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4o DOMINGO DO TEMPO COMUM

(Jr. 1,4-5.17-19; SL 70; 1Cor 12,31-13,13; Lc 4, 21-30)

Este ano, a Igreja nos apresenta nos domingos do tempo comum (ano
C) o Evangelho segundo Lucas para que possamos acompanhar a vida
pública de Jesus.
O evangelho de Lucas é o evangelho onde Jesus caminha, ele está
sempre se deslocando de um lado para outro para cumprir sua missão que
começamos a ouvir semana passada, no texto anterior a este (Lc 4, 14-21),
onde Jesus afirmava, após ter lido o profeta Isaías na sinagoga: “hoje
cumpriu-se esta passagem que acabastes de ouvir”.
De acordo com as cores dadas por Lucas no texto de hoje, parece que
Jesus não se deu muito bem entre os seus conhecidos. Jesus está entre
pessoas que possivelmente o viram crescer, que brincaram com ele quando
criança, quem sabe trabalharam juntos em alguma construção nas cidades
próximas a Nazaré. Talvez seja por isso que Ele não teve muito sucesso: “um
profeta não é bem recebido em sua terra”, ele vai concluir.
Lucas dizia que Jesus, "com a força do Espirito Santo”, voltou para sua
terra. Como é bom voltar para casa, rever a família, os amigos, o lugar onde
crescemos. Cada rua, cada árvore, cada pessoa traz à nossa lembrança
muitas memórias. Foi certamente o que Jesus sentiu quando voltou.
Inspirado pelo Espirito Santo, Jesus vai no lugar de oração, a sinagoga, foi
neste lugar de oração que ele enfrentou seu maior conflito.
Não vamos fazer aqui uma exegese profunda do texto, até porque o
tempo da homilia não nos permite. No entanto, algumas informações que
Lucas nos dá são importantes para compreendermos o contexto do texto que
ouvimos e, como deve ser uma pregação, atualizar sem adaptar a Palavra.
Jesus tem palavras atraentes, diz Lucas. Mas a reação do povo é
ambígua. Jesus começa dizendo que hoje se cumpriu a passagem (a que ele
leu). Isso era o que o povo queria ouvir. Como é bom ouvir o que a gente
gosta não é? Saber que o pregador está de acordo comigo, que concorda
com minha opinião. Ainda mais Jesus, que já tinha fama de profeta. De fato,
naquele período de ocupação romana, não havia notícia melhor: Deus
mandaria o seu messias para libertar o povo de Israel e punir os romanos.
Mas Jesus suprime conscientemente do texto do profeta uma cláusula
importante: “o dia da desforra (ira, vingança) do Senhor”.
A controvérsia em torno de Jesus se dá quando eles entendem que
Jesus se identifica com o Messias prometido pelo profeta Isaías. Logo o
acusam: “ele não é o filho de José?”. De acordo com uma tradição rabínica
do tempo de Jesus, o messias quando viesse ninguém saberia de onde ele
era. Jesus todo mundo conhecia. A incredulidade do povo provoca em Jesus
uma reação polêmica. Ele cita os profetas Elias e Elizeu como aqueles que
ensinaram os pagãos (1Rs 17,1-7; 2Rs 5,1-27) e o messias será igual: irá
acolher a todos, não só os judeus, mas todos aquelas pessoas de boa
vontade. Ao ouvirem as explicações de Jesus, o expulsaram da sinagoga e o
levaram para o precipício porque ele devia se jogar de lá por ter cometido
uma heresia, segundo eles, de se auto intitular Messias. Jesus assume ser o
messias ao não se jogar e passar no meio deles tomando seu caminho.
Toda esta cena dramática que Lucas constrói, demonstra muito bem
que por vezes o evangelho (boa noticia) nem sempre é uma boa noticia.
Depende para quem é a noticia. Aqui há algo terrível para nós que temos o
nome de cristãos e que precisamos estar alertas com o risco de sermos
verdadeiros usurpadores deste nome, indignos dele.
“O Espirito do Senhor está sobre Jesus, Ele o Ungiu”; “Ele o enviou
para levar a boa noticia aos pobres”, diz Lucas. Parece que o programa de
vida de Jesus é bastante claro. É isto que ele quis introduzir no seu tempo,
no seu ambiente e em todos os lugares por meio de seus discípulos.
Passados dois mil anos, nós somos os discípulos. Será que o Evangelho é
de fato uma boa notícia para os pobres? Para os oprimidos? Para os que
sofrem? Nós evidenciamos isso através de nossa vida, ou somos os donos
da moral, juízes impiedosos que condenam sem provas, sem avaliar as
situações com serenidade? Fazemos isso em casa com os mais próximos?
Não há escapatória diante do texto destes dois domingos segundo Lucas: ou
a comunidade (igreja, família, indivíduos) vivem os riscos do evangelho, ou
seja, estar ao lado daqueles que Jesus estava, ou não é Igreja de Jesus.
Paulo, na segunda leitura, em uma palavra nos revelou qual a nossa
missão de cristãos hoje: amar. Porque o amor é paciente, é bom, não é
invejoso, não é vaidoso, não é soberbo, não é inconveniente, não é
interesseiro, não guarda rancor, tudo perdoa, tudo suporta, tudo desculpa,
tudo espera. Claro que isso é o ideal, mas se não pautarmos nossa vida
Cristã pelos mais altos ideais, então ser cristão deixou de ser algo motivador.
Cristo chama a cada um de nós, como ouvimos na primeira leitura de hoje do
profeta Jeremias: Eu te consagrei, te fiz profeta. Não temas! Farão guerras
contra ti, mesmo assim, não temas porque Eu estou contigo para defender-te.
O senhor sempre está conosco, sempre nos inspira quando desanimamos
com a maldade do ser humano. Deus sempre nos anima e diz: vai até eles,
eu te envio. Coragem!
Curitiba, 31 de Janeiro de 2016.
Fr. Edson Guedes OFMcap.

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