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Trabalho de Teologia

TEMA:

IMAGO DEI: A IMAGEM DE DEUS

Professor: Bispo. Dr. José Daniel Este

Aluno: William Geraldo de Sousa.


Imago Dei refere-se a duas coisas: primeiro, a auto-realização de Deus através da
humanidade; e segundo, o cuidado de Deus pela humanidade. Somos a Imago Dei.
Assim diz a Bíblia. A frase "imagem de Deus" é encontrada em três passagens no livro
de Gênesis (1-11):

Gênesis 1. 26–28
E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e
domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a
terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra.
E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os
criou.
E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e
sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o
animal que se move sobre a terra.

Gênesis 5. 1–3
Este é o livro das gerações de Adão. No dia em que Deus criou o homem, à semelhança
de Deus fez Ele a ele. Macho e fêmea os criou, e abençoou-os, e chamou o seu nome
Adão, no dia em que foram criados. E Adão viveu cento e trinta anos e gerou um filho à
sua semelhança, segundo a sua imagem; e chamou seu nome de Seth.

Gênesis 9. 6
Quem derramar o sangue do homem, pelo homem o seu sangue será derramado; porque
Deus fez o homem conforme a sua imagem.

Imago Dei é uma expressão latina que significa imagem de Deus. Fomos criado a
imagem e semelhança do Altíssimo.Temos em nosso ser a imagem daquele que nos
formou. Isso é o que ensina a Bíblia (Gênesis 1.26). Todo cristão deveria crer nisso,
católicos e protestantes deveriam saber disto. Somos criados em Deus, por Deus e para
Deus.

Isso, obviamente desabona o racismo, o machismo, o feminismo e a supremacia racial


de qualquer etnia. Somos todos iguais em dignidade enquanto ser humano.

Chamo a atenção para a igualdade fundamental do ser que é humano: que somos todos
uma natureza corrompida. Se há alguma indignidade, esta está na perfeição perdida, na
corrupção da imago Dei, em ser corrompidos pelo pecado.

A liberdade com que foram dotados nossos pais ( Adão e Eva) faz o humano à imagem
de Deus é a mesma liberdade que se manifestou no estranhamento de Deus, quando a
divindade afasta seus olhos do homem por não poder contemplar seu pecado. Quando
isso ocorre há uma ruptura no elo sagrado, fazendo com que a imagem de Deus no
homem seja manchada, quebrada.

Mesmo quebrada , a imagem de Deus no homem continua ali, os traços estão nítidos. O
espelho quebrou , mas o desenho ainda se distingue entre os cacos de vidro. Por isso,
todos devemos nos respeitar pois viemos do mesmo lugar e estamos igualmente
manchados pelo pecado( Leia Romanos 3.23).
Todos temos uma dignidade enquanto seres formados à semelhança de Deus, diferente
dos animais, plantas e outros seres vivos.
Berkhof diz que na concepção reformada, a Imagem de Deus consiste na integridade
original da natureza do homem, integridade esta expressa:

1 - No Conhecimento Verdadeiro - Cl 3.10


“E vos revestistes do novo homem, que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a
imagem daquele que o criou”.

2 - Na Justiça - Ef. 4.24


“E vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes
da verdade”.3 - Na Santidade - Ef 4.24
“E vos revestiais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão
procedentes da verdade”

Mas a imago Dei que, embora corrompida, ainda permanece é que fundamenta toda a
dignidade humana.
As pessoas humanas possuem , derivada de Deus, uma certa autoridade sobre toda a
terra, com o domínio sobre os peixes do mar, as aves do céu, o gado e todos os animais
rastejantes (versículo 28).
Deus estabeleceu o Éden, construiu com toda sua beleza e esplendor e ali coloca o
homem ali para trabalhar e guardá-lo (2.8, 15). O que Deus inicia, o homem deve
manter e cultivar. Deus também responsabiliza o homem pelos nomes de todos os
animais da terra, exemplificando a autoridade que ele possui (2.19).
Sejamos mais semelhantes a Deus e menos racistas, menos sectários e menos elitistas.
Essa separação é um ultraje a Perfeição de nosso Senhor Deus. O pecado quebrou a
imagem de Deus em nós, mas não definitivamente, pois pela graça de Deus em Cristo
essa imagem é renovada (Efésios 4.24; Colossenses 3.10). Deus nos chamou para uma
vida completa em Cristo. Só Cristo dá ao ser humano uma centralidade e completude
que permite a possibilidade de autorrealização e participação em um realidade sagrada .

É expressamente afirmado que o Homem foi criado à Imagem de Deus e Deus sendo
um Ser Triúno em Sua natureza constitutiva, o Homem possui uma natureza triúna
constitutiva: Corpo, Alma e Espírito que administram a matéria física do Homem, a
mente do Homem e a Comunhão do Homem com Deus. Isto é estranho à Teologia
Hebraica que apenas vê o Homem de uma forma única mas é verdade que o Homem só
pode ser apresentado unitariamente, independente de sua natureza constitucional. Da
mesma forma que há um só Deus, Ele é Triúno e ninguém possui apenas o Espírito
Santo, por exemplo. Por isso, não estamos muito longe da concepção hebraica.

A Imago Dei abrange toda a pessoa do Homem e foi apagada em sua Essência, embora
a Ícone permaneça pois o Homem ainda é Senhor da Terra como em Salmo 8, manifesta
sua Ícone na administração familiar quando o homem é o Cabeça da mulher e, quando
Deus condena o homicídio, condena por tirar a vida de Seu Ícone, embora desprovido
da Essência ( pois os animais selvagens já não lhe respeitam; pois ao invés de
considerar, na família, a mulher como parte mais frágil, ou a coloca em posição de
escravo ou aceita sua subversão).

Cristo existe como Ícone Essencial do Deus Invisível, ou seja, é a Ícone Existencial e
Essencial. Ele é Completo e por Sua Completude nós podemos ser recompletados e
voltarmos à situação original. Somos reconstituídos como Imago Dei pelo Decreto do
Pai, pelo Sacrifício de Cristo e pela Visitação do Espírito, embora ações diferentes em
termos existenciais possuem a mesma essência ( da mesma forma a constituição
humana: existe tríplice em essência una). Nada há em nós que possibilite a recepção da
Palavra: Cadáver não ouve nem pensa!

Esse tópico visa cuidar especificamente do aspecto mais interessante do homem, a saber
a Imagem e a Semelhança de Deus em que foi criado o homem. Normalmente nas obras
de Teologia Sistemática utiliza-se um termo em latim para designar esse fato, Imago
Dei (Imagem de Deus), e por isso continuam nesta forma neste estudo.

Imago Dei é o grande diferencial na criação do homem, é o que, por certo, diferencia o
homem do resto da criação. Entretanto, é tema antigo de debates teológicos, pois
historicamente, não se chegou a um consenso a respeito deste termo. Assim é válido
observar algumas das diferentes opiniões históricas sobre esse tema.
A. Breve Histórico

Alguns dos “Pais da Igreja” concordavam que a Imagem de Deus no homem consistia
em suas capacidades racionais, morais e na capacidade para a santidade. Entrementes
alguns tendiam a crer que existiam alguns aspectos físicos pertencentes a essa Imagem
de Deus.

Em outros desses “Pais da Igreja”, criam que Imagem e Semelhança eram aspectos
distintos e que como tal tinham implicações distintas. Para Clemente de Alexandria e
Orígenes (gregos), que rejeitavam qualquer relação do termo com o corpo, criam que
Imagem estava relacionado a características do homem como tal, e Semelhança como
qualidades não essenciais do homem.

Esse tipo de abordagem, que distingue Imagem de Semelhança, foi também encontrada
nos escolásticos, embora nem sempre expressa do mesmo modo. Já os reformadores
abandonaram a distinção entre Imagem e Semelhança, pois “consideravam a justiça
original como incluída na imagem de Deus e como pertencente à própria natureza do
homem em sua condição originária”.

Alguns teólogos mais recentes tem discordado de todas essas possibilidades, como
Scheleiermacher, que rejeitou a possibilidade de que houvesse justiça original no
homem original, pois cria que essa justiça só era possível por meio de desenvolvimento.
•B. Significado do termo

As palavras hebraicas de Gênesis 1.26,27 são tselem e demuth, o equivalente às palavras


gregas eikon e homoiosis (que em latim são imago e similitudo). Tselem significa
imagem moldada, uma figura moldada, imagem no sentido concreto da palavra
(2Rs.11.18; Ez.23.14; Am.5.26). Já demuth também se refere à idéia de similaridade,
mas num aspecto mais abstrato ou idealístico. Segundo Addison Leitch, “o autor bíblico
parece estar tentando expressar uma idéia muito difícil, na qual deseja deixar claro que
o homem, de alguma maneira, é o reflexo concreto de Deus “.

Embora durante muito tempo se tentou diferenciar as palavras, nos relatos bíblicos as
palavras imagem e semelhança são empregadas como sinônimos. Em Gn.1.26 são
empregada as duas palavras, mas no v.27 apenas a primeira delas. Em Gn.5.1 só ocorre
a palavra semelhança e no v.3 ambas novamente. Porém em Gn.9.6 aparece apenas a
palavra imagem. Ou seja, são utilizadas em Gênesis de maneira intercambiável. Outro
detalhe importante é que, até mesmo as preposições utilizadas são igualmente
intercambiáveis (cf. Gn.1.26,27 e 5.1-3).

Portanto o que se pode concluir até aqui é que não se deve apoiar na utilização das
palavras unicamente para enfatizar diferenças de ênfases ou de aspectos desse fato.
Logo, é prudente os aspectos envolvidos a fim de encontrar uma definição mais
plausível para os termos utilizados em Gênesis.
C. Aspectos envolvidos

Antes de procurar definir, é importante observar na literatura bíblica algumas


afirmações relevantes para compreensão correta do termo teológico Imago Dei.
Justiça Original

A imagem de Deus, na qual foi criado o homem, certamente inclui o que normalmente
se denomina “justiça original”. Esse termo diz respeito a condição do homem, que foi
criado sem pecado. Esse fato tem grande respaldo escriturístico. Em Gn.1.31, após a
criação do homem fala que tudo o que Deus fizera eram muito bom. Salomão também
faz uma boa observação do homem com criatura especial de Deus quando diz:

“Eis o que tão somente achei: que Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas
astúcias”. (Ec.7.29)

O Novo Testamento testemunha de maneira semelhante, mas o faz retratando a


condição do salvo como uma volta a um estado anterior. Paulo, em sua epístola aos
colossensses faz a seguinte observação:

“Não mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do velho homem com seus
feitos, e vos revestistes do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento,
segundo a imagem daquele que o criou” (Cl.3.10)

Em Efésios, Paulo faz semelhante afirmação:

“…e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e


retidão procedentes da verdade” (Ef.4.24)

O que se pode notar nessas citações paulinas é que a condição a qual o homem retorna
na salvação é sua condição original. Esse fato é evidenciado pela palavra refaz, que traz
a ideia de realizar novamente algo anteriormente pronto ou de fazer novo novamente,
como sugere a forma grega da palavra em pauta. Se essa conclusão é exata, pode-se
ainda conferir o aspecto original do homem, que se perdeu com a entrada do pecado,
que é de pleno conhecimento, justiça e santidade. Logo, as referências à Imagem de
Deus nestes textos refletem sua imagem moral, que estão presentes no homem. Assim, o
homem é criado segundo a imagem moral de Deus.
Portanto, “a criação do homem segundo esta imagem moral implica que a condição
original do homem era de santidade positiva, e não um estado de inocência ou de
neutralidade moral “.
Constituição natural do homem

Não há dúvidas que o fato do homem ser criado segundo a Imagem de Deus implica que
até mesmo os aspectos mais naturais do homem derivem de Dele. Ou seja, as faculdades
intelectuais, sentimentos naturais, liberdade moral e a volição, no homem são reflexos
do que Deus é em primeiro lugar.

Por ser criado a Imagem de Deus o homem dispõe de uma capacidade moral e racional.
Essas capacidades asseguram a condição de homem ao ser humano, e é impossível que
participe dessa condição sem a presença dessas dádivas. Ou seja, embora o homem hoje
esteja em um estado de pecado, não perdeu completamente essas características, mas é
impossível que elas sejam exatamente como foram outrora.

Portanto, é importante evidenciar que, ainda que o homem tenha a capacidade moral e
intelectual, ela foi maculada pelo pecado. Entretanto, é válido demonstrar que mesmo
após a queda o homem é apresentado como sendo imagem de Deus (Gn.9.6; 1Co.11.7;
Tg.3.9). Segue-se que é impossível afirmar que o homem perdeu totalmente a Imagem
de Deus, da mesma forma que é impossível afirmar que ela seja identicamente a mesma.
Constituição espiritual do homem

É natural esperar que o homem sendo criado a imagem de Deus desfrute de uma
condição espiritual, pois “Deus é espírito” (Jo.4.24). E não é difícil observar esse fato,
pois mesmo na narrativa da criação podemos encontrar dados referentes a esse fato:

“…lhes soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente”
(Gn.2.7)

Dois fatos podem ser ressaltados e considerados importantes nesta questão, (1) a vida do
homem só foi possível após o sopro de vida da parte de Deus, sendo considerado como
o princípio da vida do homem e (2) a expressão “alma vivente” é considerada condição
de sua vida.

Embora não seja o cunho deste tópico tratar da constituição do homem no que diz
respeito às suas divisões, é válido demonstrar que o homem criado a Imagem de Deus é
formado pelo corpo e pela alma. Isso não indica que estes são os únicos aspectos do
homem, mas que existe em sua totalidade única uma duplicidade constitucional. Ou
seja, existe a parte material e visível do homem bem como a imaterial e invisível. Porém
estes assuntos serão melhores discutidos pouco à frente (Ponto V).
Vida Infinita

Parece pouco contraditório afirmar que o homem original desfrute da vida sem fim, pelo
fato de não estar presente hoje em algum lugar da terra. Parece mais contraditório ainda
quando notamos que não existem referências a outro ser que não morre a não ser a Deus
(1Tm.6.16).
Contudo, ao ser criado a Imagem de Deus, o homem participa dessa vida, não de
maneira completa e perfeita como o próprio Deus (que é eterno por definição). Assim,
essa Vida é verdadeira, considerada como uma dádiva de Deus e não uma fonte
autônoma de vida derivada do próprio homem. Segundo Chafer, o sopro divino foi a
doação de uma vida interminável, ainda que a punição pelo pecado incluísse a morte do
corpo (física).

Mas se pensarmos coerentemente, nalgum sentido da palavra a existência do homem é


sem fim, pois, apesar da morte física ser real, a alma do homem é dotada de uma
existência interminável. É válido afirmar que a utilização do termo aqui não implica em
uma vida semelhante a de Deus (que não tem nem origem nem fim), mas em uma vida
que não tem fim unicamente.
D. Definição do termo

Segundo o conceituado teólogo Carlos Osvaldo Pinto Th.M e Ph.D., a definição de


Imago Dei é: “Personalidade teomórfica dependente manifesta em estrutura
relacionamento e domínio “. Embora sucinta seja essa definição é necessário
compreender sua profundidade.
Personalidade

Tudo o que torna possível um ser autoconsciente, incluindo os aspectos materiais e


imateriais do homem.
Teomórfica

Indica que o arquétipo do homem é o Deus trino e que nossos atributos refletem, ainda
que imperfeitamente, o caráter de Deus.
Dependente

Indica que o homem não é um ser autônomo, derivando sua própria existência d’Aquele
que o criou.
Estrutura

Por estrutura quer-se dizer não estrutura física, mas emocional, intelectual e volitiva. O
aspecto físico do homem reflete o plano original de Deus de encarnar-se para a redenção
da humanidade.
Relacionamento

Indica que o perfeito amor existente entre a Trindade estaria refletido na interação entre
os seres humanos.
Domínio

Por fim, domínio sugere o exercício de uma autoridade construtiva no seio da criação,
onde o homem é o regente de Deus.

Imago Dei na teologia patrística.


Encontramos entre os patrísticos diversos teólogos que colaboraram para o
desenvolvimento da doutrina da Imago Dei. Dentre estes, alguns seguem abaixo
relacionados

Irineu de Lyon (? – ca.202) O primeiro pai da igreja a discutir sistematicamente a


Imago Dei foi Irineu5 , Bispo de Lyon6 . Em sua tentativa de formular uma posição
bíblica sobre a imagem de Deus no ser humano foi-lhe primordial a noção da Trindade,
do Logos, ou do Verbo encarnado – Jesus Cristo. Irineu concluiu que os dados das
Escrituras demonstram que a imagem primordial está baseada em Jesus Cristo a qual o
ser humano foi formado. Esta citação demonstra que a posição de Irineu não é só quanto
à imagem de Deus, mas também quanto à natureza da imagem de Deus no homem. Para
ele existe uma distinção entre a imagem ~l,c, (tselem) e semelhança tWmD> (demuth).
Assim, a imagem é definida por Irineu de Lyon como constituída pela doação de uma
mente racional e de uma vontade livre, enquanto a semelhança é percebida através de
graças como a vida no Espírito, que foi perdida na queda humana, mas é restaurada pela
graça em Cristo7 . Desta forma, Irineu lançou as bases para a interpretação da Imago
Dei, principalmente para a era medieval, que acreditava na existência de uma diferença
entre as capacidades naturais da pessoa e um incremento da retidão no ser humano.

Clemente de Alexandria (ca.150 – ca.215) Clemente de Alexandria8 irá prosseguir no


pensamento iniciado por Fílon, porém, não se furta da utilização de novas soluções,
principalmente no que diz respeito à utilização da filosofia nas questões doutrinárias.
Esta forma de reflexão foi chamada pelo próprio Clemente de “filosofia cristã”9 e
trouxe para a antropologia inúmeros avanços. Recorrendo ao conceito bíblico de Imago
Dei para ilustrar a natureza humana, Clemente reconhece a existência de três tipos de
Imago Dei: a do Logos, a do cristão e a de todos os seres humanos. Para as imagens
cujo ser humano é o sujeito, Clemente adota dois termos diferentes: 1- eivkw,n para
imagem natural. 2- o `moi ,wsin para a imagem sobrenatural dos cristãos. A primeira
está presente em todos, enquanto a segunda é encontrada somente em alguns. Assim
sendo, o homem recebe logo ao nascer a Imago; mais tarde, na medida em que se torna
perfeito, recebe a Similitudo. Clemente acredita que a semelhança natural entre Deus e
o ser humano não consiste na essência, no ser, na natureza, ou na forma, mas é uma
semelhança no plano de ação do ser humano, no seu atuar. Ele se assemelha a Deus
enquanto faz o que é bom e enquanto exerce o domínio sobre a criação. Por isso
Clemente declara que: A expressão imagem e semelhança (Gn. 1.27) não se refere ao
corpo, porque é inadmissível que o mortal se assemelhe ao imortal, mas ao intelecto e à
razão, ou seja, àquelas partes do homem em que o Senhor pode fixar convenientemente,
como um sinete, a semelhança em relação ao bem-fazer e ao comandar. Assim, a
semelhança está no agir e não no ser. Desta forma Clemente julga poder preservar a
diferença infinita qualitativa entre Deus e o ser humano.

Gregório de Nissa (ca. 335 – 394) Para Gregório de Nissa11, o fato de a humanidade
carregar a Imago Dei é uma verdade revelada. Verdade esta que faz parte do núcleo das
verdades originárias que Deus mostrou aos primogênitos da criação. Na visão de
Gregório, a imagem só é “realmente imagem quando possui todos os atributos do seu
modelo”12. Se a imagem não é exata, é qualquer coisa menos imagem. Como Deus é o
conjunto de todo o bem, o ser humano enquanto imagem de Deus é pleno de todo o
bem. Por isso, encontra-se na humanidade toda a expressão do que é honesto: a virtude,
a sabedoria e tudo aquilo que se pode conhecer através do intelecto. Essa diferença
permanecerá pelo fato de o ser humano não ser Deus. Segundo Gregório, a diferença
consiste no fato de que Deus é uma realidade subsistente, não criada; enquanto o ser
humano, portador da Imago Dei, recebe a existência através da criação. Gregório afirma
que Deus efetuou duas criações. Sendo a primeira da Imago Dei ideal e a segunda da
Imago Dei real, ou histórica. A criação da Imago Dei ideal realizou-se quando Deus
decidiu criar o ser humano. Esta abrange a humanidade por inteiro13. Para Gregório, os
traços da semelhança com Deus estão mais marcados na alma do que no corpo. Todas as
propriedades fundamentais da alma (espiritualidade, liberdade, incorruptibilidade)

tornam-na fortemente semelhante a Deus14. Outra marca é a liberdade, que não só deve
ser entendida como autodeterminação, mas também como soberania do ser humano
sobre as coisas, sobre o universo. Para Gregório, Deus criou o homem semelhante a Si,
tendo em vista o domínio que deveria exercer sobre os seres inferiores e esta é a
manifestação mais evidente da sua semelhança com Deus. Enfim, a Imago Dei reflete-se
na incorruptibilidade, ou seja, na imortalidade da alma que, como Deus, jamais poderá
extinguir-se. A criação da Imago Dei histórica, que é a imagem real, realizou-se com a
decisão de Deus em criar o homem sexuado, portanto criando-o semelhante aos animais.
Deste modo, na Imago Dei concreta, a semelhança opera em duas direções: em direção
a Deus, através da alma e de suas faculdades, e em direção aos animais, através do
corpo e de sua sexualidade. No pensamento de Gregório, à medida que o ser humano se
volta para satisfazer os desejos da carne, ele está ofuscando a imagem de Deus. Porém
ele não é capaz, de apenas com as próprias forças, comportar-se segundo as exigências
da Imago Dei. Por esse motivo, Deus mandou-lhe em socorro o Filho, Jesus Cristo, que
mostrou à humanidade como deve viver para realizar a Imago Dei, fornecendo-lhe os
meios para fazê-lo. Desta forma, o verdadeiro cristão é aquele que se esforça para
realizar plenamente a Imago Dei pela imitação de Jesus Cristo15. “É pela liberdade que
o homem é igual a Deus”16. Mas Gregório bem sabe que o homem pode abusar da
liberdade e pode usá-la para minimizar e arruinar a Imago Dei. Por isso, não é qualquer
exercício da liberdade que torna o homem semelhante a Deus, mas somente aquele em
que o homem lhe permanece submisso. A Imago Dei ideal é, com efeito, a meta que o
homem alcançará depois da vida presente, se tiver vivido de acordo com os preceitos
divinos a exemplo de Jesus Cristo.

Santo Agostinho (354 – 430) A Imago Dei é o tema dominante da reflexão


antropológica de Santo Agostinho e é abordada em todas as suas obras de maior
importância. Para uma compreensão mais clara deste assunto, podemos subdividi-la da
seguinte forma: 1) Noções de "Imago" e "Similitudo" no pensamento de Agostinho.
Pelo termo "Similitudo", Agostinho entende não uma divindade indeterminada, nem o
Deus Uno, dos hebreus, mas o Deus verdadeiro que se manifestou em Jesus Cristo, ou
seja, o Deus Trino. Quanto aos termos "Imago" e "Similitudo", designam ambos uma
relação de semelhança entre duas coisas, porém, não são sinônimos. Similitudo diz
muito menos que Imago. Toda imagem é semelhante àquilo de que é imagem, mas o
contrário não é verdadeiro, pois nem tudo o que é semelhante a algo é também sua
imagem. Para que uma similitude seja também Imago é preciso que se trate de uma
semelhança entre causa e efeito. Assim, chama-se imagem à representação de uma
pessoa no espelho ou num quadro; do mesmo modo, se um filho é semelhante ao pai,
diz-se que é a sua imagem. Ao contrário, no caso de dois gêmeos idênticos, pode-se
dizer que se parecem, mas não que um seja a imagem do outro. Divisão da "Imago Dei"
no pensamento agostiniano. Ele distingue duas espécies de Imago. Uma que é da mesma
substância do modelo e outra que é de substância (essência) diversa da do modelo. A
Imago consubstancial realiza-se através da geração, assim, a Imago consubstancial é o
resultado de uma produção generativa como, por exemplo, a criação. Agostinho
distingue nitidamente o homem do Verbo, ambos, imagem de Deus. Mas enquanto o
Verbo, gerado pelo Pai, é imagem perfeita, da mesma natureza do Pai e idêntica a ele; o
homem, criado por Deus, é uma imagem imperfeita, semelhante, mas não idêntica à
realidade divina, de quem possui as perfeições fundamentais por participação. Para
Agostinho, no Gênesis, o termo Similitudo acompanha o termo Imago para determinar e
precisar o sentido do termo Imago e para esclarecer que não se trata de uma Imago
consubstantialis e sim de uma imagem por participação18.O constitutivo essencial da
"Imago Dei" no ser humano. Agostinho afirma que todas as coisas criadas se
assemelham a Deus e todas são realmente suas criaturas e carregam, portanto, marcas da
sua perfeição. Ele observa que, embora muitas coisas se assemelham a Deus, nem todas
podem ser chamadas de imagem de Deus. "Só se pode aplicar a denominação de Imago
Dei às coisas que apresentam uma semelhança acentuada com ele (expressa
Similitudo)."20 Quando a semelhança é pequena, pobre, incerta,obscura, não mais se
pode falar de Imago; mas somente de Vestigium. É este o caso de todas as coisas
inferiores ao ser humano, de um modo ou de outro, são vestígios de Deus, ou seja, da
Trindade. Ao passo que o homem é propriamente uma Imago Dei, como afirma a
Sagrada Escritura. Em que consiste essencialmente a semelhança tão profunda entre o
ser humano e Deus, para ser chamada de Imago Dei? Para Agostinho esta semelhança
não pode consistir no corpo, pois Deus não é corpo, mas sim espírito. E claro que
também o corpo apresenta traços de semelhança com a Trindade, mas não chegam a
constituir uma imagem de Deus, e sim um vestígio. Com efeito, a Imago Dei consiste na
alma e mais precisamente na mente. Agostinho encontra na mente, duas razões, uma
inferior (voltada para as coisas deste mundo e guia do homem em suas decisões
práticas); e uma superior (voltada para as verdades eternas e, portanto, para Deus).
Dessas duas razões, somente a segunda constitui a Imago Dei, pois só a razão superior é
incorruptível e não decai nem mesmo quando o corpo se corrompe. Além disso, como
conhece a Deus, a razão superior o invoca e está sempre buscando a comunhão com ele.
Para Agostinho, o pecado não pôde destruir a imagem de Deus, porque esta faz parte da
essência do homem. O pecado, pois, deformou de maneira grave a Imago Dei; mas não
a destruiu, senão o homem deixaria de existir.

Imago Dei na teologia escolástica.


Após a análise de algumas das formulações da era patrística, é necessário que se
conheça também a reflexão produzida na era escolástica. Será analisado o pensamento
de dois teólogos que podem ser considerados como expoentes desta escola e que
também influenciaram grandemente a reflexão sobre o tema da Imago Dei.

Boaventura (1221 – 1274)

Ao analisarmos o pensamento de Boaventura, iremos verificar que suas idéias quanto à


Imago Dei diferem totalmente dos demais, inclusive do pensamento de Agostinho.

Para Agostinho, "Similitudo" significava uma semelhança genérica e imprecisa, ao


passo que "Imago" indicava uma semelhança marcada e precisa. Já para Boaventura,
“Similitudo” indica uma semelhança ainda mais perfeita do que a indicada por “Imago”.
Quanto à divisão dos termos e significado de Imago, Boaventura seguiu o pensamento
de Agostinho. A divisão principal é entre Imago naturalis e lmago artificialis: a primeira
verifica-se quando a imagem se assemelha ao modelo por força de sua própria forma
natural (essencial); a segunda, pelo contrário, verificase quando uma coisa se assemelha
a outra por causa de um aspecto e de uma forma acidental. Outra divisão importante é
entre Imago naturalis, em que a semelhança depende da própria natureza da coisa,
independente do fato de que a correspondência com o modelo se relacione ou não com a
própria natureza (a essência) deste último; e Imago connaturalis, em que a
correspondência concerne à própria natureza do modelo. Boaventura recorda, antes de
tudo, os vários modos pelos quais a humanidade pode assemelhar-se a Deus. Para ele,
há a semelhança fundada na comunidade de natureza; há a semelhança baseada na
participação de uma natureza universal (como a semelhança entre o ser humano e
cavalo enquanto animais); há a semelhança na proporcionalidade, ou seja, na
semelhança das relações (por exemplo, entre o cocheiro e o marinheiro: um guia os
cavalos; o outro as embarcações); há a semelhança na ordem (por exemplo: entre pai e
filho); entre modelo e cópia. Boaventura chega à conclusão de que entre o ser humano e
Deus não pode haver a semelhança dos primeiros dois tipos, visto que o homem não é
da substância de Deus. Há, no entanto, a semelhança dos três últimos tipos:
proporcionalidade, causa e efeito, modelo e cópia.

No pensamento de Boaventura, a atuação da Imago Dei se alcança quando o ser humano


se torna consciente de sua semelhança com Deus e se comporta de maneira conveniente,
ou seja, dirigindo sua atenção e seu amor a Deus. Quando, pelo contrário, se dirige às
criaturas inferiores, torna-se semelhante à coisa onde não está presente a Imago Dei,
mas apenas um vestigium. A verdadeira Imago só existe em quem é consciente de ser
uma participação do ser divino.

Santo Tomás de Aquino (ca.1225 – 1274) Alguns historiadores vêem em Tomás de


Aquino26 o iniciador de uma nova antropologia. Ele não perde de vista o pensamento
de seus colegas quanto à questão da Imago Dei. Uma preocupação grande permeia o seu
pensamento: ‘Será que o ser humano perdeu a imagem de Deus?’ Assim como
Agostinho, ele chega à conclusão de que isto é impossível, senão o ser humano deixaria
de existir. Na dimensão da Imago Dei, Tomás afirma que a exemplaridade não se refere
somente a uma parte, mas ao homem todo, pois abrange a alma e o corpo. Alguns
autores de inspiração platônica e agostiniana restituíram a Imago Dei à alma, por sua
vez, Tomás de Aquino concebe o homem como unidade substancial de alma e corpo e
afirma que também este participa da semelhança divina. Todavia, também Tomás de
Aquino acompanha a maior parte dos padres e teólogos medievais e reconhece que a
Imago Dei é essencialmente propriedade da alma. E esta possui, também, as faculdades
espirituais próprias da natureza divina, isto é, o conhecer e o querer. Para Tomás de
Aquino, o fundamento último da Imago Dei está no conhecimento. A imagem reside,
sobretudo, na memória e na inteligência, portanto, a imagem encontra-se inteira na parte
intelectiva27, como em sua raiz; e, por conseguinte, tudo que se atribui ao homem a
partir da imagem refere-se primariamente à faculdade afetiva. Quanto ao mais, é da
parte intelectiva que recebe a característica de constituir-se humano, enquanto que da
parte afetiva lhe advém a qualidade de ser bom ou mau. Desta forma, para Tomás de
Aquino, a Imago Dei existe de três modos diferentes que podem ser definidos da
seguinte maneira: a Imago Creationis, a Imago Smilitudinis e a Imago Recreationis. A
primeira imagem consiste na razão como representação da sabedoria Divina. A segunda
imagem consiste nas faculdades distintas da alma que representam a Santíssima
Trindade, a saber, a memória, o intelecto e a vontade. Este modo da imagem é
comparado por Tomás às imagens corporais que correspondem aos seus modelos quanto
à distinção das partes. A terceira imagem consiste nos hábitos gratuitos, ou seja, nas
chamadas virtudes sobrenaturais, através das quais Tomás de Aquino compara as
imagens corpóreas no que concerne à correspondência das cores ou outros elementos
decorativos. Santo Tomás de Aquino conclui, baseando-se nas distinções das imagens,
que somente a terceira – Imago Recreationis – foi perdida após a queda humana,
permanecendo inalteradas as demais imagens, uma vez que se fundamentam nas
propriedades que pertencem à própria natureza do ser humano. Tomás de Aquino
conclui que existe entre o ser humano e Deus uma relação de semelhança que
permanece intacta, apesar da distância infinita que separa qualquer criatura de Deus,
conservando o valor de verdadeira e própria imitação e representação sendo, portanto, é
legítimo e bom falar do ser humano como Imago Dei.

Imago Dei na Reforma protestante

Os reformadores, não aceitam a diferença entre imagem e semelhança, e consideram


que a Justiça original estava incluída na imagem de Deus e que pertencia à verdadeira
natureza do homem em sua condição original. Existe diferença de opinião entre
Martinho Lutero29 (1483 – 1546) e João Calvino30 (1509 – 1564).

Lutero não reconhece a imagem de Deus em nenhum dos dons naturais do ser humano,
tais como suas potências racionais e morais, se não exclusivamente na Justiça original,
e, portanto a considera eternamente perdida por causa do pecado. Para Calvino, a
expressão imagem de Deus denota a integridade com que Adão foi dotado quando seu
intelecto era lúcido31, quando seus afetos estavam subordinados à razão, quando todos
os sentidos estavam devidamente regulados, e quando verdadeiramente Adão descrevia
toda a existência dos admirados dons do seu Criador. O mais importante, para Calvino,
é que a concepção de imagem e semelhança encontra-se na mente, no coração, e na
alma do ser humano. Em Calvino, o termo "imagem de Deus" inclui tanto os dons
naturais como aquelas qualidades espirituais designadas como Justiça original e são
esses atributos, a Justiça e a Santidade, que o ser humano perdeu com a queda. Mas que
são recuperáveis em Cristo à medida que o ser humano é alcançado pela sua graça
salvadora, desta forma ele deixa de ser "homem natural" para se converter em espiritual
e fazer brilhar de novo esta imagem que está por ora obscurecida32. Para Calvino, o
homem não perdeu a imagem de Deus no sentido em que muitos afirmam, pois se assim
fosse, o homem deixaria de existir e não seria mais a imagem de Deus.

Imago Dei na teologia contemporânea.

Após examinarmos o desenvolvimento da doutrina da Imago Dei na visão dos


principais teólogos dos períodos supracitados, analisaremos o pensamento dos teólogos
modernos. Com este intuito, seguem abaixo as interpretações de alguns dos
considerados mais importantes teólogos contemporâneos.

Karl Barth (1886 – 1960) Karl Barth33, assim como Brunner, ensina que o homem
descobre através da consciência de si mesmo sua relação pessoal-atual com Deus. Barth
procura um caminho para conceber com precisão uma analogia ou similaridade entre a
existência humana e a própria existência de Deus, assim ele enfatiza que não se trata de
uma questão de analogia entis. Por analogia entis, ele entende uma tentativa da teologia
Católica Romana para construir, com bases humanas, uma criatura afiliada a Deus, que
é o próprio ser humano34. Em todo caso, Barth procura fazer essa analogia no sentido
da analogia fidei, que ele entende como sendo a correspondência entre a existência de
Deus e a existência do ser humano, que somente pode ser percebida pela fé no Deus que
afirma que todos os seres humanos estão no homem Jesus35. Ele distingue entre a
Imago "formal" do Antigo Testamento, que consiste em indestrutível humanitas; e a
Imago "material" do Novo Testamento, que se perdeu com o pecado e é recuperada pela
fé. A imagem formal que constitui o homem e sua humanidade encontra sua expressão
na liberdade e, sobretudo, e a responsabilidade diante de Deus. Barth vê uma imagem de
relação do homem com Deus como na existência dialogal do varão e da mulher36; e
esta relação se refere ao movimento em que Deus vem e habita no homem. Esta relação
dialogal entre homem e mulher a designa como universal. Esta tese pretende afirmar
que um contato de Deus com o homem só é possível por meio de um "canal" que Barth
chama de Cristológico. O divino só se comunica por meio da fé e de Sua Palavra
encarnada37.

Emil Brunner (1889 – 1966)

Emil Brunner38 aborda esta questão de um ponto de vista antológico, porém não
histórico. Ele nega que se possa falar de duas Imagos Dei, sendo uma sobrenatural e
outra natural e que somente a primeira Imago teria sido perdida com o pecado original.
Para Brunner a Imago Dei é uma só; e o pecado não a destruiu39, porém, a perverteu.
"No sentido genuíno da Bíblia, o homem deve ser interpretado por um principio único,
pela Palavra e imagem de Deus originais. A humanidade do homem é uma dualidade na
unidade, natureza e graça. A destinação divina é a natureza originária própria do homem
e aquilo que agora nós reconhecemos no homem como sua ‘natureza’ é ‘natureza
desnaturada’, é apenas um mísero resto do original. O homem não perdeu uma
sobrenatureza com o pecado, mas precisamente a sua natureza, aquela que lhe foi dada
por Deus, e tornou-se inatural, inumano." Ao contrário da doutrina católica, Brunner
não aceita a dupla semelhança, uma que não se pode perder, que é a imagem; e a outra
que pode ser perdida, que é a Similitudo. A primeira faz parte da natureza e a segunda
da atual relação com Deus. A essência do homem, ao contrário, deve ser entendida
unitariamente do ponto de vista da relação com Deus, sem distinção entre natural e
sobrenatural. Essa teologia unitária é invertida pelo pecado, mas, mesmo na inversão,
ela mostra na estrutura humana os traços da imagem de Deus, de maneira que o formal
humano remete-se precisamente à origem perdida. Deste pensamento surgem duas
idéias principais, a saber: O estado de pecado não exclui a criatura "homem" em
relação a Deus, pois o homem ainda se encontra diante de Deus e em relação com Deus.
Mas isto não quer dizer que o homem é indesculpável. A Imago Dei não é anulada, mas
sofre uma reviravolta,pois "o pecado é a inversão da posição original. Isso muda o ser-
para-Deus em ser-longe-de-Deus." No pensamento de Emil Brunner, a imagem de Deus
no homem consiste na relação do homem para com o seu Criador.

Reinhold Niebuhr (1892 – 1971)

Reinhold Niebuhr42 fez um estudo acurado a respeito da Imago Dei nas Escrituras, nos
Padres da Igreja, nos Escolásticos e nos reformadores, e de forma mais acentuada em
Santo Agostinho e Lutero. Niebuhr faz ver que o primeiro a negar a imagem de Deus,
depois do pecado, foi o reformador Martinho Lutero que ,no entanto, só conseguiu fazê-
lo a custo de muitas incongruências. Com efeito, ainda que Lutero insista em que ‘a
imagem está de tal forma deteriorada e ofuscada pelo pecado e tão ‘leprosa e suja’ que
nos impede até mesmo de ‘ter um conceito dela’ na mente, ele procede, todavia, à busca
de uma compreensão e uma definição da imagem de Deus, em amplo contraste com a
condição atual de pecado. Para Niebuhr, a natureza humana é transcendente e livre, ao
mesmo tempo em que é finita e presa aos limites desta natureza. Assim, existe a
natureza intocável que consiste de dois elementos: o seu caráter e a sua liberdade.
Pertencem à natureza essencial do homem, todos os seus dotes e determinações naturais,
os impulsos físicos e sociais, as diferenciações sexuais e racionais; ou seja, o seu
caráter. Enquanto criatura inserida na ordem natural e como ser finito e natural, o ser
humano tem consciência da ameaça da morte e esta lhe traz um sentimento de que a sua
vida é sem significado. Por outro lado, sua natureza essencial abarca também a
liberdade de espírito, a sua transcendência em relação aos processos naturais e, por fim,
a sua autotranscendência. Como seres transcendentes, o ser humano reconhece a Deus
como aquele que fornece os padrões para a sua realização como ser. Niebuhr chama a
liberdade, da qual o ser humano é dotado, de liberdade radical, na medida em que é
capaz de escolher não só entre várias coisas, mas também a si mesmo.

Dietrich Bonhoeffer (1906 – 1945)


Para Dietrich Bonhoeffer45, Deus criou Adão segundo a Sua própria imagem e
procurava se agradar na criação deste, pois "era muito bom". Em Adão Deus
reconhecia-se a si mesmo. Deus criou o ser humano para refletir a Sua "imagem" neste
mundo. Mas este ser perdeu a sua natureza fudamental, a Imago Dei, que o próprio
Deus lhe havia dado. A partir desta perda o homem vive "alienado" de sua destinação
verdadeira: ser semelhante a Deus. Na concepção de Bonhoeffer, quando o homem
pecou, ele perdeu a imagem de Deus que lhe fora outorgada e o homem, de si mesmo,
não pode fazer nada. Diz ainda que a imagem de Deus como Graça do Criador continua
perdida nessa terra. Em seu livro "Discipulado", Bonhoeffer diz o seguinte: Deus,
porém não desvia o olhar da criatura perdida. Quer uma segunda vez, criar no homem a
Sua imagem. Deus quer novamente comprazer-se em sua criatura. Procura nela Sua
própria imagem para poder amá-la. Todavia, não a encontrará de outra forma, se não,
assumindo ele mesmo, por misericórdia, a imagem e a estatura dos homens perdidos.
Deus tem de assumir a forma do homem, porque o homem já não pode reassumir a
forma de Deus. 46 Dietrich Bonhoeffer não encara o termo perda da imagem como algo
irrecuperável, mas diz que o homem perdeu a parte espiritual, a comunhão direta com
Deus. O homem ainda reflete a imagem de Deus no mundo, embora de uma forma
obscurecida e diz que se a tivesse perdido totalmente ele deixaria de existir, mas ela está
apenas obscurecida, embaçada. Porém, em Cristo, ela se refaz para o pleno
reconhecimento e nele somos transformados de glória em glória.

Wolfhart Pannenberg (1928 -)

O teólogo luterano alemão Wolfhart Pannenberg47 formulou o seu conceito único de


Imago Dei. Pannenberg observa que a metafísica tradicional compreende o ser humano
como um microcosmo, que é entendido em termos deste mundo e que se destina a
duplicar a sua estrutura na própria existência, o que já não é mais aceitável para a
humanidade atual. O homem moderno pretende governar o mundo, para o mundo que
“is no longer a home for man: it is only the material for his transforming activity.”48
Assim, o ser humano de hoje já não pode firmar sua identidade neste mundo. A questão
sobre a sua identidade é rebatida com o próprio ser humano. O ser humano só é capaz
de lidar com esta questão porque ele é um ser fundamentalmente distinto do resto do
reino animal, através de uma habilidade única e exclusiva humana, chamada por
Pannenberg de “openness to the world.”49 Pannenberg considera dois outros aspectos
da humanidade que, por sua vez, estão relacionados com a imagem de Deus, ou seja,
relacionamentos e domínio sobre o mundo. Sobre o aspecto relacional da humanidade,
Pannenberg enxerga o ser humano como fundamentalmente relacional. Daí, sua
definição provisória da Imago Dei. Pannenberg enfatiza a relação do homem com Deus
como prérequisito necessário para a correta dominação do mundo: Segundo
Pannenberg, a imagem de Deus no ser humano é a garantia da sua participação no
“eterno presente” de Deus, ou simplesmente de colocá-lo na vida eterna.

Pannenberg, ao lado de teólogos como Paul Althaus, Helmut Thielicke, Karl Barth e
outros diz que o ser humano é constituído por "divina intenção criativa" que em
princípio não pode ser perdida. Assim, através da conclusão de que nada foi realmente
perdido, Pannenberg, ao mesmo tempo, evita em sua mente, a dificílima discussão sobre
o estado original da união do homem com Deus. E essa idéia segundo Pannenberg não é
nem muito significativa para fins teológicos e nem é defensável, à luz das descobertas
científicas e históricas. Pannenberg acrescenta ainda outro aspecto muito importante, a
saber, o aspecto comunitário da Imago Dei, ou como ele chama, estrutura da sociedade:
Assim, o aspecto comunitário da Imago Dei segue o aspecto comunitário da igreja, o
corpo de Cristo na terra, e está extremamente ligado ao conceito do homem como
representante de Deus como o governante sobre todo o restante da criação de uma
maneira amorosa e responsável.

Jesus Cristo – Verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua
glória, glória como do unigênito do Pai. João 1.14 Jesus, o Verbo Encarnado, reflete
com toda a perfeição a Imago Dei. No entanto, desde o início da igreja cristã, as
naturezas de Jesus Cristo foram alvos de várias controvérsias, despertando, assim, as
inquietações dos líderes e teólogos dessa época que produziram formulações de fé
(Credos) e também doutrinas basilares da cristandade. Dentre estas controvérsias,
seguem algumas das que mais se destacaram e que mostram a evolução da compreensão
das naturezas de Jesus Cristo, bem como as implicações dessas naturezas para o ser
humano.

Conclusão:

O vulto do reconciliador, do homem-Deus Jesus Cristo, põe-se entre Deus e o mundo,


coloca-se no centro de tudo que acontece. Nele se desvenda o mistério do mundo, assim
com nele se desvenda o mistério de Deus. Dietrich Bonhoeffer Após a reflexão
apresentada a respeito da Imago Dei, é imperativo que a teologia busque, de modo
urgente, formular uma antropologia que demonstre de maneira clara e objetiva o ser
humano como a imagem de Deus e sendo digno, livre e também responsável. Como já
demonstrado e afirmado pela CFW e também pela CB no seu 14º artigo, que trata da
criação e queda do ser humano: Cremos que Deus criou o homem do pó da terra, e o fez
e formou conforme sua imagem e semelhança: bom, justo e santo, capaz de concordar,
em tudo, com a vontade de Deus. Mas, quando o homem estava naquela posição
excelente, ele não a valorizou e não a reconheceu. Dando ouvidos às palavras do diabo,
submeteu-se por livre vontade ao pecado e assim à morte e à maldição. Pois transgrediu
o mandamento da vida, que tinha recebido e, pelo pecado, separou-se de Deus, que era
sua verdadeira vida. Assim ele corrompeu toda a sua natureza e mereceu a morte
corporal e espiritual. 1 Assim, mesmo com a queda e ainda que na natureza humana
haja deficiências, há princípios específicos do ser humano, como a razão e a liberdade2 ,
que o singularizam na cadeia de seres criados. O homem, no uso de sua razão e de sua
liberdade, diferentemente do instinto animal, possui uma direção vital que, conforme
Pannenberg, foi dada por Deus. Porém, Deus não abandonou o homem ao seu estado de
desorientação, mas lhe permitiu um evoluir através da sua experiência. A Imago Dei
permite ao ser humano pensar a finalidade da realização de sua essência e constitui ao
mesmo tempo o princípio do qual ele parte. Mesmo sendo imperfeito, o homem está em
condições de ultrapassar suas deficiências através de sua abertura ao mundo e às coisas
de fora dele.Portanto,em contato com Deus e através de Jesus Cristo, ele irá superar as
limitações da sua natureza.

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