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Cada um dos quatro Evangelhos, por exemplo, tem o seu relato particular.
Mateus apresenta, principalmente, uma visão judaica de Cristo, com ênfase no
Reino dos Céus. Marcos contém detalhes específicos do Ministério de Cristo
não contidos em outro lugar. Lucas expressa a universalidade do amor de
Cristo, a sua compaixão que abraçava judeus e gentios. Em João, há uma
introspecção e uma visão mais mística de Cristo, com ênfase na luz e na
reencarnação divinas. Essa variedade deve ser explorada por nós ao lermos a
Bíblia.
É a Igreja quem nos diz quais são as Escrituras e também é a Igreja quem nos
diz como elas devem ser entendidas. Falando sobre o Etíope ao ler o Velho
Testamento em sua carruagem, o Apóstolo Felipe perguntou-lhe: ―Entendes o
que lês?‖ E o etíope respondeu-lhe: ―Como eu poderia, a não ser se fosse
guiado por um homem?‖ (Atos 8:30-31). Todos nós estamos na mesma
posição do etíope. As palavras da Sagrada Escritura não são autoexplicativas,
Deus fala diretamente ao nosso coração quando lemos a Bíblia. A leitura das
Escrituras é um diálogo pessoal entre cada um de nós e Cristo, mas
precisamos de um guia, e o nosso guia é a Igreja. Podemos usar o nosso
entendimento em plenitude, assistidos pelo Espírito Santo, podemos usar os
achados de nossas pesquisas Bíblicas modernas, mas sempre submetemos a
nossa opinião privada, seja a individual ou de nossos alunos, à total
experiência da Igreja em todos estes séculos.
Lemos a Bíblia pessoalmente, mas não como indivíduos isolados, mas sim
como membros de uma família, a família da Igreja Católica Ortodoxa.
Quando a lemos não podemos dizer ―eu,‖ mas sim ―nós,‖ lemos em comunhão
com outros membros do Corpo de Cristo, em todas as partes do mundo e em
todas as gerações temporais. O teste decisivo e criterioso para o nosso
entendimento do que é a Sagrada Escritura é o pensamento da Igreja. A Bíblia
é o livro de nossa Igreja.
O terceiro elemento em nossa leitura bíblica é que Cristo deve ser o seu
centro, por isso ela é coerente. A salvação através do Messias é o tópico
central e unificador. Ele é uma ameaça que corre através de toda a escritura,
da primeira à ultima frase (já mencionamos como Cristo pode ser visto nas
sombras do Antigo Testamento, de modo profético).
Cabe a mim ver todas as histórias da Bíblia como fazendo parte da minha
própria história. Quem é Adão? Esse nome significa ―humano,‖ homem, e a
queda de Adão relatada no Antigo testamento também tem a ver comigo. É
isso que Deus fala a Adão quando pergunta: ―quem és TU? Onde estás?‖
(Gênesis 3:9). Frequentemente perguntamos onde está Deus, mas a real
questão é que Deus nos perguntou primeiro onde estamos.
A traição, por exemplo, faz parte da vida pessoal de cada um de nós, não
somos traídos em alguma parte de nossa existência e não sabemos o que é ser
traído e, ainda mais, a memória destes acontecimentos ainda não está em
nossa alma? Portanto, lendo o relato da traição de São Pedro a Cristo e a sua
reparação após a ressurreição, podemos nos imaginar como atores na história.
Considerando o que tanto Jesus como Pedro devem experimentado no
momento imediato após a traição, entramos em seus sentimentos e fazemos
com que sejam nossos. Eu sou Pedro: nesta situação como posso ser Cristo?
Refletindo o processo de reconciliação de outra forma, vendo como Cristo
ressuscitou para um amor devotado ao Pedro restaurado e vendo como Pedro,
de seu lado, teve forças para aceitar essa restauração. Perguntamos a nós
mesmos: como reajo ao Pedro traidor e ao Cristo que perdoa? E quanto às
minhas próprias traições, estou preparado para aceitar o perdão alheio, estou
preparado para perdoar a mim mesmo? Ou sou tímido, procuro esconder-me,
e nunca estou pronto para nada, seja bom ou ruim? Como os nossos Patriarcas
do Deserto disseram: ―É melhor que alguém tenha pecado e se arrependido e
se arrependido do que uma pessoa que não tenha pecado e se ache justa.‖
―A Sua Palavra é como um facho que ilumina meus passos e luz no meu
caminho‖ (Salmo 118[119]: 105).