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Livros sapienciais - Prof.

Walter

02/08/2022

hokmah - sabedoria (em hebraico)

Hokmah tem um sentido mais amplo do que normalmente a palavra sabedoria tem
hoje. Sabedoria no mundo grego, principalmente a partir de Platão, ganhou contornos
intelectuais. Antes, o termo aplicava-se a qualquer pessoa que fazia algo bem. Os estóicos
falam da sabedoria como aquele que sabe comportar-se bem.
Jesus é chamado de Sabedoria de Deus por S. Paulo.
Não esquecer que o AT está ligado a regiões e povos circundantes. No Egito já se
falava de sabedoria (2300 a. C.), inclusive com a identificação de um Deus em particular.
Também no Egito há uma evolução da ideia. A ideia se aplicava ao mundo do governo, do
dia-a-dia e familiar. Muitos textos bíblicos têm ressonância em textos egípcios e babilônicos.
Preciso, para ser sábio, viver, experimentar, articular minha experiência, e passar
para frente, com o intuito de ajudar outras pessoas.
Fala-se pouco de Deus nos livros sapienciais. Por que, então, entrou no cânone? A
autoridade dos livros sapienciais está na experiência verdadeira que formou esses ditados.
O salmo 1 é sapiencial.

09/08/2022

Melhores autores acerca dos sapienciais: Gerhard von Rad; Roger Normam Whybray;
James L. Crensahw (mais conhecido); Roland E. Murphy

Von Rad: “A sabedoria exige um conhecimento empírico da ordem do criado, ‘um


conhecimento prático das leis da vida e do universo, baseado na experiência”. O êxito do
homem na vida dependia de sua disposição e habilidade para descobrir a ordem e viver em
harmonia com ela”.

Whybray: Não acredita na existência de um grupo profissional ou eotérico. Daí, que prefere
falar de “tradição intelectual” em de vez de “tradição sapiencial”. Deste ponto de vista,
podemos dizer que em Israel existiu uma “tradição intelectual” distinta de outras tradições:
históricas, legais, cúlticas ou proféticas.

Crensahw: “Faz distinção entre literatura sapiencial, tradição sapiencial e pensamento


sapiencial. Deste modo é capaz de colocar em evidência a importância de várias
manifestações da realidade sapiencial do AT sem ter de abordar todas ao mesmo tempo e
do mesmo modo”

Murphy: Acredita que a “sabedoria bíblica surge do esforço para colocar ordem na vida do
homem”. Esta perspectiva muda o ponto de vista relativo à ordem do mundo, pois em lugar
de dizer que o homem experimenta Deus no contexto da ordem estabelecida, terá que
afirmar que o experimenta na procura da ordem”.

A sabedoria vem da família, das escolas (época de Salomão).


Em Israel, a família/clá serviu de contexto ao desenvolvimento e transmissão de uma
sabedoria “popular” (Pv 4). Ao contrário dos livros proféticos ou da lei, os livros sapienciais
têm autoridade pela vida vivida com sabedoria.
O conselho da cidade ou os anciãos dos lugarejos constituíam outro contexto (Dt 25, 7-8)
Alguns indivíduos adquiriram reputação de sábios e eram procurados (2Sm 20 e 2Sm 14).
Entretanto, o mais importante para a formação da “tradição sapiencial” foi a “escola de
escribas”, parte vital de toda a corte real nos tempos antigos.

Livro de Provérbios

Coleção de coleções

1,1 Provérbios de Salomão


10, 1 Provérbios de Salomão
22, 17 Sentenças dos sábios
24, 23 Seguem as sentenças dos sábios
25, 1 Outros provérbios de Salomão recolhidos pelos escribas de Ezequias, rei de Judá
30, 1 Palavras de Agur, filho de Jaces, o massaita (estrangeiros)
31, 1 Palavras de Lamuel, rei da Massa, a ele ensinadas por sua mãe

Vários autores, em várias épocas, com fontes variadas, inclusive estrangeiras

Em Pv, prevalece o masal (mashal) com toda sua variedade, dos mais simples (sentença -
verbo no indicativo; conselhos/instrução - verbo no imperativo); ato os mais complexos
(pequenos tratados, os provérbios numéricos e os poemas alfabéticos).

Paralelismo

Tanto as sentenças como os conselhos são “bimembrados”, isto é, constam de duas linhas
ou versos paralelos

sinonímico (19, 6); antitético (13, 17); sintético (14, 27)

Sinonímico: o segundo verso diz a mesma coisa que o primeiro, de maneira diferente.
Antitético: o segundo diz coisas opostas
Sintético: o segundo completa o que diz o primeiro, acrescentando algo a mais

Formas valorativas

Provérbios que expressam estima ou repulsa por uma conduta, uma coisa. Por meio deles
descobre-se a escla de valores vigentes em determinado ambiente.
Fórmula comum: “mais vale.. do que…” (8, 19; 16,8; 19,22 - (pitorescos) 15, 17; 21, 9;
(definitivos) 24, 5; 27, 10); “Feliz aquele que…”; Apoiados em um fundamentos estritamente
religioso (11, 1; 15, 8.9; 17,15)

Comparações
A comparação é uma preocupação em que se confrontam dois os mais termos por meios da
partícula como. O uso das comparações em Provérbios é abundante: 10, 26; 19, 12; 26,12;
27,8; 28,1; 31,14.

Metáfora

A metáfora distingue-se da comparação por ter a partícula como suprimida; o predicado é


atribuído diretamente ao sujeito em sentido figurado (6, 23; 11,22; 18,4; 20,2; 25,18; 28,15)

Perguntas retóricas

Aquelas das quais já se sabe, antecipadamente, a resposta. São apropriadas para


expressar uma convicção generalizada (6, 27-28; 20, 9; 24,12; 27,4; 30,4)

Cenas breves

Provérbios que apresentam atitudes - geralmente dignas de repreensão - de personagens


típicos na sociedade. O tom é de fina ironia: 20,14; 26,13; 30, 20
6, 6-11; 23, 29-35 (descrições tipológicas)

Provérbios numéricos
com o número dois: 30, 7.15a
com o número três mais um: 30, 15b-16.18-19.21-23.29-31
com o número quatro: 30, 24-28
com o número seis mais um: 6, 16-19

Poema alfabético ou acróstico

Provérbios termina com um poema de 22 versos, cada um começando com uma letra do
alfabeto hebraico e por ordem de Alef e Tau (31, 10-31)

Discursos:

da sabedoria: 1, 20-33; 8,1-36; 9, 4-12


do mestre: 2, 1-22; 3,1-35
de um pai: 4, 1-27
da necedade: 9, 16-17

procurar: governo; justo e o injusto;

Formas; temas (sábio, néscio; justo, injusto)

16/08/22

Vílchez - 4. Variedade temática em Provérbios

i. Amor à sabedoria (razões para amá-la) - caps. 8 (principalmente)


ii. A vida pessoal
iii. A vida familiar
iv. A vida social

Exercício:

Tema: recompensa

Pv 22, 22-23; 23, 17-18


Pv 24, 12-14; 24; 15-16; 24, 19-20;

A teologia que subjaz esses provérbios é o da retribuição, já em vida, das obras dos bons e
dos maus. Pv 22, 22-23 afirma que os que defraudaram os pobres terão a vida tirada pelo
Senhor. Em 23, 17-18, recorre-se à esperança dos bons no futuro, pois o presente se
apresenta ao justo como uma injustiça, pois os pecadores seriam “invejados” pela sua vida.
Entretanto, no futuro será diferente. Em 24, 12-14; fala-se claramente que o Senhor
retribuirá a cada um conforme suas obras, de uma maneira pessoal. Novamente, aparece o
tema da esperança no futuro. Em 24, 15-16, afirma que os justos sempre se levantam dos
males enquanto os maus tropeçam na desgraça. Fica-se subentendido que eles não se
levantam. Finalmente, em 24, 19-20, aparece de novo o futuro, mas agora em relação ao
ímpios, que não terão “futuro”, cuja “lâmpada” (entendo como uma imagem da vida) se
extingue.

23/08/22

Eclesiástico ou Sirácida

Livro escrito por Jesus Ben Sirac. Não fez parte do cânon palestinense, São Jerônimo
negava a sua canonicidade. Traduzido pelo neto. Jesus Ben Sirac era de Jerusálem.
Traduzido ao grego devido ao domínio grego.
Até o séc. XX, havia só a versão grega. Entretanto, acharam dois terços da obra em
hebraico.
A relação entre sabedoria e Pentateuco é própria do Eclesiastico.
A chegada o neto de Jesus Ben Sirac ao Egito se dá em 132 a. C.. Portanto, podemos
afirmar que Jesus Ben Sirac exerceu seu magistério em Jerusalém no início do século II
a.C.
Jesus Ben Sirac era leigo. Seguramente gozava de uma posição econômica bastante
privilegiada, que lhe permitia dedicar-se por completo ao estudo da Lei, à atividade
magisterial público e, de vez em quando, a fazer às vezes de embaixador oficial nos países
estrangeiros. Sabia conciliar a fé com seu espírito relativamente aberto às correntes
helenistas de então. Tudo indica que pertencia a uma facção pré-saduceia. Por esse
espírito aberto, provavelmente, não foi aceito como livro canônico no concílio de Yamia (90
d.C.)

- Paralelismo

sinonímico (3,3)
antitética (3,9)
sintético ou completivo (3,7)
Comparações e metáforas
(11,30) e (19,12)

Formas valorativas
(2, 12-14) (10,27; 14, 1-2 (ditoso que…); 40, 23-25 (melhor que os dois))

Discursos e pequenos tratados (tem mais que em Pv)

Tom de exortação (16, 24-18,1), utilizando o apelativo “filho meu” ou falando da sabedoria
por meio dela mesma (1, 1-21; 4, 11-19; 14, 20-15; 24, 1-34). O recurso literário mais
utilizado pelo Sirácida, porém, é o dos pequenos tratados ou conjunto de vários provérbios
unidos pelo tema. (Ex 13, 3-7)

Retratos históricos (próprio do Eclo) - cap. 44-50

Imagens
13,1; 22, 1-2; 22,19-20

30/08

Salmos

Para organizar o livro dos Salmos, é necessário dividir por genêro literário. Gunkel criou 10
tipos de genêros.

Salmos sapienciais

Ex: Sl 1 (melhor tradução é restolho do que palha, pq parecem que reúnem, mas não tem
um peso ontológico). É uma sabedoria otimista, o injusto perecerá.

13/09 -

Livro Jó

Crise da sabedoria - Jó e Eclesiastes

Prólogo e Epílogo

Íntegro e reto

Jó e Eclesiastes enfrentam o problema do exílio, contra a teologia da retribuição


Se Deus é bom, porque não veja a Sua bondade hoje? Por que os justos sofrem?
Jó é quem coloca em andamento os diálogos.

20/09

Concilium - n. 189
Os caps. 1-2 introduzam os persoangens, a situação, etc. A reflexão começa no capítulo 3,
com o grito de Jó.

A cada discurso de um amigo, há um contra discurso do protagonista.

Leitura dos capítulos 4 a 7.

Temáticas:

No primeiro discurso de Elifaz de Temã, cap. IV, há o tema da retribuição, pois são os que
cultivam o mal que o colhem. Além disso, há o tema da fraqueza humana diante de Deus e
a brevidade de sua vida. No capítulo V, vê-se um chamado para se recorrer a Deus, que
exalta os humilhados e derruba os astutos. Além disso, fala-se da correção de Deus aos
justos. Para Elifaz, Deus está corrigindo Jó para, no futuro, recompensá-lo. Ainda aqui
estamos na ótica da teologia da retribuição.
Na resposta de Jó, nos capítulo VI e VII, ele reitera o seu desejo de morte, afirmando,
contra Elifaz, que ele não cometeu mal algum para estar naquela situação. No cap. VII, vê-
se, novamente, a brevidade da vida humana, e como Deus se abaixa e se preocupa com os
atos dos homens, mesmo que eles não sejam capazes de atingi-Lo. Há também a questão
do Sheol, que era considerado um lugar do qual era impossível de voltar.

Lousa do professor:

Elifaz: - teologia da retribuição (4, 7-8); - confiança (5, 15-16); - fragilidade, brevidade,
finitude do homem; - correção de Deus.
Jó vai perdendo todas as seguranças, materiais e espirituais, inclusive na doutrina. Ele fica
nú diante de Deus, e isso permitiu o seu crescimento.
Jó: não aceita a proposta de Elifaz. Porque Deus criou o homem, para ‘sacaneá-lo’? Seria
melhor morrer

Leitura dos capítulo 8 a 10 (Baldad de Suás)

Sofar de Naamat:

Deus é mistério, é transcendente, essa é uma forma de defender de Deus.

04/10

Eclesiastes

É uma reflexão a partir da vida, Deus aparece pouco. É um livro que conseguimos colocar
melhor historicamente.
Hoje os comentários gostam de chamar de Cóelet.
“Coélet significaria então o sábio que coleta a produção sapiencial provinda de bases
populares (ditos, sentenças, provérbios), burila essa produção com técnicas próprias das
escolas sapienciais, organiza coletâneas e antologias, reúne tudo em um conjunto
articulado e orgânico e escreve uma obra que se apresenta agora como verdadeiro espelho
da consciência e do conhecimento do próprio povo (12,9-11). O sábio seria, portanto, uma
espécie de intelectual orgânico – para usar, de forma aproximada, uma categoria que
Antonio Gramsci criou em sua atividade sociocultural.”
“Resta ver, contudo, para quem trabalha o sábio. Ele pode estar a serviço de alguém, de
uma organização, de um regime político, de uma determinada classe social, assim como
pode, ao contrário, estar a serviço dos interesses da grande maioria do povo, de seus
problemas, anseios e buscas. Adiantando já a leitura e análise do livro de Coélet, veremos
que o caso deste autor é precisamente este último. Coélet se preocupa com a felicidade do
povo que se encontra na base, produzindo, e não daqueles que se situam em níveis “mais
elevados” da escala social, apenas possuindo. Como se o povo não fosse capaz de
administrar seus próprios bens.”
“E o livro de Coélet? A análise do vocabulário e do estilo, assim como a ocorrência de
temas da literatura grega totalmente estranhos ao pensamento hebraico-israelita, levam a
pensar num tempo em que a Palestina era dominada pelo poder e cultura gregos. O tempo
mais provável seria, portanto, meados do século III a.C., talvez pelo ano 250 a.C.,
aproximadamente. Os temas aqui vislumbrados voltarão com mais intensidade no livro de
Sirac, ou Eclesiástico, empenhado no início do século II a.C. a defender e preservar a
identidade israelita (o que será feito de modo ferrenho pouco depois no apocalipse de
Daniel), para reaparecerem mais tarde em uma nova síntese de hebraísmo-helenismo no
livro da Sabedoria, escrito pelo ano 50 a.C.”

Começo da leitura do livro:

Vaidade em hebraico significa aquilo que é fugaz, que é passageiro, que não tem
consistência (mesma raiz do nome de Abel). Princípio hermenêutico do livro: tudo é fugaz,
passageiro.
No começo, todo discurso sobre o trabalho como dom, etc., começa a ser questionado.
No fim, o Coelet chega a conclusão que só uma coisa não é passageira: Deus. Posso
centrar minha vida naquilo que é consistente?

11/10

Para Eclesiastes, a culpa do mal é do homem, crítica à literatura apocalíptica.


O Coelet diz que todos sofrem, crise da sabedoria.

Professor começou a ler de 2, 18. O Cohelet é um pessimista, mas não é hedonista. A paritr
do 24, fala-se da fruição dos bens, num reconhecimento que tudo vem de Deus. Na
multiplicação dos bens, parte-se de um reconhecimento que tudo é dom de Deus. É
possível ver aqui uma crítica ao deteuronomista.

Cap. III -

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