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– Introdução a Bíblia –
Rev. Robério Odair Basílio Azevedo
1. Introdução
Quando começamos a ler a Bíblia a pergunta fundamental é: o que estamos
lendo? Obviamente, como visto anteriormente, estamos lendo a Revelação
especial de Deus aos homens. No entanto, estamos lendo também um livro
escrito por homens, mesmo que inspirados.
Esses homens viveram em um período histórico concreto, escreveram de
acordo com a língua que conheciam, bem como utilizaram as várias formas
literárias disponíveis em sua época para escrever (narrativas, poesias, cartas,
simbolismos [apocalipse], etc.). Essas formas literárias fazem parte da
capacidade do homem de articular a linguagem, desenvolvê-la, embelezá-la e
utilizá-la de forma eficaz e variada para se comunicar.
Portanto, quando estamos lendo a Bíblia temos diante de nós uma obra
literária. Essa ideia é hermeneuticamente muito importante porque cada
forma tem seus métodos próprios de expressão e interpretação.
Consequentemente, o leitor deve compreender o modo como os autores
bíblicos escreveram o conteúdo de sua mensagem, ou seja, o que disseram
em um texto e como disseram, bem como as específicas técnicas literárias
que foram usadas.
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O distanciamento retórico nos aponta para o fato de que os autores da Bíblia
escreveram e construíram suas ideias de acordo com as convenções próprias
de cada época.
Lembrete:
O Antigo Testamento foi escrito em Hebraico, embora existam alguns trechos
em aramaico (Ex. Ed 4: 8-6: 18,7: 12-26; Dan 2: 4—7: 28). O aramaico e o
hebraico estão relacionados, uma vez que pertencem à família de línguas
semíticas, mas não são mutuamente compreensíveis. O Novo Testamento foi
escrito todo em Grego. Assim, mesmo quando Paulo escreveu aos Romanos,
cuja língua era o Latim, usou a língua grega.
3. As Formas Literárias
Tanto o Antigo Testamento como o Novo possuem muitas formas literárias.
Um bom leitor precisa conhecê-las. As mais comuns são as narrativas, em
formato de histórias, que possuem características bem específicas: narrador
(voz narrativa), enredo, natureza episódica, personagens, diálogos,
tempo, espaço, ponto de vista (comentários diretos ou ênfases narrativas
trazidas pelo autor na história), etc.
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Compreender esses aspectos é fundamental, bem como, algumas
características específicas das narrativas hebraicas, como, por exemplo, Deus
como personagem principal, o aspecto mais simples e menos psicológico
das personagens (bem diferente das narrativas do romantismo moderno!), a
repetição, os contrastes, simetria (quiasmos e conexões concêntricas), a
mistura com elementos poéticos e outras formas literárias (paralelismos,
cânticos, profecias, lamentos, por exemplo), etc.
Nos Evangelhos e Atos também encontramos também a forma narrativa. No
caso dos evangelhos é importante observar o elemento comparativo entre
eles. Ainda que sejam relatos biográficos sobre Jesus, cada evangelista tinha
propósitos específicos ao escrever. Há pelo menos três técnicas importantes a
serem analisadas: seleção, arranjo e adaptação.
Outra forma literária muito comum no AT é a poesia. A poesia hebraica tem
duas características básicas: linguagem metafórica (imagens
comparativas) e o paralelismo de ideias (os estudiosos identificam vários
tipos de paralelismos). Os Salmos são o melhor exemplo dessa forma. No
caso deles, é imprescindível também identificar os diversos tipos de Salmos:
lamento, real, sabedoria, confiança, hinos, louvor e adoração, confissão,
etc. Portanto, ao lermos a Bíblia devemos ficar atentos quanto ao tipo, a
estrutura, as imagens e o paralelismo dos Salmos.
A forma sapiencial ou de sabedoria também é importante na Bíblia.
Também possui uma natureza muito poética com a presença de imagens e
paralelismos. Seu alvo primordial é comunicar a sabedoria divina. Nela
encontramos reflexões sobre o benefício de se aplicar a lei de forma prática
na vida, ou máximas importantes afirmadas a partir de reflexões da vida
humana baseadas em princípios teológicos. Exemplos dessa forma são o
livro de Provérbios, Eclesiastes, Cantares e Jó.
A forma profética também ocupa grande parte do antigo testamento. A
profecia não tem haver sempre com predição de futuro, mas com o profeta
como “boca de Deus” chamando o povo a fidelidade pactual e obediência a
lei de Deus. Muitas vezes a forma é intercalada com narrativas e oráculos
proféticos. Nesse caso deve-se observar o contexto pactual da profecia
dentro do aspecto revelacional e histórico, a natureza da(s) profecia(s) em si
(se relacionadas apenas a época, a natureza futura simples ou complexa,
etc.), e como o Novo Testamento se relaciona a ela.
As cartas também ocupam grande parte do Novo Testamento. Elas são de
natureza mais argumentativa apresentando introdução, um corpo onde o
autor desenvolve seu argumento e uma conclusão. Nesse caso, devemos
analisar as diferenças literárias entre elas. Algumas são mais particulares,
outras ocasionais, ou ainda específicas ou gerais.
Há também formas mais híbridas como o livro de Habacuque no Antigo
Testamento (diálogo, canção de lamento e salmo). No Novo, temos a carta
aos Hebreus (discurso ou tratado, sermão [homilia], carta) e o livro de
Apocalipse (carta, profecia, símbolos [apocalipse]). Nesse caso, vemos uma
mescla de formas.
4. As Técnicas Literárias
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Além dessas formas literárias, é comum também encontrarmos muitas
técnicas literárias, dependendo das formas que estamos lendo. Algumas são
comuns a todas as formas (como, por exemplo, as figuras de linguagem),
outras mais relacionadas a algumas formas específicas. Alguns exemplos de
técnicas literárias são: referências intertextuais, metáfora, comparações,
símile, parábola, hipérbole, paradoxo, pergunta retórica, diatribe, ironia,
repetição, paralelismo, personificação, acrósticos, palavras gancho, inclusão
(inclusio), construção simétrica (quiasmos), etc.
Portanto, além da forma literária mais abrangente, é importante observar
formas secundárias e técnicas específicas usadas pelos autores. Elas nos
ajudam a entender o sentido pretendido por eles de acordo com as
convenções naturais da linguagem, conforme lhes era disponível em suas
respectivas épocas.
Portanto, um bom leitor da Bíblia precisa saber que tipo de forma literária
está lendo e como os autores fizeram uso de tal forma, bem como as técnicas
literárias que usaram.