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JOHN STOTT
john Robert Walmsley Stott, foi um pastor e teólogo anglicano britânico, conhecido como
um dos grandes nomes mundiais evangélicos. Foi um dos principais autores do pacto de
Lausana, em 1974.
Nascimento: 27 de abril de 1921, Londres, Reino Unido
Falecimento: 27 de julho de 2011.
PARTE 1
PARTE 2
As pessoas não vão a Deus porque não querem ou não podem? A Bíblia ensina as duas
coisas, somos culpados perante Deus por escolhermos rejeitá-lo (Jo 3.19). O início da
carta de Paulo aos Romanos fala exatamente sobre isso, somos indesculpáveis pois
Deus se revela através da criação, de modo que todos temos conhecimento suficiente
mas ainda assim escolhemos o mal. Dizer que alguém não é responsável por suas ações
é diminuí-lo como ser humano. E se tentarmos contrapor nossas obras boas e ruins,
jamais alcançaremos justiça por nós mesmos diante de Deus.
Anselmo de Cantuária, téologo medieval, defendeu que a obra de Cristo na cruz foi
necessária para satisfazer a justiça e a honra de Deus, não apenas a lei. Somente o
próprio Deus poderia satisfazer isso, mas somente um homem teria o dever de fazê-lo,
daí a necessidade de reconhecermos a dupla natureza de Jesus como Deus-homem.
Outros argumentam que a expiação serviu para cumprir a ordem moral do mundo criado
por Deus, porém não é visto como ofendido pelo pecado, o que contraria a noção de
pecado como desonra a Deus. O fato é que todos esses conceitos têm traços da verdade,
porém são incompletos, pois sugerem que Deus está subordinado a algo fora e acima
dEle. A conclusão mais coerente é que Deus satisfaz a si mesmo, pois ele não pode
contradizer a si mesmo ou mentir (2Tm 2.13, Tt 1.2, Hb 6.18), Ele é verdadeiro em si
mesmo e age segundo o seu Nome (Ez 20.44, Jr 14.21).
A única solução que preserva a Justiça e o Amor de Deus é a substituição em Cristo,
pois dessa forma o homem não é condenado e o pecado não é ignorado. A carta aos
Hebreus mostra a morte de Jesus como cumprimento definitivo dos sacrifícios que o
povo de Israel fazia no Antigo Testamento. Esses sacrifícios eram parte da lei
cerimonial e representavam duas idéias: Deus como criador, cabendo ao povo dedicar a
Ele parte de seu trabalho, afirmando sua gratidão e dependência dEle, e Deus como juiz,
com a noção de que eram separados de Deus pelo pecado, sendo necessário o sacrifício
como expiação (Lv 17.11). Jesus também é apresentado como o cumprimento da Páscoa
(1Co 5.7,8). No episódio do Êxodo, Deus se mostrou ao mesmo tempo como juiz, ao
trazer a morte aos primogênitos egípcios, e como Redentor, oferecendo a redenção do
povo através do sacrifício de um cordeiro. A partir daí ele confirmou sua aliança com
Israel, através da apropriação de cada um através do sangue.
Se Jesus foi o nosso substituto, isso significa que ele tomou o nosso lugar e nossa pena
foi transferida a ele. Alguns estudiosos ensinam que ele sofreu apenas a consequência
natural do nosso pecado, mas a Bíblia deixa claro que ele sofreu o juízo que
merecíamos, ele levou sobre si os nossos pecados (Gl 3.14, 2Co 5.21). Porém, por
muitos anos a Igreja passou por discussões a respeito da natureza de Jesus. Se
afirmarmos que ele era apenas homem, assumimos que ele interviu no plano de Deus e
o convenceu a nos perdoar, ou que Deus castigou um inocente em nosso lugar, contra a
sua vontade. Se dissermos que era apenas Deus, isso negaria a encarnação em Cristo,
separaria a pessoa do Pai e do Filho e implicaria no fato de que Deus tivesse morrido, o
que de fato não seria possível. Somente alguém que fosse totalmente Deus e
totalmente homem poderia satisfazer totalmente a exigência do Amor e Justiça de
Deus, e a Bíblia deixa claro que Jesus Cristo era as duas coisas (2Co 5.17-19, Cl 1.19-
20, 2.9). Ao compreendermos a necessidade e a importância da Cruz, temos uma visão
mais clara sobre quem é Deus e quem nós somos, através de Jesus Cristo.
ruz de Cristo”
– Parte 3
PARTE 4
A cruz também nos faz ter uma melhor auto-compreensão, sem levar aos extremos da
baixa autoestima ou do amor próprio, mas direciona nosso amor ao próximo, de modo
que tenhamos um conceito equilibrado de nós mesmos (Rm 12.3). Ao mesmo tempo
que reconhecemos que somos pecadores, somos também amados por Deus, e esse amor
deve ser demonstrado ao próximo. Na cruz, Jesus se tornou nosso substituto, se
colocando em nosso lugar, e representante, ao nos incluir em sua ação em nosso
favor. Ele pagou nossa dívida e nós partilhamos dos benefícios da sua morte, assim
morremos com Cristo para o pecado – a graça traz salvação pela fé, mas não torna
desnecessária a obediência (Rm 6).
Entendendo isso, podemos seguir o ensino de Jesus em Mc 8.42. A ilustração é de
alguém carregando sua cruz pesada e andando em direção à morte, significa a renúncia
de si mesmo, seguindo não o próprio caminho, mas o de Deus (Gl 5.24). Em suas cartas,
Paulo mostra três tipos de morte e ressureição: 1)A morte para o pecado e a vida para
Deus, que é algo inerente à conversão – aspecto legal. 2)A morte para o eu, que deve ser
praticada diariamente – aspecto moral. 3)A morte de Cristo e sua vida revelada em nós,
a medida que sofremos por ele – aspecto físico (2Co 4.9-10, 1Co 15.30-31, Rm 8.36,
2Co 4.16). Por outro lado, vemos no ensino, atitudes e na missão de Jesus a afirmação
do valor ser humano, resultado da Criação (temos a imagem de Deus), Queda (somos
maus e culpados perante Ele) e Redenção (somos justificados e feitos filhos de Deus).
Cristo restaura a imagem de Deus em nós e vence a nossa natureza pecaminosa.
Jesus nos chama a um amor auto sacrificial, que leva ao sacrifício, serviço e sofrimento,
em contraste com o padrão natural do homem, que busca ambição, poder e conforto (Mc
10.35-45). Esse amor é traduzido em atitudes nas três esferas de serviço: o lar, a igreja e
o mundo. Em relação ao evangelismo, a encarnação de Cristo é o exemplo de
superação das barreiras culturais, sociais e relacionais que podemos enfrentar,
pois Ele deixou sua glória e veio viver entre nós. Seu sacrifício é o exemplo de que
devemos estar dispostos a dar a própria vida em favor de outros. Ao mesmo tempo
devemos exercer a Ação Social a curto prazo e a Justiça Social a longo prazo, para
impactar de forma positiva o mundo, expressando ao mesmo tempo o Amor e a Justiça
de Deus.
Além do amor, temos que buscar a paz com os outros, enquanto for possível (1Pe 3.11),
pois a paz demonstra o caráter de Deus em nós (Mt 5.9). Também devemos buscar a paz
com os inimigos, o que certamente será custoso, pois requer humildade e compreensão
(Cl 1.20). Porém a verdadeira paz inclui também a disciplina e repreensão quando
necessário, com o objetivo de restaurar (Mt 18.15-17, Gl 6.1-2, 1Tm 1.20, 1Co 5.5). Da
mesma forma, Deus nos disciplina como filhos (Hb 12.5-8, Ef 3.14-15). A atitude cristã
para com o mal não deve ser de mera tolerância, mas em Romanos 12 e 13 vemos que
devemos odiar o mal, discernindo-o moralmente (12.9); não revidar ou vingar-se, mas
ter paz com todos (12.17-19); vencer o mal com o bem (12.14,20-21); e saber que o mal
precisa ser punido por Deus, também por intermédio do estado (13.4).
Lutero e Calvino, embora de formas diferentes, defendiam a diferença clara entre
as funções da Igreja e do Estado. Porém não há no seu ensino a separação da vida
pública e particular do indivíduo, mas o cristão na verdade se relaciona com as
duas instituições. O estado exerce a autoridade e o dever dado por Deus (Rm 13.1-6),
com o propósito de promover o bem e restringir o mal (1Pe 2.14) por meio da coerção –
não a violência, mas o uso da força debaixo de controle e princípios. Nós, cidadãos,
temos o dever de respeitar a autoridades, cumprindo as leis (1Pe 2.13) e orando por eles
(1Tm 2.1-2). Porém há limites quando a autoridade do estado é usada de forma errada,
promovendo o mal. Nesse caso, cabe a nós questionar, protestar e, se preciso,
desobedecer para não abrir mão da verdade, como fez Daniel.
A cruz também é nosso exemplo de como encarar o problema do sofrimento, tema de
grande discussão em toda a história da Igreja. O sofrimento pode ter várias causas, que
incluem a ação de Satanás (Jó 1 e 2, , 2Co 12.7), o pecado humano (nem sempre, como
demonstrado no livro de Jó), a sensibilidade natural que temos à dor (um sinal de aviso
importante para a nossa sobrevivência) e o ambiente em que vivemos, sujeitos a
desastres e catástrofes naturais. Algumas correntes filosóficas interpretaram o
sofrimento como sendo sem sentido e propósito, como os estóicos, que afirmavam a
submissão do homem às leis da natureza, e os epicureus, que buscava no prazer próprio
um escape do mundo imprevisível.
Jesus, porém, apresenta o sofrimento como forma de glorificar a Deus e
manifestar suas obras. mostrando seis realidades fundamentais: Perseverança
Paciente: o exemplo de perseverar e não revidar (Hb 12.1-3, 1Pe 2.18-23). Santidade
Madura: O sofrimento leva ao aperfeiçoamento (Hb 2.10, 5.8-9, 7.28). Serviço
Sofredor: o serviço e o sofrimento andam juntos, tanto para Cristo como para a Igreja
(At 13.47, Jo 12.23-33. Esperança da Glória: o sofrimento é inevitável para o cristão,
mas a glória futura será maior do que toda dor (Rm 8.18, Hb 12.2). O fundamento da
Fé: é racional confiar em Deus, pois ele é soberano, e demonstrou seu amor de forma
definitiva na cruz. A Dor de Deus: mesmo considerando o antropomorfismo
(comparação com sentimentos humanos) presente no Antigo Testamento ao retratar as
emoções de Deus, não podemos nega-las, mas sim diferenciar o sentimento de Deus,
movido por interesse infinito, do sofrimento humano, imperfeito e instável.
Após a compreensão da realidade da cruz, vemos que ela é o fundamento da nossa
justificação, pelo qual Deus nos salvou do nosso estado natural de pecado, (Gl 1.4,
3.13), o meio da nossa santificação, que nos faz crucificar a carne e caminhar com
Cristo (Gl 2.20, 5.24, 6.14), o assunto do nosso testemunho, que deve demonstrar o
amor de Deus ao mundo (Gl 3.1, 5.11, 6.12), e o objeto da nossa glória, que não deve
estar focada em nós mesmos, mas na esperança que temos em sua salvação. (Gl 6.14). A
cruz deve ser o centro de nossas vidas, tendo o Evangelho como a lente através da
qual enxergamos o mundo e a nós mesmos. Que o Senhor esteja renovando a cada dia
em nós o seu Amor e sua Justiça demonstrados na cruz, e sejam demonstrados também
por cada um de nós, para que Deus seja glorificado e o mundo seja impactado.