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O povo de Israel esperava o Messias. Uma das tradições era de que o Messias seria um
Novo (Maior) Moisés (Cf. Dt 18,15-18), que estabeleceria uma nova Aliança (Cf. Jr 31, 31-33),
selada com o sangue de um sacrifício perfeito.
Paralelo a isso, pode-se recordar que se desenvolve em Israel a esperança de um novo
Templo, que não apenas restabeleceria o esplendor do templo de Salomão, mas o excederia (Cf.
Ez 37, 24 – 28; Ag 2, 6-9) “Quando o Rei – Messias que mora no norte acordar, virá e construirá
o Templo, que se situa no sul. Isto está de acordo com a passagem ‘Eu o despertei lá no norte,
do lado do nascer do sol ele veio, pois o chamei pelo nome’ (Is 41, 25)” (Números Rabá 13,2).
Esta esperança também está associada à triste constatação de Flávio Josefo (A Guerra dos
Judeus 5, 219) de que no Santo dos Santos não havia nada. A parte mais importante do Templo
(o Santo dos Santos) estava vazia na época de Jesus.
O Messias conduziria o seu povo para a Nova Terra prometida (Cf. Is 60, 21), todos os
dispersos de Israel seriam reconduzidos para uma nova terra. Jeremias afirma que quando o
novo Êxodo acontecer, Deus dará às 12 tribos uma Terra agradável e santa como herança (Cf.
Jr 3, 15-19). Seria Israel, a sua Terra este lugar? Isaías fala de uma Nova Jerusalém (Is 43, 49-
60), na descrição oferecida tudo parece fazer parte de um novo paraíso, um novo Jardim do
Éden (Cf. também Ez 36, 33-35). A Nova Terra, a Nova Jerusalém, parece ser na verdade uma
realidade escatológica. Como cristãos, lemos isso como uma indicação que aponta na direção
da Igreja e do Céu!
Jesus veio realizar um Novo Êxodo: os seus 40 dias no deserto, em oração e jejum,
parecem recordar a experiência do Sinai (Não apenas os 40 anos no deserto, mas devemos
lembrar que Moisés também jejuou por 40 dias e noites no Monte, como lemos em Ex 34, 28).
A transformação de água em vinho (Cf. Jo 2) nos recorda Ex 7, 14 – 24 e prepara o fato
de que ao final de sua vida pública, ele instituirá a Eucaristia e a associará à Nova Aliança do
seu Sangue (Lc 22, 20; 1cor 11, 25). Podemos comparar Is 35, 5-10 e Mt 11, 4-5 (ou Lc 4, 18-
19), e veremos como Jesus realiza os sinais do Novo Êxodo.
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FCB 2023 – Prof. Dr. Pe. João Paulo de M. Dantas – Curso: Eucaristia
Síntese baseada no livro: B. Prite, Jesus e as raízes judaicas da Eucaristia, Ecclesiae: São Paulo 2020.
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usada atravessando da sua boca ao traseiro (Pesahim 7,1). Interessante é que Justino, Mártir,
em seu diálogo com Trifão escreve: “O cordeiro é assado, é assado e disposto na forma de uma
cruz. Um espeto é transpassado das partes inferiores até a cabeça, e outro no dorso, no qual são
presas as patas do cordeiro” (n. 40).
Uma terceira diferença: os rabinos antigos viam cada celebração da Páscoa como uma
forma de participação no Imenso Êxodo. A páscoa não era apenas um “sacrifício”, também era
um “memorial” (Ex 12,14). Mishnah, Pesahim 10, 4: O Filho mais jovem pergunta ao Pai, por
que esta noite é diferente de todas as outras?” e o Pai respondia recontando a história de Abraão
e do Êxodo
Pode-se ainda citar uma quarta diferença, na medida em que a expectativa pela vinda do
Messias se associou ao memorial da Páscoa. Muitos esperavam que o Messias se manifestasse
como redentor no dia da redenção original, ou seja, no dia da Páscoa. Comentários antigos do
Êxodo confirmam isso: “Naquela noite eles foram redimidos, e naquela noite eles serão
redimidos” (Mekilta em Ex 12, 42 apud J. Jeremias, the eucaristia words of jesus, lordon 1966,
206-207).
São Jerônimo quando comenta o Evangelho de Mateus, escreve:
“É uma tradição dos judeus que o Messias virá à meia- noite de acordo com o modo da época
do Egito quando a Páscoa foi (primeiramente) celebrada” (comentário a Mateus 4 em 25,6).
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pesahim 10, 5). A ceia termina com um “hino” (Mt 26, 30; Mc 14, 26), menção ao Sl 118,
grande halel.
Diferenças radicais: a) Jesus atua como Pai- anfitrião; b) Jesus fala de uma Nova Aliança
(1 Cor 11,25; Jr 31, 31-33); c) Jesus não fala do cordeiro animal, mas fala de seu corpo e do
seu sangue, Ele é o cordeiro (Jo 1,29), menciona o seu sacrifício. Jesus está se apresentando
como o Novo Cordeiro Pascal, o Messias Pascal, o Novo Sacrifício! Jesus institui no espírito
de antiga páscoa, a Nova páscoa; d) Jesus ordena que suas ações sejam repetidas (memorial).
Jesus sabia que a Páscoa só era cumprida se o cordeiro fosse comido, por isso ele oferece
o seu corpo e o sangue como alimento. A diferença é que se trata do corpo e sangue da pessoa
– Messias. Sangue não podia ser alimento, pois a vida pertence a Deus, mas Ele é Deus, então
ele pode dar a sua vida como alimento.
Esse era o entendimento dos primeiros cristãos:
1 Co 5,7-8: Jogai fora o velho fermento, para que sejais uma massa nova, já que sois
ázimos, sem fermento. De fato, nosso cordeiro pascal, Cristo, foi imolado. 8 Assim, celebremos
a festa, não com o velho fermento nem com o fermento da maldade ou da iniquidade, mas com
os pães ázimos da sinceridade e da verdade.
1 Co 10,16: O cálice da bênção, que abençoamos, não é comunhão com o sangue de
Cristo? E o pão que partimos não é comunhão com o corpo de Cristo?
2- O MANÁ DO MESSIAS
Ex 16 conta a história do Maná, alimento mandado” por Deus (celeste) para sustentar o
seu povo no caminho rumo à terra prometida. Pão celeste.
O Maná tinha 4 características: a) milagroso; b) associado à carne de perdiz; c) colocado
no tabernáculo (Arca); d) sabor diferente: bolo com sabor de mel (antecipa a terra prometida,
que é a “terra onde escorre leite e mel” [Ex 3,8]).
O milagre cessou quando chegaram a seu destino.
Tradições judaicas:
1- Na Mishná é dito que a Maná foi criada junto com outros 9 elementos na Véspera
do Sétimo dia (A mesma ideia aparece no Targum pseudo-Jonatan em Ez 16,4 e 15);
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2- Outra tradição é que o Maná era guardado no Templo Celeste (modelo do terrestre|).
Assim a presença do Maná no templo terrestre é um sinal da sua presença no Templo Celeste
(Cf. Talmud babilônico, Hagigah 12B);
3- Uma terceira tradução: como o Maná continuou a existir no Céu depois de ter
desaparecido da terra, esperava-se que ele retornasse à terra na vinda do Messias (Exemplo:
Mekilta em Ex 16,25).
Jesus se refere ao Maná duas vezes: a) brevemente no Pai-Nosso; b) no discurso sobre o
Pão descido do Céu (Jo 6).
No Pai-Nosso: “O pão nosso de cada dia, nos dai hoje” (Mt 6). No grego encontramos o
termo epiousios, que é um neologismo misterioso: epi → em, sobre, acima; ousios → ser,
substância, natureza;
São Jerônimo traduz este texto assim: Dai-nos hoje o pão super-substancial (Mt 6,11).
Ele explica que “está acima de todas as substâncias e ultrapassa todas as criaturas (Comentário
a Mateus 1,6,11). A mesma ideia está presente em Cirilo de Jerusalém (Sermões mistagógicos
23,5). Cipriano dizia que se trata do pão celeste ou o alimento da salvação.
Se os Padres estão certos, então no contexto de Jesus, o “Pai-Nosso” pede o “Pão do Céu”,
ou seja, o “Maná” de cada dia.
À luz disso, entendemos melhor a importância e o sentido de Jo 6,35-58.
O capítulo 6 de João começa com a narração solene de uma multiplicação de pães e
peixes, para cerca de 5000 pessoas. O discurso sobre o Pão da Vida é precedido por uma
comparação que o povo faz entre Jesus e Moisés (cf. Jo 6,30-34). Jesus começou o seu discurso
falando do maná, indicando a sua origem celestial, e afirmando a sua real presença na comida
e na bebida da Última Ceia (cf. Jo 6,48-58).
A carne e o sangue de Jesus são verdadeiros alimentos (Jo 6,55).
Jo 6,51: “Eu sou o pão vivo que 1 Co 11,24: e, depois de dar graças,
desceu do céu. Quem come deste pão partiu-o e disse: “Isto é o meu corpo
viverá eternamente. E o pão que eu entregue por vós. Fazei isto em
darei é a minha carne, entregue pela memória de mim”.
vida do mundo”.
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Em Jo 6,60, lemos: “Esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la?”. Muitos dos
discípulos não creram em Jesus (não se trata de não entenderem, mas de não crerem). É a
primeira vez que nos evangelhos se narra que Jesus é abandonado por muitos de seus discípulos,
abandonado pelo que diz, e ele estava falando da Eucaristia. Ele não se revela disposto a
negociar: “Vós também quereis ir embora?” (Jo 6,67). A Eucaristia é inegociável e Jesus não
tolera a falta de comprometimento a respeito do seu Corpo e do seu Sangue.
A resposta de Pedro é bela (Jo 6,68-69): “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de
vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus”. Foi como se
ele dissesse “Senhor não compreendo totalmente o que acabaste de dizer, mas eu sei quem tu
és”.
Devemos nos recordar que Jesus deu duas grandes pistas ao longo do seu ministério
público, para entendermos o seu discurso eucarístico:
1- Ele é Deus... ao longo do seu ministério público, Jesus revelou a sua identidade divina
através de suas palavras e gestos (por exemplo: Ele pode perdoar pecados, é o Senhor do
Sábado, é maior do que o Templo, existia antes de Abrão, afirma que ele e o Pai são um, etc.);
2- Sua Ressurreição... Jesus fala de seu corpo e sangue ressuscitados como alimento.
Seu corpo e sangue depois da Ressurreição e Ascensão não estão mais sujeitos e limitados ao
tempo-espaço, mas pneumatizados, assim sendo, pelo poder do Espírito podem se fazer
presente, por exemplo, em cada Eucaristia celebrada... Jesus, ele mesmo, associa a Eucaristia a
sua Ressurreição em Jo 6,53-54: Jesus disse: “Em verdade, em verdade, vos digo: se não
comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós.
Quem se alimenta com a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei
no último dia”.
Os discípulos não acreditaram em Jesus porque não entenderam a natureza sobrenatural
do novo Maná do Céu (dimensão sacramental). Eles só poderiam ter a Vida Eterna se comessem
do seu corpo e bebessem do seu sangue (=vida, nephesh eterno de Cristo).
3- O PÃO DA PRESENÇA
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sacramento da sua presença. A última ceia não é somente uma Nova Páscoa, mas é também o
novo Pão e o novo vinho da presença.
Paralelo:
Pão da Presença A Última Ceia
1- Doze pedaços para doze tribos Doze apóstolos para doze tribos
2- Pão e vinho da presença de Deus Pão e vinho da presença de Jesus
3- Uma eterna aliança Uma nova aliança
4- Como uma anamnesis (zikkaron) Em anamnesis (zikkaron) de Jesus
5- Oferecido pelo sumo-sacerdote e Oferecido por Jesus e comido pelos apóstolos
comido pelos sacerdote
6- Comido na mesa de ouro (trapeza) no A mesa de Jesus (trapeza) no reino do Pai (Lc
Templo de Jerusalém (Ex 25,23-30; 22,19-20).
Lv 24,5-9)
O que se disse até agora, serve de fundamento para a doutrina da presença real de Cristo
na Eucaristia.
São Cirilo de Jerusalém: No AT também havia o Pão da Presença, mas este comopertencia
ao AT, acabou, mas no NT há o pão do Céu e um cálice da salvação, santificando alma e corpo
[...}] leve em consideração, então, o pão e o vinho não como meros elementos, pois eles são,
de acordo com a declaração do Senhor, o corpo e o sangue de Cristo
O Quarto Cálice
Antes da ceia pascal se costumava jejuar.
Quatro cálice compunham a ceia.
Cálice 1: Cálice da Ritos introdutórios (misturavam um pouco de água no cálice
santificação com vinho). O patriarca proferia uma benção formal sobre o
cálice com vinho e o dia da celebração. A refeição consistia
de quatro pratos: pães, ervas amargas, molho haroseth e
cordeiro pascal. Neste momento comia-se as ervas molhadas
no haroseth.
Cálice 2: Cálice Haggadah (da O patriarca proclama o que o Senhor fizera por Israel.
proclamação). Depois exlica a refeição.
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João narra, que quando Jesus reconhece que tudo está consumado, diz “tenho sede” e ele
bebe do vinagre que lhe oferecem em uma esponja. Exclama “Tudo está consumado” e entrega
o seu espírito (Jo 19,28-30). Eis o último cálice, conclui-se a Última Ceia na Cruz, no momento
de sua morte.
Podemos dizer que por meio da Última Ceia, Jesus transformou a Cruz em Páscoa, e por
meio da Cruz transformou a Última Ceia em um Sacrifício. Ao recusar beber o quarto cálice na
ceia, Jesus une a Quinta-feira santa à Sexta-Feira Santa, reúne tudo o que aconteceria com ele
(traição, ceia, agonia, Paixão, Morte) num ato só, de modo que o memorial da Eucaristia inclui
o seu sacrifício no Calvário.
Adendo 1: De acordo com o Evangelho de João (6,4), um ano antes de sua Páscoa, Jesus
realizou o milagre da multiplicação dos pães, dando de comer a 5000 pessoas. Logo depois,
temos o sermão na sinagoga de Cafarnaum. O milagre (Pão e Peixe) recorda o Êxodo e o Maná
(Pão e Carne), mas também é um convite á fé eucarístico-pascal. Ap 2,17: Quem tem ouvidos,
ouça o que o Espírito diz à Igreja. Ao vencedor darei o maná escondido”.
A multiplicação dos pães (5000): Mc 6,35-44 A Última Ceia: Mc 14,17-25 (Sacramento-
(Milagre) Milagre)
1- Aconteceu ao entardecer (noite) Aconteceu ao entardecer (noite)
2- As pessoas estavam descansando Os discípulos estavam descansando
3- Jesus pegou 5 pedaços Jesus pegou o pão
4- Jesus abençoou Jesus abençoou
5- Jesus partiu o pão Jesus partiu o pão
6- Jesus deu graças (eucharistesas) Jesus deu graças (eucharistesas)
7- Jesus o deu aos discípulos Jesus o deu aos discípulos
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