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Artigo

A Importância Teológica da Historicidade de Adão


Bruce A. Ware
15 de Abril de 2013 ­ Estudos Bíblicos

A historicidade literal de Adão como o primeiro ser humano, criado por Deus, do pó da terra, é
teologicamente importante? Ou seja, alguém poderia negar a historicidade de Adão como o primeiro ser
humano criado e, ainda assim, sustentar todos os ensinos essenciais da teologia evangélica?

As respostas para estas perguntas centralizam­se em (1) se a Bíblia apresenta Adão como o primeiro ser
humano histórico e literal, (2) se há uma conexão bíblica entre o Adão histórico, em sua criação e queda, e
certas doutrinas associadas normalmente com o Adão histórico, e, (3) se isso é verdade, quais seriam estas
doutrinas e qual seria a natureza da conexão. Quero sugerir duas linhas de resposta que tencionam abordar
estas três perguntas.

Primeiramente, a historicidade de Adão como o primeiro ser humano literal é ensinada e admitida em toda a
Bíblia. A linguagem e as descrições de Adão em Gênesis 5.3­5 – número de anos que ele viveu depois do
nascimento de Sete, o fato de que ele teve outros filhos e o número total de anos que ele viveu – são
idênticos à linguagem e as descrições usadas a respeito de outros personagens históricos em Gênesis e em
outras partes da Bíblia (cf. o resto de Gn 5; Gn 11.10­26; Gn 25.7­11; 1 Cr 1­9). O cronista inicia a sua
extensa genealogia de Israel com "Adão", que dá início a toda a raça humana. Jó contrasta a sua fraqueza
diante de Deus com Adão, que encobriu a suas transgressões (Jo 31.33). Oseias compara a desobediência
de Israel com Adão, que transgrediu a aliança com Deus (Os 6.7). Lucas alicerça a genealogia de Jesus no
primeiro homem, Adão, o filho de Deus (Lc 3.38). Jesus entendeu Adão e Eva como pessoas humanas
literais, criadas por Deus e, depois, unidas no primeiro casamento de um homem com uma mulher (Mt 19.4­
6; Mc 19.6­9). As referências de Paulo a Adão como o primeiro ser humano em Romanos 5.12­18, 1
Coríntios 11.7­9. 1 Coríntios 15.21­22 e 2 Timóteo 2.13­14 são, inconfundivelmente, a respeito desta pessoa
histórica que foi criada à imagem de Deus (1 Co 11.7), antes da mulher, que procedeu dele (1 Co 11.8; 1 Tm
2.13), e que pecou, trazendo o pecado e a morte para todos os seus descendentes (Rm 5.12­18; 1 Co
15.21­22). Por último, Judas 14 se refere à pessoa histórica de Enoque, o sétimo depois de Adão, que
também seria entendido como histórico. Uma leitura atenta destes textos apoia a conclusão de que a própria
Bíblia trata, repetidas vezes e sem exceção, Adão como uma pessoa histórica literal, o primeiro humano
criado por Deus.

Em segundo lugar, a historicidade de Adão é teologicamente importante? Sim, ela é importante pela simples
razão de que a teologia conectada com Adão é teologia arraigada na história e impossível de ser explicada
sem essa história. Ou seja, há claramente uma conexão bíblica entre o Adão histórico e a teologia associada
com ele, e a conexão é tal que a teologia depende dessa história e não existiria sem ela. Ou, dizendo­o em
outras palavras, essa história gera a teologia. Como você não pode ter um filho sem uma mãe, também não
pode ter esta teologia sem a história que a traz à existência.

Considere, por exemplo, algumas áreas cruciais da teologia associadas com a historicidade verdadeira e
literal de Adão. Primeira, a criação do homem à imagem de Deus envolve a criação literal do primeiro ser
humano à imagem de Deus, o ser humano que se torna, por assim dizer, a fonte de todos os outros seres
humanos que são, igualmente, à imagem de Deus. Gênesis 5.3 faz a notável observação de que Adão, aos
130 anos de idade, "gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem, e lhe chamou Sete" (Gn
5.3). A linguagem neste versículo é, inconfundivelmente, a mesma de Gênesis 1.26. Embora a ordem das
palavras "imagem" e "semelhança" esteja invertida, parece que tudo que se diz antes a respeito de o
homem ser criado à imagem e semelhança de Deus é dito aqui, quando Sete é gerado à imagem e à
semelhança de Adão (Gn 5.3). O paralelismo desta linguagem nos leva a concluir que Sete nasceu à
imagem de Deus (o que ele realmente era, cf. Gn 9.6) somente porque nasceu à imagem e à semelhança de
Adão. Sem a conexão histórica e literal, de fato, biológica, entre Adão e Sete, o status de imagem de Deus
em relação a Sete não existiria. E, se isso era verdade quanto a Sete, é verdade também quanto a nós. Não
somente a nossa identidade biológica remonta ao Adão histórico, mas também o nosso estado como seres
criados à imagem de Deus remonta ao primeiro homem, o primeiro ser humano histórico, Adão.
Segunda, a queda do homem no pecado é um ensino teológico central fundamentado precisamente no que
aconteceu na história. Paulo resumiu o argumento nestes termos: "Visto que a morte veio por um homem,
também por um homem veio a ressurreição dos mortos. Porque, assim como em Adão todos morrem, assim
também todos serão vivificados em Cristo" (1 Co 15.21­22). Considere quatro observações: (1) Adão trouxe
a morte ao mundo (15.21a). (2) Todos os humanos que procedem de Adão estão sujeitos à morte (15.22a).
(3) A reversão do pecado e da morte de Adão acontece na realidade histórica do triunfo de Cristo por meio
de sua ressurreição dos mortos (15.21a). (4) Todos os humanos unidos a Cristo serão vivificados (15.22b). A
realidade histórica da ressurreição de Cristo, pela qual os que estão em Cristo são ressuscitados para
viverem para sempre, é correspondente, nesta passagem, à realidade histórica do pecado de Adão, que
trouxe pecado e morte para todos em Adão. A linha histórica não pode ser cortada sem eliminar a teologia
correspondente. O pecado original em Adão e a vida eterna em Cristo estão ligados intrínseca e
necessariamente à história.

Terceira, nossa teologia de gênero e sexualidade está intrinsecamente ligada à criação do primeiro casal
humano e à natureza da união conjugal designada por Deus para eles. Quando Jesus se referiu a Gênesis
2, e quando Paulo aludiu a aspectos de Gênesis 2 e 3, ambos entenderam Adão e Eva como pessoas
históricas reais que exemplificavam a união vitalícia, em uma só carne, de macho e fêmea que Deus
planejou e trouxe à existência. Por sua queda histórica, Adão e Eva apartaram­se do desígnio de Deus e
produziram distorções pecaminosas tanto das relações de gênero como da sexualidade humana. Nossa
teologia de gênero e sexualidade não é dissociada da história. Pelo contrário, o desígnio criado por Deus foi
exemplificado, inicialmente, no primeiro homem e na primeira mulher originais. E tanto Jesus como Paulo se
referiram a este desígnio trazido à existência por Deus e vivenciado realmente no Éden. De modo
semelhante, as perversões do bom desígnio de Deus estão arraigadas na rebelião histórica contra Deus e
contra seus caminhos que aconteceu na história, registrada para nós em Gênesis 3. Tanto neste como em
outros assuntos, a teologia e a história estão entretecidas de tal modo que a historicidade de Adão é
essencial à esta teologia. Esta teologia depende dessa história e não existiria sem ela.

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