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teórica-metodológica
Essa aula têm como objetivo apresentar o Serviço Social como profissão no contexto
de aprofundamento do capitalismo na sociedade brasileira, sobretudo no período de 1930 a
1960, e entender a Questão social como objeto de trabalho dos assistentes sociais, a partir de
uma interpretação teórica-metodológica.
Martinelli (2011) aponta que a criação dos primeiros cursos de Serviço Social na
Europa e nos Estados Unidos no final do século XIX, ocorreu a partir da formação de uma
tríplice aliança entre o capitalismo – representado pela burguesia -, a igreja e o Estado com
vistas à racionalização da assistência, o que resultou na institucionalização do Serviço Social.
Esta profissão foi criada estrategicamente para a intervir diretamente na Questão social, a fim
de contribuir com o controle das suas expressões e, consequentemente, evitar conflitos de
maiores proporções com as classes trabalhadoras.
Diante das ameaças de revolução, das greves e revoltas dos trabalhadores devido às
péssimas condições de trabalho e má remuneração, que iriam de encontro aos interesses da
burguesia nascente, do Estado e da igreja católica, estes formataram ações nas três esferas,
cujo objetivo era barrar a ascensão da luta das/os trabalhadoras/es, caracterizadas pela
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Passar a ser pobre; deixar de possuir recursos financeiros ou não possuir o necessário à
sobrevivência; empobrecer. Um grupo é classificado como pobre.
concessão de alguns direitos e a reorganização da assistência, destacando-se a fundação do
Serviço Social enquanto profissão e área do saber.
Quanto à influência católica na profissão, Castro (2011) aponta que os elementos que
mais colaboraram com o surgimento do Serviço Social originaram-se na Ação Católica,
formada por um conjunto de movimentos leigos cristãos vinculados à hierarquia da Igreja
Católica, que possuía a missão de recristianizar a sociedade, atuando no ensino básico e
superior, nos sindicatos, dentre outros. O objetivo da igreja era promover uma reforma social
com o intuito de recuperar a sua hegemonia, bem como barrar o avanço do marxismo que
alcançava cada vez mais espaço.
Relativo à criação dos cursos de Serviço Social Martinelli (2011) elucida que Mary
Richmond exerceu contribuição ímpar no estímulo à criação de escolas destinadas à
qualificação das/os agentes sociais. De fato, no ano de 1897, Richmond propôs na
Conferência de Toronto a criação de uma escola de Filantropia Aplicada com vistas a
qualificar os agentes sociais para o exercício profissional. Tal curso ocorreu em Nova Iorque
em 1898 e a assistência naquele período era empregada para moralizar e reformar o caráter da
classe trabalhadora.
Conforme Martinelli (2011), Getúlio Vargas regulamentou o Serviço Social como uma
profissão legal no ano de 1953, o que representou um avanço no que corresponde à
legitimação do Serviço Social em âmbito brasileiro. Ademais, a lei em questão estabeleceu
diretrizes de funcionamento para os cursos superiores, destacando-se a matriz curricular.
Neste período, o Estado já se tornara o principal empregador de assistentes sociais, tendência
que permanece na cena contemporânea.
O Serviço Social brasileiro possui como sétimo princípio do Código de Ética vigente,
datado de 1993, a defesa do pluralismo teórico-metodológico. Entretanto, é válido ressaltar
que a tradição marxista assume posição hegemônica na profissão, o que foi possível após o
Movimento de Reconceituação/ Renovação.
Principais formuladoras:
Principal formulador: Principal formuladora:
Características:
Características:
Características:
conservadorismo, adequação
Pretensão de romper com a
do Serviço Social às exigências conservadorismo, buscava
herança teórico-metodológica
da autocracia burguesa; resgatar o serviço social
conservadora e seus
culpabilização do indivíduo tradicional sob a égide da
paradigmas de intervenção
por sua condição social; fenomenologia; centrava sua
social. Existência de uma
discurso cristão; demonstração análise e intervenção na ajuda
distância entre a intenção de
de uma neutralidade quanto às psicossocial (práticas
romper com o passado
contradições existentes na psicologistas); subordinação a
conservador do Serviço
sociedade; inseria o serviço uma visão de mundo derivada
Social e os indicativos
social no arsenal de técnicas do pensamento católico
prático-profissionais para
sociais voltadas ao tradicional.
consumá-la.
desenvolvimento capitalista.
Um marco histórico para o Serviço Social que culminou com novos rumos para a
nossa profissão foi III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS), que ficou
conhecido como o “Congresso da Virada”. O evento ocorreu de 23 a 27 de setembro de
1979, em São Paulo. O acontecimento representou uma ruptura da categoria profissional com
a sua herança conservadora.
Conforme Netto (1996), o III CBAS deu uma decisiva contribuição para forjar uma
nova cultura profissional que continha e contém uma direção social estratégica colidente com
os interesses do grande capital, expressa na atuação política das entidades representativas da
categoria profissional, nos parâmetros jurídico-políticos da formação e atuação dos assistentes
sociais (Códigos de Ética, na lei de regulamentação da profissão, nas Diretrizes Curriculares)
e na produção teórica mais relevante da área do Serviço Social.
Iamamoto e Carvalho (2013) consideram que um dos legados deste Movimento foi a
aproximação com o marxismo e a compreensão de que o Serviço Social é uma profissão
especializada. Nesta perspectiva, ainda que o Serviço Social seja caracterizado como
profissão e não como ciência, isso não exclui a possibilidade de contribuir com a produção de
conhecimentos científicos no campo das ciências humanas e sociais. Do mesmo modo, o
marxismo permitiu a compreensão e o reconhecimento das/dos assistentes sociais como
trabalhadores assalariadas/os e, consequentemente, o despertar da consciência de classe,
aproximando e inserindo-se na luta geral da classe trabalhadora.
A partir dos anos 1980, o Serviço Social incorporou o quadro referencial teórico
marxista e expandiu bastante a produção de conhecimento. Iamamoto (2015) teve substancial
importância ao identificar que o desenvolvimento do Serviço Social como instituição no
Brasil mantém uma conexão com o desenvolvimento das relações capitalistas na nossa
formação social. Entre outros feitos, cabe destacar a abertura ao debate crítico sobre a
formação e o exercício profissional, bem como a análise das expressões da “questão social” e
as possibilidades de intervenção condizentes com esta epistemologia crítica.