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Estudos selecionados em interpretação profética

STRAND, K. A. Interpreting the Book of Revelation: Hermeneutical Guidelines, with


Brief Introd. to Literary Analysis. 2. ed. [S.l.]: Ann Arbor Publ., 1979.
Selos e trombetas:
MAXWELL, C. M. God Cares: The Message of Revelation for You and Your Family.
algumas discussões atuais
[S.l.]: Pacific PressPub Assn, 1985. v. 2. Jon Paulien

GENERAL CONFERENCE OF THE SEVENTH-DAY ADVENTIST CHURCH. Sta-


tement on Desmond Ford Document. Ministry, out. 1980. Disponível em: <http://bit.
ly/11jOW32>. Acessado em: 10 jan. 2013.
Esboço do capítulo
1. Questões no debate atual
2. A “grandiosa estratégia” do Apocalipse
3. O historicismo e os sete selos
4. O historicismo e as sete trombetas
5. Considerações finais

200
Sinopse editorial. Em anos re-
centes, os eruditos adventistas têm
focalizado a estrutura literária do
livro de Apocalipse. Esses estudos
têm confirmado o consenso dos
pioneiros adventista de que os cum-
primentos das linhas paralelas da
profecia (por exemplo, os sete selos
e as sete trombetas), se estendem
ao longo da Era Cristã, iniciando-
se nos dias de João, e alcançando a
Segunda Vinda.
Hoje alguns estão defendendo
dois cumprimentos distintos dos
selos e trombetas (e outras porções
do Apocalipse, inclusive os períodos
de tempo). Eles veem um segundo
(primário para eles) cumprimento do
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fim dos tempos dos selos e das trombetas, comumente ligando o primeiro ao juízo A segunda divisão do Apocalipse era compreendida como abrangendo prin-
investigativo de Daniel 7. As trombetas são colocadas ou no final dos tempos pouco cipalmente os eventos ligados à própria Segunda Vinda. Embora seguido hoje
antes da Segunda Vinda, ou imediatamente depois do fim do tempo da graça. em detalhe exato por alguns, Daniel and Revelation, de Uriah Smith, continua
Neste capítulo o autor resume a evidência embutida nas introduções a es- como uma expressão desse consenso básico modelado cerca de cem anos atrás
sas séries, bem como nos modelos do santuário e das festividades refletidos no por nossos pais espirituais (SMITH, 1897).
livro. Os dados coletados endossam claramente a compreensão historicista de
que estas séries se estendem através da Era Cristã e jamais foram destinadas Novas interpretações particulares
(como séries inteiras) a encontrar um segundo cumprimento no final da era. Em anos recentes, vários adventistas do sétimo dia têm explorado a pos-
sibilidade de que a perspectiva do fim dos tempos do Apocalipse poderia
Questões no debate atual ser muito mais ampla do que os adventistas têm imaginado. Em geral, esses
intérpretes concordam com o consenso histórico concernente às igrejas (Ap
1–3) e a última metade do livro (Ap 13–22).
Consenso dos pioneiros Todavia, eles comumente defendem um futuro segundo cumprimento de
Por volta do final do século 19, preeminentes adventistas do sétimo dia certas porções de Apocalipse, inclusive seus períodos de tempo. Um importante
estudiosos da Bíblia chegaram a um consenso sobre como aplicar as várias ponto de desacordo jaz em como os selos e as trombetas (Ap 4–11) devem ser
partes do livro de Apocalipse à história da Era Cristã. compreendidos. Esses “intérpretes do fim dos tempos”1 creem que os selos e as
Eles compreenderam as cartas às sete igrejas (Ap 1–3) como sendo dirigi- trombetas (Ap 4–11) retratam acontecimentos associados ao fim dos tempos,
das inicialmente a sete igrejas do primeiro século sobre as quais João tinha um em vez de à extensão global da Era Cristã. Os selos (Ap 4–6) são geralmente
interesse supervisor. O significado destas cartas se estendia também (por repre- compreendidos como retratando aspectos do juízo investigativo que começou
202 sentação simbólica) aos sete grandes períodos da história cristã. em 1844, e as trombetas (Ap 8–11) são compreendidas como vindo em seguida 203
Os pioneiros adventistas do sétimo dia compreendiam os selos, as trom- ao fechamento da porta da graça pouco antes do retorno de Cristo. Para alguns,
betas e o capítulo 12 (Ap 4–12) como apresentando três linhas paralelas que estes são vistos como um segundo cumprimento.
abrangem toda a Era Cristã. (1) Os sete selos se dispunham em posição paralela O que tem surgido desses estudos e resultantes discussões é a percepção de
às sete igrejas como um esboço dos grandes períodos da história cristã. (2) As que os adventistas do sétimo dia não têm investido a espécie de energia criativa
sete trombetas continham primariamente os juízos divinos sobre as porções sobre os selos e trombetas que habilitaria a posição historicista, ou qualquer
ocidental e oriental do Império Romano. (3) O capítulo 12 retratava o grande outra posição, a ser declarada firmemente estabelecida. Os adventistas têm tido
conflito no Céu e seu resultado na experiência da igreja na Terra. a tendência de supor que os selos e trombetas são duas séries históricas, se es-
Os pioneiros também concordavam em que a maior parte dos aconteci- tendendo dos dias do profeta até o fim, mas não têm estabelecido este ponto de
mentos descritos nos capítulos 13–19 dizia respeito ao fim dos tempos, con- vista sobre a base de cuidadosa exegese do texto.2 Se as interpretações emergen-
duzindo até a segunda vinda de Cristo. Apocalipse 20–22, por outro lado, tes do fim dos tempos dos selos e das trombetas se demonstrarem corretas, os
era visto como se situando além da Segunda Vinda.
A corrente principal do adventismo, portanto, veio a afirmar que o livro de
Apocalipse se divide naturalmente em duas partes. A primeira cobre os grandes 1
  Eles são frequentemente rotulados como “futuristas”, mas embora esta designação seja
acontecimentos da história profética entre os dois adventos de Cristo, embora descritiva até um ponto, eles geralmente recusam qualquer aceitação do sistema dispensa-
cada série conduza ao fim. Essa abordagem interpretativa de Apocalipse 1–12, cionalista futurista de interpretação.
conhecida como historicismo, baseia-se no modelo de Daniel e do próprio Jesus 2
  Em apoio desta asserção, note o comentário de Uriah Smith sobre Apocalipse 8:7–9:21. Ses-
retratando o futuro em termos de uma série de eventos históricos que vão desde senta e dois por cento dos comentários de Smith são diretamente citados de comentaristas não
adventistas do sétimo dia. A maior parte do restante é parafraseada. Dificilmente há um exemplo
o tempo do profeta até o estabelecimento do reino eterno (ver Dn 2). em que é feita referência ao texto. A posição historicista é assumida como um dado, nunca é ar-
gumentada a partir do texto das trombetas.
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autores destas interpretações estimularam o estudo chamando a atenção para 4–7 com o capítulo 19, como sugere Strand. Encontrei, na língua original,
estas porções mais obscuras do Apocalipse. quatro grupos de ideias paralelas entre os selos e o capítulo 19, dois dos
Conquanto uma compreensão dos selos e trombetas possa não ser decisiva quais se relacionam diretamente com o assunto em questão.4
para a salvação, as realidades atuais exigem que lhes seja dada mais cuidadosa 1. Nos capítulos 4 e 5, as cenas de adoração descrevem o louvor ofereci-
atenção do que tem sido o caso no passado. Este capítulo, portanto, descreve do a Deus pela Criação e pela cruz. Contudo, cenas paralelas nos capítulos
várias realidades do livro de Apocalipse que precisam ser levadas em conta 7 e 19 descrevem o louvor a Deus por redimir o seu povo da Babilônia do
quando se trata de como os selos e as trombetas devem ser interpretados. fim dos tempos. Esta observação sugere que a melhor colocação dos capí-
tulos 4 e 5 está no início da Era Cristã.
A “grandiosa estratégia” do Apocalipse 2. Apocalipse 6:10 descreve um tempo em que Deus não está ainda julgando.
Apocalipse 19:2 vem após estar concluído o juízo. O juízo não ocorre nos capí-
tulos 4 e 5, quando os selos ainda têm de ser abertos. É óbvio que o juízo deve
Função do arranjo literário
ocorrer algum tempo entre a abertura do quinto selo (em que os mártires pedem
Uma das principais evidências citadas em defesa de uma compreensão his-
julgamento) e o pronunciamento do juízo concluído em Apocalipse 19:2.
toricista dos selos e trombetas baseia-se na observação de que o livro de Apoc-
Essas duas observações coincidem com o que se poderia esperar se a
alipse está estruturado como um “quiasma” (STRAND, 1979, p. 43-59). Uma
primeira parte do Apocalipse diz respeito a toda a Era Cristã e a última
“estrutura quiástica” ocorre quando as palavras e ideias são paralelas umas às
parte ao fim dos tempos.
outras na ordem inversa do início ao fim de um livro.
No caso de Apocalipse, o material antes de Apocalipse 15 é, no conjunto, Função do santuário em Apocalipse
confrontado no sentido inverso pelo material que vem depois do capítulo 15. Cenas introdutórias do santuário. As pesquisas mostram uma série de
204 Kenneth Strand considera a primeira (e maior) metade como estando relacio- indicações de que o próprio João compreendia os selos e as trombetas como 205
nada com toda a Era Cristã. O conteúdo do Apocalipse posterior ao capítulo 15 abrangendo o vasto alcance da história cristã em vez de somente o fim dos
diz respeito quase exclusivamente ao tempo após o fim do tempo da graça, um tempos. Por exemplo, as cenas do santuário que introduzem várias partes do
evento que ainda está no futuro. O “quiasma” e seus resultados são evidentes Apocalipse demonstram uma progressão significativa (Ap 1:12-20; 4:1–5:14;
por si mesmos quando se compara os três primeiros capítulos do Apocalipse 8:2-6; 11:19; 15:5-8; 19:1-8; 21:1–22:5).
quando os dois últimos.3 Os intérpretes do fim dos tempos, porém, têm resis- A primeira cena do santuário (1:12-20). Aqui a visão usa as imagens do
tido a esta compreensão do arranjo literário do Apocalipse, sendo que ela tem santuário para retratar a presença de Cristo entre as igrejas na Terra; no entanto,
impacto negativo sobre suas interpretações dos selos e trombetas. não é um olhar para o santuário celestial. A cena ocorre em Patmos, e os sete
Tenho procurado esclarecer a aplicabilidade do esboço de Kenneth candeeiros representam as sete igrejas. O convite explícito “sobe para aqui” para
Strand aos selos e às trombetas comparando cuidadosamente os capítulos o reino celestial vem posteriormente em Apocalipse 4:1.
A segunda cena do santuário (4:1–5:14). O foco agora muda para o san-
3
  Note os seguintes paralelos:
tuário no Céu. A maior coleção de imagens do santuário no livro se encontra
1:1 ………………. “que em breve devem acontecer” ……………… 22:6 nesta introdução aos selos. A cena contém uma completa mistura de imagens
1:3 ................ “bem-aventurados aqueles que [...] guardam” ............... 22:7 de quase todos os aspectos do ritual hebraico.
1:3 ................................. “o tempo está próximo” ................................. 22:10 No santuário israelita somente duas ocasiões tinham contato com quase
1:4 ......................................... “as sete igrejas” ........................................ 22:16
todos os aspectos do seu culto: o serviço de inauguração em cujo momento o
1:17 .................................. “o primeiro e o último” ................................. 21:6
2:7 ......................................... “árvore da vida” ......................................... 22:2
2:11 ....................................... “segunda morte” ....................................... 21:8
3:12 ...................................... “nova Jerusalém” ..................................... 21:10 4
  Para uma discussão mais completa destes grupos paralelos, veja o capítulo 11 deste vol-
ume, “Os sete selos”.
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santuário foi dedicado (cf. Êx 40) e o Dia da Expiação. A cena do santuário nos (1) Ap 1:12-20 Terra
capítulos 4–5 é a primeira visão do santuário celestial no livro. É mais bem iden-
(2) Ap 4 e 5 (Inaguração)
tificado com a inauguração ou serviço de dedicação do antigo santuário. O foco
(3) Ap 8:2-6 (Intercessão)
central é sobre as consequências da cruz, uma das quais foi o estabelecimento
(4) Ap 11:19 (Julgamento) Céu
do reinado de Cristo no santuário celestial. (5) Ap 15:5-8 (Cessação)
A descrição não é certamente uma cena de juízo como se poderia esperar se o (6) Ap 19:1-10 (Abstenção)
Dia da Expiação estivesse em vista. De fato, a linguagem explícita do juízo está to-
talmente ausente da cena.5 A única ocasião em que uma palavra grega para “julgar” (7) Ap 21:1 - 22:5 Terra
aparece na primeira metade do livro está em Apocalipse 6:10, e ali a asserção é que
Deus ainda não começou a julgar! Sendo que a cena do santuário em Apocalipse 5
precede a abertura dos selos, a evidência de que o quinto selo ocorre em um tempo
de “não julgamento” é decisiva na localização dos selos na Era Cristã em geral.
A terceira e a quarta cenas do santuário (8:2-6 e 11:19). Estas continuam no
santuário celestial. A primeira (8:2-6) apresenta uma visão explícita do primeiro
compartimento com seus serviços de intercessão. A última (11:19) retrata uma Nesta progressão, o primeiro dia explícito da cena de expiação-juízo ocorre
visão explícita do segundo compartimento no contexto de juízo (cf. 11:18). somente em 11:18-19. A primeira metade do livro focaliza inauguração e inter-
A quinta cena do santuário (15:5-8). Esta visão retoma outra vez a lin- cessão; a última metade move-se para juízo e rejeição. Isso apoia o consenso dos
guagem da inauguração (a glória enchendo o templo), mas realmente descreve pioneiros e a compreensão básica de Kenneth Strand de que o livro de Apoc-
um fechamento do santuário, sua desinauguração ou cessação do seu ministério. alipse está dividido em uma metade histórica e uma escatológica.
206 A sexta cena do santuário (19:1-10). A linguagem de trono, adoração e 207
O modelo diário/anual. Quando o livro do Apocalipse como um todo é exam-
Cordeiro é característica da segunda cena, mas todas as imagens explícitas do inado à luz do santuário, são feitas descobertas de natureza mais implícita. Partindo
santuário estão ausentes. O santuário celestial desapareceu de vista. das fontes históricas, nos tornamos familiarizados com a maneira como os serviços
A sétima cena do santuário (21:1–22:5). O foco da visão retorna à Terra, o diários e anuais do santuário eram conduzidos no primeiro século da Era Cristã.
equivalente ao capítulo 1. O Senhor Deus e o Cordeiro são o templo da Cidade Uma comparação de Apocalipse 1–8 com essas fontes sugere que esta seção de
Santa (21:22). Deus está agora com seu povo na Terra (21:3). Apocalipse reflete os serviços diários do santuário que prenunciavam a cruz.6
Estas cenas introdutórias do santuário mostram duas linhas definidas de O primeiro ato importante no serviço sacrifical diário (tāmîd) do Templo
progressão. Primeira, é chamada a atenção do leitor da Terra para o Céu, e de era que um sacerdote escolhido entrava no lugar santo e punha em ordem o
volta novamente à Terra. Segunda, ele é levado da inauguração do santuário ce- candelabro certificando-se de que cada uma das lâmpadas estava ardendo bril-
lestial para a intercessão, para o juízo, para a cessação do santuário, e finalmente hantemente e tinha um novo suprimento de azeite (cf. Ap 1:12-20). Em seguida
para sua ausência. Esta progressão é ilustrada a seguir. a este ministério a grande porta do Templo era aberta (cf. Ap 4:1). Então um
cordeiro era morto (cf. Ap 5:6), e o seu sangue derramado à base do altar do
holocausto no pátio exterior do Templo (cf. Ap 6:9). Depois do derramamento
do sangue, era oferecido incenso no altar de ouro do lugar santo (cf. Ap 8:3-4;

6
  A fonte para a descrição do sacrifício diário é o tratado Tamid da Mishnah, uma coleção de
  As palavras gregas para “juízo”, krisis, krima e krinô, são muito comuns na segunda metade do livro.
5
tradições mais antigas pertencentes às leis, tradições e práticas do judaísmo primitivo.
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Lc 1:8-10). Então, durante um intervalo no cântico (cf. Ap 8:1), eram tocadas as Páscoa. As cartas às sete igrejas são rememorativas da Páscoa, a festa primária
trombetas para indicar que o sacrifício estava concluído (cf. Ap 8:2, 6). da estação primaveril. Por exemplo, em nenhuma outra parte do Apocalipse há
Não somente a primeira parte de Apocalipse reflete todos os importantes de- tão fortes concentrações de referências à morte e ressurreição de Cristo (cf. Ap 1:5,
talhes do sacrifício diário no Templo, mas também alude a eles essencialmente na 17-18).8 O intenso escrutínio de Cristo nas igrejas nos lembra a procura por fer-
mesma ordem. Assim, o material que constitui as igrejas, selos e trombetas parece mento em cada família judaica para removê-lo pouco antes da Páscoa (Êx 12:19;
estar habilmente associado com as atividades do Templo relacionadas ao serviço 13:7). Sendo que a Páscoa é a única festividade cumprida pelo Cristo terrestre
diário (tāmîd). Os adventistas do sétimo dia compreendem esses serviços diários (1Co 5:7), é apropriado que ela estivesse associada com esta porção do livro onde
como sendo típicos da fase intercessora do ministério de Cristo iniciado no san- Ele é retratado em seu ministério às igrejas na Terra.
tuário celestial por ocasião de sua ascensão em 31 d.C. O fato de que as cenas in- Pentecostes. Como a inauguração do santuário celestial, a cena do trono
trodutórias aos selos e às trombetas estão associadas à inauguração e intercessão do de Apocalipse 4–5 está adequadamente associada ao Pentecostes. O primeiro
santuário é certamente compatível com esta descoberta. Pentecostes ocorreu durante o tempo em que a lei foi dada a Moisés no monte
É interessante, portanto, descobrir no capítulo 11 que o livro muda para a Sinai (Êx 19–20). Como o novo Moisés, Cristo recebe de Deus, por assim dizer,
linguagem explícita dos serviços anuais do Dia da Expiação. Kenneth Strand a nova Torá (Ap 5). Êxodo 19 também envolvia a inauguração de Israel como
salienta que Apocalipse 11:1-2 contém uma clara alusão ao Dia da Expiação, o povo de Deus (Êx 19:5-6; cf.Ap 5:9-10). A liturgia judaica para a festa de
que vem imediatamente depois da referência ao término das profecias de tem- Pentecostes incluía a leitura de não apenas Êxodo 19, mas também de Ezequiel
po de Daniel (Ap 10:5, 6) (STRAND, 1984, p. 317-325). Em Levítico 16 — o 1, importante base literária para Apocalipse 4–5.
grande capítulo do Dia da Expiação —, é feita expiação pelo sumo sacerdote, o Festa das Trombetas e Dia da Expiação. O soar de sete trombetas — perto
santuário, o altar e o povo. O único outro lugar nas Escrituras onde os termos do centro do livro (Ap 8–9, 11) — lembra ao leitor as sete festas mensais da lua
santuário, altar e povo estão combinados é em Apocalipse 11:1-2. Sendo que nova que culminavam na Festa das Trombetas, assinalando a transição entre
208 o Sumo Sacerdote do Novo Testamento, Jesus Cristo, não precisa de expiação, as festas da primavera e do outono. A própria Festa das Trombetas, caindo no 209
a referência comum a santuário, altar, e povo sendo medidos parece ser uma primeiro dia do sétimo mês (correspondendo à sétima trombeta) introduzia
deliberada recordação do Dia da Expiação como o dia em que estes eram avali- solenemente a hora do juízo que preparava o caminho para o Dia da Expiação
ados ou “medidos” (cf. 2Sm 8:2; Mt 7:2). Essa tênue alusão ao Dia da Expiação (cf. 11:18-19). Há uma crescente focalização sobre o conceito do juízo deste
vem pouco antes da mais explícita de Apocalipse 11:18-19. ponto em diante no livro (Ap 14:7; 16:5, 7; 17:1; 18:8, 10, 20; 19:2 etc).
Concluindo, podemos inferir que o modelo diário/anual embutido nas Festa dos Tabernáculos. A última das cinco festas básicas do sistema levítico
imagens do santuário de Apocalipse sugere que a primeira porção do livro (cf. Lv 23) era a Festa dos Tabernáculos que seguia o Dia da Expiação. A colheita
(Ap 1–10) foi escrita tendo em mente o ministério intercessório de Cristo. No havia terminado (cf. Ap 14–20). Deus estava agora “habitando” com o seu povo (cf.
capítulo 11, a imagem que se relaciona com os serviços diários é substituída Ap 21:3). As celebrações de Apocalipse do fim dos tempos estão repletas de imagens
por alusões ao ministério orientado para o juízo do Dia da Expiação. Isso é de festividades, ramos de palmeira, música, e regozijo diante do Senhor (ver Ap
o que esperaríamos se a primeira metade do livro focaliza principalmente os 7:9ss. e Ap 19:1-10, bem como Ap 21–22). As imagens principais da festa — água e
grandes acontecimentos da Era Cristã e a última metade os eventos finais desta luz — encontram seu cumprimento final em Apocalipse 22:1, 5.
era quando o juízo trará um fim ao pecado e aos pecadores. Dentro do adventismo, as festas da primavera têm sido associadas à cruz de
Festas anuais em Apocalipse. Igualmente impressionante é a evidência Cristo e sua investidura e ministério no santuário celestial. As festas do outono en-
de que o livro de Apocalipse parece estar modelado também segundo as contram seu cumprimento no tempo do fim e no juízo pré-advento e acontecimen-
festas anuais do ano judaico.7 tos que envolvem a segunda vinda de Cristo. O que tem sido ignorado é o fato de

7
  Sou grato a Richard Davidson, do Seminário Teológico Adventista do Sétimo Dia, por muitas 8
  Embora o cordeiro morto seja mencionado na próxima parte de Apocalipse (Ap 5:6), ele mor-
das analogias aqui descritas. reu antes da cena de Apocalipse 5 (Ap 5:5-6; cf. 3:21).
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que a Festa das Trombetas vem como o clímax de sete festas da lua nova (Nm 10:10) Assim, pode ser assumido que toda a cena é uma descrição do Dia da Expiação.
e forma a ponte entre as festas da primavera e do outono. Ela está, portanto, nas sete Estes argumentos certamente merecem investigação, mas não revertem o quadro
trombetas do Apocalipse em que se encontra a ponte cronológica entre as festas da mais amplo delineado brevemente acima.
primavera e do outono, entre um foco sobre a cruz e o início da Era Cristã, e um Em primeiro lugar, as analogias a Ezequiel e Daniel são informativas, mas
foco sobre o fim dos tempos em Apocalipse. não contam toda a história. João alude também a outras importantes passagens
Assim, a primeira metade de Apocalipse, baseada nos sacrifícios diários e nas do Antigo Testamento (Is 6; 1Rs 22:19-22; Êx 19). O denominador comum en-
festas da primavera, apresenta uma ênfase sobre a cruz e seus efeitos; ao passo que tre todas as cinco passagens do Antigo Testamento não é juízo, mas uma de-
a última metade do livro, baseada nos sacrifícios anuais e nas festas do outono, fo- scrição do trono de Deus. De fato, João seleciona a imagem da sala do trono de
caliza o fim. A Festa das Trombetas (o primeiro dia do sétimo mês) introduzia a Daniel 7 e Ezequiel 1–10, mas evita empregar seus aspectos de juízo.11
época do ano em que ocorria o juízo e o santuário era purificado (Ap 11:18-19). Especialmente impressionantes são as acentuadas diferenças entre Apocalipse
4–5 e Daniel 7. Em Daniel são postos uns tronos (Dn 7:9); em Apocalipse os tronos
Resumo já estão lá (Ap 4:2-4). Em Daniel muitos livros são abertos (Dn 7:10); em Apocalipse
O material acima sobre os antecedentes do santuário no Apocalipse indica que um livro está selado (Ap 5:1). Em Daniel a figura central é “o filho do homem” (Dn
o quiasma de Kenneth Strand é bem apoiado por amplas tendências que abrangem 7:13; um termo com o qual o Apocalipse certamente está familiarizado — 1:13);
o livro de Apocalipse como um todo. Estas tendências sugerem que João compreen- em Apocalipse ele é o Cordeiro (Ap 5:6; um termo mais apropriado para o serviço
dia os selos e as trombetas como cobrindo toda a dimensão da história cristã desde diário do que para o Dia da Expiação em qualquer caso).
os seus dias até o Segundo Advento (não importa quão longa João compreendia Como foi notado acima, a linguagem de juízo nas cenas de Apocalipse
que esta fosse). O principal ponto de diferença com Strand diz respeito a se o ponto 4–5 está totalmente ausente12 até 6:10, onde está claro que o juízo ainda não
central do livro é Apocalipse 11–12 ou 14–15. havia começado. Parece inconcebível que Apocalipse 4–5 pudesse ser a cena
210 Este assunto não é, porém, uma diferença essencial. O material de Apocalipse do juízo do fim dos tempos quando o juízo ainda não tem começado mesmo 211
12–14 é de transição. Seu objetivo e foco estão sobre a ira final das nações contra no tempo em que o quinto selo é aberto!
o remanescente (12:17; 13). Mas gasta muito tempo recapitulando a história que Conquanto haja algumas alusões ao santuário em Apocalipse 4–5 que po-
levaria até esse clímax, preparando o terreno para as operações finais de caracteres dem estar relacionadas ao Dia da Expiação, há muito mais que se relacionam
que têm estado funcionando na maior parte da era. Começando com o capítulo 15, com outros aspectos do santuário e seus serviços. A impressão geral dada por
o foco quase exclusivo é sobre o próprio término do tempo do fim. esta passagem não pertence a qualquer compartimento ou serviço, mas sugere
uma lista abrangente de quase todos os aspectos do antigo ministério.
O historicismo e os sete selos As séries de observações acima concernentes ao santuário na estrutura
O espaço não permite uma resposta ponto por ponto aos argumentos daque- literária do Apocalipse indicam fortemente que Apocalipse 4–5 é uma de-
les que acham que a profecia dos selos (Ap 4–8) tem em vista retratar os eventos scrição simbólica do serviço de inauguração no santuário celestial que ocor-
do fim dos tempos.9 O mais decisivo argumento bíblico para esta posição, porém, reu em 31 d.C. O que segue à cena de inauguração tem a ver com toda a Era
brota de duas observações: (1) É claro que Apocalipse 4 e 5 contém analogias a Cristão, não apenas o seu fim.
Daniel 7, Ezequiel 1–10 e Apocalipse 19. Sendo que o juízo é o tema principal des-
tas passagens paralelas, infere-se que a cena de Apocalipse 4–5 deve ser a do juízo
investigativo que se iniciou em 1844. (2) Também está claro que algumas das do Antigo Testamento (também pode se usada para outras aberturas dentro do santuário). O
imagens de Apocalipse 4–5 lembram aspectos dos rituais do Dia da Expiação.10 trono pode lembrar o propiciatório sobre a arca da aliança. As três pedras da primeira parte de
Apocalipse 4 podem ser encontradas no peitoral do sumo sacerdote, que ministrava no Dia da
Expiação. Os quatro seres viventes lembram os quatro querubins do Templo de Salomão.
11
  Escritores bíblicos posteriores frequentemente usam escritos inspirados mais antigos para um
9
  Para uma discussão da profecia dos selos, veja o capítulo 11 deste volume. propósito diferente do principal intento do escritor original.
10
  A “porta” de 4:1 pode se referir à porta entre os compartimentos do tabernáculo terrestre 12
  Em grego, as palavras são krima, krisis e krinō.
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Tentativas recentes para localizar Apocalipse 4 no primeiro compartimento do durante o tempo da graça, que evidência existe na série para indicar que a porta
santuário celestial e Apocalipse 5 no segundo compartimento são refutadas sobre da graça ainda está aberta para a humanidade?
a absoluta falta de evidência no texto para qualquer movimento do trono entre os Quando examinamos as cenas introdutórias às séries de sete visões do
dois capítulos. Os dois capítulos retratam uma simples localização visionária. Apocalipse, descobrimos que elas não somente precedem as cenas subse-
quentes, mas permanecem à vista por toda parte. Por exemplo, nas sete
O historicismo e as sete trombetas igrejas a visão introdutória precede as cartas no arranjo literário do livro,
Os argumentos para a interpretação da série de trombetas no fim dos tempos mas cada carta remete para as características de Cristo registradas nessa in-
(Ap 8–11) são um tanto mais fortes do que aqueles apresentados para a série dos trodução. Sendo que as cartas são escritas em prosa ordinária, elas proveem
selos. Afirma-se que o atirar do incensário (Ap 8:5) retrata o fim do tempo da uma clara indicação da estratégia literária do autor.
graça. Assim, a série de trombetas que se segue (8:7ss.) deve ter cumprimento Cada um dos sete selos é aberto durante a incessante atividade do Cordeiro
depois do fim da graça. Mais evidência para um cumprimento pós-fechamento na sala do trono celestial (Ap 5–6). Esta cena, começando com a inauguração
da porta da graça deve ser visto no fato de que os objetos destruídos pelas duas do santuário celestial, continua ao longo da abertura dos selos até a Segunda
primeiras trombetas — a terra, mar e árvores — não devem ser danificados até Vinda e até o tempo em que toda a criação louva a Deus (Ap 5:13).
depois que esteja completo o selamento do capítulo sete (Ap 7:1-3). A terceira A cena introdutória às sete taças (Ap 15:5-8) retrata um tabernáculo
peça de evidência para uma interpretação das trombetas pós-fechamento da vazio no Céu, o que é certamente apropriado para todo o período depois do
porta da graça é o fato de que a praga dos gafanhotos/escorpiões da quinta fechamento da porta da graça.
trombeta não tem permissão de afetar os selados, sugerindo assim um cenário Assim, cada visão introdutória provê o cenário para a atividade subsequente
depois do fechamento da porta da graça (Ap 9:4). e permanece ativa em segundo plano até a conclusão da visão. Sendo que este é
Estes argumentos, é claro, contrariam frontalmente a evidência acima de que tão claramente o caso para três das quatro séries de sete visões, o ônus da prova
212 João tinha uma preocupação pela Era Cristã como um todo na primeira metade do está sobre qualquer um que deseja argumentar que Apocalipse 8:2-6 é uma ex- 213
Apocalipse e apenas focalizou especificamente o fim dos tempos na última metade ceção. É mais provável que João pretendia que o leitor visse a intercessão no
do livro. Sob exame mais atento, porém, torna-se evidente que os argumentos para altar de ouro como estando disponível até o instante em que soa a sétima trom-
um cenário pós-fechamento da porta da graça para as trombetas baseiam-se mais beta, levando à finalização do “mistério de Deus” (Ap 10:7), isto é, à conclusão
em suposições do que na real evidência do texto bíblico. do evangelho (Rm 16:25-27; Ef 3:2-7; 6:19).
Cena introdutória do santuário: Apocalipse 8:2-6 Outras evidências do tempo da graça
A principal suposição que está por trás do primeiro argumento é que a cena O exposto acima é apoiado por abundante evidência de que a porta da graça
introdutória do santuário que retrata simbolicamente o ministério sacerdotal permanece aberta ao longo da sexta trombeta. A sexta trombeta equivale ao “seg-
de intercessão de Cristo é concluída antes do início das trombetas. Assim, o undo ai” e como tal vai claramente de Apocalipse 9:12 a 11:14. Em Apocalipse 9:13,
atirar do incensário (o final da provação humana) precede os eventos que se há uma voz “dos quatro ângulos do altar de ouro que se encontra na presença de
seguem no capítulo. Como resultado, todas as sete trombetas são compreendi- Deus”, uma clara referência ao altar de ouro de Apocalipse 8:3, 4. Isto sugere que a
das como vindo depois do fechamento da porta da graça. intercessão ainda está em andamento no tempo do soar da sexta trombeta.
A suposição de que a cena introdutória é concluída antes do início das trom- Em Apocalipse 9:20-21, aqueles que experimentam a praga da sexta trombeta
betas pode ser testada de duas maneiras. Primeira: As outras cenas introdu- não se arrependem, o que pode indicar que o arrependimento ainda é uma opção.
tórias (que precedem as sete igrejas, os sete selos e as sete taças) concluem antes Em Apocalipse 10:11, o profeta é informado de que ele deve profetizar outra
do começo de cada sétima série? Ou elas continuam permanecendo na base de vez, algo que faria pouco sentido depois do fechamento da porta da graça.
toda a sequência visionária? Segunda: Se as trombetas em grande parte ocorrem O que é mais importante, um grupo de pessoas descrito em Apocalipse
11:13 quando o “resto” ou os “restantes” (hoi loipoi — a mesma palavra aplicada
Estudos selecionados em interpretação profética Selos e trombetas

para o remanescente de Apocalipse 12:17)13 “ficaram sobremodo aterrorizadas sétima, a sexta trombeta é o exato correlativo histórico de Apocalipse 7:1-8.
e deram glória ao Deus do Céu”. Qualquer ponto da história que possamos levar É a última oportunidade para salvação pouco antes do final.
isto a ser, é claramente uma resposta apropriada ao evangelho proclamado pelo Portanto, as sete trombetas não seguem os acontecimentos de Apocalipse 7 em
primeiro anjo de Apocalipse 14:6-7 — “Temei a Deus e dai-lhe glória.”14 ordem cronológica. Em vez disso, as trombetas aproveitam a sugestão e o início, a
Assim é evidente que a porta da graça continua aberta, e a intercessão partir da visão introdutória de Apocalipse 8:2-6. O principal tema dessa visão é in-
de Apocalipse 8:3, 4 continua até o fim da sexta trombeta. As sete trombe- tercessão no altar de incenso. Este é um suplemento apropriado para a inauguração
tas como um todo não são claramente compreendidas como sendo depois do santuário celestial conforme descrito em Apocalipse 5.
do fechamento da porta da graça. O livro de Apocalipse flui naturalmente, como foi mostrado acima, desde uma
visão da cruz (Ap 1:5, 17, 18; ver 5:6, 9, 12) a uma visão da inauguração do minis-
São as trombetas sequenciais ao selamento (Ap 7)? tério de Cristo à luz da cruz (Ap 5), a uma descrição do ministério intercessório
Outro argumento para a interpretação das sete trombetas no fim dos tem- que resulta (Ap 8:3, 4), e finalmente ao juízo que precede o fim (Ap 11:18, 19). Essa
pos nota a semelhança de linguagem entre Apocalipse 7:1-3 e Apocalipse 8:7-9. ordem de acontecimentos é característica de todo o Novo Testamento.
Segundo Apocalipse 7, a terra, mar e árvores não devem ser danificados até que
esteja concluída a obra do selamento. Sendo que são estes os próprios objetos O selo de Deus (Ap 9:4)
afetados pela primeira e segunda trombetas, sugere-se que essas trombetas de- O importante argumento final para uma interpretação das trombetas no fim
vem seguir cronologicamente o selamento e, portanto, ocorre em tempos poste- dos tempos repousa sobre a observação de que a quinta trombeta não afeta aqueles
riores ao fechamento da porta da graça. que estão selados (Ap 9:4). Argumenta-se que se o selamento é o último aconteci-
Contudo, deve ser notado que Apocalipse 8:2 introduz uma nova série; conse- mento antes do fechamento da porta da graça, então os eventos da quinta trom-
quentemente, é necessário demonstrar que a série de trombetas segue cronologica- beta devem ocorrer depois do fim da graça. Esse argumento, porém, assume vários
214 mente a seção literária que a precede. Os capítulos 4 e 12 certamente retornam a um pontos que precisam ser demonstrados. Assume que o “selamento” significa exata- 215
estágio anterior da história. Por que não também o capítulo 8? mente o mesmo em ambos os contextos. Assume que o “selamento” está limitado ao
Embora seja verdade que os objetos para destruição nas primeiras duas trom- fim dos tempos. Assume que as opiniões de Ellen G. White sobre o selamento em
betas são protegidos em Apocalipse 7:1-3, eles são também protegidos na quinta Apocalipse 7:1-3 se aplicam também a Apocalipse 9:4.
trombeta (Ap 9:4). Esse fato suscita sérias interrogações sobre se a série de trombe- Se alguém aborda Apocalipse 9:4 dentro do contexto mais amplo do Novo Tes-
tas deve estar relacionada como uma sequência imediata à visão do capítulo 7. tamento, estas suposições são difíceis de suster. As palavras gregas para selamento
Ainda mais decisivo, porém, é o fato de que o mais forte paralelismo (sphragis, sphragizō) são múltiplas em significado. Por exemplo, quando um selo é
entre a primeira parte de Apocalipse 7 e as sete trombetas está em Apoc- colocado sobre um documento, mensagem, ou túmulo sua finalidade pode ser oc-
alipse 9:14, 16. Em ambas as sessões, “segurar” e “soltar” estão relacionados ultar ou confinar, demarcar, delimitar (Mt 27:66; Ap 5:1, 2, 5, 9; 6:1, 3, 5, 7, 9, 12; 8:1;
aos quatro anjos. Em ambas as seções, um povo está sendo numerado: em 10:4; 20:3; 22:10). Um significado alternativo é certificar que algo ou alguém é con-
Apocalipse 7, o povo de Deus; em Apocalipse 9, seus correlativos demonía- fiável (Jo 3:33; 6:27; Rm 15:28; 1Co 9:2). Mas quando relacionado ao povo de Deus,
cos. E são estes os dois únicos lugares em Apocalipse contendo as palavras o significado predominante de selamento é posse e aceitação por Deus (“o Senhor
enigmáticas: “Eu ouvi o número [ēkousa ton arithmon].” Se a porta da graça conhece os que lhe pertencem”) (2Tm 2:19; cf. 2Co 1:22; Ef 1:13; 4:30). Neste sen-
continua aberta ao longo da sexta trombeta e então se fecha com o soar da tido ele já era uma realidade presente no tempo de Abraão (Rm 4:11).
Se em uma determinada passagem o contexto indica que estamos antes
do fim da graça, o conceito de um povo selado deve ser compreendido no
13
  Também em deliberado contraste com os impenitentes hoi loipoi de Ap 9:20. sentido geral daqueles que pertencem a Deus em qualquer época. Assim,
14
  Em direto contraste estão aqueles de Ap 16:9 que preferem rejeitar o arrependimento e blas- não deve ser assumido que o selamento de Apocalipse 7:1-3 é necessari-
femam contra Deus em vez de dar-lhe glória. Note que a impenitência tem avançado em 16:9, 11 amente idêntico àquele de Apocalipse 9:4.
além do estágio de 9:20, 21.
Estudos selecionados em interpretação profética Selos e trombetas

Também não deve ser assumido que o selamento de Apocalipse 7:1-3 está Referências
limitado ao fim dos tempos. Apocalipse 7:1-3 não limita explicitamente o se-
lamento ao fim dos tempos; meramente focaliza o significado da obra de se-
SMITH, U. Daniel and the Revelation. Battle Creek: [S.n.], 1897.
lamento em um ambiente do fim dos tempos. Relacionado a isso existe a ob-
servação de que seja o que for que Ellen White compreendia por Apocalipse
7:1-3, ela nunca citou Apocalipse 9:4 em um contexto do fim dos tempos; assim STRAND, K. A. Interpreting the Book of Revelation. 2. ed. Naples: [Sn.], 1979.
é imprudente assumir o que ela mesma jamais declarou.

Resumo _____________. An Overlooked Old-Testament Background to Revelation 11:1. An-


Portanto, está claro que os argumentos utilizados por muitos para colocar drews University Seminaries Studies, v. 22, p. 317-325, 1984.
as trombetas em um ambiente do fim dos tempos não conduz o peso necessário
para subverter a perspectiva mais ampla delineada na primeira parte deste capí-
tulo de que as trombetas cobrem toda a Era Cristã.

Conclusões
Neste breve capítulo, combinamos várias observações textuais para demon-
strar que o profeta João tinha em mente duas grandes perspectivas quando es-
creveu suas visões. Na primeira parte do livro, ele focalizou a Era Cristã como
um todo, movendo-se do seu tempo até o fim. Na segunda metade do livro, ele
216 delineou principalmente os eventos do fim. 217
Esta percepção é análoga ao modelo de outras duas grandes passagens “apoc-
alípticas” do Novo Testamento: Mateus 24 (e suas similares, Lucas 21; Marcos 13)
e 2 Tessalonicenses 2. Cada uma dessas passagens contém uma seção que focaliza
primeiro a Era Cristã como um todo (ver Mt 24:3-14 e 2Ts 2:3-7). Essas seções
são então seguidas por atenção especial ao clímax no fim (2Ts 2:8-12; Mt 24:23-51;
especialmente os versos 27 a 31).15 Assim o livro do Apocalipse, corretamente com-
preendido, está em perfeita harmonia com a teologia e as práticas literárias do Novo
Testamento, embora sua linguagem seja muito singular.
O peso da evidência produzida neste capítulo é o reconhecimento de que o con-
senso dos pioneiros adventistas do sétimo dia sobre os selos e trombetas, embora
desfigurado por algumas inexatidões históricas e percepções exegéticas limitadas,
todavia era correto em sua percepção de que os selos e as trombetas deviam, na con-
cepção inspirada de João, abranger toda a Era Cristã e não apenas o fim desta era.

15
  Deve ser notado que esta dupla perspectiva está particularmente clara em Lucas onde os
“tempos dos gentios” (Lc 21:24) formam uma ponte entre a descrição de 70 d.C. e as realidades
gerais da Era Cristã (Lc 21:7-23) e a descrição do fim dos tempos (Lc 21:25ss.).

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