Na celebração deste domingo iniciamos a semana santa com um
gesto que tem perpassado gerações de cristãos de todos os lugares do mundo: os ramos que trazemos nas mãos, benzido nesta celebração é o símbolo do compromisso que temos com Cristo, servo sofredor. Gostaria de ressaltar, para nossa reflexão e oração da semana santa, três aspectos da vida de Jesus, aspectos que são fundamentais para compreendermos a quem estamos seguindo e porque estamos. Jesus como Rei, Jesus como Deus, Jesus como libertador do ser humano. É interessante observar que os textos da liturgia da palavra escolhidos pela Igreja para hoje, apresentam Jesus como um rei humilde, capaz de dar a vida pelos seus protegidos. A figura do Messias Rei na bíblia, idealizado segundo as instruções do próprio Deus, em nada se parece com os reis que a história nos legou: déspotas, bonachões, ricos, autoritários, etc. O Conceito de rei de Israel está intimamente ligado ao conceito de Deus, porque ele é o pastor-rei de Israel, do povo escolhido. Então todo rei de Israel, segundo o conceito bíblico, precisará ter as mesmas atitudes de Deus para com seu povo: proteger, acolher, ser compassivo, misericordioso e se preciso for, morrer pelo seu povo. Será está imagem de Rei que Jesus assumirá: um rei humilde e cheio de misericórdia que morreu pelo seu povo. Um rei segundo a profecia de Isaías, conforme ouvimos na primeira leitura de hoje: “ofereci as costas para me baterem e as faces para me arrancarem a barba, não desviei o rosto de bofetões e cusparadas. Mas o Senhor Deus é meu auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo” (Is 50, 6-7). Mais do que apenas um líder do povo, Jesus também foi visto pelos cristãos de todos os tempos, a começar pelos seus seguidores, como o próprio Deus encarnado. A conclusão do Evangelho de Marcos quando põe na boa do centurião romano a frase: “verdadeiramente este homem era filho de Deus”(Mc 15, 39) resume o sentimento da comunidade cristã primitiva acerca de Jesus. De fato, Jesus assume inteiramente o papel de servo sofredor, ainda que seja o próprio Deus presente no nosso meio, como afirma o Evangelho e a tradição cristã expressa na carta de São Paulo aos filipenses que ouvimos a pouco. Disse São Paulo: “Jesus cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens. Encontrado com aspecto humano, humilhou-se a si mesmo fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz”(Fl 2, 6-8). O terceiro aspecto da vida de Jesus esta presente no próprio Texto do evangelho de Marcos que ouvimos hoje, mas perpassa obviamente todo o novo testamento: Jesus é o libertador de todas as pessoas de todos os tempos. Isso porque ele devolve ao ser humano a dignidade que a história, nas diversas culturas, insiste em usurpá-la. Cada pessoa, todos nós, somos a imagem e semelhança de Deus e a única arma para acabar com o ódio que gera a desigualdade e a miséria é o amor e o acolhimento. Foi isso que ele fez e por isso foi acusado pela elite econômica, política e religiosa do seu tempo. Que uma coisa fique bem clara para nós de uma vez por todas: quem matou Jesus, quem armou um plano para descarta-lo foram os incomodados com sua presença e sua atuação. E quem mais se incomodou com seus gestos senão a elite econômica, porque Jesus dizia que não podemos servir a dois senhores a Deus e ao dinheiro; a elite politica, porque Jesus afirmava que Deus somente ele é o rei e o colocava acima de qualquer autoridade sobre o povo; a elite religiosa porque Jesus colocava as normas, as tradições e a própria escritura (a Torá) abaixo da vida humana, inclusive dos mais miseráveis dentre eles. Tinham muitos motivos para mata-lo. Jesus incomodou a sociedade do seu tempo e nos delegou esta missão enquanto o mundo criado por Deus não for o reino de Deus querido por Ele. Não a toa, uma das frases de Jesus mais impactantes colhida pelos autores dos evangelhos é esta: “Não penseis que vim trazer paz à terra. Não vim trazer paz, mas a espada. Com efeito, vim contrapor o homem ao seu pai, a filha à sua mãe e a nora à sua sogra. Em suma: os inimigos do homem serão os seus próprios familiares. Aquele que ama pai ou mãe mais do que a mim não é digno de mim. Aquele que ama filho ou filha mais do que a mim não é digno de mim. Aquele que não toma a sua cruz e não me segue não é digno de mim. Aquele que acha a sua vida, vai perdê-la, mas quem perde a sua vida por causa de mim, vi achá-la” (Mt 10,34-39). O significado desta sentença é óbvio: ficar ao lado de Jesus pode ser perigoso, se este ficar ultrapassar as paredes do templo e tomar as ruas, as casas, a sociedade. Por isso os Ramos que trazemos nas mãos neste domingo deixam de ser apenas simples ramos das árvores que colhemos para a missa e passam a ter significado “sacramental” de nosso compromisso com o Evangelho de Cristo. para que servem os ramos? Servem para demonstrar a quem servimos: A Cristo, Ele é o nosso Rei! Somente a ele serviremos.