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ESCOLA DE MINISTROS
(A coragem do testemunho)
Apocalipse quer dizer revelação (1,1). Este livro, portanto, é uma mensagem
reveladora. O autor procura revelar o mistério (10,7) do que está acontecendo e do que vai
acontecer: Deus vai agir na história, julgando e destruindo o mal, para implantar
definitivamente o seu Reino entre os homens (11,15).
Contudo será preciso reconhecer que o enigma devia ter sentido evidente para os
leitores imediatos do Apocalipse, ou seja, para os cristãos da Ásia Menor aos quais no fim
do séc. I São João se dirigia ; era justamente com o intuito de os orientar que o Apóstolo
escrevia o texto de Apc 13, 18 ; não lhes queria propor um “quebra-cabeça”, mas algo de
que pudessem tirar proveito, porque sabia que tinham os meios para o decifrar;
infelizmente, porém, desde cedo se apagou nos cristãos a reminiscência dos elementos
necessários à elucidação (perdeu-se a chave do enigma).
Vejamos o que hoje, coligindo alguns dados seguros, se pode dizer de mais provável
sobre o assunto.
1) O misterioso número deve designar algum homem, pois o hagiógrafo adverte que
é “número de homem” (13,18).
E como o designa?
Os gregos e hebreus atribuíam valor numérico a cada uma das letras do seu alfabeto
(os romanos, ao contrário, só a algumas o atribuíam); baseados nisto, compraziam-se em
contar o valor numérico de determinado nome e, em consequência, de determinada
pessoa. Este proceder, que constituía a arte chamada “gematria”-, era muito usual entre
os povos do Mediterrâneo (em Pompeia, por exemplo, no Sul da Itália, foi encontrada a
2) São João, em Apc 13,18, usou de modo de falar obscuro, provavelmente porque
entendia proferir um juízo sinistro sobre algum dos dignitários (ou monarcas) do Império
Romano; não queria incorrer no crime de lesa-autoridade ou de lesa-majestade nem tornar
os seus leitores suspeitos disto; o livro do Apocalipse podia cair em mãos de pagãos que,
se compreendessem a alusão à autoridade, se vingariam dos cristãos (as primeiras
perseguições já tinham sido desencadeadas por Nero em 64), Por isto se referia a Roma
mencionando Babilônia (cf, c. 16), à semelhança do que fizera São Pedro em 1 Pdr 5,13. —
Disto se segue que se deve procurar o personagem designado pelo número 666 entre os
chefes do Império contemporâneos ou anteriores a São João. Sim; se os leitores do
Apocalipse não tivessem de antemão certo conhecimento do varão mencionado, jamais
poderiam decifrar o enigma proposto.
4) Feitas estas aproximações, só restam três soluções mais ou menos plausíveis para
o nosso enigma, os nomes:
– KAISAR THEÓS (César é Deus). Estas são duas expressões gregas cujas letras somadas dão
o total de 616. Ou então
– QESAR NERON (César Nero), termos gregos que, escritos em caracteres hebraicos,
perfazem a soma de 666 : Q = 100; S = 60; R = 200; N = 50; R = 200; O – 6; N = 50 (as
vogais e e a não se contavam em hebraico).
Destas três interpretações, a mais plausível é a última. Proposta pela primeira vez
entre 1830 e 1840 por Fritzsche, Bénary, Hitzig, tem aliciado grande número de exegetas.
Oferece, entre outras vantagens, a de explicar as variantes 666 e 616 dos antigos códices:
alguns copistas influenciados pela forma latina Nero terão omitido o número final que
figura no nome grego Neron, diminuindo assim de 50 unidades a soma total das letras.
Note-se que, das duas variantes do número, a que parece originária e merece a clara
preferência tanto de S. Ireneu (séc. II) como dos melhores códices, é 666. Teríamos, pois,
em Apc 13,18, uma alusão ao famoso Imperador Nero.
Verdade é que este soberano já morrera quando São João escrevia o Apocalipse; o
Apóstolo, porém, tomava-o como personificação do poder imperial hostil aos cristãos, pois
Nero fora o iniciador das perseguições e ficava marcado, na reminiscência dos pósteros,
como o tipo do perseguidor cruel e vicioso ou como a figura do Anticristo.
5) À luz do que foi dito, vê-se que qualquer sentença que procure na língua latina
ou entre personagens posteriores ao séc. I a interpretação do número, está fora de
propósito; São João teria frustrado seu desígnio de esclarecer e acautelar os leitores gregos
e judeus da Ásia Menor aos quais ele escrevia.
Não será necessário perder tempo em demonstrar que todas estas explicações
carecem de fundamento no texto sagrado; são produtos arbitrários da fantasia. Tão longe
têm ido os autores movidos por preconceitos que chegaram a ver no número 666 a soma
das letras hebraicas do nome JESUS NAZARENO: YSW NCRV. O próprio Jesus Cristo seria
então a besta do Apocalipse ou o Anticristo! Tal foi a sentença do rabino Davi Berman
(“Mercure de France”, 1918, 190), o qual seguia Valentim Weigel, pseudomístico do séc.
XVI e discípulo de Paracelso (cf. Corrodi, Geschichte des Chiliasmus III 32-s). — O caso do
rabino Berman mostra bem que quem quer identificar a besta do Apocalipse com o Papa,
não tem motivo para não a identificar com o próprio Cristo. Arbitrariedade por
arbitrariedade, uma equivale à outra.
Por sua vez, o escritor norte-americano David Goldstein advertiu que o nome de
ELLEN GOULD WHITE, a profetiza dos Adventistas do Sétimo Dia, tem o valor numérico de
666:
Em oposição a 666 está o número 888, soma das letras gregas do nome JESOUS. Se
seis era o algarismo típico da imperfeição, cito (que equivale a 7 + 1) designava a perfeição
em toda a sua ênfase; por conseguinte, três oito justapostos simbolizariam muito
eloquentemente as riquezas da sabedoria e bondade do Redentor. É o que a Sibila (I 321-
331), antigo apócrifo cristão, fazia notar com muito garbo no início da nossa era.