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INTERPRETAÇÃO E

MEMORIZAÇÃO BÍBLICA
SUMÁRIO

Conteúdo Programático........................................................................................... 03
MODULO I
Introdução à Hermenêutica ................................................................................... 05
Hermenêutica ao longo da História Cristã ................................................... 08
História dos Princípios Hermenêuticos na Igreja Cristã ........................ 14
MODULO II
A Exegese no Período da Reforma ..................................................................... 26
MODULO III
O Problema da infalibilidade da Bíblia e da ciência ..............................56
Concepção própria da Bíblia................................................................................... 62
MODULO IV
Métodos de Interpretação da Bíblia .................................................................. 76
MODULO V
Princípios de Interpretação da Bíblia.............................................................. 122
MÓDULO VI
Princípios Históricos e Teológicos de Interpretação ............................. 131
Atividades práticas à Hermenêutica ................................................................ 131
Referências Bibliográficas ...................................................................................... 100

Apostila compilada por Pr Nelson Junges,


Pr Willy Scheffelmeyer e Pr Roberto Rohregger

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CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
EMENTA: Conhecer os princípios da Hermenêutica, para
poder aplicá-los no estudo da Palavra de Deus.

OBJETIVOS: 1. Proporcionar ao aluno uma visão panorâmica


do Desenvolvimento da Hermenêutica no decorrer da história; 2.
Possibilitar o entendimento da importância da hermenêutica
para a interpretação das Escrituras; 3.Apresentar um estudo
introdutório à metodologia da hermenêutica; 4. Apresentar
princípios básicos da Hermenêutica.

CONTEÚDO: 1.Introdução à Hermenêutica - A interpretação


Judaica e dos escribas no tempo de Jesus; A alegorização
Judaica; A Interpretação no período Patrístico; Escola de
Alexandria e Antioquia. 2. A exegese no período da Reforma – A
interpretação na Pós-Reforma; O Confessionalismo; O Pietismo; O
Racionalismo; A Neo-Ortodoxia. 3. Os Gêneros Literários da
Bíblia – Princípios gerais de Interpretação. 4. Princípios de
interpretação – Princípios gerais de Interpretação Histórico-
Teológico.

REFERÊNCIAS:
- BENTHO, Esdras Costa. Hermenêutica Fácil e Descomplicada. CPAD.
- BERKHOF; Louis; Princípios de Interpretação Bíblica; Editora Cultura
Cristã.
- Bible and How to interpret it pg. 56 - 192
- Bíblia Novo Testamento Interlinear; Grego/Português.
- CHAMPLIN, Russel N. O Novo Testamento Interpretado Versículo por
Versículo. São Paulo: MILENIUM, 1979.
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- DIFERENTES VERSÕES DA BÍBLIA.
- FEE; Gordon D.; STUART, Douglas; Entendes o que lês?; Ed. Vida Nova.
- HENRICHSEN, Walter A. Princípios de Interpretação da Bíblia. MUNDO
CRISTÃO.
- JUNGES, Nelcindo Nelson. Hermenêutica. Instituto Teológico Boa
Terra. - http://www.hermeneutica.com/principios/
- Lund, E. / NELSON, P. C. Hermenêutica.
- VIRKLER, Henry A. Hermenêutica Avançada. VIDA.
---------; Revista Estudos Bíblicos; Métodos para ler a Bíblia; Ed. Vozes.

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MÓDULO I

INTRODUÇÃO À HERMENÊUTICA

DEFINIÇÃO.

Começaremos está apostila da forma como a maioria dos


livros sobre Hermenêutica começa, pela definição da palavra
Hermenêutica. Pode-se definir Hermenêutica como “a ciência
que nos ensina os princípios, leis e métodos de interpretação.”
(BERKHOF, 2000, pg. 9)

A palavra Hermenêutica deriva do vocabulário grego que


tem o significado de “interpretar”. A definição tradicional da
palavra é “ciência que define os princípios ou métodos para a
interpretação do significado dado por um autor específico.”
(OSBORNE, 2009, pg.25). Historicamente a palavra Hermenêutica
deve a sua origem ao nome do deus grego Hermes, que servia de
mensageiro dos deuses, transmitindo e interpretando suas
comunicações aos destinatários. (VIRKLER, 2000,pg. 9)

De forma geral a Hermenêutica, principalmente a


Hermenêutica Bíblica tem como objetivo compreender e
interpretar corretamente a mensagem original da forma mais
próxima possível da intenção da comunicação do seu escritor
original, isto é, compreender corretamente qual o significado
conforme a idéia transmitida na época em que foi escrito. Todo

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texto antigo tem algumas barreiras que devem ser rompidas para
que possamos ter a correta interpretação e entendimento do seu
conteúdo, e com a Bíblia não é diferente, uma vez que seus
textos tem muito mais que 2000 anos que foram escritos!

Mas quais barreiras são estas?

A primeira acabamos de falar é o tempo, a Bíblia foi escrito


em outra época, então muito do que é relatado é histórico, está
carregada de ações e conceitos de uma época do passado.
Outra é a questão cultural, a Bíblica foi escrita em uma
cultura diferente da nossa, temos que compreender como esta
cultura pensava, quais eram seus parâmetros.

Outra questão importante é o idioma, a Bíblia foi escrita em


grego e hebraico, e ainda há uma influência do aramaico,
idiomas estranhos para nós, como formas de estruturara palavras
e significados que não são fáceis de compreender.

O pecado obscureceu o entendimento do homem e ainda


exerce influências perniciosas sobre a vida mental consciente.
Portanto, é necessário que se faça um esforço especial para evitar
os erros.

Contexto, para entendermos corretamente uma passagem


temos que entender o contexto que a passagem está se
referindo, o que motivou o escritor a escrever aquilo? O que levou
o Espírito Santo a inspirar o escritor a falar sobre este tema? Para
quem ele está falando? Qual seu objetivo? Tudo isso é

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importante para nos aproximarmos da intenção original do texto,
para que possamos fazer uma correta aplicação do texto nos dias
atuais...

Assim sendo a função da Hermenêutica é disponibilizar


ferramentas ou regras de interpretação de devemos observar
para que possamos fazer uma correta interpretação e aplicação
do texto Bíblico para nosso contexto e época, precisamos
descobrir o que os autores bíblicos pensavam. Nós não tratamos
de temas atuais, dos noticiários de jornais e revistas, mas da
Bíblia, que foi escrita há muito tempo, em três idiomas diferentes
(hebraico, grego e aramaico), como também em culturas e locais
diferentes. A tarefa da hermenêutica é determinar tanto quanto
possível, o sentido original dos textos bíblicos, cujos autores
viveram em um passado tão distante de nós.

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HERMENÊUTICA AO LONGO DA HISTÓRIA CRISTÃ

História dos Princípios Hermenêuticos Entre os Judeus.

Existe uma diferença entre a história da hermenêutica como


ciência, e a história dos princípios hermenêuticos. A primeira teria
o seu início por volta do ano 1567 (a. C), e a segunda iniciou nos
primórdios da era cristã. A história dos princípios hermenêuticos
procura responder algumas perguntas: Qual é o ponto de vista
prevalecente a respeito das Escrituras? Qual é a concepção
dominante do método de interpretação? Quais as qualidades
necessárias para um intérprete da Bíblia? Para darmos uma visão
global sobre o assunto, analisaremos uma síntese dos princípios
adotados pelos judeus na interpretação da Bíblia. Devemos
distinguir dentre eles algumas classes diferentes:

A interpretação Judaica e dos escribas no tempo de Jesus


- Um estudo em geral da história da interpretação bíblica
começa com a obra de Esdras, relatada no livro de Neemias (Ne.
8 – 13), quando após o retorno do exílio babilônico os israelitas
encontram os rolos da Lei.

Desde Esdras até Cristo os escribas não só ensinavam as


escrituras como também a copiavam tendo elevado cuidado, já

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que criam que cada letra, paralelismo e até a forma das letras
tinham um significado oculto.

Muitas vezes este letrismo era levado a tal ponto que o


significado que o autor tinha em mente era menosprezado em
favor da especulação. Por outro lado esta preocupação com a
letra teve a vantagem de manter o texto preservado através dos
séculos.

A alegorização Judaica - Outro traço bastante marcante da


interpretação judaica era a alegorização do texto, ou seja,
procurava-se por trás do texto mais evidente o literal, um sentido
obscuro e oculto.

O grande problema da alegorização é deixar o texto a mercê


da interpretação do destinatário, sendo muito difícil garantir se a
interpretação está correta ou não.

A Leitura feita pelos escribas no tempo de Jesus.

Outro traço interessante da leitura judaica era o uso da Tora


feito pelos escribas no tempo de Jesus. A leitura normalmente
era feita na sinagoga e traduzida para o aramaico, e em seguida
era aplicado o Midrash (do hebraico “explicar”) ou seja, a
explicação da lei, onde verificava-se um forte legalismo.

O rabi Hillel, cuja vida antedata a ascensão


do cristianismo por uma geração ou tanto, é
considerado como o elaborador das normas
básicas da exegese rabínica que acentua a
comparação de idéias palavras ou frases
9
encontradas em amsi de um texto, a relação de
princípios gerais com situações particulares, e a
importância do contexto na interpretação.
Contudo, teve continuidade a tendência no sentido
de uma exposição mais fantasiosa em vez da
conservadora. (VIRKLER, 1980, P.37)

Segundo Berkhof1 uma das grandes fraquezas da


interpretação dos escribas se deve ao fato dela exaltar a Lei Oral.
Isto foi questionado pelo próprio Cristo, conforme vemos em
Marcos 7.13: i

“(...) invalidando a Palavra de Deus pela vossa própria


tradição, que vós mesmos transmitistes, e fazeis muitas outras
coisas semelhantes.”

Os Judeus da Palestina - Estes tinham um profundo respeito


para com a Bíblia, e tratavam-na como “a Infalível |Palavra de
Deus”. Consideravam sagradas, até mesmo as letras, e seus
copistas tinham o hábito de contá-las, a fim de evitar que
alguma se perdesse na transcrição. Ao mesmo tempo, tinham a
Lei em mais alta estima do que os Profetas e os Escritos
Sagrados. A sua ênfase principal era a interpretação da Lei.
Faziam uma clara distinção entro o mero sentido literal da Bíblia
(tecnicamente chamado de peshat), e a sua exposição exegética

1
1 BERKHOF, Louis; Princípios de Interpretação Bíblica; Ed. Cultura Cristã, pg13

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(Midrash). Eles gostavam do Midrash, pois o seu prazer era
investigar e elucidar, por todos os meios exegéticos viáveis, as
possíveis aplicações e os significados da Escritura.

A interpretação de caráter legal (halakahah = obrigações


impostas da Lei), era exclusivamente exegético.

A interpretação mais livre (haggadah = abrange todas as


partes não legalistas), era interpretada homileticamente.

Uma das grandes fraquezas da interpretação dos Escribas é


a exaltação da Lei Oral, a tal ponto que passaram a desprezar a
Lei escrita. Isso deu margem ao aparecimento de várias formas
arbitrárias de interpretação (Marcos 7:13).

O Rabino Hillel foi um dos maiores intérpretes dentre os


judeus. Ele nos deixou sete regras de interpretação: “leve e
pesada; equivalência; dedução do especial para o geral;
inferências de várias passagens; inferência do geral para o
especial; analogia de outras passagens; inferência do contexto”.

Os Judeus de Alexandria - Sua interpretação era mais ou


menos determinada pela filosofia de Alexandria. Adotavam o
princípio fundamental de Platão, de que “ninguém deve
acreditar em algo que seja indigno de Deus”. Quando
encontravam alguma coisa no A.T que não concordava com a sua

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filosofia e que ofendia a sua lógica, recorriam às interpretações
alegóricas.

Filo foi o grande mestre desse método de interpretação entre os


judeus. Sempre quando as expressões são indignas de Deus, não
devem ser literais e quando o texto for ambíguo, deve ser
alegorizado.

Os Judeus Garaítas - Essa seita judaica foi fundada por


Anan Bem David (c. 800 a.C.). Eles eram descendentes espirituais
dos saduceus. Representavam um protesto contra o Rabinismo, e
foram parcialmente influenciados pelo Islamismo. Eles se
denominavam “filhos da leitura”. Eram assim chamados, porque o
seu princípio fundamental era considerar “a Escritura como a
única autoridade”, em matéria de fé. Isso significa por um lado,
desprezo à tradição oral e à interpretação rabínica., e por outro
lado, um novo estudo do texto da Escritura. Sua exegese, de
modo geral, era muito mais correta do que a dos judeus da
Palestina e de Alexandria.

Os Judeus Babalistas - O movimento babalista do


século doze afirmava que todo o Texto Massorético, composto de
versos, palavras, letras, vogais e acentos, foram entregues a Moisés
no monte Sinai, e que cada letra tinha um poder especial e
sobrenatural. Eis as suas regras: Gematria, colocando peso
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numérico para cada letra, podendo assim, substituir certas
palavras bíblicas por outra do mesmo valor numérico; Notarikon,
que consistia em formar palavras pela combinação de letras
iniciais e finais, ou por considerar cada letra de uma palavra, a
letra inicial de outras palavras; Temoorah, que indicava o método
pelo qual se conseguia um novo significado por meio do
intercâmbio de letras.

Os Judeus Espanhóis - Do século XII ao século XV,


desenvolveu-se um método mais sadio de interpretação, entre os
judeus da Espanha. Eles faziam o estudo exegético do texto
original.

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HISTÓRIA DOS PRINCÍPIOS HERMENÊUTICOS NA IGREJA
CRISTÃ

A Interpretação no período Patrístico.

Devemos lembrar que com a difusão rápida do cristianismo,


começam a surgir também grandes perigos e desafios, já que os
que ingressavam nas comunidades cristãs traziam consigo uma
série de costumes, pensamentos e experiências pagãs, o que
dava margem para o surgimento de inúmeras heresias. Com o
intuito de deter tal ameaça ao cristianismo, os denominados pais
da igreja, como Justino Mártir e Irineu, entre outros iniciam uma
intensa atividade apologética, especialmente do Antigo
Testamento. E para isso defendiam o método alegórico como
meio de entender o Antigo Testamento:

Um exemplo clássico de interpretação alegórica é o livro de


Cantares. Inicialmente o livro era interpretado de forma literal ou
histórica, descrevendo a relação entre Salomão e Sulamita como
um amor recíproco entre uma jovem e um jovem. Mas a partir da
segunda metade do século I a interpretação alegórica passou a
dominar a exegese judaica. Na literatura rabínica o esposo foi
identificado com Yahweh e a esposa com Israel. Mais tarde a
tradição cristã os identificou como sendo Cristo e a Igreja,
interpretação que vigora até hoje na maior parte das igrejas
evangélicas. O suicídio de Saul (que causava escândalo aos mais
piedosos) logo passou a ser interpretado como prefigurando
Jesus, que parte voluntariamente para a morte a fim de nos
salvar. Essa interpretação segue a orientação de Agostinho: “O

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que quer que apareça na Palavra divina que não diz respeito ao
comportamento virtuoso ou à verdade da fé deve ser tomado
como figurativo”. Com esse recurso a dificuldade em explicar o
suicídio de um rei de Israel foi facilmente solucionada. Uma das
características do método alegórico cristão era ver referências a
Cristo em qualquer que fosse o texto do Antigo Testamento. Um
exemplo é a interpretação dada por Clemente de Alexandria ao
cordão vermelho colocado por Raabe numa janela (Js 2,18). Por
mais estranho que nos possa parecer, ele viu nesse ato uma
profecia da redenção pela morte de Cristo. Para ele, assim como
o cordão de Raabe proporcionou o livramento da família da
prostituta, o sangue de Cristo nos libertou do pecado.
Fonte:http://numinosumteologia.blogspot.com/2010/04/exegese-
crista-na-patristica-e-na-idade.html

O método alegórico de interpretação se refere à


espiritualização de partes da Escritura, que por algum motivo são
dúbias ou relatam um tema difícil para a igreja, em vez de
interpretá-las literalmente, de acordo com o seu contexto.

Com o intuito de defender a fé cristã Tertuliano (160-220)


afirma que as escrituras são “propriedade da igreja”, sendo a
solução para as heresias a regra de fé, ou ensinamentos
sustentados pela igreja, i.e. sua interpretação.

Este cuidado acabou gerando um fortalecimento exagerado


da tradição eclesiástica com relação ao método alegórico.

Observações com relação à interpretação patrística:

1 – O estilo alegórico tomou um caráter apologético.

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2 – A tipologia pendeu para a alegorização.

3 – A autoridade da igreja foi usada para combater as heresias,


sem saber que abririam caminho para que a tradição da
igreja ganhasse maior autoridade o que predominaria
durante séculos na idade média.

O Período da Patrística.

Por volta de 200 d.C. surgiram duas importantes


escolas de interpretação. A escola de Alexandria no Egito e a
de Antioquia na Síria.

A escola de Alexandria - Era uma das maiores cidades do


império romana, a maioria da população era de origem grega
e marcada pela cultura e filosofia grega, mas havia também
uma numerosa colônia de judeus.

A filosofia grega era especialmente platônica, nas formas do


Neo-Platonismo e do Gnosticismo. Não é de se admirar que esta
escola foi influenciada na interpretação bíblica pela filosofia
popular, passando a harmonizar a religião e a filosofia na
interpretação alegórica. Consideravam a Bíblia como a inspirada
Palavra de Deus.

Principais representantes da Escola de Alexandria:

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Clemente de Alexandria - 150 d.C – 215 d. C Pertencia a
corrente do método alegórico, partilhando da opinião de que
somente este método contribuía para o conhecimento real.

Segundo Clemente : “O sentido literal so poderia fornecer


uma fé elementar, enquanto que o alegórico contribuía para o
conhecimento real.” (BERKHOF; 2000, p18)

Clemente de Alexandria foi o primeiro a aplicar o método


alegórico, na interpretação do Antigo Testamento. Propôs o
princípio de que toda a Escritura deveria ser interpretada
alegoricamente. Ele dava um passo além dos outros intérpretes
bíblicos, sendo essa a sua principal característica. Segundo ele, a
interpretação literal das Escrituras poderia apenas fornecer um
tipo de fé elementar, mas a interpretação alegórica conduz ao
verdadeiro conhecimento.

Orígenes 354 d. C – 430 d. C - Discípulo de Clemente,


superou-o em ciência e influência, e foi o maior teólogo de seu
tempo, forneceu em uma de suas obras uma teoria detalhada de
interpretação, cujo o princípio era:

“(...) que o significado que o Espírito Santo dá é sempre


simples, claro e digno de Deus. Tudo que parece obscuro, imoral e
inconviniente na Bíblia serve simplesmente como um incentivo
para transcender, ir além do sentido literal.” (BERKHOF, aput
ORIGENES, 2000, p18)

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Origines recebe influência direta de Platão que considerava
que o homem consiste de três partes- corpo, alma e espírito –
desta forma também deveria ser o sentido da interpretação, o
literal, o moral e o alegórico.

Orígenes destacou-se ainda mais em conhecimento, do que


em influência. Foi sem dúvida, o maior teólogo do seu tempo. O
seu principal trabalho consistia na crítica textual, e não na
interpretação exegética da Bíblia. Numa de suas obras, ele
apresenta uma teoria de interpretação detalhada, enfatizando
que o sentido que o Espírito Santo dá, é sempre claro e digno de
Deus.

Tudo o que parece obscuro, imoral e inconveniente na


Bíblia, serve simplesmente, como incentivo para ultrapassar o
sentido literal. Ele considerava a Bíblia como o meio de salvação
do ser humano. Tomando em consideração a afirmação
platônica, de que “o homem é composto de espírito, alma e
corpo”, ele defendia que a Bíblia tem um significado tríplice:
literal, moral e místico (ou alegórico). Em sua prática exegética,
ele quase menosprezou o sentido literal das Escrituras, referindo-
se raramente ao sentido moral, mas especialmente enfatizando o
sentido alegórico, visto que só ele produzia o conhecimento
verdadeiro.

Agostinho 354 d.C – 430 d.C. Agostinho provavelmente o


mais ilustre e proeminente de todos os pais da igreja e
seguramente uma das mentes mais brilhantes e originais de toda
18
a história da igreja cristã, teve uma forte influência sobre o
método de interpretação bíblica, especialmente na idade média.

Em seu livro sobre a doutrina cristã, estabeleceu


diversas regras para a exposição da Escritura, algumas das quais
estão em uso até hoje. Destacamos:

1 – O interprete deve possuir fé cristã autêntica. 2

2 – Deve-se ter em alta conta o significado literal e


histórico da Escritura.

3 – Compete ao expositor entender o que o autor


pretendia dizer e não introduzir no texto o significado que ele,
expositor, quer lhe dar.

4 – O intérprete deve consultar o verdadeiro credo


ortodoxo.

5 – Um versículo deve ser estudado em seu contexto, e


não isolados dos versículos que o cercam.

6 – Se o significado de um texto é obscuro, nada na


passagem pode constituir-se matéria de fé ortodoxa.

7 – O Espírito Santo não toma o lugar do aprendizado


necessário para se entender a Escritura.

8 – O intérprete deve ter um conhecimento de hebraico,


grego, geografia e outros assuntos.

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9 – A passagem obscura deve dar preferência a mais
clara.

10 – O expositor deve levar em consideração que a revelação


é progressiva.

Embora Agostinho tenha sistematizado tais princípios para


uma exegese sadia, na prática ele renunciou à maioria deles,
partindo assim para uma alegorização excessiva.

Portanto, sua contribuição para o desenvolvimento de uma


exegese científica foi mista, na teoria ele sistematizou vários dos
princípios de uma exegese sadia, mas, na prática, deixou de
aplicá-los em seus estudos bíblicos.

No início do terceiro século (d.C.), a interpretação Bíblica foi


influenciada, principalmente, pela Escola Catequética de
Alexandria. Esta cidade era um importante centro cultural, onde
a religião judaica e a filosofia grega se encontraram e se
influenciaram mutuamente.

Com tais características, Alexandria logo se tornou um


centro cultural e sede da importante escola de interpretação
bíblica, de forte ênfase alegórica.

A Escola de Antioquia - Com o crescente aumento do


método alegórico para a interpretação por parte dos pais
alexandrinos e constante abandono do sentido literal do texto,
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fez surgir em Antioquia, próximo ao final do 3º século, uma escola
que defendia com maior zelo o sentido literal ou histórico
gramatical das Escrituras.

A Escola de Antioquia, provavelmente foi fundada por


Doroteu e Lúcio, no final do III Século (d. C.). Mas, Farrar considera
Deodoro o primeiro bispo de Antioquia, [que depois de 378 (d. C.)
passou a ser bispo de Tarso], o fundador da mesma.

“Os seguidores desta escola bíblica diziam que: só podemos


tirar mensagem a partir daquilo que o texto escrito diz,
defendiam as verdades dos fatos assim como a Bíblia diz.”
(MOSCONI, p. 49)

Principais representantes:

Teodoro de Mopsuéstia (386-458). Segundo Teodoro um


texto deve ser interpretado de acordo com as regras gramaticais
e históricas, evitavam a exegese dogmática, enfatizando que a
interpretação deve ser justificada por seu contexto gramático e
histórico e não pro um apelo a autoridade, criticava os alegoristas
por lançarem dúvidas sobre a historicidade dos fatos do A T
(Virkler p.46)

João Crisóstimo (344-407). João não negava outros possíveis


sentidos da Bíblia, mas impunha duas condições: O sentido literal

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vem em primeiro lugar. Os outros sentidos não podem estar em
desacordo com o literal.

Jerônimo (342-420) É considerado o pai da exegese


científica, profundo conhecedor das línguas bíblicas, fez
numerosos estudos de crítica textual. Traduziu toda a bíblia para
o latim.

Esses homens ilustres divergiam grandemente em sua


interpretação. Teodoro sustentou um ponto de vista liberal a
respeito da Bíblia, ao passo que, Crisóstomo afirmava que ela é “a
Infalível Palavra de Deus”. A Exegese do primeiro era intelectual e
dogmática, porém a do último era espiritual e prática. Eles
avançaram, no sentido de fazerem uma exegese
verdadeiramente científica, reconhecendo a necessidade de
descobrir o sentido original da Bíblia, a fim de fazer dela um uso
proveitoso. Eles não somente deram grande valor ao sentido
literal da Bíblia, mas no estudo da exegese, conscientemente
rejeitaram o método alegórico de interpretação. Teodoro tornou-
se mais habilidoso do que Crisóstomo. Ele considerava o fator
humano na produção da Bíblia, mas negou a inspiração divina de
alguns livros da mesma. Ao invés do método alegórico, ele
defendeu o método histórico-gramatical, que o colocou muito
além do seu tempo.

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O Período da Idade Média.

Durante a Idade Média, surgiu no Ocidente um método


intermediário de fazer exegese, enfatizando alguns elementos da
escola alegórica de Alexandria, mas também reconhecendo os
princípios da escola da Síria (Antioquia). Porém, na interpretação
bíblica, o seu aspecto mais característico, encontra-se no fato de
haver acrescentado outro elemento, a saber, “a autoridade da
tradição e da igreja”. Esse método atribuiu valor normativo ao
ensino da igreja, no campo da exegese.

Esse tipo de exegese foi representado por Hilário e Ambrósio,


mas especialmente por Jerônimo e Agostinho. A fama de
Jerônimo baseia-se mais na tradução da Vulgata, do que na sua
interpretação bíblica. Ele tinha um bom conhecimento das
línguas grega e hebraica, mas o seu trabalho exegético, consiste
principalmente, de um grande número de notas lingüísticas,
históricas e arqueológicas.

Agostinho difere de Jerônimo, no fato de ter menos


conhecimento das línguas originais da Bíblia. Apesar de não ter
sido um grande exegeta, mas como teólogo, ele foi um grande
organizador das verdades bíblicas. Ele deu ênfase à necessidade
de se considerar o sentido literal, e de se basear nele o alegórico.
Além disso, nos casos em que o sentido das Escrituras era dúbio,
ele deu voz decisiva à “regula fidei”, uma afirmação compendiada
da fé da Igreja. Mas infelizmente, Agostinho também adotou um
“quádruplo sentido das Escrituras”: histórico, etimológico,
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alegórico e a tradicional. Dessa forma, ele teve grande influência
na interpretação das Escrituras na Idade Média.

Durante a Idade Média, muitas pessoas, e até mesmo dentre


os clérigos, viviam em profunda ignorância sobre a Bíblia. O que
dela conheciam, era somente através da Vulgata, e também
através dos escritos dos Pais.

A Bíblia era considerada um livro cheio de mistérios, e que só


podia ser entendido misticamente. Neste período o quádruplo
sentido da Escritura, era geralmente aceito, e ficou claro que “a
interpretação da Bíblia tinha de adaptar-se à tradição e à
doutrina da Igreja”.

Considerava-se a mais alta sabedoria, reproduzir os ensinos


dos pais da Igreja e descobrir os mesmos nas Escrituras. A regra
de São Benedito foi prudentemente adotada nos mosteiros, e foi
decretado que as Escrituras deveriam ser lidas, e com elas, “como
explicação final, as explicações dos pais da Igreja”.

Hugo de São Victor chegou a dizer: “aprende primeiro o que


deves crer, e então vai à Bíblia para encontrar a confirmação”. E
nos casos em que as explicações dos pais eram diferentes das
Escrituras, como sempre acontecia, o intérprete estava na
obrigação de escolher dentre os dois. Nenhum novo princípio
hermenêutico surgiu nesse tempo, e a exegese estava de mãos e
pés amarrados (engessada), pela tradição e pela autoridade da

24
Igreja. Esse estado de coisas se reflete claramente nas obras que
foram escritas naquele tempo.

25
MÓDULO II

A EXEGESE NO PERÍODO DA REFORMA

Nos séculos XIV e XV predominava profunda ignorância


quanto ao conteúdo da Bíblia. Alguns dos doutores de teologia
sequer haviam lido a Bíblia toda.

Contudo, a renascença começa a chamar a atenção para a


importância de conhecer as línguas originais a fim de entender a
Bíblia, o que causaria grande influência sobre a hermenêutica
reformada.

O sentido quádruplo da escritura foi aos poucos sendo


deixado e substituído pelo princípio de que a Escritura tem
apenas um único sentido.

Os reformadores consideravam a Bíblia como autoridade


suprema e como palavra final de apelo em controvérsias
teológicas. Em oposição a infalibilidade da igreja, colocavam a
infalibilidade da Palavra. O que fica claro na declaração enfática:
“a igreja não determina o que as Escrituras ensinam, mas as
Escrituras determinam o que a igreja deve ensinar.”

O Renascimento (a Renascença) foi de grande importância


para o desenvolvimento de princípios sadios de interpretação da
Bíblia. Nos séculos XIV e XV, havia muita ignorância quanto ao
conteúdo da Bíblia. Existiam “Doutores em Divindade” que nunca
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haviam lido a Bíblia toda. E a única versão conhecida da Bíblia,
era a Vulgata de Jerônimo.

A Renascença chamou a atenção para a necessidade de se


recorrer aos escritos originais. Reuchlin e Erasmo, chamados “os
dois olhos da Europa”, convenceram os intérpretes de que
tinham o dever de estudá-las nas línguas em que foram escritas.
Além disso, esses dois homens facilitaram grandemente tal
estudo: O primeiro (Reuchlin), publicou um dicionário e um livro
de gramática na língua hebraica; o último (Erasmo), publicou
uma edição crítica do Novo Testamento no idioma grego. O
quádruplo sentido da Bíblia foi gradualmente abandonado, e “se
estabeleceu o princípio de que a Bíblia tem apenas um sentido”.
Os reformadores acreditavam que a Bíblia é inspirada por Deus,
mas, ainda que a sua idéia de inspiração fosse escrita, eles a
concebiam como sendo mais orgânica do que mecânica. Em
certos momentos, revelaram notável liberdade no tratamento
com as Escrituras. Mas ao mesmo tempo consideravam a Bíblia
como “a mais alta autoridade, e a a mais alta instância em todas
as questões teológicas”. Contra a infalibilidade da Igreja, eles
colocaram ”a infalibilidade da Palavra de Deus”. Sua posição se
patenteia na afirmação de que “não é a Igreja que determina o
que as Escrituras ensinam, mas as Escrituras determinam o que a
Igreja deve ensinar”. O caráter essencial de sua exegese resultou
de dois princípios fundamentais: (1) “Scriptura Scripturae
Interpres”; (a Escritura é a intérprete da Escritura). (2) (Omnis
Intelectus ac Expositio Scipturae Sit Analogia Fidei”; (Toda a
27
compreensão e exposição da Escritura seja de acordo com a
analogia da fé). E para eles, a “analogia fidei” é igual à “analogia
scripturae”, isto é, “o ensino uniforme das Escrituras”.

Principais Representantes:

Lutero (1483 – 1546)

Numa época em que as


Escrituras existiam somente no
idioma latim, ele traduziu Bíblia para
o idioma alemão (vernáculo),
prestando um grande serviço à nação
alemã. Realizou também algum
trabalho de interpretação e
comentário da Bíblia, porém bastante limitado. As suas regras de
Hermenêutica eram melhores do que as de Exegese. Ele não
conheceu muito bem a “interpretação literal”, e zombou da
interpretação alegórica denominando-a “truque”, ou
“macaquice”, e isso o levou não praticar o método que condenou.

Lutero, provavelmente o mais famoso dos reformadores,


exerceu uma influência avassaladora sobre a hermenêutica da
reforma, embora seus princípios fossem muito melhores que seus
exegese.

28
 Segundo Lutero, a iluminação do Espírito Santo era requisito
indispensável ao interprete da Bíblia.

 A Bíblia deve ser vista com olhos distintos com os quais


vemos outras produções literárias.

 A igreja não deveria determinar o que as escrituras ensinam,


mas o contrário.

 Rejeitava o método alegórico, denominando-o de sujeira e


escória.

 De acordo com Lutero, uma interpretação adequada das


Escrituras deve proceder de uma compreensão literal do
texto, considerando-se na exegese as condições históricas,
gramaticais e o contexto.2

 Para Lutero, a interpretação Bíblica deve estar centrada em


Cristo, em vez de alegorizar o Antigo Testamento, Lutero com
freqüência via nele a figura de Cristo, muitas vezes além do
que legitimamente nos permite uma boa exegese.

 Defendeu o direito de “juízo privado” na interpretação da


Bíblia;

 Salientou a necessidade de considerar o contexto;

 Deu ênfase nas circunstâncias históricas (contexto histórico);

2 Dados acima extraídos de Hermenêutica, Henry Virkler, p. 48

29
 Deu ênfase ao conhecimento gramatical.

 A Bíblia é a suprema e última autoridade em assuntos


teológicos, e está acima de toda a autoridade eclesiástica.

 A Bíblia não é suprema, mas suficiente (só Deus é supremo).

 Os quatro sentidos dos escolásticos são rejeitados; somente o


sentido literal das Escrituras é a essência de toda a fé e da
teologia cristã.

 Ele cria que “a Bíblia é suficientemente clara para ser


entendida pelos cristãos”.

 Também cria que cada cristão tem o direito de avaliação e


juízo individual, e que não deve ser manipulado pelo
“sacerdócio universal”.

Melanchthon (1497 – 1560)

Melanchthom foi companheiro


de Lutero em questões exegéticas,
porém superior em ciência.
Segundo Berkhof, seu
conhecimento extensivo, inclusive
de Grego e Hebraico contribuíram
para torna-lo em um admirável
interprete.

30
Segundo Melanchtohn, “As Escrituras têm apenas um
sentido claro e simples, e deve ser entendida gramaticalmente
antes de teologicamente” (Berkhof)

Calvino(1509 – 1564)

Calvino, que é denominado entre os estudiosos como o


“maior exegeta da reforma”, também seguiu os princípios
fundamentais de Lutero e Melanchthon, porém os superou ao
ajustar sua teoria a prática.
Suas obras ainda hoje são altamente reconhecidas, e
abrangem quase todos os livros da Bíblia.
Calvino não compartilhava da posição de Lutero de que
Cristo deve ser encontrado em toda parte nas Escrituras (o que
levou-o a descordar de Lutero quanto ao número de salmos
legitimamente messiânicos)

Calvino insistiu no fato de


que os profetas deveriam ser
interpretados à luz das
circunstâncias históricas.3

A máxima de Calvino era:


“A Escritura interpreta a

3 L. Berkohof; Princípios de Interpretação Bíblica. P.25

31
Escritura” o que aludia a importância que ele dava ao estudo do
contexto, da gramática, das palavras, e das passagens paralelas,
me lugar de trazer para o texto o significado do próprio
intérprete.

Segundo a opinião dele, “a virtude


mais destacada de um expositor é a
lucidez e brevidade” (objetividade). E
finalmente, afirmava que “o intérprete
deve permitir que o autor diga o que
realmente disse” (ao invés de atribuir o que pensamos que devia
dizer).

32
A Interpretação na Pós-Reforma

Durante o período da Reforma, os Líderes Católicos Romanos


não progrediram na interpretação exegética. Eles não admitiram
o uso das Escrituras pelo povo comum, e nem o direito de
interpretação de juízo privado (conforme os protestantes
faziam), mas mantiveram a sua posição de que “a Bíblia deve ser
interpretada em harmonia com a tradição da igreja”.

Definições do Concílio de Trento:

 A autoridade da Tradição Eclesiástica deve ser mantida.

 A mais alta autoridade em versões da Bíblia deve ser a


“Vulgata”.

 A interpretação dada a qualquer texto bíblico deve estar


de acordo com a autoridade da igreja e a tradição dos
Pais (a patrística). Onde estes princípios prevaleceram,
não houve progresso na interpretação bíblica.

Alguns princípios do Alegorismo Católico:

 Os católicos afirmavam que a Bíblia Vulgata (tradução


latina de S. Jerônimo), é o texto inspirado. O idioma grego e
também o hebraico lançam luz sobre o idioma latim. Portanto
diziam: “A Vulgata é a versão inspirada para o intérprete católico”.

33
 O intérprete católico deve aceitar tudo o que a Igreja
Católica tem dito, especialmente sobre a introdução bíblica, a
autoria e os livros da Bíblia.

 Os textos definidos pela Igreja devem assim ser


interpretados.

 A unanimidade
dos Pais (a patrística) deve
ser seguida.

 Todas as
interpretações devem estar
de acordo com a analogia da
fé; isto é, em completa harmonia com a doutrina da Igreja
Católica Romana.

 O ensino parcial e obscuro da Escritura deve ser


explanado sobre a base do inteiro ensino da Igreja.

O Confessionalismo:

Como reação ao Concílio de Trendo4 que em várias ocasiões


de 1545 – 1563 se reuniu para elaborar uma lista de decretos

4O Concílio de Trento, realizado de 1545 a 1563, foi o 19º concílio ecuménico. É considerado um dos
três concílios fundamentais na Igreja Católica.[1] Foi convocado pelo Papa Paulo III para assegurar a unidade

34
expondo os dogmas da igreja católica romana e críticas ao
protestantismo.

Os protestantes responderam com o desenvolvimento de


credos ou confissões que definiam sua posição, o que tomava tal
proporção, que a certa altura, quase todas as cidades
importantes tinham seu credo favorito. Com a predominância de
amargas controvérsias teológicas, A exegese durante este período
tornou-se uma criada da dogmática, e muitas vezes degenerou-
se em uma mera escolha de texto para a comprovação dos
credos.

O protestantismo estava lamentavelmente dividido em várias


facções, cada um procurava defender sua própria opinião com
um apelo as Escrituras. Após a Reforma, tornou-se evidente que
os protestantes não se haviam purificado do velho fermento.
Teologicamente conservavam o princípio: “Scriptura scripturae
Interpress” (a Escritura é a Intérprete da Escritura), mas se
recusavam a submeter-se em sua exegese ao domínio da
tradição e da doutrina da Igreja, como fora definida pelos Papas e
Concílios. Nessa época surgiram muitos credos e muitas crenças
diferentes. Esse foi o período das controvérsias religiosas, onde o
protestantismo estava dividido em várias facções. O espírito

da fé (sagrada escritura histórica) e a disciplina eclesiástica, no contexto da Reforma da Igreja Católica e a


reação à divisão então vivida na Europa devido à Reforma Protestante, razão pela qual é denominado
como Concílio da Contra-Reforma. Fonte: Winkipédia.

35
militante dos líderes encontrou expressão em centenas de obras
polêmicas, onde cada um procurava expressar a sua própria
opinião, apelando para as Escrituras. A exegese tornou-se serva
da dogmática, e degenerou em mera busca de textos-provas.
Estudavam as Escrituras, para nelas encontrar as verdades
incorporadas nas confissões. Isso ocorreu especialmente entre os
teólogos luteranos, mas também entre os outros teólogos
reformados. Foi nesse período que alguns deles se inclinavam na
direção de uma idéia mecânica da inspiração da Bíblia. As
tendências que prevaleceram nesse período, não são tão
favoráveis aos princípios hermenêuticos, mas contrárias aos
mesmos.

Algumas dessas reações que merecem ser


mencionadas:

 Os Socinianos não criaram nenhum princípio


hermenêutico, mas defenderam a interpretação
racional (racionalista) da Bíblia.

 Cocejus foi um teólogo holandês que não ficou


satisfeito com o método corrente de interpretação.
Insistiu que cada intérprete devia estudar cada
passagem à luz do seu contexto, bem como o
pensamento dominante e o propósito fundamental.

 J. A. Turrentin opôs-se ao procedimento arbitrário de


Cocejus e seus seguidores, e insistiu que a Bíblia devia

36
ser interpretada sem preconceitos dogmáticos. Com o
auxílio da lógica e da análise, ele exerceu profunda e
benéfica influência.

O Pietismo:
O pietismo surge como
uma reação ao
dogmatismo e rivalidades
das controvérsias
teológicas que marcaram o
período confessional,
chamando a atenção para a importância de uma vida de piedade
pessoal.

Philipp Jakob Spener (1635 – 1705) considerado o pai do


pietismo da pós reforma, chamava a atenção para a necessidade
de um retorno ao interesse cristão mútuo e as boas obras, melhor
conhecimento da Bíblia por parte do cristão, melhor preparo
espiritual para os ministros e o fim das controvérsias inúteis.

Os Pietistas, cansados das lutas entre os protestantes,


inclinaram-se a promover uma vida verdadeiramente piedosa. De
modo geral, eles representavam uma reação sadia contra as
interpretações dogmáticas de seu tempo. Insistiam no estudo da
Bíblia nas línguas originais e sob a influência e iluminação do
Espírito Santo. Mas como no estudo da Palavra, o seu alvo

37
principal era a edificação da vida cristã, gradualmente, passaram
a desprezar a ciência.

De acordo com o seu ponto de vista, o estudo gramatical,


histórico e analítico da Palavra de Deus, produzia apenas o
conhecimento externo e superficial do pensamento divino; mas o
estudo carismático (aquele que teria inferências para a
repreensão), e o estudo prático (consistindo em oração e
lamentação), penetram no âmago da verdade.

O Racionailsmo:
Começa a surgir também neste período, o racionalismo ( a
razão = fonte de conhecimento, baseada na posição filosófica que
aceita a “razão” como a única autoridade ou critério de avaliação
entre o que é falso e verdadeiro.), que passaria a influenciar de
forma significativa a exegese bíblica, especialmente no período
moderno, já que a razão passa a ser o critério de julgamento
sobre as escrituras.

O Período Histórico-Crítico destaca-se por uma oposição


ainda maior, contra a interpretação dogmática da Bíblia, no
campo da Hermenêutica e da Exegese. Nesta época fizeram-se
algumas tentativas, no sentido de sistematizar a doutrina da
inspiração Divina da Bíblia. Alguns adotaram o ponto de vista de
Le Clerck, segundo o qual a inspiração varia em grau nas
diferentes partes da Bíblia, admitindo a existência de erros e

38
imperfeições, naquelas partes em que esta inspiração é de um
grau menor.

Outros aceitaram a teoria de uma inspiração parcial,


limitando-a, porém, à fé e à moral, admitindo ainda, a
possibilidade de erros históricos e geográficos. O teólogo
Schleiermacher e seus seguidores defenderam o caráter
sobrenatural da Inspiração da Bíblia, e a classificaram como a
“iluminação espiritual dos cristãos”. Porém os teólogos
Wegscheider e Parker reduziram a inspiração da Bíblia ao “poder
que todo o homem possui, simplesmente em virtude da luz
natural”.

Nos dias atuais, é comum falar-se da inspiração da Bíblia,


como “dinâmica”, e relacioná-la mais com os autores, do que com
os seus escritos. Falando sobre esse assunto, Ladd definiu: “A
inspiração é o resultado da energia sobrenatural e espiritual,
que se manifesta num alto grau e numa nova ordem da
energia espiritual do homem”.

Escolas Desse Período.

Durante essa fase, algumas escolas tomaram posição


quanto ao estudo da Palavra de Deus.

A Escola Gramatical - Esta escola foi fundada por Ernesto,


que escreveu um importante trabalho sobre a interpretação do

39
Novo Testamento, no qual estabeleceu quatro princípios de
interpretação da Bíblia:

 O sentido múltiplo da Escritura deve ser rejeitado,


conservando-se somente o sentido literal.

 As interrogações alegóricas devem ser abandonadas,


exceto no caso em que o autor indique o significado, a
fim de se combinar com o sentido literal.

 Visto que a Bíblia tem o sentido gramatical em comum


com outros livros, isso deve ser considerado em ambos
os casos.

 O sentido literal não pode ser determinado por um


suposto sentido dogmático.

A Escola Histórica - Essa escola originou-se com o Teólogo


Semmler. Seus pais foram Pietistas, e mesmo assim, em certo
sentido, ele tornou-se o pai do Racionalisno. No seu trabalho
sobre o Cânon da Bíblia, ele deu muita atenção ao “aspecto
humano da composição da Bíblia”, um fato que até então, tinha
sido negligenciado. Num segundo trabalho, sobre a interpretação
do Novo Testamento, ele estabeleceu certos princípios de
interpretação:

40
 Salientou que vários livros da Bíblia, e até mesmo o
Cânon, originaram-se de modo histórico, e eram,
portanto, “historicamente condicionados”.

 Partindo da pressuposição, de que “os livros foram


escritos por diferentes classes de autores”, concluiu que
“o seu conteúdo, em grande parte, é local e efêmero;
portanto, esse conteúdo não pretendia ter valor
normativo, para todas as pessoas de todos os tempos”.

Tendências Resultantes: Este período, que iniciou com


duas tendências opostas, resultou em três tendências distintas,
no campo da hermenêutica e da exegese, a saber:

 Um grande número de intérpretes adotou as


“tendências racionalistas” de Semmler, a ponto de
surpreender o próprio autor do movimento.

 Outros, todavia, por causa da postura extremada do


racionalismo, assumiram um meio termo, ou voltaram
aos princípios da Reforma.

 Ainda outros, defenderam a idéia que o “método


histórico-gramatical de interpretação” deveria ser
substituído, por um princípio que capacite o expositor
a penetrar no espírito da Escritura.

41
 Paulo, professor de Heidelberg, assumiu uma posição
puramente naturalista, considerando a “fidelidade
prática à razão”, como “a fonte da religião cristã”.

 Straus ridicularizou a teoria de Paulo, e propôs a “teoria


da interpretação mística do Novo Testamento”.

 A escola Graf-Künen-Wellhausen, teve por objetivo


“explicar o A. T. pelo “método histórico objetivo”, isto é,
“de acordo com a filosofia evolucionista”.

 Schleiermacher, da Escola de Conciliação, apesar de


não duvidar da genuinidade substancial das Escrituras,
ignorou a “doutrina da inspiração das mesmas, e negou
a validade permanente do Antigo Testamento. Em sua
prática de exegese, ele seguiu principalmente o
método racionalista.

 A escola de Hengstnberg retornou aos princípios da


Reforma, como uma reação ao racionalismo; defendeu
a inspiração plenária da Bíblia e a sua absoluta
infalibilidade, e firmou a sua posição nos padrões da
Igreja Evangélica de Confissão Luterana.

 O método histórico-gramatical de interpretação da


Bíblia é o resultado final desse período. Alguns
personagens desse período deixaram as suas opiniões:

42
 Kant afirmou que “somente a interpretação moral da
Bíblia, tem um significado religioso”

 Olshausen defendeu a necessidade de alcançar o


sentido mais profundo das Escrituras. A maneira de
descobrir isso é “reconhecer a revelação Divina, e o seu
ponto central Jesus Cristo, em sua unidade com Deus e
com a humanidade”.

 Geemar, adotou um método de interpretação das


Escrituras, que ele denominou “pan-harmônico”, e
exigiu total harmonia na interpretação das mesmas.

 Beck sugeriu a interpretação “pneumática”, ou


“espiritual”. Isso tudo é muito prático, mas é a mesma
coisa do que dizer: “Interpretação Analógica Fidei”. “A
verdade é que o método gramático-histórico,
aplicado por alguém que é guiado pelo Espírito
Santo, é o princípio mais certo e mais frutífero”.

Escolas Literais.

O método literal de interpretação toma a sua sentença no


sentido literal (literalmente), e passa para o método alegórico,
somente quando a natureza da linguagem o exige. Esdras (o
Escriba), geralmente é considerado como o primeiro intérprete
Judeu. Como ex-prisioneiro na Babilônia, ele deu muito valor à

43
Palavra escrita, e buscou uma interpretação correta da mesma. O
grande trabalho realizado por Esdras foi deturpado pelos rabinos
posteriores, que aderiram ao método literal, ainda aplicado no
início da era cristã. Convém mencionar que o método judaico de
interpretação literal, foi o pior de todos; pois fez interpretações
absurdas, perdendo muitas vezes o essencial e o sentido real. Os
judeus ficaram na letra, mas perderam o Espírito.

Escolas Devocionais.

Um dos métodos de interpretação praticado durante


séculos da História da Igreja, é aquele que considera a Bíblia,
acima de tudo, um livro para nutrir a vida espiritual do crente.
Isso é mais importante do que as doutrinas que ela ensina. Ela
deve ser lida como uma literatura de caráter devocional. No
misticismo medieval surgiu a ênfase de ler a Bíblia para promover
a vida espiritual. Entre estes místicos podemos citar Hugo de S,
Vítor, e Bernardo de Clairvaux. O principal livro lido pelos místicos
era o de Cântico dos Cânticos, que eles interpretavam como
“falando do amor de Deus” e “dos prazeres espirituais em
termos de prazeres físicos”. Os místicos usaram a Bíblia como um
meio de promover experiências místicas, e não como fonte de
teologia dogmática.

44
Os Pietistas Alemães (pietistas = piedosos e bondosos).

O período posterior à Reforma foi muito dogmático, com


uma forte ênfase na repressão à heresia e aplicação de uma
teologia sistemática rígida. Referindo-se a isso, Farrar disse que foi
o período das três maldições: “a maldição das muitas divisões
entre os evangélicos, das contendas amargas e do ódio
teológico”.

Como reação contra esses males, veio a reação dos


fundadores do movimento Pietista, liderado por Spener e
Francke, que afirmavam: “O dogmatismo, a leitura dogmática e
teológica da Bíblia, estavam sepultando a piedade”. A Bíblia
deve ser lida para a edificação da vida espiritual. A Leitura e a
pregação da Palavra de Deus, deve levar o ouvinte a uma
experiência na dimensão espiritual.

As Ênfases Pós Modernas.

A maneira Pietista de estudar a Bíblia, não se tem perdido,


pois hoje a maioria dos cristãos lêem a Bíblia no estilo devocional,
para o seu alimento espiritual. Esse método é muito bom, mas
também tem algumas fraquezas:

Os Exageros na Interpretação - A leitura devocional da


Bíblia tende a tornar-se um misto de alegorismo e tipologia
excessiva. No esforço de encontrar uma aplicação, ou uma

45
verdade espiritual, o sentido literal e primário de uma passagem
é freqüentemente obscurecido.

Superficialidade na Interpretação - A leitura devocional da


Bíblia tende a alimentar o cristão com uma dieta superficial, de
maneira que lhe falte a solidez e o vigor, obtido pela pregação
exegética e doutrinária da Palavra de Deus. A genuína fé cristã,
não pode estar baseada apenas nas emoções comoventes,
provenientes de um culto inspirado. A verdadeira piedade deve
estar calcada sobre uma teologia salutar e um conhecimento
completo das Escrituras Sagradas. Quando isso é absorvido em
nosso corpo e alma, Deus é glorificado em nosso viver.

A Interpretação Liberal - A interpretação liberal tem muita


coisa em comum com o Racionalismo. Esta maneira de pensar,
afirma que a inteligência humana é capaz de desvendar
qualquer verdade acessível que existe. Este ponto de vista é
defendido diante de qualquer posição autoritária que reclama
ser a verdade. Más a maré do racionalismo ainda estava por vir, no
século XIX. A seguir quero enumerar alguns elementos do
pensamento liberal:

O Pensamento Liberal é Racionalista. Os liberais colocam a


razão como a medida final da verdade. Para eles, tudo o que na
Bíblia não combina com a opinião deles, pode ser rejeitado, sob a
alegação de não ser a Palavra de Deus. Eles não concordam com
a doutrina da depravação do homem e do inferno. Se um texto é
obscuro, pode ser simplesmente refeito.
46
A inspiração da Bíblia é Redefinida. Todas as formas
genuínas de inspiração (verbal, plenária, dinâmica), são
simplesmente rejeitadas, e substituídas por um novo padrão. Há
liberais que nem sequer crêem na inspiração das Escrituras e
chegam a declarar que somente os ensinamentos éticos são
válidos. A escola moderada afirma que “somente a verdade do
evangelho é obrigatória”. Ainda outros afirmam que “somente o
Espírito de Jesus Cristo é o cânon da inspiração”.

O Sobrenatural é Redefinido - Os milagres não podem ser


aceitos como sobrenaturais ou metafísicos.

Eles até negam essa definição e se classificam como


naturalistas. Por isso não aceitam a doutrina da “criação”, mas
defendem a teoria da “evolução”. Eles assumem uma postura
naturalista em quase todos os milagres (inclusive da ressurreição
de Cristo). O milagre é classificado por eles como mitológico,
equívoco na interpretação de um evento natural, ou como ficção
do autor, posterior ao evento. O que nós aceitamos pela fé, eles
simplesmente rejeitam, e tentam explicar como isso foi
introduzido no texto.

O Conceito de Evolução - Eles afirmam que “a Bíblia não é a


história de Deus em busca do homem”, mas “do homem em
busca de Deus”. Para eles “a Bíblia não é a verdade”, mas é
“primitiva e errada”. Dessa forma, eles fizeram um novo arranjo
dos textos individuais dos livros.

47
A escola de Welhausen fez um novo arranjo dos livros do
Antigo Testamento, colocando o Pentateuco após os profetas. O
mesmo tem sido feito com o Novo Testamento. Afirmavam que
“Jesus foi um homem comum, um meigo pacifista, que foi
gradualmente transformado num Cristo teológico e operador de
milagres”. Porém os dados históricos mostram que nenhum
processo gradual foi descoberto, e autores como Westcott
mostraram claramente, que em todos os lugares por onde o
Cristianismo se propagou desde o princípio da era cristã, “foi
pregado um evangelho ortodoxo”. Os adeptos dessa teoria,
inventaram a crítica histórica, afirmando que entre a morte de
Cristo e os escritos do Novo Testamento, a igreja desenvolveu
uma série de narrativas sobre Cristo”.

Assim, os Evangelhos são considerados pelos cristãos


formais como “uma história da Igreja”, e não “a história de Cristo”.

A Noção de Acomodação tem-se Aplicado à Bíblia -


Quando o Apóstolo Paulo falava do sacrifício de Cristo, ele falava
dos sacrifícios ensangüentados dos judeus, que muitas vezes
eram aspergidos com sangue. Sendo assim, teve que adaptar a
doutrina ao pensamento do seu tempo. Quando Jesus Cristo
falava com os judeus, ele teve que acomodar os seus ensinos à
sua condição, especialmente em matéria de introdução bíblica,
falando da historicidade de Adão e Eva e de Jonas, a qual ele
manteve. Se eles mantiveram a historicidade, “como os liberais
48
tinham o direito de reformar a essência da doutrina Bíblica,
aplicando-a aos nossos dias, eliminando as imagens e os
conceitos dos dias do Antigo e do Novo Testamento”?

A Bíblia foi Interpretada Historicamente - Com toda a


certeza, existem muitos elementos históricos válidos na Bíblia.
Mas as falácias reducionistas e genéricas foram associadas ao
método histórico. O método histórico concentra-se basicamente,
em entender a Bíblia em termos de histórias circunvizinhas.
Quando esse método é associado com a descrença, torna-se
altamente destrutivo, como alguns exemplos nos ilustram: o
Tabernáculo não passa de uma instituição egípcia; os dez
Mandamentos são apenas uma versão judaica dos códigos éticos
primitivos; a religião israelita é um pequeno avanço da religião
cacanéia; Jesus não passa de um profeta apocalíptico; Paulo é
apenas um indivíduo afortunado, que viveu num período crucial
da história, que foi capaz de sintetizar o helenismo e o judaísmo,
e assim estabeleceu a Igreja.

A Interpretação Liberal Foi Influenciada pela Filosofia - Os


seguidores de Emanuel Kant consideravam, principalmente, os
valores morais da Bíblia, dando origem à escola moral de
interpretação. Neste sistema, nenhuma afirmativa metafísica foi
permitida dentro dos limites da ciência ou da razão pura. A
religião não repousa sobre as bases das ciências metafísicas; ou
seja, os argumentos da existência de Deus não são válidos, assim
como os argumentos da alma. A religião baseia-se então, apenas

49
na verdade moral. Portanto, a essência da religião é o
comportamento ético. A interpretação teológica (sendo
metafísica) foi omitida, e a interpretação moral foi acentuada. O
mesmo método de interpretação foi seguido por deístas e muitos
modernistas. O deísmo aceita o mínimo de dogmas teológicos, e
faz do comportamento ético a essência da religião.

A Exegese no Período Moderno.


O racionalismo exerceria uma grande e devastadora
influência sobre a exegese do período moderno. Começa a surgir
uma leitura mais crítica das escrituras e a crescer o gosto por
uma leitura mais intelectual e cientifica da Bíblia.

Começariam a surgir as formosas teorias sobre a não autoria


de Moises para o Pentateuco, e a crítica ao sobrenaturalismo dos
milagres de Jesus.

O século XIX é marcado pelo racionalismo e cientificismo


que afirmam que só pode existir ou ter existido aquilo que é
racional, palpável e o que pode ser experimentado e provado
pela ciência e pelos fatos, o resto é mito e invenções.

O Liberalismo:
Exerce grande influência neste período, na ala mais radical –
Teologia Liberal.

50
Principais pontos:

 A Bíblia é vista como um livro meramente humano, não


dado pela inspiração divina.

 Pregam que os elementos sobrenaturais da Bíblia


podem ser explicados de forma natural.

 A doutrina do pecado, da depravação, do inferno, entre


outras são rejeitadas pelos liberais.

 Jesus é considerado um mestre moral e ético e não


como salvador.

A Neo-Ortodoxia:
A Neo-Ortodoxia surgiu como uma alternativa à teologia
liberal, que estava fazendo a teologia protestante da Europa e da
América do Norte regredir rapidamente para o humanismo
disfarçado da teologia liberal clássica. Seu fundador, Karl Barth,
um dos maiores teólogos do século XX, teve uma educação
ortodoxa protestante, na infância (seu pai era professor de
teologia em um seminário reformado), mas teve uma formação
acadêmica na teologia liberal (estudou teologia e foi aluno de
alguns dos principais pensadores protestantes liberais da
Europa). A teologia liberal tinha se deixado dominar pela
modernidade e se acomodado a ela; e entronizou as categorias

51
modernas do pensamento como supremas, permitindo que elas
julgassem a revelação divina.

Barth ensinou que a única revelação de Deus ao homem é


Cristo. Só ele é a Palavra de Deus. Por ele, exclusivamente, Deus se
comunicou com os seres humanos e isso aconteceu quando a
Palavra se fez carne e o Deus-homem se manifestou ao mundo.
De acordo com esse entendimento, a Bíblia não é a Palavra
de Deus, pois somente Cristo é. Ademais, Barth não cria que as
palavras das Escrituras fossem inspiradas e também não
acreditava que os registros bíblicos fossem infalíveis.

Curiosamente, segundo a neo-ortodoxia, ainda que


a Bíblia não deva ser vista como revelação de Deus, ela deve ser
respeitada, pois as Escrituras podem se tornar Palavra de
Deus caso Cristo fale conosco por intermédio de suas páginas e
assim nos conduza a um encontro com ele.

Dessa forma, elas não são Palavra de Deus num sentido


objetivo, mas podem vir a ser num sentido subjetivo e existencial,
dependendo do impacto espiritual que causem sobre um
determinado indivíduo, num dado momento de sua vida.

Principais expoentes:

Karl Bart (1886 – 1968) - Reage contra o liberalismo,


discordando da concepção de que a Bíblia é um livro meramente
humano. Segundo Bart, Deus fala por meio de contato entre o
divino e o humano, nestes encontros, acontece a revelação e a
52
Bíblia transforma-se em palavra de Deus. Segundo esta
concepção a Bíblia “dá testemunho da revelação, mas em si
mesmo não é revelação.”

Diz que a Bíblia torna-se palavra de Deus nos encontros


existenciais do homem.

Rudolf Bultmann (1884 – 1976) - Bultmann ensinava que o


Novo Testamento devia ser compreendido em temos existenciais
pela “demitização” ou seja, destituir do NT os elementos
mitológicos, como os milagres a ressurreição de Cristo, entre
outros, que não são aceitáveis à mentalidade do homem
moderno. Segundo esta proposta, os mitos não tem sentido
literal, tratando-se de recursos poéticos para expressar verdades
espirituais transcendentais. Os mitos, embora não sejam
cientificamente aceitos, tem algo a dizer. Por isso, os estudantes
do NT precisam descobrir o que tais mitos querem dizer.

A primeira razão por que precisamos aprender como


interpretar é que, quer deseje, quer não, todo leitor é ao mesmo
tempo um intérprete. Ou seja a maioria de nós toma por certo
que, enquanto lemos, também entendemos o que lemos.
Tendemos, também, a pensar que nosso entendimento é a
mesma coisa que a intenção do Espírito Santo ou do autor
humano. Apesar disso, invariavelmente levamos para o texto tudo
quanto somos, com toda nossa experiência, cultura e
entendimento prévio de palavras e idéias. Às vezes, aquilo que
53
levamos para o texto, sem o fazer deliberadamente, nos
desencaminha ou nos leva a atribuir ao texto idéias que lhe são
estranhas.
Desta maneira, quando uma pessoa em nossa cultura ouve
a palavra "cruz", séculos de arte e simbolismo cristãos levam a
maioria das pessoas a pensar automaticamente numa cruz
romana (T). A maioria dos protestantes, e dos católicos também,
quando lê textos acerca da igreja em adoração,
automaticamente forma um quadro de pessoas sentadas numa
construção com bancos, muito semelhante às deles. Quando
Paulo diz: “Nada disponhais para a carne, no tocante às suas
concupiscências” (Rm 13.14), as pessoas nas culturas de idiomas
europeus tendem a pensar que "a carne" significa “o corpo" e,
portanto, que Paulo está falando nos "apetites físicos”.Mas a
palavra "carne”,conforme Paulo a emprega, raras vezes se refere
ao corpo — e neste texto quase certamente não tem esse sentido
— mas, sim, a uma enfermidade espiritual, uma doença de
existência espiritual às vezes chamada "a natureza pecaminosa."
O leitor, portanto, sem o fazer deliberadamente, está
interpretando o que lê, e, infelizmente, por demais
freqüentemente interpreta incorretamente.
Isto nos leva a notar ainda mais arte o leitor de uma Bíblia
em idioma latino já está envolvido na interpretação. A tradução,
pois, é em si mesma uma forma (necessária) de interpretação.
Sua Bíblia seja qual for a tradução que você empregar, que para
você é o ponto de partida, é, na realidade, o resultado final de

54
muito trabalho erudito. Os tradutores são regularmente
conclamados a fazer escolhas quanto aos significados, e as
escolhas deles irão afetar como você entende.
Os bons tradutores, portanto, levam em consideração as
diferenças entre nossos idiomas. Esta, porém, não é uma tarefa
fácil. Em Romanos 13.14, por exemplo, devemos traduzir "carne"
porque esta é a palavra que Paulo empregou, e depois deixar o
intérprete contar-nos que "carne" aqui não significa "corpo"? Ou
devemos "ajudar" o leitor e traduzir "natureza pecaminosa"
porque é isto que Paulo realmente quer dizer?

55
MÓDULO III

O PROBLEMA DA INFALIBILIDADE DA BÍBLIA E DA CIÊNCIA

Ela aceita as teorias modernistas a respeito da origem do


homem e do universo. Se a interpretação da Bíblia entra em
conflito com a ciência, então é a Bíblia que está errada. Além
disso, aceita a maioria das conclusões da crítica destrutiva do
século XIX.

Adoção de um Sistema Mitológico - A hermenêutica neo-


ortodoxa afirma que os acontecimentos bíblicos, ou as histórias
bíblicas, contêm algumas verdades teológicas, mas essas
verdades não dependem da verdade dos acontecimentos em si.
A Bíblia se torna verdade e autoridade, apenas quando fala ao
coração do leitor.

 O conceito bíblico da Criação dá verdades teológicas, mas


não pode ser interpretado literalmente.

 O material escatológico do Novo Testamento deve ser


interpretado simbolicamente.

 A queda do homem simboliza a corrupção da liberdade


humana, e perde o sentido, se é interpretada literalmente.

56
 A mesma coisa acontece a respeito de Jesus Cristo; a
verdade de Jesus é uma verdade existencial, que não pode
ser interpretada literalmente.

Qualificação de grande parte da verdade bíblica como


paradoxa. Grande parte da fé cristã não pode ser interpretada
racionalmente. Ela apresenta paradoxos que a razão humana não
pode resolver. De modo geral, o intérprete evangélico
conservador reconhece que há algumas ênfases necessárias e
úteis na posição neo-ortodoxa, mas rejeita a hermenêutica da
mesma, porque ela não tem uma base bíblica sólida.

O Problema da Infalibilidade da Bíblia.

O Protestantismo tradicional tem enfatizado duas palavras:


“Inspirada” e “infalível”. Se um documento é, em certo grau
“inspirado”, ele é, também, em certo grau, “infalível”. Se a
inspiração é plenária, a infalibilidade também é plenária. Em
relação a esse assunto, devemos observar alguns princípios:

 A Infalibilidade não significa clareza total - A crença na


infalibilidade, não significa que toda a Bíblia seja clara. A
inspiração da Bíblia não garante a sua lucidez (1 Pe 1:10-12; 2
Pe 3:16; Hb. 5.11). Nós encontramos pontos obscuros na
Bíblia, pelo fato de ter sido escrita em línguas antigas, em
culturas diferentes (estranhas), tratando de acontecimentos
que não encontramos em literaturas paralelas.
57
 Quando falamos na infalibilidade da Bíblia, não dizemos
que ela expressa a sua idéia sobre um assunto num só
lugar - Por exemplo, a “monogamia”, que somente é
claramente ensinada no Novo Testamento, e há um
desenvolvimento sobre o assunto de um texto para o outro.

 Quando falamos da infalibilidade da Bíblia, não afirmamos


que ela usa os termos da ciência moderna - Devemos ter
em mente que ela foi escrita na linguagem popular de seu
tempo, com os conhecimentos gerais da época. Se ela fosse
escrita nos termos dos conhecimentos atuais, não teria sido
compreendida pelas pessoas das épocas anteriores.

 A crença na infalibilidade da Bíblia nos leva a afirmar que


nela não há contradições - Muitas vezes as contradições são
mais aparentes do que reais, pois, quando estudamos
adequadamente as Escrituras, elas desaparecem.

58
O Problema da Ciência.

Neste ponto devemos fazer algumas observações:

 A Bíblia apresenta o mundo em termos de um observador


comum - Ela apresenta o mesmo, como os nossos sentidos
o percebem, mas com uma linguagem fenomenal.

 Há certas acomodações à cultura do povo - A semente de


mostarda não é a menor semente conhecida pelos
botânicos, mas entre os semitas era a menor. Ela crescia, a
ponto de tornar-se uma árvore.

 Evite o erro de fazer da Bíblia uma ciência moderna - Há


quem tenha visto automóvel em Naum 1.5; 2.4; ou aeroplano
em Isaías 60; ou teoria atômica em Hebreus 11:3; e a bomba
atômica em 2 Pedro 3.10. Mas tais interpretações são muito
subjetivas e duvidosas.

 A ciência da Bíblia é um resumo em formação - Em geral,


os autores não se preocupam com as descrições
pormenorizadas da Bíblia.

 Seja Coerente - As nossas interpretações da ciência da


Bíblia devem ser coerentes. Assim com a história nos ajuda
na compreensão da profecia, a ciência nos ajuda na
compreensão científica da natureza, como se acha na Bíblia.

 O Problema de Contradições na Bíblia - Aqueles que não


crêem na infalibilidade da Bíblia, muitas vezes citam as
59
supostas dúvidas, como a razão principal de não crerem.
Qual é a verdade sobre o problema de contradições?

 Aparentes Contradições - Podemos admitir que na Bíblia


tem algumas passagens que são aparentemente contraditórias.
Mas o que realmente significa uma contradição pode ser uma
coisa muito relativa. Às vezes, o que para uma pessoa é uma
contradição, para a outra não é assim. Poderíamos dizer que na
Bíblia “há problemas difíceis de resolver, mas não há
comprovadamente uma contradição na mesma”. Ao contrário,
durante os séculos, muitos estudiosos eruditos têm crido que
“não há contradição substancial na Bíblia”.

Muitas das supostas contradições bíblicas, surgem de uma


má interpretação da mesma. Por isso, devemos observar o
seguinte:

 O estudo de uma suposta contradição deve ser feito nas


línguas originais, porque às vezes ela é apenas aparente,
devido à tradução.

 A respeito dos números, ela usa muitas vezes a


aproximação e não a exatidão. Às vezes não sabemos os
métodos de cálculo (Ex. os anos que os reis reinaram).
Há também a possibilidade dos números originais
estarem borrados.

60
 Em outros casos, onde há uma aparente contradição,
pode ser que uma das passagens não esteja sendo
interpretada corretamente.

 Algumas contradições aparecem quando dois eventos


estão sendo tomados como um só. (Ex. A purificação do
templo {João 2 e Mateus 21}; É Uma? Ou são duas?)

 A passagem mais longa ou mais completa deve ser


usada para interpretar a mais breve (quando parece
haver contradição).

 Às vezes (especialmente nos evangelhos), parece que


um autor nos dá uma concepção exata das palavras de
Jesus, enquanto que o outro nos dá apenas uma
paráfrase ou uma síntese das mesmas. Isso não significa
contradição.

61
CONCEPÇÃO PRÓPRIA DA BÍBLIA

O estudo da hermenêutica sacra, antes de tudo, exige uma


descrição do seu objeto principal: “a Bíblia”. Ela precisa ser
interpretada corretamente e ser aplicada ao estudante hodierno.
Portanto, o caráter especial da Bíblia, também determinará, em
certo sentido, os princípios que devem ser adotados em sua
interpretação.

Algumas Considerações Básicas:

A Inspiração da Bíblia - A Bíblia não foi produzida por vontade


humana, más foi “inspirada por Deus”, e “é a Palavra de Deus” (2
Pedro 1:20,21; 2 Timóteo 3:16,17 e Hebreus 4:12,13).

A Unidade Textual da Bíblia - Ela é composta de 66 livros, que


foram escritos por 40 autores, em três idiomas diferentes, num
período aproximado de 1600 anos, e mesmo assim, contêm
uma unidade perfeita. Os livros da Bíblia contêm uma unidade
orgânica, e também de sentido. Ela não se contradiz, mas se
complementa. Essa unidade não é mecânica, como a de um
relógio; também não é não é como o projeto de uma catedral,
feito por um arquiteto; mas pode ser comparada a uma árvore
majestosa, que é o produto de um crescimento progressivo. A
Bíblia não foi simplesmente feita, partindo-se de um, projeto,
mas ela cresceu (como uma árvore), e a composição de seus
vários livros, marca os estágios do seu desenvolvimento
62
progressivo. As suas diferentes partes são mutuamente
dependentes, e todas são subordinadas ao organismo como um
todo.

A Autenticidade da Bíblia - Existem alguns aspectos que


provam a autenticidade da Bíblia: as profecias e seus
cumprimentos; a validade das promessas de Deus; os sinais
(milagres); a harmonia dos autores; a influência universal
(transformação de vidas); a inspiração (2 Tm 3:16,17; Hb 4:12); a
preservação (apesar das muitas perseguições e tentativas de
extermínio).

Os Gêneros Literários da Bíblia.

Existe uma grande diversidade de gêneros literários na


Bíblia. A tradição do povo de Deus fixou logo os principais deles,
reunindo-os em grupos e organizando-os em coletâneas. A
Bíblia, em sua maior parte é composta de pequenos trechos
justapostos, como uma cadeia de narrações curtas, uma série de
leis, compilações de oráculos, que muitas vezes são fragmentos
de pregações proféticas, coleções de pensamentos de
sabedoria, registros evangélicos compostos de uma série de
cenas, discursos, e coleções de cartas apostólicas. Há inúmeros
pequenos discursos, tanto em prosa, como em versos (poesia e
Salmos). Vamos enumerar e definir alguns desses gêneros:

63
A Prosa: são diálogos ou conversações (sem versos ou
figuras).

A Poesia: é a arte de escrever em versos.

Os Cânticos: são composições com música, que por sua vez


são hinos e Salmos.

A Sentença: é o que encerra um princípio ou um


pensamento moral.

O Símbolo: é uma imagem com que se designa uma coisa


(princípio) moral.

A Profecia: é uma predição do porvir, por inspiração


sobrenatural.

A Lei: é uma ordem moral (ou cerimonial), um dever moral


(os dez Mandamentos).

A Oração: é uma prece a Deus.

Sabedoria: é o conhecimento rigoroso da verdade.

Alegoria: exposição figurada de um pensamento (figura em


que um objeto é representado.

Narrações: São exposições de acontecimentos.

Código de Alianças: São coleções de leis referentes à


Aliança.

Epístolas: São cartas, contendo instruções morais.


64
Parábolas: São narrativas de acontecimentos reais ou
imaginários, que visam ensinar verdades espirituais.

Revelações: são visões por meio de inspiração Divina.

Tipos: Personagens que servem de modelo (para Cristo).

Provérbios: São máximas concisas de verdades populares.

Doutrinas: São um conjunto de princípios que regem uma


entidade religiosa ou política.

Discurso: é oratória (exposição da Palavra).

Metonímia: é o emprego do nome de uma coisa pelo de


outra, com a qual tem certa relação (Gênesis 25:23).

Sinédoque: é a substituição de uma idéia por outra que lhe


é associada (Mateus 3:5).

Hipérbole: é um exagero de expressão (vai além do sentido


literal), para dar ênfase (Deuteronômio 1:28; João 21:25).

Prosopopéia: é a personificação de coisas ou de seres


irracionais (Salmos 35:10).

Antropomorfismo: é a linguagem que atribui a Deus ações


e faculdades humanas, e até mesmo órgãos e membros do
corpo humano (Gênesis 18:1-14).

Enigma: é a enunciação de uma idéia, em linguagem difícil


de entender (Juízes 14:14).

65
Apocalipse: é revelação, cuja literatura era obscura, com um
duplo propósito, de revelar (a quem sabia decifrá-la),e
ocultar (a quem não deveria entendê-la).

A Linguagem Bíblica - Assim com se pode chamar a


Palestina de “Terra do Senhor”, também podemos chamar as
línguas originais em que a Bíblia foi escrita, como “as línguas do
Senhor”. Ela foi Escrita em três línguas: hebraica, grega e
aramaica.

A língua hebraica - É a língua oficial dos israelitas, na qual


quase todo o Antigo Testamento foi escrito.

A língua grega. A língua mais falada no mundo do Novo


Testamento, uma herança deixada pela cultura grega, na qual
quase todo o Novo Testamento foi escrito.

A Língua aramaica. É um dialeto siro-caldaico, muito falado


no Oriente Médio, desde alguns séculos (A. C.), e durante algum
tempo da era cristã. Uma pequena parte do A.T. e do N. T. foram
escritos neste idioma. Hoje já é uma língua quase extinta,
existindo apenas um pequeno grupo remanescente que a
preserva.

As Expectativas sobre a Bíblia:

66
 Ela deve ser universal - (Isaías1:1; Amós 7:14,15; Mt.4:18;
Atos 22:3; 2 Pedro 2:16; Efésios 5:12, 14; Hebreus 5:14).

 Ela deve familiarizar-nos com Deus (Romanos 1:20;


Atos 15:5; Romanos 3:23-26; Colossenses 2:9; João 1:18; 2
Coríntios 5:19; Isaías 53:2).

 Ela deve resolver os nossos problemas. “Cristo é a


personagem central e a Solução” (1 Co. 12:6; 2 Co. 3:5;
Tg. 1:17).

Nossa Responsabilidade em relação à Bíblia:

Concordar com o plano de Deus para a nossa salvação (Romanos


9:20).

Ler e Estudar a Palavra de Deus (João 5:39; Josué 1:8; Dt. 6:4-9).

Usar as nossas faculdades mentais (Lucas 14:25-33).

Crer na inspiração Divina das Escrituras (2 Pe. 1:20,21).

Usar o intelecto no estudo das Escrituras (Atos 17:11,12).

Praticar as verdades conhecidas (João 7:16,17; Tiago 1:21-25).

Ser limpo de coração (Mateus 5:8; 11:25; 1 Coríntios 2:14).

Usar materiais auxiliares (diferentes versões, comentários,


dicionários, chave bíblica, etc...).

67
O Grande Tema da Bíblia é “Cristo” - Ele é o tema central da
Bíblia e da história. Ele é a razão de todos os acontecimentos, e o
alvo para o qual toda a vida se movimenta (Colossenses 1:15-20;
Filipenses 2:5-11).

O Grande Propósito da Bíblia é “revelar a redenção” - É


importante que o estudante da Bíblia saiba qual é o propósito da
Bíblia. As Escrituras não são um livro de histórias, nem uma
coleção de contos breves, e nem um código de ética; “mas é a
história completa da redenção”! O capítulo três de Gênesis,
revela o triste fato da queda do homem, e o restante mostra os
esforços de Deus em favor da salvação da humanidade (João
20:30,31; 21:25).

Os Três Grandes Períodos dos Eventos Bíblicos - Cada


acontecimento Bíblico é caracterizado pelo propósito Divino
do mesmo. Por isso é importante que o estudante conheça a
história Bíblica (o contexto histórico) em que a Bíblia foi
escrita. Podemos dividir a Bíblia em três grandes períodos:

O Período dos Patriarcas - Este Período inicia no princípio


da criação, e vai até à saída do Egito. Era um período no qual
Deus fazia alianças com pessoas individuais, mas que tinham

68
também um valor coletivo (Adão Gênesis 1:28; Noé 6:13-21; Abraão
12:1-3). O propósito dessas alianças era “estabelecer as bases (os
fundamentos) para uma fé no Deus vivo”. Ou, poderíamos dizer
também: “O propósito dessas alianças era a formação de
pseudônimos para proteger a fé, em épocas de invasões e
inflações de credos”.

O Tempo da Lei de Moisés. Este período abrange desde o


Monte Sinai, até o monte Calvário (Crucificação de Cristo).
Naquela época Deus exigia a obediência à Lei, revelando-se de
várias maneiras, através dos Profetas, com a finalidade de
preparar o caminho para a vinda do Messias, e a aceitação da
nova aliança (Lucas 1:17).

O Tempo da Graça - Este período abrange, desde o


Pentecostes Cristão ( a descida do Espírito Santo), até à segunda
Vinda de Cristo. Todos os eventos típicos e proféticos foram
cumpridos, onde o povo de Deus foi regenerado, santificado pela
presença do Espírito Santo, e passou a receber toda a assistência,
para tornar a sua salvação possível.

Os Dois Grandes Testamentos - A palavra grega


“diathaekae” Mt. 26:28; 2 Coríntios 3:14), de modo geral significa
“testamento”, ou “um ato de designar os bens, que somente entra
em vigor, a partir da morte do autor do mesmo”. Em relação ao
Novo Testamento significa o mesmo, e quer dizer “concerto”
(aliança) de direitos (privilégios) e deveres (responsabilidades).
Deus é o dono de tudo, por isso ele designa as condições aos seus
69
associados ou herdeiros. A aliança do A. T. tinha como requisito
para a salvação “a execução dos cultos e das ofertas que
tipificavam Cristo”. A Aliança do N. T. tem como centro a pessoa
de Cristo, sendo mais tarde representado pelo Espírito Santo. O N.
T. é o cumprimento e a ampliação do A. T. (Mt. 5:17). Os dois
testamentos estão muito inter-relacionados, a tal ponto que não
podem ser separados. No N. T. existem 1040 citações fazendo
menção do A.T., e no Antigo Testamento há inúmeras passagens
apontando para o Novo Testamento. Segundo alguns, existem
somente 26 capítulos no Novo Testamento, que não fazem
referência ao Antigo Testamento. A Bíblia começa citando “Deus”
(Gênesis 1:1), e termina citando o “homem” (Apocalipse 22:21).
Deus está numa extremidade, e o homem na outra. Na Bíblia
temos a mensagem de Deus ao homem, para que este volte ao
seu Criador. No versículo central, o homem e Deus são
mencionados (Salmos 118:8). Este versículo tem em síntese, tudo
quanto a Bíblia nos ensina.

Os Métodos de Estudo da Bíblia - A Bíblia é como um país a


ser descoberto, mas para que isso aconteça, precisamos
desdobrar-nos em nossos esforços. Existem oito diferentes
métodos populares de estudo da Bíblia.

O Método da Leitura - Qualquer pessoa pode ler e estudar e


compreender a Bíblia. Quando você estudar a Bíblia, não o faça
como uma tarefa difícil, mas faça-o com alegria. Então o seu
estudo se tornará interessante e proveitoso.

70
O Método de Estudos por Tópicos - Isso envolve estudar os
diferentes textos da Bíblia que falam sobre um determinado
assunto. Existe uma grande lista de tópicos doutrinários que
podem ser estudados.

O Método de Estudos por Tipos - O estudo tipológico abre


um novo mundo de satisfação para o estudante da Bíblia. Deus
revelou muitas verdades referentes a seu Filho Jesus Cristo, por
meio de figuras, seja por meio de palavras ou ilustrações. A
descoberta e o estudo desses tipos formam um dos mais
interessantes métodos de estudos bíblicos. Alguns desses tipos
(ou dessas figuras) são: Adão encabeçou a raça humana; Abel foi
rejeitado e morto, embora inocente; Sete tipifica a ressurreição;
Noé pelo seu ato redentor da família, é um tipo para o Cristo
Redentor; Abraão representa a paternidade de Deus; Isaque
representa o sacrifício de Cristo; Jacó representa a liderança de
Deus; José representa o Filho amado. Poderíamos citar ainda
muitos outros tipos, como: o cordeiro, a passagem pelo mar, o
maná, a rocha ferida, e o Tabernáculo. Contudo, devemos ter o
cuidado de não ir além dos limites.

O Método de Estudo Biográfico - Este é um dos métodos


mais usados, especialmente no trabalho com crianças. Ele é tão
simples e prático, que não necessita de regras. É preciso apenas
acompanhar as vidas dos heróis da Bíblia. Devemos lembrar que

71
estas histórias nos foram preservadas, a fim de nos servirem de
valiosas lições (1 Co. 10:11).

O Método de Estudo dos Livros - Esse método consiste em


escolher um dos 66 livros e estudá-lo em todos os seus
pormenores, inclusive o seu contexto histórico e religioso.

O Método de Estudo de Palavras-Chaves - Existem muitas


palavras que podem ser temas de estudo da Bíblia, que trarão
um amplo conhecimento e a edificação da nossa vida espiritual.

O Método de Estudo dos Nomes - Por toda a Bíblia


encontramos nomes de pessoas, lugares e outras coisas, que têm
o seu respectivo. Vamos ver alguns exemplos de nomes de
pessoas: Adão = terra vermelha; Eva = vivente; Caim = aquisição;
Abel = debilidade; Sete = escolhido; Abraão = grande pai; Jacó =
suplantador, que foi mudado para Israel = Príncipe de Deus. Os
nomes de locais da Bíblia também são significativos: Jerusalém =
possessão de Deus; Babel = confusão; Belém = casa de pão;
Berseba = sete fontes; Betel = casa de Deus; Jordão = descer;
Megido = lugar de Exércitos; etc...

O Método de Estudo Geográfico - Os acontecimentos


bíblicos estão repletos de referências a lugares, cidades, rios,
países, montanhas, vales, etc... Se não nos familiarizar-nos com as
referências geográficas, não teremos uma compreensão
adequada dos acontecimentos. Um exemplo disso é a referência,
“desde Dã até Berseba”, que significa, “do norte até o sul”; Dã é

72
uma cidade que está situada no extremo norte e Berseba é uma
cidade situada no extremo sul do país de Israel. Quando diz em
Lucas 10.30, que “um homem desceu de Jerusalém para Jericó”,
é bom saber que o homem realmente desceu, pois Jerusalém
ficava num lugar alto entre os montes, e Jericó ficava nas
proximidades do rio Jordão.

Outras Observações:

Cuidado com a divisão de assuntos, capítulos e versículos


e parágrafos. Os textos originais não possuíam essas ferramentas
práticas, que nos ajudam muito, mas elas nem sempre são
totalmente corretas. A Vulgata (versão latina comum de
Jerônimo) foi a primeira Bíblia a ser dividida em capítulos, pelo
cardeal Hugo, no século XIII. Em 1661, Athias dividiu o Antigo
Testamento em versículos.

O Novo Testamento foi dividido em versículos por Robert


Stevens. Mas essas divisões são muito imperfeitas, e o estudante
deve resguardar-se sempre contra essas imperfeições. Vamos
observar alguns exemplos: A descrição da humilhação e
glorificação do Senhor Jesus, inicia em Isaías 52:13 e continua até
o final do capítulo 53; o primeiro versículo de Colossenses 4,
pertence ao final do capítulo 3; o mesmo acontece em João 8:1,
que deveria pertencer ao capítulo 7; etc... O mesmo pode ser
observado a respeito dos versículos: As duas últimas palavras de

73
Efésios 1:4, pertencem ao versículo 5; 1 Coríntios 2:9,10 deveriam
formar um versículo só; o mesmo acontece também com João
5:39,40. Na divisão de assuntos, isso também acontece
eventualmente, como podemos observar em Efésios 5:21,22.

A Lei do Contexto. “Um texto sem o seu contexto é um


pretexto”.Alguns afirmam que esta é a mais importante regra do
estudo bíblico.

Ao estudar um versículo, ou uma passagem, veja o texto que


antecede e o que segue após o mesmo. Analise quem falou, a
quem se dirigiu e qual foi a ocasião em que o mesmo foi dito.
Sem o contexto, podemos fazer qualquer arranjo, e chegar ao
extremo de negar a existência de Deus: “... não há Deus” .

Mas, considerando o texto completo (e o contexto), veremos


que a Bíblia diz assim: “Diz o néscio em seu coração, não há Deus”
(Salmos 14:1). Outro texto diz: “... conhecereis a verdade e a
verdade vos libertará”. Mas quando o contexto é observado,
lemos assim: “Se vós permanecerdes na minha Palavra,
verdadeiramente sereis meus discípulos; e conhecereis a verdade,
e a verdade vos libertará” (João 8:31,32).

Marcas e Memorização. Qualquer coisa que nos torne mais


familiarizado com a Bíblia, pode ser aplicada. Uma das coisas
muito boas é marcar a Bíblia cuidadosamente. Podemos
sublinhar as passagens mais preciosas, e textos de referência
74
podem ser anotados nas margens, palavras de esclarecimento, ou
outras versões podem ser anotadas também.

Além disso, existe outro fator bem importante que é a


memorização. Portanto, memorize versículos-chaves, que lhe
serão um grande auxílio auxilio, quando pregar a Palavra, ou
mesmo falando de Cristo a outras pessoas. Muitas pessoas
adotam um plano de memorização, que lhes desafia
constantemente a ampliarem seu repertório de textos Bíblicos
memorizados.

Aprenda Ensinando - A melhor maneira de gravar as


verdades bíblicas, é quando ensinamos a Palavra a outras
pessoas. O processo de ensinar desafia o aluno a compreender o
ensino, colecionar e classificar idéias, e até mesmo expressá-las
de forma audível aos seus ouvintes. Sabendo que deve transmitir
uma lição, ele se sentirá desafiado a compartilhar as verdades
mais relevantes da Palavra de Deus.

75
MÓDULO IV

OS MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA

Requisitos Espirituais e Intelectuais Necessários.

O primeiro requisito para qualquer estudante bem sucedido


das Escrituras é ter uma mente humilde e piedosa. Assim
adquirimos o hábito de sincera e reverente atenção a tudo o que
as Escrituras Sagradas revelam. Para interpretar outras áreas de
estudo, precisamos de uma análise e investigação profunda; para
entender a poesia, precisamos ter gosto e conhecimento poético;
o estudo da filosofia requer conhecimento e um espírito
filosófico; e para entender matemática, precisamos adquirir o
conhecimento das fórmulas e dos cálculos.

Mas para interpretarmos corretamente a Palavra de Deus,


precisamos que Deus nos ensine por meio do Espírito Santo, caso
contrário, faremos uma interpretação superficial e limitada.
Lemos em 1coríntios 2:14: “Quem não tem o Espírito, não aceita
as coisas que vem do Espírito de Deus, pois lhe são loucura; e
não é capaz de entendê-las, porque elas são discernidas
espiritualmente”.

Quando Cristo veio ao mundo, a luz brilhou nas trevas, mas


as trevas não a compreenderam. A impureza da alma havia
prejudicado a visão espiritual. Mas Cristo abriu o entendimento
dos seus discípulos: “Então lhes abriu o entendimento, para que
pudessem compreender as Escrituras”... (Lucas 24:45). O salmista
76
pediu a Deus, que lhe abrisse os seus olhos: “Abre os meus olhos
para que eu veja as maravilhas da tua Lei” (Salmo 119:18). O
Espírito de Deus ainda fala por meio da Bíblia.

O Sistema Evangélico (protestante) de Hermenêutica.

A Inspiração é o fundamento - A inspiração Divina é o


fundamento da hermenêutica do povo Evangélico.

A Edificação é o alvo - A interpretação bíblica do povo cristão


tem como objetivo “fazer efeito nas vidas das pessoas que a
lêem”.

O Método protestante tradicional é literal, cultural e crítico.

É Literal: Este método está baseado na própria ciência da


língua. O problema é, se um documento deve ser aproximado de
uma maneira comum em que o homem fala, escreve e pensa, ou
se este método deve ser tomado apenas de forma preliminar. Os
adeptos do método alegórico de interpretação, não negam o
sentido das sentenças, mas insistem que ele é a concepção mais
imatura e simples das coisas. Em defesa do método literal, deve-
se argumentar o seguinte:

77
Que o sentido literal das sentenças, é a maneira normal em
qualquer língua. A maior parte da nossa conversação, escrita e
pensamentos é literal.

Que os sentidos secundários de documentos, parábolas,


tipos, alegorias e símbolos dependem do sentido literal dos
termos, para a sua existência.

Que a maior parte da Bíblia é inteligível, quando


interpretada literalmente.

Que o método literal não elimina as figuras de linguagem,


símbolos, alegorias e tipos; mas se a natureza da sentença
demanda, ele logo adota o sentido diferente.

O método literal é o único freio à imaginação do homem.

Que este método é o único que se harmoniza com a


natureza da Inspiração da Bíblia. Cremos que o Espírito Santo
guiou os escritores da Bíblia, e usou a língua. A nossa exegese
deve começar com o estudo das palavras em sua gramática.

É Cultural: Para se interpretar um livro é preciso


conhecer o seu ambiente cultural. A interpretação cultural está
baseada na interpretação literal, porque, o que as sentenças
significam literalmente, somente pode ser determinado pela
cultura do povo. Através da cultura compreende-se melhor a
geografia, a história, os aspectos sociais, políticos e econômicos
da vida dos povos mencionados na Bíblia.

78
É Crítico: O termo crítico na atual situação significa
que qualquer interpretação das Escrituras deve ter as suas razões,
ou a sua justificação. Essa justificativa pode ser de caráter
histórico, filosófico, gramatical, teológico ou cultural. A nossa
justificativa, às vezes pode não ter bases reais adequadas, e ser
apenas declarada como hipótese, ou que ela é a interpretação
mais inteligível a nós. Um intérprete experiente percebe que
existe um grande número de interpretações bíblicas, que foram
feitas com justificativas inadequadas. Contudo, precisa haver um
propósito definido para ser crítico. Se as nossas interpretações
são críticas, isto é, justificadas pelos critérios acima sugeridos,
então elas são baseadas no fato e no dado objetivo, de que todos
os estudiosos podem investigar e avaliar. O método crítico se
coloca em uma oposição definida a todos os métodos baseados
na arbitrariedade, dogmatismo ou imaginação. Quando um
estudioso faz a interpretação de um texto, porque
freqüentemente o seu sistema dogmático o dita, sem recorrer à
sua justificativa, a sua interpretação é arbitrária.

O Uso do Método Literal – Cultural – Crítico. Aqui devemos


aprender como podemos descobrir o sentido correto de um
texto Bíblico.

O Estudo das Palavras. As palavras são as unidades de


pensamento, os tijolos da construção conceitual. Portanto,
qualquer estudo das Escrituras, deve começar com o estudo das

79
palavras. Podemos estudar as palavras de várias maneiras
diferentes:

As palavras podem ser estudadas etimologicamente. Este


estudo deve ser feito com um bom dicionário. Quando fazemos
um estudo aprofundado das palavras, vamos encontrar um bom
suplemento, baseado na profundidade e penetração no sentido
das palavras. O idioma grego é muito rico neste sentido. Por
exemplo, a palavra “inferno” (no hebr. gehena) originou-se da
palavra “hades”, que significa literalmente, “invisível”. Portanto, é
um “lugar invisível”, e a “habitação dos espíritos perdidos que já
partiram deste mundo”. O mesmo acontece também com a
palavra Paraíso (os salvos).

As palavras podem ser estudadas comparativamente. Este


estudo requer o uso da concordância. Assim, palavras como
“hades”, “gehena”, “basiléia” e outras, podem ser investigadas
através dos textos do Novo Testamento. Se formos fazer um
estudo comparativo da palavra “espírito”, veremos que ela possui
vários sentidos: em alguns casos, ela está associada com espíritos
maus; em outros, com o espírito humano; em outros, com a
atitude humana (espírito de fé); e ainda em outros, está associado
com o Espírito Santo. Outro aspecto importante do estudo
comparativo é o estudo de sinônimos. Esse estudo revela as
diferentes matrizes de sentido nas palavras similares, ajudando-
nos a entender por que uma determinada palavra foi usada, e
não outra. Já existem materiais para nos auxiliar neste sentido,

80
tais como: “Sinônimos do Antigo Testamento”, ou “sinônimos do
Novo Testamento”, cujo sobrenome do autor é Trench. Em outros
casos, esse método nos ajuda a conhecer melhor as palavras
equivalentes usadas (compare Mateus 20.21 e Marcos 10:37;
Mateus 18:9 e Marcos 9:47).

As palavras podem ser estudadas historicamente. Quando


se diz que o “nosso Senhor ofereceu súplicas” (Hb 5:7), a palavra
está associada com um costume de trazer um ramo de oliveira a
um dignitário, a quem pedia um favor, para assegurar a seriedade
e sinceridade do ato. Quando Jesus disse: “Se alguém te obrigar
a andar com ele uma milha, vai com ele duas” (Mt 5:41), ele se
referia a um costume persa bem conhecido; sempre que
mensageiro levava uma mensagem do Imperador, ele podia
mandar os habitantes de uma localidade a levar a sua bagagem
por uma milha, ou para fazer qualquer serviço que o mensageiro
mandasse.

As palavras podem ser estudadas em termos dos


equivalentes nas línguas cognatas. A língua hebraica ganhou
uma considerável ajuda da língua árabe e aramaica; mas
especialmente das novas descobertas arqueológicas na Babilônia
e no Egito, abrindo um novo capítulo na filologia comparada do
Antigo Testamento. Um fator importante é o estudo da Bíblia em
outras línguas. A LXX (Septuaginta) é uma versão muito
importante, para conhecer quais as palavras os tradutores
consideraram equivalentes dos termos gregos. Os estudiosos do

81
Novo Testamento têm numerosas traduções da igreja primitiva,
tais como: Siríaca, Peshita, Velha Itália, Vulgata, Cóptica,
Aramaica, etc...

O Estudo da Gramática. Embora que as palavras sejam os


tijolos do pensamento, a sentença é a unidade do mesmo.
Somente as noções básicas são dadas pelas palavras singulares.
Toda a complexidade do pensamento vem em forma de
sentenças. A gramática indica as regras que determinam a
formação de palavras em sentenças com sentido. O intérprete
deve estar consciente de toda a rotina da gramática: a natureza
do verbo, substantivo, adjetivo, preposição, advérbio e pronome.
O Intérprete deve também ser gramaticalmente sensível aos
diferentes aspectos do verbo: modo, tempo e estado.

O sentido das Escrituras deve ser determinado pelas


palavras. Um verdadeiro conhecimento das palavras fornece o
conhecimento do sentido. O significado das palavras é fixado
pelo uso da língua. Sempre que possível, o uso deve ser
determinado pelas Escrituras. As palavras das Escrituras devem
ser tomadas no seu sentido comum, a não ser que tal sentido se
mostre incompatível com outras palavras da frase, com o
argumento, com o contexto ou outras partes da Escritura. Entre
dois sentidos diferentes, geralmente, devemos dar preferência ao
sentido mais compreensível. Tome em consideração a maneira
de pensar da época, bem como, as expressões figuradas comuns

82
daquele tempo e o sentido que o Espírito Santo quis dar à
mensagem.

Particularidades idiomáticas. Na Bíblia há diversas frases e


formas de expressão, características das línguas originais
(hebraico, grego e aramaico), reproduzidas nas traduções. Se
estas forem difíceis de entender, devemos partir para os idiomas
originais.

Os judeus tinham o costume de expressar o pensamento


qualificativo, substituindo o adjetivo pos um segundo nome:
(Efésios 1:13) “Espírito da Promessa”, que significa o “Espírito
prometido”.

Também costumavam denominar, uma pessoa que tinha


uma qualidade particular, ou era inclinada a certo mal, o filho
dessa qualidade ou desse mal: em 1 Samuel 2:12, os filhos de Eli
são chamados de “filhos de Belial”, o que não significa filhos de
um ídolo ou do demônio, mas de uma qualidade abstrata, tal
como “ímpios, indignos ou perversos”.

Também usavam muitas vezes a comparação: Leia Lucas


14:26 e Mateus 10:32,33.

Às vezes a comparação é indicada pelo uso de advérbios de


negação: Veja Gênesis 45:8 e Marcos 9:37.

83
Nomes ou designações, às vezes são usados no plural, para
significar mais de um, ainda que a referência seja feita a um só:
Em Gênesis 8:4 diz: “...montanhas de Ararate...”.

Algumas vezes os nomes de pais ou antepassados são


usados nas Escrituras, significando, na verdade, a sua posteridade:
diz em Gênesis 9:25: “Maldito seja Canaã”; Em Mateus 15:22 diz:
“Senhor, filho de Davi”.

Às vezes usavam o termo “filho”, em lugar de “descendente”


(2 Samuel 19:24); “Mefibosete, filho de Saul...”; (a N.V.I. já corrigiu:
“neto de Saul”).

As escrituras usam às vezes um número redondo, em vez de


um número exato. Comparando Números 25:9 e 1 Coríntios 10:8,
concluímos que o número dos que morreram na praga, foram
entre 23.000 e 24.000.

Nomes próprios de pessoas. Na interpretação das palavras,


o uso dos nomes próprios necessita ser cuidadosamente
esclarecido. Os reis usavam os mesmos títulos: Faraó que
significava “casa grande”, e era o título que o rei egípcio usava;
Abimeleque que significa “meu pai” era o título usado pelos reis
filisteus; Agague era o título usado pelos reis amalequitas e sírios;
o imperador romano era chamado de César.

84
Juntamente com esses títulos, usavam nomes: Faraó Neco,
Faraó Hofra, etc... Abimeleque, rei dos filisteus (Salmos 34 /
título), é chamado de Aquis (1 Samuel 21:11).

Diferentes nomes são dados à mesma pessoa: Abiel (em 1


Samuel 9:1) é Ner (em 1 Crônicas 9:1); Daniel (em 1 Crônicas 3:1) é
Quileabe (em 2 Samuel 3:3).

Nomes próprios de lugares. Diferentes lugares, muitas


vezes usavam o mesmo nome:

Cesaréia é o nome de duas cidades: uma é Cesaréia de Filipe


(Galiléia), e a outra Cesaréia era uma cidade portuária do Mar
Mediterrâneo.

Da mesma forma, Antioquia: Antioquia da Síria (Atos


11:20,26) e Antioquia da Pisídia (Atos 13:14 ; 2 Timóteo 3:11).

Também há situações em que diferentes nomes são dados


aos mesmos lugares:

Horebe e Sinai são nomes aplicados a diferentes picos da


mesma cadeia de montanhas, e às vezes usados para mencionar
toda a cordilheira.

O lago Genezaré, antigamente denominado de “Mar de


Chinerete”, mais tarde passou a chamar-se de “Mar da Galiléia” ou

85
“Mar de Tiberíades” (Mateus 4:18; João 21:1).Algumas vezes o
mesmo nome foi dado a uma pessoa e a um determinado lugar:

Magogue foi o nome de um dos filhos de Jafé, e é também o


nome de um país, habitado por Gogue e pelos citas (mais tarde
chamados de tártaros, dos quais procedem os turcos (Ezequiel
38; Apocalipse 20:8).

Os nomes de pessoas e de lugares foram algumas vezes


escritos de maneiras diferentes no original:

Dodanin (Gênesis 10:4) e Rodanin (1 Crônicas 1:7); no hebraico


as letras “d” e “r” são tão parecidas que podem facilmente ser
confundidas. Oséias (Dt. 32:44) e Josué (Dt. 34:9), refere-se à
mesma pessoa. O Natanael mencionado em João é o mesmo que
o Bartolomeu dos outros evangelistas.

O Estudo do Contexto. Quando entendemos o significado


da gramática, ou das palavras, ainda não entendemos o sentido
geral da sentença e do assunto. Há palavras que possuem
diferentes significados, cujo sentido exato só pode ser
compreendido por meio do seu contexto.

O primeiro círculo de contexto para interpretar qualquer


livro, é o contexto histórico. Podemos ilustrar isso, ao
estudarmos os livros de Juízes e Apocalipse, cujos contextos
históricos são muito diferentes. O livro de Juízes fala da idade de
bronze da Palestina (1405 a 1305 a.C.) e o Apocalipse fala da idade

86
do ferro do Império Romano (90 a 96 d.C.), na Ásia Menor. O
contexto histórico, cultural, religioso e social é muito diferente.

O segundo círculo de contexto é a própria Bíblia. Qualquer


livro da Bíblia está dentro do cânon da Escritura Sagrada, e é
parte da grande história do pecado, da redenção e da salvação
do homem. Qualquer um dos livros é um segmento de um
volume escrito para a nossa edificação, instrução e
aprendizagem. Portanto, o próprio fato dos livros da Bíblia
fazerem parte de um livro canônico, inspirado por Deus (2 Tm.
3:16,17), tem um grande significado para o intérprete Bíblico.

O terceiro círculo de contexto é o livro específico em que a


passagem ocorre. Não importa se é do A. T. ou do N.T., o
propósito do livro nos ajuda muito na interpretação. Isto se aplica
a qualquer um dos livros da Bíblia. João, no seu Evangelho, fala
do propósito (Jo. 20:30,31); Lucas fala do propósito do Evangelho
de Lucas (Lc. 1:1-4). Judas, em sua Epístola faz o mesmo (Jd. V. 3,4).

O quarto círculo de contexto é o material, que precede e


que segue imediatamente à passagem em consideração. Se já
conhecemos a corrente de pensamento dentro de uma sessão,
ou mesmo fora dela, podemos predizer com bastante precisão,
qual é o curso do pensamento dentro dela. A chave do sentido de
uma parábola encontra-se muitas vezes nas discussões
precedentes, ou nas perguntas feitas pelos discípulos, ou em
alguma pergunta de alguma outra personagem da narrativa. O
sentido específico da palavra é freqüentemente determinado
87
pelo seu contexto. Como exemplos, podemos citar o contexto da
“Lei do A. T.” na epístola aos Romanos, ou o contexto do verbo
“santificar”, na carta aos Hebreus. Esta regra do contexto é de
grande importância teológica, como veremos alguns exemplos, a
seguir:

 A palavra “carne”, algumas vezes significa “o que é terno e


dócil”. Lemos em Ezequiel 11:19: “Dar-lhes-ei um coração de
carne...”, uma expressão contrária, “a um coração duro como
pedra”. Assim, a palavra “carne” pode significar “a natureza
humana sem referência ao pecado” (Jo 1:14), mas também pode
significar” a natureza pecaminosa (Gl 5: 19-21).

 A palavra “salvação”, algumas vezes significa “segurança


exterior e livramento” (Ex 14:13), ou “cura”(Tg 5:15), onde diz que “ a
oração da fé salvará o doente”, (isto é, “curará o doente”). Mas de
modo geral o termo “salvação” fala de uma “bênção espiritual,
compreendendo o atual e imediato livramento do pecado, e até
mesmo para toda a eternidade” (Ef 2:8; Lc 1:77; Mt 10:22).

 A palavra “sangue”, também tem vários significados na Bíblia:


“Deus, de um sangue, fez todo o gênero humano” ...(At 17:26),
afirmando que tiveram uma origem comum; os judeus falaram:
“o seu sangue caia sobre nós e sobre os nossos filhos” (Mt 27:25),
dando a entender que assumiam a culpa da morte de Jesus na
cruz; em Romanos 5:9 lemos que “o cristão é justificado pelo
sangue de Cristo”; e em Hebreus 9:14 afirma que, “o sangue de
Cristo purifica as nossas consciências das obras mortas”.
88
 A palavra “graça”, em geral, significa favor. Quando o termo
se aplica a Deus, significa “o seu imerecido favor para com os
homens” (2 Tm 1:9), “em conformidade com o seu propósito e
graça”. Mas além disso, significa todos aqueles diferentes dons
daquela graça: Justificação (Rm 5:15); força e santidade (2 Co 12:9);
salvação (1 Pe 1:13: a “Palavra da sua graça”, é o “evangelho” (At
14:3).

Certos significados especiais são, muitas vezes dados por


meio de definições, ou por meio de exemplos, e às vezes
também por expressões, que limitam o sentido. Veja o que diz
acerca do dilúvio (Hb 11:7); (Ef. 3:4,5).

Algumas vezes, onde não há uma definição formal, fica


evidente alguma definição análoga ou por antítese. Em Gl 3:15-
17, o pacto de Deus com Abraão, é a promessa que Ele lhe tinha
feito; em Rm 6:23, o significado da palavra “morte” (o salário do
pecado), deriva da idéia oposta (o dom da vida eterna); em Cl 2:7,
a palavra “enraizados e edificados nele”, significa “confirmados
na fé”.

O significado, também é muitas vezes determinado pelo


raciocínio geral, ou pelas referências do contexto. Isso nos
mostra que as palavras devem ser tomadas em sentido restrito.
No Sl 7:8, Davi diz: “Julga-me, Senhor, conforme a minha
justiça”...

89
Mas, na verdade, ele quer dizer: “...conforme a minha
inocência”... Na verdade, ele estava se referindo à acusação de
Cuxe (o benjamita).

O contexto, às vezes pode exigir que as palavras sejam


compreendidas no sentido oposto ao natural. Em 1 Rs 22:15 diz:
“Vai, e prosperarás”; esta é uma frase irônica que significa
exatamente o oposto. Em Nm 22:20 diz: “Levanta-te, e vai com
eles!” Mas, considerando o v. 32, percebemos que o mesmo texto
quer dizer: “Se, depois de tudo o que tenho dito, o teu coração se
inclinar a violar o meu mandamento, vá, e depois veremos quais
serão as conseqüências”.

O Estudo da Forma Literária. A forma literária de qualquer


passagem das Escrituras tem um grande peso para decidir o seu
sentido. Por exemplo, esperamos imaginação e mente poética
nas poesias; Jó é um drama épico; Cântico dos Cânticos é um
poema lírico; e Provérbios, é uma coleção de máximas da vida do
ser humano. Em cada um desses casos, devemos ajustar as regras
hermenêuticas à sua forma literária. Os Evangelhos são de estilo
biográfico; Atos dos Apóstolos é literatura histórica; Romanos é
uma carta teológica; Filipenses é uma carta de agradecimento;
Filemon é uma carta pessoal; e Efésios é uma carta geral. Assim,
cada livro tem a sua característica própria, e quando esta for
observada, será de grande valor na interpretação correta.

Os Trechos de Referência. Freqüentemente uma passagem


similar habilita o intérprete a interpretar uma determinada
90
passagem. Os trechos de referência podem ser divididos em três
grupos: verbais conceituais e paralelos.

Os trechos de referência verbais são os verbos que têm


palavras idênticas, ou expressões comuns, tais como: “reino”,
“espírito”, “carne”. Elas podem ser aparentes ou reais. Elas são
aparentes, se têm em comum somente a palavra, mas o
pensamento é diferente, e não tem semelhança alguma. Os
trechos de referência reais são de grande valor, usando-se
palavras, tais como: Gehena, Hades, Paraízo, alma, espírito, mente,
etc...

As Regras Gerais da Hermenêutica.

Interprete a Bíblia tendo em vista o fato de que ela é uma


Adaptação da Verdade Divina à Mente Humana. A Bíblia foi
escrita em três diferentes idiomas: hebraico, grego e aramaico.
Dessa forma, a verdade Divina entrou em contato com a mente
humana, num ponto comum, sem o qual a Revelação de Deus
seria sem sentido. A Bíblia contém verdade Divina em linguagem
humana, em formas humanas de pensamentos, e em termos de
objetos terrenos. Portanto, a Bíblia tem um caráter
antropomórfico. Para se comunicar com os homens, Deus teve
que usar figuras e imagens humanas. Isso fica muito evidente nas
figuras do Tabernáculo, no Antigo Testamento e nas parábolas de

91
Jesus, no Novo Testamento. Em todas as situações existe um
veículo terreno e humano, que conduz a verdade espiritual.

Interprete a Bíblia na consciência de que há uma


revelação progressiva, que se torna mais clara, à medida que se
aproxima do seu complemento. Isso não quer dizer uma
evolução religiosa, ou um simples desenvolvimento histórico, o
que anularia o milagre da revelação e o caráter singular da Bíblia.
A posição da Bíblia é clara, no sentido de que “ela representa um
movimento de Deus em direção ao homem, no qual ela traz o
mesmo da sua infância teológica do A. T., para a maturidade do
N. T.” Isto é o exato ensinamento do N. T., pelas seguintes razões:

No “Sermão do Monte”, Jesus apresentou os princípios éticos


do Novo Testamento, sem invalidar a Lei do Antigo Testamento.

Em Gálatas, Paulo divide o processo de Deus em “antes e


depois de Cristo, com a distinção entre imaturidade e
maturidade, ou “período preparatório e plenitude dos tempos”.

Em Hebreus 1.1,2 o autor mostra claramente que o A.T. é o


período primitivo em comparação com o Novo Testamento.

Interprete a Bíblia com uma Base Histórica Sadia.

Em outras palavras, “evite cair no disparate histórico”. Por


exemplo, em João 3:5 a palavra “água” é interpretada por alguns,
como “regeneração batismal”. Se este foi o sentido original, então
92
não teve nenhum significado para Nicodemos, porque não existe
nada no contexto que defina água como regeneração batismal, e
ele não sabia nada referente à elaborada “doutrina da
regeneração batismal”, desenvolvida posteriormente na igreja.

Na Interpretação bíblica, devemos descobrir o sentido real


de uma passagem, e não lhe atribuir um sentido “a priori” -
Feliz a pessoa que estuda a Bíblia sem prejuízos e predileções.

Faça uma interpretação mais clara e mais evidente de uma


passagem - Veja o exemplo de Gênesis 6. Há pessoas que
pensam que o termo “os filhos de Deus” ali citados, refere-se a
anjos; mas um estudo mais acurado nos convence de que se
trata de homens, da linhagem do povo temente a Deus. É muito
mais fácil e lógico entender que se trata de homens, o que evita
grandes dificuldades teológicas.

Nenhuma afirmação deve ser interpretada como tendo dois


sentidos, a não ser que haja um motivo forte para isso. O
propósito dessa regra é prevenir os excessos em espiritualizar,
tipificar, alegorizar e simbolizar os textos. Um dos mais
persistentes pecados hermenêuticos é “dar duas interpretações à
mesma passagem de um texto, quebrando a forma do sentido
literal, e obscurecendo a Palavra de Deus.

A Interpretação é uma; as aplicações são muitas. O que


uma passagem realmente significa, é uma coisa. Se ela significa
muitas coisas, a hermenêutica seria indeterminada. Mas do nosso

93
uso da Bíblia, podemos obter dela mais do que ”interpretação”,
como sugere 2 Tm 3:16, onde se diz que toda a Bíblia é para o
nosso proveito. Nós podemos obter aplicação espiritual. Por
exemplo, João Batista disse: “Convém que Ele cresça, e que eu
diminua” (Jo:3:30). A interpretação estrita da passagem, é que
“João deve decrescer na popularidade”. Mas pela aplicação,
podemos fazer essa afirmação quanto à nossa vida espiritual. E
dizer que os nossos “planos, programas e interesses egoístas,
devem ser renunciados em consagração a Cristo. Mas a ênfase
sobre a aplicação, nessa passagem, tem sido tão grande, que
muitos cristãos têm trocado a aplicação pela interpretação.

Interprete a Bíblia de maneira que haja harmonia. Esta


regra está baseada na veracidade e unidade das Escrituras.
Portanto, o intérprete cristão procura interpretar a Bíblia,
evitando contradições. Ele se esforça em ajustar todas as partes
da Bíblia, uma com a outra, de maneira que haja um sistema
consistente. Não se deve contrapor um autor ao outro. Por outro
lado, devemos lembrar que a mente humana não é capaz de
harmonizar totalmente as verdades bíblicas, pois a verdade de
Deus é infinita (ou inesgotável). O Antigo Testamento não deve
ser interpretado como contradizendo o Novo. Mas admitindo a
revelação progressiva do A.T para o N.T. Também há a
interpretação pela “analogia da fé”. A noção básica da analogia da
fé, é que “existe um sistema de doutrina ensinado na Bíblia”, e
“somente um!” Logo as interpretações individuais devem
conformar-se com o sistema de doutrina encontrado na Bíblia. A
94
analogia da fé, quando usada de forma apropriada, é de grande
serventia na interpretação.

Tudo o que é essencial nas Escrituras, está claramente


revelado. Este princípio sustenta que, se uma verdade é um
ensinamento essencial da Bíblia, não precisamos percorrer a
Bíblia toda para encontrá-la, e tampouco se encontra em apenas
uma referência de passagem. Os teólogos católicos são os que
mais transgrediram este princípio, pois afirmam que existem
textos bíblicos para todas as suas doutrinas. Por exemplo, bastam
vagas referências ao “purgatório”, para que essa doutrina se tenha
base nas Escrituras (mesmo sendo em livros Apócrifos). O mesmo
se pode dizer em relação ao Papado de Pedro, oração pelos
mortos, e seus sacramentos adicionais. Agindo dessa forma,
facilmente podemos montar uma doutrina em cima de 1 Co
15:29, cujo tema se encontra apenas uma vez na Bíblia.

Todas as interpretações devem estar baseadas nas línguas


originais, para serem precisas e factuais.

A Ignorância do Sentido de Algumas Passagens Deve Ser


Admitida. Devemos admitir que os livros da Bíblia foram escritos
em situações muito diferentes da nossa situação atual, e que os
sentidos correntes de muitas palavras perderam-se totalmente.
Veja alguns textos: Ml 2:15; 1 Pe 3:19; 1 Co 15:29; Hb 6:1-9; Lc 22:38;
Mt 27:52.

95
Os textos obscuros devem dar prioridade aos claros. Leia Mt
16:28 e Mc 9:1.

Devemos examinar todas as interpretações, fazendo


referência aos estudos seculares, ao sistema doutrinário e aos
esforços do passado. Se alguém quer entender Gênesis 1, deve
entender alguma coisa de geologia e biologia. Para comentar
êxodo devemos conhecer algo sobre arqueologia. Para comentar
Samuel e Crônicas, devemos conhecer a história dos reis
seculares. Devemos também examinar se as interpretações estão
em harmonia com o grande sistema doutrinário que a Bíblia nos
apresenta. Também podemos aproveitar o grande esforço feito
pelos exegetas do passado, especialmente registrado nos
comentários bíblicos.

O Antigo Testamento deve ser continuamente examinado


para auxiliar na interpretação do Novo. O A. T. lança luz sobre o
N. T. Muitos homens de Deus conheciam grandes trechos da
Bíblia de cor.

As Regras Gerais da Hermenêutica Doutrinária. A


hermenêutica doutrinária começa com a hermenêutica geral.
Vejamos alguns de seus princípios:

Na interpretação doutrinária estudamos a Bíblia como


pessoas redimidas, procurando tornar explícitas as grandes
doutrinas da Redenção e Reconciliação. De acordo com esta
regra, o nosso propósito é tornar clara a experiência da nossa

96
salvação. O nosso estudo doutrinário da Bíblia não é meramente
uma questão intelectual, como acontece com muitos teólogos
liberais e incrédulos; mas ele deve partir da nossa experiência
pessoal. Devemos sempre ter em mente que o “coração da
interpretação bíblica, visa ser salvo e glorificar cada vez mais a
Cristo”.

A Hermenêutica doutrinária repousa principalmente, no


sentido literal da Bíblia e no Novo Testamento. Na
hermenêutica bíblica, o sentido literal é a interpretação primária
a ser adotada, no progresso da revelação da verdade. Convém
lembrar, que o Novo Testamento é a coroação da revelação
divina, sendo, portanto, a fonte principal da doutrina bíblica.

A Exegese gramatical é anterior a qualquer sistema de


teologia. Um “sistema de teologia” é um esforço para estabelecer
um “sistema de verdade”, como se acha contido na Bíblia. A
teologia alemã falhou ao “dar prioridade à filosofia e à tradição
nos seus sistemas teológicos”. O método protestante histórico é
derivar a teologia exegeticamente da Bíblia. O Teólogo baseia sua
teologia na exegese feita dos textos bíblicos individuais, mas não
isolados. Quando ele está seguro da validade dos tijolos
individuais, ele está apto a tirar as conclusões necessárias para a
construção de um sistema teológico.

O intérprete teológico não deve estender as suas doutrinas


além das evidências das Escrituras. As doutrinas que não
podem ser provadas pela Bíblia, não podem ser aceitas.
97
O intérprete teológico deve esforçar-se por um sistema. Um
sistema é um corpo de proposições que estão relacionadas entre
si. Um arranjo ordenado de fatos, itens ou números, não é um
sistema, a exemplo de uma lista telefônica ou um catálogo. Num
sistema há uma conexão lógica e material. O dever do intérprete
doutrinário é criar um sistema da verdade cristã. Na prática isso
significa:

Elaborar uma formulação coerente de cada doutrina, com os


dados colecionados da Bíblia inteira. Assim, ele apresenta uma
doutrina completa dos anjos, do homem, etc... Todas as
referências bíblicas serão localizadas e tratadas exegeticamente.
Então elas serão reunidas e ordenadas em uma declaração
coerente.

Fazer uma relação organizada das doutrinas individuais, para


que fiquem todas entrosadas. Por exemplo: a doutrina do
pecado, sua natureza, transmissão e o seu efeito, está
definitivamente relacionada com a doutrina da salvação, sua
natureza e seu efeito. O objetivo é uma formulação completa e
sistemática de cada doutrina do cristianismo, num grande
edifício da verdade cristã. O resultado disso é a elaboração de
uma teologia sistemática verdadeira, científica e indutiva.

Devemos tomar um cuidado especial no uso teológico com


provas de textos. O uso de textos é perfeitamente legítimo. A
base bíblica de qualquer interpretação deve ser claramente
exposta, e as referências de textos relevantes devem ser citadas.
98
Mas os textos só terão valor, se forem acompanhados de uma
exposição exegética. O grande problema de muitas teologias é
mencionar textos errôneos, que não têm nada a ver com o tema
em discussão.

O que não é um assunto de revelação doutrinária, não pode


ser um assunto de fé. Este princípio separa o protestantismo do
catolicismo, porque a Igreja Católica considera a tradição e as
decisões dos concílios tão valiosos quanto a Bíblia. Os
protestantes, porém, sustentam, que o que não vem das
Escrituras Sagradas, não pode ser matéria de fé.

O intérprete teológico deve ter em mente a natureza


prática da Bíblia. Diferentemente do povo grego, o povo judeu,
era um povo prático e realista, por excelência. Problemas teóricos
e pensamentos abstratos lhes eram completamente estranhos.
Os problemas apologéticos que os judeus encararam, nunca
foram em planos metafísicos, mas muito práticos. Além disso, “a
Bíblia foi escrita com um propósito prático de ensinar ao ser
humano o plano de salvação, os meios e métodos de alcançar
uma vida piedosa e a expectação da vida futura”.

O intérprete teológico deve reconhecer a sua


responsabilidade para com a Igreja. É interessante notar que
muitos estudiosos que iniciaram a alta crítica, foram pessoas que
não tinham nenhuma ligação vital com a Igreja, mas filósofos, tais
como: Spinoza, Hobbes, Locke, Hume, Kant e Hegel, e ainda os
estudiosos alemães das Universidades oficiais. Parece que os seus
99
interesses principais eram acadêmicos, achando que todas as
verdades deveriam ser publicadas, e não se importavam quanto à
sua influência na igreja. Discordamos radicalmente dos que
acreditam que tudo deve ser publicado em nome da liberdade
acadêmica, por mais anticristão que seja o pensamento. Pois isso
colocaria em risco a fé de inúmeros cristãos fracos, e traz um
desastre sem limite. Cada intérprete, teólogo ou crítico, deve
sentir uma grande responsabilidade para com a igreja. Pois a
salvação é uma questão de vida ou morte; céu ou inferno; um
Cristo Divino ou um simples profeta e líder religioso. Estamos
tratando do destino eterno do ser humano. E deveríamos nos
perguntar: Qual será o efeito dessa doutrina sobre a Igreja? Irá
trazer confusão? Irá enfraquecê-la? Irá dividi-la?

O Uso Devocional e Prático da Bíblia.

O Uso Geral da Bíblia. O primeiro propósito da Bíblia é “que


torna o homem sábio para a salvação pela fé em Jesus Cristo”
(2 Tm 3:15). E os versículos 16 e 17 dizem: “[a Escritura] é útil para
o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação
na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e
perfeitamente habilitado para toda a boa obra”. Visando o
crescimento moral, espiritual e devocional, as seguintes regras no
uso da Bíblia, são úteis:

100
Use as Regras Gerais da Hermenêutica. Todas as lições
práticas, aplicações e todo o material devocional, devem ser
regidos pela hermenêutica protestante geral. Todo o uso da
Bíblia, nesse sentido, deve estar baseado nos sadios princípios
exegéticos.

Enfatize o Lado Espiritual. A Bíblia dá maior ênfase ao


espírito do homem, do que à sua capa religiosa exterior. A
mensagem da Lei era, freqüentemente, relacionada a regras
exteriores; mas a mensagem do N. T. enfatiza, acima de tudo, a
vida interior da pessoa.

A Bíblia é um Livro Diferenciado. A Bíblia é um livro de


princípios exegéticos. Isto é assim, para que ela não se torne um
livro provincial e relativo, e para que a espiritualidade não se
torne mecânica.

Busque Iluminação Espiritual. Em muitas passagens


bíblicas, o Espírito deve ser tomado como o nosso guia, e não a
letra. Em Mateus 5.29,30 Jesus diz que “devemos arrancar o nosso
olho e cortar a nossa mão, quando eles nos servirem de
escândalo”. Essa passagem deve ser interpretada figuradamente
e não literalmente, com alguns têm feito.

Use a Contextualização. Os mandamentos em torno de


uma cultura antiga, devem ser interpretados em torno de nossa
cultura, como segue: As ordens de Paulo quanto “corte de
cabelos” e uso do véu”, devemos entender que “rapar o cabelo”

101
lembrava o costume de concubinas e “usar o véu” era o sinal de
decoro feminino. Hoje, isso significa que “a mulher deve portar-se
com decência”, tanto no vestuário, como no comportamento.

Ela Serve Como Guia Através dos Exemplos. Vejamos como


podemos obter benefício espiritual dos exemplos dos grandes
personagens e eventos bíblicos:

Distinção Entre Registro e Aprovação. Devemos fazer


distinção entre o que a Bíblia registra e o que a Bíblia aprova.
Muitas pessoas erram ao ensinar que tudo o que está na Bíblia
está aprovado. Nem tudo o que consta na Bíblia é da vontade de
Deus. Devemos analisar se está ou não está aprovado por Deus.

Fazendo a Devida Aplicação. Podemos tirar uma aplicação


direta de todos os incidentes que a Bíblia censura ou aprova
diretamente. A mulher que ungiu Jesus com o precioso bálsamo,
foi censurada por Judas Iscariotes, mas aprovada por Jesus, e
deixou um exemplo de vida para toda a História da Igreja Cristã.
Pedro em Antioquia foi censurado por Paulo. Considere ainda, a
rebelião de Saul; a imoralidade de Davi; o orgulho de Absalão; a
traição de Judas; a negação de Pedro e a mentira de Ananias e
Safira; Todos estes são exemplos a não serem imitados.

Cuidado com Ordens Individuais e Específicas. Os


mandamentos expressos aos indivíduos, não são
necessariamente a vontade de Deus para conosco. Abraão
102
recebeu a ordem de sacrificar o seu filho Isaque. Mas era apenas
um teste específico de fé e não uma ordem para todos os pais.

Descubra os Princípios Espirituais Importantes. As vidas


dos personagens bíblicos determinam qual é o princípio
espiritual importante. Hebreus 11 é uma síntese das vidas de
pessoas que se destacaram no Antigo Testamento, por meio da
sua fé em Deus, que nos servem de grande motivação.

Não Reproduza os Detalhes. Na aplicação dos exemplos à


nossa vida, não precisamos fazer uma reprodução literal da
situação bíblica. O batismo não precisa ser feito no rio Jordão, e
nem precisamos ir a Jerusalém para celebrar a ceia do Senhor.

Tipologia

A Natureza dos Tipos. Conforme Muenscher, a palavra “tipo”


na ciência teológica, significa “a relação representativa pré-
ordenada que certas pessoas, eventos e instituições do Antigo
Testamento, mantém com as pessoas, eventos e instituições do
Novo Testamento”. Os seguintes elementos devem estar
presentes num tipo:

Deve haver uma semelhança genuína de forma, idéia e de


espírito, entre o ponto de referência do A.T. e a sua parte
correspondente do Novo Testamento. Isso quer dizer, que a

103
conexão entre o tipo e o antítipo deve ser substancial, e não
acidental ou superficial.

Esta semelhança deve ser designada. O tipo precisa não


apenas ser semelhante à coisa tipificada, mas deve também ser
designado para assemelhar-se a ela. Tanto o “tipo” como o
“antítipo” devem ter sido preordenados como partes
constituintes do mesmo plano geral da providência divina. É esse
desígnio prévio e essa relação preordenada que constituem a
relação entre o tipo e o antítipo.

Deve se esperar alguma dessemelhança. Não existe uma


correspondência em todos os seus pormenores, entre o tipo e o
antítipo; portanto precisamos cuidar muito ao localizar o que é
genuinamente um tipo. Por exemplo, “há semelhança e
dessemelhança” entre a “Lei e a Graça”. Quanto a Paulo, há
dessemelhança; quanto ao autor de Hebreus, há semelhança.
Paulo enfatiza o aspecto legislativo da Lei; mas o autor de
Hebreus dá ênfase ao aspecto cerimonial.

As regras de interpretação.

Comece com um estudo meticuloso do Novo Testamento e


veja o que ele ensina sobre a tipologia.

104
Partindo do estudo do Novo Testamento, localize as grandes
áreas típicas do Antigo Testamento.

Localize em cada tipo a parte que é realmente típica, e a


que é acidental (ou ocasional).

Conserve-se dentro dos limites do bom senso.

Não prove as doutrinas pelos tipos, a não ser que haja


autoridade clara do Novo Testamento. A carta aos Hebreus prova
a doutrina pelos tipos, mas nós não podemos fazer o mesmo,
desde que não somos inspirados no mesmo sentido.

Vista as suas interpretações com humildade. O que é


claramente ensinado pelo Novo Testamento, pode ser afirmado
com confiança; mas quando isso não acontece, devemos usar de
humildade na interpretação.

6.3 Os Tipos de Tipos. São seis os tipos símbolos que são


tipos:

As Pessoas. Adão é a cabeça da raça humana; Abraão é o


pioneiro da justificação pela fé; Elias é a prefiguração de João
Batista; José é o irmão rejeitado, mas o futuro salvador; Davi é o
grande Rei; Salomão é o filho escolhido; e Zorobabel é a cabeça
da nova sociedade.

105
As instituições. Os sacrifícios do A.T. apontavam para a
cruz; o sábado apontava para o descanso da salvação por meio
de Cristo; A Páscoa apontava para a redenção; e a Teocracia
apontava para o futuro do Reino de Deus.

Os Ofícios. Os ofícios de Profeta, Sacerdote e Rei do Antigo


Testamento, são os tipos de Cristo, que é profeta, sacerdote e rei.

Os Eventos. O Êxodo é o tipo da libertação; a peregrinação


no deserto tem muitos eventos com significado típico.

As Ações. O levantamento da serpente de bronze no


deserto foi um tipo da crucificação de Cristo; o ministério do
Sumo Sacerdote no Dia da Expiação é um tipo do sacrifício da
expiação de Cristo.

As Coisas. A Arca do Tabernáculo é o tipo da encarnação de


Cristo; o incenso é o tipo da oração; os véus (as cortinas)
expressam princípios de acesso a Deus.

O Simbolismo. A sua interpretação deve obedecer às


seguintes regras:

Os símbolos interpretados pelas Escrituras são a base de


todos os estudos posteriores do simbolismo: As “bestas ferozes”
são claramente interpretadas como “os líderes políticos cruéis e
corruptos”; o “cordeiro” como “animal de sacrifício”; o “sal e a luz”
como o “testemunho de vida do cristão”; o incenso” como a
“oração”.

106
Quando o símbolo não é interpretado, devemos investigar o
contexto ou outras passagens que tratam do mesmo. Assim, nas
parábolas o símbolo é interpretado pela lição básica da mesma.
Nem sempre o contexto irá fornecer uma interpretação
específica, mas nos ajuda a traçar os limites da nossa
interpretação.

Muitas vezes o símbolo é interpretado pela sua própria


natureza. Conhecemos muito bem a ação preservadora do sal;
assim como a ferocidade do leão; a docilidade do pombo; a
mansidão do cordeiro; e as características do cão, do cavalo e do
porco.

Pode haver dois ou mais significados dos símbolos. O “Leão”


pode significar Cristo ou Satanás; a “água” significa a Palavra (Ef
5:26), o Espírito (1 Co 12:13, e regeneração (Tt 3:5); o “óleo” significa
o Espírito Santo, e pode também significar a prontidão. Uma
entidade pode ser representada por diversos símbolos, tais como:
“Cristo” = cordeiro, leão e tronco; O “Espírito Santo” = água e vento.

Cuidado para manter o bom senso no simbolismo. Cuide


também para não ignorar o contexto em que ocorre o
simbolismo.

Como saber se o texto é figurado ou não? São várias opções:


às vezes o autor nos diz (Jo 18:22); a conexão também nos dá essa
resposta (Jo 6:32-58); se a interpretação literal não tem sentido
bíblico (Jr 1:18,19); se a interpretação literal contradiz outros textos

107
claros (Jo 5:28,29); se a interpretação literal promover algo ruim
(Mt 18,8,9); se um texto claro tornar-se obscuro pela interpretação
literal (Mt 18:21,22); a linguagem escarnecedora (irônica) é sempre
figurada (1 Rs 18:27); o nosso intelecto nos diz muitas vezes se um
texto é figurado (1 Pe 2:5).

Como interpretar a linguagem figurada? A interpretação


mais exata é aquela que o autor dá (Mt 13:18-23, 36-43; 15:35);
usando o mesmo tema, compare a linguagem figurada com a
linguagem literal (Joel 3:1-5 e At 2); muitas vezes a solução está
em comparar a linguagem figurada obscura com a linguagem
figurada clara (Mt 16:18 e 1 Co 3:11); observe as qualidades do
objeto figurado (Ap 3:18); o uso de um texto inspirado por Deus,
por um orador inspirado dá a sua interpretação (1 Co 10:1-11; Sl
41:9; e Jo 13:18); cuidado para não fazer muitos paralelos entre as
figuras e as coisas reais. Quase sempre uma figura tem somente
um significado. Como já vimos anteriormente, as figuras nem
sempre são usadas para representar a mesma coisa, a saber: a
água representa a Palavra (Jo 4:10-14), e também representa o
Espírito Santo (1 Pe 3:20,21). Devemos observar quando se trata de
figura e de contra-figura, a saber: “babilônia e pecado”. Devemos
rejeitar qualquer interpretação de uma parábola ou alegoria, que
não esteja em conformidade com a verdade básica a ser
ensinada. Também é bom lembrar que as parábolas não devem
ser consideradas a primeira ou a única fonte de doutrinas das
Escrituras. Há doutrinas reveladas de outra forma, que podem ser
ilustradas ou confirmadas por meio de parábolas, mas não
108
devemos basear doutrinas exclusivamente baseadas em
parábolas.

A Interpretação da Profecia - A interpretação da profecia é a


parte mais difícil da hermenêutica. E, apesar disso, a Bíblia
contém muitas passagens bíblicas que tratam das profecias.
Estudar e organizar cada texto profético requer muito trabalho e
muito estudo profundo. Por causa dessa dificuldade há tantas
opiniões diferentes nesse campo de estudos. Em certo sentido,
todo o Antigo Testamento foi profético, pois “todos os profetas e
a Lei vigoraram até João Batista”.

Definição - A palavra grega “nabhi”, (profeta) significa: “aquele


que leva adiante uma mensagem”; mas pode também significar
“o orador que fala em lugar de outra pessoa”. Portanto, o profeta
era “aquele que falava em lugar de Deus”.

A natureza do dom profético - O dom profético apresenta-


se de duas maneiras: A inspiração, que compreende a visão
interior e a previsão; E a expressão, que compreende a
transmissão da mensagem. A chave para a interpretarmos a
profecia, é “considerarmos o profeta, acima de tudo, um
pregador da justiça”. Os profetas foram videntes apaixonados
pela verdade espiritual, e pregadores da verdadeira religião. Os
seus livros são compilações de sermões pregados em tempos
apropriados. Especialmente por ocasião de alguma crise na

109
história da nação, eles apresentavam-se como porta-vozes de
Deus, a fim de que os homens voltassem a obedecer ao Senhor.

A profecia do ponto de vista histórico - Os profetas foram


efetivamente, homens do seu tempo. Mas também podemos
considerá-los acima de seu tempo, do ponto de vista espiritual e
moral. Muitas vezes Deus falava com eles de forma audível, e
transmitia uma mensagem para o povo do seu tempo. Mesmo
assim, muitas delas também se aplicam para o nosso tempo.

A Profecia Era Futurista - A profecia era muitas vezes uma


mensagem que se cumpriu no futuro, e até mesmo em um
futuro distante. O elemento mais característico da profecia do A.
T. é a esperança Messiânica. Muitas profecias somente puderam
ser esclarecidas com a vinda do Messias, e outras ainda se
esclarecerão no futuro.

A profecia e seus múltiplos significados - Deus fez uma


promessa a Davi, de que “se ele e seus descendentes andassem
nos seus caminhos, não lhes faltaria sucessor no trono de Israel” (1
Rs 2:4). E disse ainda, que “confirmaria Davi no trono, que o
disciplinaria, mas que a sua benignidade jamais se afastaria de
Davi, como aconteceu com Saul” (2 Sm 7:13-15). Olhando na
história, por mais de 400 anos, até o fim do reino israelita, a
dinastia de Davi, com 20 soberanos, ocupou o trono em Israel (e
Judá). Por outro lado, na curta duração do Reino das 10 tribos do
norte de Israel, em 254 anos houve 19 reis, de nove dinastias

110
diferentes. Deu-se, portanto, o cumprimento menos maravilhoso,
do que quando se aplica ao Messias.

Imagens e Símbolos - Esta é uma característica bastante


encontrada no pensamento antigo, que principiou com a
promessa feita a Abraão. Os descendentes deste patriarca
“seriam tão numerosos como as estrelas no céu, e por meio dele e
sua geração, todas as nações da terra seriam abençoadas”. A
primeira parte dessa profecia foi literalmente cumprida,
conforme Moisés já citou em Ex 32:13 e Dt 1:10,11. Paulo faz a
aplicação dessa profecia à geração espiritual de Abraão, isto é, a
todos os que crêem em Cristo (Rm 4:16; Gl 3:16, 19, 20). A bênção
atinge “todas as nações”; a segunda parte da promessa, também
se aplica a todos os crentes por meio de Jesus Cristo, a semente
de Abraão (Gl 3:16,19,20). Os Apóstolos também dão ênfase no
mesmo princípio: “Nós, os que cremos, somos filhos de Abraão e
herdeiros de sua promessa” (Gl 3:29; Rm 4:11,16); o “Israel de Deus”,
é apresentado de forma distinta do “Israel segundo a carne” (1 Co
10:28); a verdadeira circuncisão (Fp 3:3), que envolve as antigas
promessas (Gn 22:16,17), é aplicada a todos os crentes (Hb 6:13,20;
Dt 31:6; Js 1:5; Hb 13:5; Os 1:10; 2:23; Rm 9:24-26).

A Lei Levítica - Depois do Êxodo, veio a instituição da lei


cerimonial; os sacrifícios os ritos, o sacerdócio, o Tabernáculo e o
culto a Deus. Todas essas coisas, os profetas já anunciavam que
seriam restauradas nos últimos dias, e nos Evangelhos essas
expressões aplicam-se a Cristo e à sua Igreja. Ele é sacerdote,

111
tabernáculo, e templo (Rm 3:25; Jo 1:14; 2:19; 1 Co 3:16). Os
membros, como sacrifícios espirituais, formam um sacerdócio
santo e uma nação santa.

Especialidades da Linguagem Profética. Os profetas falaram


muitas vezes de coisas pertinentes ao futuro, como se estivessem
presentes diante dos seus olhos (Is 9:6). Fala de coisas futuras
como se já estivessem cumpridas (Is 53). Quando o tempo do
cumprimento das profecias não era revelado, eles descreviam-
nas como contínuas. Eles viam o futuro, mais propriamente no
espaço, do que no tempo, e por isso, o todo aparece abreviado.
Eles simplesmente analisavam da perspectiva dos
acontecimentos, e não a sua verdadeira distância (Jr 50:41; Is
10:11).

O Grande Princípio de Interpretação - A regra áurea da


interpretação profética é esta: “Como a profecia não é de
‘particular (ou extravagante) interpretação’ (2 Pe 1:20,21), cada
uma das predições da Escritura, deve ser comparada com as
outras do mesmo assunto, e com a história (sagrada ou secular).
Um texto paralelo, muitas vezes lançará luz sobre o outro, e o
cumprimento de certas profecias explicará predições totais ou
parciais, ainda não cumpridas. A história e o N. T. muitas vezes
nos ajudam a descobrir o significado de passagens individuais,
que contribuirão também na explicação de textos relacionados.

Muitos intérpretes se satisfazem com as interpretações


gerais, e deixam de lado o cumprimento literal e especial.
112
Considerando que os judeus eram “tipos”, que a distinção entre
judeus e gentios foi formalmente abolida, e que a nossa época é
espiritual (e não apenas legalista), devemos aceitar o fato de que
muitas profecias concernentes aos judeus, não tratam da
restauração do judaísmo, mas da edificação da Igreja Cristã
(incluindo a conversão de judeus) [At 2:17-21; Rm 11:26]. A
interpretação espiritual das profecias, relacionada com os
respectivos fatos, é a que mais se harmoniza com o teor das
Escrituras. Vejamos mais algumas regras que os intérpretes da
profecia devem observar:

Determine o contexto histórico do profeta e da


profecia - Uma grande parte do livro do profeta Isaías ficaria
obscura, sem o conhecimento da situação política de Israel
e países vizinhos. O conhecimento do fato do cativeiro
babilônico é fundamental para entendermos os livros de
Jeremias e Ezequiel.

Descubra o contexto geográfico e cultural dos países


envolvidos. Estude a geografia, os costumes, a cultura, a
religiosidade, a flora, a fauna, os nomes, etc...

Determine se a passagem é profética ou didática -


Nem toda a profecia é uma predição de eventos futuros.

Se o texto é profético, descubra se já foi cumprido, ou


ainda não foi cumprido, ou é condicional - Muitas das profecias
113
do A. T. estão declaradas como cumpridas no N.T., mas outros
eventos já se cumpriram no tempo do A.T. (como os cativeiros).
Nesta questão devemos considerar o seguinte:

Se o texto é citado como cumprido no N. T., devemos


comparar os dois textos (profecia e cumprimento) a fim de
interpretar o texto do A. T.

As passagens podem ser usadas assim:

Elas podem ser usadas literalmente, como o nascimento


virginal de Cristo (ou o seu nascimento em Belém).

Elas podem ser usadas para provar uma afirmação (Jo 6:45),
ou uma doutrina (Mt 22:32, 43, 44).

Elas podem ser usadas para provar a verdade do N. T. (Rm


10:18).

Se o texto já se cumpriu na história, deixe que a história o


interprete. (Por exemplo, a destruição de Jerusalém predita por
Jesus [Lc 19] ).

Se a profecia é condicional, ela pode ou não ter sido


cumprida (Exemplos: Sf 2:1-3; as bênçãos e maldições de Dt 28).

Determine se o mesmo tema ou conceito foi abordado em


outros lugares. Temas como, “o dia do Senhor”, “o
remanescente”, “a descida do Espírito Santo”, foram abordados

114
em vários livros da Bíblia. O intérprete necessita de muito
cuidado e muita paciência para fazer um estudo equilibrado.

Dê muita atenção ao contexto. As divisões em capítulos e


versículos muitas vezes, devem ser conscientemente ignoradas.
(Por exemplo: Mt 2:17, é o começo interpretativo de Ml 3:1).

Observe que há elementos na profecia que são puramente


locais e temporais - Na famosa profecia de 2 Samuel 7, onde
Cristo é prefigurado em Salomão, a expressão, “se ele cometer
iniqüidade”, evidentemente, não pode referir-se a Cristo. Isaías
7:14,15 fala de Cristo, mas o versículo 16, é puramente local e
temporal. No Salmo 16, a meditação de Davi não se torna
Messiânica, até chegar ao versículo 8.

Tome a interpretação literal da profecia como guia


limitador - Quando se trata de interpretar textos relacionados à
escatologia, surge uma dificuldade em saber optar entre a
interpretação literal e espiritual. Mas se a profecia é
espiritualizada e aplicada à Igreja, a interpretação amilenista
pode ser aceita, pois está se cumprindo agora. Cristo está à destra
do trono de Deus (o trono de Davi) e ele reina nos corações dos
verdadeiros crentes. Devemos também lembrar, que os profetas
usaram muita poesia e muitas figuras de linguagem,
características que não admitem interpretação literal. Além disso,
devemos lembrar que o N.T. espiritualiza algumas partes do A.T.,
como veremos nos seguintes exemplos: O Tabernáculo do A.T.
não se cumpre literalmente num tabernáculo do N.T., mas num
115
tabernáculo espiritual do céu (Hb 8:1-5; 9:1); O descanso de Canaã
(sábado) se cumpre no descanso espiritual dos crentes (Hb 4:10).
Os cristãos não precisam ir ao Monte Sião (Jerusalém), más à
cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial (Hb 12:22; Gl 4:26).
Portanto, a interpretação literal extremada e também a que
espiritualiza demais o texto, podem induzir-nos a erros. Devemos,
portanto, encontrar o ponto de equilíbrio nesse sentido.

A imagem do apocalipse é muito difícil de ser interpretada,


porém alguns princípios nos ajudam nessa tentativa:

Na interpretação das imagens apocalípticas, um método


literal é completamente impossível. Aqui precisamos descobrir o
caminho entre o maior e o menor grau de espiritualização.

Na interpretação do Apocalipse, tudo o que foi dito nas


regras gerais de interpretação, precisa ser aplicado.

Devemos tentar descobrir se os símbolos ali usados tinham


algum significado na cultura do autor.

Devemos examinar cuidadosamente o texto, para ver se o


sentido do símbolo está ali revelado.

Devemos fazer um exame histórico se a profecia já se


cumpriu na história. Felizmente, isto é possível com Daniel e
Zacarias.

116
Em relação ao N.T., devemos examinar a literatura apócrifa
do período Inter-Bíblico, a fim de saber se ela contribuiu com
alguns dos símbolos existentes.

Em relação ao Apocalipse, devemos examinar todo o A.T., a


fim de descobrir se há algum guia relacionado aos símbolos
usados.

A Interpretação das Parábolas.

A natureza das parábolas - O significado da palavra “parábola” é


colocar lado a lado com o fim de comparação. Trata-se de um
método de ilustração. A parábola também é considerada uma
metáfora estendida. Embora os estudiosos não sejam unânimes
quanto à sua classificação, há cerca de 53 parábolas na Bíblia, das
quais trinta são tratadas como tais, e sendo Lucas que contém o
maior número delas.

Regras de interpretação das parábolas.

Determine a exata natureza e os pormenores dos costumes,


práticas e elementos que fazem parte das parábolas. Se a
parábola fala de pesca, agricultura ou casamento, então os
costumes e as práticas dos judeus daquele tempo devem ser
investigados.

Determine a verdade central que a parábola tem em vista


ensinar. Algumas parábolas (como a do semeador) têm diversos
117
pontos para ensinar, mas a maioria tem somente uma verdade
central a ser ensinada.

Determine quanto da parábola está interpretado pelo


próprio Senhor. Após Jesus ter contado a parábola do semeador,
ele a interpretou (Mt 13:18 e ss.). Após ter contado a parábola das
10 virgens, Jesus a interpretou (Mt 25:13). Após Jesus ter contado a
parábola do inimigo, em casa, ele a interpretou (Mt 13:36).

Verifique o contexto da parábola, para descobrir o verdadeiro


sentido da mesma. Em Lucas 15, encontramos três parábolas: da
ovelha perdida, da moeda perdida e do filho pródigo. O texto
que nos mostra o que Jesus quis dizer, encontramos em Lucas
15:1,2. Jesus estava se justificando, pelo fato de comer com os
cobradores de impostos e pecadores. Portanto, o pastor, o pai e
a mulher, representam a atitude de amor, de redenção e de
perdão em Cristo; por outro lado, a ovelha perdida, a moeda e o
filho perdido, representam os cobradores de impostos e
pecadores, que estavam ao redor de Cristo.

Não faça a parábola andar com quatro pés. Uma parábola


(como também o tipo) é uma verdade em veículo. Existe,
portanto, a inevitável presença de casca, de roupagem, e de
acessórios para preencher todos os pormenores da mesma. Existe
o perigo de procurarmos dar sentido a todos esses pormenores.

Cuidado com o uso doutrinário das parábolas. Elas podem


ser usadas para ilustrar doutrinas, para iluminar a experiência

118
cristã e para ensinar lições práticas. Toda a conclusão doutrinária
que não esteja em harmonia com as grandes verdades reveladas
deve ser rejeitada.

É necessário ter uma compreensão clara do período


(tempo) em que foram escritas.

A Literatura Apocalíptica do Antigo Testamento.

Esse tipo de literatura trata de uma classe de literatura


referente a juízos futuros, muitas vezes iminentes, e a glória final
do Reino de Deus. O grande tema das Escrituras é “o santo Reino
de Deus em seu conflito com as potências ímpias e
perseguidoras do mundo”. Neste conflito, está assegurado “o
triunfo final justiça”. Esta forma de profecia pode incluir outras
profecias messiânicas, mas abrange um raio mais amplo. Ela nos
dá uma visão do mundo em um plano inferior ao mundo futuro
que nos aguarda, e da soberania de Deus em todos os assuntos
dos homens e das nações. Em 1 Coríntios 14:6, Paulo faz distinção
entre o Apocalipse e a profecia. Um pode falar por meio do
Apocalipse, ou com ciência, ou com profecia, ou com doutrina.

O Apocalipse tem de estender-se, especialmente da


revelação celestial para a recepção humana, o instrumento
passivo. Por outro lado, a profecia enfatiza a atividade humana
inspirada, a emissão da verdade divina. O autor Auberlen disse:
“Na profecia, o Espírito de Deus acha sua imediata expressão em
119
palavras; no apocalipse desaparece a linguagem humana, pelo
motivo citado por Paulo (2 Co 12:4), onde afirma ter ouvido
“palavras secretas, as quais não é lícito comunicar aos homens”.
Aqui aparece um novo elemento, “o elemento subjetivo de ver a
visão”.

O olho do profeta está aberto para penetrar dentro do


mundo invisível; ele se relaciona com anjos, e ao contemplar,
assim, o invisível, contempla também, como em sonho. Mas estas
imagens não são uma fantasia própria, nem ficção, mas
“revelação divina adaptada ao nosso horizonte humano”.

Desde o período mais primitivo em que Deus se revelou ao


homem, as manifestações apocalípticas dos propósitos divinos
de justo juízo e da graça abundante, serviram para alegrar e
consolar os corações piedosos. Deus comunicou ao ser humano
muitas porções, “muitas vezes e de muitas maneiras” (Hb 1:1) para
fortalecer a sua fé. Permitiu ao homem contemplar no seu
horizonte, o “próximo dia do Senhor”, e descrever uma época que
se aproxima, na qual todos os agravos serão recompensados, e a
justiça, a glória e a alegria serão um patrimônio eterno do povo
de Deus.

Além disso, as profecias são notáveis pelo seu grande arranjo


artístico, muitas vezes até detalhado; as divisões e subdivisões,
freqüentemente somam quatro ou sete pontos. Constantemente
aparece a dupla visão de juízo e salvação; o duplo quadro de juízo
e de glória, já se percebe nos dois símbolos que foram colocados
120
na porta do Jardim do Éden (Gn 3:24); a espada flamejante
representava a justiça divina que exige o castigo do pecado; os
querubins, símbolos da adoração, também estavam presentes
em várias revelações divinas a seus servos, apresentando um
toque de juízo e de amor. Outro fator importante é que os
sucessivos escritores criaram certa liberdade de usar, ou mesmo
alterar a linguagem e os sinais usados pelos seus predecessores,
para adaptá-los à mensagem a ser transmitida: Isaías imitou
muitas passagens de Joel; Ezequiel usou partes de Isaías e de
Joel; Zacarias baseou algumas coisas em Daniel e Ezequiel; Quase
todos os símbolos que aparecem no livro de Apocalipse, já
apareceram antes em algum lugar do Antigo Testamento.

121
MODULO V

PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA

(Por Walter A. Henrichsen)

A INTERPRETAÇÃO É PARA TODOS. Há quatro partes


básicas no estudo correto da Bíblia.

A. OBSERVAÇÃO - que responde a pergunta: “Que vejo?”


Aqui o estudante da Bíblia aborda o texto das Escrituras como
um detetive. Nenhum pormenor é sem importância; nenhuma
pedra fica sem ser virada.

B. INTERPRETAÇÃO - que responde a pergunta: “ Que


significa?”Aqui o interprete bombardeia o texto com perguntas
como: “que significavam estes pormenores para as pessoas às
quais foram dados?” (por que o texto diz isto?) “Qual a principal
idéia que ele está procurando comunicar?”

C. CORRELAÇÃO - que responde à pergunta: “Como isto se


relaciona com o restante daquilo que a Bíblia diz?”O estudante
da Bíblia deve fazer mais do que examinar somente passagens
individuais.

D. APLICAÇÃO - que responde à pergunta: “Que significa


para mim?” Observação e interpretação sem aplicação é aborto.

122
REGRAS DE INTERPRETAÇÃO - As regras de interpretação se
dividem em quatro categorias: Gerais, Gramaticais, Históricos e
Teológicos.

PRINCÍPIOS GERAIS DE INTERPRETAÇÃO.

São os que tratam da matéria global da interpretação. São


universais em sua natureza, não se limitando a considerações
especificas incluídas estas nas outras três seções posteriores.

REGRA 1

Trabalhe partindo da pressuposição de que a Bíblia tem


autoridade.

Para o cristão, a Bíblia tem e sempre terá autoridade.

REGRA 2

A Bíblia é seu próprio intérprete; a Escritura explica melhor a


Escritura.

Quando você estudar a Bíblia, deixe que a Bíblia fale por si


mesma. Não lhe acrescente e nem lhe subtraia nada. A Bíblia se
interpretará a si mesma, se for estudada apropriadamente.

123
REGRA 3

A fé salvadora e o Espírito Santo são nos necessários para


compreendermos e interpretarmos bem as Escrituras.

Ver as coisas do ponto de vista de Deus é um ministério


exercido pelo Espírito Santo a favor daqueles que confiaram nele
não só para a salvação, mas também para a iluminação. Embora
ser cristão não seja garantia de que você interpretará com
precisão todas as passagens da Bíblia, é fundamental entender
adequadamente a verdade espiritual.

REGRA 4

Interprete a experiência pessoal à luz das Escrituras, e não as


Escrituras à luz da experiência pessoal.

É precisamente por esta razão que você deve ter cuidado


para não inverter esta regra. Permita que a Palavra de Deus
interprete e amolde as suas experiências, em vez de você
interpretar as Escrituras a partir das suas experiências.

REGRA 5

Os exemplos bíblicos somente têm autoridade quando


amparados por uma ordem.

Quando estudarmos a Bíblia, deveremos fazê-lo com cuidado


para não restringirmos esta liberdade, quer para nós, quer para os

124
outros. Para citar os grandes teólogos puritanos do passado: “A
Bíblia é a nossa única regra de fé e prática”.

REGRA 6

O propósito primário da Bíblia é mudar as nossas vidas, não


aumentar nosso conhecimento.

Observações ao aplicar as Escrituras:

a) Algumas passagens não devem ser aplicadas da


mesma maneira como foram aplicadas na ocasião em que
foram escritas.

b) Quando você aplicar uma passagem deverá fazê-lo


em harmonia com a interpretação correta.

c) Todas as partes da Bíblia são aplicáveis a você, todavia


a interpretação correta é essencial, antes de procurar fazer a
aplicação.

REGRA 7

Cada cristão tem o direito e a responsabilidade de investigar e


interpretar pessoalmente a Palavra de Deus.

O processo de cavar fundo nas Escrituras e chegar à sua


conclusão pessoal é o que transforma simples crenças em
convicções solidamente firmadas. Envolver-se nesse processo é,

125
não só seu direito como filho de Deus, mas também sua solene
responsabilidade.

REGRA 8

A história da igreja é importante, mas não decisiva na


interpretação das Escrituras.

Eis um corolário desta regra: “A igreja não determina o que a


Bíblia ensina; a Bíblia determina o que a igreja ensina”.

REGRA 9

As promessas de Deus na Bíblia toda estão disponíveis ao


Espírito Santo a favor dos crentes de todas as gerações.

A precaução consiste em garantir que você dê tempo e


oração suficientes para tornar a promessa uma convicção em sua
alma, de que é verdadeiramente isso que Deus quer.

PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO.

São os que tratam do texto propriamente dito. Estabelecem


as regras básicas para o entendimento das palavras e sentenças
da passagem em estudo.

REGRA 10

As Escrituras têm somente um sentido, que deve ser tomado


literalmente ou figuradamente se não fizer sentido.

126
Observação: para interpretação literal, responda
sinceramente estas perguntas:

a) Porei em dúvida que esta passagem é literal porque


não quero obedecê-la?

b) Interpretarei esta passagem figuradamente porque


ela não se enquadra na minha tendência teológica
preconcebida?

REGRA 11

Interprete as palavras no sentido que tinham no tempo do


autor.

Quando você estuda uma palavra em particular, deverá


determinar o seguinte:

a) O uso que dela fez o escritor.

b) Sua relação com o seu contexto imediato.

c) Seu uso corrente na época em que foi escrita.

d) Seu sentido etimológico.

127
REGRA 12

Interprete a palavra em relação à sua sentença e ao seu


contexto.

O contexto nem sempre se acha dentro dos limites do


versículo ou do capítulo. Talvez seja necessário incluir versículos
do capítulo anterior ou posterior.

REGRA 13

Interprete a passagem em harmonia com o seu contexto.

Observação: estas quatro perguntas o ajudarão:

a) Como a passagem se relaciona com o material


circunvizinho?

b) Como se relaciona com o restante do livro?

c) Como se relaciona com a Bíblia como um todo?

d) Como se relaciona com a cultura e com o quadro de


fundo em que foi escrita? (Princípios históricos de
interpretação).

REGRA 14

Quando um objeto inanimado é usado para descrever um ser


vivo, a proposição pode ser considerada figurativa.

128
A aplicação desta regra e seu corolário em seu estudo da
Bíblia virá muito naturalmente. Na maioria das vezes o contexto
lhe dirá imediatamente se um objeto inanimado é usado para
descrever um ser animado, ou como se possuísse vida e ação.

REGRA 15

Quando uma expressão não caracteriza a coisa descrita, a


proposição pode ser considerada figurada.

Em conclusão, observe duas coisas importantes:

a) Uma palavra não pode significar mais de uma coisa


de cada vez. (Não pode ter sentido figurado e literal ao
mesmo tempo).

b) Sempre que possível, a passagem deve ser


interpretada literalmente.

REGRA 16

As principais partes e figuras de uma parábola representam


certas realidades. Considere somente essas principais partes e
figuras quando estiver tirando conclusões.

Quando você interpretar uma parábola, siga este processo:

a) Determine o propósito da parábola.

129
b) Certifique-se de que explica as diferentes partes em
harmonia com o fim principal.

c) Use somente as principais partes da parábola ao


explicar a lição.

Observação: Cada parábola tem um ponto principal de


comparação. Procure relacionar esse ponto com aquilo que o
orador estava ensinando.

REGRA 17

Interprete as palavras dos profetas no seu sentido comum,


literal e histórico, a não ser que o contexto ou a maneira como se
cumpriram indiquem claramente que tem sentido simbólico. O
cumprimento delas pode ser por etapas, cada cumprimento sendo

O cumprimento da primeira etapa é uma garantia do seu


cumprimento total, justamente como o Espírito Santo é o penhor
ou garantia de sua herança em Cristo. Anime-se! Ele veio a
primeira vez, como fora prometido. Também virá a segunda vez,
como foi profetizado.

130
MÓDULO VI

PRINCÍPIOS HISTÓRICOS E TEOLÓGICOS DE INTERPRETAÇÃO.

São os que tratam do substrato ou contexto em que os livros


da Bíblia foram escritos. As situações políticas, econômicas e
culturais, são importantes na consideração do aspecto histórico
do seu estudo da Palavra de Deus.

REGRA 18
Desde que a Escritura originou-se num contexto historio,
somente pode ser compreendida à luz da história bíblica.

Bombardeie esta regra com as seguintes perguntas, e outras:

a) A quem foi escrita a carta (o livro)?

b) Qual foi o quadro de fundo do escritor?

c) Qual foi a experiência ou ocasião que deu origem à


mensagem?

d) Quem são os principais personagens do livro?

131
REGRA 19
Embora a revelação de Deus nas Escrituras seja progressiva,
tanto o Antigo como o Novo Testamento são partes essenciais desta
revelação e formam uma unidade.

A Revelação que Deus faz de si mesmo é progressiva à


medida que você vai lendo a Bíblia, mas o seu caráter é imutável.
O grandioso plano divino de redenção é o mesmo em ambos os
testamentos. Os dois formam um só livro.

REGRA 20

Os fatos ou acontecimentos históricos se tornam símbolos de


verdades espirituais, somente se as Escrituras assim o designarem.

Nossa aplicação é extraída do acontecimento ou fato


histórico, sem alterar o sentido visado no referido ato.

PRINCÍPIOS TEOLÓGICOS DE INTERPRETAÇÃO.

São os que tratam da formação da doutrina cristã. São – por


necessidade – regras “amplas”, pois a doutrina tem de levar em
consideração tudo o que a Bíblia diz sobre dado assunto. Esta
regra desempenha um papel de profunda relevância na obra de
dar forma àquele corpo de crenças a que você chama suas
convicções.

132
REGRA 21

Você precisa compreender gramaticalmente a Bíblia, antes de


compreendê-la teologicamente.

Você terá que compreender o que a passagem diz, antes de


extrair dela quaisquer conclusões doutrinárias.

REGRA 22

Uma doutrina não pode ser considerada bíblica, a não ser que
resuma e inclua tudo o que as Escrituras dizem sobre ela.

É aqui onde um estudo tópico da Bíblia se mostra útil. Você


toma um tema, idéia ou ensinamento e estuda todas as
passagens sobre o assunto, fazendo espécie de estudos paralelos:

a) Paralelos de palavras.

b) Paralelos de idéias.

c) Paralelos de doutrinas (ou doutrinários).

REGRA 23

Quando parecer que duas doutrinas ensinadas na Bíblia são


contraditórias, aceite ambas como escriturísticas, crendo que elas
se explicarão dentro de uma unidade mais elevada.

133
Eis alguns dos conhecidos paradoxos para a mente humana:

a) A Trindade

b) A dual natureza de Cristo.

c) A origem e existência do mal.

d) A soberana eleição de Deus e a responsabilidade do


homem.

Observação: Quando as Escrituras falam com clareza, você


pode falar com clareza. Quando as Escrituras fazem silêncio, você
deve ficar em silêncio. Onde a Bíblia ensina doutrinas
conflitantes, você deve seguir o exemplo dela e sustentar ambas,
mantendo cada uma em perfeito equilíbrio com a outra.

REGRA 24

Um ensinamento simplesmente implícito nas Escrituras pode


ser considerado bíblico quando uma comparação de passagens
correlatas o apóiam.

Exemplo: Dê um raciocínio dedutivo no seu estudo da Bíblia


sem medo. Você faz isso o tempo todo na vida diária.

► Primeira Premissa – O seu diretor de Instituto o quer


como aluno.

► Segunda Premissa – O seu diretor o mantém neste


Instituto particular já faz algum tempo.
134
► Conclusão – O seu diretor quer que você continue
estudando hoje.

Rememore o número de vezes que você deduziu que algo é


verdadeiro com base em certos fatos; ou como alguém deixou
implícito que algo é verdadeiro, embora não o tenha dito
especificamente.

Conclusão:Um dos objetivos deste material é dar-lhe regras


de interpretação simples que o induzam a um programa de
estudo bíblico mais preciso e, conseqüentemente, mais
compensador.

Em pouco tempo estas regras se tornarão quase que uma


segunda natureza em você – algo muito parecido com o toque
das teclas do piano de um pianista consumado.

Estas regras, quando legítimas e precisas, se harmonizam


com o espírito e com o conteúdo daquilo que a Bíblia afirma que
é verdade.

Se achar que é apenas principiante na arte de interpretar e


estudar a Bíblia adequadamente, anime-se a avançar a passos
ousados. Não fixe o olhar nos possíveis erros que cometer, mas,
sim, no Cristo incomparável e no potencial à sua disposição para
conhecê-lo melhor.

135
ATIVIDADES PRÁTICAS À HERMENEUTICA

1. Simbolismo do A.T. Livro: “ A casa de Ouro”.

2. Nomerologia.

3. Deus se arrepende?

4. Ver Ofertas/ Sacrifícios do A.T.

5. Prosperidade na Bíblia – Teologia Deuteronômica: Hoje eu


coloco diante de vós a benção ou a maldição.
Obediência = Bençãos = Prosperidade. Contexto: Peregrinação no
Deserto e Véspera da Conquista de Canaã.

6. Promessas de Deus.

7. O Julgamento do Senhor e a Salvação no seu dia ( Joel 2.21-27).


Instrumentos: gafanhotos, seca e inimigos locais. O motivo: Dois
reinados desastrosos de Acabe e Atalia encheram de Judá de
Idolatria. A nação tinha sido arruinada por estes três inimigos.
Joás tinha acabado de ser coroado (aos sete anos) sob a tutela do
Sumo Sacerdote Joiada. Joel anuncia o castigo, desafia ao
arrependimento (1.14;2.12-16) e depois anuncia a restauração (21-
27).

8. Hiperbole: Salmos 6.6.

9. Jesus realmente foi preparar lugar para nós? ( João 14.2,3).

10. Deus quis matar Moisés por não ter circuncidado seus filhos?
(Êxodo 4.24-26; Genesis 17.10-14). Trata-se de uma passagem
confusa. Alguns pensam que Deus queria matar seus filhos.
Outros acham que se trata de Moisés, por ter negligenciado a
circuncisão e seus filhos. Parece que Zípora não concordava com
a circuncisão. Porém, antes de ir a Faraó, Moisés tinha de resolver
alguns conflitos familiares.

11. O espírito maligno (perturbador) de Saul ( 1 Samuel 16.14; 28.1-


25). Sem sentir a presença do Senhor, talvez ele tenha ficado
136
injurioso ou mal-humorado, o que despertou acesso de ira (!
Samuel 18.10,11). Talvez mo vazio espiritual o deixasse vulnerável à
influência demoníaca (Juízes 9.23, 28).

12. Texto com figuras (Jó 7). Por que Jó foi provado?

13. Somos responsáveis pelos pecados inatos? – Dt 24.16.

14. Erro no texto da Bíblia N.V.I. e Atualizada (Atos 7.14 e Gênesis


46.27).

15. Por que o livro de Ester não usa o nome de Deus?

16. Diferenças genealógicas/ Cristo/ Mateus segue José e Lucas


segue Maria.

17. Como os Sacerdotes se purificaram? Neemias 12.30

18. Texto simbólico (2 Crônicas 10.10,11).

19. Texto alegórico – O cardo mandou dizer ao cedro que lá está...


(2 Crônicas 25.17-20).

20. Buscar a Deus é garantia de prosperidade?

21. Davi tinha o direito de oferecer sacrifícios? (1 Crônicas 16.2)

22. O que havia de errado com o censo de Davi? (1 Crônicas 21).

23. Quem eram os filhos de Deus? (Genesis 6. 1-7)

24. Como entendera tensão entre o espiritual e o pecaminoso?


(Romanos 7. 14-25)

25. Deus seleciona os seus seguidores? (Romanos 8.29,30)

26. Os cristãos controlados pelo Espírito Santo ainda pecam?


(Romanos 8.1-14)

27. Eleição – Deus tem prediletos?

28. Quem assaltou a Arca? ( 1 Reis 8.9 e Exodo 16.32-34)

137
29. Porque chamar Eliseu “ carros de Israel e seus cavaleiros? (2
Reis 13.14)

30. Filipenses 3.3

31. Determinismo. (Apocalipse13.8)

32. 2 Reis 2. 23-24 / Deuteronômio 32.25 / Mateus 5. 38-42.

138
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BENTHO, Esdras Costa. Hermenêutica Fácil e Descomplicada.


CPAD

BERKHOF; Louis; Princípios de Interpretação Bíblica; Editora


Cultura Cristã.

Bíblia Novo Testamento Interlinear; Grego/Português.

CHAMPLIN, Russel N. O Novo Testamento Interpretado


Versículo por Versículo. São Paulo: MILENIUM, 1979.

DIFERENTES VERSÕES DA BÍBLIA.

FEE, Gordon D.; STUART, Douglas; Entendes o que Lês?; Ed.


Vida Nova.

HENRICHSEN, Walter A. Princípios de Interpretação da Bíblia.


MUNDO CRISTÃO.

JUNGES, Nelcindo Nelson. Hermenêutica. Instituto Teológico


Boa Terra.

LUND, E. / NELSON, P. C. Hermenêutica.

MIZUKI, João. Praticant Biblical Hermeneutics por Bernard


Ramm.

--------; Revista Estudos Bíblicos; Métodos para ler a Bíblia; Ed.


Vozes.

VIRKLER, Henry A. Hermenêutica Avançada. VIDA.

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IMAGEM 6 –Pietismo. Acesso em 29 de Maio de 2019.


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