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Artigo

As Sete Igrejas de Apocalipse: Pérgamo


Chris Donato
05 de Março de 2015 ­ Estudos Bíblicos

O famoso e falecido literato norte­americano, John Updike, certa vez escreveu: “Sexo é como dinheiro – só
é suficiente em excesso”. Mas os norte­americanos modernos não são o único povo obcecado com sexo;
ele tem possuído as mentes dos homens por milênios (como várias pinturas rupestres deixam claro).

O mesmo pode ser dito da terceira igreja abordada no Apocalipse de São João. Pérgamo era como a
Brasília da Ásia. Era a sede do governo Romano na província e o centro da adoração imperial. Foi a
primeira cidade a erigir um templo ao césar Augusto (assim como a Zeus e ao deus­serpente Esculápio). E,
assim como certos setores da igreja hoje, as pessoas na igreja em Pérgamo haviam sucumbido à idolatria e
estavam obcecadas por sexo (o que, com frequência, vem lado a lado).

Nem tudo ia mal, contudo. João prefacia a carta do Messias ressurreto e rei desse modo: “Estas coisas diz
aquele que tem a espada afiada de dois gumes” (Apocalipse 2.12), o que se refere às palavras verdadeiras
de Cristo que condenam todos aqueles que negam a verdade. Há uma guerra pela verdade ocorrendo em
Apocalipse a qual, com freqüência, é travada com palavras – o que não é de surpreender, uma vez que a
Palavra lidera essa batalha.

Cristo elogia a igreja em Pérgamo por sua fidelidade – mesmo diante do aparentemente incomum incidente
de violência física contra certo Antipas, acerca de quem nada mais se sabe. Ele recebe a aprovação
definitiva: “minha fiel testemunha” (v. 13). O mesmo elogio é usado acerca do próprio Jesus no capítulo 1,
versículo 5. Será que Antipas também morreu como mártir nas mãos dos imperialistas?

“Conheço o lugar em que habitas”, Cristo Jesus diz, “onde está o trono de Satanás” (v. 13). Quão apropriado
é que o Senhor de todas as coisas tenha menosprezado a majestade imperial de Roma dessa maneira. O
césar, que ousava aceitar do povo os brados que o aclamavam como soter (salvador), em gratidão por
resgatar Roma das disputas internas e externas, era adorado nessa cidade. Mas há outro rei, isto é, Jesus,
e somente ele é digno do tipo de louvor que era oferecido nos templos de Augusto, Trajano ou Adriano.
Assim, o “trono de Satanás” se coloca em direta oposição ao trono celestial na grande batalha pelo senhorio
deste mundo, a qual é descrita ao longo do Apocalipse.

Essa batalha continua hoje, embora seja um pouco mais sutil; ou será mesmo? Será que nossos
monumentos presidenciais não passam dos limites? Será que as adulações de que enchemos os nossos
líderes não ultrapassam esses mesmos limites? Será que a fé que colocamos neles como salvadores não
está indo longe demais? Certamente, nós sabemos que Jesus é Senhor e que eles não são. De qualquer
modo, graças a Deus porque, embora recusar­se a adorar césar no primeiro século provavelmente
significasse a morte, recusar­se a adorar nossos líderes e seus complexos­de­messias, ao menos hoje, não
significa. Nós temos relativa liberdade, mesmo se a usamos para nos obcecarmos com ídolos e sexo, contra
o que a terceira carta de Cristo agora se volta.

Em Números 25.1­3 e 31.16, Balaão aconselha o Rei Balaque a atrair os israelitas à idolatria, incitando­os
com mulheres moabitas a participarem das festas sacrificiais pagãs. Jesus repreende essa igreja por tolerar
em seu meio aqueles que recapitulavam a tolice de Balaão – os nicolaítas (ver também 2 Pedro 2.15). O
nome de Balaão significa “ele destrói o povo”; Nicolau significa “ele conquista o povo”. É um paralelo muito
contundente.

Aparentemente, alguns cristãos confusos em Pérgamo pensavam que podiam participar das festas cultuais
pagãs, as quais eram uma parte importante da vida social e econômica naqueles dias. A imoralidade sexual
que também era tolerada em Pérgamo, se não defendida, pode ter sido metafórica, como quando o povo de
Deus se lançava à idolatria (por exemplo, Jeremias 3.7­9). Mas, conhecendo o homem, provavelmente era
também literal.
Em contraste com as festas idólatras, Jesus promete o maná, o alimento do futuro banquete de Deus. Assim
como na alusão a Balaão e Balaque, o novo êxodo nunca está fora de perspectiva: Cristo está liderando o
seu povo pelo deserto e irá proteger o seu remanescente por todo o caminho com a espada de sua boca
(Apocalipse 2.16). Portanto, aqueles que não fazem concessões aos ídolos e à imoralidade sexual
receberão uma “pedrinha branca”, a qual certifica o fato de serem eles nova criação em Cristo e os admite
na festa messiânica do reino (v. 17).

Não há dúvida hoje de que o sexo em si é um deus e também que ele não está apenas “lá fora”. Está aqui
dentro – em nossas igrejas e em nossos corações. Se havemos de ter Jesus como Senhor sobre essa área
de nossas vidas, nós devemos tomar o cuidado de não cair em um dos dois extremos. Devemos tomar
cuidado para não menosprezar a intimidade sexual, como se não fosse um dos grandes dons de Deus para
a humanidade. E, o que é mais provável nestes dias, também devemos tomar cuidado para não nos
deixarmos tornar obcecados com sexo, para não nos rendermos à obsessão de nossa cultura com ele,
como se tudo o que ele exige devesse ser obedecido, o que reduz o sexo a uma questão de direitos
humanos fundamentais ou machismo. Nós precisamos chegar ao ponto de reconhecer a ironia das palavras
de Updike: “Demais é demais”.

Tradução: Vinícius Silva Pimentel


Revisão: Vinícius Musselman Pimentel

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