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1. Capítulo I- Introdução
1.1.Introdução
O trá fico humano, apesar de ser um fenô meno recorrente na sociedade há séculos, é uma
temá tica pouco abordada no convívio social. Possui origem ainda na antiguidade, e
consiste na actividade de explorar outros indivíduos, fato que se perpetua na histó ria e se
apresenta das mais diversas maneiras.
Tratar de trá fico humano remete a sua definiçã o, que é de fundamental importâ ncia, pois a
partir da conceituaçã o legal é possível buscar maneiras de evidenciar, alertar e aprofundar
reflexõ es em sociedade.
Apesar de a legislaçã o brasileira e internacional, desde o início dos anos 2000, tratar dessa
temá tica esse crime ainda possui um bom funcionamento e desenvolvimento porque,
devido a carência de informaçõ es, a vítima se encontra em situaçã o de vulnerabilidade,
sendo exemplo a necessidade de encontrar um trabalho que seja bem remunerado e
equivalente ao tempo e esforço empregado.
Analisar os casos das incontá veis vítimas e analisar como o crime é tratado nos demais
países é importante, pois a partir do contato a sociedade adquire respaldo de que esta é
uma tipificaçã o apta a atingir qualquer cidadã o em qualquer localidade e ressalta, ainda, a
necessidade em nã o somente combater o crime, mas de ressocializar a vítima a sociedade.
1.2. Contextualização
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O trá fico de pessoas e o trabalho forçado como sua consequência têm beneficiado, desde o
fim do século passado, de uma renovada atençã o por parte da comunidade internacional e
dos seus Estados individualmente considerados, contrariamente à realidade de grande
parte do século XX, o trabalho forçado já nã o constitui, hoje, um monopó lio das prá ticas
estatais. A par das suas formas tradicionais, surgem, actualmente, novos tipos de trabalho
forçado, essencialmente impostos por agentes privados (ILO, 2005). O trá fico de migrantes
para trabalho forçado constitui uma dessas novas faces do flagelo. Resultante, em certos
casos, da intervençã o de grupos criminosos organizados, que visa a obtençã o de enormes
lucros através da exploraçã o do trabalho de milhõ es de migrantes em todas as regiõ es do
mundo. A preocupaçã o acrescida de que o trá fico de pessoas tem sido objecto resultou,
recentemente, na aprovaçã o de um conjunto de instrumentos jurídicos internacionais e
nacionais sobre o problema. Em articulaçã o com as normas já existentes, estas procedem
ao acomodamento do quadro legal à s novas exigências do trabalho forçado enquanto
consequência do trá fico de pessoas.
A pesquisa tomará como fundamento o trá fico de menores em Moçambique formulada por
Carlos Serra (dir), na sua obra “Tata papá, tata mamã: tráfico de menores em Moçambique”,
(2006), onde ajuda a entender as razõ es que levam as pessoas a serem traficadas. Tomará
também como base à s teorias socioló gicas, funcionalistas e fenomenoló gica para
compreender o fenó meno de trá fico de menores em Moçambique.
Portanto, estes autores me inspiram na medida em que na sua obra defende que
para gerir o problema de trá fico é preciso estabelecer planos de combate e definiram eixos
sobre qual tenha maior resultado:
1- Prevençã o;
2- Repreensã o
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3- Protecçã o e Assistência as vitima.
Em relaçã o a prevençã o explicou que é necessá ria realizaçã o de palestras para identificar a
melhor forma de agir e envolver mais pessoas e informá -las do que está a acontecer em
relaçã o ao trá fico de pessoas.
Para além destas acçõ es referiu do papel dos líderes comunitá rios na informaçã o que deve
dar à s comunidades.
Segundo Carlos Serra (sd), na obra “Trafico de Menores em Moçambique” aborda o trá fico
de pessoas como o processo pelo qual envolve um individuo ou um grupo de indivíduos. O
ilícito começa com aliciamento e termina com a pessoa que explora a vítima. (compra-a e
mantem em escravidã o ou outras formas de servidã o).
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No caso vertente a minha pesquisa difere-se do autor na medida em que o estudo acima
trata de um trá fico de pessoas para escravidã o, mas sim, uma parceria entre o pú blico, os
privados e organizaçõ es nã o-governamentais, e nã o especificamente os “famosos” servidã o
sexual na Cidade de Maputo.
A verificaçã o pode ser considerada como o esforço feito com rigor, empregando-se critérios
claros, com a finalidade de determinar o mérito de programas e projectos. Assim, difere de
pesquisa, pois esta é o esforço rigoroso com vista a determinar a consistência científica do
fenó meno estudado. (Faria apud Rico; 1998: p. 44).
Neste Trabalho procuramos realizar uma curta sistematizaçã o das principais fontes
jurídicas que têm por objecto o trá fico de pessoas para trabalho forçado. Começaremos por
nos centrar nos instrumentos jurídicos internacionais aprovados no seio das Naçõ es
Unidas e da Organizaçã o Internacional do Trabalho. Procederemos, em seguida, à aná lise
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das normas comunitá rias sobre o trá fico de seres humanos, terminando com uma
apreciaçã o do direito interno Moçambicano relevante para o objecto do estudo.
Crime ou delito: é o facto voluntario declarado punível pela lei penal (GONSALVES, 2007).
Tribunais: sã o ó rgã os de Soberania que administram justiça em nome do povo (art.1 da lei
nᵒ24/2007 de Agosto).
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Prova: todo meio legal, usado no processo, capaz de demonstrar a verdade dos factos
alegados em juízo. A prova deve ter como objectivo principal o convencimento do Juiz
(GUIMARÃ ES,1998).
1.3. Justificativa
Do ponto de vista teorico esta pesquisa trará uma compreensã o do fenó meno trá fico de
seres humanos e também, vai ajudar a sociedade a compreender as situaçõ es ou formas em
que as pessoas sã o traficadas e os fins a que estã o sujeitas, pois constitui, em primeiro
lugar, uma forma de aprofundar o conhecimento sobre a magnitude do problema do TSH
em Moçambique.
1.4. PROBLEMA
Apesar das recentes descobertas e revelaçõ es do Trá fico de Seres Humanos (TSH), a
magnitude do problema, em Moçambique, ainda constitui uma incó gnita. Primeiro porque
as informaçõ es estatísticas ainda sã o escassas; as poucas informaçõ es estatísticas
disponíveis sã o imprecisas, pois o TSH confunde-se, em alguns casos, com problemas de
imigraçã o ilegal e com êxodo rural, que estã o a registar uma tendência crescente; segundo
porque ainda nã o esta implícita a complexa ligaçã o entre TSH e o crime organizado, muito
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menos o grau de penetraçã o deste crime organizado, em Moçambique, quer do ponto de
vista geográ fico, quer do ponto de vista social.
Com efeito, julga-se que o Estado e as Organizaçõ es da Sociedade Civil (OSC) estã o a fazer
um trabalho notá vel, mas ainda é insignificante para prevenir e combater o problema do
Trá fico de Seres Humanos. Esta percepçã o reconhece, por um lado, o esforço desenvolvido
para alertar a sociedade sobre o problema do trá fico de seres humanos e a necessidade de
se adoptar medidas urgentes e de impacto real. Esta realidade denuncia a fragilidade
institucional, que nã o está a acompanhar de forma multissectorial, interdependente e
coordenada, a evoluçã o do trá fico de seres humanos. Acima de tudo, este cená rio constitui
uma chamada de atençã o para inú meros problemas estruturais só cio-econó micas que
colocam as mulheres e as crianças permanentemente vulnerá veis ao fenó meno.
Dentro do projecto Trá fico de seres humanos, na Cidade em estudo, há três resultados que
se esperam:
1) O trá fico de pessoas está a causar muitos males, de natureza física, psicoló gica e moral.
2) Este crime causa danos as vítimas, e os traficantes ganham muito dinheiro.
3) A populaçã o, quer as vítimas do trá fico deseja que se estabeleça planos de combate em
três eixos sobre qual tenha maior resultado: a Prevençã o, Repreensã o e Protecçã o e
Assistência as vítimas.
PERGUNTAS DE PESQUISA
Com base nesta informaçã o, identificá mos as seguintes questõ es de investigaçã o:
1. De que forma estas situaçõ es estã o, ou nã o, relacionadas com redes de trá fico de
pessoas?
2. Quais sã o os sectores em que estas formas de exploraçã o acontecem mais
frequentemente?
3. Quais os factores que contribuem para a existência destas situaçõ es de exploraçã o?
4. Quais os imigrantes mais vulnerá veis e quais as suas atitudes?
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5. Que respostas institucionais existem para lidar com este fenó meno e de que forma é que
podem ser aperfeiçoadas? Inicialmente, procedemos à revisã o da literatura existente, a
nível do enquadramento legal e da investigaçã o nacional sobre o tema.
6. Qual é o Impacto do trá fico de seres humanos, em especial mulheres e crianças na Cidade
de Maputo
7. Quais sã o os actores que estã o directamente, envolvidos no trá fico de seres humanos?
8.Quais sã o os principais desafios para a prevençã o e combate ao trá fico de seres humanos?
1.5. Objectivos
1.6. Hipótese
H1. O trá fico de crianças e mulheres na Cidade de Maputo florece devido a falta de
estratégias por parte das instituiçõ es da Lei e Ordem.
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Capítulo II- Revisão da Literatura
Adoptada em 2000 pela Assembleia-Geral das Naçõ es Unidas, a “Convençã o das Naçõ es
Unidas contra a Criminalidade Organizada Transnacional” tem por objectivo promover,
através da cooperaçã o entre os Estados, uma prevençã o e combate mais eficaz ao crime
organizado transnacional. Um dos objectivos centrais da Convençã o consiste na imposiçã o,
aos seus Estados Parte, da obrigaçã o de criminalizar um conjunto de condutas. Entre estas
incluem-se a participaçã o em grupo criminosa organizada (artigo 5º), o branqueamento
(artigo 6º) ou a corrupçã o (artigo 8º). A Convençã o prevê, igualmente, normas relativas à
implementaçã o de medidas de combate ao branqueamento e à corrupçã o (artigos 7º e 9º),
competência jurisdicional (artigo 15º), extradiçã o (artigo 16º), protecçã o de testemunhas
(artigo 24º), assistência e protecçã o à s vítimas (artigo 25º) ou prevençã o da criminalidade
organizada transnacional (artigo 31º). A Convençã o integra, igualmente, um “Protocolo
Adicional Relativo à Prevençã o, à Repressã o e à Puniçã o do Trá fico de Pessoas, em Especial
Mulheres e Crianças”.
De acordo com o seu artigo 2º, o Protocolo tem por objectivos prevenir e combater o trá fi
co de pessoas, em especial de mulheres e crianças, proteger e apoiar as suas vítimas, e
promover a cooperaçã o entre os Estados parte na prossecuçã o desses objectivos. Este
instrumento inclui a primeira defi niçã o de trá fico de seres humanos consensualmente
aceite pela comunidade internacional.
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Unidas contra a Criminalidade Organizada Transnacional” por Convençã o. Igualmente
aprovado, em Moçambique, pela Resoluçã o n.º 32/2004 da Assembleia da Repú blica, e
ratificado pelo Decreto n.º 19/2004 de 2 de Abril do Presidente da Repú blica. A
“Convençã o das Naçõ es Unidas contra a Criminalidade Organizada Transnacional” integra,
igualmente, um segundo Protocolo designado “Protocolo Adicional contra o Trá fico Ilícito
de Migrantes por via Terrestre, Marítima ou Aérea”.
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Relativamente ao elemento de movimento do trá fico, da interpretaçã o conjunta do
Protocolo e da Convençã o resulta o facto de este também incluir percursos migrató rios
internos, nã o sendo necessá rio que a vítima transponha uma fronteira internacional.
Cabe assim aos Estados parte decidir se pretendem criminalizar, a título de exemplo, a
transferência de uma pessoa com recurso à fraude.A obrigaçã o de criminalizaçã o refere-se
apenas à prá tica dolosa do trá fico de pessoas. Abrange, igualmente, a sua comissã o na
forma tentada, desde que permitido pelos princípios da ordem jurídica nacional (artigo 5º
n.º2 alinea (a) do Protocolo. Em consonâ ncia com o previsto no artigo 1º do Protocolo.
O artigo 34º n.º 2 da Convençã o, aplicá vel ao Protocolo por força do seu artigo 1º,
determina que o legislador nacional, ao incriminar o trá fico de pessoas, nã o deverá
introduzir na sua definiçã o elementos de transnacionalidade ou envolvimento de grupos
criminosos organizados. O elemento de transnacionalidade e envolvimento de grupos
criminosos organizados já relevará para a aplicaçã o de outras disposiçõ es do Protocolo
como, por exemplo, as relativas à prevençã o e cooperaçã o.
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meios de coacçã o acima descritos. Por ú ltimo, sempre que a vítima for menor (com menos
de 18 anos de idade), o recurso a um dos meios de coacçã o descritos em cima será
irrelevante na qualificaçã o de uma conduta como trá fico de pessoas (artigo 3º, alíneas (c) e
(d)). A intençã o de exploraçã o;
Para que este terceiro elemento constitutivo do trá fico de pessoas se verifique, nã o é
necessá ria a consumaçã o da exploraçã o da vítima, bastando demonstrar a intençã o do
agente de explorar o migrante (Gabinete das Naçõ es Unidas para o Crime e a Droga, 2004).
O conceito de exploraçã o, enquanto objectivo da actividade do traficante, inclui, pelo
menos: a exploraçã o da prostituiçã o de outrem, ou outras formas de exploraçã o sexual, o
trabalho ou serviços forçados, a escravatura ou prá ticas similares à escravatura, a servidã o
ou a extracçã o de ó rgã os. De acordo com o Grupo de Especialistas sobre Trá fi co de Pessoas
da Uniã o Europeia, o trabalho forçado constitui o elemento central do conceito. É a violaçã o
dos direitos humanos das vítimas em que este se consubstancia que o Protocolo visa
cercear (Experts Group Report, 2004). Apesar de nã o se encontrar defi nido no Protocolo,
sã o vá rios os instrumentos que concorrem para a sua interpretaçã o. Destacaremos aqui os
instrumentos aprovados no â mbito da Organizaçã o Internacional para o Trabalho (OIT).
O Protocolo parece proceder, através desta enumeraçã o, a uma distinçã o entre exploraçã o
sexual e trabalho forçado. De acordo com a Convençã o (n.º 29) da OIT (Cfr. Supra Capítulo
II, secçã o A), ponto 1.1.), contudo, o conceito de trabalho forçado deverá ser entendido no
sentido de incluir, igualmente, o trabalho sexual forçado (OIT 2005). O conceito de
escravatura é definido pela Convençã o sobre Escravatura de 1926 da Sociedade das
Naçõ es, alterada pelo Protocolo de 1953 das Naçõ es Unidas como o “estatuto ou condiçã o
de uma pessoa sobre a qual sã o exercidos algum ou todos os poderes decorrentes do
direito de propriedade”.
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consideradas prá ticas similares à escravatura. Criado pela Decisã o da Comissã o de 25 de
Março de 2003, JO L79, 26.03.2003.
A Convençã o da OIT sobre Trabalho Forçado ou Obrigató rio, 1930 (Nº29) define, no n.º 1
do seu artigo 2º, trabalho forçado como o “trabalho ou serviço exigido a qualquer indivíduo
sob a ameaça de uma sançã o e para o qual o dito indivíduo nã o se tenha oferecido de livre
vontade”. Deste instrumento resulta, igualmente, a obrigaçã o de os seus Estados parte
procederem ao sancionamento, nas suas ordens jurídicas internas, da imposiçã o ilegal de
trabalho forçado.
O conceito de trabalho forçado, tal como defi nido pela Convençã o (n.º 29) da OIT, é
composto por três elementos: - A actividade exigida terá de corresponder a um trabalho ou
serviço, pelo que nã o estarã o aqui incluídas as situaçõ es em que ao indivíduo é imposta a
frequência do ensino ou de uma formaçã o ou a entrega de bens ou outros valores
patrimoniais; - O recurso à ameaça de uma sançã o como meio de exigir o trabalho ou
serviço. A sançã o poderá assumir diversas formas.
A OIT identificou um conjunto de acçõ es que, configurando sançõ es nos termos acima
identificados, poderã o, na prá tica, indiciar a existência de uma situaçã o de trabalho
forçado. Estas incluem, a título de exemplo:
Violência física ou sexual exercida sobre o trabalhador, familiares ou terceiros que lhe
sejam pró ximos;
Restriçõ es à liberdade do trabalhador; Trabalho como meio de garantia de uma dívida;
Retençã o ou recusa do pagamento de salá rios; Retençã o de documentos de
identificaçã o;
Ameaça de denú ncia à s autoridades e de deportaçã o; Adoptada em Genebra ao 28 de
Junho de 1930, foi aprovada para ratifi caçã o por Portugal pelo Decreto n.º 40 646, de
16 de Junho de 1956. Entrou em vigor na ordem jurídica nacional em 26 de Junho de
1957. Complementada pela Convençã o (n.º 105) da OIT de 1957 sobre a aboliçã o do
trabalho, que nã o altera, contudo, o conceito de trabalho forçado constante da
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Convençã o (nº 29). A Convençã o (n.º 182) da OIT de 1999 visa a proibiçã o e
eliminaçã o das piores formas de trabalho das crianças, incluindo o trá fico de crianças.
A Convençã o (n.º 29) da OIT exclui do â mbito de aplicaçã o deste conceito um conjunto de
actividades. Entre estas encontramos o trabalho de caracter puramente militar
desempenhado no â mbito do serviço militar obrigató rio ou o trabalho ou serviço prestado
em virtude de condenaçã o judicial, desde que supervisionado por uma autoridade pú blica.
Artigo 25º da Convençã o (n.º 29) da OIT. Por exemplo, através do confinamento do
trabalhador ao seu local de trabalho com o objectivo de limitar o contacto com a
comunidade de acolhimento. Situaçã o em que o trabalho do indivíduo se torna uma
garantia de um empréstimo ou de uma dívida, sendo prestado parcialmente ou
exclusivamente para o seu cumprimento. Nestes casos, o trabalhador poderá continuar a
desempenhar as suas funçõ es na expectativa de que o pagamento dos seus salá rios se
concretize.
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os artigos 24º e 25º da Convençã o. Tais normas aplicar-se-ã o independentemente de as
vítimas se encontrarem no seu país de origem, num país de trâ nsito ou no país de destino
(Gabinete das Naçõ es Unidas para o Crime e a Droga, 2004). No que toca à protecçã o e
assistência à s vítimas, haverá que traçar uma distinçã o entre a diferente natureza das
normas do Protocolo e da Convençã o. Existem as que impõ em uma obrigaçã o aos Estados
parte de actuar, as que solicitam a ponderaçã o/esforço dos Estados na sua aplicaçã o e
aquelas cuja implementaçã o é de natureza totalmente opcional. Relativamente à s
primeiras, temos: A obrigaçã o de proteger a identidade e privacidade das vítimas,
nomeadamente, tornando os procedimentos criminais relativos ao trá fico de pessoas confi
denciais (artigo 6º alinea 1 do Protocolo); A obrigaçã o de prestar à s vítimas informaçã o
sobre procedimentos administrativos e judiciais (artigo 6º alinea 2 (a) do Protocolo); A
obrigaçã o de garantir à s vítimas a possibilidade de exporem a sua versã o dos factos e as
suas preocupaçõ es no momento adequado dos procedimentos criminais que envolvem os
seus agressores (artigo 6º alinea 2 (b) do Protocolo).
A obrigaçã o de incluir na legislaçã o interna meios que permitam à s vítimas de trá fico de
pessoas obter uma compensaçã o pelos danos sofridos (artigo 6ºalinea 6 do Protocolo e
artigo 25 alinea 2 da Convençã o); Relativamente ao segundo tipo de normas, o artigo 24º
alinea 4 da Convençã o exige aos Estados parte que adoptem, na medida das suas
possibilidades, medidas que garantam a protecçã o das vítimas que sejam testemunhas em
procedimentos criminais. Tais medidas poderã o, quando conveniente, ser extensíveis aos
seus familiares e entes pró ximos. No que toca à s vítimas de trá fico de pessoas em geral,
independentemente da sua condiçã o de testemunha no â mbito de um processo criminal, os
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Estados parte deverã o esforçar-se por garantir a sua segurança física enquanto estas se
encontrarem no seu territó rio (artigo 6º do Protocolo).
A possível regularizaçã o da permanência das vítimas de trá fico no país de destino deverá
merecer uma consideraçã o dos Estados parte norteada pela compaixã o e o humanismo que
a situaçã o exige (artigo 7º do Protocolo). Finalmente, no que toca à s normas do Protocolo
cuja implementaçã o se mantém na discricionariedade dos Estados parte, o artigo 6º do
Protocolo enumera um conjunto de medidas tendentes a garantir a recuperaçã o física,
psicoló gica e social das vítimas. Estas incluem a disponibilizaçã o de alojamento adequado, a
prestaçã o de aconselhamento e informaçã o numa língua que a vítima compreenda,
assistência médica, psicoló gica e material, emprego e acesso ao ensino e à formaçã o. A
prestaçã o deste apoio nã o deverá estar dependente da vontade da vítima cooperar com as
autoridades no â mbito de procedimentos criminais sobre trá fico de pessoas (Gabinete das
Naçõ es Unidas para o Crime e a Droga, 2004).
Uma questã o essencial neste domínio consiste na forma como as vítimas de trá fico elegíveis
para beneficiar destes apoios deverã o ser identificadas. O Protocolo nã o estabelece,
contudo, um procedimento de determinaçã o do estatuto de vítima.
O trá fico de pessoas é um crime que abrange vá rios tipos de exploraçã o, como sexual,
trabalho forçado, os de remoçã o de ó rgã os, casamento forçado, adoçã o ilegal ou rapto de
crianças e adultos com fins de formaçã o de exércitos paramilitares. Caroline Ausserer
coloca da seguinte maneira: A expressã o do “trá fico de escravas brancas” referia-se a
histó rias de mulheres europeias que seriam trazidas por redes internacionais de
traficantes para os Estados Unidos da América e para as colô nias para trabalhar como
prostitutas.
Assim, já no século XIX, a prá tica de trá fico de mulheres está conotada à prostituiçã o e à
escravidã o. As prostitutas, entã o, sã o vistas como o “arquétipo de mulher fora da casa”, a
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essência do desvio das normas e, portanto, se concentram nelas a estigmatizaçã o e a
desvalorizaçã o que se exercem sobre as que se apartam dos modelos impostos.
(AUSSERER, 2007:.27-87.). O trá fico de mulheres nã o é um fenô meno recente e suas raízes
sã o apresentadas no chamado “trá fico de escravas brancas” ou como ficou depois
conhecido como “trá fico das brancas”.
Em suma, duas coisas podem ser afirmadas, a primeira é que foi criado um discurso de
medo e pâ nico moral de que a família tradicional ocidental cristã poderia ter seus valores
desvirtuados pelas mulheres pobres, que geralmente vinham do sul para o hemisfério
norte, graças também ao crescimento da industrializaçã o que levava a migraçã o entre o
campo e a cidade, além da necessidade de reinvindicaçã o dos direitos das mulheres.
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momento da mundializaçã o do comércio, e, também, em contexto de crescente necessidade
de expressã o de autonomia e de reivindicaçã o de direito pelas mulheres (SOUSA, 2012:5)
A visã o de que as vítimas do trá fico sã o sempre mulheres ingênuas e enganadas, forçadas a
se prostituir gera um problema ao diferenciar a prostituiçã o forçada da voluntá ria e o
imigrante e a vítima. É importante levar em consideraçã o que a idéia de prostituiçã o esteve
muito ligada a uma rejeiçã o moral, portanto era uma condiçã o que feria diretamente a
noçã o de dignidade humana, seguindo o conceito de Immanuel Kant quando afirmou: No
reino dos fins tudo tem ou um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem um preço,
pode-se pô r em vez dela qualquer outra equivalente; mas quando uma coisa está acima de
todo o preço, e, portanto nã o permite equivalente, entã o tem ela dignidade. (KANT apud
BAZZANO, 2013:431) . Porém ainda cabe a mulher, levando em conta a perspectiva do
feminismo regulacionista, consentir em imigrar para outro país em busca de melhoria de
vida para si e da pró pria família, e assumir a profissã o de prostituta uma vez que nã o haja
condiçã o de exploraçã o, coerçã o ou engano dentro do ambiente de trabalho (BAZZANO,
2013).
Em 2009, de acordo com Bales, Williamson e Trodd (2009:.7), haveria cerca de 27 milhõ es
de escravos no mundo, agora, segundo os relató rios da ONG Free Walk Foundation6 hoje
existem ao menos 45,8 milhõ es de pessoas que vivem dentro dessa esfera, e dentro das
Américas 4,7% desse nú mero. É possível dizer que tal nú mero choca se for considerado
que há mais de cem anos existiram açõ es para proibir a escravidã o e formas de trá fico
buscando o seu fim definitivo, no entanto, essas prá ticas nã o foram extintas, pelo contrá rio,
elas reapareceram de formas variadas, com novas formas de exploraçã o e trá fico de
pessoas. No que tange aos fatores que impulsionam essas atividades, neste trabalho é
proposto enxergar motivos primá rios para entender o ambiente em que essas pessoas se
Immanuel Kant na obra Fundamentaçã o da Metafísica dos Costumes.
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The Walk Free Foundation “é uma organizaçã o internacional de direitos humanos com a
missã o de findar a escravidã o moderna na nossa geraçã o (2004) . Para eles as migraçõ es,
sejam elas legais ou ilegais, ocorrem por factores propulsores, e os países de origem, que
podem ser entendido como um factor propulsor, geralmente apresentam as mesmas
características. Um deles é a globalizaçã o, que levou os países a diminuírem vá rias de suas
barreiras econô micas, políticas, culturais e sociais, com isso “os efeitos deste processo sã o
mú ltiplos e complexos; um dos efeitos é o aumento do desemprego.
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como fronteiras abertas que facilitam o fluxo de bens também facilita o fluxo de pessoas.
Fronteiras fechadas podem exacerbar as migraçõ es ilegais, que em retorno podem facilitar
o trá fico”. Machista, e dentro desse aspecto, favorecendo a encontrar uma visã o de que a
mulher deve estar submissa a vontade do homem, se tornando assim um alvo mais fá cil, ou
até perda de um membro da família responsá vel pela renda compelindo a família a dispor
de um novo membro para prover o sustento de todos (ARONOWITZ, 2009:11).
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1) Corrupçã o governamental,
2) Alta taxa de mortalidade infantil,
3) Populaçã o muito jovem,
4) Baixa produçã o de alimentos como indicador de pobreza, e
5) Conflitos ou inquietaçõ es sociais.
Quanto aos pull factors que predizem o trá fico para países sã o menos conclusivos, no
entanto a permeabilidade das fronteiras é um forte indicador e deve estar relacionado a
corrupçã o, de maneira mais específica, dentro das fronteiras, mas é possível colocar da
seguinte forma e de maneira respectiva, o nú mero da populaçã o masculina acima de 60
anos, baixo nível de corrupçã o, produçã o alimentícia, baixo consumo de energia, e baixa
mortalidade infantil. Isso deve fazer parte de características que compõ em o indicador de
uma economia pró spera em certo nível, servindo como possível lugar de destino.
Com base no combate do trá fico de escravas brancas, realizou-se algumas conferências
internacionais sobre a prevençã o do trá fico de mulheres que serve como começo para
trazer o tema de um â mbito político para também uma esfera jurídica. A primeira em 1895
em Paris que deu continuidade em Amsterdã , Londres e Budapeste: A conferência em
Londres de 1899 decide criar uma organizaçã o para combater o trá fico de mulheres, a
Association pour la Repression de la Traite de Blanches, dirigida desde Londres pelo
International Bureau for the Suppression of the Internacional White Slave Traffic, que é
seguido pelo estabelecimento de comitês nacionais em vá rios países. Assim é preparada a
base para uma abordagem legalista do trá fico humano, que se contrapô s ao entendimento
mais político das décadas anteriores (Ausserer, 2007:33-34).
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recrutamento e o abuso de mulheres e meninas para finalidades imorais no exterior,
através do intercâ mbio de informaçõ es entre os Estados e vigilâ ncia de portos e
rodoviá rias como medida de proteçã o.
Depois dos avanços que houve nos anos seguintes, importantes por mudar a perspectiva da
prostituiçã o como um todo e passarem a expor que havia uma diferença entre prostituiçã o
forçada e voluntá ria, o marco mais recente é o Protocolo Adicional à Convençã o das Naçõ es
Unidas Contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevençã o, Repressã o e
Puniçã o do Trá fico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças, mais conhecido como
Protocolo de Palermo de 2003 (BAZZANO, 2013). Considerado um sucesso devido a rá pida
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ratificaçã o pelos Estados, tornando uma grande ferramenta judicial de cooperaçã o
internacional, ele fala sobre o que define o ato do trá fico, sendo o recrutamento, transporte,
transferência, abrigo e recebimento de pessoas; os meios utilizados no processo,
empregando ameaça ou uso da força, coerçã o, abduçã o, fraude, engano, abuso de
autoridade ou de uma situaçã o de vulnerabilidade, aceitar ou receber benefícios para
ganhar permissã o de uma pessoa que tem autoridade sobre outra; e sua finalidade, seja
prostituiçã o, exploraçã o sexual, trabalho forçado, escravatura em todas as suas formas,
servidã o e remoçã o de ó rgã os. Ileana Ionescu aponta quatro aspectos que se sobressaem
desse documento, dois deles tratam sobre a vítima, a evoluçã o desde mulheres brancas até
pessoas em geral com uma preocupaçã o maior com crianças e mulheres, “antes as vítimas
ficavam em posiçã o ambígua, como se fossem criminosas. O Protocolo busca garantir que
sejam tratadas como pessoas que sofreram graves abusos, e os Estados membros devem
criar serviços de assistência e mecanismos de denú ncia” (IONESCU, 2013:72).
O terceiro aspecto concerne a finalidade do trá fico coibindo qualquer forma que se
apresente, como das vá rias citadas acima (exploraçã o sexual, escravidã o, remoçã o de
ó rgã os, etc); e seu ú ltimo aspecto, a importâ ncia da consensualidade e seu conceito, entã o
ela coloca: Tratando-se de crianças e adolescentes, ou seja, pessoas com idade inferior a 18
anos, o consentimento é irrelevante para configuraçã o do trá fico. Quando se tratar de
adultos, “o consentimento é relevante para discutir a imputaçã o de trá fico, a menos que
comprovada ameaça, coerçã o, fraude, abuso de autoridade ou situaçã o de vulnerabilidade,
bem como a oferta de vantagens para quem tenha a autoridade sobre outrem” (IONESCU,
2013:73).
Por fim, Ausserer (2007) levanta que mesmo em meio a divergências entre as vá rias partes
envolvidas, isto é, os Estados e as Organizaçõ es Nã o Governamentais, houve uma
concordâ ncia a respeito da necessidade e importâ ncia do Protocolo, principalmente por
trazer a primeira definiçã o de trá fico de pessoas dentro do direito internacional e,
consequentemente, a uma maior conscientizaçã o sobre o problema.
24
2.7. Trá fico de Pessoas: conceitos, exploraçã o e coerçã o
A fim de compreender o processo do trá fico por suas etapas é bastante importante para
conseguir enxergar os motores desses grupos. Primeiramente está o está gio de
recrutamento ou abduçã o, na qual existe o estudo de qual a melhor tá tica para alcançar a
vítima ideal, e a maneira que esta estaria mais suscetível a acreditar na promessa da vida
melhor.
O segundo passo é o transporte para adentrar em outro país com a vítima, isso requer um
conhecimento de rotas, fronteiras, eficá cia das autoridades e seu nível de corrupçã o. A
terceira etapa é a da exploraçã o, onde o indivíduo é forçado ao trabalho escravo ou
exploraçã o sexual. Ainda pode ocorrer uma quarta etapa, essa envolve o abusador e é
bastante comum em grandes organizaçõ es criminosas. Já que num processo de trá fico
existem vá rios crimes que podem ser cometidos para alcançar seu objectivo final, podendo
ser ameaças, extorsã o, corrupçã o de oficiais do governo, apreensã o de documentos ou
propriedade, ataque sexual ou estupro, e maus-tratos que levem a morte. Obviamente,
sendo alto o nível de corrupçã o, mais fá cil é de existir essas atividades ilegais, mas em sua
maioria, o reinado de terror que as vítimas enfrentam acontece apó s a chegada ao país de
destino. Com o acontecimento recorrente desses casos, observando essas exploraçõ es
humanas, criou-se o conceito de trá fico de seres humanos (TSH) pela Organizaçã o das
Naçõ es Unidas (ONU), no ano 2012, com intuito de lidar com as diferentes faces que essas
formas de exploraçã o tendem a se infiltrar na sociedade, onde define sobre o trá fico:
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b) O consentimento dado pela vítima de trá fico de pessoas tendo em vista qualquer tipo de
exploraçã o descrito na alínea a) do presente Artigo será considerado irrelevante se tiver
sido utilizado qualquer um dos meios referidos na alínea a);
d) O termo "criança" significa qualquer pessoa com idade inferior a dezoito anos.
De maneira abrangente essa exploraçã o pode ter o propó sito de trabalho forçado, sendo
qualquer serviço, escravidã o Este Protocolo entrou em vigor no dia 25 de Dezembro de
2003, porém sua aprovaçã o ocorreu em 15 de Novembro de 2000. Ou prá ticas similares,
remoçã o de ó rgã os, prostituiçã o e outras formas de exploraçã o sexual, que será o foco
desse estudo. Apó s entender esses factores bá sicos para estabelecer o trá fico, é importante
diferenciar a coerçã o do engano, ou desilusã o.
Existe um falso entendimento quando se afirma que todas as vítimas foram recrutadas ou
induzidas sob falsos pretextos de que poderiam encontrar uma oportunidade melhor no
26
futuro destino, e que só perceberam a realidade apó s o momento da chegada em outro país,
ou seja, nem todas as vítimas sã o ludibriadas por seu traficante. Assim como o método de
trá fico muda dependendo da situaçã o e do país, o mesmo acontece com o nível de
informaçã o que é oferecido na hora de convencer uma pessoa, existe um nú mero de
pessoas que se encontram dentro dessa situaçã o que possuíam alguma idéia do que estaria
por vir e ainda assim foram por livre escolha, mas o grau da dura realidade só as atinge no
local de destino.
O facto de que a coerçã o é uma questã o complexa apenas impõ e mais peso na dificuldade
para remediar a situaçã o. Para algumas pessoas o medo de ser deportada pela imigraçã o,
ameaça contra a família da vítima, ou até a falta de informaçã o sobre os seus direitos ou o
tipo de amparo que o Estado é capaz de disponibilizar em favor do indivíduo, resulta em
manter a linha e previne a busca das autoridades responsá veis. A coerçã o é um problema
bastante complexo, alguns podem entender que se trata de uma situaçã o mais psicoló gica
do que física, e para outros, nem tanto, mas de forma geral, existe quando nã o há uma real
chance, uma alternativa aceitá vel, que nã o seja a submissã o para o controlador/ abusador
envolvido no caso específico.
De acordo com Weissbrodt “any situation in which the person involved had no real and
acceptable alternative but to submit to the abuse involved” (2002:22). “Qualquer situaçã o
em que a pessoa envolvida nã o possuía nenhuma alternativa real ou aceitá vel, que nã o se
submeter ao abuso envolvido”.
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2.8. Contrabando e Tráfico de Pessoas
Ainda falando sobre importantes diferenças, é também vá lido salientar a diferença entre
contrabando e trá fico. Mesmo em ambas as situaçõ es, existe alguém para ajudar a ingressar
em outro local, principalmente se tratando de outro país, um indivíduo contrabandeado
geralmente paga o valor total que é devido antes do seu embarque. Já aqueles que sã o
traficados, possivelmente pagam uma parte da viagem antes da sua partida, o que gera uma
soma de dívida no final. É justamente essa dívida que coloca a pessoa a margem dos seus
traficantes, e a diferença entre essas duas situaçõ es pode só ficar mais distinguível quando
a jornada acabar. Outra situaçã o real é quando um imigrante usa o serviço de um
contrabandista mas tem sua situaçã o transformada, devido ao fato de estarem dentro de
alguma situaçã o coercitiva, o que passa a se caracterizar como vítima do trá fico.
Segundo Alexis Arownowitz a principal diferença entre vítimas do trá fico e pessoas
contrabandeadas é “smuggled persons, even if they are living and working under exploitive
conditions, are free to leave and look for better opportunities. Trafficked victims are not so
fortunate” (2009:7). Esses ficam sob a vontade daqueles com quem mantém um débito e
precisam pagar o custos arcados por seus traficantes, ou aqueles quem mantém seus
documentos, até aqueles que sofrem ameaça contra o bem-estar de suas famílias em seu
país natal. Segundo o Instituto Pacto Nacional pela Erradicaçã o do Trabalho Escravo
existem três notá veis diferenças entre o contrabando e trá fico de pessoas.
28
A segunda trata da exploraçã o, onde no contrabando a exploraçã o se finda no momento
que o migrante chega ao seu destino, enquanto no trá fico se busca obter lucro por meios
exploradores e suas vítimas tendem a ser afectadas severamente, necessitando maior
protecçã o. Em terceiro, o cará cter transnacional já que contrabandear pessoas
necessariamente implica imigrar ilegalmente para outro país, opondo o trá fico de pessoas
que pode ocorrer tanto internacionalmente quanto em territó rio nacional. Isso pode
reflectir outra característica importante para diferenciar as duas situaçõ es, uma vez que o
aspecto legal também muda dentro do país que se encontra. Pessoas na esfera do trá fico
sã o vítimas, e é importante lembrar que é sob essa ó ptica que elas devem ser enxergadas,
possuem o direito, em diversos lugares, de uma protecçã o especial, enquanto um
contrabandeado vai usar da atençã o de agências do governo ou organizaçõ es nã o-
governamentais sem essa ó ptica diferenciada, onde classifica-se o indivíduo como vítima.
Aronowitz estabelece também sobre essas diferenças: Other differences between trafficked
victims and smuggled persons are their legal status in the country of destination once they
have come to the attention of nongovernmental organizations (NGOs) or enforcement
agencies. Trafficked persons are (or should be) victims and entitled in many countries to
special protection. Illegal immigrants, unless they are granted asylum, are considered
violators of immigration law and subject to arrest and deportation (ARONOWTIZ, 2009:7).
Uma vez que as definiçõ es sobre o trá fico de seres humanos foram apontadas, mostrando
suas diferenças e particularidades, pode-se compreender o cená rio internacional que logo
surgiu e o momento que as discussõ es sobre direitos humanos e trá fico de pessoas
voltaram ao centro da agenda dos Estados. Expor também que é uma consequência dos
momentos políticos, como o cená rio Pó s-Guerra Fria, além de como as organizaçõ es
criminosas transnacionais se adaptaram a um novo contexto, sendo esse guiado pela
modernidade que acompanhou o momento de globalizaçã o.“Outra diferença entre vítimas
do trá fico e pessoas contrabandeadas é seu status legal no país de destino, uma vez que
chegaram à atençã o das organizaçõ es nã o-governamentais (ONGs) ou agências de
execuçã o. Pessoas traficadas sã o (ou deveriam ser) vítimas com direito em muitos países a
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protecçã o especial. Imigrantes ilegais, ao menos que seja concedido asilo, sã o considerados
violadores das leis de imigraçã o e submetidos a prisã o e deportaçã o” (traduçã o livre pela
autora).
Capítulo III-Metodologia
3. Metodologia
Para efeitos desta pesquisa vai-se privilegiar uma combinaçã o de métodos e técnicas de
recolha de dados.
30
As entrevistas serã o dirigidas a diferentes actores como: os intervenientes (a populaçã o em
geral) e a mais importante unidade de aná lise, Centros de Acolhimento das Vítimas, a
Polícia de Investigaçã o Criminal, a Procuradoria da Cidade. Como forma de captar as
percepçõ es e representaçõ es e o sentido que é atribuído ao trá fico de seres humanos.
A observaçã o participante vai incidir sobre as acçõ es ou formas de trá fico de seres
humanos, os meios usados, e fins pretendidos como forma de recolher dados sobre as
acçõ es, opiniõ es e perspectivas que normalmente, um observador exterior nã o teria acesso.
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ANEXO 1. CRONOGRAMA DE ACTIVIDADES
Actividades Agosto Setembro Outubro Novem Dezembr Dezem
2019 2019 2019 bro o bro
2019 2018 2019
Revisã o da
literatura
Elaboraçã o dos
instrumentos
de recolha de
dados
Realizaçã o do
Trabalho de
campo
Entrada de
dados
Tratamento e
aná lise de
dados
Elaboraçã o e
Revisã o do
Relató rio
preliminar
Elaboraçã o do
Relató rio final
e disseminaçã o
dos resultados
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ANEXO 2. ORÇAMENTO
Descrição Número Unidade Preço Total MT
Unitário
Pesquisador 1 30 Dias 400 12.000,0
Assistentes de pesquisa 2 20 Dias 300 12.000,00
33
Contingências (10% do sub 3.243,50
total)
Total 33.405,30
34
6.REFERÊ NCIA BIBLIOGRÁ FICA
1. ARONOWITZ, Alexis A.. Human Trafficking, Human Misery: The Global Trade
In Human Beings. [s. I.]: Graeme R. Newman, 2009.
2. ARY, Thalita Carneiro. O Trá fico de Pessoas em Três Dimensõ es: Evoluçã o,
Globalizaçã o e a Rota Brasil-Europa. 2009. 154 f. Monografia (Especializaçã o)
- Curso de Relaçõ es Internacionais, Universidade de Brasília, Brasília, 2009.
Disponível em:
35
6. CONSTANTINO, Jorge, FIGUEIRAS, Má rio (2007). Jurisdição penal: Projecto
apoio ao desenvolvimento dos sistemas judiciários. Pombal
11. SERRA, Carlos; Tata papá, tatá mamã: Tráfico de menores em Moçambique. 1ª
Ediçã o, Maputo, Editora Imprensa Universitá ria; 2006, pp 527.
12. SOUSA, Maria Luiz Lameidode; Serviços Social de Comunidade numa Visão de
Praxis, 2ª ediçã o, Sã o Paulo; Editora Cortez: 1986
36