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Rio de Janeiro
2021
1. INTRODUÇÃO
Apesar de ser prática ilegal no mundo inteiro, nunca houveram tantos escravos quanto
existem hoje. São 21 milhões de pessoas aprisionadas e forçadas a trabalhar, movimentando
uma indústria que gera 150 bilhões de dólares anualmente, de acordo com dados da
International Labor Organization (2014). As vítimas, pessoas em situação de pobreza e
desempregadas, frequentemente oriundas de países subdesenvolvidos, são seduzidas por
promessas de um bom salário e melhora nas condições de vida, porém a realidade é
completamente oposta. Operários de fábricas cujas jornadas de trabalho chegam a 15 horas ou
mais, mulheres que só se dão conta que foram vendidas como prostitutas após serem
encarceradas, crianças forçadas a mendigar, entre tantas outras formas de trabalho escravo ou
análogo ao escravo não são situações tão distantes como a maioria imagina. Neste trabalho,
faremos uma análise do funcionamento, história e medidas contra a escravidão por dívida no
Brasil, uma das modalidades mais comuns.
2. A ESCRAVIDÃO
O tipo de exploração em questão é baseado em obrigar a vítima a contrair uma dívida
com o patrão, geralmente na compra de ferramentas necessárias para o trabalho ou referente
aos custos da imigração de seu país de origem para o local onde irá trabalhar, e tornar essa
dívida impossível de ser paga. O salário oferecido é muito baixo, geralmente mal é suficiente
para cobrir os custos de vida, então o trabalhador não consegue pagar o valor devido nunca. O
trabalho costuma ser insalubre, sem o fornecimento de equipamentos de proteção e as
jornadas de trabalho são muito longas, porém a vítima é proibida de trocar de emprego
enquanto não honrar sua incumbência, ficando presa nessa relação abusiva pelo resto de sua
vida.
Esse é um cenário recorrente na área rural, especialmente no Mato Grosso e Pará. De
acordo com dados do Observatório da Erradicação do Trabalho Escravo e do Tráfico de
Pessoas (2021), 70% das vítimas trabalham no setor agropecuário, seguido pela construção
civil, que constitui 5% dos casos. O estado com mais pessoas resgatadas em 2021 foi Minas
Gerais, chegando a um total de 420 pessoas, constatação feita pelo Ministério do Trabalho em
sua última análise realizada em setembro deste ano. Entretanto, até evoluir para esse estado,
houveram muitas transformações na escravidão exercida no Brasil.
3. HISTÓRIA
Existem indícios da escravidão em quase todas as sociedades desde a Antiguidade,
datando a época do Egito Antigo e Mesopotâmia. No Brasil, os primeiros registros de
escravidão são do período após a chegada dos portugueses no território, considerando que não
existe uma forma de confirmar se o trabalho forçado era uma prática entre as tribos indígenas
nativas. Assim, os europeus começaram a escravizar indígenas, e depois africanos, visto que
capturar os nativos do Novo Mundo se tornou uma tarefa muito árdua uma vez que eles
conheciam a mata e eram capazes de fugir facilmente.
A escravidão foi oficialmente abolida em 1888, sob pressão da Inglaterra, parceira
econômica muito importante para o Brasil na época. Porém o trabalho escravo continuou com
outras facetas, visto que o ex-escravo se viu completamente desamparado, sem moradia,
posses ou formações técnicas que pudessem garantir uma vida digna. A maioria continuou
trabalhando para seu antigo dono, exercendo as atividades que fazia antes de liberto. Não
houve nenhuma política de integração dos ex-escravos à sociedade, criando um grupo
marginalizado bastante pronunciado cujas desvantagens impactam a posição social e
oportunidades de seus descendentes até hoje.
A evolução natural de um cenário como esse foi escravizar de maneiras alternativas, já
que esse é um modelo muito rentável para o dono, e foi dessa forma que o artifício da dívida
começou a ser empregado. Uma vez adquirida, a dívida perdura por tempo indeterminado e
pode passar de geração em geração, o que é contra a lei, conforme o art. 391 do Código Civil,
que diz “Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do devedor1”.