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Identidade de Cristo

Precisamos recuperar a história da devoção. Quando a igreja começou


a orar? Quem inspirou a igreja a orar? O que caracteriza a devoção cristã
bíblica? Pensando nessa questão percebemos que existem dois livros no novo
testamento que ensinam isso, o Evangelho de Lucas e Atos dos Apóstolos,
ambos escritos por Lucas, no primeiro trata sobre Jesus, como centro de toda a
exposição, já em Atos vemos a igreja protagonizando com o auxílio do Espírito
Santo tudo aquilo que a palavra de Deus foi sendo anunciada, por uma igreja
que aprendeu, em primeiro lugar a orar, que foi aprendido com Jesus.
Quando pensamos sobre pessoas com vida de oração e devoção, ao
Senhor, imaginamos logo monges, pastores e padres importantes na história,
mas acho apropriado voltarmos a fonte inicial disso tudo, Jesus Cristo. E
encontramos nele o primeiro modelo de vida de oração e devoção, que não
repercutiu apenas nele, nos seus discípulos (os apóstolos), mas em toda a
história da igreja. Se oramos hoje, e da forma como deveríamos orar,
seguiremos o padrão estabelecido por Jesus e transmitido por seus apóstolos.
De todos os evangelhos o evangelho de Lucas é aquele que mais
apresenta Jesus em sua devoção e sua prática de oração. E com isso
podemos entender o que Jesus desfruta a partir dessa vida de oração e
devoção, que ele mesmo estabeleceu e ensinou com seu próprio exemplo e
vida.

Lucas 3: 21-23, 38; Lucas 4: 1-4

É um texto que caracteriza o começo do ministério de Jesus na terra,


como ele inaugura a obra de redenção, o que foi o ministério dele de salvação
para aqueles que são seus, o seu povo, como é dito nesse evangelho.
As pessoas precisam de uma voz que diga o que, e quem elas são, e
confirme sua resposta, para confirmar suas identidades diante dos outros, e é
isso que vemos na passagem de Lucas 3:21-23,
A identidade de um cristão não é garantida pelo seu discurso, podemos
dizer repetidas vezes que somos cristãos, mas não é isso que nos faz ser
cristão. Existe um outro testemunho poderoso, e este não vem de nós, e é esse
o que nós precisamos para ser quem somos.
Já parou para imaginar quando Moisés recebe a missão de Deus para
a sua vida, e tem que declarar ao povo que Deus o enviou para os libertar do
cativeiro egípcio, mas como o povo iria confiar nele? Se lermos com atenção a
passagem de Êxodo 3: 13,14, Moisés pergunta: “Quando chegar diante dos
israelitas e lhes disser: O Deus de seus antepassados m enviou a vocês, e eles
perguntarem: ‘qual o nome dele?’ o que lhes direi?”, então disse Deus a
Moisés: “Eu Sou o que Sou. É isto que dirá aos israelitas: Eu Sou me enviou a
vocês”. A pergunta de Moisés está na preocupação de saber quem lhe garante
essa identidade de autoridade para cumprir essa missão diante dos israelitas,
pois somente o seu testemunho seria insuficiente, era preciso de algo externo a
ele. E assim como foi com Moisés, veremos isso também com Jesus.
Percebam como começa o ministério de Jesus, é com o batismo, e
interessante como a cena do batismo é construída. No versículo 21, vemos que
muitos haviam sido batizados, e Jesus também. O batismo já havia ocorrido, e
Lucas acrescenta algo, que só ele percebeu, um comportamento de Jesus, e
acho necessário dar atenção aquele comportamento, que era orar. Isso é
importante para nós porque Lucas quer que seu leitor saiba quem em todos os
momentos importantes de seu ministério Jesus estava orando, ou, orava, é
uma ênfase de Lucas mostrar a devoção de Jesus em todos os momentos de
sua vida. A leitura dessa passagem também apresenta mais informações.
Apresenta que enquanto ele orava os céus se abriram, e o Espírito Santo
desceu sobre ele, a voz do Pai ecoou dos céus confirmando a todos os que
estavam presentes ali quem era Jesus, inclusive para o próprio Cristo.
É uma cena muito bonita, apresenta no evangelho a trindade, é a cena
que mostra o céu se abrindo diante do oficio de Jesus sendo realizado em
gesto de extrema obediência, Jesus está ali em obediência a Deus se
submetendo ao Batismo de João Batista, e em oração os céus se abrem,
desce o Espírito Santo como testemunha em forma de pomba, sobre um
declaração que será feita pelo Pai a respeito de Jesus, sobre quem ele é. Não
é Jesus que diz quem ele é, mas o céus se abrem para que Deus, o Pai, diga.
E o Pai não fala apenas para Jesus, Ele fala para todos os que estavam ali, e é
declarado: “Tu és o meu filho amado; em ti me agrado”.
A primeira confissão feita por Deus é que Jesus é o seu filho. Só
conseguimos entender a relevância disso quando vemos o cenário maior (sua
relação com o todo), e os detalhes importantes, que já foram comentados, que
é o mundo saber a identidade de quem é Jesus, o filho de Deus que ele se
agrada. Em todo começo, ou, recomeço Deus está presente. Todos os
começos têm uma origem, e essa é Deus. Ele cria o mundo falando, e redime o
mundo falando. E o primeiro movimento redentor de Deus, na nova criação em
Cristo Jesus, começa com a declaração divina sobre a identidade de Jesus.
Quem primeiro revela ao mundo quem é Jesus é o próprio Deus.
Chegou a hora de vemos o todo. Logo depois dessa passagem vemos
a mudança no formato de narrativa de Lucas, que deixa de ser um relato de
acontecimentos, para ser um relato de genealogia. E isso é estranho pois
normalmente as genealogias são postas logo no inicio dos livros, mas aqui
Lucas interrompe sua narrativa para mostrar ela, então o que ele quis contar
com isso? Que a partir do batismo tudo se faz novo, o batismo de Jesus
começa a nova criação, é o recomeço de toda a criação. E vale destacar que
as genealogias normalmente começam dos parentes mais antigos até os mais
novos, mas aqui está invertida. Vale reparar que com isso Lucas revela
primeiramente com o batismo, e depois vem para um relato “Jesus tinha cerca
de trinta anos de idade quando começou seu ministério. Ele era considerado
filho de José, filho de Eli, [...]”, e vemos essa genealogia regredir até o
versículo 38, onde diz: “[...] filho de Enos, filho de Seth, filho de Adão, filho de
Deus.”. Não são essas informações aleatórias e sem sentido, Lucas quer
demonstrar algo, que é mostrar que a nova criação está sendo estabelecida
com o começo do ministério de Jesus (batismo e declaração divina), e faz a
genealogia contando quem as pessoas achavam que era Jesus, fazendo dessa
forma uma conexão com Adão, o primeiro homem, conectando um filho de
Deus a outro filho de Deus. Será que Lucas então está comparando dois
homens de um lado Jesus, o homem-Deus, e do outro Adão, o primeiro
homem, nosso pai? Parece que sim.
Vemos isso claramente com o que vem depois disso, um foi tentado no
Jardim do Éden, e o outro foi tentado no deserto. Deus criou o mundo e tudo o
que existe com o seu falar, Ele criou um jardim que colocou no Éden, e nele
colocou o homem, sua criação, e fazendo isso Deus coloca o homem,
representado em Adão em um estado. O estado probatório, onde Adão estaria
sobre um teste de fidelidade a Deus. A fidelidade de Adão estava sujeita a
sustentabilidade de sua identidade, saber quem ele é, e se gloriar e render
glórias em saber quem Deus quer que ele. O estado probatório está ali para
que adão possa rejeitar, em primeiro lugar, todas as tentações que levam ele a
ser quem ele não é, e assumir a identidade que Deus atribuiu a ele, então ele
tem que aprender a viver naquele jardim confiando naquilo que Deus quer que
ele seja, e não na vontade de ser o que ele quiser ser. Existem 3 demandas em
nossas vidas, 1) Ser aquilo que os outros querem que sejamos; 2) Ser aquilo
que queremos ser; E existe uma constante briga entre as duas primeiras
demandas com uma terceira, e essa briga vem desde o Éden, quando
achamos que estamos sempre tendo que atender uma demanda de provar
algo, e esquecemos da terceira e mais importante de todas: 3) Ser aquilo que
Deus diz que somos. Sempre que partimos do pressuposto de querer ser algo,
esquecemos que já somos algo, ou seja, nos enxergamos como nada. E se
existe algo que satanás plantou desde o Éden é o questionamento de nossa
identidade, e ela faz isso nos fazendo admirar o que não somos, despertando o
desejo de ser aquilo e nunca seremos.
Jesus também esteve de baixo de um estado probatório. Diferente de
Adão que esteve em um jardim, ambiente que não era hostil ao homem, rico
em alimentos e água, ambiente de perfeita harmonia e vida, e fartura, diferente
de Jesus esteve em um deserto, ambiente hostil, sem nenhum recurso para
alimento e água, ambiente de desarmonia e morte, muito pouco. Mas, o mais
curioso é a presença da testemunha do batismo guiando Jesus para o deserto,
onde seria tentado pelo diabo, que assim como Adão, tentaria fazê-lo
questionar a palavra que determina a identidade dita por Deus sobre quem ele
era, “Se és o filho de Deus [...]”.
Quando a serpente tenta a mulher, percebemos que houve algo
anterior, Deus havia feito um pacto com Adão de como ele deveria se portar, e
Adão tinha total clareza quanto a isso, e passou isso para Eva, que não estava
presente (não existia), e sabe da existência desse pacto, porque o homem
falou para a mulher, e quando a serpente tenta Eva, apesar dela ter
conhecimento desse pacto, ela fica em dúvida, “Foi isto mesmo que Deus
disse: ‘Não comam de nenhum fruto das árvores do jardim?’ [...] Certamente
não morrerão! Deus sabe, que no dia em que dele comerem, seus olhos se
abrirão, e vocês, como deuses, serão conhecedores do bem e do mal”. O
interessante é que satanás sempre coloca em check a palavra de Deus, é
como se a força de alguém dependesse não da confiança que tem de si
mesma, mas na confiança do que Deus disse, e satanás sabe que quando
perdemos confiança na palavra de Deus, procuramos nos confirmar por nós
mesmos, e ai está a nossa derrota, nosso fracasso está em acreditamos mais
em quem nós mesmos do que no que a palavra diz quem somos.
Adão que esteve em um jardim, ambiente que não era hostil ao
homem, rico em alimentos e água, ambiente de perfeita harmonia e vida, e
fartura, não resistiu a tentação de desejar ser o que ele não era, por tanto ser
como Deus, algo impossível para ele. Jesus esteve em um deserto, ambiente
hostil, sem nenhum recurso para alimento e água, ambiente de desarmonia e
morte, muito pouco, resistiu, somente o filho de Deus pode ser tentado nesse
ambiente, e ninguém mais poderia ser tentado, porque somente aquele que
pode transformar pedra em pão, água em vinho pode fazer porque é o criador
de tudo. Quando lemos Lucas 23: 35-46, durante a crucificação vemos mais
uma vez Jesus sendo tentado da mesma forma, do começo ao fim do
ministério, seja satanás, fariseus, o povo, criminosos, seja mais quem for, vai
questionar Jesus sobre quem Deus disse que ele era.
Voltando a tentação do deserto, vemos a resposta de Jesus ao
questionamento de satanás, “Se és o filho de Deus, manda está pedra se
transformar em pão.”, Jesus respondeu: “Está escrito: ‘Nem só de pão viverá o
homem.”, complementando esse relato com o que diz em Mateus, “[...] Mas de
toda a palavra que procede da boca de Deus.”, Jesus tinha acabado de ouvir
quem ele era, e agora o discurso de Deus estava sendo colocado em check,
mas algo salvou Jesus, salvou Jesus de cair na duvida de quem ele de fato
era, e o que salvou Jesus foi a palavra de Deus, que para ele era o mais
importante, e isso era a maior confirmação que Jesus necessitava, para seguir
do começo ao fim confiando na palavra de Deus.
A oração é algo que nos coloca sensíveis para ouvir e acatar a voz de
Deus, a oração é uma resposta a palavra de Deus, e a melhor oração é aquela
que começa pela leitura bíblica, para que possamos orar a agenda de Deus,
para orarmos não o que queremos orar, mas o que precisamos orar. Quando
oramos o que queremos, oramos dizendo a Deus aquilo que queremos ser e
ter, quando lemos a palavra de Deus e depois oramos, oramos por aquilo que
precisamos ser, mas não conseguimos sozinhos. A cada momento decisivo da
vida de Jesus ele estava orando, e ao fim de cada oração algo acontecia.
Conclusão

A pergunta mais importante que devemos fazer é como desejamos


começar. Porque não podemos andar o caminho de Jesus, sem ter a
identidade de Jesus. A viagem nesse caminho é para peregrinos, povo que não
é daqui, um povo que tem sua origem em Deus, e que é determinado pela
palavra de Deus. A identidade de Cristo são para que foram marcadamente
identificados com a palavra de Deus, que não nasceram do sangue, mas foram
gerados pela palavra da verdade, porque é assim que Deus cria e recria a sua
criação, é falando. Sua palavra cria vida, cria inícios, sua palavra recria, sua
palavra recria inícios, e perdoa. Então é na palavra de Deus que devemos
começar, e nela encontramos nossa identidade.
O Espírito de Deus, que é o mesmo Espírito de Cristo, que confere
suas identidades, foi nos dado por Deus, e que passa a habitar em nós,
transmitindo vida, aplicada em nós pela obra de cristo feita na cruz, naqueles
que tem fé em Jesus e em sua palavra, e que nos faz inclinar e desejar as
coisas que são de Deus, e a ser mais como Jesus.
Por isso nos gloriamos nas provações, pois produz perseverança na
palavra de Deus, e a perseverança o caráter aprovado; e o caráter aprovado,
esperança, e a esperança não nos decepciona, porque Deus derramou seu
amor em nossos corações, transformando de pedra em carne, por meio do
Espírito Santo, sua identidade, que nos concedeu.

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