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Bispo Kallistos Ware – Como ler a Bíblia

Nós acreditamos que as escrituras constituem um território coerente,


divinamente inspiradas e humanamente expressadas. Elas outorgam a Deus a
revelação de Si Mesmo, na criação, na encarnação no mundo, e em toda a
história da salvação. Elas expressam a Palavra de Deus em linguagem
humana. Nós sabemos, recebemos e interpretamos as escrituras de acordo com
a Igreja e na Igreja. Nossa aproximação da Bíblia é uma forma de obediência.

Podemos distinguir na Igreja Ortodoxa quatro formas de ler as escrituras,


denominadas

-Nossa leitura deve ser obediente

-Ela deve ser eclesiástica, junto com a Igreja

-Ela deve ser centrada em Cristo

– Ela deve ser pessoal

Lendo a Bíblia com obediência.

Primeiramente, quando lemos as escrituras, devemos conservar um espírito de


obediência. A Igreja Ortodoxa acredita na Inspiração Divina da Bíblia. As
Escrituras são uma ―carta ―de Deus, onde o próprio Cristo está falando. As
Escrituras são um testemunho do próprio Deus. Elas expressam a palavra de
Deus na linguagem humana. Uma vez que de Deus está falando conosco na
Bíblia, a nossa resposta deve ser de atenção, obediência e receptividade.
Quando lemos, esperamos no Espírito.

No entanto, embora divinamente inspirada, a Bíblia é, também, humanamente


expressada. É uma verdadeira biblioteca de diversos livros escritos em
diferentes tempos por pessoas diferentes. Cada livro da Bíblia reflete o
momento em que foi escrito e a visão particular do autor. Para Deus, nada é
isolado, a graça divina colabora com a liberdade humana.

Deus não termina com a nossa liberdade, ao contrário, a aumenta e isso é


refletido na forma com que as Escrituras são redigidas. Os autores não são um
instrumento passivo, alguém meramente escrevendo um ditado, cada autor nas
escrituras reflete os seus dons pessoais. Portanto, ao longo do aspeto divino
das escrituras, há uma participação humana e devemos valorizar as duas.

Cada um dos quatro Evangelhos, por exemplo, tem o seu relato particular.
Mateus apresenta, principalmente, uma visão judaica de Cristo, com ênfase no
Reino dos Céus. Marcos contém detalhes específicos do Ministério de Cristo
não contidos em outro lugar. Lucas expressa a universalidade do amor de
Cristo, a sua compaixão que abraçava judeus e gentios. Em João, há uma
introspecção e uma visão mais mística de Cristo, com ênfase na luz e na
reencarnação divinas. Essa variedade deve ser explorada por nós ao lermos a
Bíblia.

Em razão de serem as escrituras a Palavra de Deus expressa em linguagem


humana, há um espaço para questionamentos honestos ao se ler a Bíblia.
Explorando o seu aspeto humano, enfatizamos a razão humana para os atos de
Deus. A Igreja Ortodoxa não exclui a pesquisa da origem, datas e autores da
Bíblia. No entanto, ao deparamo-nos com o elemento humano, vemos,
também, o divino, ou seja, que não são livros simples escritos por autores
comuns, nós ouvimos nas Escrituras não apenas palavras humanas, marcadas
por uma maior ou menor percepção, mas a Palavra Eterna, Não Criada de
Deus, a Palavra Divina de Salvação. Quando se lê a Bíblia, não o fazemos
apenas por curiosidade ou informação, nos perguntamos ―Como posso ser
salvo‖?

Como Palavra Divina de Deus em linguagem humana, as Escrituras devem


maravilhar-nos. Você já não sentiu o quanto elas não lhe parecem familiares?
A Bíblia é maçante? Não, continuamente devemos limpar a nossa percepção e
olhar extasiados e com novos olhos o Senhor diante de nós. Devemos sentir
expectativa e surpresa ao lermos a Bíblia, pois, certamente, ainda temos
muitos livros a explorar. Há muita majestade e profundidade a ser descoberta,
portanto a obediência implica em maravilhar-se, em prestar atenção.

Em geral, nos damos melhor falando do que ouvindo. Ouvimos o som da


nossa própria voz, mas não paramos quando outro nos fala. Portanto, o
primeiro requisito ao ler a Bíblia é parar e ouvir, e ouvir com obediência.

Quando entramos na Igreja Ortodoxa, decorada em sua maneira tradicional, e


olhamos o lado oeste do santuário vemos o ícone da Virgem Maria com suas
mãos elevadas ao céu- que é a maneira antiga de se rezar, descrita nas
Escrituras e usada até hoje. Esse ícone simboliza a nossa atitude quando
decidimos ler as Escrituras, a de receptividade, com as mãos invisivelmente
elevadas aos céus. Lendo a Bíblia, modelamo-nos como a Virgem Maria, a
que mais ouviu. Na Anunciação, ela ouviu com obediência ―seja feito
conforme a Sua vontade‖ (Lucas 1:38). Ela não poderia ter dado a luz à
Palavra de Deus se não tivesse, primeiramente, escutado a Palavra de Deus em
seu coração. Depois, foi dito que ―ela guardava todas essas coisas em seu
coração‖ (Lucas 2:19). Mais uma vez, ao encontrar Jesus no templo, Maria
―guardou todas essas coisas em seu coração‖ (Lucas 2:51). A mesma atitude
de ouvir é dita a nós em Caná, na Galileia, quando ela menciona ―façam tudo
o que Ele disser‖ (João 2:5). Em tudo isso, a Virgem Maria nos serve de
espelho, como um ícone vivo dos cristãos bíblicos. Devemos ser como Ela ao
ouvir a Palavra de Deus: ponderar, guardar todas essas coisas em nosso
coração e fazer o que Ele nos disser. Devemos ser obedientes ao que Deus
fala.

Entendendo a Bíblia através da Igreja.

Em segundo lugar, devemos receber e interpretar a Escritura através da Igreja


e na Igreja. A nossa aproximação à Bíblia não é apenas obediente, mas
também eclesiástica. É a Igreja quem nos dirá o que significa a Escritura. Um
livro não faz parte da Escritura apenas devido a alguma teoria em particular
sobre sua datação e autoria. Mesmo que pudesse ser provado, por exemplo,
que o quarto Evangelho não foi realmente escrito por João, o amado discípulo
de Cristo, isto não alteraria o fato de que a Igreja Ortodoxa aceita-o como
Sagrada Escritura. Por que? Porque o Evangelho de João é aceito pela Igreja e
na Igreja.

É a Igreja quem nos diz quais são as Escrituras e também é a Igreja quem nos
diz como elas devem ser entendidas. Falando sobre o Etíope ao ler o Velho
Testamento em sua carruagem, o Apóstolo Felipe perguntou-lhe: ―Entendes o
que lês?‖ E o etíope respondeu-lhe: ―Como eu poderia, a não ser se fosse
guiado por um homem?‖ (Atos 8:30-31). Todos nós estamos na mesma
posição do etíope. As palavras da Sagrada Escritura não são autoexplicativas,
Deus fala diretamente ao nosso coração quando lemos a Bíblia. A leitura das
Escrituras é um diálogo pessoal entre cada um de nós e Cristo, mas
precisamos de um guia, e o nosso guia é a Igreja. Podemos usar o nosso
entendimento em plenitude, assistidos pelo Espírito Santo, podemos usar os
achados de nossas pesquisas Bíblicas modernas, mas sempre submetemos a
nossa opinião privada, seja a individual ou de nossos alunos, à total
experiência da Igreja em todos estes séculos.

A opinião da Igreja Ortodoxa aqui se resume à questão utilizada pelos recém-


convertidos nos serviços introdutórios da Igreja Ortodoxa Russa: ―Você
reconhece que a Sagrada Escritura deve ser aceita e interpretada de acordo
com a nossa crença herdada de nossos Santos Patriarcas, a qual a Santa Igreja
Ortodoxa, nossa Mãe, sempre guardou e ainda guarda?‖

Lemos a Bíblia pessoalmente, mas não como indivíduos isolados, mas sim
como membros de uma família, a família da Igreja Católica Ortodoxa.
Quando a lemos não podemos dizer ―eu,‖ mas sim ―nós,‖ lemos em comunhão
com outros membros do Corpo de Cristo, em todas as partes do mundo e em
todas as gerações temporais. O teste decisivo e criterioso para o nosso
entendimento do que é a Sagrada Escritura é o pensamento da Igreja. A Bíblia
é o livro de nossa Igreja.

Por onde começarmos para descobrir qual é o pensamento da Igreja? Nosso


primeiro passo é observar como a Escritura é usada em seus trabalhos, como
as lições Bíblicas são particularmente escolhidas para serem lidas em
diferentes festividades. Igualmente devemos consultar as anotações de nossos
Patriarcas e ponderar como eles interpretaram a Bíblia, porque a maneira
Ortodoxa da leitura Bíblica é, igualmente, litúrgica e patriarcal. E isto, como
podemos perceber na prática, não é fácil de ser feito, porque dispomos de
poucos comentários Ortodoxos das Escrituras em português, e a maior parte
não engloba a visão patriarcal.

Como um exemplo do que significa interpretar as Escrituras liturgicamente,


guiados pelas que são usadas em nossas festividades, podemos procurar no
Velho Testamento pelas lições apontadas para a Festa da Anunciação, que são
três: Gênesis 28:10-17, relatando o sonho de Jacó com a escada que ia da
Terra ao Céu, Ezequiel 43:27—44:4, relatando a visão do Profeta sobre o
Santuário de Jerusalém, com a porta fechada onde ninguém, com exceção do
príncipe poderia passar e Provérbios 9:1-1, uma das mais sábias passagens do
Antigo Testamento que diz ―-A Sabedoria construiu a sua casa.‖ Estes textos
do Antigo Testamento portanto, uma vez selecionados para a Festividade da
Anunciação, devem ser entendidos como profecias sobre a Encanação da
Virgem Maria, que é descendente de Jacó, e supriu a forma carnal da entrada
de Deus em nosso mundo humano. Maria é o portão fechado pelo qual pariu
uma criança e permaneceu inviolada. Maria forneceu a casa na qual a nossa
visão cristã de Deus (1 Cor 1:24) baseia-se. Explorando dessa forma a escolha
das lições Bíblicas para as diferentes festividades, descobrimos camadas de
interpretação Bíblica não evidenciadas em uma primeira leitura.

Tomando outro exemplo, no Sábado de Aleluia, a primeira parte da antiga


Vigília Pascal tem quinze lições no Antigo Testamento, que iniciam-se para
nós como um esquema inteiro da História Sagrada enquanto, ao mesmo
tempo, subentendem uma maneira mais profunda de encarar a Ressurreição de
Cristo. A primeira lição é Gênesis 1:1-13, a descrição da Criação: a
Ressurreição de Cristo é uma nova Criação. A quarta lição, integralmente no
livro de Jonas, descrevendo a permanência do Profeta por três dias no interior
de uma baleia sugere, mesmo que por uma sombra, a Ressurreição de Cristo
em sua tumba após três dias (conforme Mateus 12:40). A sexta lição nos
lembra a passagem dos israelitas pelo Mar Vermelho (Êxodo 13:20-15:19),
que nos antecipa a nova passagem da morte para a vida (conforme Coríntios
5:7; 10:1-4). A lição final é a história dos três jovens no caldeirão (Daniel 3),
mais um tipo de profecia do renascimento de Cristo de sua tumba.
Este é o efeito eclesiástico da Escritura, na Igreja e com a Igreja. Ao
estudarmos liturgicamente o Antigo Testamento com a ajuda de nossos
Patriarcas, podemos encontrar em todos os sinais apontando para o Mistério
de Cristo e de sua Santa Mãe. Lendo o Novo Testamento à luz do Antigo, e o
Antigo à luz do Novo, como nos encoraja a Santa Igreja, descobrimos a
unidade do Espírito Santo. Uma das melhores maneiras de identificar as
correspondências entre o Antigo e o Novo testamento é usar uma boa
concordância Bíblica, que pode nos dizer um pouco mais sobre o significado
das Escrituras e seus comentários.

Em estudos bíblicos em grupo, é interessante encarregar uma pessoa de anotar


quais as passagens do Antigo Testamento usada para uma festividade em
particular, para que as razões para isso possam ser discutidas, tendo como
base a palavra dos patriarcas, como, por exemplo, as homilias de São
Crisóstomo, que fora traduzidas em inglês. Os cristãos sempre devem persistir
na mente encontrar a Cristo quer onde procurem.

Cristo, o Coração da Bíblia.

O terceiro elemento em nossa leitura bíblica é que Cristo deve ser o seu
centro, por isso ela é coerente. A salvação através do Messias é o tópico
central e unificador. Ele é uma ameaça que corre através de toda a escritura,
da primeira à ultima frase (já mencionamos como Cristo pode ser visto nas
sombras do Antigo Testamento, de modo profético).

Muitos críticos ocidentais modernos da Escritura adotaram um modo de ver


analítico, quebrando cada livro de acordo com as suas fontes diferentes, não
revelando as conexões entre elas, reduzindo a Bíblia a um amontoado de
ideias primárias. Há um certo valor nisso, mas devemos ver a unidade acima
da diversidade da Escritura, o seu fim que engloba toda a Escritura e seus
inícios confusos. A Ortodoxia prefere sintetizar o todo do que promover uma
abordagem analítica, vendo as escrituras como um todo integrado, assinado
um papel particular ao método ―tipológico‖ de interpretação, onde ―tipos‖ de
Cristo, sinais e símbolos de seu trabalho são discernidos ao longo de todo o
Antigo Testamento. Um notável exemplo é Melquisedeque, o rei-sagrado de
de Salém, que ofereceu pão e vinho a Abraão, (Gênesis 14;18), visto como um
tipo de Cristo não apenas pelos Patriarcas, mas também pelo Novo
Testamento (Hebreus 5:6;7:1). Outra circunstância é quando a velha passagem
é substituída pela nova: a libertação de Israel pelo Faraó no Mar Vermelho
antecipa a nossa libertação do pecado através da morte e ressurreição do
Salvador. Este é o método de interpretação aplicado em toda a Bíblia.

Por que, por exemplo, a segunda parte do Levítico e as leituras de Gênesis no


Antigo Testamento são dominadas pela figura de José? Por que lemos o Livro
de Job durante a Semana Santa? Porque José e Job são sofredores inocentes,
como ―sombras ―de Jesus Cristo, cujo sofrimento inocente na Cruz é motivo
de celebração. Tudo se encaixa.

Um cristão Bíblico é aquele que encontra a Cristo em qualquer lugar em que


lê, nas Escrituras.

A Bíblia como Pessoal.

Nas palavras de um dos primeiros ascetas do Ocidente Cristão, o Monge


Marcos diz: ―aquele que é humilde de pensamento e se engaja em um trabalho
espiritual ao ler a Sagrada Escritura, deverá ter tudo aplicado a ele mesmo, e
não ao seu vizinho. Como Cristãos Ortodoxos devemos ter o mais possível de
aplicação pessoal ao lermos a Sagrada Escritura, e não apenas perguntar o que
Ela significa. Devemos perguntar-nos não apenas o que Ela significa, mas o
que Ela significa para mim. A Escritura é um diálogo entre o Salvador e eu, é
Cristo falando comigo e me respondendo. Este é o quarto critério em nossa
leitura bíblica.

Cabe a mim ver todas as histórias da Bíblia como fazendo parte da minha
própria história. Quem é Adão? Esse nome significa ―humano,‖ homem, e a
queda de Adão relatada no Antigo testamento também tem a ver comigo. É
isso que Deus fala a Adão quando pergunta: ―quem és TU? Onde estás?‖
(Gênesis 3:9). Frequentemente perguntamos onde está Deus, mas a real
questão é que Deus nos perguntou primeiro onde estamos.

Quando, na história de Caim e Abel lemos as palavras de Deus a Caim: ―Onde


está o seu irmão Abel?‖ (Gênesis 4:9), elas estão endereçadas a cada um de
nós. Quem é Caim? Sou eu mesmo. E Deus pergunta ao Caim de cada um de
nós onde está o nosso irmão. A maneira de permanecer em Deus passa através
do amor a outras pessoas e não há outro modo. Desonrando o meu irmão, eu
substituo a imagem de Deus com a marca de Caim, e renuncio à minha
humanidade vital.

Lendo as escrituras, podemos atravessar três caminhos: Primeiro: a Escritura é


uma História Sagrada, é a história da Palavra da Criação, a história do povo
escolhido, a história do Deus encarnado na Palestina, e os trabalhos
distribuídos após o Pentecostes. O Cristianismo encontrado na Bíblia não é
uma ideologia, nem uma teoria filosófica, mas uma história de Fé.

Vamos tomar o segundo caminho: a história é apresentada na Bíblia como


pessoal, vemos a intervenção de Deus em tempos e lugares específicos, a
medida que Ele dialoga com as pessoas. Ele se dirige a cada um pelo nome.
Nós podemos salientar os chamados específicos de Deus a Abraão, Moisés e
David, de Rebeca e Ruth, de Isaías e de seus profetas e, finalmente, a da
Virgem Maria e dos apóstolos. Podemos perceber a seletividade da ação
divina na história, não um escândalo, mas uma benção. O amor de Deus é
universal, mas Ele escolhe Encanar em um ser humano em particular, em um
tempo particular e de uma Mãe em particular. Dessa forma, fica provada a
unicidade de Deus em toda a Sagrada Escritura e a sua unicidade, também
como fala a Sagrada Escritura.

O homem ama os aspetos da datação da Bíblia e a Ortodoxia tem uma intensa


devoção à Terra Santa e aos lugares exatos onde Cristo viveu e ensinou,
morreu e ressuscitou. Uma excelente maneira de aprofundar-se na Sagrada
Escritura é peregrinar a Jerusalém e à Galileia por onde Jesus andou. Ir ao
Mar Morto, sentar-se sozinho em frente às pedras, sentir-se como Cristo
sentiu-se durante os seus quarenta dias de tentação neste ambiente selvagem.
Beber da mesma fonte frente à qual ele falou à Samaritana. Ir à noite ao
Jardim de Getsémani, sentar sobre as velhas oliveiras no escuro e olhar as
luzes da cidade através do vale. Experimentar a plena realidade do cenário
histórico, e ter a experiência de voltar no tempo em sua leitura Bíblica.

Aqui estamos prontos para o terceiro passo. Revendo a História Bíblica em


suas particularidades, a aplicamos diretamente em nossas vidas, quando
dizemos ―estes lugares não estão distantes nem perdidos no tempo, mas fazem
parte do meu encontro pessoal com Cristo! Essas histórias incluem-me!‖

A traição, por exemplo, faz parte da vida pessoal de cada um de nós, não
somos traídos em alguma parte de nossa existência e não sabemos o que é ser
traído e, ainda mais, a memória destes acontecimentos ainda não está em
nossa alma? Portanto, lendo o relato da traição de São Pedro a Cristo e a sua
reparação após a ressurreição, podemos nos imaginar como atores na história.
Considerando o que tanto Jesus como Pedro devem experimentado no
momento imediato após a traição, entramos em seus sentimentos e fazemos
com que sejam nossos. Eu sou Pedro: nesta situação como posso ser Cristo?
Refletindo o processo de reconciliação de outra forma, vendo como Cristo
ressuscitou para um amor devotado ao Pedro restaurado e vendo como Pedro,
de seu lado, teve forças para aceitar essa restauração. Perguntamos a nós
mesmos: como reajo ao Pedro traidor e ao Cristo que perdoa? E quanto às
minhas próprias traições, estou preparado para aceitar o perdão alheio, estou
preparado para perdoar a mim mesmo? Ou sou tímido, procuro esconder-me,
e nunca estou pronto para nada, seja bom ou ruim? Como os nossos Patriarcas
do Deserto disseram: ―É melhor que alguém tenha pecado e se arrependido e
se arrependido do que uma pessoa que não tenha pecado e se ache justa.‖

Já não ganhamos a constância de Nossa Senhora Madalena, sua constância e


lealdade, quando ela anunciou a falta do corpo de Cristo na tumba? (João
20:1). Eu ouvi o Salvador chamar-me pelo nome, como Ele a chamou, e
respondi Rabôni (Mestre) com sua simplicidade e plenitude? (João 20:16).

Lendo a Escritura desta forma, — na obediência, como um membro da Igreja


de Cristo, encontrando Cristo em todos os lugares, vendo tudo como parte de
sua história pessoal, podemos experimentar um pouco da profundidade
encontrada na Bíblia. No entanto, devemos sempre imaginar que a nossa
exploração Bíblica está apenas no começo. Somos como alguém timidamente
atravessando o oceano em um bote.

―A Sua Palavra é como um facho que ilumina meus passos e luz no meu
caminho‖ (Salmo 118[119]: 105).

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