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Gênesis 1. 26–28
E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e
domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a
terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra.
E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os
criou.
E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e
sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o
animal que se move sobre a terra.
Gênesis 5. 1–3
Este é o livro das gerações de Adão. No dia em que Deus criou o homem, à semelhança
de Deus fez Ele a ele. Macho e fêmea os criou, e abençoou-os, e chamou o seu nome
Adão, no dia em que foram criados. E Adão viveu cento e trinta anos e gerou um filho à
sua semelhança, segundo a sua imagem; e chamou seu nome de Seth.
Gênesis 9. 6
Quem derramar o sangue do homem, pelo homem o seu sangue será derramado; porque
Deus fez o homem conforme a sua imagem.
Imago Dei é uma expressão latina que significa imagem de Deus. Fomos criado a
imagem e semelhança do Altíssimo.Temos em nosso ser a imagem daquele que nos
formou. Isso é o que ensina a Bíblia (Gênesis 1.26). Todo cristão deveria crer nisso,
católicos e protestantes deveriam saber disto. Somos criados em Deus, por Deus e para
Deus.
Chamo a atenção para a igualdade fundamental do ser que é humano: que somos todos
uma natureza corrompida. Se há alguma indignidade, esta está na perfeição perdida, na
corrupção da imago Dei, em ser corrompidos pelo pecado.
A liberdade com que foram dotados nossos pais ( Adão e Eva) faz o humano à imagem
de Deus é a mesma liberdade que se manifestou no estranhamento de Deus, quando a
divindade afasta seus olhos do homem por não poder contemplar seu pecado. Quando
isso ocorre há uma ruptura no elo sagrado, fazendo com que a imagem de Deus no
homem seja manchada, quebrada.
Mesmo quebrada , a imagem de Deus no homem continua ali, os traços estão nítidos. O
espelho quebrou , mas o desenho ainda se distingue entre os cacos de vidro. Por isso,
todos devemos nos respeitar pois viemos do mesmo lugar e estamos igualmente
manchados pelo pecado( Leia Romanos 3.23).
Todos temos uma dignidade enquanto seres formados à semelhança de Deus, diferente
dos animais, plantas e outros seres vivos.
Berkhof diz que na concepção reformada, a Imagem de Deus consiste na integridade
original da natureza do homem, integridade esta expressa:
Mas a imago Dei que, embora corrompida, ainda permanece é que fundamenta toda a
dignidade humana.
As pessoas humanas possuem , derivada de Deus, uma certa autoridade sobre toda a
terra, com o domínio sobre os peixes do mar, as aves do céu, o gado e todos os animais
rastejantes (versículo 28).
Deus estabeleceu o Éden, construiu com toda sua beleza e esplendor e ali coloca o
homem ali para trabalhar e guardá-lo (2.8, 15). O que Deus inicia, o homem deve
manter e cultivar. Deus também responsabiliza o homem pelos nomes de todos os
animais da terra, exemplificando a autoridade que ele possui (2.19).
Sejamos mais semelhantes a Deus e menos racistas, menos sectários e menos elitistas.
Essa separação é um ultraje a Perfeição de nosso Senhor Deus. O pecado quebrou a
imagem de Deus em nós, mas não definitivamente, pois pela graça de Deus em Cristo
essa imagem é renovada (Efésios 4.24; Colossenses 3.10). Deus nos chamou para uma
vida completa em Cristo. Só Cristo dá ao ser humano uma centralidade e completude
que permite a possibilidade de autorrealização e participação em um realidade sagrada .
É expressamente afirmado que o Homem foi criado à Imagem de Deus e Deus sendo
um Ser Triúno em Sua natureza constitutiva, o Homem possui uma natureza triúna
constitutiva: Corpo, Alma e Espírito que administram a matéria física do Homem, a
mente do Homem e a Comunhão do Homem com Deus. Isto é estranho à Teologia
Hebraica que apenas vê o Homem de uma forma única mas é verdade que o Homem só
pode ser apresentado unitariamente, independente de sua natureza constitucional. Da
mesma forma que há um só Deus, Ele é Triúno e ninguém possui apenas o Espírito
Santo, por exemplo. Por isso, não estamos muito longe da concepção hebraica.
A Imago Dei abrange toda a pessoa do Homem e foi apagada em sua Essência, embora
a Ícone permaneça pois o Homem ainda é Senhor da Terra como em Salmo 8, manifesta
sua Ícone na administração familiar quando o homem é o Cabeça da mulher e, quando
Deus condena o homicídio, condena por tirar a vida de Seu Ícone, embora desprovido
da Essência ( pois os animais selvagens já não lhe respeitam; pois ao invés de
considerar, na família, a mulher como parte mais frágil, ou a coloca em posição de
escravo ou aceita sua subversão).
Cristo existe como Ícone Essencial do Deus Invisível, ou seja, é a Ícone Existencial e
Essencial. Ele é Completo e por Sua Completude nós podemos ser recompletados e
voltarmos à situação original. Somos reconstituídos como Imago Dei pelo Decreto do
Pai, pelo Sacrifício de Cristo e pela Visitação do Espírito, embora ações diferentes em
termos existenciais possuem a mesma essência ( da mesma forma a constituição
humana: existe tríplice em essência una). Nada há em nós que possibilite a recepção da
Palavra: Cadáver não ouve nem pensa!
Esse tópico visa cuidar especificamente do aspecto mais interessante do homem, a saber
a Imagem e a Semelhança de Deus em que foi criado o homem. Normalmente nas obras
de Teologia Sistemática utiliza-se um termo em latim para designar esse fato, Imago
Dei (Imagem de Deus), e por isso continuam nesta forma neste estudo.
Imago Dei é o grande diferencial na criação do homem, é o que, por certo, diferencia o
homem do resto da criação. Entretanto, é tema antigo de debates teológicos, pois
historicamente, não se chegou a um consenso a respeito deste termo. Assim é válido
observar algumas das diferentes opiniões históricas sobre esse tema.
A. Breve Histórico
Alguns dos “Pais da Igreja” concordavam que a Imagem de Deus no homem consistia
em suas capacidades racionais, morais e na capacidade para a santidade. Entrementes
alguns tendiam a crer que existiam alguns aspectos físicos pertencentes a essa Imagem
de Deus.
Em outros desses “Pais da Igreja”, criam que Imagem e Semelhança eram aspectos
distintos e que como tal tinham implicações distintas. Para Clemente de Alexandria e
Orígenes (gregos), que rejeitavam qualquer relação do termo com o corpo, criam que
Imagem estava relacionado a características do homem como tal, e Semelhança como
qualidades não essenciais do homem.
Esse tipo de abordagem, que distingue Imagem de Semelhança, foi também encontrada
nos escolásticos, embora nem sempre expressa do mesmo modo. Já os reformadores
abandonaram a distinção entre Imagem e Semelhança, pois “consideravam a justiça
original como incluída na imagem de Deus e como pertencente à própria natureza do
homem em sua condição originária”.
Alguns teólogos mais recentes tem discordado de todas essas possibilidades, como
Scheleiermacher, que rejeitou a possibilidade de que houvesse justiça original no
homem original, pois cria que essa justiça só era possível por meio de desenvolvimento.
•B. Significado do termo
Embora durante muito tempo se tentou diferenciar as palavras, nos relatos bíblicos as
palavras imagem e semelhança são empregadas como sinônimos. Em Gn.1.26 são
empregada as duas palavras, mas no v.27 apenas a primeira delas. Em Gn.5.1 só ocorre
a palavra semelhança e no v.3 ambas novamente. Porém em Gn.9.6 aparece apenas a
palavra imagem. Ou seja, são utilizadas em Gênesis de maneira intercambiável. Outro
detalhe importante é que, até mesmo as preposições utilizadas são igualmente
intercambiáveis (cf. Gn.1.26,27 e 5.1-3).
Portanto o que se pode concluir até aqui é que não se deve apoiar na utilização das
palavras unicamente para enfatizar diferenças de ênfases ou de aspectos desse fato.
Logo, é prudente os aspectos envolvidos a fim de encontrar uma definição mais
plausível para os termos utilizados em Gênesis.
C. Aspectos envolvidos
A imagem de Deus, na qual foi criado o homem, certamente inclui o que normalmente
se denomina “justiça original”. Esse termo diz respeito a condição do homem, que foi
criado sem pecado. Esse fato tem grande respaldo escriturístico. Em Gn.1.31, após a
criação do homem fala que tudo o que Deus fizera eram muito bom. Salomão também
faz uma boa observação do homem com criatura especial de Deus quando diz:
“Eis o que tão somente achei: que Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas
astúcias”. (Ec.7.29)
“Não mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do velho homem com seus
feitos, e vos revestistes do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento,
segundo a imagem daquele que o criou” (Cl.3.10)
O que se pode notar nessas citações paulinas é que a condição a qual o homem retorna
na salvação é sua condição original. Esse fato é evidenciado pela palavra refaz, que traz
a ideia de realizar novamente algo anteriormente pronto ou de fazer novo novamente,
como sugere a forma grega da palavra em pauta. Se essa conclusão é exata, pode-se
ainda conferir o aspecto original do homem, que se perdeu com a entrada do pecado,
que é de pleno conhecimento, justiça e santidade. Logo, as referências à Imagem de
Deus nestes textos refletem sua imagem moral, que estão presentes no homem. Assim, o
homem é criado segundo a imagem moral de Deus.
Portanto, “a criação do homem segundo esta imagem moral implica que a condição
original do homem era de santidade positiva, e não um estado de inocência ou de
neutralidade moral “.
Constituição natural do homem
Não há dúvidas que o fato do homem ser criado segundo a Imagem de Deus implica que
até mesmo os aspectos mais naturais do homem derivem de Dele. Ou seja, as faculdades
intelectuais, sentimentos naturais, liberdade moral e a volição, no homem são reflexos
do que Deus é em primeiro lugar.
Por ser criado a Imagem de Deus o homem dispõe de uma capacidade moral e racional.
Essas capacidades asseguram a condição de homem ao ser humano, e é impossível que
participe dessa condição sem a presença dessas dádivas. Ou seja, embora o homem hoje
esteja em um estado de pecado, não perdeu completamente essas características, mas é
impossível que elas sejam exatamente como foram outrora.
Portanto, é importante evidenciar que, ainda que o homem tenha a capacidade moral e
intelectual, ela foi maculada pelo pecado. Entretanto, é válido demonstrar que mesmo
após a queda o homem é apresentado como sendo imagem de Deus (Gn.9.6; 1Co.11.7;
Tg.3.9). Segue-se que é impossível afirmar que o homem perdeu totalmente a Imagem
de Deus, da mesma forma que é impossível afirmar que ela seja identicamente a mesma.
Constituição espiritual do homem
É natural esperar que o homem sendo criado a imagem de Deus desfrute de uma
condição espiritual, pois “Deus é espírito” (Jo.4.24). E não é difícil observar esse fato,
pois mesmo na narrativa da criação podemos encontrar dados referentes a esse fato:
“…lhes soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente”
(Gn.2.7)
Dois fatos podem ser ressaltados e considerados importantes nesta questão, (1) a vida do
homem só foi possível após o sopro de vida da parte de Deus, sendo considerado como
o princípio da vida do homem e (2) a expressão “alma vivente” é considerada condição
de sua vida.
Embora não seja o cunho deste tópico tratar da constituição do homem no que diz
respeito às suas divisões, é válido demonstrar que o homem criado a Imagem de Deus é
formado pelo corpo e pela alma. Isso não indica que estes são os únicos aspectos do
homem, mas que existe em sua totalidade única uma duplicidade constitucional. Ou
seja, existe a parte material e visível do homem bem como a imaterial e invisível. Porém
estes assuntos serão melhores discutidos pouco à frente (Ponto V).
Vida Infinita
Parece pouco contraditório afirmar que o homem original desfrute da vida sem fim, pelo
fato de não estar presente hoje em algum lugar da terra. Parece mais contraditório ainda
quando notamos que não existem referências a outro ser que não morre a não ser a Deus
(1Tm.6.16).
Contudo, ao ser criado a Imagem de Deus, o homem participa dessa vida, não de
maneira completa e perfeita como o próprio Deus (que é eterno por definição). Assim,
essa Vida é verdadeira, considerada como uma dádiva de Deus e não uma fonte
autônoma de vida derivada do próprio homem. Segundo Chafer, o sopro divino foi a
doação de uma vida interminável, ainda que a punição pelo pecado incluísse a morte do
corpo (física).
Indica que o arquétipo do homem é o Deus trino e que nossos atributos refletem, ainda
que imperfeitamente, o caráter de Deus.
Dependente
Indica que o homem não é um ser autônomo, derivando sua própria existência d’Aquele
que o criou.
Estrutura
Por estrutura quer-se dizer não estrutura física, mas emocional, intelectual e volitiva. O
aspecto físico do homem reflete o plano original de Deus de encarnar-se para a redenção
da humanidade.
Relacionamento
Indica que o perfeito amor existente entre a Trindade estaria refletido na interação entre
os seres humanos.
Domínio
Por fim, domínio sugere o exercício de uma autoridade construtiva no seio da criação,
onde o homem é o regente de Deus.
Gregório de Nissa (ca. 335 – 394) Para Gregório de Nissa11, o fato de a humanidade
carregar a Imago Dei é uma verdade revelada. Verdade esta que faz parte do núcleo das
verdades originárias que Deus mostrou aos primogênitos da criação. Na visão de
Gregório, a imagem só é “realmente imagem quando possui todos os atributos do seu
modelo”12. Se a imagem não é exata, é qualquer coisa menos imagem. Como Deus é o
conjunto de todo o bem, o ser humano enquanto imagem de Deus é pleno de todo o
bem. Por isso, encontra-se na humanidade toda a expressão do que é honesto: a virtude,
a sabedoria e tudo aquilo que se pode conhecer através do intelecto. Essa diferença
permanecerá pelo fato de o ser humano não ser Deus. Segundo Gregório, a diferença
consiste no fato de que Deus é uma realidade subsistente, não criada; enquanto o ser
humano, portador da Imago Dei, recebe a existência através da criação. Gregório afirma
que Deus efetuou duas criações. Sendo a primeira da Imago Dei ideal e a segunda da
Imago Dei real, ou histórica. A criação da Imago Dei ideal realizou-se quando Deus
decidiu criar o ser humano. Esta abrange a humanidade por inteiro13. Para Gregório, os
traços da semelhança com Deus estão mais marcados na alma do que no corpo. Todas as
propriedades fundamentais da alma (espiritualidade, liberdade, incorruptibilidade)
tornam-na fortemente semelhante a Deus14. Outra marca é a liberdade, que não só deve
ser entendida como autodeterminação, mas também como soberania do ser humano
sobre as coisas, sobre o universo. Para Gregório, Deus criou o homem semelhante a Si,
tendo em vista o domínio que deveria exercer sobre os seres inferiores e esta é a
manifestação mais evidente da sua semelhança com Deus. Enfim, a Imago Dei reflete-se
na incorruptibilidade, ou seja, na imortalidade da alma que, como Deus, jamais poderá
extinguir-se. A criação da Imago Dei histórica, que é a imagem real, realizou-se com a
decisão de Deus em criar o homem sexuado, portanto criando-o semelhante aos animais.
Deste modo, na Imago Dei concreta, a semelhança opera em duas direções: em direção
a Deus, através da alma e de suas faculdades, e em direção aos animais, através do
corpo e de sua sexualidade. No pensamento de Gregório, à medida que o ser humano se
volta para satisfazer os desejos da carne, ele está ofuscando a imagem de Deus. Porém
ele não é capaz, de apenas com as próprias forças, comportar-se segundo as exigências
da Imago Dei. Por esse motivo, Deus mandou-lhe em socorro o Filho, Jesus Cristo, que
mostrou à humanidade como deve viver para realizar a Imago Dei, fornecendo-lhe os
meios para fazê-lo. Desta forma, o verdadeiro cristão é aquele que se esforça para
realizar plenamente a Imago Dei pela imitação de Jesus Cristo15. “É pela liberdade que
o homem é igual a Deus”16. Mas Gregório bem sabe que o homem pode abusar da
liberdade e pode usá-la para minimizar e arruinar a Imago Dei. Por isso, não é qualquer
exercício da liberdade que torna o homem semelhante a Deus, mas somente aquele em
que o homem lhe permanece submisso. A Imago Dei ideal é, com efeito, a meta que o
homem alcançará depois da vida presente, se tiver vivido de acordo com os preceitos
divinos a exemplo de Jesus Cristo.
Lutero não reconhece a imagem de Deus em nenhum dos dons naturais do ser humano,
tais como suas potências racionais e morais, se não exclusivamente na Justiça original,
e, portanto a considera eternamente perdida por causa do pecado. Para Calvino, a
expressão imagem de Deus denota a integridade com que Adão foi dotado quando seu
intelecto era lúcido31, quando seus afetos estavam subordinados à razão, quando todos
os sentidos estavam devidamente regulados, e quando verdadeiramente Adão descrevia
toda a existência dos admirados dons do seu Criador. O mais importante, para Calvino,
é que a concepção de imagem e semelhança encontra-se na mente, no coração, e na
alma do ser humano. Em Calvino, o termo "imagem de Deus" inclui tanto os dons
naturais como aquelas qualidades espirituais designadas como Justiça original e são
esses atributos, a Justiça e a Santidade, que o ser humano perdeu com a queda. Mas que
são recuperáveis em Cristo à medida que o ser humano é alcançado pela sua graça
salvadora, desta forma ele deixa de ser "homem natural" para se converter em espiritual
e fazer brilhar de novo esta imagem que está por ora obscurecida32. Para Calvino, o
homem não perdeu a imagem de Deus no sentido em que muitos afirmam, pois se assim
fosse, o homem deixaria de existir e não seria mais a imagem de Deus.
Karl Barth (1886 – 1960) Karl Barth33, assim como Brunner, ensina que o homem
descobre através da consciência de si mesmo sua relação pessoal-atual com Deus. Barth
procura um caminho para conceber com precisão uma analogia ou similaridade entre a
existência humana e a própria existência de Deus, assim ele enfatiza que não se trata de
uma questão de analogia entis. Por analogia entis, ele entende uma tentativa da teologia
Católica Romana para construir, com bases humanas, uma criatura afiliada a Deus, que
é o próprio ser humano34. Em todo caso, Barth procura fazer essa analogia no sentido
da analogia fidei, que ele entende como sendo a correspondência entre a existência de
Deus e a existência do ser humano, que somente pode ser percebida pela fé no Deus que
afirma que todos os seres humanos estão no homem Jesus35. Ele distingue entre a
Imago "formal" do Antigo Testamento, que consiste em indestrutível humanitas; e a
Imago "material" do Novo Testamento, que se perdeu com o pecado e é recuperada pela
fé. A imagem formal que constitui o homem e sua humanidade encontra sua expressão
na liberdade e, sobretudo, e a responsabilidade diante de Deus. Barth vê uma imagem de
relação do homem com Deus como na existência dialogal do varão e da mulher36; e
esta relação se refere ao movimento em que Deus vem e habita no homem. Esta relação
dialogal entre homem e mulher a designa como universal. Esta tese pretende afirmar
que um contato de Deus com o homem só é possível por meio de um "canal" que Barth
chama de Cristológico. O divino só se comunica por meio da fé e de Sua Palavra
encarnada37.
Emil Brunner38 aborda esta questão de um ponto de vista antológico, porém não
histórico. Ele nega que se possa falar de duas Imagos Dei, sendo uma sobrenatural e
outra natural e que somente a primeira Imago teria sido perdida com o pecado original.
Para Brunner a Imago Dei é uma só; e o pecado não a destruiu39, porém, a perverteu.
"No sentido genuíno da Bíblia, o homem deve ser interpretado por um principio único,
pela Palavra e imagem de Deus originais. A humanidade do homem é uma dualidade na
unidade, natureza e graça. A destinação divina é a natureza originária própria do homem
e aquilo que agora nós reconhecemos no homem como sua ‘natureza’ é ‘natureza
desnaturada’, é apenas um mísero resto do original. O homem não perdeu uma
sobrenatureza com o pecado, mas precisamente a sua natureza, aquela que lhe foi dada
por Deus, e tornou-se inatural, inumano." Ao contrário da doutrina católica, Brunner
não aceita a dupla semelhança, uma que não se pode perder, que é a imagem; e a outra
que pode ser perdida, que é a Similitudo. A primeira faz parte da natureza e a segunda
da atual relação com Deus. A essência do homem, ao contrário, deve ser entendida
unitariamente do ponto de vista da relação com Deus, sem distinção entre natural e
sobrenatural. Essa teologia unitária é invertida pelo pecado, mas, mesmo na inversão,
ela mostra na estrutura humana os traços da imagem de Deus, de maneira que o formal
humano remete-se precisamente à origem perdida. Deste pensamento surgem duas
idéias principais, a saber: O estado de pecado não exclui a criatura "homem" em
relação a Deus, pois o homem ainda se encontra diante de Deus e em relação com Deus.
Mas isto não quer dizer que o homem é indesculpável. A Imago Dei não é anulada, mas
sofre uma reviravolta,pois "o pecado é a inversão da posição original. Isso muda o ser-
para-Deus em ser-longe-de-Deus." No pensamento de Emil Brunner, a imagem de Deus
no homem consiste na relação do homem para com o seu Criador.
Reinhold Niebuhr42 fez um estudo acurado a respeito da Imago Dei nas Escrituras, nos
Padres da Igreja, nos Escolásticos e nos reformadores, e de forma mais acentuada em
Santo Agostinho e Lutero. Niebuhr faz ver que o primeiro a negar a imagem de Deus,
depois do pecado, foi o reformador Martinho Lutero que ,no entanto, só conseguiu fazê-
lo a custo de muitas incongruências. Com efeito, ainda que Lutero insista em que ‘a
imagem está de tal forma deteriorada e ofuscada pelo pecado e tão ‘leprosa e suja’ que
nos impede até mesmo de ‘ter um conceito dela’ na mente, ele procede, todavia, à busca
de uma compreensão e uma definição da imagem de Deus, em amplo contraste com a
condição atual de pecado. Para Niebuhr, a natureza humana é transcendente e livre, ao
mesmo tempo em que é finita e presa aos limites desta natureza. Assim, existe a
natureza intocável que consiste de dois elementos: o seu caráter e a sua liberdade.
Pertencem à natureza essencial do homem, todos os seus dotes e determinações naturais,
os impulsos físicos e sociais, as diferenciações sexuais e racionais; ou seja, o seu
caráter. Enquanto criatura inserida na ordem natural e como ser finito e natural, o ser
humano tem consciência da ameaça da morte e esta lhe traz um sentimento de que a sua
vida é sem significado. Por outro lado, sua natureza essencial abarca também a
liberdade de espírito, a sua transcendência em relação aos processos naturais e, por fim,
a sua autotranscendência. Como seres transcendentes, o ser humano reconhece a Deus
como aquele que fornece os padrões para a sua realização como ser. Niebuhr chama a
liberdade, da qual o ser humano é dotado, de liberdade radical, na medida em que é
capaz de escolher não só entre várias coisas, mas também a si mesmo.
Pannenberg, ao lado de teólogos como Paul Althaus, Helmut Thielicke, Karl Barth e
outros diz que o ser humano é constituído por "divina intenção criativa" que em
princípio não pode ser perdida. Assim, através da conclusão de que nada foi realmente
perdido, Pannenberg, ao mesmo tempo, evita em sua mente, a dificílima discussão sobre
o estado original da união do homem com Deus. E essa idéia segundo Pannenberg não é
nem muito significativa para fins teológicos e nem é defensável, à luz das descobertas
científicas e históricas. Pannenberg acrescenta ainda outro aspecto muito importante, a
saber, o aspecto comunitário da Imago Dei, ou como ele chama, estrutura da sociedade:
Assim, o aspecto comunitário da Imago Dei segue o aspecto comunitário da igreja, o
corpo de Cristo na terra, e está extremamente ligado ao conceito do homem como
representante de Deus como o governante sobre todo o restante da criação de uma
maneira amorosa e responsável.
E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua
glória, glória como do unigênito do Pai. João 1.14 Jesus, o Verbo Encarnado, reflete
com toda a perfeição a Imago Dei. No entanto, desde o início da igreja cristã, as
naturezas de Jesus Cristo foram alvos de várias controvérsias, despertando, assim, as
inquietações dos líderes e teólogos dessa época que produziram formulações de fé
(Credos) e também doutrinas basilares da cristandade. Dentre estas controvérsias,
seguem algumas das que mais se destacaram e que mostram a evolução da compreensão
das naturezas de Jesus Cristo, bem como as implicações dessas naturezas para o ser
humano.
Conclusão: