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[5B) PLANTANDO IGREJAS MISSIONAIS

Leitura complementar
Seguem indicações de leitura complementar sobre a missiologia emergente na
América do Norte. Você encontrará uma bibliografia mais extensa em www.
newchurches.com no item "Tools & resources" [ferramentas e recursos].

Bosrn, David]. Transforming mission (Maryknoll: Orbis, 1998).


___. Missão transformadora: mudanças de paradigma na teologia da mis­
são. Tradução de Geraldo Korndõrfer e Luís M. Sander (São Leopoldo:
Sinodal, 2009). Tradução de: Transforming mission.
HuNSBERGER, George R.; VAN GELDER, Craig, orgs. The church between Gospel
& culture (Grand Rapids: Eerdmans, 1996).
McNEAL, Reggie. The present future (San Francisco: Jossey-Bass, 2003).
NEWBIGIN, Lesslie. The gospel in a pluralist society (Grand Rapids: Eerdmans,
1990).
RoBERTS, Bob. Transformation: how global churches transform lives and the
world (Grand Rapids: Zondervan, 2006).
VAN GELDER, Craig, org. Confident witness - changing world (Grand Rapids:
Eerdmans, 1999).
A base bíblica da
plantação de igrejas

Antes de qualquer coisa, partimos da Bíblia para compreender os padrões


claros da plantação de igrejas do Novo Testamento e para nos basear neles.
Erraríamos se enviássemos nossos plantadores munidos das ferramentas or­
ganizacionais, estratégicas e de marketing, mas sem as verdades fundamentais
da Palavra de Deus e sem os princípios das Escrituras como base para a obra.
O livro de Atos é o livro mais importante já escrito sobre o tema. O restante
do Novo Testamento foi escrito para as novas igrejas em seus respectivos con­
textos, com todas as suas imperfeições. Na verdade, o Novo Testamento é uma
antologia de plantação de igrejas!
Plantar igrejas. Como as igrejas do Novo Testamento realizavam isso, e
como podemos redescobrir sua paixão? Amberson observa:

Hoje, precisamos retomar o aspecto da espontaneidade que havia no Novo


Testamento e que, desse modo, produzia igrejas à medida que os crentes tes­
temunhavam do Senhor Jesus Cristo. A plantação de igrejas requer, efetiva­
mente, uma intenção específica e deliberada de começar novas igrejas, porém
1601 PLANTANDO IGREJAS MISSIONAIS

o Novo Testamento aponta para o fato de que novas igrejas e a plantação de


igrejas são consequências diretas e inevitáveis do envolvimento do crente no
testemunho e na proclamação. 1

as quatro camissianamentas de Jesus


Para recuperar nossa paixão, vejamos de que maneira a igreja primitiva
respondia às ordens de Jesus. Começaremos com a mais conhecida delas,
a Grande Comissão, que para muitos lança o fundamento específico para a
plantação de igrejas ao listar uma série de tarefas vitais de responsabilidade do
corpo de Cristo: fazer discípulos, batizar e ensiná-los a obedecer.
"E, aproximando-se Jesus, falou-lhes: Toda autoridade me foi concedida
no céu e na terra. Portanto, ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os
em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; ensinando-lhes a obedecer a
todas as coisas que vos ordenei; e eu estou convosco todos os dias, até o final
dos tempos" (Mt 28.18-20).
As primeiras igrejas obedeceram à Grande Comissão plantando novas
igrejas em cumprimento às suas atribuições de discipular, batizar e ensinar
que deflagrariam o processo de multiplicação da plantação de um número
cada vez maior de igrejas. Observe-se que o processo se inicia e termina com
obediência. A ordem de Jesus instruía seus ouvintes a evangelizar e a reunir os
novos crentes em igrejas locais em que pudessem ser discipulados, batizados e
ensinados. Nesse contexto, ocorreria o processo de crescimento. Depois disso,
o ciclo se repetiria à medida que os crentes se dessem conta de que obedecer
à Grande Comissão significava que eles deveriam sair e discipular, batizar
e ensinar.
A Grande Comissão é uma das quatro ordens de envio de Jesus. Neste
capítulo, analisaremos cada uma delas em maior profundidade.2

1
Talmadge R. Amberson, "The foundations for church planting", in: Talmadge R. Amberson,
org., The birth of churches (Nashville: Broadman, 1979), p. 45.
2
Para uma tabela que ajuda a compreender os componentes de cada ordem, veja Elmer
Towns, Getting a church started: a student manual for theological foundation and practical
techniques of planting a church (Lynchburg: Church Growth Institute, 1985), p. 8. Este livro
pode, agora, ser acessado gratuitamente em http://digitalcommons.liberty.edu/cgi/viewcontent.
cgi?article=l019&context=towns_books. Towns incluiu Marcos 16.15 em sua lista. Contudo,
os melhores e mais antigos textos gregos de Marcos não trazem esse versículo, numa indicação
de que seria uma adição posterior ao texto. Portanto, incluí apenas quatro.
A BASE BÍBLICA DA PLANTAÇÃO DE IGREJAS

1. "Eu vos envio.....

Cada ordem apresenta detalhes relativos às tarefas centrais de fazer discípulos,


batizar e ensinar no contexto da igreja. EmJoão 20.21,Jesus explicou: "Assim
corno o Pai rne enviou, tarnbérn eu vos envio". Urna vez que o Pai enviouJesus
para "buscar e salvar o que se havia perdido" (Lc 19.10), somos enviados da
rnesrna maneira que Jesus - pelo Pai - para buscar e salvar os perdidos.
Corno seguidores de Cristo, não pode haver orientação rnais clara. Cabe-nos
retornar a obra terrena de Jesus e levá-la adiante. É urna rnensagern pessoal e
se aplica a todos nós.
Até fins do século 18, a maior parte dos cristãos protestantes acreditava que
os cornissionarnentos deJesus se aplicavam apenas aos discípulos que haviam
ouvido de fato suas palavras. Os líderes da igreja diziam: "Aquilo foi para os
apóstolos. Não nos diz respeito". Eles não entenderam as implicações de tal
visão. Obviamente, as Escrituras se dirigem a pessoas específicas ern lugares
específicos; Jesus estava na companhia de seus contemporâneos quando
proferiu essas palavras. Contudo, se considerarmos que o estudo da Bíblia
faz parte da nossa caminhada cristã, entenderemos as Escrituras corno urn
documento vivo e importante para o povo de Deus ern todas as eras. Portanto,
as palavras de Jesus se aplicam às pessoas a quern ele se dirigiu bern corno a
nós e a todos os crentes. A exemplo daquelas pessoas há dois rnil anos, somos
chamados e enviados por Deus para ir aonde quer que seja, para o propósito
determinado por Deus.

2 ... ... fazei discípulos de todas as nações .....

Duas semanas após a comissão de João 20, Jesus proferiu a Grande Comissão,
que foi a segunda de suas ordens centradas no envio (Mt 28.18-20). A Grande
Comissão ern Mateus é a expressão de envio rnais conhecida deJesus, e explica
claramente que a tarefa de evangelização do mundo foi dada a seus discípulos
- daquela época e de hoje.
Corn a expressão "todas as nações"Jesus quis, sern dúvida, que o evangelho
alcançasse os perdidos entre aqueles a quern os rnissiólogos charnarn hoje de
grupos étnicos3 e segmentos populacionais. Para entender isso, os plantadores

3
A expressão "people groups", aqui traduzida por "grupo étnico", pode também se referir
a diferentes grupos culturais (N. do E.)
1621 PLANTANDO IGREJAS MISSIONAIS

de igrejas devem pensar menos nas fronteiras políticas e mais nas populações
que vivem nessas regiões. No Canadá, por exemplo, há o que se chama
ali de povos das Primeiras Nações (nos Estados Unidos, usamos o termo
nativos da América ou, às vezes, índios), grandes contingentes populacionais
descendentes dos colonizadores franceses e ingleses, bem como uma nova
população asiática, em grande parte de primeira geração, que vem crescendo
no Ocidente. Essa é uma lista supersimplificada, é claro, mas vamos usá-la
para mostrar como até mesmo uma lista relativamente curta pode ser dividida
e analisada de várias maneiras, de modo que nos permita ver não apenas
grupos étnicos, mas também os segmentos populacionais.
Entre os povos das Primeiras Nações, há os que vivem em terras do gover­
no (os americanos nativos que vivem ao sul da fronteira com o Canadá cha­
mam esse território de Rez, ou Reserva) e os que foram integrados às cidades
pequenas e grandes, e que possivelmente mal podem ser distinguidos de outros
contingentes populacionais das regiões vizinhas. Entre os descendentes dos co­
lonizadores franceses há os que falam somente francês e os que são bilíngues.
Entre os asiáticos que se fixaram em áreas como Vancouver estão os que vieram
de diferentes países- Coreia e Índia-; são os imigrantes de primeira geração
e também as gerações subsequentes, que possivelmente nunca moraram na
Ásia. E para tornar as coisas ainda mais interessantes, vamos analisar as pessoas
de ascendência inglesa e refletir sobre elas de acordo com seu modo de vida e
seus interesses- gente que está apenas começando a constituir família, gente
que se aposentou, pessoas que trabalham na lavoura, os que moram em áreas
metropolitanas, gente que ama música, os que gostam de pedalar e ainda os
que adotaram uma postura mais aberta em relação às questões sociais. Nesse
exercício simples, deparamos com muitas "nações", as quais Jesus nos comis­
sionou a alcançar; sim, ele nos ordenou a alcançar "todas" elas.
Como faremos isso? Por meio de um processo chamado de contextua­
lização. Sabemos que diferentes grupos étnicos e segmentos populacionais
possuem valores distintos. O evangelho foi de tal modo planejado por Deus
para que sua mensagem imutável pudesse ser posta em "recipientes culturais"
mutáveis e assim alcançasse as pessoas onde elas estão, levando-as aonde elas
precisam ir. Todos os métodos e todas as maneiras de cultuar devem estar cen­
trados em Deus e alicerçados na Bíblia. A contextualização é uma habilidade
que os missionários norte-americanos, como todos os missionários interna­
cionais, precisam aprender e usar.
A BASE BÍBLICA DA PLANTAÇÃO DE IGREJAS 163 l

Vamos agora examinar mais de perto as instruções deJ esus: fazer discípulos,
batizar e ensinar. Obedecer à Grande Comissão é plantar igrejas porque jesus
nos chamou para diversas atividades. Obedecer à Grande Comissão é plantar
igrejas porque, em primeiro lugar, ela nos chama a discipular. O discipulado
é tarefa da igreja do Novo Testamento. O discipulado não está funcionando
quando o cristão precisa buscar oportunidades de crescimento espiritual
fora da igreja. Quando um cristão afirma: "Não consigo ser discipulado na
igreja; preciso buscá-lo em casa, na internet, num congresso, nos grupos de
Guardadores de Promessas [Promise Keepers], Mulheres de Fé [Women of
faith] etc.", é provável que ele faça parte de uma igreja doente ( ou então o
crente tem uma visão doentia do discipulado e da igreja). Deus espera que
a igreja se encarregue do discipulado, que não se resume a um curso ou a
uma série de estudos. O discipulado está centrado no evento da salvação. O
discipulado se inicia na conversão e depois prossegue: é um processo contínuo.
"Fazer discípulos" significa que a igreja deve conduzir pessoas a Cristo e levá­
las a crescer na fé. Trata-se de um processo que deve ocorrer na igreja local.
Em segundo lugar, obedecer à Grande Comissão é plantar igrejas porque
convoca a igreja a batizar. O batismo é uma ordenança da igreja local. Ele
ocorre na igreja local ou entre seus membros. Digo "entre" porque o batismo
não precisa ocorrer no prédio da igreja. Muitos plantadores fazem batismos
em banheiras, lagos ou piscinas. O batismo ocorre onde quer que consigamos
reunir a igreja e onde houver água suficiente para praticar a ordenança. A ideia
de baptízo no grego é um "batizar continuado", imergindo cada novo crente.
O batismo é uma ordenança confiada à igreja local que implica responsabili­
dades locais. A Grande Comissão é dada à igreja local.
Em terceiro lugar, obedecer à Grande Comissão é plantar igrejas porque
ela instrui a igreja local a ensinar. Observamos o cumprimento dessa ordem
de ensinar em Atos 2.42: "E eles perseveravam no ensino dos apóstolos...",
que era a base do seu crescimento e de sua comunhão. A Grande Comissão se
cumpre nas igrejas quando plantamos novas igrejas e quando ensinamos os
preceitos bíblicos.
Alguns observam que a Grande Comissão não usa a expressão plantação
de igrejas. Portanto, dizem, ela será cumprida somente por meio das igrejas
existentes (sobretudo em áreas com grande densidade de igrejas). Contudo,
a igreja primitiva era cheia do Espírito Santo, de acordo com o livro de Atos
(2.4; 4.8,31; 9.17; 13.9). Esses discípulos cheios do Espírito plantaram igrejas.
[64) PLANTANDO IGREJAS MISSIONAIS

É óbvio por suas ações que os primeiros ouvintes da Grande Comissão


supunham que o seu cumprimento exigia a multiplicação dos discípulos e a
formação de novas congregações. Os primeiros crentes ouviram a Comissão,
deixaram seus lares e saíram a plantar. Quando ouvimos a Grande Comissão,
deveríamos também nos sentir motivados a sair e plantar novas igrejas. A
melhor indicação do que Jesus quis dizer se vê pelo modo que esses primeiros
ouvintes reagiram. Deveríamos seguir seu exemplo.

3. "... pregando o arrependimento e o perdão"


Pouco antes de sua ascensão, Jesus lembrou mais uma vez aos discípulos a
tarefa que lhes cabia. A terceira ordem descreve o conteúdo e a localização
de sua proclamação: " ... arrependimento para perdão dos pecados a todas
as nações ..." (Lc 24.47). Os perdidos só podem ser salvos pela pregação
do arrependimento e do perdão, que é a mensagem de todo mensageiro
genuíno do evangelho. Contudo, essa ordem continha a instrução de Jesus
de que os discípulos deviam esperar até que recebessem o poder do Espírito
Santo em Jerusalém. A ordem dada por Jesus de pregar o arrependimento
e o perdão de pecados repousava sobre sua ressurreição. Esse é o conteúdo
da comissão.
A plantação de igrejas e seu crescimento se tornam acertadamente objetos
de crítica quando o conteúdo da mensagem não é Cristo, e Cristo crucificado,
quando a pregação é mais opinião pessoal do que proclamação da Palavra de
Deus. No entanto, muitos criticam qualquer inovação, por isso peço cautela
às pessoas que "ouviram" dizer ou que "pensam" que determinada igreja não
está pregando o evangelho - façam uma visita a ela e verifiquem se a infor­
mação procede. Pode ser que seja boato, e não heresia. Pode ser, inclusive, que
seja um mal-entendido baseado no estilo.
Já plantei igrejas contemporâneas, amigáveis e acolhedoras [seeker­
-sensitive], igrejas emergentes que alcançam os não frequentadores de igreja
com as boas-novas. Tivemos êxito usando métodos criativos. Depois, vieram
as críticas. Contudo, estávamos determinados a não permitir que uma crítica
específica se aplicasse a nós: a de que pregávamos qualquer coisa a não ser Cristo.
A mensagem dos plantadores de igrejas nunca deveria ser outra coisa a
não ser a Palavra de Deus. Jesus expressou esse axioma quando ordenou que
pregassem o arrependimento e o perdão com base na ressurreição. Não importa
A BASE BÍBLICA DA PLANTAÇÃO DE IGREJAS 165]

até que ponto estamos dispostos a ser amigáveis e acolhedores para com os de
fora, nada justifica a remoção do que é designado por alguns como a pedra de
tropeço da cruz. A igreja mais bíblica é aquela em que a cruz é a única pedra de
tropeço para os que não frequentam igreja. Isso porque os perdidos não deve­
riam deparar com nenhuma cultura de igreja que seja para eles pedra de trope­
ço que os mantenha afastados de Cristo. Os perdidos não precisam de motivos
adicionais para ficar distantes da igreja. Os de fora da igreja precisam ouvir
as boas-novas de Jesus Cristo, e isso inclui a cruz como pedra de tropeço. Os
plantadores não devem apresentar mensagem alguma que não seja Cristo, e de­
vem fazê-lo de uma forma que seja culturalmente adequada aos seus ouvintes.

4...... Jerusalém [...] até os confins da terra"


A passagem final de Jesus centrada no envio apresenta a informação geográ­
fica. "Mas recebereis poder quando o Espírito Santo descer sobre vós; e sereis
minhas testemunhas, tanto emJerusalém como em toda a Judeia e Samaria, e
até os confins da terra" (At 1.18).
Atualmente, pensamos nessas localizações geográficas como círculos con­
cêntricos irradiando-se de "nossa Jerusalém" ou comunidade. A Judeia pode
ser entendida como nosso estado ou província, e a Samaria como nosso conti­
nente (ou, mais precisamente, uma cultura diferente vivendo em nossaJudeia
ou perto dela). Isso será útil se quisermos ensinar nossas igrejas que a obra
missionária não está toda no exterior, mas bem aqui em casa também. Para
muitos, trata-se de um conceito radical. No entanto, o conceito é verdadeiro,
é bíblico e está baseado em Atos 1.8.
Outra lição dessa passagem é que o poder aparece aqui -Jesus o prome­
tera no relato de envio em Lucas. Quando o Espírito Santo está presente, os
discípulos - naquele tempo e hoje - percebem que são capazes de espalhar,
confiantes, o evangelho em ãmbito local, regional e global.
Os primeiros crentes foram enviados (assim como nós) com o mesmo
propósito para o qualjesus foi enviado: fazer discípulos entre todos os grupos
étnicos e buscar e salvar os perdidos - tanto os que estão próximos quanto os
que se acham em qualquer parte do mundo. Os cristãos do Novo Testamento
cumpriram essas ordens como o faria qualquer crente espiritualmente sadio e
obediente: eles plantaram mais igrejas neotestamentárias. A Grande Comissão
nos instrui a evangelizar e a reunir as pessoas em igrejas. Além disso, Jesus
1661 PLANTANDO IGREJAS Ml551DNAl5

providenciou inclusive o conteúdo da mensagem, conforme Paulo a descre­


veu: somente Cristo e Cristo crucificado (lCo 1.23).
O Deus que envia enviou seu Filho. Nós nos unimos a ele em sua missão de
buscar e salvar os perdidos. Tornamo-nos então o povo enviado de Deus para
proclamar no poder do Espírito Santo a mensagem do arrependimento e do
perdão, tanto localmente quanto no mundo todo e a todos os grupos étnicos.

Ds padrões da Nava Testamento


Embora haja diferenças na maneira que as igrejas foram plantadas no Novo
Testamento, esta seção apresentará os padrões de plantação de igrejas usados
ao longo do Novo Testamento. As convicções e os esforços de plantação de
igrejas se iniciam no coração de Deus. Lucas 19.10 afirma que Jesus "veio
buscar e salvar o que se havia perdido". Ao dar prioridade às pessoas desigre­
jadas, alinhamos nossa vida a Jesus, que foi nosso modelo e afirmou: "Os sãos
não precisam de médico, mas sim os doentes; eu não vim chamar justos, mas
pecadores" (Me 2.17).
Muitas igrejas da América do Norte "chamaram os justos" com um ensino
melhor e uma programação mais elaborada. Anúncios do tipo "atividades para
toda a família", "ensino bíblico de qualidade" e "corais de alto nível" parecem
feitos para atrair os membros de outras igrejas. Jesus, porém, disse que tinha
vindo para chamar os marginalizados, e não os justos. Assim como Jesus, o
plantador deve sair em busca dos de fora da igreja. Na verdade, por meio da
trilogia de parábolas de Lucas (cap. 15) sobre a ovelha perdida, a moeda per­
dida e o filho perdido,Jesus sublinhou a importância de se buscar os perdidos
para que as boas-novas sejam compartilhadas com eles.
Os cobradores de impostos e os "pecadores" se reuniam em volta de Jesus
para ouvi-lo. Contudo, os fariseus e os mestres da lei murmuravam: "Este re­
cebe pecadores e come com eles" (Lc 15.2).

Então contou-lhes esta parábola: Qual de vós, possuindo cem ovelhas e


perdendo uma delas, não deixa as noventa e nove no campo e não vai atrás
da que se perdeu, até encontrá-la? E quando a encontra, coloca-a sobre os
ombros, cheio de alegria; e, chegando em casa, reúne os amigos e vizinhos e
lhes diz: Alegrai-vos comigo, pois encontrei a minha ovelha perdida. Digo­
vos que no céu haverá mais alegria por um pecador que se arrepende do que
por noventa e nove justos que não precisam de arrependimento.
A BASE BÍBLICA DA PLANTAÇÃO DE IGREJAS [ 671

Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas e perdendo uma delas, não acen­
de a candeia e não varre a casa, procurando com cuidado até encontrá-la? E
quando a encontra, reúne as amigas e vizinhas, dizendo: Alegrai-vos comigo,
porque achei a dracma que eu havia perdido. Eu vos digo que assim há alegria
na presença dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende (Lc 15.1-10).

A resposta dos anjos mostra a importãncia da conversão. Jesus promete


em Lucas 15.7: "Eu lhes digo que, da mesma forma, haverá mais alegria no
céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que
não precisam arrepender-se" (NVI). Depois da parábola da moeda, ele prosse­
gue: "Eu lhes digo que, da mesma forma, há alegria na presença dos anjos de
Deus por um pecador que se arrepende" (Lc 15.10, NVI). Embora as palavras
de Jesus no final da parábola do filho pródigo sejam atribuídas ao pai na his­
tória, o pai, evidentemente, é um símbolo de Deus. Na história, o pai implora
ao "filho justo" para "comemorar e alegrar-[se], porque este seu irmão estava
morto e voltou à vida, estava perdido e foi achado" (15.32, NVI).
O Evangelho de Lucas certamente enfatiza a alegria celestial na conversão
dos perdidos. Lucas prossegue com o tema em Atos 15.3, ao se referir à alegria
da igreja primitiva com a conversão dos perdidos, quando Paulo relatou seu
êxito entre os gentios.

a plantador da Nava Testamento


Por meio do ministério do apóstolo Paulo, o Novo Testamento apresenta um
excelente exemplo da forma que podemos ministrar aos não frequentadores
da igreja. Paulo convidou os destinatários de suas cartas: "Sede meus imi­
tadores, como também eu sou de Cristo" (lCo 11.1). O que Paulo fez que
era digno de ser imitado? O que ele queria que seus leitores, nós inclusive,
imitássemos? Identificar os valores e ações de Paulo pode contribuir para o
ministério de todo plantador de igreja atual.

Paulo. o plantador
1. Paulo estava de fato preparado para seu ministério de plantação
de igrejas.
• Seu preparo formal de alto nível deu-lhe uma ampla compreensão
da história divina.
168] PLANTANDO IGREJAS Ml551DNAl5

• Ele estava conectado de maneira vital com Deus (2Co 12.7-9).


• Seu preparo se deu pelo envolvimento no ministério desde o início
(At 9.20-22).
• Ele era ensinável. Seu aprendizado foi com Barnabé. Paulo se dis­
pôs a estar sob a autoridade de alguém antes que Deus o pusesse
por autoridade sobre outros (At 11.25,26).
• Ele viveu uma vida exemplar (1Ts 2).

2. Paulo era evangelista.

• Ele começou a pregar o evangelho logo depois de sua conversão


(At 9.19-22).
• Ele era um pescador que utilizava a rede em dois sentidos: levou
famílias inteiras a Cristo (At 16.25-33) e dirigiu reuniões evange­
lísticas voltadas a grandes grupos (At 13.44; 14.1; 19.9,10).
• Buscava as pessoas mais receptivas (At 18.6).

3. Paulo era um líder empreendedor.

• Ele tinha uma visão e um chamado de Deus (At 9.15; Rm 15.20-23).


• A visão de Paulo era ser apóstolo aos gentios - ele liderava equipes
missionárias que adentravam novos territórios para plantar igrejas.
Ele combinava um evangelismo de ação rápida com a plantação
de igrejas. O casamento desses dois métodos poderosos deflagrou
movimentos cujo impacto se estendeu a gerações.
• Ele escolhia os obreiros e aprendizes que queria para sua equi­
pe. Não tinha medo de pedir a outros que se sacrificassem pela
causa de Cristo (At 16.2,3). Às vezes, vetava a entrada de pes­
soas em sua equipe (At 15.38). Ele também indicava líderes
que deveriam permanecer por um longo período nas igrejas que
iniciava (At 14.23). Ele chegou até mesmo a orientar seus cole­
gas de equipe em relação aos lugares onde deveriam ministrar
(At 18.19; 19.22).
• Recebia orientação de Deus sobre o lugar em que sua equipe deve­
ria plantar igrejas, e seus companheiros tinham confiança em suas
decisões (At 16.6-10).
A BASE BÍBLICA DA PLANTAÇÃO DE IGREJAS 1 Ei!:I 1

• Ele era um estrategista proativo (At 13.14,44-49). Sua plantação de


igrejas seguia um padrão que podia ser reproduzido (At 14.1; 17.2).
• Ele planejava propositalmente com antecedência (At 19.21).

4. Paulo trabalhava em equipe.

• Ele estava disposto a trabalhar em equipe (At 13.1-5).


• Ele sempre plantava igrejas na companhia de uma equipe
(At 15.40; 16.6; 20.4).
• Ele se reportava a uma igreja que era a base de onde partiam os
enviados (At 14.26-28).

5. Paulo era um pioneiro flexível que corria riscos (lCo 9.19-21).

• Ele penetrava constantemente em novos territórios (Rm 15.20).


• Ele tinha como alvo alcançar um grupo novo (Rm 11.1).
• Paulo introduziu novos métodos de ministério (At 13).

6. Paulo se importava com as pessoas (função de pastorear).

• Ele investia pessoalmente na vida das pessoas (At 20.31).


• Ele era como uma mãe que amamenta e um pai que encoraja
(1Ts 2.7-11).
• Ele se preocupava muito com o crescimento e o desenvolvimento
dos convertidos (At 14.22).
• Estava próximo de seus colaboradores (2Tm 1.2).

7. Paulo delegava poderes (função de equipar).

• Para liderar o movimento que crescia rapidamente, ele correu os


riscos de delegar responsabilidades aos novos cristãos (At 16.1-3).
• Sua equipe plantou igrejas em sua primeira viagem missionária e,
poucos meses depois, voltou a essas novas igrejas e nomeou pres­
bíteros (At 13.13,21; 14.21-23).
• Ele sabia quais eram seus pontos fortes e fracos e delegava tarefas
a outros de acordo com os pontos fortes deles (Tt 1.5).
1701 PLANTANDO IGREJAS MISSIONAIS

8. Paulo nunca se afastou do compromisso que assumira: cumprir o cha­


mado e a visão de Deus mesmo que isso lhe custasse sacrifício pessoal
extremo (At 14.19,20; 2Co 11.23-28).

• Ele nunca recuou; jamais desistiu.


• Cultivava uma atitude de gratidão diante do tratamento cruel e
injusto (At 16.25).

9. Paulo estava disposto a abrir mão das igrejas que havia plantado para
continuar plantando outras (At 16.40).

• Parece que Paulo precisou de encorajamento especial para perma­


necer muito tempo numa cidade (At 18.9-11).
• O período mais longo que ele permaneceu num lugar foi de três
anos (At 20.31).
• Éfeso foi possivelmente sua plantação mais vigorosa e nosso me­
lhor modelo (At 19.10).
• Ele confiava na capacidade que Deus tinha de conservar fortes as
igrejas que plantara (At 20.32).
• Ele estava disposto a abrir mão dos melhores cooperadores de sua
equipe se isso fosse mais útil para o reino de Deus (At 17.14).
• Ele seguiu o exemplo de Barnabé, que estava disposto a entregar o pos­
to mais importante na equipe de plantadores de igrejas (At 13.6-12).
• Ele deu forma ao modelo de igreja em Antioquia: essa igreja estava
disposta a abrir mão de seus principais líderes (At 13.1-4).4

Vale a pena repassar alguns pontos. Um componente do exemplo deixado


por Paulo que merece ser imitado diz respeito à sua personalidade empreen­
dedora. O empreendedor inicia novos projetos do zero. Essa característica de
Paulo é fundamental para compreendermos seu ministério de plantação de
igrejas. Os plantadores eficazes sempre demonstram habilidades desse tipo
de liderança. Paulo estava sempre pensando em novas maneiras de evan­
gelizar e em novas áreas para alcançar. Analisaremos mais detidamente sua
liderança empreendedora adiante neste livro.

4
Esboço criado por John Worcester, disponível em: http://www.churchplanting.net
A BASE BÍBLICA DA PLANTAÇÃO DE IGREJAS [71]

Um segundo traço que merece ser imitado é o desejo que Paulo tinha de
trabalhar sempre em equipe. Muitos plantadores hoje em dia têm dificuldade
em manter o equilíbrio entre o empreendedorismo e o espírito de equipe.
Essas duas características não combinam muito bem a não ser que o Espírito
Santo possa guiar o plantador empreendedor fazendo dele alguém que saiba
trabalhar em equipe. A plantação de igrejas, embora de natureza profunda­
mente empreendedora, não é um esforço individual. Deve ser desenvolvida
em parceria.
Por fim, Paulo instruiu outros a seguir o modelo por ele apresentado. Para
que o sigamos, temos de compreender sua estratégia e sua paixão. Paulo sem­
pre perguntava: "Qual é a melhor maneira de alcançar os descrentes?". Para
alcançá-los, ele estava disposto a pagar qualquer preço e a mudar qualquer
método, contanto que não comprometesse o evangelho. Essa disposição não
dispensava o risco do empreendedorismo e da prestação de contas da parceria.
São características dignas de serem imitadas.

A plantação de igrejas no Novo Testamento


A plantação de igrejas aparece não apenas na vida de Paulo, mas também em
todo o Novo Testamento, sobretudo no livro de Atos. De fato, quando lido
com o olhar da plantação de igrejas, Atos se torna um documento notável.
Observe-se o esboço abaixo através da lente de um plantador de igrejas.5

A plantação de igrejas no livro de Atos


I. A plantação de igrejas emJerusalém (At 1-7)
A. Origem
1. Nascida em meio à oração (l .12-14)
2. Banhada no Espírito (2.1-4)
3. Nascida pela proclamação (2.14-39)
4. Batizada em nome deJesus (2.41)
B. Suas funções
1. Ensino doutrinário (2.42)
2. Comunhão (2.42)

5J ohn Mark Terry, documento não publicado.


[721 □
PLANTANDO IGREJAS MISSl NAIS

3. Adoração (2.42,46)
4. Oração (2.42; 4.29-31)
5. Beneficência (2.44,45; 4.34,35)
6. Identificação com a comunidade (2.47)
7. Testemunho (4.33; 5.42)
C. Seu crescimento
1. Três mil batizados no Pentecostes (2.41)
2. Pessoas salvas diariamente (2.47)
3. Duas mil pessoas salvas no Pórtico de Salomão (4.4)
4. Uma multidão foi acrescentada (5.14)
5. Sacerdotes creem (6.7).
D. Sua organização
1. Apóstolos (6.2)
2. Diáconos (6.3)
3. Congregação (6.5)
4. Presbíteros (15.6,22)
II. A plantação de igrejas na Judeia e Samaria (At 8-12)
A. Plantação de igrejas feita por leigos (8.1,4)
B. Evangelização em massa (8.5,6,12)
C. Evangelização em pequenas localidades (8.25)
D. Multiplicação de igrejas (9.31)
E. Crescimento realçado por milagres (9.35-42)
F Salvação estendida aos gentios (10.44-48)
III. A plantação de igrejas no mundo (At 13-28)
A. Os leigos dispersos iniciam igrejas entre os judeus (11.19)
B. Cristãos de Jerusalém plantam uma igreja gentio-judaica em
Antioquia (11.20,21)
C. Antioquia se torna uma igreja missionária fantástica
1. Sensível ao Espírito Santo (13.2)
2. Submissa ao Espírito (13.3)
3. Uma igreja enviadora (13.3)
D. A primeira viagem missionária de Paulo (13-14)
1. Prega primeiro nas sinagogas (13.5; 14.1)
2. Passa a pregar para os gentios (13.46)
3. Vai de uma cidade para outra (13.13,14)
4. Nomeia presbíteros para liderar as igrejas (14.23)
A BASE BÍBLICA DA PLANTAÇÃO DE IGREJAS (731

5. Volta para ver como estão as novas igrejas (14.21)


E. A segunda viagem missionária de Paulo (15.40-18.22)
1. Emprega um ministério de equipe (15.40)
2. Volta para visitar as novas igrejas (15.41)
3. É guiado pelo Espírito Santo (16.9,10)
4. Evangeliza famílias (16.15,33)
5. Ensina em praça pública (17.17)
6. Contextualiza a mensagem (17.22,23)
7. Prioriza pessoas receptivas ao evangelho (18.6)
F A terceira viagem missionária de Paulo
1. Visita novamente as igrejas (18.23)
2. Funda igrejas-mãe em áreas urbanas (19.10; 1Ts 1.8)
3. Dá início às igrejas nos lares (20.20)
4. Encoraja a administração dos recursos nas novas igrejas
(lCo 16.1-3)

A plantação de igrejas iniciou-se em Jerusalém. Os capítulos de 1 a 7 de


Atos descrevem a fundação, o crescimento e os primeiros desafios da igreja de
Jerusalém. A igreja nasceu em meio à oração (1.12-14), foi imersa no Espírito
(2.1-4) e banhada no miraculoso (2.5-13). Deus realizou uma ministração
poderosa em Jerusalém, centro da primeira igreja. Não demorou muito para
que os "salvos" da igreja pregassem a Palavra aos perdidos.
Um estudo de Atos mostra que os leigos tiveram grande impacto sobre a
plantação de igrejas no seu início (8.1,4). Eles faziam evangelização em massa
(8.5,6,12), e evangelizavam também pequenas localidades (8.25). Por meio
desse movimento leigo as igrejas se multiplicaram (9.31). Os milagres realça­
ram o crescimento da igreja (9.35-42) e a salvação chegou a contingentes cada
vez maiores de gentios (10.44-48). Mais tarde, cristãos leigos de Jerusalém
testemunharam acerca de Cristo e plantaram uma igreja gentio-judaica em
Antioquia (At 11.20,21).
A fundação da igreja de Antioquia talvez seja o momento mais importante
da história da plantação de igrejas. Antioquia enviou missionários para todo
o mundo. Sob a liderança do Espírito Santo, a igreja de Antioquia se tornou
a primeira igreja a enviar missionários (At 13.3). Por sua vez, a igreja de
Jerusalém foi se voltando cada vez mais para dentro de si mesma e perdeu
boa parte da visão que tinha, desaparecendo por fim como os judaizantes nos
17111 PLANTANDO IGREJAS Ml551DNAIS

primórdios do movimento cristão. Já a igreja de Antioquia alcançou o mundo,


tornando-se a primeira igreja plantadora de igrejas!
Poucos plantadores de igrejas foram abençoados com o apoio de uma
igreja como a de Antioquia, uma igreja que espontaneamente patrocinava
novas igrejas. Poucas igrejas se dispõem voluntariamente, como Antioquia,
a enviar seus melhores líderes e a contribuir com grandes somas de dinheiro
para o estabelecimento de novas igrejas. A igreja de Antioquia fez exatamente
tudo isso.
A igreja Redeemer Presbyterian Church, de Nova York, é uma igreja atual
como Antioquia. A Redeemer sabe que "nenhuma igreja sozinha, por maior
e mais ativa que seja, pode mudar sozinha uma cidade inteira. [Portanto],
saturar a grande Nova York com novas igrejas centradas no evangelho é a
única maneira de assegurar de fato a transformação da nossa cidade que tanto
desejamos" .6 Como consequência do seu compromisso, a Redeemer ajuda a
plantar igrejas em Nova York e ao redor do mundo. Para que o êxito da plan­
tação de igrejas seja duradouro, os plantadores precisam de mais igrejas como
a de Antioquia para lhes dar apoio.
Atos mostra que a igreja de Antioquia enviou Paulo em sua primeira via­
gem missionária (13-14). Ele começou pregando as boas-novas de Jesus
Cristo em sinagogas judaicas (13.5; 14.1) a pessoas receptivas e que reagiram
positivamente. Havia sinagogas em praticamente todas as grandes comunida­
des do Império Romano. Comunidades menores dispunham de locais para
oração onde ainda não havia uma sinagoga estabelecida. Paulo se aproximava
dessas pessoas, as quais ele esperava que fossem receptivas e reagissem positi­
vamente, compartilhando com elas as boas-novas de Jesus Cristo.
Por fim, os judeus tornaram-se mais avessos a esse tipo de aborda­
gem. Paulo decidiu então se voltar de modo mais resoluto para os gentios
(At 13.44-47). Ele começou com os tementes a Deus. Tratava-se de gentios
que haviam manifestado fome de uma espiritualidade verdadeira e de uma reli­
gião autêntica, e que cultuavam com os judeus em suas sinagogas comunitárias.
Embora esses gentios que buscavam algo mais não pudessem se tornar membros
plenos de uma sinagoga sem antes passar pelo rito de iniciação, a circuncisão,
eles queriam adorar o Deus único e verdadeiro dos judeus. A decisão de Paulo
de se voltar mais especificamente para os gentios mais receptivos começou

6
Disponível em: http://www.redeemer.com
A BASE BÍBLICA DA PLANTAÇÃO DE IGREJAS I 751

com os tementes a Deus. Para os gentios, o evangelho (sem a circuncisão) era


realmente boas-novas.7
Durante a segunda viagem missionária de Paulo (15.40-18.22), o
apóstolo começou a se concentrar na contextualização. De um modo muito
parecido com os norte-americanos atualmente, os atenienses eram um povo
em busca da verdade (espiritual). No Areópago de Atenas, Paulo deu um
passo revolucionário: partiu de onde as pessoas estavam: "... em tudo vejo que
sois excepcionalmente religiosos" (At 17.22). Iniciando com o que buscavam,
Paulo deu a elas um testemunho racional acerca da verdade de Cristo.
Nas últimas décadas, surgiu no Ocidente um novo movimento: o pós-mo­
dernismo. Uma de suas características é a "espiritualidade", embora seja
expressa de formas estranhas à maior parte dos cristãos evangélicos. As
gerações pós-modernas estão dando as costas ao cristianismo institucional,
de um modo que não era visto por várias gerações.8 Os plantadores de igrejas
que mergulharem na nova cultura sem que estejam presos aos padrões
tradicionais serão os melhores agentes de mudança.9 Igrejas novas têm mais
facilidade para contextualizar, como o fez Paulo. Isso as capacita a alcançar
essa nova expressão cultural e compreender que falta à "espiritualidade" do
pós-modernismo a verdade do Espírito Santo.
Em sua terceira viagem missionária (18.23-21.17), o apóstolo voltou
às igrejas que havia fundado anteriormente (18.23). Ele também estabeleceu
igrejas-mãe estratégicas nas grandes cidades (At 19.10; lTs 1.8). Essas igrejas
mais tarde se tornariam igrejas que enviariam missionários por conta própria.
Epafrodito, emissário dos filipenses, é o exemplo perfeito de uma situação em
que a igreja de uma grande cidade envia um dos seus para servir e provavelmente
para se tornar um evangelista; neste caso, juntamente com Paulo (veja Fp 2.25-
30; 4.18). Paulo até mesmo chegou a incentivar a mordomia nessas novas igrejas

7Este sentido é exatamente a razão para a alegria do eunuco (At 8.39). Ele que amava a
nação judaica e a lei judaica não poderia, por causa de sua emasculação, se tornar parte da
comunidade, tendo-lhe sido negado o batismo pelos judeus. Veja Frank Stagg, The book of
Acts (Nashville: Broadman, 1954), p. 106-9 [edição em português: Atos: a luta dos cristãos
por uma igreja livre e sem fronteiras, 3. ed., tradução de Waldemar W. Wey (Rio de Janeiro:
JUERP, 1994)].
8
Eddie Gibbs, ChurchNext: quantum changes in how we do ministry (Downers Grave:
InterVarsity, 2000), p. 11 [edição em português: Para onde vai a igreja: mudanças na maneira de
conduzir ministérios, tradução de Josiane Zanon Moreschi ( Curitiba: Esperança, 2012)].
9
Ibid., p. 33.
1761 PLANTANDO IGREJAS MISSIONAIS

(lCo 16.1-3; 2Co 8.1-6; 9.1-5), de modo que se tornassem autossustentáveis e


autorreproduzíveis, aprendendo a servir os outros. Paulo não queria que essas
igrejas se tornassem dependentes de ajuda externa.

C1mclusãa
Os relatos e os detalhes que vimos em Atos mostram que Paulo e outros entre
os primeiros cristãos acreditavam na plantação de igrejas e a praticavam como
parte integrante de suas vidas - e, especificamente, em resposta às ordens
de Jesus. Plantar novas igrejas não era um conceito novo e extraordinário
para os crentes zelosos. Pelo contrário, fundar igrejas era expressão normal da
missiologia neotestamentária. A plantação intencional de igrejas, sob a direção
do Espírito Santo, era o método das primeiras igrejas. Essa plantação explica
como a igreja primitiva cresceu de modo explosivo pelo Império Romano du­
rante as décadas que se seguiram à ressurreição de Jesus.
A vida de Paulo e a ação da igreja primitiva mostram que a plantação de
igrejas era uma atividade fundamental. Qualquer igreja que queira redescobrir
a natureza dinâmica da igreja primitiva deveria considerar a possibilidade de
plantar novas igrejas. Além disso, os meios que Paulo e a igreja primitiva usa­
ram nos fornecem princípios a serem aplicados em nossa metodologia atual.
Embora muitas de suas estratégias fossem específicas de seu contexto, vere­
mos que é possível aplicar seus princípios universais.

leitura complementar
ALLEN, Roland. Missionary methods: St. Paul's or ours? (Grand Rapids:
Eerdmans, 1962).
BROCK, Charles. Indigenous church planting (Neosho: Church Growth
International, 1981).
SttENK, David W; STUTZMAN, Ervin R. Creating communities of the hingdom:
New Testament models of church planting (Scottsdale: Herald, 1988).
___. Criando comunidades do reino: modelos neotestamentários de
implantação de igrejas. Tradução de Rubens Castilho (Campinas: Cristã
Unida, 1995). Tradução de: Creating communities of the kingdom:
New Testament models of church planting.
Modelos de plantação e de
plantadores de igreja

Há muitos métodos bíblicos eficazes para a plantação de igrejas, e Deus não


abençoa um modelo mais do que outro. Os padrões ou modelos mais comuns
apresentados neste capítulo baseiam-se em pesquisa, observação e conversas
com plantadores de igrejas. Ao descrever cada modelo, será apresentado um
exemplo bíblico (quando disponível) seguido por um exemplo atual, junta­
mente com uma discussão sobre seus pontos fortes e fracos.

Modela 1: a plantador de igreja da modela "colheita apostólica"


Paradigma Inicia igrejas, forma líderes vindos da colheita,
segue para uma nova igreja.
Modelo bíblico Paulo.
Exemplo l1istórico/atual Cavaleiros itinerantes metodistas; movimento da
igreja nas casas; redes de igrejas nas casas.
Princípios
• O plantador inicia uma igreja e segue para outro local.
• O pastor vem da igreja e depois volta para ela.
[78J PLANTANDO IGREJAS MISSIONAIS

• O pastor pode, ou não, ter preparo teológico tradicional.


• As novas igrejas disponibilizam um núcleo de crentes para plantar
novas congregações.

O plantador de igreja do modelo colheita apostólica é o modelo mais


conhecido do Novo Testamento. Paulo se dirigia a um centro urbano
consolidado, ensinava e pregava na praça pública e/ou sinagoga, dialogava
com os intelectuais e a elite, iniciava o culto, apontava presbíteros-pastores
e depois supervisionava o novo presbítero/pastor por meio de cartas e
visitas esporádicas. Na ilustração abaixo, o plantador de igreja do modelo
colheita apostólica vai para uma região, planta uma igreja, seleciona e treina
um novo plantador (as setas saem da nova igreja e voltam a ela) e, em
seguida, parte para plantar outra igreja (possivelmente com um núcleo de
crentes da igreja plantada anteriormente).
O modelo apostólico é o que vem à mente da maioria das pessoas leigas
quando se fala em plantadores de igreja. O plantador é visto como um obreiro
itinerante que inicia igrejas de cidade em cidade. Esse modelo foi amplamente
utilizado ao longo da história - da estratégia de Gregório, o Grande, no sexto
século, aos cavaleiros metodistas itinerantes do centro-oeste dos EUA no
século 18.
Paulo deu início a um número indeterminado de igrejas, sobretudo na
Galácia, na Ásia, na Acaia e na Macedônia. Muitos pensam que esse é o
único modelo de plantação de igrejas. Não é; mas sem dúvida é um modelo
importante.

Colheita apostólica

t Plantador
e novo
núcleo de
crentes
tN t lt
Plantador
e novo
núcleo de
crentes

.....___ f=
-./
- f
-----./ :::,
MODELOS DE PLANTAÇÃO E DE PLANTADORES DE IGREJA 17!11

Exemplos bíblicos
Um exemplo desse paradigma encontra-se em Atos 13-14. 1 Paulo e
seus companheiros haviam chegado a Antioquia da Pisídia (13.14), onde
pregaram, e "todos os que haviam sido destinados para a vida eterna creram"
(13.48). O mesmo padrão se repetiu em Icônio (14.1). Depois de pregar o
evangelho em Listra (14.7) e Derbe (14.21), "voltaram para Listra, Icônio e
Antioquia, renovando o ânimo dos discípulos, exortando-os a perseverar na
fé [ ... ]. E, nomeando-lhes presbíteros em cada igreja e orando com jejuns,
consagraram-nos ao Senhor em quem haviam crido" (14.21-23). John B.
Polhill observa:

Os dois apóstolos [Paulo e Barnabé] voltaram pelo caminho por onde tinham
vindo, visitando novamente as igrejas recém-fundadas ao longo do seu itine­
rário - primeiramente Listra, depois lcônio e, por fim, Antioquia da Pisídia.
Em cada igreja, eles realizavam três ministraçôes essenciais. Em primeiro lu­
gar, fortaleciam os discípulos (v. 22). Isso se refere, provavelmente, à ins­
trução adicional dada aos cristãos em sua nova fé. Em segundo lugar, eles
os encorajavam a "perseverar na fé" e ressaltavam as "muitas tribulaçôes"
(v. 22b) com que poderiam deparar por se comprometerem com o nome de
Jesus (v. 22b) [...]. O ministério final dos apóstolos consistiu em estabelecer
a liderança nas novas igrejas. Não havia clero profissional nessas novas igre­
jas que assumisse sua liderança. Consequentemente, o padrão das sinagogas
judaicas parece ter sido seguido com a nomeação de um grupo de presbíteros
leigos para pastorear o rebanho.2

Exemplo histórico
Este paradigma pode ser visto no rápido crescimento das denominaçôes me­
todista e batista nos Estados Unidos do século 19. De acordo com Justo L.

1Muitos exemplos bíblicos e históricos aqui e no restante deste capítulo foram pesquisados
e escritos para mim, em parte, pelo meu ex-monitor,]. D. Payne. Hoje ele é professor de plan­
tação de igrejas. Payne escreveu também uma excelente tese de doutorado, em que analisa a
prática atual da plantação de igrejas na América do Norte. Para entrar em contato com Payne,
envie um e-mail para jpayne@sbts.edu.
2
John B. Polhill, Acts, in: New American Commentary (Nashville: Broadman, 1992), vol.
26, p. 319.
[80) PLANTANDO IGREJAS MISSIONAIS

Gonzalez, o uso de pastores itinerantes sem treinamento formal foi um fator


fundamental para o crescimento dessas igrejas:

Enquanto às outras denominações faltava pessoal devido à carência de insti­


tuições de ensino nas partes mais remotas do território americano, os meto­
distas e batistas estavam dispostos a usar aqueles que se sentissem chamados
pelo Senhor. A vanguarda metodista era constituída de pregadores leigos,
muitos dos quais atendiam a todo um "circuito"; sempre sob a supervisão
da "Conexão" e de seus bispos. Os batistas usavam agricultores ou os que
ganhavam a vida com o seu comércio, e que serviam também como pastores
da igreja local. Quando uma nova região era aberta para ser colonizada, quase
sempre havia entre os colonizadores um batista devoto disposto a assumir o
ministério da pregação. Portanto, tanto metodistas quanto batistas prevalece­
ram nos novos territórios e, em meados do século, eram as maiores denomi­
nações protestantes do país. 3

De acordo comjohn Mark Terry:

Os cavaleiros itinerantes incentivavam e designavam pregadores leigos para


que se incumbissem dos ministérios locais enquanto se ocupavam do seu cir­
cuito. Esses pregadores leigos tinham um papel importante na difusão do me­
todismo em territórios remotos. Normalmente, um jovem que apresentasse
evidências de fé e capacidade de comunicação era encorajado a pregar alguns
sermões como teste. Se seus esforços agradassem às pessoas, o cavaleiro iti­
nerante dava então ao jovem uma "licença de exortador". Alguns exortadores
se tornaram cavaleiros itinerantes, porém muitos permaneceram exortadores
a vida toda. 4

Nas últimas décadas de 1800, as igrejas metodistas multiplicavam-se a


uma velocidade tal que iniciavam em média uma igreja nova por dia, com
planos de aumentar para duas. Quando um palestrante num encontro da
Sociedade dos Livres-Pensadores, em Chicago, afirmou que as igrejas estavam

Justo L. Gonzalez, The story of Christianity: the Reformation to the present day (New York:
3

HarperCollins, 1985), vol. 2, p. 246 [edição em português: História ilustrada do cristianismo,


tradução de Key Yuasa (São Paulo: Vida Nova, 2011), 2 vols.].
".John Mark Terry; Evangelism: a concise history (Nashville: Broadman &: Holman, 1994),
p. 128-9.
MODELOS DE PLANTAÇÃO E DE PLANTADORES DE IGREJA 181]

morrendo por todo o país, suas palavras resultaram na composição de um


hino que serviu como grito de guerra convocando igrejas a plantar igrejas:

Os infiéis reuniram-se em um bando heterogêneo e disseram:


As igrejas estão morrendo em todo o país e, em breve, todas estarão
mortas.
Foi então que a mensagem chegou e os deixou atônitos.
Aclamem todos o poder do nome de Jesus, estamos edificando duas
[igrejas] por dia.
Estamos edificando duas por dia, querido Bob, estamos edificando
duas por dia
Aclamem todos o poder do nome de Jesus, estamos edificando duas
por dia. 5

Também durante o século 19, um missionário local da Igreja Episco­


pal Metodista Africana informou à conferência geral de 1844 "que durante
quatro anos ele havia coberto mais de 480 quilômetros em sua pregação
itinerante estabelecendo 47 igrejas, totalizando dois mil membros. Havia
outros sete pregadores itinerantes trabalhando com ele, e 27 pregadores
locais haviam organizado cinquenta escolas dominicais com duzentos profes­
sores e dois mil alunos". 6 Nesse trabalho conjunto dos pregadores itinerantes,
eles haviam nomeado pregadores locais que pastoreavam as igrejas que
haviam fundado.

Exemplos contemporâneos
Bob Gomes, do Texas, é um exemplo de plantador de igreja do modelo colhei­
ta apostólica. Ele plantou sua primeira igreja na cidade de Corpus Christi, em
2002, e uma segunda no ano seguinte, em Kingsville. Desde então, Deus deu
a Bob a visão de plantar igrejas por todo o sudeste dos Estados Unidos. Entre
junho e novembro de 2005, ele plantou igrejas em 5 comunidades do Texas -

5
Robert E. Logan; Steven L. Ogne, Churches planting churches: a comprehensive guide for mul­
tiplying new congregations (Carol Stream: ChurchSmart Resources, 1995), fita VHS, "Churches
planting churches".
6
V Simpson Turner Sr., "A history of African-American evangelistic activity", in: Lee N.
June, org., Evangelism and discipleship in African-American churches ( Grand Rapids: Zondervan,
1999), p. 21.
I B21 PLANTANDO IGREJAS MISSIONAIS

mais uma em Corpus Christi e Kingsville e ainda em Alice, Sinton e Portland.


Gomez explicou sua estratégia:

Sabíamos que precisávamos formar equipes de líderes leigos. A ideia veio do


fato de eu ter crescido numa igreja pequena com alta rotatividade de pastores.
Toda vez que um pastor se retirava, surgia um líder leigo para preencher a la­
cuna até que viesse um novo pregador. Os pregadores vinham e se retiravam,
mas sempre os líderes se levantavam para pastorear as pessoas, e elas sempre
os seguiam. Contudo, se pedisse àqueles homens para que pregassem, a maior
parte deles não aceitaria. Portanto, se pudéssemos desenvolver líderes leigos
que assumissem o pastoreio e o cuidado [das ovelhas], eu me encarregaria de
liderar e prover o alimento delas [por meio de vídeos].
Esses mesmos líderes tinham também de ser autóctones. Quem cresce
numa comunidade tem, com frequência, laços fortes. Se o líder for jovem, ele
precisa encontrar um homem de paz [Lc 10.6, NVI] local o mais rápido pos­
sível. Para que essa visão pudesse se tornar realidade, percebemos que tínha­
mos de nos reunir nas casas. Um de nossos princípios é conservar as coisas
simples, funcionais e fáceis de reproduzir. Nosso objetivo imediato é saturar
a região da Coastal Bend [área litorânea do Texas] de igrejas que se multipli­
quem. Além disso, já estamos orando para plantar uma igreja em Laredo ou
San Antonio. No longo prazo, queremos estabelecer igrejas nas grandes cida­
des de população hispânica por todo o Texas e, principalmente, no sudeste
dos Estados Unidos.7

O movimento de igreja nas casas é outro exemplo atual do modelo colhei­


ta apostólica. 8 John Dee passou algum tempo na China e descreveu uma típica
igreja nas casas subterrânea.

Achei que você talvez estivesse interessado em saber um pouco sobre o sis­
tema de igreja nas casas na China. Vou descrever aqui uma igreja típica, cujo
número de membros é de cerca de cem mil pessoas num raio de 480 km.
O líder tem trinta anos, é casado e tem um filho pequeno. Já estive nessa
igreja e constatei que há jovens extraordinários nela. Quando um jovem
aceita o Senhor Jesus como Salvador, seu objetivo imediato é tornar-se um
colaborador e ser enviado a outro lugar a serviço do Senhor. Eles não ganham

Bob Gomez, e-mail ao autor, 10 nov. 2005.


7

8
Veja http://homechurch.org para um catálogo de igrejas nos lares.
MODELOS DE PLANTAÇÃO E DE PLANTADORES DE IGREJA 1831

um escritório com computador, telefone e aparelho de fax. Não há planos


de aposentadoria ou cargo superior, como de bispo, a ser almejado. Sem
dúvida, todos sabem que, mais cedo ou mais tarde, serão presos, torturados e
encarcerados pela causa do Senhor.
Portanto, a liderança se empenha em ensinar e preparar jovens para que
se tornem evangelistas ungidos e talentosos de tempo integral para Cristo.
Visto que o reavivamento continua se espalhando pela região, essa igreja está
enviando trinta obreiros de tempo integral para as áreas rurais. As reuniões
começam às cinco horas da manhã e, muitas vezes, prosseguem até o anoite­
cer. Eles se reúnem quando ainda está escuro e vão embora quando anoiteceu
cantando e louvando ao Senhor no Espírito. 9

Charles Brock, fundador da Church Growth International [ Crescimento


de Igreja Internacional], atuou como pastor-plantador nos Estados Unidos e
no exterior. De acordo com ele, em sua experiência, um processo normal de
plantação de igrejas do modelo colheita apostólica (quando o trabalho se dá
em meio a um público receptivo) leva em torno de 82 semanas. Durante esse
tempo, o grupo é conduzido a Cristo, reúne-se como igreja, recebe treinamento
para a formação de líderes, depois estuda Gálatas,João e Romanos. 10
Depois que a liderança apropriada foi estabelecida, o plantador segue
adiante e inicia outra igreja. Brock tem os seguintes objetivos: l) a salvação
de pessoas, 2) a concepção de igrejas de acordo com os princípios do Novo
Testamento e 3) o nascimento de uma associação de igrejas autóctones que se
pautem pelos princípios do Novo Testamento.11

Isso funcionaria hoje?


Até recentemente, esse modelo era, sobretudo, uma ideia teórica com exceção
de algumas comunidades étnicas. Contudo, nos últimos dois ou três anos,
ressurgiu o interesse e formaram-se líderes cujo objetivo é a plantação de igre­
jas pequenas o suficiente para serem chamadas de comunidades "baseadas
no relacionamento" .

9
John Dee, "China Report 1999: a visit with the underground church now 85 million
strong". Veja http://www.hccentral.com/magazine/china2.html.
10Charles Brock, Indigenous church p!anting: a practica! journey (Neosho: Church Growth

International, 1994), p. 262.


11Brock, Indigenous church p!anting, p. 86.
[Bll] PLANTANDO IGREJAS Ml551DNAl5

A plantação de igrejas nos campi universitários são um exemplo disso.


Elas costumam ser chamadas de "comunidades autênticas de fé" em campi
universitários, como na Universidade do Texas (UT ), em Austin. Com o obje­
tivo de iniciar uma comunidade de fé autêntica em cada um dos mais de qui­
nhentos grupos de estudantes da UT, um grupo chamado Campus Renewal
Ministries [Ministério Universitário de Renovação] reuniu as organizações
religiosas que atuam nos campi para formar líderes e plantar sessenta novas
comunidades de fé. Outro grupo, o Campus Church Network (CCN) [Rede
Universitária de Igrejas], treina estudantes para iniciar igrejas universitárias
que alcancem os que estão à sua volta nos Estados Unidos e em outras partes
do mundo. Um plantador de igrejas universitários que trabalha com a CCN e
com a Youth With A Mission (YWAM) lJOCUM], em Colorado Springs, tem
visto Deus deflagrar grupos espontâneos de oração pelos campi cujo objetivo
é orar pelo arrependimento e pelo reavivamento.
Embora haja menos plantadores de igrejas do modelo colheita apostólica
atualmente do que plantadores de igreja tradicionais "vocacionados", há um
movimento em andamento de plantadores de igrejas "bivocacionados" ou
que trabalham em tempo integral no mercado secular intencionalmente (essa
é uma mudança de paradigma; de trabalhar no mercado secular em troca de
salário, para financiar o que consideram ser sua verdadeira ocupação: pasto­
rear uma igreja).
Scott Scrivner está plantando uma igreja em Oklahoma City ao mesmo
tempo que trabalha como artista gráfico. Todd Hamilton está plantando a
igreja Pathway em Omaha, Nebraska, ao mesmo tempo que trabalha com
consultoria de informática. Matt Derfelt está iniciando uma nova igreja em
Joplin, Missouri, ao mesmo tempo que trabalha como enfermeiro. Para esses
plantadores de igrejas, seu trabalho secular é sua conexão com o mundo,
sua oportunidade de ser sal e luz, além de uma maneira de servir de modelo
para o princípio segundo o qual todos são plantadores de igreja em potencial.
O modelo da colheita apostólica ainda pode ser encontrado atualmente na
América do Norte, embora num grau muito menor por vários motivos:
Paulo era solteiro. Paulo podia se deslocar rapidamente sem pensar em
questões de família (o que levanta uma pergunta interessante: como as pessoas
que viajavam com ele lidavam com a situação?).
As sinagogas estão menos abertas aos evangelistas itinerantes. Paulo tinha
um público cativo - tanto na sinagoga quanto em praça pública. A cultura
MODELOS OE PLANTAÇÃO E □E PLANTADORES OE IGREJA [851

helenística encorajava o discurso e o debate aberto ao público e a participação


neles. Isso já não acontece hoje. Política e religião, antes elementos obriga­
tórios do debate, hoje constam da lista de assuntos proibidos para a maioria
das pessoas. Portanto, o plantador do modelo colheita apostólica terá de se
empenhar para atrair o seu público, porque não terá um público cativo como
Paulo teve.
Paulo tinha autoridade apostólica. Paulo chegava a uma cidade, plantava
uma igreja, designava pastores e esperava que os leigos os seguissem. (É
claro que, na realidade, apesar da autoridade do apóstolo conferida por Deus,
os crentes nem sempre obedeciam como deveriam!) A maior parte dos
"apóstolos" em denominações que não são autoritárias não têm o mesmo
nível de autoridade, portanto o processo não é tão eficaz.
Paulo fundou a igreja com sinais miraculosos. A maior parte dos leitores
concorda que os sinais e maravilhas cessaram ou diminuíram. Os leitores
cessacionistas creem que os dons desapareceram. Os leitores com uma
perspectiva aberta aos dons de sinais, ou que os praticam, provavelmente não
viram ainda dons no mesmo nível dos apóstolos: pessoas sendo ressuscitadas,
curas frequentes etc. Com poucas exceções, é difícil iniciar uma igreja nova
baseada em sinais miraculosos.
Embora o plantador de igrejas apostólico não opere do mesmo modo que
Paulo, há semelhanças com o mundo de hoje e vantagens para o modelo pau­
lino aplicado para o contexto atual:
As cidades são maiores. Um plantador apostólico não precisa se mudar
de Filipos para Éfeso e depois para Roma para plantar várias igrejas.
Steve Childers, por exemplo, do Reformed Seminary e do Global Church
Advancement [Avanço da Igreja Global], perto de Orlando, pode auxiliar
a plantar igrejas em toda a região central da Flórida, nos Estados Unidos,
e até no Japão, sem que para isso tenha de se mudar de Altamonte Springs
com a família.12
As pessoas podem ser alcançadas em massa. Embora não haja nenhuma
sinagoga receptiva esperando para que nos envolvamos com ela, há pessoas
abertas e receptivas. Hoje podemos alcançar milhares de pessoas ao mesmo
tempo por e-mail, mala-direta, campanhas telefônicas etc. Reunir um público

12Steve é fundador do U.S. Center for Church Planting (Veja o site do autor: www.steve­

childers.org).
I 861 PLANTANDO IGREJAS MISSIONAIS

se tornou algo comum: um número "x" de cartas enviadas produz um resultado


"y"; tantos telefonemas darão tal resultado etc. O apóstolo atual pode ter êxito
em reunir um público, evangelizar e equipar os leigos, estabelecer um pastor
e seguir adiante.
Os pastores estão prontamente disponíveis (na maior parte das regiões). Per­
gunte a alguém: "Você gostaria de pastorear uma igreja com um ano de vida
repleta de novos crentes prontos para um pastor que permaneça com eles
por muito tempo?". A maioria vibraria diante de tal perspectiva. Portanto, se
não surgir imediatamente um líder no grupo (situação ideal), geralmente há
outros disponíveis nas proximidades.
O plantador apostólico será mais eficaz se não pastorear uma igreja local
(embora ele possa fazer parte da equipe de liderança [remunerada] de uma
igreja local). Em vez disso, o propósito central do plantador do modelo colheita
apostólica está voltado para a reprodução das igrejas. Isso ocorre hoje quando
os plantadores trabalham como estrategistas denominacionais de plantação,
como plantadores catalíticos de igrejas, como plantadores bivocacionados ou
leigos, ou como plantadores apostólicos itinerantes.
Os leigos também podem participar da plantação apostólica de igrejas.
Deus dotou muitos leigos de um trabalho secular de tempo integral e lhes deu
uma paixão por alcançar pessoas. Esses plantadores podem formar uma igreja
relacional por meio de estudos bíblicos nas casas, no local de trabalho, ou em
seus círculos sociais, levantando líderes dentro da nova igreja.

Madela 2: a pastar-fundador
Paradigma Planta uma igreja, age como "plantador de igre­
ja" por pouco tempo, permanece por um longo
período para pastorear a nova igreja.
Modelo bíblico Pedro e a igreja de Jerusalém.
Exemplos históricos/atuais Charles Spurgeon, Rick Warren.
Princípios
• O plantador planta e pastoreia a igreja durante um longo período.
• O pastor em muitos casos vem de outro lugar.
• O pastor, não raro, tem formação tradicional em teologia.
• Em uma situação ideal, a nova igreja patrocina a plantação de
novas igrejas.
MODELOS DE PLANTAÇÃO E DE PLANTADORES DE IGREJA [ B7J

Pastor fundador

' ...... •
• ..... .... 1 ....
......
......
Hl ...... (!)
Plantador surge
do núcleo de crentes

© Edward J. Stetzer, 2002

Esse é o modelo mais comum na América do Norte. O pastor pode vir de


fora da comunidade para a plantação e ali permanecer. Ou o plantador pode
ser um leigo local que planta uma igreja, cuida do seu crescimento e se torna
seu pastor. (A parte inferior direita do quadro deixa claro que mesmo um
plantador fundador precisa ajudar a plantar outras igrejas - priorizando o
crescimento do reino.)
O pastor-fundador quer plantar, cuidar do crescimento e permanecer
por um longo período na igreja. Ele pode ser um pastor "plantado", ou um
plantador empreendedor (os perfis serão discutidos mais adiante neste capí­
tulo); seja como for, o pastor-fundador tem o desejo de permanecer na igreja
por mais tempo do que o plantador do modelo colheita apostólica. O pastor­
-fundador tem coração de pastor, por isso não fica irrequieto, desejoso de
seguir adiante como o plantador do modelo colheita apostólica. Idealmente
falando, o pastor conduzirá a nova igreja a plantar outras, mas permanecerá
como pastor da igreja original porque é um pastor com coração missioná­
rio, e não um missionário com coração de pastor. O pastor-fundador com
frequência estuda a área de plantação de igrejas, porque esse conhecimento
é necessário para fundar a igreja. Em seguida, o plantador se envolve nas
questões do pastoreio e, por fim, acabará levantando outros para plantar
uma nova igreja.

ExE!mplo bíblico
Talvez Pedro se encaixe aqui como um exemplo bíblico. Com o tempo, ele
se tornou o líder da igreja de Jerusalém depois de pregar o sermão de sua
1881 PLANTANDO IGREJAS MISSIONAIS

"fundação" em Atos 1. Pedro foi o porta-voz dos apóstolos e da igreja de


Jerusalém - muitas vezes está em evidência entre os apóstolos:

• seu discurso está registrado em Atos 1.15-22;


• ele tomou posição juntamente com os Onze (At 2.14);
• Pedro discursou diante do Pórtico de Salomão (3.11,12);
• Pedro discursou diante das autoridades, dos anciãos e dos escribas (4.8);
• Pedro dirigiu-se a Ananias e a Safira (5.1-11);
• as pessoas queriam que sua sombra se projetasse sobre os doentes (5.15);
• Pedro e os outros apóstolos responderam (5.29);
• os apóstolos ouviram que os samaritanos haviam crido e enviaram
Pedro e João para verificar o que havia ocorrido (8.14);
• Pedro levou o evangelho aos gentios (10.48).

Sob a liderança de Pedro, a igreja de Jerusalém ajudou a plantar igrejas


em Antioquia e em toda a Ásia Menor. Pedro esteve envolvido na plantação
e no ministério de igrejas (o que o colocou em dificuldades posteriormente).
Sabemos que visitou Antioquia, Corinto e talvez outros lugares para estabe­
lecer ou encorajar novas igrejas. Contudo, a prioridade do seu ministério era
Jerusalém. A partir daquela igreja ele impactou outras.

Exempla histórica
Entre os milhares de exemplos, examinemos o de John Taylor. Em 1783,
Taylor e sua família viajaram durante três meses de chata [barcaça larga e
pouco funda] e a cavalo até o Kentucky. Depois de se estabelecer no condado
de Woodward e de criar uma fazenda, Taylor e vários outros batistas formaram
a Igreja Batista de Clear Creek. Taylor pastoreou a igreja durante nove anos.
Participou também da fundação de sete outras igrejas no Kentucky, na Virgínia
do Oeste, na Carolina do Norte e no Tennessee. 13

Exempla cantemparânea
Peter Wagner cita Rick Warren: "Quando Rick estava terminando seu mestra­
do no Southwestern Baptist Theological Seminary, ele orou: 'Irei a qualquer

13 Terry, Evangelism, p. 130.


MODELOS DE PLANTAÇÃO E DE PLANTADORES DE IGREJA [ B!I]

lugar que tu me enviares, Senhor, mas permita que eu passe minha vida toda
nesse lugar, seja ele qual for"' . 14 Rick fundou a Igreja de Saddleback, cujo
primeiro culto público foi celebrado na Páscoa de 1980, e ali ele continua
até hoje. Outra razão pela qual Rick é um bom exemplo se deve ao fato de
que Saddleback sempre foi uma igreja prolífica na plantação de outras. Na
edição de 16 de fevereiro de 2004 da revista Forbes, o editor Rich Karlgaard
escreveu: "Saddleback deu origem a[tantas] igrejas-filha por todo o país[...]
se fosse um negócio, Saddleback seria comparada à Dell, ao Google ou ao
Starbucks".
Darrin Patrick, da TheJourney[A Jornada], em Saint Louis, no Missouri,
é outro bom exemplo de pastor-fundador com um compromisso vitalício com
a igreja que plantou. Ele sempre demonstrou disposição para iniciar novos
ministérios, desde a época em que estava no ensino médio e depois nos anos
da universidade. Ele ficou incomodado ao saber que amigos, desde atletas a
artistas, não tinham vínculo algum com uma igreja local.
Ele decidiu cursar o Midwestern Baptist Theological Seminary para
participar da equipe de plantação de igrejas, em que serviu durante seis
anos como pastor de jovens. Há poucos anos, ele plantou a The Journey.
Seu desejo e visão são de permanecer ali pelo restante da vida, investindo a
vida não só nessa igreja, mas também no centro de plantação de igrejas, um
possível desdobramento da The Journey, que está se tornando rapidamente
uma referência importante para outros plantadores. Em seu segundo ano de
existência, The Journey passou a mentorear novos plantadores de igrejas.
Depois de apenas três anos de existência, e com uma frequência acima de
850 pessoas, TheJourney, sob a liderança de Darrin Patrick, estava ajudando
cinco plantadores locais provendo-lhes fundos, capacitação e pessoal para
formar um núcleo de crentes. Agora ele está envolvido numa escala geográ­
fica maior, ajudando em plantações de igrejas por todo o centro-oeste dos
EUA e no mundo todo por meio da Missão Atos 29 (veja www.a29.org), por
meio da qual já colaborou com pelo menos quarenta plantadores de igrejas
em todo o mundo.

14 C. Peter Wagner, Church planting for a greater harvest: a comprehensive guide (Ventura:

Regal, 1990), p. 71-2.


[9□] PLANTANDO IGREJAS MISSIONAIS

Outras tipas dE! pastarE!s fundadores


Os dois outros tipos de pastores fundadores que examinarei são o
pastor plantado e o pastor empreendedor.

Pastar plantada [fundador]


Princípios
• A organização e a visão da nova igreja são geralmente externas - de
um plantador de igreja apostólico, da igreja-mãe ou da liderança deno­
minacional.
• O pastor plantado, de modo geral, tem o coração voltado para o pas­
toreio, com capacidade administrativa, mas não tem a combinação de
dons do plantador de igreja.
• O pastor plantado, por definição, não vai embora logo, mas permanece
por muito tempo.
• O pastor plantado, normalmente, tem formação teológica tradicional e
vem de fora da igreja.
• Com frequência, o pastor evangeliza e discípula um núcleo de pessoas.
O grupo maior é atraído ou reunido por outra pessoa, não pelo pastor.
• Em uma situação ideal, o pastor plantado ajuda a dar suporte a
novos trabalhos.

O pastor plantado indaga com frequência: "Eu, plantador de igrejas?". A


resposta é sim e não. Sim, o pastor plantado é o primeiro pastor, o fundador e
plantador. Não, o pastor plantado não é necessariamente o tipo de pessoa que
começa as coisas do zero. Ele é, de modo geral, um pastor com pontos fortes
que se imagina serem, normalmente, de caráter ministerial: pregação, ensino,
aconselhamento e habilidades correlatas.
O pastor plantado lidera a igreja durante sua plantação. Ele reúne um
núcleo de crentes e o pastoreia, enquanto alguém (uma igreja-mãe de maior
porte, um plantador apostólico ou um líder denominacional) ajunta o grupo
maior. O diagrama da próxima página ilustra esse ponto. O plantador vem
de fora e, de preferência, já desenvolveu alguns líderes no núcleo de crentes.
Em seguida, atrai-se o grupo maior, culminando com uma nova plantação de
igreja bem-sucedida.
MODELOS DE PLANTAÇÃO E DE PLANTADORES DE IGREJA [91]

.. ..
Plantador/Apoiador

---
+++ ...
---
............
.;..;..;.
���
Plano para
o grupo maior � Pastor plantado
---
+++
Núcleo de crentes

© Edward J. StêUer, 2002

A igreja Wooddale e Church 15, em Eden Prairie, Minneapolis, tem um


trabalho impressionante de plantação de novas igrejas. Tom Correll explica:

O pastor-plantador de igrejas é integrado à equipe de liderança (remune­


rada) da igreja Wooddale Church com a intenção de que ele plante uma
igreja entre seis e nove meses geralmente em um local predeterminado. Ini­
ciamos o processo na Páscoa ou no Dia do Trabalho. 16 Durante o tempo em
que permanece na equipe de liderança (remunerada) da igreja e desenvolve
sua equipe ministerial, o plantador recebe uma "licença para caçar", o que
lhe permite recrutar qualquer pessoa da igreja. Apoiamos essa atividade
dando-lhe a oportunidade de compartilhar um testemunho de fé ou uma
pregação, e também por meio de cartas escritas por Leith (Anderson, pastor
da igreja) aos moradores da região em que a igreja será iniciada incentivan­
do-os a participar da nova plantação. Muitas vezes, ao apresentar o planta­
dor no culto, Leith encoraja as pessoas a deixar Wooddale e a se envolver
na nova igreja.17

As igrejas plantadas pela Igreja Wooddale são testemunhos do seu com­


promisso com a plantação de igrejas.
Quando Wooddale planta uma igreja, como a Westwood Community
Church, o pastor não precisa ter os mesmos dons do plantador de igreja que é

15
Veja www.wooddale.org.
16
Na América do Norte, o Dia do Trabalho é celebrado na primeira segunda-feira de
setembro (N. do E.)
17
Tom Correll, e-mail ao autor, 4 nov. 2005.
[!12) PLANTANDO IGREJAS MISSIONAIS

"jogado de paraquedas" na comunidade. Qoeljohnson, pastor-fundador, tem


dons incríveis, entre eles uma paixão pela plantação de igrejas. Ele ajudou a
desenvolver a estratégia de plantação quando estava em Wooddale e, depois,
pediram-lhe que fosse o pastor-líder da Westwood.) O compromisso da igreja
fica bem claro pela tabela abaixo:

Igreja Ano de Número Frequência


fundação aproximado rotineira
de pessoas nos cultos
da Wooddale hoje

Woodridge Church 1991 75 800


www.woodridgechurch.org

Woodcrest Church 1993 35 950


www.woodcrestchurch.org

Westwood Community Church 1994 250 3.000


www.westwoodchurch.org

Bridgewood Church 1998 50 600


www.bridgewood.org

Oakwood Community Church 2000 35 150


www.oakwoodonline.org

Northwood Community Church 2000 25 250


www.northwoodcc.org

Timberwood Church 2004 25-40 200


(a 240 km de distância) veranistas
www.timberwoodchurch.org

City Church 2005 75 225


www.wooddalecitychurch.org
MODELOS DE PLANTAÇÃO E DE PLANTADORES DE IGREJA [931

O pastor plantado tem muitos dons, mas não necessariamente dons de


plantador. Devem fazer parte desses dons, habilidades relacionais, de prega­
ção e de pastoreio. O pastor plantado deve ser capaz de formar uma igreja
composta por um núcleo de crentes (outra pessoa se encarrega de agregar as
demais pessoas) e, em seguida, pastorear o grupo maior. O pastor plantado
pode ser trazido à igreja em diferentes etapas do processo de desenvolvimento
dela. Se houver uma igreja apoiadora forte, os leigos talvez já estejam plan­
tando a nova igreja e podem participar da escolha do pastor. Em outros casos,
o pastor plantado é membro da equipe de liderança (remunerada) de uma
igreja estabelecida. A Anglican Mission in the Americas [Missão Anglicana
nas Américas] dispõe de um material útil para a plantação de igrejas iniciadas
por leigos que exigirá a presença de uma liderança pastoral posteriormente.18

Exempla bíblica
O paralelo bíblico mais próximo do modelo do pastor plantado é o ministé­
rio de Timóteo em Éfeso.19 Embora Atos não registre as origens da igreja de
Éfeso, os discípulos cresceram na fé (At 19.1-21) em virtude do ministério
de Priscila e Áquila (At 18.18,19), de Apolo (At 18.24-26) e de Paulo. Algum
tempo depois, Paulo enviou uma carta com instruções a Timóteo, que estava
se encarregando de formar uma liderança para o corpo de crentes de Éfeso:
"A Timóteo, meu verdadeiro filho na fé [ ...]. Conforme te pedi quando partia
para a Macedônia, permanece em Éfeso para advertires alguns de que não
ensinem outras doutrinas, nem se ocupem com fábulas ou genealogias inter­
mináveis... " (lTm 1.2-4). Podemos concluir que outros plantaram a igreja de
Éfeso, e depois disso Deus (e Paulo) plantaram Timóteo ali como pastor.

Exempla histórica
Embora Charles H. Spurgeon seja mais conhecido por sua habilidade no púl­
pito, ele era apaixonado por novas igrejas. Quando chegou à igreja New Park

18
Veja www.saintandrews-lr.org.
19Alguém talvez argumente que Tito também seja um exemplo desse paradigma, mas não é
o caso. Um exame do ministério de Tito revela uma semelhança com o ministério de Paulo. Tito
1.5 afirma: "Foi por isso que te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem o que faltava,
e que em cada cidade estabelecesses presbíteros, como já te orientei". Tito não estava confinado
a um lugar; pelo contrário, ele deveria ministrar por toda a ilha nas várias cidades. Timóteo, por
sua vez, devia se concentrar na igreja de Éfeso.
[941 PLANTANDO IGREJAS MISSIONAIS

Street Chapel, em Londres, encontrou uma igreja que definhava. Com o tem­
po, cresceu e se tornou uma megaigreja. Spurgeon criou então uma escola mi­
nisterial. Michael Nichols observou o impacto do envolvimento de Spurgeon
com a plantação de igrejas:

Vinte e sete igrejas foram fundadas por alunos do Pastor's College entre 1853
e 1867. Na segunda metade do século 19, o número de igrejas batistas em
Londres duplicou e quase todas elas foram fundadas, de um modo ou de outro,
sob a influência de Spurgeon. Os estudantes eram enviados a novas regiões ou
a igrejas existentes, normalmente mediante a ordem do "governador", como
os alunos chamavam Spurgeon. 20
Spurgeon se juntou a dois outros pastores londrinos, Landels, de Regent's
Park, e Brock, de Bloomsbury, para fundar a Associação Batista de Londres
com o objetivo de construir uma nova capela anualmente. Tanto Brock quan­
to Landels haviam plantado suas igrejas e dado início a missões locais, mas a
visão de Spurgeon estendia-se por toda a Londres. 21

Spurgeon impactou Londres em maior grau por meio da plantação de igre­


jas durante a década de 1860 e de 1870. Novas igrejas batistas foram funda­
das a uma média de mais de oito por ano entre 1856 e 1860. Quarenta e oito
igrejas foram plantadas sob a orientação de Spurgeon até 1878. 22 Ele enviava
pessoas ao campo e organizava os locais em que plantariam novas igrejas. Em
seguida, plantava um de seus estudantes lá como pastor da nova igreja. Os
alunos de Spurgeon eram pastores plantados.

ExE!mplos contE!mporânE!os
O crescimento da tecnologia de plantação de igrejas permitiu a muitos que
não possuem dons típicos de plantação a possibilidade de plantar igrejas bem­
-sucedidas. Conforme mencionado, a Wooddale Church, em Eden Prairie,
Minnesota, tem forte ênfase na plantação de igrejas. A igreja explica em seu
site: "A igreja Wooddale Church está comprometida com a plantação de novas

2
ºMichael Nicholls, "Missions, yesterday and today: Charles Haddon Spurgeon (1834-
1892), church planter", in: Tony Cupit, org., Five 'til midnight: church plantingfor A. D. 2000
and b ey ond (Atlanta: Home Mission Board, 1994), p. 94.
21Ibid., p. 94.
22
Ibid., p. 96.
MODELOS OE PLANTAÇÃO E OE PLANTADORES OE IGREJA [95]

igrejas. Nos últimos dez anos, as igrejas plantadas por meio desse ministério
alcançaram e abençoaram muitas pessoas, a maioria das quais, sem as igrejas
plantadas, jamais teria se tornado parte dessa igreja. Essas igrejas dinâmicas e
contemporâneas partilham a visão comum de ajudar as pessoas a experimentar
a bondade de Deus em sua vida".
Talvez este seja também o momento para refletirmos sobre o movimento
de igreja multilocalidades [multi-site]. Embora eu não inclua a igreja
multilocalidades na plantação de igrejas, o modelo é realmente semelhante.
E, em um número cada vez maior de casos, as denominações encaram as
igrejas multilocalidades como novas igrejas plantadas. (Recentemente, por
exemplo, fui palestrante num congresso nacional de plantação de igrejas da
Assembleia de Deus em que parte das atividades estava sob a liderança do guia
multilocal deles.) (Para mais informações sobre igrejas multilocalidades, veja
Geoff Surratt, Greg Ligon e Warren Bird, The multi-site church revolution ["A
revolução da igreja multilocalidades"], Zondervan, 2006.)
A lição aqui é que, ao procurarmos por plantadores de igrejas, nem todos
têm de ser do tipo "nasceu preparado" que talvez associemos ao trabalho. Em
vez disso, ao plantar pastores bem como igrejas, abrimos o ministério para
muitos candidatos que jamais teriam considerado a plantação de igrejas.

Plantador empreendedor [Fundador]


Princípios
• Plantadores empreendedores amam o desafio de iniciar igrejas, mas
geralmente se sentem entediados por terem de pastorear a mesma igre­
ja por um longo período. Contudo, de modo geral, eles não se sentem
atraídos pelo método apostólico porque amam o pastoreio.
• Muitas vezes, o pastor empreendedor segue adiante antes que a conso­
lidação da igreja se formalize (normalmente, três anos).
• O plantador empreendedor, em geral, tem formação teológica tradi­
cional e vem de fora da congregação. Em alguns casos, ele evita os
estudos formais por considerá-los entediantes.
• O plantador empreendedor poderá patrocinar novas igrejas.

O plantador empreendedor (que também é um pastor-fundador) é geral­


mente uma pessoa inovadora e entusiasta que continuamente busca novos
[!l6] PLANTANDO IGREJAS MISSIONAIS

desafios. Isso requer, às vezes, que ele se mude para um novo projeto de plan­
tação de tempos em tempos, mas esse não é o plano original!
O plantador empreendedor é mais do que um pastor irrequieto que tem
prazer em plantar, zelar pelo crescimento da igreja e seguir adiante. Às vezes,
o empreendedor não está interessado, nem disposto e/ou não é capaz de li­
derar a igreja em suas fases pós-plantação. Seu plano é formar um núcleo de
crentes (ano 1), dar início ao trabalho e incorporar os novos crentes (ano 2),
alcançar os de fora da igreja (ano 3) e vivenciar um crescimento sustentável
(anos 4 e 5). Às vezes, o plantador empreendedor permanece na igreja, mas
em muitos casos inicia novos ministérios, campanhas e programas para man­
ter aceso o desafio.
Alguns plantadores empreendedores não querem liderar a igreja na fase de
consolidação (de três a sete anos), por isso partem antes que essa fase comece
a lhes causar um problema concreto: segurança no trabalho. Uma vez que nem
todas as ideias funcionam, nem todos os campos estão prontos para a colheita,
há ocasiões em que o plantador empreendedor passará por dificuldades finan­
ceiras. O mesmo pastor pode ter resultados diferentes em comunidades distin­
tas ainda que utilize os mesmos métodos. Com isso, passará com frequência a
imagem de alguém incapaz de permanecer por muito tempo no mesmo local.
Em vez de reconhecer seu potencial para a plantação de igrejas, muitos desses
pastores passam de uma igreja estabelecida para outra.

Plantador empreendedor

3..5 anos

3-5 anos

úEJw,o.rdJ.StetN-i,2002

Ron Hale, responsável pela coordenação de plantação de igrejas em Illinois,


apresentou um modelo para a viabilização do plantador empreendedor. A maior
MODELOS OE PLANTAÇÃO E OE PLANTADORES DE IGREJA 1971

parte das denominações simplesmente não tem um mecanismo apropriado


para o financiamento dos plantadores empreendedores. Ron propôs a criação
de uma associação evangelística de plantação de igrejas baseada no modelo
dos evangelistas itinerantes. Nesse sistema, o plantador de igrejas trabalharia
com um grupo de apoiadores que se responsabilizaria pelo financiamento
contínuo de cada nova plantação de igreja.
Hal Haller é plantador empreendedor de igrejas no sul e no centro da
Flórida. Depois de seis anos, Hal se sentiu chamado a iniciar outra igreja
em 2003. Mudou-se então para Lakeland para plantar a igreja Church of the
Highlands. A igreja foi inaugurada publicamente em abril de 2004. Hoje, Hal
está no processo de dar início a uma nova igreja próxima da Disney World,
a Igreja de Four Corners, programada para começar a funcionar em abril de
2006. Haller tem uma visão: plantar igrejas ao longo do corredor formado
pela rodovia interestadual 4 na região central da Flórida. Como plantador
empreendedor de igrejas, ele acredita que o maior desafio para esse tipo de
plantador é receber aprovação por querer sempre plantar novas igrejas ou
iniciar novos ministérios.
Embora muitos plantadores empreendedores costumam se mudar a cada
três ou cinco anos, outros não são assim. Eles continuam sendo empreende­
dores, e devem ser constantemente desafiados a iniciar novos projetos, tais
como ministérios ou igrejas que não serão liderados por eles.
Os pastores fundadores, quer pastores plantados, quer empreendedores,
são essenciais para o crescimento do reino. As estatísticas mostram que os pas­
tores cuja permanência à frente de uma igreja se estende por um tempo maior
tendem a edificar igrejas mais fortes. Quando pastores fundadores plantam
igrejas fortes que, por sua vez, plantam outras igrejas, o crescimento da igreja
se torna exponencial, e o reino é beneficiado.

Madela 3: Plantaçãa em equipe


Paradigma Um grupo de plantadores se desloca para deter­
minada região para plantar uma igreja.
Com frequência, a equipe tem um pastor-líder
Modelo bíblico Paulo (às vezes).
ExEJmplo l1istórico/atual Missionários de lona, igrejas plantadas em
equipe.
[!IBJ PLANTANDO IGREJAS MISSIONAIS

Princípios
• Uma equipe se desloca para plantar uma nova igreja. (Às vezes não é
necessário mudar-se para o novo local.)
• A visão da plantação da nova igreja muitas vezes vem de um membro­
-chave da equipe.
• Boas equipes têm uma combinação de dons.
• Os membros da equipe podem dividir amigavelmente a igreja-mãe
em várias igrejas-filha ou integrar a equipe de liderança tradicional
(remunerada) da igreja fundada.

O conceito de equipe está atraindo muita atenção atualmente. O método


permite o companheirismo, a complementação de dons e uma base de lide­
rança forte. No entanto, é o modelo usado com menos frequência. A razão é
simples: dinheiro. O custo de financiar vários membros da equipe de tempo
integral é proibitivo na maior parte dos casos em que se planta uma igreja.
Infelizmente, a maior parte dos membros de uma equipe de plantação não
está disposta a trabalhar de modo bivocacionado, o que é uma pena, porque
esse talvez seja o único fator que está impedindo o êxito de muitos projetos de
plantação de igreja. Por exemplo, uma equipe bem-sucedida poderia ter um
pastor-líder em tempo integral e uma equipe de líderes bivocacionados ou até
mesmo colaboradores leigos comprometidos e habilidosos.
Meu amigo Andy Williams, que ajudou a revisar parte deste livro, foi
abençoado com uma equipe maravilhosa quando plantou a igreja Heartland
Community Church, em Omaha, Nebraska, há vários anos. Quatro famílias­
oito adultos e seus filhos, cuja amizade com Andy e sua esposa vem de longa
data - mudaram-se para Omaha, vindas de outras cidades, sendo Andy o
único membro remunerado da equipe para esse desafio. Três daqueles homens
eram da área tecnológica e encontraram emprego no setor de programação de
computadores; o outro homem trabalhava no setor bancário na área de inves:­
timentos e conseguiu captar uma nova clientela na cidade. Todos haviam se
mudado sem nenhuma intenção de serem remunerados pela igreja por seus
serviços, embora todos ocupassem posições importantes na igreja que estava
sendo plantada ali. Andy diz até hoje que esse foi o grupo mais comprometi­
do, que mais se sacrificou, com quem teve o privilégio de trabalhar. Aquelas
dez pessoas começaram a se relacionar com seus vizinhos, seus colegas de
trabalho e pessoas em seus círculos sociais até que o grupo estava conectado
□ □ □
M DEL S DE PLANTAÇÃO E DE PLANTAD RES DE IGREJA
[99]

por meio de relacionamentos com pelo menos sessenta não cristãos. Esse foi
o trabalho de base para um início oficial que contou com mais de trezentas
pessoas no primeiro culto da igreja.
Esse é o modelo que estamos usando em Lake Ridge, mas com uma di­
ferença. Na Heartland, Andy era o pastor-líder. Em Lake Ridge, não temos
um pastor-líder; trabalhamos como uma equipe de presbíteros/pastores com
diferentes áreas de responsabilidade e de liderança com base em nossos dons.
A pregação é uma responsabilidade compartilhada entre os co pastores. Nem
sempre é fácil, e eu não recomendo esse modelo para a maior parte dos jovens
plantadores, mas, no meu caso, funciona.

Base bíblica
O método de equipe tem forte base bíblica. Boa parte do ministério de Paulo
poderia também ser descrita com esse paradigma observado primeiramente
em Atos 13.2,3, em que a igreja de Antioquia enviou Paulo e Barnabé para
pregar o evangelho. Em Atos 13.5, João Marcos é descrito como auxiliar. Por
fim, João Marcos e Barnabé foram para Chipre, e Paulo partiu com Silas para
a Síria e a Cilícia (At 15.36-41). Em Atos 16.1-5, Timóteo juntou-se à equipe
de Paulo. Em Atos 18.18,19, Paulo viajou com Priscila e Áquila para Éfeso. De
acordo com o relato das Escrituras, Paulo também teve outros companheiros
de viagem (Atos 19.29). Sabemos que todas essas pessoas estavam envolvidas
em alguma forma de ministério com Paulo.

Equipe de plantadores

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Equipe de iguais ou
1 1
Plantador-líder

...
.........
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.........
ü Edwa,-d J, StrJLtr, 2002
1m111 PLANTANDO IGREJAS MISSIONAIS

Exempla histórica
O ministério de Columbano (monge irlandês, 521-597), em lona, é
um exemplo histórico de plantação de igrejas em equipe. De acordo
comJohn Mark Terry:

[ Columbano] fundou diversos mosteiros. [ ...] Em 563, ele reuniu doze com­
panheiros monges e fundou um mosteiro novo na ilha de lona, perto do litoral
escocês. O mosteiro de lona foi a base para a evangelização dos pictos, uma
tribo do norte da Escócia. Mesmo depois da morte de Columbano, o mosteiro
de lona continuou a enviar evangelistas. Um monge ganhou para Cristo um
príncipe chamado Oswald. Quando Oswald regressou à Nortúmbria, pediu
ao mosteiro que enviasse um missionário para evangelizar seu povo. O abade
enviou Aidan, que não apenas evangelizou o povo da Nortúmbria como tam­
bém fundou um novo mosteiro segundo o modelo de Iona.23

Na Idade Média, os mosteiros se tornaram centros de plantação em


equipe. As equipes saíam, plantavam um mosteiro (por exemplo, Agostinho
de Cantuária) e, em seguida, trabalhavam juntas na plantação de igrejas nas
aldeias vizinhas. Depois que as igrejas surgiam em torno dos mosteiros, os
monges partiam para outro local.

Exempla atual
Há muitos exemplos contemporâneos que respaldam o sucesso do modelo de
equipe, e boa parte da literatura atual trata da plantação de igrejas urbanas. 24
James E. Westgate dividiu a estratégia da equipe urbana em duas categorias:
modelo oriental e modelo ocidental.
O modelo oriental mostra a conscientização da necessidade de desenvol­
ver uma minicomunidade no meio de uma sociedade urbana sob pressão de
todos os lados. Em vez de enviar um único casal que terá de enfrentar as difi­
culdades e os ajustes da complexa cultura urbana, o modelo disponibiliza uma

23Terr Evange!ism, p. 48.


y,
24Veja Loyd Childs, "Teams multiply churches in Malaysia/Singapore", Urban Mission

2 (1985): 33-9; Ben A. Sawatsky, "A church planting strategy for world class cities", Urban
Mission 3 (1985): 7-19; Roger S. Greenway, "The 'team' approach to urban church planting",
Urban Mission 4 (1987): 3-5.
MODELOS DE PLANTAÇÃO E DE PL/\NTIIODRES DE IGREJA 1m11

rede de relacionamentos complementares e de apoio para lidar com a diver­


sidade e a complexidade de um contexto urbano. A prioridade dessa equipe
não consiste apenas em plantar uma igreja, mas em se reproduzir por meio do
treinamento de outros que plantarão igrejas que se reproduzem.25
O modelo oriental "requer uma equipe de treinadores que capacitarão
equipes de plantadores. A função principal da equipe é treinar outros".26
Com relação ao modelo ocidental, Westgate afirma:
A equipe está comprometida com uma estratégia bivocacional de planta­
ção de igrejas. O objetivo primordial da equipe é plantar uma igreja num lugar
estratégico da cidade. O principal foco da equipe é a evangelização, em que
cada membro da equipe se compromete a discipular de cinco a dez pessoas
durante o primeiro ano, num total de cinquenta pessoas em potencial para
iniciar a igreja. No segundo ano, a igreja é organizada e os casais se concen­
tram em treinar novos convertidos para que partilhem sua fé ao mesmo tempo
que atingem seu objetivo de levar mais dez pessoas a Cristo. [ ... ] Durante o
segundo ano, os casais também selecionam alguém para ser treinado nas áreas
em que demonstra possuir habilidades específicas, como estudo bíblico ou
educação cristã.
O terceiro ano é a etapa de transição para a igreja. Os membros da equipe
delegam a responsabilidade para aqueles que treinaram. [ ... ] Cada membro
da equipe se torna então um plantador de uma nova igreja-irmã e solicita a
quatro, cinco ou seis novos casais de um seminário ou de uma igreja-irmã da
denominação para que se unam a ele.27

Um número cada vez maior de projetos de plantação de igrejas tem recorrido


ao modelo de plantação em equipe - e não apenas em cenários urbanos. Em
2004, Gary Lamb estava na fase de planejamento da plantação de uma igreja
em Canton, na Geórgia. Depois de plantar sozinho uma igreja em Iowa, Gary
quis plantar a igreja Ridge Stone Church por meio de uma plantação em equipe
com vários colaboradores remunerados. Contudo, a exemplo da maioria dos
projetos de plantação, eles não tinham dinheiro. Gary então procurou dez

5J ames E. Westgate, "Church planting strategies for world-class cities", in: Harvie M.
2

Conn, org., Planting and growing urban churches: from dream to reality (Grand Rapids: Baker,
1997), p. 205.
26
Ibid., p. 204.
2
7Ibid., p. 205.
[ 1112] PLANTANDO IGREJAS MISSIONAIS

amigos que sempre haviam conversado sobre o assunto e sonhavam em fun­


dar uma igreja juntos. Ele pediu aos amigos que deixassem seu ministério de
tempo integral, levantassem o próprio sustento e ajudassem na plantação de
uma nova igreja. Dos dez, três concordaram. No dia 15 de agosto de 2004, a
igreja Ridge Stone foi iniciada com 287 pessoas presentes.

Desde o primeiro dia, a igreja contou com um pastor para as crianças, um


pastor-líder, um pastor de louvor/adoração e um pastor administrativo, todos
eles de tempo integral. Passado um ano, eles continuam juntos e todos em
tempo integral na igreja, com exceção do pastor administrativo, que decidiu
fazer um estágio em plantação de igrejas com o sonho de, um dia, plantar sua
própria igreja. A plantação em equipe pode ser tremendamente eficaz.
Em minha tese de doutorado, 28 concentrei-me nos fatores que fazem com
que uma nova igreja tenha uma frequência maior nas programações. Fiz uma
pesquisa de opinião, deixando espaço para comentários. Mais de seiscentos
plantadores de igrejas responderam à pesquisa, e muitos acrescentaram suas
ideias. Um tema recorrente foi o desejo de ter equipes de plantação de igreja. O
levantamento revelou que a frequência era maior (quase o dobro) nas igrejas
plantadas em que havia mais de um pastor-plantador (remunerado) na equi­
pe. (Isso não leva em conta outros fatores que poderão ser incrementados
quando se tem uma equipe de liderança remunerada, tais como uma ampla
base de operações, uma igreja apoiadora e uma provisão de fundos abundante.
Contudo, a diferença na média de frequência nas programações é evidente.)
Descobri também que não é apenas a presença de diversos pastores que faz
diferença. Na verdade, esse aumento da frequência média ocorre de maneira
mais marcante quando há dois membros de equipe remunerados - e não três
ou mais. ( Com três ou mais, percebo que a nova igreja tem dificuldade de se
conectar com a comunidade de perdidos. É verdade que um número maior
de pastores pode proporcionar relacionamentos mais íntimos na equipe.
Contudo, talvez porque tenham relacionamentos próximos entre si não
estabeleçam tantos contatos e relacionamentos evangelísticos.) Concluí que
ter inicialmente dois membros (remunerados) torna a equipe de plantação
mais eficaz. (A pesquisa não levou em conta se ambos os membros da equipe

28Da tese de doutorado do autor, "The impact of the church planting process and other
selected factors on the attendance of Southern Baptist church plants", Southern Baptist
Theological Seminary, 2003.
M □□ELUS DE PLANTAÇÃO E □E PLANTAUURE5 □E IGREJA [ ID3]

trabalhavam em tempo integral, mas na maior parte dos casos creio que não.)
Com base nos dados e comentários, concluí que a combinação de papéis
que produz as equipes de plantação mais eficazes formadas por duas pessoas
consiste em um pastor-líder de tempo integral e em um segundo pastor de
tempo parcial com habilidades no louvor e no evangelismo.

Conclusões
Deus usa muitos tipos de pessoas e métodos para plantar igrejas. A lista acima
não pretende ser completa, mas poderá ajudá-lo a pensar em seu papel na
plantação. Talvez você não tenha explorado todas as dimensões do que signi­
fica ser um plantador de igreja. Talvez você se encaixe em uma das categorias
descritas, ou talvez você se veja como uma combinação desses modelos. O
chamado de Deus e a provisão divina de dons espirituais determinarão de que
maneira cada plantador de igreja realizará a obra de fundar novas igrejas.

Leitura complementar
NEvrus, John L. Planting and development of missionary churches (Nutley:
Presbyterian and Reformed, 1958).
SANCHEZ, Daniel R.; SMITH, Ebbie C.; WATKE, Curtis E. Reproducing congre­
gations: a guidebook for contextual new church development ( Cumming:
Church Starting Network, 2001).
STEFFEN, Tom. Passing the baton: church planting that empowers (La Habra:
Center for Organizational and Ministry Development, 1997).
WAGNER, C. Peter. Church planting for a greater harvest (Ventura: Regal,
1990).

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