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Fundamentos Históricos,

Teóricos e Metodológicos do
Serviço Social I
Querido estudante,

Vamos iniciar um debate sobre a trajetória histórica, teórica e metodológica do Serviço


Social. Para concretizar este objetivo, precisaremos entender como a nossa profissão
surgiu, considerando os contextos históricos, social, político, cultural e econômico.

Inicialmente, estudaremos a gênese do Sistema Capitalista, buscando compreender


como se deu a transição do Feudalismo para o Capitalismo e, consequentemente, o
surgimento da Questão Social.

Conheceremos, também, os precursores e pioneiros do Serviço Social, visando


diferenciar a prática do Serviço Social de ações de caráter caritativo e filantrópico.

Tendo construído a base teórica para a compreensão de nossa profissão, vamos


estabelecer um debate referente ao Serviço Social latino-americano, visando
compreender o cenário para o seu surgimento.

Por fim, conheceremos como o Serviço Social chegou ao Brasil e as suas bases
teórico-metodológicas, nos anos de 1930 até a década de 1950, destacando a
influência europeia e norte-americana para a consolidação da profissão.

Bons estudos!
Objetivos

Ao final desta disciplina, você deverá ser capaz de:

• Compreender o processo de emergência e institucionalização


do Serviço Social brasileiro, a partir do estudo de seus
aspectos históricos, teóricos e metodológicos, nos anos de
1930 à década de 1950.
• Apresentar os precursores e pioneiros do Serviço social.
• Discorrer sobre a trajetória histórica da profissão nos contextos
americano e europeu.
• Compreender o processo de constituição do Serviço Social na
América Latina e no Brasil.
• Caracterizar as primeiras perspectivas teóricas e metodológicas
do Serviço Social no Brasil.

Conteúdo Programático

Esta disciplina está organizada de acordo com as seguintes


unidades:

• Unidade 1 – Capitalismo e Questão Social


• Unidade 2 – Precursores do Serviço Social
• Unidade 3 – Constituição do Serviço Social na América
Latina
• Unidade 4 – Serviço Social no Brasil: primeiros passos

Autoria

Professora Patrícia Vergasta

Graduada em Serviço Social pela Universidade Católica do Salvador (1996), tem


Mestrado em Desenvolvimento Humano e Responsabilidade Social pela Fundação
Visconde de Cairu (2006). Atua como coordenadora e docente de curso de graduação
em Serviço Social e de cursos de especialização nas áreas de educação e
administração. Tem experiência na área de Serviço Social, com ênfase em processos
grupais, educação, capacitações e coordenação de equipes, atuando principalmente
nos seguintes temas: comunidades rurais, gênero, organização comunitária,
desenvolvimento, meio ambiente, dinâmica de grupo e cidadania.
Revisão e atualização

Professora Aline Nascimento

Assistente Social. Doutoranda e mestra em Serviço Social. Especialista em Docência


do Ensino Superior. Tem experiência na área de Serviço Social, com ênfase em
educação e proteção especial. Pesquisadora na área de teoria social, raça/racismo,
questão social, trabalho e movimentos sociais.
Capitalismo e Questão Social

A partir de agora você vai estudar a consolidação do sistema capitalista na sociedade,


contextualizando o seu surgimento e as proporções tomadas no decorrer dos anos
seguintes.

Após a Revolução Industrial - final do século XVIII início do século XIX - a sociedade
vivenciou um desordenado crescimento, sobretudo no meio urbano. Crescimento este
que desencadeou uma série de problemas sociais, a exemplo do saneamento básico
nas cidades.

A partir desse período, os que estavam na condição de servos, começaram a “vender”


a força do seu trabalho, em troca de um salário para fins de sobrevivência. Nesse
sentido, a força de trabalho passa a pertencer a quem a comprou, ou seja, ao
capitalista.

Objetivo
Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de:

• Identificar como se deu a consolidação do sistema capitalista.


• Compreender como surgiu a questão social
• Verificar a relação do Serviço Social com o sistema capitalista.

Conteúdo Programático
Esta unidade está organizada de acordo com os seguintes temas:

• Tema 1 - Transição do Feudalismo para o Capitalismo


• Tema 2 - Capitalismo: algumas considerações
• Tema 3 - Questão Social

Você já se perguntou sobre a relação do capitalismo e da questão social com o


Serviço Social?

Essa relação você vai descobrir a partir do contato com os conteúdos deste estudo.

BOA LEITURA!
Tema 1
Transição do Feudalismo para o Capitalismo

Como surgiu o sistema capitalista?


Para compreender a lógica do capitalismo é importante realizar um breve relato sobre
o Feudalismo, que imperou na Idade Média.

O Feudalismo é um modo de produção que começou a ser delineado no século V,


tendo como base a agricultura. Durante o Feudalismo, a nobreza e a alta hierarquia da
Igreja Católica controlavam o uso da terra, que era chamada de feudo. Na Idade
Média, o feudo representava a principal fonte de sobrevivência e de riqueza. Trindade
(2002) diz que o feudo pertencia a um único senhor, podendo ser um barão ou um
bispo.

No feudo, camponeses viviam e produziam, sendo obrigados a destinar parte


significativa de sua produção aos senhores feudais. Os camponeses se submetiam a
um sistema extremamente rígido de estratificação social.

A condição do indivíduo estava relacionada às circunstâncias de seu nascimento, ou


seja, se viesse ao mundo em uma família nobre, ocuparia a condição de explorador,
caso contrário, teria sua mão-de-obra explorada. Percebe-se, então, que as relações
sociais eram pautadas pela posse e pelo poder, que eram determinados pelo privilégio
do nascimento.

A organização social do feudo pode ser bem representada pela figura da pirâmide. Em
seu topo, estava a Igreja Católica, ou o clero, que condenava a acumulação de
riquezas e ditava, de acordo com seus princípios e dogmas, a maneira como as
pessoas deveriam pensar e se comportar. No centro da pirâmide estavam os nobres,
detentores dos poderes econômico, militar e agrário, donos de muitas fazendas, que
conseguiam ganhar e acumular muito dinheiro. Os servos se encontravam na base da
pirâmide, sendo subjugados e subalternizados pela nobreza e pelos senhores feudais.

Dica

Quer conhecer mais sobre o Feudalismo? Acesse o seguinte link:

• O Feudalismo
Trindade (2002) afirma que os servos pagavam o dízimo à igreja e impostos ao Rei,
sendo obrigados a trabalhar, sem qualquer remuneração, nos feudos.

Os servos, para garantirem sua sobrevivência, produziam em um pedaço de terra


cedida pelo senhor feudal. Porém, usufruíam o mínimo de suas produções, pois parte
dela era destinada aos senhores feudais, ademais, os servos pagavam altos impostos.

Com uma crise pandêmica, estereotipicamente conhecida com a “peste negra”, que se
espalhou na Europa entre os séculos XIV e XVIII, muitos servos morreram,
ocasionando escassez da mão-de-obra. Logo, os senhores feudais foram obrigados a
“alugar” força de trabalho e os servos começaram a inflacionar o valor cobrado,
fortalecendo-se, fazendo emergir as rebeliões camponesas. Por outro lado, os burgos,
que eram os locais onde os burgueses residiam, foram se desenvolvendo, à medida
que trabalhadores “livres” se tornaram aprendizes nas ocupações produtivas. Assim,
contra os anseios da Igreja, os burgueses começaram a acumular fortuna, se
caracterizando como uma elite econômica.

No entanto, a contradição entre as rebeliões camponesas e o enriquecimento da


burguesia tornaram-se, nos séculos XV e XVI, principais motivadores para o
enfraquecimento do feudalismo. E, diante dessa realidade, a nobreza e senhores
feudais passaram a pedir empréstimos aos burgueses, que se dedicaram em sua
maioria ao trabalho com a manufatura e com bancos. Com isso, a partir da Idade
Moderna, o modo de produção capitalista ganha espaço e os burgueses, por
possuírem capital e meios de produção, tornam-se os grandes detentores do poder.

Ao discutir sobre modos de produção é preciso ter a atenção para não pragmatizar as
transições. Quando se passa de um modo de produção para o outro, não significa que
as formas de se relacionar, de produzir, do antigo modo de produção irá extinguir
automática e completamente. Isso significa que é possível encontrar formas e relações
de produções coexistindo como uma fase de transição de um sistema para o outro. Ou
seja, na transição do feudalismo para o capitalismo ainda foi possível encontrar
relações de produção feudais e escravista, até porque a lógica de organização social
através de hierarquização é uma característica essencial desses três modos de
produções.

E, no Brasil, há uma discussão se aqui existiu o modo de produção feudalista ou


apenas o escravismo e capitalismo. Esse debate irá depender dos referenciais
teóricos baseados em produções históricas e sociológicas que abordam à transição do
trabalho escravizado ao trabalho livre, uma realidade que trouxe impactos na
composição da questão social brasileira.

Dica

Quer compreender mais sobre os modos de produção e sua


funcionalidade? Acesse:

• Modos de Produção
• Racismo de mercado
Tema 2
Capitalismo: algumas considerações

O que é a questão social?


No final do século XVIII e início do século XIX, na Europa, ocorreu a Revolução
Industrial, um marco para consolidação do capitalismo. E umas das consequências foi
o crescimento desordenado do meio urbano, isso quando antigos servos migraram
para os grandes centros produtivos em busca de condições mínimas de sobrevivência
através da venda de sua força de trabalho. No entanto, quando essa força de trabalho
passou a ser tratada como mercadoria e, como tal, utilizada para a obtenção de lucro,
através da extração da mais-valia, as condições reais de sobrevivência são
insuficientes para a maioria dos trabalhadores.

Isso porque, no capitalismo, a base de organização produtiva se resume aos


detentores dos meios de produção de um lado, aqueles que concentram riquezas e
poder, e, antagonicamente, no outro lado estão os trabalhadores, ao sem posses, que
não têm as condições para desenvolver suas atividades laborais, precisando vender
sua força de trabalho para fins de sobrevivência.

Nessa lógica, ao comprar a força de trabalho, por um tempo e valor, o capitalista


torna-se administrador e detentor dessa força de trabalho. E, em busca de lucros, ele
intensifica as jornadas de trabalho, as produções de mercadorias, mas o salário pago
é desproporcional/injusto ao lucro produzido, o que coloca o trabalhador na condição
de explorado que precisa vender sua mão de obra para sobreviver, porém se submete
ao sistema produtivo desigual como uma única opção para manter condições mínimas
de vida.

Ficou curioso para saber mais sobre capitalismo, lutas de classe e suas
consequências mais atuais?
Acesse: Capitalismo, crise e lutas de classes contemporâneas: questões
e polêmicas.


O processo capitalista de produção expressa […] uma maneira historicamente
determinada de os homens produzirem e reproduzirem as condições materiais de
existência humana e as relações sociais através das quais levam a efeito a
produção. Neste processo se reproduzem, concomitantemente, as idéias e
representações que expressam estas relações e as condições materiais em que se
produzem, encobrindo o antagonismo que as permeia.

(IAMAMOTO; CARVALHO, 1988, p.30).


Diante o processo de exploração ora descrito, a classe trabalhadora tende a
empobrecer cada vez mais. Este empobrecimento é traduzido pela precarização da
saúde, moradia, educação e habitação, por exemplo. Ademais, são comuns os
acidentes de trabalho, na deterioração de valores, desequilíbrio emocional, psicológico
e até psiquiátrico. O enriquecimento dos representes do capital provoca,
concomitantemente, a pobreza, mas, também, conflitos decorrentes da luta de
classes, visto que à medica que a classe trabalhadora percebe a exploração, tende a
reagir.

A supremacia do capital frente às mazelas da classe trabalhadora dá origem à questão


social.

Vídeo

Para saber mais sobre o Serviço Social, assista ao vídeo Os


Fundamentos do Serviço Social, publicado na unidade da disciplina
no Ambiente Virtual de Aprendizagem.
Tema 3
Questão Social

Qual a relação do capitalismo e da questão social com


o Serviço Social?
A questão social, é o resultado da relação contraditória e conflituosa entre capital e
trabalho. Expressa-se através das mazelas da sociedade. O surgimento da questão
social está condicionada ao surgimento do capitalismo que, por essência, promove a
desigualdade social.

Importante

Aqui, estamos trabalhando a categoria questão social numa perspectiva


marxista. Logo, afirmamos que a questão social é única, visto que é
resultante do processo de exploração imposto pelo capitalismo. Desse
modo, quando estamos nos referindo a categoria da questão social,
devemos sempre utilizá-la no singular, nunca no plural. Se quisermos falar
das suas expressões podemos falar: manifestações da questão social,
expressões da questão social ou refrações da questão social.

De acordo com Cerqueira Filho (1982, p. 21 apud NETTO, 1992, p.13), a questão
social é:


[...] o conjunto de problemas políticos, sociais e econômicos que o surgimento da
classe operária impôs no curso da constituição da sociedade capitalista. Assim, a
‘questão social’ está fundamentalmente vinculada ao conflito entre o capital e o
trabalho.


A questão social se materializa quando a classe trabalhadora se organiza visando
exigir dos patrões e do Estado seu reconhecimento enquanto classe social. O Estado
começa a interferir nas relações entre capital e trabalho, através de legislações que
visem desenvolver e garantir direitos sociais e trabalhistas, bem como através da
elaboração e execução de políticas sociais.
Com tais ações, o Estado passa a garantir a legitimidade política da classe
trabalhadora, contudo, contraditoriamente, atende aos interesses da classe dominante,
visto que ao atender parte das demandas dos trabalhadores, evita que os mesmos se
rebelem contra o sistema capitalista e continuem produzindo. Trata-se de um pacto
entre capital e trabalho, alicerçado pelo Estado. E essa realidade é fundamental para
institucionalização do Serviço Social como profissão no Brasil.


(...) as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária
e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento
como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano
da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia (...)

(IAMAMOTO in IAMAMOTO E CARVALHO, 1983, p. 77 apud apud NETTO, 1992, p.13).


Mas, quando falamos da categoria questão social, precisamos considerar o contexto
social, histórico, cultural, político e econômico com todas as suas contradições.
Inclusive, a formação social particular dos países é uma especificidade importante
para compreensão da manifestação da questão social no cotidiano e, dele, construir
estratégias para intervenção. Por isso, é com o apoio da categoria cotidiano que o
Assistente Social cria mecanismo para o trabalho profissional junto à sua razão de ser.

Importante lembrar que toda profissão tem um objeto profissional, um foco para
intervenção e estudo, o Serviço Social tem a questão social e suas expressões, as
quais vão sendo modificadas a partir das conjunturas políticas e sociais. Isso significa
que as estratégias de intervenção, do trabalho profissional do assistente social,
também vão sendo transformadas para atender a realidade social mais
contemporâneas. As primeiras ações realizadas nas décadas de 1930 foram sendo
modificadas ao longo da trajetória da profissão.

Além disso, é preciso ter clareza que a questão social e suas manifestações não são
objetos privativos do Serviço Social, isso porque as múltiplas demandas apresentadas
pela situação de vulnerabilidades sociais do trabalhador podem demandar outras
competências profissionais que fogem do horizonte de conhecimento do Serviço
Social, por isso, existe importância nos trabalhos interdisciplinares.

Quer conhecer os debates contemporâneos sobre a questão social?


Acesse:

• Revista temporalis - A Questão Social no Capitalismo.


• Particularidades da "Questão Social no Brasil": Elementos para o
debate.

Vídeo

Para saber mais sobre os assuntos tratados nessa unidade, assista ao


vídeo Capitalismo e Questão social, publicado na unidade da
disciplina no Ambiente Virtual de Aprendizagem.
Encerramento

Resumo da Unidade

Na presente unidade você pode conhecer o surgimento do sistema capitalista, das


questões sociais, bem como a relação do capitalismo e da questão social com o
Serviço Social.

Destaca-se que a expansão da ciência e as questões sociais representaram uma


revolução na visão de mundo e na produção econômica. A modernidade
representou, na história da humanidade, uma redefinição de muitos aspectos na
vida social, política, cultural e econômica.

No geral, as relações de produção, de organização social, trazem para a


sociedade novas implicações, e com o sistema capitalista essas implicações
explicitaram à desigualdade social. Obviamente, essas condições de vida, pautada
pela acumulação de riqueza de um lado e pobreza do outro, utilizou de
justificativas intelectuais e científicas, da época, que legitimassem as questões
sociais de vulnerabilidade e subalternidade produtiva.

Síntese da unidade

Assista ao vídeo da Síntese da unidade 1, publicado na unidade da


disciplina no Ambiente Virtual de Aprendizagem.

Para aprofundar e aprimorar os seus conhecimentos sobre os assuntos


abordados nessa unidade, não deixe de consultar as referências
bibliográficas básicas e complementares disponíveis no plano de
ensino publicado na página inicial da disciplina.

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