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QUINTA-FEIRA SANTA

Textos: Sl 116.12-19; Êx 24.3-11; Hb 9.11-22; Mt 26.17-30

1. Contexto (cenário litúrgico, histórico) de Mt 26.17-30.


 Festa dos Pães Asmos (Festa dos Pães sem Fermento) Havia sete dias durante os quais
os judeus não podiam comer pão levedado, desde o dia 14 até 21 do mês Nisã
(equivalente aos nossos meses de março e abril). Isso em comemoração à súbita partida
da terra do Egito, o que não lhes deu tempo para levedar a massa que levariam consigo.
Todo o fermento, portanto, era removido das casas, em busca cuidadosa, e queimado ou
eliminado de outra maneira. Estritamente, a Páscoa e a Festa dos Pães Asmos - hC'm –
matzá (Ázimos – Dicionário Aurélio), eram duas instituições separadas, embora
intimamente vinculadas, visto que as celebrações tinham lugar ao mesmo tempo.
 Prepararam a Páscoa – um cordeiro foi preparado; pães, ervas amargas e vinho.
Ingredientes da festa da libertação do Egito. O cordeiro teria de ser morto por um
representante oficial dos sacerdotes nos átrios do templo. Como se fosse uma família,
Jesus e os discípulos, se reuniram ao por do sol. De acordo com a lei judaica o número
mínimo para tal celebração era de dez pessoas, portanto eles perfaziam um número
legal.
 O meu tempo está próximo – Jesus agrega uma profecia a respeito de sua morte, que
ocorreria dentro de pouco tempo; essa é uma observação que figura somente no
evangelho de Mateus. Alguns creem que o tempo mencionado é da celebração da
páscoa, ou então o tempo da revelação messiânica. Porém, pelo texto, parece claro que
Jesus expunha apenas mais um aviso sobre o seu fim próximo.

2. Ênfases, expressões que se destacam, análise.


Se destaca, neste pedido, o zelo de Jesus pela questão histórica. Ele faz uma conexão íntima
entre a libertação do Povo de Israel e a libertação que está por oferecer ao mundo; somente é
beneficiado quem nele crê. Este jantar, ceia, é o “divisor de águas”. É o antes e depois que
acontece durante a Ceia pascal naquela quinta-feira. O que estava velado por um milênio e
meio vem à luz. Cristo é o cordeiro de Deus que liberta da escravidão satânica e morte eterna.
Faz-nos seus servos, escravos, e, portanto coerdeiros com Cristo da Vida Eterna. É a xs;P,î do
Senhor que supera e extingue a antiga comemoração. Faz com que o povo de Deus, o novo
Israel, conectado a Deus pela Fé, tenha um olhar não para o passado apenas, mas um tríplice
olhar: passado, presente e futuro. “Tríplice olhar” na Santa Ceia: a. lembra-se a morte do
Senhor até que venha (1Coríntios 11:26); b. participa-se do corpo e sangue de Cristo,
recebendo-o em, com e sob o pão e o vinho. “O pão e o vinho, na verdade, de modo natural
(manducatio naturalis), contudo o corpo e sangue, de modo sobrenatural, incompreensível.”1
(veja mais detalhes na Dogmática Cristã de MUELLER). O recebemos para a remissão dos
nossos pecados; c. aspira-se, pela fé, uma ceia ainda maior com Cristo no céu, lá onde todas as
barreiras terão caído (Mateus 26:29).
Uma das expressões que se destacam, “isto é meu corpo, “isto é o meu sangue” gerou muita
confusão em meio aos não convertidos. Em João 6.52: “Disputavam, pois, os judeus entre si,
dizendo: Como pode este dar-nos a comer a sua própria carne?” A interpretação dos judeus em
Cafarnaum deu origem a expressão “comer cafarnaítico/capernaítico”. Os sacramentários2

1
MUELLER, John Theodore. Dogmática Cristã. A Doutrina da Santa Ceia. Concórdia Editora, Porto Alegre,
2004. 4ªEd, p. 494.
2
Sacramentários: http://www.seminarioconcordia.com.br/Artigos_Prunzel/A_Santa_Ceia%20_em_Lutero.mht
afirmavam que a doutrina luterana da presença real implicava um comer grosseiro do corpo de
Cristo. Alguns chegavam a falar e canibalismo.3
O verbo ser, em “isto é” - tou/to, evstin4, é o grande ponto de controvérsia na teologia quanto a
Santa Ceia. Formula-se, no seio da igreja cristã, quatro interpretações no que se refere ao
Sacramento do Altar: a. Transubstanciação5; b. Simbolismo6; c. Consubstanciação7, doutrina
rejeitada pelos luteranos8; d. Presença real, união sacramental9.
Bible online10 - PÁSCOA = Festa em que os israelitas comemoram a libertação dos seus
antepassados da escravidão no Egito (Êx 12.1-20). Cai no dia 14 de NISÃ (mais ou menos 1 de
abril). Em hebraico o nome dessa festa é Pessach. A FESTA DOS PÃES ASMOS era um
prolongamento da Páscoa (Dt 16.1-8).
Bible Works11: Pa,sca (palavra Aramaica sem declinação) Significando: 1) o sacrifício Pascal
(que costumeiramente era oferecido pela libertação do povo de Israel do Egito) 2) o Cordeiro
pascal, ou seja, o Cordeiro que os israelitas estavam acostumados a matar e comer no décimo
quarto dia do mês de Nisã (o primeiro mês do ano) em memória do dia em que seus pais,
preparavam-se para sair do Egito; foi ordenado por Deus que matassem e comessem um
cordeiro, e pintassem o portal de suas casas com seu sangue, e que o anjo destruidor, vendo o
sangue, passaria por cima de suas residências; Cristo crucificado é comparado ao Cordeiro
pascal morto 3) a festa Pascal, a festa de Pessach, estendia-se desde o dia 14 ao dia 20 do mês
de Nisã.

3. Paralelos, pontes, pontos de contato.


 Textos paralelos a Mateus 26.17-19: Mc 14.12-16; Lc 22.7-13;
26.20-25: Mc 14.17-21; Lc 22.21-23; Jo 13.21-30;
26.26-30: Mc 14.22-26; Lc 22.14-20; 1Co 11.23-25.
 Pontes, pontos de contato – Jesus, inserido na cultura e história Israel, não
menosprezou a importância do passado, mas apresentou um tempo presente e futuro
ainda com maior relevância. Sermos suas testemunhas de toda a obra da Salvação e
herdeiros da Glória eterna. Não só da salvação, mas, também, de criação e santificação.

3
LIVRO DE CONCÓRDIA. Epítome VII, da Santa Ceia, § 15, nota de rodapé 93. Concordia Editora, Porto
Alegre,1980.
4
evstin verbo na 3ª pessoa do singular, presente do indicativo ativo de eivmi,,, significando aquilo que é, existe, está
presente, ao vivo, que acontece, que permanece.
5
Há, na Santa Ceia, apenas corpo e sangue de nosso Senhor Jesus Cristo, vale dizer: na eucaristia, o pão e vinho
transformam-se em corpo e sangue de nosso Senhor (transubstanciação - estabelecido pelo Concílio de Latrão de
1215 como dogma da Igreja Católica Romana e confirmado pelo Concílio de Trento, Sess. XIII, Cân. 2)
6
O pão e vinho são, na Santa Ceia, apenas símbolos ou meros sinais do corpo e sangue ausentes de Cristo; os
defensores desse dogma consideram a doutrina luterana como “absurda”(ver nota 1), ou “monstruosa” (Russell
Norman Champlin, em Novo Testemento Interpretado versículo por versículo, Vol I, Mateus 26.26).
7
Essa seria a doutrina de Lutero (Champlin, Idem).
8
Os luteranos rejeitam com grande vigor a acusação de que a presença real implicaria uma inclusão local ou uma
impanação ou consubstanciação. De acordo com a Fórmula de Concórdia (Declaração Sólida, VII, 64): Essa
ordem [“Comei, Bebei”] não pode ser entendida senão como relativa ao comer e beber orais. Não, todavia, de
modo grosseiro, carnal, capernaítico, senão de maneira sobrenatural, incompreensível.
9
MUELLER, idem. “Os luteranos, ao contrário, consideram a união sacramental entre o pão e o corpo e entre o
vinho e o sangue tal real e tão íntima que, no ato sacramental, o comungante recebe o verdadeiro corpo e o
verdadeiro sangue de Cristo em, com e sob o pão e o vinho” (ver nota 8).
10
Bíblia Online Módulo Básico, versão 3.0, 5 de abril de 2002.
11
Bible Works, versão 7.0.012g, 2006
A ação completa de Deus, a Trindade na Unidade. Seu ministério inicia com esta
manifestação e culmina com a sua entrega voluntária (João 10:18).
4. Sugestão de uso homilético (assunto, objetivo, tema, desdobramentos).
Nota: poder-se-ia ilustrar com um partilhar do pão ázimo (receita em anexo)12 entre os
presentes ao culto, ou até mesmo preparar uma ceia com cordeiro assado, pão ázimo, ervas
amargas (chicória, agrião, cebolas, rúcula, espinafre, etc) e um bom vinho tinto leve. Após a
ceia celebrar a Santa Ceia.
Tema: Cristo, o Cordeiro da Nova Aliança (Hb 9.1, 6, 7, 11, 12).
“o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29)
I. Ensinamento do Novo Testamento
Depois da ressurreição e ascensão de Cristo, ele não foi mais conhecido pelos apóstolos
“segundo a carne”.
Veja os seguintes textos:
 “... mas pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, …” (Hb 10.19).
 “... o sangue de Cristo...purificará a nossa consciência …, para servirmos ao Deus
vivo!” (Hb 9.14).
 “Tendo intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus...” (Hb 10.19).
 “Mas tendes chegado... a Jesus, o Mediador da nova aliança, …” (Hb 12.22, 24).
 “…para santificar o povo, pelo seu próprio sangue, sofreu fora da porta” (Hb 13.12).
 “Ora, o Deus da paz, que tornou a trazer dentre os mortos a Jesus, nosso Senhor... pelo
sangue da eterna aliança...” (Hb 13.20).
II. O Sangue da Nova Aliança
“sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, … mas pelo precioso sangue, como de
cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo” (1Pe 1.18, 19).
III. Justificados e Redimidos Pelo Sangue de Cristo
 Romanos 5.9:“… justificados por seu sangue…
 Efésios 1.7: “…pelo sangue de Jesus Cristo que temos a redenção …” As Escrituras
usam os termos “redimir”, “resgatar” e “justificar” para descrever o que Jesus fez por
nós quando morreu.
 Marcos 10.45: ele veio “para dar sua vida em redenção por muitos”.
IV. Santificação pelo Sangue
 2Coríntios 5.17: “…se alguém está em Cristo, é nova criatura…”
 2Pedro 1.4: “…por elas vos torneis co-participantes da natureza divina…”
V. Jesus Cristo Sacerdote: Vítima e Altar
 Hebreus 9.11-14: Assim como os sumos sacerdotes entravam no Santo dos Santos no
Templo para fazer a expiação pelo povo, Jesus entrou no Santo Lugar dos céus. E ele
não levou o sangue dos animais sacrificados, “mas o seu próprio sangue”, o qual
carrega a eterna, sem defeitos e perfeita vida de Deus.
Conclusão: Jesus, “… purificará (purifica) a nossa consciência de obras mortas, para servirmos
ao Deus vivo!” (Hebreus 11.14). “Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida
eterna, e eu o ressuscitarei no último dia.” (João 6.54).
Rev. Günter Martinho Pfluck
Pastor da IELB, Passo Fundo, RS

12
Receita tradicional de pão ázimo
Ingredientes: 1. um quilo de farinha de trigo ou integral; 2.meio litro de água fria; 3.meio copo de azeite; e, 4.
sal a gosto. Modo de preparo: Amasse bem os ingredientes. Com o auxílio de um rolo, abra a massa bem fina,
coloque-a em uma forma levemente untada e com a ponta de uma faca, risque em formato quadrado. Isso
facilita o partir. A massa deve ficar bem fina, praticamente transparente.

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