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Leitura complementar
Seguem indicações de leitura complementar sobre a missiologia emergente na
América do Norte. Você encontrará uma bibliografia mais extensa em www.
newchurches.com no item "Tools & resources" [ferramentas e recursos].
1
Talmadge R. Amberson, "The foundations for church planting", in: Talmadge R. Amberson,
org., The birth of churches (Nashville: Broadman, 1979), p. 45.
2
Para uma tabela que ajuda a compreender os componentes de cada ordem, veja Elmer
Towns, Getting a church started: a student manual for theological foundation and practical
techniques of planting a church (Lynchburg: Church Growth Institute, 1985), p. 8. Este livro
pode, agora, ser acessado gratuitamente em http://digitalcommons.liberty.edu/cgi/viewcontent.
cgi?article=l019&context=towns_books. Towns incluiu Marcos 16.15 em sua lista. Contudo,
os melhores e mais antigos textos gregos de Marcos não trazem esse versículo, numa indicação
de que seria uma adição posterior ao texto. Portanto, incluí apenas quatro.
A BASE BÍBLICA DA PLANTAÇÃO DE IGREJAS
Duas semanas após a comissão de João 20, Jesus proferiu a Grande Comissão,
que foi a segunda de suas ordens centradas no envio (Mt 28.18-20). A Grande
Comissão ern Mateus é a expressão de envio rnais conhecida deJesus, e explica
claramente que a tarefa de evangelização do mundo foi dada a seus discípulos
- daquela época e de hoje.
Corn a expressão "todas as nações"Jesus quis, sern dúvida, que o evangelho
alcançasse os perdidos entre aqueles a quern os rnissiólogos charnarn hoje de
grupos étnicos3 e segmentos populacionais. Para entender isso, os plantadores
3
A expressão "people groups", aqui traduzida por "grupo étnico", pode também se referir
a diferentes grupos culturais (N. do E.)
1621 PLANTANDO IGREJAS MISSIONAIS
de igrejas devem pensar menos nas fronteiras políticas e mais nas populações
que vivem nessas regiões. No Canadá, por exemplo, há o que se chama
ali de povos das Primeiras Nações (nos Estados Unidos, usamos o termo
nativos da América ou, às vezes, índios), grandes contingentes populacionais
descendentes dos colonizadores franceses e ingleses, bem como uma nova
população asiática, em grande parte de primeira geração, que vem crescendo
no Ocidente. Essa é uma lista supersimplificada, é claro, mas vamos usá-la
para mostrar como até mesmo uma lista relativamente curta pode ser dividida
e analisada de várias maneiras, de modo que nos permita ver não apenas
grupos étnicos, mas também os segmentos populacionais.
Entre os povos das Primeiras Nações, há os que vivem em terras do gover
no (os americanos nativos que vivem ao sul da fronteira com o Canadá cha
mam esse território de Rez, ou Reserva) e os que foram integrados às cidades
pequenas e grandes, e que possivelmente mal podem ser distinguidos de outros
contingentes populacionais das regiões vizinhas. Entre os descendentes dos co
lonizadores franceses há os que falam somente francês e os que são bilíngues.
Entre os asiáticos que se fixaram em áreas como Vancouver estão os que vieram
de diferentes países- Coreia e Índia-; são os imigrantes de primeira geração
e também as gerações subsequentes, que possivelmente nunca moraram na
Ásia. E para tornar as coisas ainda mais interessantes, vamos analisar as pessoas
de ascendência inglesa e refletir sobre elas de acordo com seu modo de vida e
seus interesses- gente que está apenas começando a constituir família, gente
que se aposentou, pessoas que trabalham na lavoura, os que moram em áreas
metropolitanas, gente que ama música, os que gostam de pedalar e ainda os
que adotaram uma postura mais aberta em relação às questões sociais. Nesse
exercício simples, deparamos com muitas "nações", as quais Jesus nos comis
sionou a alcançar; sim, ele nos ordenou a alcançar "todas" elas.
Como faremos isso? Por meio de um processo chamado de contextua
lização. Sabemos que diferentes grupos étnicos e segmentos populacionais
possuem valores distintos. O evangelho foi de tal modo planejado por Deus
para que sua mensagem imutável pudesse ser posta em "recipientes culturais"
mutáveis e assim alcançasse as pessoas onde elas estão, levando-as aonde elas
precisam ir. Todos os métodos e todas as maneiras de cultuar devem estar cen
trados em Deus e alicerçados na Bíblia. A contextualização é uma habilidade
que os missionários norte-americanos, como todos os missionários interna
cionais, precisam aprender e usar.
A BASE BÍBLICA DA PLANTAÇÃO DE IGREJAS 163 l
Vamos agora examinar mais de perto as instruções deJ esus: fazer discípulos,
batizar e ensinar. Obedecer à Grande Comissão é plantar igrejas porque jesus
nos chamou para diversas atividades. Obedecer à Grande Comissão é plantar
igrejas porque, em primeiro lugar, ela nos chama a discipular. O discipulado
é tarefa da igreja do Novo Testamento. O discipulado não está funcionando
quando o cristão precisa buscar oportunidades de crescimento espiritual
fora da igreja. Quando um cristão afirma: "Não consigo ser discipulado na
igreja; preciso buscá-lo em casa, na internet, num congresso, nos grupos de
Guardadores de Promessas [Promise Keepers], Mulheres de Fé [Women of
faith] etc.", é provável que ele faça parte de uma igreja doente ( ou então o
crente tem uma visão doentia do discipulado e da igreja). Deus espera que
a igreja se encarregue do discipulado, que não se resume a um curso ou a
uma série de estudos. O discipulado está centrado no evento da salvação. O
discipulado se inicia na conversão e depois prossegue: é um processo contínuo.
"Fazer discípulos" significa que a igreja deve conduzir pessoas a Cristo e levá
las a crescer na fé. Trata-se de um processo que deve ocorrer na igreja local.
Em segundo lugar, obedecer à Grande Comissão é plantar igrejas porque
convoca a igreja a batizar. O batismo é uma ordenança da igreja local. Ele
ocorre na igreja local ou entre seus membros. Digo "entre" porque o batismo
não precisa ocorrer no prédio da igreja. Muitos plantadores fazem batismos
em banheiras, lagos ou piscinas. O batismo ocorre onde quer que consigamos
reunir a igreja e onde houver água suficiente para praticar a ordenança. A ideia
de baptízo no grego é um "batizar continuado", imergindo cada novo crente.
O batismo é uma ordenança confiada à igreja local que implica responsabili
dades locais. A Grande Comissão é dada à igreja local.
Em terceiro lugar, obedecer à Grande Comissão é plantar igrejas porque
ela instrui a igreja local a ensinar. Observamos o cumprimento dessa ordem
de ensinar em Atos 2.42: "E eles perseveravam no ensino dos apóstolos...",
que era a base do seu crescimento e de sua comunhão. A Grande Comissão se
cumpre nas igrejas quando plantamos novas igrejas e quando ensinamos os
preceitos bíblicos.
Alguns observam que a Grande Comissão não usa a expressão plantação
de igrejas. Portanto, dizem, ela será cumprida somente por meio das igrejas
existentes (sobretudo em áreas com grande densidade de igrejas). Contudo,
a igreja primitiva era cheia do Espírito Santo, de acordo com o livro de Atos
(2.4; 4.8,31; 9.17; 13.9). Esses discípulos cheios do Espírito plantaram igrejas.
[64) PLANTANDO IGREJAS MISSIONAIS
até que ponto estamos dispostos a ser amigáveis e acolhedores para com os de
fora, nada justifica a remoção do que é designado por alguns como a pedra de
tropeço da cruz. A igreja mais bíblica é aquela em que a cruz é a única pedra de
tropeço para os que não frequentam igreja. Isso porque os perdidos não deve
riam deparar com nenhuma cultura de igreja que seja para eles pedra de trope
ço que os mantenha afastados de Cristo. Os perdidos não precisam de motivos
adicionais para ficar distantes da igreja. Os de fora da igreja precisam ouvir
as boas-novas de Jesus Cristo, e isso inclui a cruz como pedra de tropeço. Os
plantadores não devem apresentar mensagem alguma que não seja Cristo, e de
vem fazê-lo de uma forma que seja culturalmente adequada aos seus ouvintes.
Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas e perdendo uma delas, não acen
de a candeia e não varre a casa, procurando com cuidado até encontrá-la? E
quando a encontra, reúne as amigas e vizinhas, dizendo: Alegrai-vos comigo,
porque achei a dracma que eu havia perdido. Eu vos digo que assim há alegria
na presença dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende (Lc 15.1-10).
Paulo. o plantador
1. Paulo estava de fato preparado para seu ministério de plantação
de igrejas.
• Seu preparo formal de alto nível deu-lhe uma ampla compreensão
da história divina.
168] PLANTANDO IGREJAS Ml551DNAl5
9. Paulo estava disposto a abrir mão das igrejas que havia plantado para
continuar plantando outras (At 16.40).
4
Esboço criado por John Worcester, disponível em: http://www.churchplanting.net
A BASE BÍBLICA DA PLANTAÇÃO DE IGREJAS [71]
Um segundo traço que merece ser imitado é o desejo que Paulo tinha de
trabalhar sempre em equipe. Muitos plantadores hoje em dia têm dificuldade
em manter o equilíbrio entre o empreendedorismo e o espírito de equipe.
Essas duas características não combinam muito bem a não ser que o Espírito
Santo possa guiar o plantador empreendedor fazendo dele alguém que saiba
trabalhar em equipe. A plantação de igrejas, embora de natureza profunda
mente empreendedora, não é um esforço individual. Deve ser desenvolvida
em parceria.
Por fim, Paulo instruiu outros a seguir o modelo por ele apresentado. Para
que o sigamos, temos de compreender sua estratégia e sua paixão. Paulo sem
pre perguntava: "Qual é a melhor maneira de alcançar os descrentes?". Para
alcançá-los, ele estava disposto a pagar qualquer preço e a mudar qualquer
método, contanto que não comprometesse o evangelho. Essa disposição não
dispensava o risco do empreendedorismo e da prestação de contas da parceria.
São características dignas de serem imitadas.
3. Adoração (2.42,46)
4. Oração (2.42; 4.29-31)
5. Beneficência (2.44,45; 4.34,35)
6. Identificação com a comunidade (2.47)
7. Testemunho (4.33; 5.42)
C. Seu crescimento
1. Três mil batizados no Pentecostes (2.41)
2. Pessoas salvas diariamente (2.47)
3. Duas mil pessoas salvas no Pórtico de Salomão (4.4)
4. Uma multidão foi acrescentada (5.14)
5. Sacerdotes creem (6.7).
D. Sua organização
1. Apóstolos (6.2)
2. Diáconos (6.3)
3. Congregação (6.5)
4. Presbíteros (15.6,22)
II. A plantação de igrejas na Judeia e Samaria (At 8-12)
A. Plantação de igrejas feita por leigos (8.1,4)
B. Evangelização em massa (8.5,6,12)
C. Evangelização em pequenas localidades (8.25)
D. Multiplicação de igrejas (9.31)
E. Crescimento realçado por milagres (9.35-42)
F Salvação estendida aos gentios (10.44-48)
III. A plantação de igrejas no mundo (At 13-28)
A. Os leigos dispersos iniciam igrejas entre os judeus (11.19)
B. Cristãos de Jerusalém plantam uma igreja gentio-judaica em
Antioquia (11.20,21)
C. Antioquia se torna uma igreja missionária fantástica
1. Sensível ao Espírito Santo (13.2)
2. Submissa ao Espírito (13.3)
3. Uma igreja enviadora (13.3)
D. A primeira viagem missionária de Paulo (13-14)
1. Prega primeiro nas sinagogas (13.5; 14.1)
2. Passa a pregar para os gentios (13.46)
3. Vai de uma cidade para outra (13.13,14)
4. Nomeia presbíteros para liderar as igrejas (14.23)
A BASE BÍBLICA DA PLANTAÇÃO DE IGREJAS (731
6
Disponível em: http://www.redeemer.com
A BASE BÍBLICA DA PLANTAÇÃO DE IGREJAS I 751
7Este sentido é exatamente a razão para a alegria do eunuco (At 8.39). Ele que amava a
nação judaica e a lei judaica não poderia, por causa de sua emasculação, se tornar parte da
comunidade, tendo-lhe sido negado o batismo pelos judeus. Veja Frank Stagg, The book of
Acts (Nashville: Broadman, 1954), p. 106-9 [edição em português: Atos: a luta dos cristãos
por uma igreja livre e sem fronteiras, 3. ed., tradução de Waldemar W. Wey (Rio de Janeiro:
JUERP, 1994)].
8
Eddie Gibbs, ChurchNext: quantum changes in how we do ministry (Downers Grave:
InterVarsity, 2000), p. 11 [edição em português: Para onde vai a igreja: mudanças na maneira de
conduzir ministérios, tradução de Josiane Zanon Moreschi ( Curitiba: Esperança, 2012)].
9
Ibid., p. 33.
1761 PLANTANDO IGREJAS MISSIONAIS
C1mclusãa
Os relatos e os detalhes que vimos em Atos mostram que Paulo e outros entre
os primeiros cristãos acreditavam na plantação de igrejas e a praticavam como
parte integrante de suas vidas - e, especificamente, em resposta às ordens
de Jesus. Plantar novas igrejas não era um conceito novo e extraordinário
para os crentes zelosos. Pelo contrário, fundar igrejas era expressão normal da
missiologia neotestamentária. A plantação intencional de igrejas, sob a direção
do Espírito Santo, era o método das primeiras igrejas. Essa plantação explica
como a igreja primitiva cresceu de modo explosivo pelo Império Romano du
rante as décadas que se seguiram à ressurreição de Jesus.
A vida de Paulo e a ação da igreja primitiva mostram que a plantação de
igrejas era uma atividade fundamental. Qualquer igreja que queira redescobrir
a natureza dinâmica da igreja primitiva deveria considerar a possibilidade de
plantar novas igrejas. Além disso, os meios que Paulo e a igreja primitiva usa
ram nos fornecem princípios a serem aplicados em nossa metodologia atual.
Embora muitas de suas estratégias fossem específicas de seu contexto, vere
mos que é possível aplicar seus princípios universais.
leitura complementar
ALLEN, Roland. Missionary methods: St. Paul's or ours? (Grand Rapids:
Eerdmans, 1962).
BROCK, Charles. Indigenous church planting (Neosho: Church Growth
International, 1981).
SttENK, David W; STUTZMAN, Ervin R. Creating communities of the hingdom:
New Testament models of church planting (Scottsdale: Herald, 1988).
___. Criando comunidades do reino: modelos neotestamentários de
implantação de igrejas. Tradução de Rubens Castilho (Campinas: Cristã
Unida, 1995). Tradução de: Creating communities of the kingdom:
New Testament models of church planting.
Modelos de plantação e de
plantadores de igreja
Colheita apostólica
t Plantador
e novo
núcleo de
crentes
tN t lt
Plantador
e novo
núcleo de
crentes
.....___ f=
-./
- f
-----./ :::,
MODELOS DE PLANTAÇÃO E DE PLANTADORES DE IGREJA 17!11
Exemplos bíblicos
Um exemplo desse paradigma encontra-se em Atos 13-14. 1 Paulo e
seus companheiros haviam chegado a Antioquia da Pisídia (13.14), onde
pregaram, e "todos os que haviam sido destinados para a vida eterna creram"
(13.48). O mesmo padrão se repetiu em Icônio (14.1). Depois de pregar o
evangelho em Listra (14.7) e Derbe (14.21), "voltaram para Listra, Icônio e
Antioquia, renovando o ânimo dos discípulos, exortando-os a perseverar na
fé [ ... ]. E, nomeando-lhes presbíteros em cada igreja e orando com jejuns,
consagraram-nos ao Senhor em quem haviam crido" (14.21-23). John B.
Polhill observa:
Os dois apóstolos [Paulo e Barnabé] voltaram pelo caminho por onde tinham
vindo, visitando novamente as igrejas recém-fundadas ao longo do seu itine
rário - primeiramente Listra, depois lcônio e, por fim, Antioquia da Pisídia.
Em cada igreja, eles realizavam três ministraçôes essenciais. Em primeiro lu
gar, fortaleciam os discípulos (v. 22). Isso se refere, provavelmente, à ins
trução adicional dada aos cristãos em sua nova fé. Em segundo lugar, eles
os encorajavam a "perseverar na fé" e ressaltavam as "muitas tribulaçôes"
(v. 22b) com que poderiam deparar por se comprometerem com o nome de
Jesus (v. 22b) [...]. O ministério final dos apóstolos consistiu em estabelecer
a liderança nas novas igrejas. Não havia clero profissional nessas novas igre
jas que assumisse sua liderança. Consequentemente, o padrão das sinagogas
judaicas parece ter sido seguido com a nomeação de um grupo de presbíteros
leigos para pastorear o rebanho.2
Exemplo histórico
Este paradigma pode ser visto no rápido crescimento das denominaçôes me
todista e batista nos Estados Unidos do século 19. De acordo com Justo L.
1Muitos exemplos bíblicos e históricos aqui e no restante deste capítulo foram pesquisados
e escritos para mim, em parte, pelo meu ex-monitor,]. D. Payne. Hoje ele é professor de plan
tação de igrejas. Payne escreveu também uma excelente tese de doutorado, em que analisa a
prática atual da plantação de igrejas na América do Norte. Para entrar em contato com Payne,
envie um e-mail para jpayne@sbts.edu.
2
John B. Polhill, Acts, in: New American Commentary (Nashville: Broadman, 1992), vol.
26, p. 319.
[80) PLANTANDO IGREJAS MISSIONAIS
Justo L. Gonzalez, The story of Christianity: the Reformation to the present day (New York:
3
Exemplos contemporâneos
Bob Gomes, do Texas, é um exemplo de plantador de igreja do modelo colhei
ta apostólica. Ele plantou sua primeira igreja na cidade de Corpus Christi, em
2002, e uma segunda no ano seguinte, em Kingsville. Desde então, Deus deu
a Bob a visão de plantar igrejas por todo o sudeste dos Estados Unidos. Entre
junho e novembro de 2005, ele plantou igrejas em 5 comunidades do Texas -
5
Robert E. Logan; Steven L. Ogne, Churches planting churches: a comprehensive guide for mul
tiplying new congregations (Carol Stream: ChurchSmart Resources, 1995), fita VHS, "Churches
planting churches".
6
V Simpson Turner Sr., "A history of African-American evangelistic activity", in: Lee N.
June, org., Evangelism and discipleship in African-American churches ( Grand Rapids: Zondervan,
1999), p. 21.
I B21 PLANTANDO IGREJAS MISSIONAIS
Achei que você talvez estivesse interessado em saber um pouco sobre o sis
tema de igreja nas casas na China. Vou descrever aqui uma igreja típica, cujo
número de membros é de cerca de cem mil pessoas num raio de 480 km.
O líder tem trinta anos, é casado e tem um filho pequeno. Já estive nessa
igreja e constatei que há jovens extraordinários nela. Quando um jovem
aceita o Senhor Jesus como Salvador, seu objetivo imediato é tornar-se um
colaborador e ser enviado a outro lugar a serviço do Senhor. Eles não ganham
8
Veja http://homechurch.org para um catálogo de igrejas nos lares.
MODELOS DE PLANTAÇÃO E DE PLANTADORES DE IGREJA 1831
9
John Dee, "China Report 1999: a visit with the underground church now 85 million
strong". Veja http://www.hccentral.com/magazine/china2.html.
10Charles Brock, Indigenous church p!anting: a practica! journey (Neosho: Church Growth
12Steve é fundador do U.S. Center for Church Planting (Veja o site do autor: www.steve
childers.org).
I 861 PLANTANDO IGREJAS MISSIONAIS
Madela 2: a pastar-fundador
Paradigma Planta uma igreja, age como "plantador de igre
ja" por pouco tempo, permanece por um longo
período para pastorear a nova igreja.
Modelo bíblico Pedro e a igreja de Jerusalém.
Exemplos históricos/atuais Charles Spurgeon, Rick Warren.
Princípios
• O plantador planta e pastoreia a igreja durante um longo período.
• O pastor em muitos casos vem de outro lugar.
• O pastor, não raro, tem formação tradicional em teologia.
• Em uma situação ideal, a nova igreja patrocina a plantação de
novas igrejas.
MODELOS DE PLANTAÇÃO E DE PLANTADORES DE IGREJA [ B7J
Pastor fundador
' ...... •
• ..... .... 1 ....
......
......
Hl ...... (!)
Plantador surge
do núcleo de crentes
ExE!mplo bíblico
Talvez Pedro se encaixe aqui como um exemplo bíblico. Com o tempo, ele
se tornou o líder da igreja de Jerusalém depois de pregar o sermão de sua
1881 PLANTANDO IGREJAS MISSIONAIS
Exempla histórica
Entre os milhares de exemplos, examinemos o de John Taylor. Em 1783,
Taylor e sua família viajaram durante três meses de chata [barcaça larga e
pouco funda] e a cavalo até o Kentucky. Depois de se estabelecer no condado
de Woodward e de criar uma fazenda, Taylor e vários outros batistas formaram
a Igreja Batista de Clear Creek. Taylor pastoreou a igreja durante nove anos.
Participou também da fundação de sete outras igrejas no Kentucky, na Virgínia
do Oeste, na Carolina do Norte e no Tennessee. 13
Exempla cantemparânea
Peter Wagner cita Rick Warren: "Quando Rick estava terminando seu mestra
do no Southwestern Baptist Theological Seminary, ele orou: 'Irei a qualquer
lugar que tu me enviares, Senhor, mas permita que eu passe minha vida toda
nesse lugar, seja ele qual for"' . 14 Rick fundou a Igreja de Saddleback, cujo
primeiro culto público foi celebrado na Páscoa de 1980, e ali ele continua
até hoje. Outra razão pela qual Rick é um bom exemplo se deve ao fato de
que Saddleback sempre foi uma igreja prolífica na plantação de outras. Na
edição de 16 de fevereiro de 2004 da revista Forbes, o editor Rich Karlgaard
escreveu: "Saddleback deu origem a[tantas] igrejas-filha por todo o país[...]
se fosse um negócio, Saddleback seria comparada à Dell, ao Google ou ao
Starbucks".
Darrin Patrick, da TheJourney[A Jornada], em Saint Louis, no Missouri,
é outro bom exemplo de pastor-fundador com um compromisso vitalício com
a igreja que plantou. Ele sempre demonstrou disposição para iniciar novos
ministérios, desde a época em que estava no ensino médio e depois nos anos
da universidade. Ele ficou incomodado ao saber que amigos, desde atletas a
artistas, não tinham vínculo algum com uma igreja local.
Ele decidiu cursar o Midwestern Baptist Theological Seminary para
participar da equipe de plantação de igrejas, em que serviu durante seis
anos como pastor de jovens. Há poucos anos, ele plantou a The Journey.
Seu desejo e visão são de permanecer ali pelo restante da vida, investindo a
vida não só nessa igreja, mas também no centro de plantação de igrejas, um
possível desdobramento da The Journey, que está se tornando rapidamente
uma referência importante para outros plantadores. Em seu segundo ano de
existência, The Journey passou a mentorear novos plantadores de igrejas.
Depois de apenas três anos de existência, e com uma frequência acima de
850 pessoas, TheJourney, sob a liderança de Darrin Patrick, estava ajudando
cinco plantadores locais provendo-lhes fundos, capacitação e pessoal para
formar um núcleo de crentes. Agora ele está envolvido numa escala geográ
fica maior, ajudando em plantações de igrejas por todo o centro-oeste dos
EUA e no mundo todo por meio da Missão Atos 29 (veja www.a29.org), por
meio da qual já colaborou com pelo menos quarenta plantadores de igrejas
em todo o mundo.
14 C. Peter Wagner, Church planting for a greater harvest: a comprehensive guide (Ventura:
.. ..
Plantador/Apoiador
---
+++ ...
---
............
.;..;..;.
���
Plano para
o grupo maior � Pastor plantado
---
+++
Núcleo de crentes
15
Veja www.wooddale.org.
16
Na América do Norte, o Dia do Trabalho é celebrado na primeira segunda-feira de
setembro (N. do E.)
17
Tom Correll, e-mail ao autor, 4 nov. 2005.
[!12) PLANTANDO IGREJAS MISSIONAIS
Exempla bíblica
O paralelo bíblico mais próximo do modelo do pastor plantado é o ministé
rio de Timóteo em Éfeso.19 Embora Atos não registre as origens da igreja de
Éfeso, os discípulos cresceram na fé (At 19.1-21) em virtude do ministério
de Priscila e Áquila (At 18.18,19), de Apolo (At 18.24-26) e de Paulo. Algum
tempo depois, Paulo enviou uma carta com instruções a Timóteo, que estava
se encarregando de formar uma liderança para o corpo de crentes de Éfeso:
"A Timóteo, meu verdadeiro filho na fé [ ...]. Conforme te pedi quando partia
para a Macedônia, permanece em Éfeso para advertires alguns de que não
ensinem outras doutrinas, nem se ocupem com fábulas ou genealogias inter
mináveis... " (lTm 1.2-4). Podemos concluir que outros plantaram a igreja de
Éfeso, e depois disso Deus (e Paulo) plantaram Timóteo ali como pastor.
Exempla histórica
Embora Charles H. Spurgeon seja mais conhecido por sua habilidade no púl
pito, ele era apaixonado por novas igrejas. Quando chegou à igreja New Park
18
Veja www.saintandrews-lr.org.
19Alguém talvez argumente que Tito também seja um exemplo desse paradigma, mas não é
o caso. Um exame do ministério de Tito revela uma semelhança com o ministério de Paulo. Tito
1.5 afirma: "Foi por isso que te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem o que faltava,
e que em cada cidade estabelecesses presbíteros, como já te orientei". Tito não estava confinado
a um lugar; pelo contrário, ele deveria ministrar por toda a ilha nas várias cidades. Timóteo, por
sua vez, devia se concentrar na igreja de Éfeso.
[941 PLANTANDO IGREJAS MISSIONAIS
Street Chapel, em Londres, encontrou uma igreja que definhava. Com o tem
po, cresceu e se tornou uma megaigreja. Spurgeon criou então uma escola mi
nisterial. Michael Nichols observou o impacto do envolvimento de Spurgeon
com a plantação de igrejas:
Vinte e sete igrejas foram fundadas por alunos do Pastor's College entre 1853
e 1867. Na segunda metade do século 19, o número de igrejas batistas em
Londres duplicou e quase todas elas foram fundadas, de um modo ou de outro,
sob a influência de Spurgeon. Os estudantes eram enviados a novas regiões ou
a igrejas existentes, normalmente mediante a ordem do "governador", como
os alunos chamavam Spurgeon. 20
Spurgeon se juntou a dois outros pastores londrinos, Landels, de Regent's
Park, e Brock, de Bloomsbury, para fundar a Associação Batista de Londres
com o objetivo de construir uma nova capela anualmente. Tanto Brock quan
to Landels haviam plantado suas igrejas e dado início a missões locais, mas a
visão de Spurgeon estendia-se por toda a Londres. 21
ExE!mplos contE!mporânE!os
O crescimento da tecnologia de plantação de igrejas permitiu a muitos que
não possuem dons típicos de plantação a possibilidade de plantar igrejas bem
-sucedidas. Conforme mencionado, a Wooddale Church, em Eden Prairie,
Minnesota, tem forte ênfase na plantação de igrejas. A igreja explica em seu
site: "A igreja Wooddale Church está comprometida com a plantação de novas
2
ºMichael Nicholls, "Missions, yesterday and today: Charles Haddon Spurgeon (1834-
1892), church planter", in: Tony Cupit, org., Five 'til midnight: church plantingfor A. D. 2000
and b ey ond (Atlanta: Home Mission Board, 1994), p. 94.
21Ibid., p. 94.
22
Ibid., p. 96.
MODELOS OE PLANTAÇÃO E OE PLANTADORES OE IGREJA [95]
igrejas. Nos últimos dez anos, as igrejas plantadas por meio desse ministério
alcançaram e abençoaram muitas pessoas, a maioria das quais, sem as igrejas
plantadas, jamais teria se tornado parte dessa igreja. Essas igrejas dinâmicas e
contemporâneas partilham a visão comum de ajudar as pessoas a experimentar
a bondade de Deus em sua vida".
Talvez este seja também o momento para refletirmos sobre o movimento
de igreja multilocalidades [multi-site]. Embora eu não inclua a igreja
multilocalidades na plantação de igrejas, o modelo é realmente semelhante.
E, em um número cada vez maior de casos, as denominações encaram as
igrejas multilocalidades como novas igrejas plantadas. (Recentemente, por
exemplo, fui palestrante num congresso nacional de plantação de igrejas da
Assembleia de Deus em que parte das atividades estava sob a liderança do guia
multilocal deles.) (Para mais informações sobre igrejas multilocalidades, veja
Geoff Surratt, Greg Ligon e Warren Bird, The multi-site church revolution ["A
revolução da igreja multilocalidades"], Zondervan, 2006.)
A lição aqui é que, ao procurarmos por plantadores de igrejas, nem todos
têm de ser do tipo "nasceu preparado" que talvez associemos ao trabalho. Em
vez disso, ao plantar pastores bem como igrejas, abrimos o ministério para
muitos candidatos que jamais teriam considerado a plantação de igrejas.
desafios. Isso requer, às vezes, que ele se mude para um novo projeto de plan
tação de tempos em tempos, mas esse não é o plano original!
O plantador empreendedor é mais do que um pastor irrequieto que tem
prazer em plantar, zelar pelo crescimento da igreja e seguir adiante. Às vezes,
o empreendedor não está interessado, nem disposto e/ou não é capaz de li
derar a igreja em suas fases pós-plantação. Seu plano é formar um núcleo de
crentes (ano 1), dar início ao trabalho e incorporar os novos crentes (ano 2),
alcançar os de fora da igreja (ano 3) e vivenciar um crescimento sustentável
(anos 4 e 5). Às vezes, o plantador empreendedor permanece na igreja, mas
em muitos casos inicia novos ministérios, campanhas e programas para man
ter aceso o desafio.
Alguns plantadores empreendedores não querem liderar a igreja na fase de
consolidação (de três a sete anos), por isso partem antes que essa fase comece
a lhes causar um problema concreto: segurança no trabalho. Uma vez que nem
todas as ideias funcionam, nem todos os campos estão prontos para a colheita,
há ocasiões em que o plantador empreendedor passará por dificuldades finan
ceiras. O mesmo pastor pode ter resultados diferentes em comunidades distin
tas ainda que utilize os mesmos métodos. Com isso, passará com frequência a
imagem de alguém incapaz de permanecer por muito tempo no mesmo local.
Em vez de reconhecer seu potencial para a plantação de igrejas, muitos desses
pastores passam de uma igreja estabelecida para outra.
Plantador empreendedor
3..5 anos
3-5 anos
úEJw,o.rdJ.StetN-i,2002
Princípios
• Uma equipe se desloca para plantar uma nova igreja. (Às vezes não é
necessário mudar-se para o novo local.)
• A visão da plantação da nova igreja muitas vezes vem de um membro
-chave da equipe.
• Boas equipes têm uma combinação de dons.
• Os membros da equipe podem dividir amigavelmente a igreja-mãe
em várias igrejas-filha ou integrar a equipe de liderança tradicional
(remunerada) da igreja fundada.
por meio de relacionamentos com pelo menos sessenta não cristãos. Esse foi
o trabalho de base para um início oficial que contou com mais de trezentas
pessoas no primeiro culto da igreja.
Esse é o modelo que estamos usando em Lake Ridge, mas com uma di
ferença. Na Heartland, Andy era o pastor-líder. Em Lake Ridge, não temos
um pastor-líder; trabalhamos como uma equipe de presbíteros/pastores com
diferentes áreas de responsabilidade e de liderança com base em nossos dons.
A pregação é uma responsabilidade compartilhada entre os co pastores. Nem
sempre é fácil, e eu não recomendo esse modelo para a maior parte dos jovens
plantadores, mas, no meu caso, funciona.
Base bíblica
O método de equipe tem forte base bíblica. Boa parte do ministério de Paulo
poderia também ser descrita com esse paradigma observado primeiramente
em Atos 13.2,3, em que a igreja de Antioquia enviou Paulo e Barnabé para
pregar o evangelho. Em Atos 13.5, João Marcos é descrito como auxiliar. Por
fim, João Marcos e Barnabé foram para Chipre, e Paulo partiu com Silas para
a Síria e a Cilícia (At 15.36-41). Em Atos 16.1-5, Timóteo juntou-se à equipe
de Paulo. Em Atos 18.18,19, Paulo viajou com Priscila e Áquila para Éfeso. De
acordo com o relato das Escrituras, Paulo também teve outros companheiros
de viagem (Atos 19.29). Sabemos que todas essas pessoas estavam envolvidas
em alguma forma de ministério com Paulo.
Equipe de plantadores
i ii .t·
Equipe de iguais ou
1 1
Plantador-líder
...
.........
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.........
ü Edwa,-d J, StrJLtr, 2002
1m111 PLANTANDO IGREJAS MISSIONAIS
Exempla histórica
O ministério de Columbano (monge irlandês, 521-597), em lona, é
um exemplo histórico de plantação de igrejas em equipe. De acordo
comJohn Mark Terry:
[ Columbano] fundou diversos mosteiros. [ ...] Em 563, ele reuniu doze com
panheiros monges e fundou um mosteiro novo na ilha de lona, perto do litoral
escocês. O mosteiro de lona foi a base para a evangelização dos pictos, uma
tribo do norte da Escócia. Mesmo depois da morte de Columbano, o mosteiro
de lona continuou a enviar evangelistas. Um monge ganhou para Cristo um
príncipe chamado Oswald. Quando Oswald regressou à Nortúmbria, pediu
ao mosteiro que enviasse um missionário para evangelizar seu povo. O abade
enviou Aidan, que não apenas evangelizou o povo da Nortúmbria como tam
bém fundou um novo mosteiro segundo o modelo de Iona.23
Exempla atual
Há muitos exemplos contemporâneos que respaldam o sucesso do modelo de
equipe, e boa parte da literatura atual trata da plantação de igrejas urbanas. 24
James E. Westgate dividiu a estratégia da equipe urbana em duas categorias:
modelo oriental e modelo ocidental.
O modelo oriental mostra a conscientização da necessidade de desenvol
ver uma minicomunidade no meio de uma sociedade urbana sob pressão de
todos os lados. Em vez de enviar um único casal que terá de enfrentar as difi
culdades e os ajustes da complexa cultura urbana, o modelo disponibiliza uma
2 (1985): 33-9; Ben A. Sawatsky, "A church planting strategy for world class cities", Urban
Mission 3 (1985): 7-19; Roger S. Greenway, "The 'team' approach to urban church planting",
Urban Mission 4 (1987): 3-5.
MODELOS DE PLANTAÇÃO E DE PL/\NTIIODRES DE IGREJA 1m11
5J ames E. Westgate, "Church planting strategies for world-class cities", in: Harvie M.
2
Conn, org., Planting and growing urban churches: from dream to reality (Grand Rapids: Baker,
1997), p. 205.
26
Ibid., p. 204.
2
7Ibid., p. 205.
[ 1112] PLANTANDO IGREJAS MISSIONAIS
28Da tese de doutorado do autor, "The impact of the church planting process and other
selected factors on the attendance of Southern Baptist church plants", Southern Baptist
Theological Seminary, 2003.
M □□ELUS DE PLANTAÇÃO E □E PLANTAUURE5 □E IGREJA [ ID3]
trabalhavam em tempo integral, mas na maior parte dos casos creio que não.)
Com base nos dados e comentários, concluí que a combinação de papéis
que produz as equipes de plantação mais eficazes formadas por duas pessoas
consiste em um pastor-líder de tempo integral e em um segundo pastor de
tempo parcial com habilidades no louvor e no evangelismo.
Conclusões
Deus usa muitos tipos de pessoas e métodos para plantar igrejas. A lista acima
não pretende ser completa, mas poderá ajudá-lo a pensar em seu papel na
plantação. Talvez você não tenha explorado todas as dimensões do que signi
fica ser um plantador de igreja. Talvez você se encaixe em uma das categorias
descritas, ou talvez você se veja como uma combinação desses modelos. O
chamado de Deus e a provisão divina de dons espirituais determinarão de que
maneira cada plantador de igreja realizará a obra de fundar novas igrejas.
Leitura complementar
NEvrus, John L. Planting and development of missionary churches (Nutley:
Presbyterian and Reformed, 1958).
SANCHEZ, Daniel R.; SMITH, Ebbie C.; WATKE, Curtis E. Reproducing congre
gations: a guidebook for contextual new church development ( Cumming:
Church Starting Network, 2001).
STEFFEN, Tom. Passing the baton: church planting that empowers (La Habra:
Center for Organizational and Ministry Development, 1997).
WAGNER, C. Peter. Church planting for a greater harvest (Ventura: Regal,
1990).