A liturgia de hoje tem como tema a Palavra de Deus. Jesus é a palavra
relevada do Pai. Ele é o verbo, a palavra que se fez um de nós pela encarnação. Já que a liturgia de hoje nos oferece este tema, vamos dividir nosso comentário em dois momentos. Num primeiro momento, vamos observar os gestos que acompanham a leitura desta palavra e num segundo momento, vamos buscar compreender a força desta palavra. Em primeiro lugar, o texto de Neemias, que ouvimos na primeira leitura, relata um ritual antes da leitura do livro da lei muito parecido com a nossa liturgia da palavra. São os mesmos gestos que utilizamos: o leitor dirige-se a um lugar mais alto (presbitério); lê as palavras de modo que o povo compreenda sua leitura (prepara-se) e o povo aclama a palavra com o Amém (eu creio). Após isso vem a explicação da leitura (homilia). É desta forma que fazemos: o presbítero ou diácono pega o evangelho que está em cima da mesa da Eucaristia e dirige-se, enquanto a assembleia canta a aclamação, até a mesa da palavra donde se proclama o evangelho. Ao final, a assembleia responde com o “graças a Deus”. Segue a explicação do texto. Estes gestos expressam o grande respeito que temos para com a Bíblia, palavra de Deus, enquanto realizamos nosso culto que é a Eucaristia. Também este gestual percebemos no relato do evangelista Lucas que ouvimos a pouco: Jesus dirige-se, como era seu costume, no dia de Sábado a sinagoga. Lá, lhe oferecem para ele ler um trecho do profeta Isaias, e após a leitura, todos na sinagoga tinham os olhos fixos nele. Isso porque aquele que lia a leitura do dia, devia também fazer um comentário do que leu. Como o leitor era Jesus, ele não perdeu tempo: seu pequeno comentário foi uma auto revelação: “hoje se cumpriu esta passagem da escritura que acabastes de ouvir”. O segundo momento é a força da palavra, que encontramos nas leituras de hoje. Vamos partir do Evangelho. Ao dizer que a escritura lida na sinagoga se cumpria, o povo se entusiasma. Isso porque a expectativa da vinda do Messias libertador de Israel era grande naquele momento histórico da palestina, então sob o domínio dos Romanos. Ao fazer o comentário que o ano da graça do Senhor estava acontecendo, as pessoas reunidas se admiraram. Mas quando Jesus deu a entender que ele era o messias esperado, então o agarraram, empurraram para fora e queriam mata-lo ali mesmo, pois segundo a tradição deles, Jesus cometeu uma heresia porque usurpava o titulo messiânico para si. Lucas mostra a reação contraditória da palavra: se vem ao interesse, então é boa, se contraria o interesse, a reação é de ódio. Será que podemos perceber esta mesma reação diante da Palavra de Deus ainda hoje nas igrejas e locais onde Jesus é anunciado? Será que Jesus é bem vindo somente quando vem ao encontro do meu interesse, fala o que quero ouvir, e não me cobra mudança de mentalidade? Que reação eu tenho quando a palavra de Deus me questiona? Expõe meus pecados e limitações? Estou disposto a rever minha opinião e minha posição? Na segunda leitura, Paulo Diz que a Igreja é o corpo de Cristo, e este corpo somos todos nós. A igreja não é somente o templo, não é somente a hierarquia, não é uma instituição metafisica. Diz Paulo: “Vós, todos juntos, sois o corpo de Cristo, e individualmente, sois membros desse corpo”. Logo, a igreja somos todos nós quando nos reunimos em nome de Cristo. Escutamos a palavra na Igreja e na igreja e pela igreja somos chamados a agir, a falar de Cristo, a evangelizar. Paulo nos interpela a vivermos nossa fé com um espirito de coletividade, porque todos “juntos somos o corpo de Cristo”. A igreja, que somos nós, que é santa e pecadora. Todos nós participamos da santidade e da pecaminosidade da Igreja quando vivemos os valores evangélicos em nossa vida, ou quando negligenciamos estes valores e ficamos presos ao ritualismo, que é um desvio do rito; a ouvintes surdos da palavra, quando a palavra de Deus não toca no cotidiano de nossa vida. É preciso que nos alimentemos constantemente da palavra de Deus, todos os dias, pela leitura da bíblia, pelo estudo da palavra de Deus e principalmente, pela prática dos ensinamentos que encontramos na bíblia, especialmente aqueles dois mandamentos que Jesus nos deixou: amar a Deus sobre tudo, e ao próximo como expressão do amor que tenho por Deus. Se conseguirmos viver os valores evangélicos concretamente em nossa vida, então hoje se cumpriu estas passagens bíblicas que todos nós acabamos de ouvir.