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ESBOÇO
- ASPECTOS INTRODUTÓRIOS
Sem a Paixão, a Ressurreição perde sua força e sentido: na realeza de Cristo encontramos a nossa
submissão
- ESTRUTURA PANORÂMICA
- DESENVOLVIMENTO EXEGÉTICO-TEOLÓGICO – SITZ IN LEBEN
A Cruz como Cátedra da Verdade
- COMPOSTO TEÓLIGO-CATEQUÉTICO
Uma vida a caminho da Cruz: a Cruz como critério supremo da verdade cristã.
- CONCLUSÃO
O Domingo de Ramos marca o início da chamada “Semana Maior” dentro da Liturgia católica, a
Semana Santa, cuja dinâmica manifestam, revivem e se revelam os dois aspectos fundamentais da Páscoa: a
entrada messiânica em Jerusalém, como anúncio e figura do triunfo da ressurreição de Cristo, e a memória da
sua Paixão, que marcará a libertação da humanidade do pecado e da morte. Dessa forma, percebemos a íntima
relação entre os passos de Jesus e os nossos, encontrando assim a razão pela qual, viver a “Semana Santa” é
crucial: nela comemoramos os principais mistérios do cristianismo. Aos nossos olhos são apresentados
também os mistérios mais profundos de nossa condição humana, de nossa vida, ou seja, somos iluminados,
em nossos sofrimentos, pelos sofrimentos de nosso Senhor, pois todas as nossas inquietações são respondidas
na Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Em sua realeza, encontramos a nossa submissão.
ESTRUTURA PANORÂMICA.
A Primeira leitura por meio de Isaías, nos mostra a Profecia do Servo Sofredor, que tendo sido
revestido da língua dos eruditos tornou-se um Mestre qualificado. Contudo, seus alunos não estavam
interessados em aprender, muito pelo contrário, submetendo-o ao mais malicioso dos tratamentos, sofrendo
perseguição física e insultos. Contudo, permanece firme e conserva o rosto impassível como pedra
A Igreja interpreta, nessa profecia, a pessoa de Jesus, por isso insere o Evangelho da Paixão do Senhor,
no intuito de mostrar que Jesus é este Servo e assim o sendo, exerce o seu reinado, que culmina no seu trono
que é a Cruz.
A Segunda Leitura indica o que sustentou Jesus diante dessa decisão, dessa consciência de que ele
verdadeiramente era o Filho de Deus e o Rei de Israel, Rei dos Judeus: a obediência filial ao Pai.
Dessa forma, somos convidados a ter a consciência de que Jesus é Rei e a contemplar essa construção
por meio de sua Paixão, pois cada ato implicará em sérias consequências a nós, que somos seus súditos, pois
deveremos também, se com nossos ramos e hosanas, proclamá-lo como Rei, segui-lo até a Cruz, que é a
Cátedra da Verdade.
COMPOSTO TEÓLIGO-CATEQUÉTICO
Uma vida a caminho da Cruz: a Cruz como critério supremo da verdade cristã.
A vida de Jesus destina-se à Cruz e a nossa introdução já mostrou que, segundo o testemunho da
Escritura e também da Tradição, toda a vida de Jesus deve ser considerada como uma marcha para a Cruz.
Precisamos, porém, de apresentar esse fato ainda mais concretamente, sob diversos ângulos visuais: a questão
que se levanta é de saber até onde todos os acontecimentos anteriores anunciam a Cruz, e mesmo lhe
pertencem, em certo sentido. Para o teólogo de Lucerna, von Balthasar, todos os 7 sinais de João evocam
elementos que conduzem a esse momento.
A existência da quênose como obediência até a morte de Cruz: Ao hino de Flp 2, que fala da obediência
até à morte de Cruz como conseqüência do aniquilamento e do rebaixamento do Filho, corresponde o
«mandatum a Patre» joaneu (Jo 10,18; 12,49.50; 14,31) que Jesus põe em execução: «sic facio». Considerando
que em relação ao Filho eterno de Deus que, no caso, é o sujeito, não se pode dizer tenha sido colocado
posteriormente perante um mandado do Pai ao qual teria resolvido obedecer, Crisóstomo, Anselmo e Tomás
procuraram pôr em evidência a unidade plena da vontade entre o Pai e o Filho e, consequentemente, a
voluntariedade (sponte) de todo o agir do Filho. No máximo, poderíamos dizer que na vontade inquebrantável
de se doar existe algo como uma «inspiração», um ser atraído pelo Pai, e, em tal sentido é que podemos falar
de obediência. Ambrósio, Agostinho e especialmente em Irineu possuem a idéia da solidariedade natural de
Jesus com todos os homens. Os homens, porém, são sofredores e mortais, por causa da maldição lançada sobre
Adão e diante de uma sentença de morte que o atinge».' Mas como Ele é sem e sua raça: «Em virtude da
própria encarnação, o Filho se acha pecado (e aqui Galtier mais uma vez se apóia claramente em Anselmo),
assumiu a morte que deve sofrer, fisicamente, em sua «existência destinada à morte», não como castigo
pessoal, mas livre e espontaneamente em sua intencionalidade. Como homem, Ele é «servo» perante Deus,
mas como portador da natureza pecadora, Ele se acha «destinado a uma morte maldita». Como Filho eterno
de Deus, permanece livre
em sua doação (cf. Jo 10,18). O curso deste pensamento parece omitir dois tipos de considerações: em primeiro
lugar, que Jesus não apenas carrega o destino mortal (e, de certo, amaldiçoado) de Adão, mas expressamente
os pecados da raça humana e, consequentemente, a «segunda morte» do abandono divino; em segundo lugar,
que, sob a «forma de servo», Ele se fez obediente, não a um destino anônimo, mas ao Pai em pessoa. Estes
pontos de vista devem ser integrados, mas, por isso mesmo, também superados. Para isto, devemos retornar
ao mistério da quênose, cuja primeira consequência foi a encarnação, vindo em seguida toda a existência hu-
mana de Jesus. Enquanto, de um lado, a Pessoa que se rebaixa até à forma servil pertencente ao Filho divino
é, por isto mesmo, a expressão de sua liberdade divina e, inclusivamente, de sua harmonia com o Pai durante
sua existência de servo, do outro lado, a obediência que determina toda a sua existência é não apenas função
daquilo que Ele se tornou (εν ομοιώματα ανθρώπων, σχήματι ως άνθρωπος: portanto, «existência destinada à
morte»), mas aquilo que Ele quis ser, rebaixando-se e se esvaziando: alguém que, pelo despojamento de sua
«forma de Deus» (e, por conseguinte, de sua autodisponibilidade divina), obedece ao Pai de um modo
eminente e único, ou seja: de um modo tal, que sua obediência deverá representar a tradução quenótica de seu
amor filial e eterno para com o Pai que é << sob cada aspecto maior >. E neste sentido que agora falamos
acima não é simplesmente o impulso interno de seu Amor, mas a conformação com a regra que o Pai lhe
impôs com a guia do Espírito Santo (da missão) que o impele. O fato de o Espírito manter, durante o
rebaixamento do Filho, um primado sobre este mesmo Filho que lhe obedece, é a expressão de que toda a sua
existência se acha, como tal, destinada à Cruz, funcional e quenoticamente. Também as grandes afirmações
de Jesus com o pronome eu constituem não uma manifestação de sua autoconsciência, mas também, expressão
de sua missão, que o Domingo de Ramos indica perfeitamente por meio da realeza de Jesus Cristo.
Assim compreende-se, portanto Se ninguém pode ver o Pai sem o Filho (Jo 1,18), se ninguém pode
vir ao Pai (Jo 14,6) e se o Pai não pode se manifestar a ninguém sem o Filho (Mt 11,27), então, quando o
Filho, a Palavra do Pai morresse, ninguém veria a Deus, ninguém o ouviria falar, nem chegaria até Ele. E
ouve esse dia em que o Filho esteve morto e, consequentemente, Deus se tornou inacessível. Sim, por causa
desse dia é que Deus se fez homem. Podemos muito bem dizer que Ele veio para carregar os nossos pecados
sobre a Cruz e rasgar nosso título de dívida e então triunfar sobre os principados e potestades, como está
escrito em Col 2, 14ss; contudo, esse triunfo foi conseguido com o brado do abandono divino em meio as
trevas (Mt 10, 38) na morte e no inferno. Então, o silencio se fechou assim como se fecha um túmulo que foi
selado. Ao término da Paixão, quando a Palavra de Deus estava morta a Igreja já não tinha uma palavra.
Enquanto a semente do trigo estava morrendo, nada se podia colher. Esta morte da Palavra encarnada não
era , na vida de Jesus, uma situação entre as demais, como se a vida interrompida por um leve espaço de
tempo tivesse retomado o seu curso no dia da Páscoa de modo que a Ressurreição não fuja de seu real
objetivo e venha a ocultar a pungente potencialidade que o momento da morte de Jesus representa: que
devemos encarar com a devida maturidade e seriedade que assim como o homem que morre e é sepultado
silencia e nada mais pode revelar e comunicar, assim também aconteceu com Jesus Cristo, que era a Palavra,
a Revelação Divina e a mediação de Deus: Ele morre, e aquilo que era manifestação de Deus de Deus em
sua vida, se interrompe, morre junto.
A isso, chamamos de o “hiato de Deus”. Contudo esse mesmo hiato, de alguma forma, continua a se
manifestar nas nossas vidas, principalmente por meio do sofrimento. Ora, no Evangelho que escutamos
Jesus Cristo é tentado! Jesus Cristo sofre!
Assim, fica ainda mais evidente que a experiência da vida humana se dá mediante a Cruz de Jesus
Cristo, pois o homem desenrola sempre a sua humanidade em relação com a divindade de seu Deus.
Experimenta sua existência na relação com aquele que parece evidentemente o ser supremo. Encaixa a sua
vida ante o valor definitivo. Se decide, fundamentalmente conforme aquele que o interessa de modo
incondicional. De sorte que o divino é a situação que o homem experimenta, desenvolve e configura. Por
esse motivo, a Teologia da Cruz – Estaurologia se encaminha igualmente ante uma antropologia.
De igual modo, compreendemos quando o teólogo jesuíta von Balthasar diz que:
“Sem a Cruz, sua palavra não seria verdadeira, não seria esse testemunho sobre o Pai que contém em si o
co-testemunho do Pai que é a palavra cristológica dupla e uma, a revelação da vida Trinitária, e que traz
em si a exigência soberana do ser crido e seguido”.
CONCLUSÃO
Naquele ato de Jesus, cumprindo a Profecia de Zacarias, mostrando-se como Rei e indicando a Cruz
como seu trono, a sua finalidade e sua Paixão como caminho, indica também a nós, seu povo e seus súditos
como podemos tornar participantes de seu reino, pois se o aclamamos como Rei, automaticamente, tornamos
seus súditos, e estes obedecem em tudo ao rei, inclusive até a Cruz. O Domingo de Ramos é a consciência de
que se realmente temos Jesus como Rei, devemos também o seguir até seu trono e local de sua glorificação,
que é a morte de Cruz.
A realeza de Jesus é a sua vitória sobre o mundo pela Cruz. Que diferentemente dos judeus, não
esqueçamos disso, e com ele subamos ao gólgota, para morrendo também com ele, possamos com ele
ressuscitar.