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O que é o CREAS?

-CREAS é o Centro de Referência Especializado da Assistência Social e o Centro


de Referência Especializado da Assistência Social foi estabelecido na Política
Nacional de Assistência Social (PNAS).
-O CREAS é uma unidade pública estatal da Proteção Social Especial de média
complexidade, e tem o objetivo de promover uma superação de determinadas
situações, onde ocorreu a violação de direitos.
-O CREAS faz parte do Sistema de Garantia de Direitos (SGD) e se materializa
dentro do Sistema Único de Assistência Social (SUAS).
-A prática no CREAS tem muita complexidade, principalmente, por causa que o
psicólogo deve sempre tomar cuidado para não reforçar a exclusão social a qual
aquele sujeito está submetido. O próprio CFP fez uma declaração sobre isso,
“público que a escola não dá conta, que a unidade de saúde não dá conta [...] que a
própria assistência não dá conta. Alguns casos, (...) “extrapola os níveis de
complexidade (...) conhecidos.” (CFP). E esse discurso não tem o intuito de
desencorajar os psicólogos a atuarem no CREAS, muito pelo contrário, pois ele visa
incentivar os psicólogos que lá forem trabalhar a ter uma posição de tolerância e
resiliência.

Política nacional de assistência social


-A Política Nacional de Assistência Social (PNAS), visa enfrentar as desigualdades
sócio territoriais juntamente com as políticas setoriais, e a partir disso, ela busca
garantir o provimento de condições para atender a sociedade, e atingir a
universalização dos direitos sociais, onde o público são todas as pessoas que se
encontram em situação de risco. E por meio dela será possível padronizar, melhorar
e ampliar os serviços assistenciais no país, sempre respeitando as diferenças
locais.
-E ao assumir a visão da universalização do direito à proteção social, acabamos
rompendo com os paradigmas que colocavam os cidadãos como carentes,
necessitados, pobres, mendigos, desmerecendo-os apenas por sua condição.
-E a cidadania é um desses direitos que devem ser protegidos, pois ela não é
apenas um direito declaratório, o que significa que é necessário ter processualidade
e procedimentalização do acesso aos direitos na gestão da política, e esses direitos
serão materializados em benefícios, serviços, programas e projetos
socioassistenciais.

A política de Assistência Social tem três funções, são elas:


-A proteção social;
-A vigilância socioassistencial;
-Defesa social e institucional.

-A psicologia e sua prática no contexto das políticas de Assistência Social, acaba


tendo a função de defesa social e institucional a qual foi definida pela PNAS/2004 e
reafirmada na NOB/SUAS/2005.

SGD (Sistema de Garantia de Direitos)


-Foi na resolução 113/2006 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente (CONANDA), que ocorreu a caracterização do Sistema de Garantia de
Direitos.
-Órgãos judiciais, defensorias públicas, polícias, conselhos tutelares, ouvidorias,
conselhos de direitos, conselhos setoriais e de maneira tanto transversal quanto
intersetorial todas as políticas públicas, compõem o Sistema de Garantia de
Direitos. Portanto, tendo em vista as demandas existentes no CREAS, acaba sendo
necessário que ocorra uma intervenção complexa, singular e articulada com toda a
rede do SGD, logo, o trabalho no CREAS ocorre de forma interdisciplinar,
intersetorial e interinstitucional. Sendo necessário que o psicólogo, que visa ser
ético, coopere na melhora do fluxo na articulação da rede do Sistema de Garantia
de Direitos.

História do CREAS
-No início da república, a assistência social tinha a base na higiene pública,
montando assim o tripé médico-jurídico-assistencial, que tinha a proposta de intervir
nas famílias que não se adequassem ao modelo civilizatório moralista.E após isso, a
assistência social era utilizada apenas como medida compensatória, visando
ganhos eleitorais a partir da minimização de danos.
-Na ditadura militar, a assistência social seguiu a ideologia da Doutrina de
Segurança Nacional. Sendo ela uma estratégia que visava aproximar lideranças
comunitárias e políticas, utilizando-se de convênios com ONG’s para ofertar as
ações sociais em larga escala, mas sem um olhar para qualidade apenas para o
controle social.
-Em 1986, ocorre uma grande mobilização popular visando ampliar o Estado, onde
isso ocorreria por meio de políticas públicas que iriam garantir direitos sociais, já
estabelecidos por Convenções Internacionais. E foi em 1988 que ocorreu a
promulgação da Constituição Federal vigente, que colocou a Assistência Social
como política pública não contributiva, o que significa que o centro de suas ações é
a noção de cidadania e que ela é direito de todos que dela necessitam e após todo
esse resumo histórico, pode-se afirmar que antes de 1988, a assistência social seria
melhor descrita como assistencialismo ou desassistência, pois, seu objetivo era de
perpetuar posições sociais, e não de atender os direitos da população.
-Porém, foi no início da década de 90, que ocorreu um movimento nacional que
visava implementar a política de Assistência Social, e com isso conseguiu aprovar a
Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), no ano de 1993.
-Entretanto, foi em 2004 após a organização da política em forma de Sistema Único
de Assistência Social (SUAS), que a nova forma de gestão organizou os serviços,
programas, projetos e benefícios, onde a base era o território e a centralidade na
família.
-E em 2009 com a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, o CREAS foi
instituído.

Marcos legais da política de assistência social


-É imprescindível para o psicólogo que deseja atuar no CREAS o conhecimento
sobre os marcos legais da Política de Assistência Social.

Dentre eles, temos:


-Lei Orgânica de Assistência Social (com as novas redações dadas pelas Lei nº
12435 e 12470);
-Política Nacional de Assistência Social (PNAS de 2004);
-Normas Operacionais Básicas (NOB/SUAS de 2012) e (NOB/RH de 2006);
-Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais de 2009;
-Orientações sobre a Gestão do Centro de Referência Especializado de Assistência
Social (CREAS 1º versão de 2011);
-Orientações técnicas do Centro de Referência Especializado de Assistência Social
de 2011;
-Estatuto da Criança e do Adolescente;
-Estatuto do Idoso;
-Política Nacional para a Inclusão da Pessoa com Deficiência;
-Lei Maria da Penha;
-Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo.

Lei Organica de Assistencia Social (LOAS)


-A LOAS, afirma que a assistência social é direito do cidadão e dever do Estado,
sendo uma Política de Seguridade Social não contributiva, que visa atender as
necessidades básicas por meio de iniciativa pública e da sociedade.
-Essa lei acaba por regulamentar os artigos 203 e 204 da Constituição Federal, e
cria as condições para se institucionalizar a Assistência Social.

Artigos da constituição
-O art. 204 fala que os recursos, para atividades na área de Assistência Social,
devem vir do orçamento da seguridade social, e a organização dessas atividades,
deve ocorrer baseado na descentralização político-administrativa, onde questões
gerais pertencem à esfera federal, a execução dos programas fica a cargo das
esferas estaduais e municipais e deve ocorrer uma participação da população na
formulação de políticas e controle das ações.
-E o art. 203, afirma que a assistência social será prestada a quem dela precisar,
independente de contribuição à seguridade social.
Indo até o CREAS
-O encaminhamento ocorre por meio de juízes, promotores ou conselheiros
tutelares, normalmente, após denúncias, eventos de violência, ato infracional ou por
busca ativa, logo, o sujeito também pode ir atrás do serviço.

Situações que levam ao CREAS


Existem diversas situações que levam alguém até o CREAS, dentre elas podemos
citar:
-Violência intrafamiliar;
-Abuso e exploração sexual;
-Situação de rua;
-Cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto;
-Trabalho infantil;
-Contingências de idosos e pessoas com deficiência em situação de dependência
com afastamento do convívio familiar e comunitário;
-Discriminação em decorrência da orientação sexual e/ou raça/etnia.

-Como podemos ver, as situações citadas não são todas exclusivas da população
em situação de pobreza, já que a violação de direitos, numa visão geral atinge todas
as classes sociais.
-E nas histórias do CREAS, muitas envolvem a exclusão social e/ou a
vulnerabilidade social, são situações onde o sujeito tem uma não participação no
usufruto dos bens sociais, acarretando em solidão e/ou estigmatização social.
-É importante ressaltar que o CREAS não tem o intuito de agir numa lógica
manicomial, então os sujeitos em situação de rua, não irão morar no CREAS.

Posicionamento Ético-Político
-Toda prática profissional tem um posicionamento político, independente da pessoa
ter consciência disso ou não, pois, o sujeito pode ser alienado e por isso acabará
produzindo trabalhos alienados, que são também trabalhos com um posicionamento
político, pois a alienação faz parte do jogo de poder que é a política.
-De acordo com, a Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do Sistema
Único de Assistência Social (NOB/RH/SUAS), a noção de cidadania, se apresenta
como um princípio ético do trabalhador do SUAS, onde esse princípio é definido
como defesa intransigente dos direitos socioassistenciais.
-Os direitos são uma herança da modernidade e uma promessa de igualdade e
justiça, e a atuação do psicólogo deve ser baseada nos direitos fundamentais, assim
como consta o código de ética. “O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e
na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser
humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos
Humanos.” (CFP)
-O discurso dos direitos, é contrário a qualquer tipo de discurso que naturaliza a
vulnerabilidade social, principalmente aqueles que afirmam que ela é causada por
vontade da própria população.
-Existe uma herança histórica da relação do Estado brasileiro com a população em
situação de pobreza, e essa herança acaba trazendo práticas assistencialistas,
clientelistas e preconceituosas para a Assistência Social. Podemos notar isso até
mesmo no CREAS, pois existe uma baixíssima institucionalidade em relação às
determinações legais.
-Ao se analisar a história da psicologia, podemos notar que ela muitas vezes aceitou
o trabalho de ajustar os sujeitos a realidade hegemonicamente constituída.
Colocando a responsabilidade pela sua condição social nos sujeitos e isso é muito
conhecido como meritocracia, uma visão de mundo que foi herdada do modelo
neoliberal, que tem um foco no individual em vez de no social.
-Nos últimos tempos, a ciência psicológica e seus constituintes vem contribuindo
como uma força crítica, que visa desconstruir as práticas e os paradigmas elitistas
que ainda predominam no campo socioassistencial.

Desafios e potencialidades do trabalho no CREAS


-O primeiro desafio a qual podemos citar, é a questão ética do sigilo, já que os
psicólogos demonstram grande interesse em seguir esse princípio ético, porém
normalmente as condições estruturais dos locais onde atuam, acabam por
atrapalhar nesse quesito. Por motivos de existir uma precariedade dos locais onde
ficam guardados os prontuários, as salas de atendimento normalmente não isolam o
som, e de acordo com a resolução do CFP nº 01 de 2009, é de responsabilidade do
profissional e da instituição, a guarda do registro documental de forma a manter o
sigilo, e quando for necessário compartilhar determinadas informações com outros
profissionais, deve ser de forma sucinta, contendo o trabalho prestado, a descrição
e a evolução da atividade e os procedimentos técnicos utilizados. E todo usuário, ou
seu representante legal, do serviço da ciência psicológica, tem direito de acesso a
seu prontuário.
-O segundo desafio a qual podemos citar, é a questão da identidade do CREAS,
pois, muitas vezes tem que realizar atividades que não são de sua competência, ou
até mesmo da Política de Assistência Social. Sendo o grande exemplo, a
psicoterapia, pois muitos profissionais acabam por confundir acolhimento com
terapia, mas a psicoterapia é uma prática a ser realizada numa Política de Saúde,
clínicas sociais ou clínicas-escolas ligadas a universidades, e não em uma Política
de Assistência Social e isso acaba demonstrando o quanto a psicologia está
enraizada no modelo elitista, onde o psicólogo só tem a função de escutar e a partir
disso “curar” o sujeito.
-É importante ressaltar que terapia é diferente de terapêutica, pois, a prática
exercida no CREAS tem consequências terapêuticas, principalmente por causa que
busca a compreensão do sofrimento de sujeitos e suas famílias, e visa promover
mudanças, autonomia e superação, fazendo isso tudo sem psicoterapia,
contrariando o modelo elitista. E uma outra característica da prática no CREAS, que
também contraria o modelo elitista, é o olhar para o sujeito levando em conta seu
contexto social, para assim reconhecer uma história de vida, enquanto que no
modelo elitista, acaba sendo um olhar individualizante, dando pouca importância
para o contexto social.

Existem outros desafios na prática no CREAS, principalmente na articulação com


outras políticas e instituições, dentre eles, temos:
-A burocracia dos encaminhamentos;
-A desarticulação da rede;
-A morosidade do judiciário;
-A precariedade dos Conselhos Tutelares.

E tem os desafios em relação a prática do psicólogo, dentre eles, temos:


-A obrigação de realização de laudos psicológicos para o Judiciário;
-Averiguação de denúncias;
-Trabalho concomitante em outras políticas;
-Diversas outras práticas que estão fora dos critérios regulamentados.

-Esses desafios podem ser ditos até como uma espécie de abuso de autoridade, por
parte dos gestores ou juízes, e coopera com a prática assistencialista. O
recomendado são ações políticas, que permitam o controle social em relação à
execução da política pública.
-Entretanto, não são apenas desafios que existem no trabalho do CREAS. Pois, ele
apresenta muitas potencialidades, que se materializam em inovações
implementadas.
Dentre elas, temos:
-Trabalhos com grupos;
-Na formação da equipe;
-Na supervisão de casos;
-Na parceria com universidades;
-A visita familiar e a busca ativa;
-A construção de fluxos de encaminhamentos.

-Porém, é importante lembrar que ideias originais, muitas vezes não podem ser
colocadas em um cronograma rígido, já que elas precisam de liberdade para
poderem ser exercidas nas situações de dificuldade e conflito, logo, é necessário
criatividade, ousadia, abertura e sensibilidade para que ocorra a inovação da
prática, onde inovar não é sinônimo de improvisar, inovar acaba sendo sinônimo de
criar, sendo necessário ter uma constante avaliação do impacto das inovações.

Novo perfil profissional


-83,9% dos psicólogos acreditam que sua atuação profissional se encontra no
campo das políticas públicas, esse dado acaba trazendo o fato de que o
compromisso social da psico
Este é um dado relevante, que aponta o compromisso da categoria com questões
mais coletivas, com a defesa de direitos e o reconhecimento do âmbito público
como espaço de atuação. Esse fato aponta para um novo perfil profissional, já que a
profissão foi historicamente caracterizada como elitista

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