Você está na página 1de 2

DOMINGO DE RAMOS 2015

Na celebração deste domingo iniciamos a semana santa com um


gesto que tem perpassado gerações de cristãos de todos os lugares do
mundo: os ramos que trazemos nas mãos, benzido nesta celebração é o
símbolo do compromisso que temos com Cristo, servo sofredor.
Gostaria de ressaltar, para nossa reflexão e oração da semana santa,
três aspectos da vida de Jesus, aspectos que são fundamentais para
compreendermos a quem estamos seguindo e porque estamos. Jesus como
Rei, Jesus como Deus, Jesus como libertador do ser humano.
É interessante observar que os textos da liturgia da palavra escolhidos
pela Igreja para hoje, apresentam Jesus como um rei humilde, capaz de dar a
vida pelos seus protegidos. A figura do Messias Rei na bíblia, idealizado
segundo as instruções do próprio Deus, em nada se parece com os reis que
a história nos legou: déspotas, bonachões, ricos, autoritários, etc. O Conceito
de rei de Israel está intimamente ligado ao conceito de Deus, porque ele é o
pastor-rei de Israel, do povo escolhido. Então todo rei de Israel, segundo o
conceito bíblico, precisará ter as mesmas atitudes de Deus para com seu
povo: proteger, acolher, ser compassivo, misericordioso e se preciso for,
morrer pelo seu povo. Será está imagem de Rei que Jesus assumirá: um rei
humilde e cheio de misericórdia que morreu pelo seu povo. Um rei segundo a
profecia de Isaías, conforme ouvimos na primeira leitura de hoje: “ofereci as
costas para me baterem e as faces para me arrancarem a barba, não desviei
o rosto de bofetões e cusparadas. Mas o Senhor Deus é meu auxiliador, por
isso não me deixei abater o ânimo” (Is 50, 6-7).
Mais do que apenas um líder do povo, Jesus também foi visto pelos
cristãos de todos os tempos, a começar pelos seus seguidores, como o
próprio Deus encarnado. A conclusão do Evangelho de Marcos quando põe
na boa do centurião romano a frase: “verdadeiramente este homem era filho
de Deus”(Mc 15, 39) resume o sentimento da comunidade cristã primitiva
acerca de Jesus. De fato, Jesus assume inteiramente o papel de servo
sofredor, ainda que seja o próprio Deus presente no nosso meio, como afirma
o Evangelho e a tradição cristã expressa na carta de São Paulo aos filipenses
que ouvimos a pouco. Disse São Paulo: “Jesus cristo, existindo em condição
divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas esvaziou-se a si
mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens.
Encontrado com aspecto humano, humilhou-se a si mesmo fazendo-se
obediente até a morte, e morte de cruz”(Fl 2, 6-8).
O terceiro aspecto da vida de Jesus esta presente no próprio Texto do
evangelho de Marcos que ouvimos hoje, mas perpassa obviamente todo o
novo testamento: Jesus é o libertador de todas as pessoas de todos os
tempos. Isso porque ele devolve ao ser humano a dignidade que a história,
nas diversas culturas, insiste em usurpá-la. Cada pessoa, todos nós, somos a
imagem e semelhança de Deus e a única arma para acabar com o ódio que
gera a desigualdade e a miséria é o amor e o acolhimento. Foi isso que ele
fez e por isso foi acusado pela elite econômica, política e religiosa do seu
tempo. Que uma coisa fique bem clara para nós de uma vez por todas: quem
matou Jesus, quem armou um plano para descarta-lo foram os incomodados
com sua presença e sua atuação. E quem mais se incomodou com seus
gestos senão a elite econômica, porque Jesus dizia que não podemos servir
a dois senhores a Deus e ao dinheiro; a elite politica, porque Jesus afirmava
que Deus somente ele é o rei e o colocava acima de qualquer autoridade
sobre o povo; a elite religiosa porque Jesus colocava as normas, as tradições
e a própria escritura (a Torá) abaixo da vida humana, inclusive dos mais
miseráveis dentre eles. Tinham muitos motivos para mata-lo. Jesus
incomodou a sociedade do seu tempo e nos delegou esta missão enquanto o
mundo criado por Deus não for o reino de Deus querido por Ele. Não a toa,
uma das frases de Jesus mais impactantes colhida pelos autores dos
evangelhos é esta: “Não penseis que vim trazer paz à terra. Não
vim trazer paz, mas a espada. Com efeito, vim contrapor o
homem ao seu pai, a filha à sua mãe e a nora à sua sogra. Em
suma: os inimigos do homem serão os seus próprios
familiares. Aquele que ama pai ou mãe mais do que a mim não
é digno de mim. Aquele que ama filho ou filha mais do que a
mim não é digno de mim. Aquele que não toma a sua cruz e
não me segue não é digno de mim. Aquele que acha a sua
vida, vai perdê-la, mas quem perde a sua vida por causa de
mim, vi achá-la” (Mt 10,34-39). O significado desta sentença é óbvio:
ficar ao lado de Jesus pode ser perigoso, se este ficar ultrapassar as paredes
do templo e tomar as ruas, as casas, a sociedade.
Por isso os Ramos que trazemos nas mãos neste domingo deixam de
ser apenas simples ramos das árvores que colhemos para a missa e passam
a ter significado “sacramental” de nosso compromisso com o Evangelho de
Cristo. para que servem os ramos? Servem para demonstrar a quem
servimos: A Cristo, Ele é o nosso Rei! Somente a ele serviremos.

Você também pode gostar