Você está na página 1de 2

INTEFISA – Instituto de Filosofia e Teologia São Francisco e Santa Clara de Assis.

Antropologia Teológica. Prof. Pe. Edmar Maniassi


IR. ANTONIO CARLOS JOAQUIM FILHO, MPS 2º Ano de Teologia
Mococa-SP, 12 de abril de 2024.

“COMO OBSERVO O HUMANO E O DIVINO DE CRISTO NA CELEBRAÇÃO DA


SEMANA SANTA?”

A Encarnação do Verbo apresenta-nos um rebaixamento do Eterno à nossa condição


mortal, sem, antes, perder sua divindade. O “movimento kenótico” se apresenta como um
mistério, pois a noção de Deus fazer-se homem, sendo inteiramente homem, mas mantendo
sua integralidade enquanto divino parece absurda. Mas não o é, e a celebração da Semana
Santa, particularmente da Vigília Pascal, é capaz de aprofundar-nos nesta noção.
O fato de nós, missionários da Providência Santíssima, termos uma Semana Santa
tão intensa, com poucos membros e muito trabalho, uma carga horária de orações tão intensa,
leva-nos a uma experiência profunda do mistério do Triduum mortis de Cristo. É fácil de se
reduzir a dimensão do “inteiramente homem” diante do “inteiramente Deus” de Jesus, pois
assumimos frequentemente que o “Jesus-homem” só foi capaz de suportar as angústias e
penúrias da Paixão por conta da força do “Jesus-Deus”, o que, pelas próprias heresias
historicamente combatidas (como o monofisismo de Eutiques e o nestorianismo) se apresenta
como falso. Provar, após um longo dia de trabalho, de exigências e até mesmo injustiças
sofridas diante dos irmãos e superiores é uma centelha daquilo que Jesus provara, e à noite,
exaurido, participar ativamente da Celebração da Ressurreição do Senhor, sentindo-se
aniquilado tanto física quanto psiquicamente, mas ainda assim clamando a vitória e o senhorio
de Cristo sobre toda força inimiga é como encarnar na própria vida a experiência do
Primogênito dentre os mortos.
Santo Hilário afirma: “Cum accipere formam servi nisi, per evacuationem suam non
potuerit qui manebat in Dei forma, non conveniente sibi formae utriusque concursu” (aquele
que permanecia na forma de Deus, não podendo receber a forma de servo sem esvaziar-se a si
próprio, e sem que as duas formas se coadunassem) 1. Isso para mostrar que toda a experiência
que fazemos e que colocamos como empecilho a um profícuo aproveitamento de toda a
vivência cristã, particularmente dos Mistérios Eucarísticos são, na verdade, elementos
facilitadores para uma autêntica experiência dos seguidores de Jesus. Provar na minha carne
os sofrimentos do tempo presente são meios de se enxergar a vontade de Jesus que se
coaduna, mediante a obediência, aos desígnios do Pai. A Ressurreição, por sua vez, é o ápice
da experiência com o Divino de Cristo, que mesmo abandonando o que era próprio Seu
enquanto Deus, é capaz de sujeitar a si a própria morte, sendo, portanto, origem e destino de

1
FEINER, Johannes; LOEHRER, Magnus. MYSTERIUM SALUTIS: Compêndio de Dogmática Histórico-
Salvífica – O Evento Cristo. Vozes: Petrópolis, 1974. III/6. P. 18.
toda vida, dando novo significado a Jo 12,32 (Quando eu for levantado da terra, atrairei todos
a mim), pois é possível lermos em nossa vida a atração desse Cristo a toda vida humana,
tirando de debaixo do pó da Terra, injetando a água do Espírito, modelando-nos com suas
Mãos chagadas e insuflando-nos com Seu hálito para não mais residirmos na Mansão dos
Mortos, mas junto a si, na Eternidade, como imagem e semelhança daquele que Paulo chama
“novo Adão”, Deus mesmo.
Provar, na Semana Santa todo esse itinerário de Jesus, com as intempéries diárias,
ajuda-nos a encontrar nosso lugar a partir da pessoa de Jesus; a partir de Suas dores curamos
as nossas. É enxergar o mistério do Deus uno e trino, de um Deus Filho, Deus e homem,
ferido, morto, mas Ressuscitado, e tomá-lo como Ele mesmo mandou que O tomássemos: o
Caminho, a Verdade e a Vida.

Você também pode gostar