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10o DOMINGO DO TEMPO COMUM

(1Rs 17,17-24; Sl 29; gl 1,11-19; Lc 7, 11-17)

Compaixão e solidariedade são os caminhos do Senhor!

Nem sempre nos damos conta dos sofrimentos alheios, mesmo que estes
“alheios” estejam bem próximos de nós. Sobrecarregados que estamos com tantas
ocupações, ou ao menos assim nos justificamos, deixamos de olhar ao redor e
perceber se alguém esta sofrendo. Ao se tornar insensível diante da dor do outro, me
afasto do ideal cristão de compaixão e solidariedade. Me afasto de Cristo que não
suporta ver alguém sofrendo. Se há algo na religião que precisa ser recuperado com
urgência, se chama compaixão pelo outro.
O que está em jogo nas leituras propostas pela igreja hoje para nossa oração
comunitária? O que podemos aprender com os gestos de Jesus e do Profeta Elias?
A atuação do profeta Elias se dá no Reino do Norte, durante o reinado de Acab e de
Ocozias, entre os anos de 874 e 852 a.C. Elias demonstra profundo zelo pela vontade
de Iahweh, de quem se põe totalmente a serviço, conforme ele mesmo declara no
início de sua missão: “Pela vida de Iahweh, a quem sirvo...” (1Rs 17,1). Faz jus,
assim, ao significado de seu nome: “Meu Deus é Iahweh”.
O zelo pelas obras de Deus faz o profeta, em meio a tanta desgraça, mostrar
um sinal de esperança para alguém que já tinha perdido tudo, e agora poderia perder
ainda mais, o seu próprio filho. O gesto de Elias de invocar ao Senhor em meio às
contrariedades mostra sua fé, sua confiança em Deus. Mas uma confiança consciente:
“Senhor, até a viúva, em cuja casa habito como hóspede, queres afligir, matando-lhe
seu filho?”(1Rs17, 20) e o texto continua dizendo: “O senhor ouviu a voz de Elias”!
(1Rs 17, 22). O sofrimento não provém de Deus, ele acontece em nossa vida
simplesmente pelo fato de estarmos vivos. No entanto, ao clamar o nome de Javé, a
força de superação do sofrimento se revigora. Ele nos dá a força necessária para
superar as contrariedades que por vezes somos vítimas. Ele nos faz passar por “vales
tenebrosos” sem temer, porque os que confiam no Senhor são como uma montanha de
pedra, firme permanecem. A confiança é o sinal prático, visível da fé, mas a caridade,
ou seja, a prática do amor fraterno, é uma fé vivenciada no chão duro da realidade.
A cena da primeira leitura se repete no Evangelho segundo Lucas. Uma viúva
leva seu único filho, falecido, para ser sepultado. Do que morreu o jovem? Quantos
anos ele tinha? Porque numa sociedade em que ter muitos filhos significa benção e
proteção de Deus, se encontra uma mulher triplamente desgraçada: viúva, com único
filho que morreu e agora desamparada? Não importa, Jesus está próximo e não fica
imóvel. Consola a mãe e depois lhe devolve seu filho. A compaixão de Deus mostra-
se nos momentos mais tenebrosos da vida, exatamente quando tudo parece acabado.
Mas quem tem fé sempre alcança. Lucas não informa palavra alguma da mãe, que está
viva, mas tantas misérias humanas a mataram. Lucas diz sim, que o morto, ao
“acordar”, começou a falar. O que ele falava? Lucas não diz, apenas lembra que Jesus
o entregou a sua mãe.
Há poucas experiências tão dolorosas na vida humana, do que perder um ente
querido. Por meses, anos, ou mesmo por toda vida o sofrimento ataca, dilacera. A
saudade do que foi vivido, a consciência do que devia ter dito e outras coisas que
poderia ter calado, abatem e entristecem. Recuperar-se nem sempre é fácil. Mas, pode
ser ocasião de recorrer a fé. Desabafar com Deus não é pecado. Deus não rejeita
nossas queixas, ele nos entende. Quantos crentes encontraram força e paz em orações
simples como “Não sei o que seria de mim sem Deus, se não fosse minha fé”, ou
“Deus me dá a força necessária”.
Creio que os dois textos de hoje, que falam de compaixão e solidariedade, nos
ensinam a recuperar estas virtudes que beiram a extinção, ou, o que é pior, à
normalidade. Saturados que estamos de notícias com violências em todas as horas de
refeição quando se liga a TV, ficamos insensíveis a dor do outro. Estupro, morte,
linchamento, pobreza, miséria, filhos drogados e prostituídas/os parece fazer parte do
cenário midiático, mas que parte da vida dos outros, obviamente. Enquanto não nos
toca, está tudo bem. Jesus nos ensina a pensar e viver de maneira nova. O outro não é
apenas um estranho, é também ele/a filho/a de Deus. Aliás, como Jesus nos ensinou, é
o próprio Deus sofrendo nos mais pequenos. Jesus não foge do sofrimento alheio, vai
ao encontro para ao menos dizer: “não chores”. Um abraço consolador, uma presença
ainda que silenciosa, um sorriso, um gesto de fraternidade.... quanto custa fazer da
vida do outro um caminho mais leve?
Há muitos que ainda choram. As causas são variadas. Importante é que a
Igreja, nós, não façamos vistas grossas ao sofrimento alheio. Por vezes é preciso agir,
ir ao encontro, fazer alguma coisa. Jesus tocou o morto! Era proibido pelas leis
judaicas. Ele a burlou porque mais importante que a lei, é a vida, a paz, a
solidariedade e compaixão. Será que temos a coragem de Jesus ou ainda nos
prendemos aos clichês sociais, religiosos, moralistas e tradicionalistas que matam por
vezes o que a vida tem de mais belo: a alegria?
Que sejamos todos nos, profetas da paz, do amor e da solidariedade. Que Jesus
libertador nos liberte, nos anime, nos levante, nos chame e que possamos acordar do
sono e falar. Falar dele e de todo seu amor pela humanidade.
Curitiba, 05 de junho de 2016.
Edson Guedes, OFMcap.

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