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Essa religião começou a tomar a forma atual a partir de então, sendo que
tinha por base um sistema sacrificial centrado em Jerusalém e mantido por uma
casta sacerdotal hereditária até que assumiu os contornos de uma religião baseada
em interpretações da Bíblia Hebraica das mais variadas correntes de pensamento
de acordo com as interpretações criativas que surgiam, e tinha como principais
instituições a academia (yeshivah) e a sinagoga (beit knesset) (WYLEN, 2016).
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“The term ‘rabbi’ means master, probably in reference to the master-disciple relationship through
which a young student acquired knowledge and wisdom. “Rabbi” has a sense similar to that of the
term “sensei” in modern karate. One internalizes the values of one’s teacher as one learns from his
lips. The relationship between the various titles used for the early scholars is not always clear to us.
We will call them all Sages, a term which encompasses all the others”
Homens da Grande Assembléia. Estes [os Homens da Grande
Assembléia]disseram três ditos: Sejam prudentes no julgamento; formem
muitos discípulos; e ergam uma cerca para a Torá” Pirkei Avot 1:1
De fato, Lenhardt e Collint (1997, apud LOHSE, 2000) afirmam que segundo a
crença judaica da época, “a torá é preexistente; estava junto com Deus antes da
criação do mundo”. Conforme a visão de Silva (2016), a Torá Oral precede a Torá
escrita, pois antes do registro escrito, houve a palavra falada de Deus, e a Torá Oral
é capaz de atualizar a Torá Escrita. Conforme o mesmo autor:
Assim, é que, enquanto os judeus dispersos por todo o vasto império grego,
antes unificado sob Alexandre Magno, agora dividido nos reinos de seus
sucessores, gozavam de relativa boas relações com os dominadores em sua
maioria. Como exemplo, sob os Lágidas no Egito, o judaísmo estava protegido, uma
vez que não havia ali imposição do culto politeísta a todo custo, proporcionando
assim, paz, liberdade e consequente prosperidade entre os judeus helenistas.
Sobre esse pano de fundo histórico, podemos então tecer comentários sobre
a influência da literatura então produzida, consubstanciada na prática dos
ensinamentos judaicos que marcariam a mentalidade judaica no primeiro século
(TERRA e ROCHA, 2019).
Segundo Saldarini (2005), essas fontes não são suficientes para aclarar muitas
questões importantes do ponto de vista sociológico sobre este importante grupo
judaico, mas também é de parecer que correlações com o contexto social do
Império Romano e da estrutura social do período hasmoneu e herodiano, fornecem
limites e orientações para reconstrução satisfatória.
Daí, infere-se que os fariseus, no entorno do primeiro século da Era Comum, era
um dos grupos mais conhecidos, principalmente por sua forma distinta de viver o
judaísmo e por conta do seu profundo envolvimento social. Os registros na literatura
rabínica bem como os relatos no Novo Testamento apresentam vários elementos
característicos dos fariseus, enquanto que em Josefo, percebe-se que era um grupo
social bem conhecido pela forma da narrativa, que não se esforça em descrever
detalhes desnecessários para um público que já era familiar dos fariseus.
Por conta dessa instabilidade e pelo fato de os fariseus perdurarem por dois
séculos na sociedade palestina, deduz-se que estes formam um excelente exemplo
de grupo que precisou acomodar muitas mudanças internas, a fim de garantir a sua
influência social, mantendo seus privilégios, como qualquer outro grupo social o
faria, diante de mudanças políticas, sociais, culturais e econômicas.
Voltando-se para a questão religiosa, os fariseus, que, segundo Josefo eram “em
torno de seis mil” no primeiro século a.C., gozavam de grande prestígio entre o
homem comum. O nome fariseu (gr.:φαρισαιοι), provavelmente é derivado do
hebraico “”פרושים, que significa “separado”. Essa separação autoproclamada, não
dizia respeito ao isolamento da sociedade (a exemplo dos essênios), mas a uma
separação mais transcendental, envolvendo questões espirituais: seria uma
separação dos costumes helênicos e das práticas dos dominadores, que estaria
contra a Lei de Deus.
Como eram muito amalgamados no tecido social, em especial nas camadas mais
próximas do estrato básico, os fariseus desenvolviam grande influência popular,
sendo considerados pessoas “favorecidas por Deus” e, por conta de sua relativa
flexibilidade, alcançavam parcela significativa do povo, pois não dispunham de
acessos restritos e rituais de acesso elaborados, nem dependiam de pertencimento
a famílias específicas ou a elites econômicas para sua expansão e crescimento
(OCONNOR, 2017).
Segundo Eliade (2011), o judaísmo tinha como reforço contra o terror da história,
as visões apocalípticas (evidenciadas pelo profetismo e literatura apocalíptica) e isso
era tanto mais claro no senso comum, quanto mais se observava a opressão
romana, que ecoava lembranças do exílio como castigo de Deus contra o seu povo
desobediente.
Para essa mesma pesquisadora, a reação helenizante sob Antíoco Epifânio, que
se configurava em obstinação em eliminar a Torá, trouxe como reação o zelo
farisaico pela Torá. Shimon ben Laquish (apud ELIADE, 2011), asseverou “a
existência do mundo, depende de Israel aceitar a Torá; sem isso o mundo retornará
ao caos” e esse era de fato o sentimento de então incutido no povo pelo ensino dos
fariseus.
Com essa proposta, o ensino e atuação farisaica entre o povo pareceu ter
alcançado mais e mais adeptos e admiradores com o passar do tempo. Assim,
temos a diagramação dos fariseus como sendo portadores da palavra autorizativa
nas regras de fé e prática comunais.
BIBLIOGRAFIA
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SILVA, Jonas E. JESUS E SUA RELAÇÃO COM FARISEUS. Um estudo a partir das
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http://tede2.unicap.br:8080/handle/tede/392. Acesso em 9 de outubro de 2020.
TERRA, K.R.C.; ROCHA, A.S. Judaísmo enoquita: pureza, impureza e o mito dos
Vigilantes no Segundo Templo. HORIZONTE – Revista de Estudos de Teologia e
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