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As dez pragas do Egito

Colaboração : Lídia Pereira Gonçalves Correia e Marcellus Gonçalves Correia

As dez pragas do Egito

1. INTRODUÇÃO

Este trabalho, "As Dez Pragas do Egito", visa fazer um paralelo entre o ocorrido no livro de Êxodo e os
deuses egípcios. Tentamos fazer uma ligação entre o ocorrido nas Dez Pragas do Egito e a crença que o
povo egípcio tinha em seus deuses, incluindo a forma de adoração e quais eram seus principais deuses.

Há, na verdade, três caminhos possíveis de interpretação dos fenômenos das Dez Pragas.

A primeira despreza toda a literatura de Êxodo, encarando-a como sendo puramente um mito sem
fundamento da realidade. Este ponto de vista pode ser rapidamente posto de lado, porque imediatamente
mostra não respeitar a relevância histórica do texto bíblico.

Um segundo ponto de vista poderia ser que estas Dez Pragas foram meramente "ocorrências naturais" que
receberam interpretação teológica de Moisés. É geralmente reconhecido por estudantes crítico-liberais, que
têm adotado este ponto de vista, que as pragas foram, talvez, mais intensas que o normal, mas sem nada
de miraculoso quanto ao seu início e fim.

O terceiro ponto de vista para as Dez Pragas é que estas foram milagres individuais e mais que meras
ocorrências naturais. Joseph P. Free lista cinco aspectos únicos das pragas, os quais as colocam como
eventos miraculosos. São estes: intensidade, previsão, discriminação, ordem e propósito moral.

Intensidade - enquanto rãs, insetos, saraivas e escuridão eram conhecidas no Egito, sua intensidade estava
longe de qualquer ocorrência ordinária, ou seja, fugia à normalidade;

Previsão - o fato de Moisés predicar o momento da sua chegada e da sua partida, colocam-nas à parte de
ocorrências puramente naturais. (Ex. 8:10, 23; 9:5, 18, 29; 10:4);

Discriminação - a certeza de que as pragas não ocorreram na terra de Goshen, onde Israel estava vivendo.
(Ex. 8:22 - sem moscas; 9:4 - não houve morte no rebanho de Israel; 9:26 - sem saraiva);

Ordem - há uma severidade gradual na natureza das pragas, culminando com a morte dos
primogênitos, ou seja, foram se graduando;

Propósito Moral - as pragas não eram anomalias da natureza, mas foram designadas para ensinar
lições e preceitos morais.

2. PRINCIPAIS DEUSES DO EGITO

Apedemak Bastet Hathor Heqet Horus Khnum Maat Neith

Nekhbet Nephthys Nun Ptah Sekhmet Seth Sobek Tefnut


Thoth Rá Ísis Osíris

O fato das pragas terem sido bem ordenadas e sua seqüência demonstrar que foram planejadas e
projetadas fica óbvio que tiveram outros propósitos específicos, além de resgatar o povo de Israel.
Estes propósitos podem ser divididos em quatro áreas como seguem: os deuses do Egito; os funcionários
das religiões egípcias; o rei do Egito; o povo de Israel.

A. Os deuses do Egito - a religião egípcia é talvez, uma das mais difíceis da antigüidade para se analisar. Os
egípcios eram certamente o povo mais politeísta do povo antigo. Até hoje não se conhece com certeza o
total de deuses adorados no Egito. Os muitos deuses adquiriram uma variedade de atributos e muitas
declarações sobre eles na literatura tornam impossível descrever uma divindade específica em termos
lógicos. Esta confusão é produto de um sistema conhecido como sincretismo, no qual, um deus pode
assumir um nome e atributos de dois ou mais deuses, com o tempo esta associação pode ser ainda mais
complexa. Os egípcios não possuíam o hábito de incinerar bebês, sangrar corações humanos ou aniquilar
povos contrários às suas opiniões religiosas, entretanto, possuíam uma degradação moral e espiritual.
Quase todos os seres viventes de seu ambiente e até objetos inanimados incorporavam alguma divindade.
Consideravam sagrados leão, boi, lobo, o carneiro, o gato, o falcão, o hipopótamo, a cobra, o golfinho e
vários peixes, gafanhotos, rã e outros insetos. Adicionalmente a estes havia deuses antropomórficos, isto é,
homens na primavera da vida, como Amun, Atum e Osíris.

B. Os funcionários das religiões egípcias - os 'sábios', feiticeiros, mágicos e sacerdotes formavam uma
classe profissional importante no Egito e eram muito mais que uma parte da burocracia egípcia. Os
sacerdotes ocupavam altas posições na organização do Egito. As pragas, certamente, apontaram aos
egípcios, a inabilidade dos sacerdotes de guiá-los durante a calamidade. Os sacerdotes, o conselho e os
'sábios' do Egito não foram capazes de mudar a situação desastrosa na qual faraó e o povo do Egito se
encontravam.

C. O rei do Egito - diferente de outros governantes do Antigo Oriente Médio, o faraó egípcio não governou
apenas para os deuses, mas era considerado um dos deuses. O seu nascimento era considerado um ato
divino. Ele era contado especificamente como criança de certa divindade que possuía propriedade divina. A
sua existência física era tida como o resultado de Amon-Rá com a rainha mãe. Quanto a sua potência
divina, ele era Horus, filho de Hathor. À luz desta observação não é difícil entender porque faraó reagiu
diante do pedido inicial de Moisés e Arão (Ex 5:2). O rei como deus deveria governar sobre o povo. De fato,
os egípcios estavam associados diretamente com o rei, porque ele era divindade capaz de manter justiça,
paz e prosperidade na terra. As pragas serviram para demonstrar a impotência do faraó, tanto como
governante quanto como deus. Ele estava sujeito às mesmas frustrações e ansiedade como todos os
homens do Egito se encontravam durante o período das pragas.

D. O povo de Israel - as pragas enviadas sobre a terra do Egito serviram não somente para demonstrar a
inabilidade do rei, de seus sacerdotes e do povo que resistiam ao poder de Deus. Mas, também serviu como
uma lição visual para Israel se guardar das formas inúteis de adoração a ídolos. As pragas foram usadas
por Deus para demonstrar o Seu poderio, não apenas na redenção de Seu povo da terra do Egito, mas Sua
capacidade em cuidar deles e suprir Suas necessidades futuras.

4. AS DEZ PRAGAS

4.1. A Praga do Sangue

Há muito tempo o Egito é conhecido como a jóia do Nilo. Desde tempos remotos até a atualidade, o "pulsar"
do Egito tem sido o fluxo do Rio Nilo.

Vários documentos arqueológicos comprovam que o principal meio de transporte de todo o Egito era o Rio
Nilo. Nenhum outro país na antigüidade ou nos tempos modernos tem sido tão dependente de aquavias
como foi o Egito antigo. O comércio marítimo foi desenvolvido promovendo a exportação de muitos
produtos egípcios.

Talvez a maior contribuição do Rio Nilo para o Egito tenha sido o desenvolvimento de sua agricultura. Sua
inundação anual provia novos depósitos de material fértil e umidade necessária nos campos, além de suprir
os pastos. O Nilo também fornecia grande quantidade de peixes.

Não só havia deuses associados com Nilo, como fertilidade, bênção e felicidade eram também associadas
com a fé neste Rio. Muito da saúde da terra dependia da fé no Rio Nilo. Não só a fortuna econômica do Egito
dependia do Nilo, como também o bem estar psicológico do povo egípcio. O Nilo comandava a agricultura
do Egito, pois afetava o seu calendário, dividindo-o em três estações.
O Nilo era considerado sagrado pelos egípcios. Muitos de seus deuses eram associados direta ou
indiretamente ao Nilo e à sua produtividade. Por exemplo:

* Khnum - "guardião do Nilo";


* Hapi - "espírito do Nilo e sua essência dinâmica" - acreditavam que ele se manifestava, algumas vezes
nos crocodilos do Nilo;
* Osíris - "deus do submundo ou mundo inferior e o Rio Nilo era a sua corrente sangüínea";
* Neith - "deusa guerreira que protegia os maior peixe (lates) do Rio Nilo";
* Hathor - "era protetor dos peixes pequenos (chromis)";
* Sobek - deus-crocodilo, muito venerado no Baixo Egito, nos nomos próximos às margens do Nilo.

Aparentemente, Faraó tinha o hábito de reverenciar o Rio Nilo todas as manhãs. Em determinado dia,
encontrou Moisés que o avisou que a água do Rio Nilo poderia se transformar em sangue, caso Faraó não
deixasse ir o povo de Israel.

Diante da recusa de Faraó, o resultado foi peixes mortos e o Nilo fedendo, de forma que a população não
podia usar sua água, nem os animais e nem podia ser usada na vegetação. Certas espécies de peixes eram
realmente veneradas e chegavam a ser mumificadas. Esta praga não se limitou ao Nilo, mas afetou a seus
afluentes e toda a água estocada.

Os efeitos desta praga afastam qualquer hipótese de ser um caso meramente natural, ocorrido anualmente,
com a inundação que poderia trazer excesso de terra vermelha, comum na região.

A água pareceu ser sangue, pois tinha textura, gosto e cheiro de sangue.

É possível se imaginar o horror e a frustração do povo egípcio ao ver toda beleza que, até então, provia vida
e atração, transformado em uma linha vermelha e feia de peixes mortos.

Foi apropriado que a primeira praga fora diretamente contra o Rio Nilo, a linha de vida do Egito e o centro
de muitas idéias religiosas. De acordo com Êxodo 25, esta praga durou sete dias.

4.2. A praga das Rãs

A presença de rãs no Egito não era, de todo, incomum.


Em larga escala, as rãs representavam fartura, bênção e a certeza de boa colheita. Este conceito decorria
do retorno do Rio Nilo ao seu leito normal, após o período de inundação, que deixava muitas piscinas e
poças, que ficavam habitadas por rãs. Estas podiam ser ouvidas em coro nos campos egípcios. Os
agricultores acreditavam que o "som" das rãs era uma evidência de que os deuses estavam controlando o
Nilo e fazendo com que a terra ficasse fértil, para que pudessem completar o seu trabalho, principalmente o
deus Hapi.

Essas associações levaram os egípcios a deificar a rã e fazer a teofania da deusa Heqt - uma rã.

A deusa Heqt - "deusa rã", esposa do deus Khnum, era símbolo de ressurreição e o emblema de fertilidade.
Acreditava-se também que Heqt assistia as mulheres na hora do parto. Estava entre os oito deuses
primitivos.

A rã era um dos animais sagrados que não poderiam ser mortos intencionalmente. A sua matança, mesmo
involuntária, seria sempre punida com morte.

A segunda praga não era independente da primeira, porque o Nilo e o aparecimento de rãs estavam muito
associados.

Antes da praga, a presença de rãs era tida como prazer, mas nesta ocasião o oposto era totalmente
verdade. As rãs invadiram o espaço dos homens, inclusive suas casas.

Depois que faraó chamou Moisés e Arão e eles oraram, as rãs morreram.

4.3. A Praga dos Piolhos

Não é claro contra qual divindade específica esta praga foi dirigida.

Em Êxodo 17, fica claro que esta praga irritava não só os homens, mas a todos os animais. Entretanto, é
inteiramente possível que a praga fora designada para humilhar o sacerdócio oficial dos egípcios. Os
sacerdotes no Egito eram conhecidos por sua pureza física. Ritos diários eram realizados por um grupo de
sacerdotes conhecidos como "os puros". Sua pureza era mais física que espiritual. Eram circuncidados,
raspavam todos os pêlos, lavavam-se freqüentemente e vestiam lindos roupões de linho.

À luz disto, poderia se notar dúvida na efetividade das funções do sacerdócio no Egito, que foram poluídas
com a presença destes insetos. Os sacerdotes, assim como seus adoradores, foram infectados pela
pestilência e suas orações eram ineficazes por sua própria impureza pessoal, com a presença destes
parasitas em seus corpos.
Os sacerdotes, no Egito, eram um grupo de pessoas reconhecidas religiosa, econômica e politicamente. Eles
controlavam as mentes e os corações da população.

Os magos reconheceram a derrota quando se viram incapazes de transformar o pó em borrachudos, por


meio de suas artes secretas (8:16 a 19). Atribuíam ao deus Thoth a invenção da magia ou das artes
secretas, mas nem mesmo este deus pôde ajudar os sacerdotes-magos a imitar a terceira praga.

Thoth era o deus da sabedoria e do mistério. Permaneceu imutável desde sua origem, ao contrário dos
outros deuses que sofreram alterações no decorrer das dinastias egípcias. Era crido como o deus
escrevente, o juiz, cuja sabedoria e autoridade era marcante sobre todos os outros deuses. Ele anotava
todos os pensamentos, palavras e ações dos homens durante a sua vida e as pesava na balança da justiça
divina (carma).

4.4. A Praga das Moscas

Os tradutores da Septuaginta viveram no Egito e, ao tratarem sobre esta praga, citam a "mosca-cão" ou
"chupa sangue" (dog-fly ou blood-sucking gadfly). O seu enxame foi algo odioso e, em parte, impedia a
visão, tamanha era a nuvem que formavam.

Pode-se notar também que a mosca Ichneuman, que deposita os seus ovos em outro ser vivo, tinha na
eclosão de suas larvas a manifestação do deus Uatchit .

Outros insetos também eram reverenciados no Egito.

Esta catástrofe foi única e miraculosa na natureza, o versículo 22 afirma que a terra de Gosen foi colocada à
parte do resto do Egito, onde este enxame não esteve presente.

Esta praga não foi designada apenas para humilhar Faraó e os deuses do Egito, mas também indica
claramente o propósito redentor com relação ao povo de Israel. Deus fez uma divisão entre o seu povo e os
egípcios, ficando aqueles também livres desta praga.

Diante da impotência dos deuses e dos magos do Egito e das tragédias que esvaziavam seus templos, Faraó
tinha sua única esperança de acabar com esta praga trazida pelo Deus de Moisés e Aarão. Assim, em
desespero, ele os chamou e ofereceu a primeira de quatro propostas. Permitiu que o povo de Israel
sacrificasse ao seu Deus, mas com a condição de que deveriam obedecer aos rituais egípcios - essa
concessão não satisfez a Moisés, pois sabia que os egípcios abominavam o sacrifício de cordeiros e
bezerros, tendo-os como sagrados. A vaca era tida como sagrada para a deusa Hathor. Esta condição estava
totalmente descartada.

Não querendo conceder tudo o que foi requerido, Faraó concedeu uma nova oferta, na qual ele permitia que
eles pudessem ir a ermo, desde que não fossem muito distante. Em outras palavras, procurava que os
hebreus permanecessem perto o suficiente de suas fronteiras orientais, de forma que pudessem ser
achados facilmente por seu exército. Moisés não mostrou objeção a esta sugestão, mas deixou claro o seu
intuito de libertar o povo, e assim, cessou esta praga.

Moisés cumpriu a sua parte no acordo, mas Faraó não. Uma vez livre da humilhação da praga, Faraó
endureceu seu coração e mais uma vez proibiu que o povo de Israel partisse.

4.5. A Praga da Peste nos Animais

As tragédias e as pestilências no Egito produziram inúmeras reações de seus habitantes. As reações podiam
certamente vir daqueles que oravam aos deuses. Outra reação claramente refletida em vários textos
egípcios era a introspecção e exame da maneira de viver antes dos deuses. Quando desastres ocorriam, não
era incomum que os deuses talvez estivessem infelizes com a falta de fé e de oferendas. Esta atitude é
evidente nas palavras de Ramsés III:
"A terra do Egito estava 'de pernas para o ar', confusa. Cada homem andava segundo seu próprio juízo, não
havia mestres durante muito tempo. O Egito estava divido; cada homem, rico ou pobre, matava seu próprio
irmão. Quando isto ocorreu no passado, foram anos duros. Irsu, o Sírio, trazia a terra toda sob seu controle,
e muitos homens matavam seu companheiro para roubá-lo. Eles tratavam os deuses da mesma forma que
tratavam os homens. Não mais traziam oferendas aos santuários. Mas os deuses mudaram tudo isto em paz
e restauraram o país ao normal."

Outra reação, sugerida em Êxodo 9, era com respeito ao Deus dos hebreus. Após a pregação de Moisés de
que a terra seria julgada com grande saraiva de fogo, os servos de Faraó que temeram a palavra de Jeová
seguiram instruções de proteger seu gado dentro de suas casas. É duvidoso que os servos de Faraó
tivessem pleno conhecimento da natureza e caráter do Deus dos hebreus, mas os eventos precedentes
eram suficientes para convencê-los de Seu poder. Eles encontravam vantagem em respeitar a este Deus e
Seu servo. Poderia haver pessoas deste grupo que se juntariam aos filhos de Israel em seu êxodo do Egito.
Esta talvez fosse a principal razão para Faraó resistir à demanda de Moisés. Além do mais, atender à
solicitação de Moisés publicamente implicaria admitir a existência de um Deus maior que aqueles que
historicamente dominavam o pensamento teológico do Egito. Claro que também Deus, propositadamente,
endureceu seu coração, para expressar Seu poder. O orgulho de Faraó não lhe permitia sucumbir à
demanda de Moisés.
Esta quinta praga veio como claro aviso a Faraó. A demanda era a mesma e se relacionava unicamente a
suas propriedades pessoais, pois sua perda causaria irritação e dores.

Gado e animais domésticos eram muito preciosos no Egito, como pode ser notado em suas pinturas e
literatura. Além de necessários na vida diária, cavalos eram valiosos e o gado, sagrado para eles.

É difícil determinar a natureza exata desta praga. Embora o texto não especifique, uma sugestão comum é a
de que esta tenha sido o Antrax. Assim, pereceram gados, cavalos, camelos, ovelhas, jumentos...

Entretanto, uma clara separação foi feita entre os animais do Egito e o gado de Israel. Desta forma, não
existiam alternativas senão reconhecer se tratar de mais um evento miraculoso. Entretanto, há um
considerável debate causado simplesmente pelos textos do Capítulo 9, contidos nos versículos 6 e 19. O
primeiro indica a morte de todo o gado do Egito e o segundo fala que o gado precisava de proteção da
sétima praga, a da saraiva de fogo. Especialistas apontam que esta se referia diretamente aos animais que
estavam "no campo", isto é, a céu aberto. Os animais protegidos em casas não foram afetados por este
desastre. Outra corrente é a de que, após esta quinta praga, animais foram trazidos de outros países.

Esta praga trouxe graves conseqüências econômicas ao Egito. Os bois eram utilizados no trabalho pesado
da agricultura. Camelos, jumentos e cavalos eram largamente usados para transporte. Além de fornecer
leite, o gado era parte integrante da adoração no Egito. Faraó possuía muito gado sob seu controle, e sua
perda afetou consideravelmente a economia do país.

As implicações religiosas desta praga são muito interessantes e instrutivas. Grande número de bois e vacas
eram considerados sagrados no Egito. Na área central do Delta, quatro províncias escolheram como seus
emblemas vários tipos de bois e vacas. Uma necrópole de bois sagrados foi descoberta próxima a Mênfis,
conhecida pela dupla adoração a Ptah e ao sagrado boi Apis. O boi Apis era considerado o animal sagrado
do deus Ptah. A associação entre a adoração em Mênfis era assim entendida. Existia apenas um boi Apis
sagrado. Assim que este morria, outro era escolhido para substituí-lo, um evento de grande atração na área
de Mênfis. O boi sagrado era reconhecido por vinte e oito marcas distintivas que o identificavam como
divino e objeto de adoração.

Ptah era o deus protetor da antiga capital do Egito, Mênfis, sendo o criador das artes. Era venerado pelos
trabalhadores manuais, particularmente pelos ourives. Tinha como esposa a deusa guerreira Sekhmet e por
filho o deus Nefertum. Ptah criou o mundo pela sua palavra após concebê-lo em pensamento.

Na região de Mênfis, arqueologistas descobriram sessenta e quatro grandes câmaras mortuárias, pesando
aproximadamente sessenta toneladas cada. Em cada uma dessas, estava enterrado um boi sagrado Apis.

Outra divindade adorada que foi afetada com essa praga foi Hathor - a deusa do amor, beleza e alegria,
representada por uma vaca. A adoração a esta divindade estava centrada principalmente na cidade de
Denderah. No Egito superior, essa deusa aparece como uma mulher com cabeça de vaca. Em outra cidade,
Hathor era uma mulher com sua cabeça adornada com dois chifres de vaca e um disco de sol entre eles.

Outra divindade associada com os efeitos da praga seria Mnevis - um boi sagrado venerado em Heliópolis, e
associado com o deus Rá.

Humilhado também foi Apedemak, deus sudanês da guerra, descrito com cabeça de um leão e o corpo
humano. O elefante e o gado eram sagrados para ele.

Muitos deuses eram apenas protetores, não tinham templo e eram venerados em cultos domésticos. Entre
as principais divindades encontram-se:

NOME CARÁTER ANIMAL SAGRADO


Anúbis Deus dos mortos Chacal
Atum Sol do entardecer Touro, leão, serpente
Chu Deus cósmico (Ar) Leão
Herfases Céu Carneiro
Hórus Deus do céu Falcão
Khnum Criador dos deuses Carneiro
Khopri Deus Sol (Atum, Ra) Escaravelho
Montu Deus guerreiro Touro
Ofois Deus guerreiro Lobo
Osíris Rei dos mortos Lobo
Sebek Cósmico Crocodilo
Tauret Gravidez Hipopótamo
Bastet Gravidez Gato
Hator Gravidez Vaca
4.6. A Praga das Úlceras

Os egípcios eram conscientes da possibilidade de doenças infecciosas e chagas. Isto era refletido no fato de
Sekhmet - a deusa cabeça de leão, supostamente tinha o poder de criar e extingüir epidemias e os deuses
Tot, Ísis e Ptah, considerados com habilidades curativas. Um sacerdócio especial era devotado a ela,
chamado Sunu.

Amuletos e outros objetos eram empregados pelos egípcios contra males em suas vidas. A recusa de Faraó
em não libertar o povo de Israel trouxe a sexta praga, sendo esta a terceira vinda sem anúncio.

Iniciou-se através do lançamento simbólico de cinzas da fornalha por Moisés e Aarão, e tumores
arrebentaram em úlceras nos homens e nos animais, por toda a terra do Egito.

Nestas fornalhas de onde foram lançadas as cinzas, talvez haja uma alusão simbólica, pelo fato de Israel
despender muito de seu tempo ao trabalho pesado na fabricação de tijolos, debaixo da pesada mão dos
mestres egípcios. (1:14; 5:7 -13). Simbolicamente, as cinzas foram lançadas ao céu à vista de Faraó,
trazendo furúnculos que eclodiram em úlceras, tanto nos homens quanto nos animais do Egito.

Os mágicos provavelmente foram chamados novamente para invocar ao poder dos deuses do Egito e
demonstrar que o ato de Moisés e Aarão não tinham nada de extraordinário. Mas, não podiam comparecer à
corte real, pois estavam seriamente cobertos pela praga.

Esta praga culminou com grandes implicações teológicas para os egípcios. Enquanto não trazia mortes,
buscavam ajuda dos muitos deuses responsáveis por curas. Além das já citadas, Serafis era uma destas
deidades. Outra, era Imhotep - o deus da medicina e o guardião da ciência da cura. A inabilidade desses
deuses em agir em favor dos egípcios certamente proporcionou profundo desespero e frustração. Mágicos,
sacerdotes, príncipes e plebeus estavam todos igualmente afetados pelas dores deste julgamento, fazendo-
os saber que o Deus dos hebreus era o Deus Todo Poderoso e superior a todos os ídolos feitos por mãos de
homens.

4.7. A Praga da Saraiva

A sétima praga foi precedida por um anúncio específico de Moisés e Arão, acompanhada por uma
significativa explanação.

Este julgamento possuía duplo propósito: indicar a unicidade de Jeová, o Deus dos hebreus e também
demonstrar Seu poder, para que somente o Seu nome fosse declarado sobre a terra (v. 16). Os egípcios não
deixaram traços destas experiências em seus monumentos, mas não teriam como prevenir que esta história
fosse conhecida em outras nações. O poderio de Deus seria demonstrado através do próprio Faraó.

A promessa dizia que no dia seguinte o Senhor traria uma grande tempestade sobre o Egito, devendo todos
os animais, que estavam no campo, serem recolhidos para proteção. Esta recomendação foi obedecida por
vários servos e seguidores de Faraó, irritando o rei do Egito. De acordo com inscrições, estes animais foram
trazidos de países vizinhos, como Síria e Líbia, após a quinta praga, a qual exterminou todo o rebanho
egípcio.

A região do Cairo apresenta índice pluviométrico de aproximadamente duas polegadas anuais, sendo que
no sul do país as chuvas são raras. A grande tempestade trazida pelo Senhor foi sem precedente no Egito. O
escritor de Êxodo mostra ser grande conhecedor do Egito e sua história, como pode ser notado no versículo
18. Como prova de que as grandes chuvas trazidas ao Egito não eram eventos naturais, podemos ver a
declaração de Faraó, descrita no verso 27: "então Faraó mandou chamar a Moisés e Aarão e disse-lhes:
desta vez pequei. O Senhor é justo e eu e o meu povo somos ímpios."

Os trovões e relâmpagos foram tão violentos que o fogo destruiu muitas plantações. O aspecto miraculoso
deste evento pode ser notado no verso 26, onde encontramos que somente na terra de Gosen não choveu.

A vida e a economia do povo egípcio estava diretamente ligada ao sucesso nas colheitas. As grandes chuvas
trouxeram prejuízos e desespero àqueles. Os adoradores de Nut avistaram no céu não as bênçãos do sol
rogadas a ela, mas a tragédia de tempestades e violência. Nut era a deusa do céu. Esta praga humilhou não
só esta deidade, como também Ísis e Seth, deuses responsáveis pelas colheitas na agricultura. A forte
saraivada envergonhou também os deuses considerados como tendo controle sobre os elementos naturais.
Acreditavam que o deus Reshpu controlava os raios e o deus Tot ter poder sobre a chuva e os trovões.

Seth também era chamado pelo nome de Tífon - deus que simbolizava o lado escuro de Osíris. O mesmo que
Satã, o Adversário, o lado maligno contrapondo-se a Osíris. É representado por um animal estranho, meio
burro, meio cachorro. Seth era irmão de Ísis e Osíris, assim como de sua mulher Néftis. Era um deus muito
respeitado no Alto Egito, sendo senhor dos desertos e oásis. Matou seu irmão Osíris numa luta pelo poder
no Egito.

Os negros campos queimados de linho eram testemunhas da impotência e incapacidade dos deuses de
pedra e madeira. Indicavam que possuíam ouvidos, mas não ouviam. A destruição das plantações de linho
também tinha importante significado, pois era o material usado para confecção das vestimentas dos
sacerdotes egípcios.
4.8. A Praga dos Gafanhotos

Os gafanhotos são, talvez, o maior exemplo natural de força coletiva destrutiva de uma espécie. Um
gafanhoto adulto pesa, no máximo, dois gramas e sua força destrutiva pode levar milhares de pessoas a
passarem fome por anos. A praga de gafanhotos era muito temida no Egito, tanto que os camponeses
tinham o hábito de orar a um deus gafanhoto e ao deus Min, que era encarado como protetor das colheitas.

O horror e o desespero, entretanto, assolaram o coração dos egípcios quando o restante de suas lavouras
foram destruídos por milhões de gafanhotos voadores. Seus recursos agrícolas eram considerados limitados
e já tinham sofrido outras destruições causadas pelas pragas anteriores. Seus rebanhos tinham sido
esgotados e muitos dos homens estavam incapazes de trabalhar em decorrência das doenças trazidas pelas
pragas.

A paciência dos servos de Faraó estava chegando ao fim. Enquanto eles reconheciam a sabedoria de seu
rei-deus, tinham sérias questões sobre as reações de Faraó ao poder de Moisés e Arão. A base do
sincretismo dos egípcios poderia facilmente incluir entre seus próprios deuses o Deus de Moisés.

Buscando manter seu orgulho e dignidade e não aparentar ser cego e obstinado quanto aos problemas em
suas mãos, Faraó propôs a Moisés e Aarão um terceiro acordo. Ele liberou aos adultos partirem, mas que
deixassem as crianças (10:10 e 11). Obviamente, esta oferta não foi aceita por Moisés, que saiu da
presença de Faraó.

A continuada recusa de Faraó garantiu a oitava praga, que era a devastação causada por gafanhotos (10:4).

Através de um forte vento oriental que soprou durante todo o dia e toda a noite, gafanhotos foram trazidos
do norte da Arábia em grande número. Mais uma vez, nota-se a natureza miraculosa do evento, pois nunca
se viu nada igual na terra do Egito (10:14). Os gafanhotos destruíram, além das plantações, árvores
frutíferas e de outras espécies.

Talvez não por profunda convicção espiritual, mas interessado em alívio imediato desta praga, Faraó
convocou Moisés e Arão novamente à corte. A despeito de Faraó demonstrar obstinação e desonestidade,
Moisés tornou da corte real e orou pedindo o fim da praga, que findou-se com um forte vento ocidental.

Quando esta praga acabou, os efeitos desta e das anteriores certamente causaram fome para a terra do
Egito, e a fome difundiu roubos e inquietação social. As implicações econômicas, políticas, sociais e
religiosas destes desastres são verificadas tanto pela mentalidade teológica do povo quanto por expressões
práticas encontradas em documentos antigos.

4.9. A Praga das Trevas

A nona praga, assim como a terceira e a sexta, veio sem aviso prévio. Moisés estendeu sua mão ao céu e as
trevas cobriram a terra por três dias (10:21 e 22). Enquanto os egípcios não podiam deixar suas casas, pois
nada podiam ver, de tão escuro, os israelitas tinham luz e continuavam suas vidas normalmente.

À luz da teologia e prática egípcia, esta praga foi muito significativa. O deus-sol Rá era considerado um dos
maiores deuses do Egito. Tinham grande alegria e prazer pela fé que possuíam a este deus que provia, dia
após dia, sem falhar, o calor e a luz do sol.

Outro significado importante com respeito a esta praga era o prestígio do deus Amon-Rá, a maior divindade
de Tebas e um deus-sol. No período do Novo Reinado, este era o deus nacional, parte da trindade de deuses
que incluía Amon-Rá, sua esposa Mut e seu filha Khons.

Amon-Rá era comumente representado por animais sagrados, como a ovelha e o ganso. Inúmeras outras
deidades eram associadas ao sol, céu e lua. Como exemplo, Aten era o divino sol-disco. Este deus foi
proclamado ser o único deus por Akhenaten, com ênfase em um culto especial centrado em Amarna.

Atum era também outro importante deus, adorado principalmente em Heliópolis. Era o deus do pôr-do-sol e
usualmente descrito em forma humana. Animais sagrados associados com este deus eram a cobra e o leão.
O deus Khepre, que sempre aparecia na forma de um besouro (Scarabeus sacer) era uma das formas do
deus-sol Rá. Outro muito importante deus era Horus, sempre simbolizado por um disco de sol alado. Era
considerado ser filho de Osíris e Isis, mas também o filho de Rá e o irmão de Seth.

Harakhte, outra forma de Horus e identificado com o sol, era venerado principalmente em Heliópolis, a
cidade do sol, e era representado por um falcão.

Entre as várias deidades afetadas por esta trágica escuridão estava Hathor, uma deusa do céu, além de
deusa do amor e da alegria. Hathor era a divindade titular da necrópole de Tebas. Era venerada
particularmente em Denderah e retratada com chifres de vaca ou como uma figura humana com chifres de
vaca na cabeça.

A deusa do céu Nut também estava envolvida na humilhação desta praga. E o que dizer do prestígio de
Thoth, um deus-lua em Hermópolis? Ele também era o deus que escrevia e computava o tempo.
Existe uma enorme lista do grande número de outras deidades relacionadas com o sol, estrelas e luz, mas a
relação acima é suficiente para indicar a tremenda importância do sol e de sua luz para os egípcios. As
outras pragas trouxeram destruição de propriedades, desconforto pessoal e dores, mas esta praga trouxe
total imobilização dos egípcios e, certamente, grande temor. O primeiro dia de escuridão pode ter sido
facilmente suportado, mas pelo terceiro dia o choro do povo egípcio provavelmente foi ouvido por toda a
terra.

O prestígio do próprio Faraó também foi afetado, pois, dentre seus atributos divinos, ele era representante
de Rá.

Tentando preservar seu prestígio, Faraó chamou novamente Moisés e Aarão e ofereceu sua quarta
"permissão", que consistia na partida de todo o povo, tanto adultos quanto crianças, mas estipulava a
permanência de seus rebanhos e gado (10:24). Esta condição era inaceitável como as anteriores; Moisés
apontou a importância de animais para oferendas e sacrifícios ao Senhor.

4.10. A Praga dos Primogênitos

A morte dos primogênitos resultou na maior humilhação para os deuses egípcios.

Os governantes do Egito realmente chamavam a si mesmos de deuses e filhos de Rá ou Amon-Rá. Afirmava-


se que Rá ou Amon-Rá tinham relações sexuais com rainha. O filho nascido era, portanto, considerado como
um deus encarnado e era dedicado a Rá ou a Amon-Rá em seus templos. Assim, a morte do primogênito de
Faraó realmente significava a morte de um deus (12:29). Nekhbet, deusa-abutre, protegia com suas asas os
soberanos do Alto Egito.

Somente este fato já teria sido um duro golpe na religião do Egito e a completa incapacidade de todas as
deidades se evidenciou em seres incapazes de impedir que todos os primogênitos do Egito morressem de
uma só vez.

A décima praga foi anunciada para ocorrer à meia-noite. Entretanto, não foi especificada qual noite seria.
Tudo o que Faraó sabia era que uma tragédia iria afligi-los à meia-noite, a qual, como as demais pragas
anunciadas, teriam-nos deixado em um suspense atemorizador.

À meia-noite, Jeová passaria sobre a terra do Egito e Seu julgamento traria morte a todos os primogênitos
da terra, incluindo animais e humanos. Esta condenação foi apropriada à luz do que hoje sabemos sobre as
sociedades orientais. O primogênito, além de ser o herdeiro ao qual cabia porção dobrada da herança de
seu pai, gozava de qualidades especiais de vida e poder (Gn. 49:3). No Egito, o primogênito de Faraó era o
que poderia suceder a seu pai no trono.

De acordo com as palavras de Moisés, a morte dos primogênitos causaria tristeza e luto como nunca se vira
no Egito (11:6). É bem conhecida a intensidade com a qual os orientais expressam suas emoções quanto à
morte. Pode-se imaginar o que a multidão de pais de família sentiu com a descoberta da morte de seus
primogênitos. Aos que não tinham filhos, a morte dos primogênitos de seus animais também causou grande
tristeza, visto o grande valor que os egípcios tinham pelos animais domésticos. Não havia no Egito sequer
uma casa em que não estivessem de luto.

Outro efeito desta praga foi a submissão dos servos de Faraó. Quando da partida dos filhos de Israel,
ninguém pode resisti-los, como expresso proverbialmente: "nem mesmo um cão poderá mover sua língua
contra homem ou animal." A alusão aqui é que ninguém poderia injuriar Israel. Ao contrário, forneceram
jóias de prata e de ouro aos retirantes.

Como apontado, à meia-noite o Senhor completou o que tinha prometido, subjugando os primogênitos na
terra do Egito. Não houve respeito a classe social ou status civil nesta praga. Tanto o primogênito de Faraó,
quanto o de qualquer homem na prisão, morreram. Importante também é a citação da morte dos
primogênitos dos animais, haja vista como os egípcios consideravam Apis e Hathor.

Os egípcios lamentaram e choraram durante as horas remanescentes da noite. Faraó pode encontrar escape
para as pragas anteriores, ou talvez providenciar satisfatória racionalização delas. Mas não havia o que
fazer agora. Seus efeitos e implicações eram perfeitamente claras. Seu filho, sempre tratado com carinho,
"nascido dos deuses", agora jazia na cama, pálido, sem vida.

O coração e o desejo de Faraó estavam quebrantados. Seu espírito agora mudou daquela arrogância e
resistência, para uma grande preocupação. Assim, chamou Moisés e Aarão no meio da noite e, sem
discussão ou diálogo, simplesmente declarou que os filhos de Israel deveriam partir. Sem imposições,
condições ou exigências, nos termos de Moisés.

O reconhecimento do poderio do Senhor pode ser concluída com o pedido de Faraó a Moisés, contida na
última frase do verso 32 do capítulo 12 de Êxodo: "...abençoai-me também a mim." Ao Deus cuja existência
e poder foram diversas vezes questionadas (5:2) ele agora rogava que o abençoasse.

4.11. Outros Deuses Egípcios Humilhados pelas Pragas


Bastet - originalmente, era a deusa-leão, símbolo da força fertilizadora dos raios de sol. Transformou-se
mais tarde na deusa-gato, a protetora das residências e do gato doméstico. Também está ligada ao Olho de
Rá e governava os prazeres, o sexo, a música e a alegria.

Rá - Embora já tratado anteriormente, voltaremos a falar sobre Rá, também conhecido como Amon-Rá, o
deus-sol, o mais importante deus egípcio.

Rá era tido como o primeiro dos deuses. Criado a partir do Caos inicial (Num), ele emergiu da escuridão
numa flor de lótus. Ao se abrir, esta flor liberou toda a luminosidade de Rá, iluminando tudo o que existia.

Foi um dos deuses mais cultuados no antigo Egito. Amon era considerado o sol espiritual do mundo, cheio
de mistérios e senhor do Universo. Amon produziu-se a si mesmo, sendo, portanto, "incriado". Criou a
bondade no mundo, em contrapartida ao mal produzido por Seth. Criam que este deus criou o mundo e o
mantinha vivo com a chama ardente de seu calor solar.

Oração para Rá
"Senhor dos tronos da Terra. Senhor da Verdade, Pai dos deuses, Criador do Homem, Criador dos animais.
Senhor da Existência, Iluminador da Terra, que navega tranqüilamente nos céus. Todos os corações se
abrandam ao contemplá-lo, Soberano da vida, da saúde e da força! Adoramos teu Espírito, o único que nos
criou."

Rá teve dois filhos: Chu e Tefnet. Depois que Rá ficou muito velho, deixou a coroa do Egito para seu filho
Chu, que não teve a mesma capacidade de governar do pai. Chu não tem um papel de destaque na mitologia
egípcia. Chu casou-se com sua irmã Tefnet. Eles tiveram um casal de filhos que também estavam
predestinados a se apaixonarem, Nut e Gheb, pais de Osíris, Ísis, Seth e Néftis.

A irmã-esposa de Chu, Tefnet, era uma pálida sombra de seu marido e, freqüentemente, era representada
como uma mulher com a cabeça de um leopardo. Em um mito, um dos poucos onde ela é caracterizada,
Tefnet se torna um leopardo e deixa sua casa divina nos céus e se dirige para o Egito. Lá, ela encanta a
terra e bebe profundamente o sangue das pessoas; somente a esperteza de Thoth faz com que ela volte aos
céus. O povo do Egito celebrava este dia em um grande festival.

Rá costumava ser representado por um disco solar entre duas serpentes ou o sol entre as asas de um
falcão.

Uma lenda relata que Rá reinava num esplêndido palácio no Egito, iluminando a todos com seus raios
solares e, à noite, brilhava no reino das trevas (Duat). Mas com o passar dos anos, ele ficou cada vez mais
velho e sua popularidade entre os seus súditos começou a declinar. Indignado com os egípcios, resolveu
punir a todos e convocou uma reunião na qual estavam presentes todos os deuses de seu panteão. Com
medo da ira de Rá, a população fugiu para o deserto; o soberano chamou à sua presença a deusa Hathor e
transformou-a em Sekhmet, deusa da guerra com cabeça de Leão, que iniciou uma matança geral no Egito.

Sekhmet ficou fora de controle e Rá, temeroso de que ela iria eliminar toda a humanidade, mandou que
suas escravas preparassem uma cerveja com grãos vermelhos. Pensando que fosse sangue, a deusa da
guerra bebeu este líquido e embriagou-se, não reconhecendo mais os homens. Dessa forma, Rá salvou a
humanidade das mãos da terrível Sekhmet.

Desgostoso de reinar, Rá resolveu subir aos céus e chama Nun para ajudá-lo. Nun transforma a deusa Nut
numa vaca que, sustentada por Chu, deus do ar, leva Rá para a morada dos deuses.

Rá devia combater, todos os dias, a serpente do mal Apópis, que representava as trevas e as tempestades.
Ele triunfava sempre; entretanto, nos dias em que vacilava na luta, acontecia o eclipse solar (domínio de
Apópis).

Hathor: era a deusa-vaca, símbolo do céu; era representante do sexo feminino, da alegria, do amor, da
fecundidade e do prazer. Contudo, foi transformada por Rá em Sekhmet que é a deusa da guerra.

Maat: representava o equilíbrio, a harmonia do Universo primordial. Tal equilíbrio necessitava dessa deusa
que personificava a justiça. Maat lembrava aos egípcios que "o que fizermos aos outros, a nós será feito".
Maat protegia os tribunais.

Néftis: era irmã de Ísis e, junto com ela, representava o aspecto dual da natureza; Ísis representava o bem
e Néftis, o mal. Era mulher de Seth, assassino e inimigo de Osíris. Néftis ajudou sua irmã a recompor os
pedaços do corpo de seu marido e, através de magia, restituir-lhe a vida. Designava aquilo que está sob a
terra e que não se vê (isto é, seu poder de desintegração e de reprodução) e Ísis representa o que está sob
a Terra e é visível (ou seja, a natureza física)."

5. SÍNTESE

Sintetizando as pragas contra o Egito e suas implicações, temos:


Praga Humilhação contra Associação Conseqüência
deuses Khnum; Hapi; Osíris; O Grande Rio Nilo e sua Desestruturação econômica,
Rio Nilo em Sangue
Neith e Hathor. prosperidade ambiental e religiosa
Aversão ao que antes era
Das Rãs deusa Heqt Prosperidade
considerado sagrado
Noção de que os sacerdotes
Dos Piolhos Sacerdotes Purificação
não eram puros
Irritação e Incômodo, pois
somente os egípcios
Das Moscas deuses Hathor; Mnevis; Rá Beleza e proteção
sofreram.A terra do Gosen
não foi abalada.
deuses Ptah; Apis; Hathor;
Dos Animais Propriedades Pessoais Doença e morte dos Animais
Mnevis; Rá.
Doenças nos Homens e nos
Das Úlceras deuses Sekhmet; Imhotep Deuses de curas
Animais
Prejuízo na Agricultura, aos
Da Saraiva Deuses Nut; Ísis; Seth. Prosperidade na Agricultura
Animais e Homens
Desordem Social (fome,
Dos Gafanhotos deus gafanhoto Proteção à Agricultura
inquietação, roubos)
deuses Rá; Amon-Rá e Medo, Confusão e Descrença
Das Trevas Deus do sol, estrelas e lua
outros. nos Deuses
Herança do Trono e a crença Mortandade e humilhação
Dos Primogênitos Faraó
do deus-rei. final.

Fato é que, a cada praga que se sucedia, agravavam-se os problemas de ordem política, social, econômica,
e religiosa por parte dos egípcios. Chegou ao ponto dos oficiais de Faraó implorarem: "Até quando este
homem nos há de ser por laço? Deixa ir os homens, para que sirvam ao Senhor seu Deus. Ainda não sabes
que o Egito está destruído?" - (capítulo 10:7)

Do tempo de Ramsés II, temos um documento registrando sua grande batalha no campo de Kadesh no Vale
de Orontes. Nesta história, ele se encontrou em uma posição muito precária, onde o inimigo prevalecia e
colocava sua vida em perigo. Sua primeira reação foi apelar ao seu deus favorito. No texto se lê "...sua
majestade disse: O que é isso meu pai Amun, pode um pai esquecer de seu filho? Tenho feito algo sem ti?
Tenho ido ou permanecido sem o teu mandar? Nunca me desviei dos conselhos de tua boca. Quão grande é
o grande senhor de Teba, tão grande para fazer sofrer os povos estrangeiros que vêm contra ele."

Os historiadores não encontraram registros sobre fatos desagradáveis no Egito, pois estes tinham o
costume de contarem apenas as vitórias e conquistas. Um estudo cuidadoso de documentos existentes
pode provar a reação real para problemas sérios.

6. BIBLIOGRAFIA

DAVIS, John J. "Moses and The Gods of Egypt", Studies in Exodus, 5th Printing - October 1977: Baker Book
House and BMH Books Co-publishers.

HALLAM, Elizabeth "O Livro de Ouro dos Deuses e Deusas", 2ª Edição -2002: Ediouro

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