COORDENADORIA REGIONAL DA GRANDE FLORIANÓPOLIS CEJA - CENTRO DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DE SÃO JOSÉ
MERCADO DE TRABALHO E EDUCAÇÃO NO BRASIL
Sabemos que trabalho não é apenas uma forma de produzir bens ou mercadorias. Ele é, principalmente, a maneira como os seres humanos se relacionam com o mundo, a maneira como os homens e as mulheres se relacionam uns com os outros para construir a sociedade em que vivem. Em uma palavra, o trabalho dá dignidade ao ser humano, além de permitir que ele usufrua dos benefícios que o salário advindo de seu trabalho lhe concede. No entanto, há muitas situações na história do Brasil que precisamos estudar para compreender porque a situação do trabalhador brasileiro/a padece com falta de direitos, mal remunerado e a grande taxa de desemprego. No Brasil atual, há pelo menos 13 milhões de trabalhadores e trabalhadoras desempregados. A COVID-19 deixou esta situação ainda mais dramática nos últimos dois anos. O estudo, a informação clara e de fonte segura, e não as chamadas fake news (notícias falsas) nos ajudam a compreender melhor o panorama atual e ver que nossa história, a história do nosso país, muitas vezes está repleta de problemas relacionados ao trabalho e a vida do/a trabalhador/a. Tomar consciência dessas situações nos ajuda a trabalharmos por um país melhor e mais justo.
1 A questão trabalhista no Brasil
O trabalho é um direito fundamental e um dever do Estado em promover. Por meio dele nos tornamos humanos e transformamos a natureza à nossa volta produzindo bens de consumo para promover a coesão social. O trabalho, que já foi considerado uma condição degradante e inferior, no mundo atual é essencial para o exercício da cidadania e da dignidade humana porque é por meio dele que asseguramos a sobrevivência e nos integramos à comunidade humana com igualdade, liberdade e justiça. Como direito fundamental, o trabalho está disposto na “carta magna” do país que é a Constituição Federal, elaborada para garantir os direitos civis, sociais e políticos dos cidadãos brasileiros e dos estrangeiros residentes no país. O Brasil também é signatário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, a qual estabelece ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO COORDENADORIA REGIONAL DA GRANDE FLORIANÓPOLIS CEJA - CENTRO DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DE SÃO JOSÉ
que toda pessoa tem direito a condições justas de trabalho, além de
proibir todas as maneiras de escravidão e de tráfico de pessoas. Apesar de todas estas leis e proteções, a questão do trabalho no Brasil atual não é das melhores. Atualmente, mais de 30 milhões de brasileiros trabalham na informalidade, ou seja, não possuem nenhum direito e consequentemente nenhuma segurança trabalhista. Inclusive, em muitos lugares, até mesmo em grandes centros urbanos, têm ocorrido situações em que são desrespeitados os direitos trabalhistas de brasileiros e estrangeiros. Em muitas situações, trabalhadores são mantidos praticamente em regime de escravidão, configurando um crime contra a cidadania e os diretos humanos.
2. O trabalho escravo no Brasil atual
De acordo com o artigo 149 do Código Penal brasileiro, são
elementos que caracterizam o trabalho análogo ao de escravo: condições degradantes de trabalho (incompatíveis com a
dignidade humana, caracterizadas pela violação de direitos
fundamentais coloquem em risco a saúde e a vida do trabalhador), jornada exaustiva (em que o trabalhador é submetido a esforço excessivo ou sobrecarga de trabalho que acarreta a danos à sua saúde ou risco de vida), trabalho forçado (manter a pessoa no serviço através de fraudes, isolamento geográfico, ameaças e violências físicas e psicológicas) e servidão por dívida (fazer o trabalhador contrair ilegalmente um débito e prendê-lo a ele). Os elementos podem vir juntos ou isoladamente. O termo “trabalho análogo ao de escravo” deriva do fato de que o trabalho escravo formal foi abolido pela Lei Áurea em 13 de maio de 1888. Até então, o Estado brasileiro tolerava a propriedade de uma pessoa por outra não mais reconhecida pela legislação, o que se tornou ilegal após essa data. Não é apenas a ausência de liberdade que faz um trabalhador escravo, mas sim de dignidade. Todo ser humano nasce igual em direito à mesma dignidade. E, portanto, nascemos todos com os mesmos direitos fundamentais que, quando violados, nos arrancam dessa condição e nos transformam em coisas, instrumentos descartáveis de ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO COORDENADORIA REGIONAL DA GRANDE FLORIANÓPOLIS CEJA - CENTRO DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DE SÃO JOSÉ
trabalho. Quando um trabalhador mantém sua liberdade, mas é excluído
de condições mínimas de dignidade, temos também caracterizado trabalho escravo. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, através de sua relatora para formas contemporâneas de escravidão, apoiam o conceito utilizado no Brasil.
Texto do Repórter Gésio Passos, da Agência Brasil.
942 pessoas foram resgatadas de condição semelhante à de
escravidão no Brasil no ano passado. Os dados, atualizados nessa terça-feira (11), são do Observatório da Erradicação do Trabalho Escravo e do Tráfico de Pessoas, desenvolvido pelo Ministério Público do Trabalho e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). Minas Gerais foi o estado com maior número de resgates em 2020, com 351 casos, seguido do Distrito Federal, Pará, Goiás e a Bahia. O diretor do Escritório da OIT no Brasil, Martin Hahn, alerta que a pandemia da covid-19 tende a agravar esse cenário para imigrantes, negros e excluídos, com aumento do risco de formas inaceitáveis de trabalho. Das vítimas resgatadas de trabalho escravo em 2020, 17% estavam em atividades de produção florestal; 15% no cultivo do café e 10% na criação de bovinos. Entre as atividades urbanas, destaque para o comércio varejista, com 10% dos casos, seguido da montagem industrial e estruturas metálicas e do setor de construção e imobiliário. O trabalho em condições semelhantes à de escravidão é crime e uma grave violação dos direitos humanos. Segundo o Ministério Público do Trabalho, milhares de pessoas ainda são exploradas no Brasil por meio do trabalho forçado, da servidão por dívida, de condições degradantes de trabalho e de jornadas exaustivas. Para alertar a sociedade e o poder público contra essa forma ilegal de trabalho, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) vem desenvolvendo a campanha “Olho Aberto para não Virar Escravo” desde 1997. Frei Xavier Plassat, coordenador da campanha, considera que essa situação revela uma estrutura social de exclusão no país. O Observatório da Erradicação do Trabalho Escravo e do Tráfico ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO COORDENADORIA REGIONAL DA GRANDE FLORIANÓPOLIS CEJA - CENTRO DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DE SÃO JOSÉ
de Pessoas reúne
dados de ações de órgãos públicos entre 1995 e 2020. Nesse
período, 55.712 pessoas foram encontradas em condição semelhantes à de escravidão, sendo 80% das vítimas trabalhadores no setor agropecuário. A Organização Internacional do Trabalho estima que, em todo mundo, essa situação alcance mais de 25 milhões de pessoas, incluindo mulheres e crianças. A prática gera cerca de US$ 150 bilhões anuais em lucros ilegais. No Brasil, casos de trabalho semelhante à de escravidão podem ser denunciados pelo disque 100, pelo site do Ministério Público do Trabalho ou pela Secretaria de Trabalho do Ministério da Economia.
3. Mercado de trabalho e minorias étnicas.
Observe com atenção as duas charges a seguir
A charge 1 apresenta uma cena muito comum: crianças sendo
crianças. No entanto, o tratamento dado a elas é essencialmente diferente. Para a criança branca, uma reprimenda logo lembrada por alguém que “é apenas uma criança”. Para a criança negra, dedos apontados e desejos de justiçamento. Parece exagero, mas isso é muito mais comum do que nós imaginamos em nosso país. Os negros, crianças ou adultos, muitas vezes apenas por ser negros, são logo acusados, incriminados, violados sem direito à defesa. Existe um racismo estrutural em nossa sociedade escondido em “anseios” aparentemente legais. ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO COORDENADORIA REGIONAL DA GRANDE FLORIANÓPOLIS CEJA - CENTRO DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DE SÃO JOSÉ
A charge 2 mostra uma candidata negra à vaga de secretaria. Mas,
vendo a moça, o sujeito lhe oferece vagas onde possivelmente ele vê com frequência mulheres negras: faxina. Infelizmente esta realidade também esta presente na vida de muitas mulheres negras que são submetidas a experiências semelhantes. Mas não só mulheres, homens negros também são submetidos a este tipo de preconceito simplesmente por serem negros.
A Charge é uma forma de crítica por meio de desenho, caricatura,
que busca atrair o leitor pelo exagero das colocações dos personagens ou dos desenhos. Muito utilizada desde o advento da imprensa nos jornais, a charge sintetiza o pensamento do artista fazendo com que o leitor reflita sobre questões politicas, culturais, religiosas, artísticas, etc.
Texto: Desigualdade racial no mundo do trabalho reflete regime de
escravidão Estudo do IBGE mostra que brancos ganham 74% a mais do que negros e pardos
A população negra representa mais da metade dos brasileiros
(56%). Mesmo sendo maioria, a desigualdade social por cor e raça ainda é gritante. Prova disso é a desvantagem no mercado de trabalho, nos indicadores de renda, nas condições de moradia, na educação e no acesso a bens e serviços. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados na quarta-feira (13), trabalhadores brancos ganham, em média, 74% mais do que pretos e pardos. O estudo mostra que a média salarial do brasileiro branco é de R$ 2.796. Já a de pretos e pardos, é de R$ 1.608. Tal desvantagem também pode ser vista na ocupação de cargos, como os gerenciais, por exemplo. De acordo com o IBGE, quase 70% das vagas destes cargos são para brancos e menos de 30% para pretos ou pardos. A taxa de desocupação também é maior entre negros do que a de pessoas brancas. São 14,1% dos negros e pardos sem trabalho. Entre os brancos, o desemprego é de 9,5%. ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO COORDENADORIA REGIONAL DA GRANDE FLORIANÓPOLIS CEJA - CENTRO DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DE SÃO JOSÉ
Para Almir Aguiar, secretário de Combate ao Racismo da
Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), os dados mostram que as desigualdades raciais no mundo do trabalho estão ligadas ao regime de escravidão, que perdurou por mais de 300 anos no Brasil. “O negro por força da Lei, era proibido de frequentar a escola pública, não teve direito à moradia, trabalho, terra, nem a reparação. Mas, no entanto, o Estado indenizou os senhores de engenho e deu terras para os imigrantes”, disse. “Os números do IBGE, mostram isso, são 131 anos de uma abolição inacabada, que nos forçam a ampliar nossa luta por uma sociedade justa, democrática e com igualdade” afirmou Almir Aguiar