia, econômica, legislação, encaminhamentos, técnicas de escritório,
direito, instrução cívica, direito, ética estatística, primeiros socorros, cuidados
profissional, anatomia e fisiologia, domiciliares a doentes, puericultura,
higiene privada e pública, etc. nutricionismo, oratória, etc.

A ênfase nos conteúdos relacionados à saúde se dava pela proximidade entre o


Serviço Social e a Enfermagem, além dos problemas decorrentes das péssimas
condições de salubridade em que viviam as classes trabalhadoras.
A Escola propõe soluções aos problemas sociais para além das paredes da Igreja,
focalizadas mais no âmbito do Estado. Isso é fomentado pela requisição de demandas
crescente do Estado, como o desenvolvimento de estudos quanto à condição salarial de
dada comunidade, etc.
“Dada a magnitude do problema [pobreza extrema], em julho de 1931 o
Governo criou o Comitê Central de Ajuda aos Desempregados, que passou a ser
presidido, conjuntamente, pelo Ministério de Bem-Estar e pelo Arcebispo de Santiago”.
(p. 45).
“[...] as autoridades [...] dirigiram-se às escolas de Serviço Social existentes,
solicitando sua colaboração. A resposta da Escola Elvira Matte de Cruchaga foi
imediata e, em seguida, um numeroso grupo de estudantes e docentes lançou-se à ação”.
(p. 45).
É surpreende a rapidez com que a Escola consegue providenciar tarefas que
deram subsídio aos problemas apontados pelo Governo, tornando a atuação cada vez
mais notada e solicitada.
A Escola passou a promover anualmente uma Semana de Conferências, que não
contribuía para o processo de formação das alunas, mas fortalecia a atuação
profissionais das assistentes. Possuíam uma bancada de pessoas importantes, que
facilitava o permanente contato das profissionais com a Escola.
A Escola Elvira Matte teve forte influência sobre a constituição e gestação das
escolas ao redor da América Latina.
O amplo alcance que essa Escola teve – diferente da Del Río – está na influência
que obteve da Igreja Católica. Fomentada pela UCISS, a Escola Elvira Matte levava a
bandeira do Serviço Social católico, demonstrando sua força ao se estabelecer em outros
países da América Latina.
“Trata-se, indubitavelmente, de uma instituição pioneira, que serviu como
modelo a outros centros de formação”. (p. 50). As atividades desenvolvidas na Escola
eram duais: diziam respeito ao enfrentamento das mazelas do capitalismo, embora
entendendo-as como inerentes ao ser humano; e tratavam do próprio processo de
expansão do Serviço Social como área de formação e atuação.
A Escola Elvira Matte foi usada como um instrumento de poder.
Não é possível explicar – ou compreender – o surgimento das escolas de Serviço
Social sem levar em conta a participação decisiva da Igreja Católica.
Como no Chile, o caso da atuação da Igreja no Brasil se deu pela perca
exponencial da hegemonia católica, isso levou ao desenvolvimento de estratégia de
captação dos fiéis, bem como colocou a Igreja em um acirrado jogo de contradições de
classe.
O ano de 1917 foi marcado no país pelo levante da classe trabalhadora contra o
Estado. Um enorme movimento sacudiu a cidade de São Paulo e outras do interior, sob
o pedido de redução da jornada de trabalho para 8 horas diárias e aumento de salários.
Em 1918, as greves e movimentações da classe trabalhadora ganharam mais força, se
estendendo para outras cidades do país, embora duramente reprimidos.
Em 1922 o Partido Comunista Brasileiro foi fundado, com conquistas
expressivas para os trabalhadores: legislação sobre habitação popular, criação das
CAPs, etc.
A partir de Revolução de 1930, a Igreja é convocada para a intervenção de uma
forma mais ampla. A Igreja passa a exigir maior espaço de influência diante do Estado e
consegue, em 1934, o catolicismo é considerada a religião oficial do país, sendo
englobado como parte da grade de ensino básico nas escolas.
O CEAS foi considerado como o vestíbulo da profissionalização do
Serviço Social no Brasil – e aqui também, como no caso chileno, o
trabalho de organização e preparação dos leigos se apoia numa base
social feminina de origem burguesa respaldada por assistentes sociais
belgas, que oferecem a sua experiência para possibilitar a fundação da
primeira escola católica de Serviço Social. (p. 53).
O CEAS tinha o objetivo de fortalecer o processo de formação das assistentes
sociais, estabelecendo um padrão de estudos a ser alcançado, todo baseado na Doutrina
Social da Igreja.
A Ação Católica e a Ação Social foram as inspirações para a criação da primeira
escola de Serviço Social no país, em São Paulo em 1936.
A Escola tinha seu estudo baseado nas duas encíclicas papais: Rerum Novarum e
Quadragesimo Anno. Que acreditavam na reforma das instituições e na melhoria dos
costumes como a principal estratégia para a solução dos problemas sociais.
Só assim se torna inteligíveis as incontáveis funções das assistentes
sociais junto à família operária, em face do matrimônio, da educação e
do cuidado dos filhos, da destinação do salário, dos menores
delinquentes, da segurança social, dos enfermos – tratava-se de uma
atividade para reformar e melhorar os costumes. (p. 55).
A Escola do Rio de Janeiro surge também por influência da Igreja, na busca por
livrar o povo das influências consideradas nocivas para o povo (liberal e socialista).
A primeira Escola de Serviço Social no Peru foi fundada em 1937. Ela foi criada
em conjunto com o Ministério da Saúde Pública, Trabalho e Previsão Social, quase que
em conjunto. O surgimento da Escola está mais relacionado com a expansão das estatais
do que com a demanda do setor privado.
O surgimento da Escola não marca o surgimento da profissão, pois o Serviço
Social já existia e se gestava no Peru, o que essa Escola traz é um salto para a profissão.
1929 Surge a Escola Elvira Matte no Chile;
1936 Surge as primeiras Escolas brasileiras e colombiana;
1937 Surge a primeira Escola no Peru e no Uruguai.
“Molina sustentava a importância da assistente social porque ela, com
delicadeza, poderia amenizar os conflitos entre operários e patrões – tarefa que
cumpriria graças à sua aproximação à vida cotidiana dos trabalhadores e às suas
necessidades”. (p. 62).
Para a compreensão da Escola peruana é essencial a conjunção de dois
elementos: a cooptação pelo Estado – a primeira dama era diretora da unidade – e a
influência religiosa – ela era uma mulher profundamente devota.
Nos primeiros anos de atividade das assistentes sociais, elas estiveram
envolvidas com o enfrentamento das condições de salubridade pública, muito
influenciadas pela área da medicina.
“A equipe docente da escola constituiu-se, majoritariamente, por profissionais de
reconhecido prestígio intelectual, que se salientavam por seu desempenho universitário,
o que evidencia o respaldo recebido pela ESSP do meio intelectual burguês da época”.
(p. 64).
A Escola era destinada para as mulheres estudadas nas melhores escolas de
Lima, filhas de burgueses, com fortes valores cristãos, e uma ânsia de colocar em
prática as convicções morais no meio popular. A Escola reforçava essas convicções,
munindo elas de um instrumental técnico que auxiliaria na viabilização de sua atuação.
“A ESSP surgia como uma alternativa de formação para um apostolado que, na
sua efetivação, ultrapassava os marcos da ação social da Igreja enquanto tal e que,
ainda, correspondia às suas novas orientações para os leigos”. (p. 65).
Além de garantir o “bem-estar” dos operários, essas profissionais contribuíam
para melhorar a visibilidade da burguesia, muito ligada à repressão e a exploração das
classes, as atividades benemerentes relacionadas às classes dominantes eram
instrumentos de manutenção do poder, da ordem burguesa.
“Assim enquadrado, o Serviço Social forjou uma força de trabalho plenamente
disponível, que não exigia equivalências entre a atividade realizada e a remuneração
salarial”. (p. 66).
O catolicismo era a religião professada pelo Estado peruano, eles não tiveram
blocos de poder opositor a isso, não tiveram religiões protestantes, e por isso, não
tiveram que “reconquistar” sua influência no Estado, como foi o caso no Brasil. Isso
facilitou a sua predominância na política, consequentemente, no processo de formação
do Serviço Social no Peru.
Claro que a presença constante da Igreja não foi – muito menos o é até hoje –
inquestionável e permanente, ela foi se adequando as mudanças operadas dentro do
Estado, especialmente aquelas advindas de um bloco de poder burguês mais sólido
dentro do país.
CAPÍTULO IV
“Quando o lema de Monroe, “A América para os americanos”, converte-se de
fato em “A América para os norte-americanos”< o pan-americanismo oficial não é mais
que uma estratégia dos Estados Unidos para ganhar hegemonia no continente”. (p. 68).
O triunfo do bloco de países – entre eles, os Estados Unidos – na Segunda
Guerra Mundial, permitiu aos EUA finalmente se estabelecer sua hegemonia a nível
mundial.
O desenvolvimento de comunidade era a funcional ao projeto neocolonial,
mantinha os países em desenvolvimento subjugados à lógica do capital internacional,
facilitava o atendimento dos interesses próprios dos Estados Unidos, controlava as
pressões reivindicatórias das minorias.
“A identificação das necessidades e a alocação de recursos reduzem a questão
social a problemas técnicos, construindo, a partir deles, uma fórmula central que
contempla múltiplas variantes de intervenção profissional”. (p. 73).
O desenvolvimento de comunidade mantinha uma estratégia de disseminar entre
a população imagens favoráveis ao progresso econômico e social. Diante disso,
entendiam a participação popular como uma peça-chave para o desenvolvimento.
A ONU desenvolveu uma série de programas de aperfeiçoamento profissional,
de alcance continental, para formar um contingente de profissionais homogeneamente
qualificado, “especialistas em desenvolvimento”.
“[...] converter-se em instrumentos de construção do desenvolvimento
significava, para os assistentes sociais, conquistar o reconhecimento social que a
profissão almejou por tanto tempo”. (p. 78).
O assistente social é chamado para agir como um catalizador social,
impulsionando a resolução dos problemas pelos próprios membros da comunidade, mas
interferindo na identificação desses problemas e na captação individual deles.
O agente profissional de transformação precisa ser capaz de sentir
com as pessoas com quem trabalha as tensões do desequilíbrio cultural
que deflagra. E deve mostrar e representar o tipo de equilíbrio
essencial dentro da tensão necessária para a saúde mental e social
numa cultura que está em desenvolvimento. (p. 79).

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