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3o DOMINGO DO TEMPO COMUM

(Ne. 8,2-4.5-6.8-10; Sl 18B (19); 1Cor 12,12-30; Lc 1,1-4;4,14-21)

A liturgia de hoje tem como tema a Palavra de Deus. Jesus é a palavra


relevada do Pai. Ele é o verbo, a palavra que se fez um de nós pela
encarnação. Já que a liturgia de hoje nos oferece este tema, vamos dividir
nosso comentário em dois momentos. Num primeiro momento, vamos
observar os gestos que acompanham a leitura desta palavra e num segundo
momento, vamos buscar compreender a força desta palavra.
Em primeiro lugar, o texto de Neemias, que ouvimos na primeira
leitura, relata um ritual antes da leitura do livro da lei muito parecido com a
nossa liturgia da palavra. São os mesmos gestos que utilizamos: o leitor
dirige-se a um lugar mais alto (presbitério); lê as palavras de modo que o
povo compreenda sua leitura (prepara-se) e o povo aclama a palavra com o
Amém (eu creio). Após isso vem a explicação da leitura (homilia). É desta
forma que fazemos: o presbítero ou diácono pega o evangelho que está em
cima da mesa da Eucaristia e dirige-se, enquanto a assembleia canta a
aclamação, até a mesa da palavra donde se proclama o evangelho. Ao final,
a assembleia responde com o “graças a Deus”. Segue a explicação do texto.
Estes gestos expressam o grande respeito que temos para com a Bíblia,
palavra de Deus, enquanto realizamos nosso culto que é a Eucaristia.
Também este gestual percebemos no relato do evangelista Lucas que
ouvimos a pouco: Jesus dirige-se, como era seu costume, no dia de Sábado
a sinagoga. Lá, lhe oferecem para ele ler um trecho do profeta Isaias, e após
a leitura, todos na sinagoga tinham os olhos fixos nele. Isso porque aquele
que lia a leitura do dia, devia também fazer um comentário do que leu. Como
o leitor era Jesus, ele não perdeu tempo: seu pequeno comentário foi uma
auto revelação: “hoje se cumpriu esta passagem da escritura que acabastes
de ouvir”.
O segundo momento é a força da palavra, que encontramos nas
leituras de hoje. Vamos partir do Evangelho. Ao dizer que a escritura lida na
sinagoga se cumpria, o povo se entusiasma. Isso porque a expectativa da
vinda do Messias libertador de Israel era grande naquele momento histórico
da palestina, então sob o domínio dos Romanos. Ao fazer o comentário que o
ano da graça do Senhor estava acontecendo, as pessoas reunidas se
admiraram. Mas quando Jesus deu a entender que ele era o messias
esperado, então o agarraram, empurraram para fora e queriam mata-lo ali
mesmo, pois segundo a tradição deles, Jesus cometeu uma heresia porque
usurpava o titulo messiânico para si. Lucas mostra a reação contraditória da
palavra: se vem ao interesse, então é boa, se contraria o interesse, a reação
é de ódio. Será que podemos perceber esta mesma reação diante da Palavra
de Deus ainda hoje nas igrejas e locais onde Jesus é anunciado? Será que
Jesus é bem vindo somente quando vem ao encontro do meu interesse, fala
o que quero ouvir, e não me cobra mudança de mentalidade? Que reação eu
tenho quando a palavra de Deus me questiona? Expõe meus pecados e
limitações? Estou disposto a rever minha opinião e minha posição?
Na segunda leitura, Paulo Diz que a Igreja é o corpo de Cristo, e este
corpo somos todos nós. A igreja não é somente o templo, não é somente a
hierarquia, não é uma instituição metafisica. Diz Paulo: “Vós, todos juntos,
sois o corpo de Cristo, e individualmente, sois membros desse corpo”. Logo,
a igreja somos todos nós quando nos reunimos em nome de Cristo.
Escutamos a palavra na Igreja e na igreja e pela igreja somos chamados a
agir, a falar de Cristo, a evangelizar. Paulo nos interpela a vivermos nossa fé
com um espirito de coletividade, porque todos “juntos somos o corpo de
Cristo”. A igreja, que somos nós, que é santa e pecadora. Todos nós
participamos da santidade e da pecaminosidade da Igreja quando vivemos os
valores evangélicos em nossa vida, ou quando negligenciamos estes valores
e ficamos presos ao ritualismo, que é um desvio do rito; a ouvintes surdos da
palavra, quando a palavra de Deus não toca no cotidiano de nossa vida.
É preciso que nos alimentemos constantemente da palavra de Deus,
todos os dias, pela leitura da bíblia, pelo estudo da palavra de Deus e
principalmente, pela prática dos ensinamentos que encontramos na bíblia,
especialmente aqueles dois mandamentos que Jesus nos deixou: amar a
Deus sobre tudo, e ao próximo como expressão do amor que tenho por Deus.
Se conseguirmos viver os valores evangélicos concretamente em nossa vida,
então hoje se cumpriu estas passagens bíblicas que todos nós acabamos de
ouvir.

Curitiba, 24 de Janeiro de 2016.


Fr. Edson Guedes, OFMcap.

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