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https://www.bibliaonline.com.br/ara/mt/15
Com essa lista de sete tipos de pecados, Jesus resumiu a categoria de todas as
transgressões que se via sendo cometida por parte dos religiosos nos seus dias
(lembrando que o número 7, dentro da tradição bíblica, remete a totalidade de
algo). Pois era comum de se ver autoridades religiosas envolvidas em tais tipos
de escândalos. E, aqui, Jesus está mostrando para os seus discípulos que os
escribas e os fariseus estavam sendo hipócritas em usar a sua religiosidade para
coar mosquitos (condenar as pessoas pelas pequenas coisas que praticavam
que, segundo a tradição deles e não segundo a Palavra, eram consideradas
grandes transgressões), enquanto eles mesmos engoliam camelos (violavam os
mandamentos de Deus cometendo pecados terríveis, utilizando-se da tradição
para se justificarem na Palavra a fim de zelarem pela boa moral que tinham que
conservar diante das pessoas para continuarem sendo influentes na sociedade).
Então, ele conclui dizendo: são estas coisas que têm contaminado esses
religiosos hipócritas a ponto de eles serem considerados condenáveis diante do
Eterno; mas o comer sem lavar as mãos não contaminará vocês, meus
discípulos, de modo que venham a perder a sua salvação, por isso, não se
prendam as tolices da tradição religiosa, mas vivam de acordo com a Palavra de
Deus. E, dessa forma, Cristo ensinou o princípio de que as coisas ligadas ao
corpo (comer, beber, dormir, ter relações sexuais, ficar doente, sentir frio, fome,
medo, cansaço, ficar sujo etc) não contaminam o espírito, todavia, o pecado que
há no coração (adultério, homicídio, blasfêmia, furto, corrupção, preconceito etc),
que é o que de fato condena o homem, se manifesta através do corpo.
Bem sabemos que ainda assim, Pedro, na qualidade de um judeu que foi
educado no judaísmo em tempos de farisaísmo rígido e severo, continuou cético
em relação a este ensinamento de Jesus por um bom tempo. Pois mesmo
depois, quando já apóstolo do Senhor, ele associava muito a ideia da tradição
judaica de que “é sempre o impuro que impurifica o puro a ponto de manchar até
a alma”, apesar de ter visto com os próprios olhos que o Senhor Jesus Cristo,
sendo santo, mesmo tendo sido tocado pela mulher com fluxo de sangue,
mesmo tendo ficado diante de leprosos, ter comido na casa de pecadores onde
haviam publicanos e prostitutas e tendo evangelizado entre os gentios, em terra
profana, era ele quem purificava-os e não o contrário. Então, pensar que comer
sem lavar as mãos torna um alimento kosher em não kosher e, por conseguinte,
impurifica o homem, fazendo-o pecar contra o Senhor; ou que pelo simples fato
de comer uma carne imunda, como a de porco, irá manchar a sua alma a ponto
de te condenar ao inferno, era, para o Mestre, indícios de uma religiosidade cega
e radicalizada por tradições de homens. Mas o apóstolo insistiu nisso, tanto que
lá em Jope, quando, com fome, teve a visão celestial da toalha com os animais
impuros, ainda que o próprio Espírito Santo lhe dissesse para matar e comer, ele
se recusou dizendo que coisa impura jamais lhe havia tocado nos lábios. Ao que
o Espírito, tendo insistido por três vezes seguidas disse: não chame de impuro o
que o Senhor purificou. Então, tendo batido na porta, veio ao seu encontro um
homem para levá-lo a casa de um centurião romano chamado Cornélio. E, tendo
ido, apesar de todo o seu preconceito judaico, Pedro pregou o Evangelho aos
gentios de modo que o Espírito Santo desceu sobre eles, santificando-os da
mesma forma que fez em Jerusalém no dia de Pentecostes. O que deixou
novamente nítido que, com o Senhor, é o puro que purifica o impuro de maneira
que judeus e gentios, em Cristo, tornam um só povo, a Igreja, tendo comunhão
no mesmo Espírito, não havendo mais as barreiras de separação impostas pela
tradição rabínica, os quais, no fundo, não passavam de preconceitos religiosos
(Atos 10:1-48).
Por isso que, muitos anos depois, quando Pedro estava em Roma pregando o
Evangelho aos gentios, o qual é registrado por Marcos, ao narrar sobre esse
ensinamento de Jesus, ele acrescenta, com convicção, a sua interpretação
dizendo: “e, assim, considerou ele puros todos os alimentos” (Marcos 7:19).
Porque com tal ensinamento do Mestre estava claro que não é comida ou bebida
que nos torna santo ou pecador diante de Deus, tal como pensam os judeus em
sua tradição religiosa. Pois tudo o que entra pela boca não entra no coração,
mas segue pelo ventre e parte para lugar escuso. Por outro lado, o que sai da
boca, isso sim é o que condena o pecador, porque são as maldades do seu
coração. Portanto, deve-se discernir corretamente as coisas para não cairmos
nos erros exagerados dos fariseus a ponto de condenarmos até aquilo que é
bom e agradável, tal como matar a fome comendo um delicioso pão.
Agora, tal ensinamento, não quer dizer que Cristo estava violando,
desconsiderando ou anulando as leis dietéticas, aquelas que foram dadas por
razões sanitárias ou de saúde. Não! O que o Messias estava fazendo era corrigir
o erro da tradição dos rabinos que exagerava na interpretação e na prática de
tais mandamentos a ponto de considerá-los necessários a salvação da alma.
Ora, os mandamentos que falam sobre não comer cadáveres de animais
encontrados por aí, os quais já estão em estado de putrefação, não beber o
sangue do animal morto, enterrar as fezes depois de fazer as suas
necessidades, a mulher observar o resguardo e se purificar em água depois de
ter um bebê, manter o leproso em isolamento enquanto durar a sua doença, não
comer a carne de animais considerados imundos, não ingerir plantas venenosas,
não fazer marcas na pele de modo a deformar o corpo etc; pela própria
ordenança que trazem, vê-se que o fim deles não é espiritual, porém físico. Os
quais foram muito bem descritos e entregues a um povo primitivo que vivia como
nômade no deserto, numa época onde os conhecimentos sobre saúde eram
escassos e as condições de higiene precárias. De modo que tais mandamentos
trazem neles princípios que são fundamentais para a preservação da vida,
garantindo a nossa sanidade física. Portanto, devem ser observados somente
nesse sentido. Por exemplo, não devemos nos preocupar em prepararmos os
alimentos de modo Kosher (lavando, limpando, separando e cozinhando
corretamente) pensando em céu ou inferno, mas sim em cuidarmos do nosso
corpo dando a ele o que ele necessita, na medida em que necessita e do modo
como necessita, ou seja, tendo uma preocupação nutricional e não espiritual;.
sabendo que comer uma carne cru e cheia de sangue do cadáver de um animal
em estado de putrefação irá nos matar, levando-nos à sepultura, mas não ao
inferno. Logo, a questão que Cristo debateu aqui não diz respeito a liberação da
insalubridade, mas sim ao equívoco que se comete em viver a Palavra com base
na tradição de homens. Porque se comete muitos exageros insanos tanto na
interpretação quanto na prática de maneira a levar os homens até mesmo a
violarem o mandamento por tentarem cumpri-lo de uma forma aparentemente
mais radical e elevada.
Enfim, com esse debate, o Senhor Jesus Cristo ensinou aos seus discípulos o
principio da autoridade das Sagradas Escrituras sobre a tradição dos antigos.
Porque, indo contra aquilo que o povo entendia como vida religiosa, o Mestre
provou o perigo que era viver uma religiosidade cega, a qual se baseia em
doutrinas de homens, aquelas que os mestres da religião transmitem ao povo
sob o pretexto de estarem guiando as pessoas à prática da Palavra de Deus.
Porquanto, por vezes, algum ensino trazido pela tradição pode vir a anular o
mandamento do Senhor indo contra aquilo que o preceito bíblico ensina. Por isso
que, para o Messias, importava seguir a Lei pelos Profetas do que tentar cumprir
os mandamentos baseado na tradição dos rabinos. Ora, seguir a Palavra através
da própria Palavra é o caminho correto a ser seguido, porque nos limitaremos
àquilo que o próprio Senhor revelou a nós através dos seus servos, os profetas
e, por último, pelo próprio Messias. Ao passo que tentar cumprir a Palavra
através da tradição de homens significa trilhar um caminho errado, o qual não
nos levará a Luz, antes, nos guiará a densas trevas, fazendo-nos entrar cada
vez mais na escuridão do pecado. Não é à toa que todas as heresias advêm de
doutrinas de homens que de início entraram como uma inovação e, depois, se
consolidaram como uma tradição, levando muitos a transgredirem os
mandamentos. Portanto, Cristo ensina aos seus discípulos o cuidado que se
deve ter com as tradições desenvolvidas através dos séculos e que acabam
moldando a religião de Deus, advertindo-os a buscarem sempre o retorno às
Escrituras para não pecarem contra o Senhor.
Alefe Luís