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INTRODUÇÃO

A Hermenêutica é a matéria mais importante no currículo do estudante da Bíblia, pois


um erro de interpretação pode produzir grandes estragos. Earl Radmacher, um
estudioso do assunto disse: “Tendo ensinado e escrito na área de hermenêutica há
quase trinta anos, estou convicto do fato de que não há matéria mais importante no
currículo do seminário para o treinamento nas Escrituras”.

A Hermenêutica Bíblica é a interpretação daquilo que realmente Deus quer revelar


através das Sagradas Escrituras. A missão do intérprete é servir de ponte entre o
Autor do texto e o leitor. É necessário, portanto, total dedicação e esmero a esta tão
séria e especial tarefa. Que este pequeno manual seja um meio eficaz através do
Espírito Santo, de alcançar esta nobre missão.

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HERMENÊUTICA BÍBLICA

“Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação”


(2Pe 1.20).

I) DEFINIÇÕES

1) DO TERMO

O termo “hermenêutica” provém do verbo grego ερμηνευειν - hermēneuein ou


hermenevein e significa “declarar”, “interpretar”, “esclarecer’ e, por último, “traduzir”.
Significa que alguma coisa é “tornada compreensível” ou “levada à compreensão”.
Alguns defendem que o termo deriva do nome do deus da mitologia grega Hermes, o
mensageiro dos deuses, a quem os gregos atribuíam a origem da linguagem e
da escrita e considerado o patrono da comunicação e do entendimento humano.

2) DO CONCEITO

Hermenêutica é um ramo da filosofia que estuda a teoria da interpretação, que pode


referir-se tanto à arte da interpretação, ou a teoria e treino de interpretação. A
hermenêutica tradicional - que inclui Hermenêutica Bíblica - se refere ao estudo da
interpretação de textos escritos, especialmente nas áreas de literatura, religião e
Direito. A Hermenêutica moderna, ou contemporânea, engloba não somente textos
escritos, mas também tudo que há no processo interpretativo. Isso inclui formas
verbais e não-verbais de comunicação, assim como aspectos que afetam a
comunicação, como proposições, pressupostos, o significado e a filosofia da
linguagem.

Há dois tipos de Hermenêutica:

1) GERAL – aplica-se a todos os escritos. É metódico e filosófico;

2) ESPECÍFICA – aplica-se a determinados escritos: proféticos, filosóficos, poéticos,


históricos, etc. Busca regras e soluções.

Como ciência a Hermenêutica enuncia princípio, investiga as leis do pensamento, do sentido do texto e
da linguagem, e classifica seus fatos.

Como arte, ensina como esses princípios devem ser aplicados e comprova a validade deles.

3) HERMENÊUTICA BÍBLICA

Hermenêutica na Bíblia é a compreensão das Escrituras. É a arte que estuda as


Escrituras, o que cada palavra, frase e capítulos significam. Existem muitos textos na
Bíblia difíceis de compreender, por isso a hermenêutica faz-se essencial.

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Em Lc 24.25-28 encontramos a palavra hermenia traduzida para “explicou”, como a
raiz da palavra sendo “hermenêutica”. Sendo assim, hermenêutica é a ciência que
nos ensina os princípios, as leis e métodos de interpretação das Escrituras.
Na Bíblia, o termo é usado em quatro versículos: Lc 24.27; Jo 1.42; 9.7 e Hb 7.2.

4) EXEGESE 1

Exegese é a interpretação profunda de um texto bíblico, jurídico ou literário. A


exegese como todo saber, tem práticas implícitas e intuitivas. Os textos sagrados são
os primeiros dos quais se ocuparam os exegetas na tarefa de interpretar e dar seu
significado. A palavra exegese é oriunda do grego εξηγησιs –
“exegeomai”, “exegesis”: O termo “ex” tem o sentido de retirar, derivar. Veja: ex-trair,
ex-ternar, ex-por e "hegeisthai" o de conduzir, guiar.
Por isso, o termo exegese significa, como interpretação, revelar o sentido de algo
ligado ao mundo do humano, mas a prática se orientou no sentido de reservar a
palavra para a interpretação dos textos bíblicos. Exegese, portanto, é a denominação
que se confere à interpretação das Sagradas Escrituras desde o século II da Era
Cristã. Ser exegeta é contextualizar o que foi escrito com a cultura da época e extrair
os princípios morais para o tempo presente.

Exegese - É a aplicação das regras estabelecidas pela hermenêutica.

Resumindo, vejamos algumas definições importantes:


Hermenêutica: Explicar, interpretar ou expor. O termo Hermenêutica, portanto,
descreve simplesmente a prática da interpretação.
Exegese: Pensar, interpretar, arrancar para fora do texto. Não se trata de pôr algo no
texto (eis-egesis) e sim de tirar o que já existe no texto (ex-egesis).
Paráfrase: Tradução livre ou solta; o objetivo é traduzir a ideia e não as palavras.
Análise Léxica: é a forma de verificar determinado alfabeto. Quando analisamos uma
palavra, podemos definir através da análise léxica se existe ou não
algum caractere que não faz parte do nosso alfabeto. O analisador léxico é a primeira
etapa de um compilador, logo após virá a análise sintática.
Análise sintática: tem como objetivo examinar a estrutura de um período e das
orações gramaticais que compõem um período.
Variantes: Diferenças encontradas nas diferentes cópias de um mesmo texto,
mediante comparação. Elas atestam o grau de pureza de um escrito.
Versão: Tradução da língua original para outra língua.
“Sola Scriptura”: vem do latim “sola”, tem a idéia de “somente”, “chão”, “base”, e
“scriptura” significa “escritos” – em referência às Escrituras. Sola Scriptura significa
que somente as Escrituras são autoridade de fé e prática do cristão (2Tm 3.16).

1
Estudaremos “Exegese” isoladamente, como disciplina.
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II) A IMPORTÂNCIA DA HERMENÊUTICA BÍBLICA

A HERMENÊUTICA SACRA ou BÍBLICA é o estudo metódico dos princípios e regras


de interpretação das Escrituras Sagradas do Antigo e Novo Testamento. Não se pode
falar de Hermenêutica separada para o Antigo e o Novo Testamento apesar de sua
forma diferente, linguagem e condição histórica. Um não pode ser interpretado sem o
outro. O Antigo Testamento não pode ser conhecido sem o Novo Testamento e é
impossível conhecer o Novo Testamento sem a ajuda do Antigo Testamento. A Bíblia
é uma unidade divina.

A grande diversidade de circunstâncias que ocorre na composição da Bíblia exige do


expositor um estudo prolongado e sempre de acordo com conhecimento que siga os
princípios da Hermenêutica.

Entre os autores da Bíblia, os homens santos de Deus, que falaram inspirados pelo
Espírito Santo, encontramos pessoas de várias classes e nível de educação e
instrução. Deste grupo, alguns formularam leis, outras escreveram histórias, salmos,
hinos, provérbios, poesias, outras profecias, outras biografias e até cartas, como os
apóstolos. Em relação ao tempo, o período em que a Bíblia foi escrita abrange um
período de 1500 anos. Em relação ao lugar, os escritos foram elaborados em pontos
bem distantes.

Os autores bíblicos foram inspirados pelo Espírito Santo, mas não de tal maneira que
se fizesse desnecessário examinar e estudar as Escrituras com cuidado para sua
interpretação. Não podemos desprezar ou fazer pouco caso de considerações
importantes em nosso estudo bíblico como pessoas, temas, épocas, lugares,
civilizações, condições políticas e espirituais, etc.

Essas circunstâncias, naturalmente, têm exercido uma grande influência, não sobre a
verdade divina expressa na linguagem bíblica, mas sobre a linguagem em si mesma;
é com tal assunto que a Hermenêutica se preocupa, cujo conhecimento é muito
necessário para o pregador, intérprete ou expositor bíblico entender.

Certos homens estudados e formados em matérias e cursos seculares, mas que


conhecem a Bíblia somente superficialmente, consideram a linguagem das Escrituras
muito chocante e incompatível com o ideal imaginário deles sobre a divina revelação.
Tudo porque a Bíblia contém tão grande abundância de toda qualidade de palavras e
expressões figuradas, simbólicas, típicas, literárias, etc. Algum conhecimento de
Hermenêutica libertá-los-ia de tais dificuldades e os convenceria que tal linguagem é
por excelência divina e também a mais científica e literária.

Deus, na inspiração das Escrituras, utiliza-se do Seu “Dicionário” e leva-nos ao


invisível por meio do que é visível, explica o subjetivo pelo objetivo, o desconhecido
pelo conhecido e, às vezes, o espiritual pelo natural. Para Deus agir dessa maneira,
não somente era natural, mas absolutamente necessário em vista de nossa condição
atual, sendo que as palavras exclusivamente espirituais e abstratas falam pouco ou
nada ao coração do homem natural. Em 1Coríntios 2.14, lemos: “Ora, o homem

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natural não pode aceitar as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não
pode entender porque elas se discernem espiritualmente”.

Quase não há um fato existente, relacionado à mente e verdades espirituais, que


possa ser comunicado sem a ajuda da linguagem de “objetos visíveis”. Deus sabe as
limitações de nossa mente. Ele leva em conta esta condição humana. Não devemos,
pois, nos admirar de que Ele nos ensina e esclarece as coisas espirituais fazendo uso
de figuras, objetos, símbolos, parábolas, tipos, etc., coisas conhecidas à nossa mente
humana. Basta dizer aqui que para um claro entendimento da Bíblia é necessário uma
meditação e estudo profundo deste Livro.

Finalmente, vamos lembrar que as Escrituras, tratando de temas variados que


abrangem céus e terra, tempo e eternidade, o visível e o invisível, o material e o
espiritual, foram escritas por homens de tão diferentes características em épocas
remotas, países distantes um dos outros, no meio de povos de costumes tão diversos
e numa linguagem típica das regiões e circunstâncias de seus autores.

Para compreendermos bem o que a Bíblia tem para nos dizer, e não errarmos em
nossos sermões precisamos de todo o conselho e ajuda que um estudo de
Hermenêutica pode nos oferecer.

III) FINALIDADE DA HERMENÊUTICA BÍBLICA

A finalidade da Hermenêutica é revelar o sentido da verdade bíblica. Isto nos leva à


pergunta: o que é a verdade?

A VERDADE ABSOLUTA - A Verdade absoluta está em Deus

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Pela REVELAÇÃO a Verdade veio à mente do escritor numa forma antropomórfica

Pela INSPIRAÇÃO essa revelação tornou-se Escritura que é infalível e inerrante.

Pela PRESERVAÇÃO temos os presentes textos que devem ser comparados para
serem exatos em sua essência

Pela TRADUÇÃO obtemos nossas versões no vernáculo que nós tentamos tornar
essencialmente fiéis

Pela INTERPRETAÇÃO a revelação vem à mente dos leitores apresentando a


verdade original que veio da mente de Deus.

O ABISMO DA INTERPRETAÇÃO
O objetivo principal da interpretação bíblica, portanto, é descobrir o sentido original
que o texto tinha para o autor e seus leitores. Precisamos, hoje, transpor o que
chamamos de ABISMO DA INTERPRETAÇÃO.

ORIGINAIS HOJE

Cultura

Tempo

Geografia

Idioma

• Será que esses detalhes são observados quando interpretamos a Bíblia?


• Todo texto bíblico foi escrito por alguém, para ouvintes específicos, que se
encontravam num contexto histórico e geográfico específico e com um objetivo
específico.
• Cada passagem bíblica era aprendida ou entendida, tendo em mente seu contexto.
• O conteúdo da Bíblia foi afetado e influenciado pelo meio cultural em que cada autor
humano escreveu.

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O ABISMO CULTURAL - A cultura é um conjunto de comportamentos, crenças,
valores morais, espirituais e materiais característicos de uma sociedade.
Descrevemos a importância do conhecimento do contexto cultural: “Dada a existência
de um abismo cultural entre nossa era e os tempos bíblicos - e como o nosso objetivo
na interpretação bíblica é descobrir o sentido original das Escrituras - é imperativo que
nos familiarizemos com a cultura e os costumes de então”.

CULTURA ÁREAS

Política

Hebraica Religião

Egípcia Economia

Assíria Leis

Babilônica Arquitetura

Persa Vestimentas

Grega Vida doméstica

Romana Organização militar

Estrutura social

Exercício: Uma grande dificuldade dos leitores da Bíblia é saber se as práticas de


cada cultura devem ser repetidas ainda hoje, ou se foram apenas temporárias. No
quadro abaixo, coloque P se o mandamento for permanente e T se for temporário, ou
seja, somente para a época em que foi escrito.

1 Cumprimentar uns aos outros com ósculo santo (Rm 16.16)

2 Lavar os pés uns dos outros (Jo 13.14)

3 Proibir as mulheres de falar na igreja (1Co 14.34)

4 Cantar salmos, hinos e cânticos espirituais (Cl 3.16)

5 Celebrar a ceia do Senhor (1Co 11.24)

6 Ungir os enfermos com óleo (Tg 5.14)

7 Abster-se de relações sexuais ilícitas (At 15.29)

8 Ser circuncidado (At 15.5)

9 Levantar as mãos ao orar (1Tm 2.8)

10 Dizer “amém” ao final das orações (1Co 14.16)

11 Lançar sortes para distribuição de cargos na igreja (At 1.26)

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O ABISMO DO TEMPO - A Bíblia começou a ser escrita há aproximadamente 1.500
anos antes de Cristo, mas retrata aos primórdios da civilização. Por volta do ano 400
a.C., foi escrito o último livro do AT – Malaquias. Já o NT teve o seu primeiro livro
escrito por volta do ano de 48 d.C. e o último, perto do ano 96 d.C. Sendo assim, o
leitor da Bíblia deve estar ciente de que se trata de um documento antigo, escrito em
épocas específicas, com propósitos específicos e para grupos específicos. Não
podemos deixar esse detalhe de lado.

O ABISMO GEOGRÁFICO - A região onde foi realizada a história bíblica, também


conhecida como crescente fértil, é marcada de contrastes e muita beleza. Nela temos
desertos, vales, montes, rios e mares. Parte da história foi no deserto, numa região
seca. Outra parte foi realizada nos montes e vales. Cada lugar servia de inspiração
para o escritor, que usava as características da região para enriquecer aquilo que
estava querendo dizer. O estudante da Bíblia precisa ter estes mapas em mãos para
enriquecer o que está sendo ministrado.

O ABISMO LITERÁRIO - A Bíblia foi escrita originalmente em hebraico, aramaico e


grego koiné. Toda tradução precisa ser bem fiel aos originais para trazermos o real
significado do texto. Hoje temos várias versões diferentes em português. Com a
descoberta de manuscritos antigos e de estudos, as versões sofreram modificações.
A versão em português, feita por João Ferreira de Almeida, já sofreu inúmeras
alterações desde a sua primeira tradução. Fazer uma interpretação baseada apenas
na tradução da Bíblia em português, sem nenhum outro critério de investigação,
poderá resultar em uma verdadeira catástrofe teológica. Para transpormos o abismo
do idioma, precisamos considerar o significado que as palavras tinham no tempo do
autor, pois elas mudam de significado com o passar do tempo.

IV) AS CARACTERÍSTICAS DO BOM INTÉRPRETE

O QUE TEM GERADO INTERPRETAÇÕES ERRADAS?

✓ Aceitação cega de uma explicação sem investigações.


✓ Influência de programas e livros evangélicos quaisquer.
✓ Colocação da experiência acima das Escrituras.
✓ Falta de conhecimento do contexto histórico-cultural.
✓ Falta de conhecimento e aplicação de regras de interpretação.
✓ Falta de conhecimento da revelação progressiva de Deus.

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AS CARACTERÍSTICAS DO BOM INTÉRPRETE.

✓ É uma pessoa regenerada - A fé salvadora e o Espírito Santo nos são


necessários para compreendermos e interpretarmos bem as Escrituras (Jo 16.13; 1Co
2.14). O Espírito de Deus ilumina o texto principalmente no sentido de aplicá-lo aos
nossos corações.

✓ Tem um bom raciocínio, paciência e perseverança - Precisamos nos


esforçar, na dependência do Espírito, para compreendermos a Palavra de Deus. Por
causa da nossa natureza pecaminosa, pelos resultados da queda, nunca vamos
conseguir entender todo o conteúdo bíblico. Nunca vamos concordar totalmente.

✓ Conhece a história bíblica e a história geral - O conhecimento da história


bíblica é uma ferramenta necessária para aqueles que querem interpretar a Bíblia
corretamente. Há a necessidade de comparação de textos e de doutrinas. Para que
isso aconteça, precisamos ler a Bíblia uma ou mais vezes ao ano e ter uma visão
panorâmica de cada livro.

✓ Sabe pesquisar usando as línguas originais da Bíblia.

✓ Investe em livros.

• Várias traduções da Bíblia

• Comentários Bíblicos

• Dicionários

• Chave Bíblica

• Mapas

• Programas bíblicos para computador

Qualificação Intelectual – O intérprete da Bíblia tem de ter mente sadia, bem como
equilibrada; Percepção clara e rápida que se tem dos fatos; agudeza de intelecto;
discernir imediatamente a conexão de pensamento e a associação de idéias. Ser
competente para analisar, examinar e comparar. Ter imaginação, precisa viajar,
porém, controlada, isto é, deve ter a capacidade para reviver cenas antigas sem
incorrer em falsas interpretações.

Qualificação Educacional – Além de uma mente equilibrada, senso concreto e


agudeza de intelecto, o intérprete das Escrituras Sagradas deve relacionar-se
detalhadamente com:

• GEOGRAFIA – da Palestina e regiões adjacentes. Entender o caráter físico do


mundo bíblico;

• HISTÓRIA – conhecer fatos históricos sobre nações, como o Egito, Assíria,


Babilônia, Pérsia, etc., tem lançado muita luz nas narrativas bíblicas;
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• CRONOLOGIA – consiste na divisão das grandes eras;

• ANTIGUIDADES – hábitos, costumes e artes dos antigos, não só do povo de Israel


como também de outros povos antigos;

• CIÊNCIAS NATURAIS – geologia, minerologia, astronomia devem ser conhecidas,


pois foram frequentemente mencionadas ou feitas alusões pelos escritores bíblicos.

• FILOSOFIA – conhecer o sistema de pensamentos especulativos;

• LÍNGUAS SACRAS – grego, hebraico, aramaico, foram as línguas originais em que


a Bíblia foi escrita; ter noções fundamentais será muito útil;

• LITERATURA EM GERAL – o estudante da Bíblia deve conhecer de tudo um pouco


para poder entender e interpretar os textos bíblicos como convém. Deve ser uma
pessoa bem informada.

Qualificação Espiritual – Esta qualificação, em parte é um dom de Deus, e em parte


é adquirida pelo exegeta. Este deve desejar o conhecimento da verdade, e uma vez
conhecida esta verdade, aceita-la, aplica-la em sua vida e passar a outros.

• Espírito Respeitoso – um filho desrespeitoso, instável e frívolo, que caso fará dos
conselhos, avisos e palavras de seu pai? Sigamos o padrão dos escritores da Bíblia
(1Ts 2.13; Is 66.2; Sl 119.18).

• Espírito Dócil – o discípulo humilde e dócil verá e entenderá a verdade, porque


Deus promete “guiar os humildes na justiça e ensinar aos mansos o seu caminho” (Sl
25.9).

• Ser amante de verdade – para o estudo das Sagradas Escrituras é necessário um


coração desejoso de conhecer a verdade. Por que quem se dedicará a busca
aprender o que não aprecia e estima? Leia 1Pe 2.1, 2; Ef 1.17; Sl 25.14.

• Ser paciente no estudo – para tudo é necessário ser paciente. Quando Jesus
disse: “Examinai as Escrituras”, entendemos como se fosse comparado a um mineiro
que cava e revolve a terra, buscando com diligência o metal precioso, ocupado numa
obra que requer paciência. As Escrituras, necessariamente, devem ser ricas em
conteúdo e inesgotáveis, como as entranhas da terra. Da mesma maneira, sem
dúvida, Deus propôs que em algumas partes as Escrituras fossem profundas e de
difícil interpretação. Por outro lado, o fruto da paciência é deleitoso e quanto mais
paciência se tiver empregado para encontrar um tesouro, tanto mais se aprecia e
tanto mais delícia produz. Deve-se, portanto, levar o estudo das Escrituras com
paciência como todas as coisas da vida. Seja como os crentes de Beréia (At 7.11).

• Prudência – para saber iniciar a leitura pelo mais simples e prosseguir para o mais
difícil a fim de tirar proveito e não deixar a Palavra a um lado por incompreensível,
como têm feito alguns imprudentes (Mc 4.34; Lc 24.45; Tg 1.5; Sl 119.18, 26, 34, 37,
99).

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Alguns requisitos para o intérprete das Escrituras:

✓ Ser salvo: “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de


Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se
discernem espiritualmente (1Co 2.14).
✓ Estar em harmonia com o autor da Bíblia.
✓ Crer na inspiração plenária e na inerrância das Escrituras (2Pe 1.21).
✓ Ter convicção profética, “aquele que fala por Deus ao homem, ou mais
especificamente, aquele que traz as palavras de Deus ao homem” (Ex 7.1; Dt 18.18;
Is 8.11).
✓ Ter humildade, sabendo que todo o conhecimento procede Deus e nos é
confirmado pelo Espirito Santo (Jo 14.26; 1Ts 2.13; 1Jo 5.9-12; 1Co 2.7-13).
✓ Ler (estudar, conferir) diariamente: “Ora, estes (os bereanos) foram mais
nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a
palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim” (At 17.11).
✓ Interpretar literalmente (em harmonia com contexto e passagens
correlatas): “Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de
particular interpretação” (2Pe 1.20).
✓ Saber dividir as Escrituras (que dispensação? dirigido a quem? dito por quem?
etc.). “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se
envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2Tm 2.15).
✓ Comparar Escritura com Escritura: “As quais também falamos, não com
palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando
as coisas espirituais com as espirituais” (1Co 2.13).
✓ Aplicar (pôr em prática) e pregar: “Então Filipe, abrindo a sua boca, e
começando nesta Escritura, lhe anunciou a Jesus” (At 8.35).

V) INTERPRETANDO AS SAGRADAS ESCRITURAS

REGRA FUNDAMENTAL

“A Escritura é explicada pela Escritura”, ou seja,

“A Bíblia interpreta a própria Bíblia”.

As Escrituras são seu melhor intérprete. Compreendemos que a Palavra de Deus


deve ser interpretada comparando uma parte com outra, comparando o espiritual com
o espiritual (1Co 2.13). Isto quer dizer que se deve usar a Escritura de tal modo que
venha a ser ela o seu próprio intérprete.

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É de suma necessidade observar a referida REGRA FUNDAMENTAL: “A BÍBLIA É
SEU PRÓRPIO INTÉRPRETE” se não quisermos incorrer em erros e atrair sobre nós
a maldição que a própria Escritura Ap 22.18, 19 pronuncia contra os falsificadores da
Palavra. Chamamos esta de REGRA FUNDAMENTAL porque desta se desprendem
outras várias que, como veremos, dela nascem naturalmente.

Primeira Regra
Os escritores das Sagradas Escrituras, como já estudamos, escreveram com o
objetivo de as fazerem compreensíveis. Por conseguinte, deviam ter empregado
palavras conhecidas quando o fizeram, dando-lhes o significado que geralmente
tinham. Assim, o primeiro cuidado para a interpretação e reta compreensão das
Sagradas Escrituras deve se averiguar e determinar qual teria sido esse sentimento
usual e ordinário.

Será conveniente repetir que além do auxílio divino, existem outros modos de se
proceder que nenhum leitor da Bíblia deve ignorar, sendo necessário ter sempre em
mente o PRINCÍPIO FUNDAMENTAL de que o Livro há de ser o seu próprio
intérprete e que deste princípio se derivam os outros, aos quais chamamos de regras
ou pautas de interpretação.

E a primeira destas regras diz:

É PRECISO, O QUANTO SEJA POSSÍVEL, TOMAR AS PALAVRAS EM SEU


SENTIDO USUAL E COMUM.

Esta é uma regra natural e simples, porém de muita importância. Pois, ignorando ou
violando-a, em muitas partes das Escrituras não terá outro sentido que aquele que
queira conceder-lhe o capricho humano. Por exemplo, houve quem imaginasse que
as ovelhas e os bois que menciona o Salmo 8 eram os crentes, enquanto que as aves
e os peixes eram os incrédulos, donde se concluía, em consequência que todos os
homens, queiram ou não, estão submetidos ao poder de Cristo. Se tivesse levado em
conta o sentido usual e comum das palavras (como diz a regra no 1), não teria caído
em semelhante erro.

OBS: Nem sempre o sentido usual e comum é no sentido literal; Ou seja, o dever de
tomar as palavras e frases em seu sentido comum e natural não significa que sempre
deve tomar-se ao “pé da letra”. Assim como cada idioma tem seus próprios modos e
peculiaridades de expressões próprias e peculiares, pois foi originalmente escrita em
hebraico, grego e aramaico.

Para melhor compreensão desta regra, mais para a frente do nosso estudo de
HERMENÊUTICA estaremos estudando figuras retóricas, símiles, parábolas e
expressões simbólicas. Estudaremos também os Hebraismos (expressões peculiares
do idioma hebraico).

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EXEMPLOS:

* Gn 6.12 – tomando aqui as palavras “carne” e “caminho” em sentido literal, o texto


perde o significado por completo. Porém, tomado em seu sentido, comum, usando-se
como figuras, isto é CARNE em sentido de PESSOA e CAMINHO no sentido de
COSTUMES, MODO DE PROCEDER ou RELIGIÃO, já temos um significado
terminante, dizendo-nos que toda pessoa havia se corrompido em seus costumes
(compare Gn 3.12).

* Lc 19.10 – devemos entender que o “PERDIDO”, é o homem perdido no pecado.

* Lc 14.26 – devemos entender que o tema “ABORRECER” refere-se a amar menos


aos outros de que a Jesus. Para melhor compreensão leia Mt 10.37;

* Cl 2.14 – devemos entender “DÍVIDA” como o pecado que adquirimos como


descendentes de Adão, à qual Jesus pagou, dando sua vida por nós.

Pelos exemplos citados pode-se compreender a grande necessidade de nos


familiarizarmos com as figuras e modos próprios e peculiares da linguagem bíblica.
Esta familiaridade se adquire, desde logo, por um estudo da própria Escritura. Porém,
para consegui-la com maior brevidade, conviria ter um breve tratado especial.

Primeira Regra

É PRECISO, O QUANTO SEJA


POSSÍVEL, TOMAR AS PALAVRAS EM
SEU SENTIDO USUAL E COMUM.

Segunda Regra

É DE TODO NECESSÁRIO TOMAR AS PALAVRAS NO SENTIDO QUE INDICA O


CONJUNTO DA FRASE

Na linguagem bíblica, como em outra qualquer, existem palavras que variam muito
em seu significado, segundo o sentido da frase ou argumento em que ocorrem. É
necessário, portanto, averiguar e determinar sempre qual seja o pensamento especial
que o escritor se propõe a expressar, e assim, tomando por guia este pensamento,
poder-se-á determinar o sentido positivo da palavra que apresenta dificuldade.

UNIVERSIDADE DO REINO Hermenêutica Bíblica 15


Vejamos alguns exemplos, para compreendermos como varia, segundo a frase, texto
ou versículo, o significado de algumas palavras muito importantes, acentuando assim
a importância desta regra:

* Fé – normalmente significa confiança. Mas em Gl 1.23 vemos claramente que FÉ,


aqui significa crença, ou seja, a doutrina do Evangelho.

* Salvação, salvar – normalmente estas palavras são usadas para mostrar a


salvação do pecado com suas consequências. Mas em At 7.25, vemos “SALVAR”
com o significado de liberdade temporal, através de Moisés;

* Graças – seu significado mais comum é FAVOR. Mas em Hb 13.9, vemos que
GRAÇA significa as DOUTRINAS DO EVANGELHO.

* Carne – Ez 36.26 significa “terno, dócil”; Ef 2.3 significa nossos desejos sensuais;
1Tm 3.16 significa “forma humana”.

Como facilmente se compreende, esta regra tem importância especial quando se trata
de determinar se as palavras devem ser tomadas no sentido literal ou figurativo. Para
não incorrer em erros é de grande importância deixar-se guiar pelo pensamento do
escritor e tomar as palavras no sentido que o conjunto do versículo indica.

EXEMPLOS:

Mt 26.26 – o PÃO representa o corpo de Jesus;

Mt 16.19 – as CHAVES simbolizam autoridade.

Segunda Regra:

NECESSÁRIO TOMAR AS PALAVRAS NO


SENTIDO QUE INDICA O CONJUNTO DA
FRASE

Terceira Regra
A terceira regra da Hermenêutica diz que devemos:

INTERPRETAR O TEXTO EM CONFORMIDADE COM O CONTEXTO

Ou seja, é necessário considerar os versículos que antecedem o texto bem como os


versículos que se seguem ao texto que se estuda. Começando a leitura mais acima e
continuando até mais abaixo, tornará mais claro o versículo em foco. Temos que
determinar em que sentido a palavra está sendo usada; se num sentido geral ou
particular; literal ou figurado. Estes significados obscuros são esclarecidos pelo
UNIVERSIDADE DO REINO Hermenêutica Bíblica 16
contexto. O contexto determina o uso correto das palavras. Isto em razão das
palavras mudarem de sentido de acordo com sua aplicação.

EXEMPLO: Em Ef 3.4 a palavra MINISTÉRIO é explicada pelos versículos anteriores


e posteriores, significando a participação dos gentios aos benefícios do Evangelho.
Em Gálatas 4.3, 9-11, a palavra RUDIMENTOS significa as práticas dos costumes
judaicos. Assim, vemos que se procurarmos observar o contexto das palavras
bíblicas, certamente elas adquirirão um sentido um pouco diferente, o que talvez
usemos normalmente.

1) O estudante deve tomar cuidado em saber com qual sentido o autor fez uso da
palavra e não entendê-las simplesmente dentro da própria experiência. Exemplo:
palavra PAI para o autor bíblico pode ter o sentido de amor e respeito, ao passo que
para o leitor pode ter o sentido de medo e ódio (pois teve um pai carrasco). São
experiências diferentes.

Veja também, o contraste de interpretação que vemos em João 3.16 (Por que Deus
amou o mundo...) e 1João 2.15 (Não ameis o mundo...). Qual o sentido as palavras
imprimem ao termo “MUNDO”? Obviamente, no primeiro exemplo vemos que Deus
amou AS PESSOAS DO MUNDO; já no segundo exemplo, somos exortados a não
amar O PECADO QUE TOMA CONTA DO MUNDO EM QUE VIVEMOS. Entendeu?

2) Uma palavra só pode ter significado no contexto em que ocorre, isto é, não é o
mesmo significado em TODAS as passagens bíblicas em que o encontramos.

EXEMPLO: A palavra CARNE tem vários sentidos no contexto bíblico:

a) Parte sólida do corpo, exceto os ossos (1Co 15.39; Lc 24.39);

b) Toda a substância do corpo (geral) - At 2.26; Ef 2.15;

c) A natureza animal – (sensual) – do homem (Jo 1.13; Rm 10.18);

d) A natureza humana dominada pelo pecado – sede e veículo dos desejos


pecaminosos (Rm 7.25; 8.4-9; Gl 5.16, 17).

Se aplicarmos tudo isso em Jo 6.53, estaremos atribuindo o pecado num sentido


ético, a Cristo (o que seria um grande absurdo).

3) É possível reunir vários significados de uma palavra, resultando uma unidade


maior. Isto é possível em 3 aspectos:

a) Palavras usadas em um sentido geral que permitem incluir um significado


particular. Exemplo: Jo 20.21: "Paz seja convosco”. Podemos entender aqui: paz com
Deus, com o próximo e paz de consciência, isto é, paz consigo mesmo. Uma palavra
num sentido geral, incluindo um sentido particular.

b) O uso especial de uma palavra pode incluir outro sentido, desde que não entre em
conflito com o propósito e o contexto.

EXEMPLO:

UNIVERSIDADE DO REINO Hermenêutica Bíblica 17


Jo 1.29: “Eis o Cordeiro de Deus, que TIRA o pecado do mundo”. O termo original
grego da palavra “TIRA” tem dois significados “erguer, levar”. Os dois sentidos dão
força à ideia, entendendo que para LEVAR é necessário ERGUER, resultando num
“TIRAR”.

c) O autor pode fazer emprego do termo num sentido mais abundante, indicando mais
do que a palavra em si mesma expressa.

EXEMPLO: Mt 6.11: “O PÃO nosso de cada dia...”. PÃO representa aqui, tudo o que
for necessário para a vida. Mt 5.21. “Não matarás”. Este mandamento proíbe não
apenas a morte pelo homicídio, mas também pela ira, ódio e crueldade (interpretação
dada pelo próprio Jesus).

4) Se uma palavra for usada mais de uma vez dentro da mesma frase, a suposição
natural é que tem sempre o mesmo sentido.

Um autor não faz uso de uma palavra no mesmo texto com mais de um significado
porque a matéria ficaria confusa e a sua mensagem não seria entendida. MAS,
APESAR DISSO, HÁ EXCEÇÕES. Por exemplo: Mt 8.22 – Deixar os mortos sepultar
os seus próprios mortos.

2Co 5.21 – Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós.

5) O significado da palavra é também, muitas vezes, determinado pelo raciocínio geral


ou pelas referências do contexto.

Salmo 7.8 – “Julga-me, Senhor, conforme a minha justiça”. Isto significa, conforme a
sua inocência diante das calúnias de Cuxe, o benjamita. A palavra “justo” ou “mais
justo” aplica-se até mesmo a homens maus – Veja os exemplos abaixo:

• 1Rs 2.32 – O caso de Joabe por ter matado Abner e Amasa;

• 2Sm 4.11 – Isbosete, inimigo de Davi, é chamado de justo (ou seja, inocente);

• Ez 16.52 – Sodoma e Samaria são declaradas mais justas (inocentes) do que


Jerusalém.

• Lc 16 – o mordomo infiel é chamado de prudente;

• Jo 9.3 – “Nem este pecou nem seus pais”

• Tg 5.14 – a cura que se refere é para o corpo e não para a alma, sendo falha a
doutrina errônea da extrema unção.

6) O contexto ou disposição geral de uma passagem pode mesmo exigir que as


palavras sejam compreendidas num sentido verdadeiramente oposto ao natural (é a
frase irônica):

• 1Rs 22.15 – Micaías sendo consultado pelo rei quanto à guerra;

• 1Rs 18.27 – Elias zombando dos profetas de Baal;

• Jz 10.14 – Deus zombando dos filhos idólatras de Israel;


UNIVERSIDADE DO REINO Hermenêutica Bíblica 18
• Mc 7.9 – Jesus zombando da tradição dos fariseus;

• 1Co 7.8 – Paulo zombando da jactância (orgulho) dos coríntios.

7) O parêntese é a interrupção d um raciocínio. É como se o raciocínio fosse retirado


da linha reta. Quando encontramos um texto com parêntese curto, naturalmente não
haverá muita dificuldade, como em At 1.15. O mesmo, porém, já não acontece com o
parêntese visto em (Ef 3.2 e 4.1) e Fp 1.27 a 2.16. Quando o parêntese for curto,
praticamente inexiste a interrupção do raciocínio.

Terceira Regra:

INTERPRETAR
O TEXTO
EM CONFORMIDADE
COM O CONTEXTO

Quarta Regra

CONSIDERAR O OBJETIVO OU O PLANO GERAL DO LIVRO

Uma vez alcançado este, pode-se aclarar os pontos obscuros, como também explicar
certos textos aparentemente contraditórios.

EXEMPLO:

Rm 14.5 – é permitida aos judeus a observância dos dias.

Gl 4.10 – proíbe aos gentios a mesma observância.

Qual a explicação? Em Romanos, Paulo escreve aos judeus que haviam recebido
recomendações da lei para fazerem a observância e tinham dificuldades para deixa-
los de lado. Já em Gálatas, Paulo escreve aos gentios que estavam recebendo a
influência dos judaizantes sobre a necessidade de observar os dias para receber a
salvação.

Como explicar a aparente discrepância entre Paulo, na carta aos Romanos, e Tiago?
Paulo fala da justificação pela fé e Tiago fala da justificação pelas obras. O alvo de
Paulo, em Romanos, é mostrar a justificação do homem diante de Deus; e o alvo de
Tiago é mostrar que diante dos homens o homem é justificado unicamente pelas
obras.

Considerando o plano dos escritores, devemos observar:

UNIVERSIDADE DO REINO Hermenêutica Bíblica 19


1) Às vezes o objetivo do livro é mencionado apenas em certas partes dele.

EXEMPLOS:

* O alvo de toda a Bíblia: Rm 15.4 e 2Tm 3.16, 17

* O alvo dos Evangelhos: Jo 20.31

* O alvo dos Provérbios: Pv 1.1-6

* O alvo de 1João: 1Jo 2.1

* O alvo de 2Pedro: 2Pe 3.2

* O alvo de Judas: Jd 3 e 4

* O alvo de Romanos: Rm 3.28

2) O desígnio de algumas partes da Bíblia depende da ocasião em que foram


escritas. Exemplos:

* O Salmo 90 é uma oração de Moisés feita quando o povo, na peregrinação pelo


deserto, errou o caminho e estava voltando.

* Os Salmos 120 a 134 são conhecidos como o “Cântico dos degraus” e eram
cantados pelos judeus por ocasião da viagem que anualmente faziam a Jerusalém.

* O alvo de Colossenses, Efésios e Gálatas é esclarecer certas doutrinas do


Evangelho, em tempos de erro dos judaizantes. Estes livros estão relacionados com
Atos 15, onde tais pontos são discutidos.

3) Para descobrir o plano de um livro é necessário fazer um estudo repetido e


contínuo do próprio livro.

Considerando algumas palavras de Cristo em Mt 19.17: “Se queres entrar na vida


guarda os mandamentos”. Estaria Jesus ensinando a salvação pelas obras?
Naturalmente que o alvo de Cristo era humilhar e censurar os supostos praticantes da
lei.

4) Algumas vezes é difícil dizer se deve ser considerado o plano imediato da


passagem ou o geral do livro.

• Conseguiremos o alvo do livro de Gênesis através de um estudo diligente. Ele


consiste em dez seções que se iniciam com o título “são estas as gerações”, sendo
precedidas pela história da criação no texto compreendido entre os capítulos 1.1 a
2.3. Aqui o plano parece ser a criação miraculosa da terra e do céu seguida do
desenvolvimento da história humana.

• Em Lc 15, encontramos as três parábolas dirigidas aos fariseus que censuravam


Jesus por receber os pecadores. Com respeito à parábola do filho pródigo, quem
representa o filho mais moço e quem representa o filho mais velho? No plano
imediato, o filho mais velho representa o fariseu e o mais novo representa o pecado;

UNIVERSIDADE DO REINO Hermenêutica Bíblica 20


no plano geral do Evangelho, o filho mais velho representa o judeu e o mais novo
representa os gentios.

• O descanso visto em Hb 4.1 refere-se ao sábado, ao céu ou a paz que nos traz o
Evangelho? Aqui há necessidade de conhecer o argumento geral da epístola.

Quarta Regra:

CONSIDERAR O
OBJETIVO OU O
PLANO GERAL DO
LIVRO

Quinta Regra

É NECESSÁRIO CONSULTAR AS PASSAGENS PARALELAS

Isto quer dizer que, aquelas passagens que estão relacionadas com outras, tratando,
por assim dizer, do mesmo assunto, devem ser consultadas.

O grande valor desta regra reside no fato de compararmos a Escritura com a própria
Escritura. Esta regra ajuda o aclaramento de doutrinas e práticas cristãs, fixando o
ensino geral quanto à fé e conduta.

Com passagens paralelas entendemos melhor o texto, pois uma passagem faz
referência à outra, que tenham entre si alguma relação ou tratem de um modo ou
outro de um mesmo assunto.

Não é preciso apelar para tais paralelos somente, para aclarar passagens obscuras,
mas ao tratar-se aqui de adquirir conhecimentos exatos quanto às doutrinas e práticas
cristãs, esse ponto é de suma importância.

Neste importante estudo, convém observar que há paralelos de PALAVRAS, paralelos


de IDEIAS e paralelos de ENSINOS GERAIS.

a) PARALELO DE PALAVRAS

Quanto a estes paralelos, quando o conjunto da frase ou o contexto não bastam para
explicar uma palavra duvidosa, costuma-se, às vezes, adquirir ou seu verdadeiro

UNIVERSIDADE DO REINO Hermenêutica Bíblica 21


significado, consultando outros textos em que ocorra. Outras vezes, tratando-se de
nomes próprios, apela-se ao mesmo processo para fazer ressaltar fatos e verdades
que de outro modo, perderiam sua importância e significação.

EXEMPLOS:

- Gl 6.17 – comparar com 2Co 4.10 e 11.23-25

- Gl 3.27 – comparar com Rm 13.13, 14; Cl 3.12, 14; 1Pe 3.3, 6;

- At 13.22 – comparar com 1Sm 2.35; 13.14;

- Referente aos nomes próprios: “Balaão” – Nm 22 e 24 – comparar com 2Pe 2.15,


16; Jd 11; Ap 2.14

ATENÇÃO: Quando se consultam os paralelos, convém proceder da seguinte


maneira: primeiro, procurar paralelo, ou seja, a aclaração da palavra obscura no
mesmo livro ou autor que se estuda. Depois nos demais livros da mesma época
(datas aproximadas de escrita). E, finalmente, em qualquer livro das Escrituras. Esse
proceder é necessário porque às vezes varia o sentido de duas palavras segundo o
autor que as usa, segundo a época em que as emprega, ou ainda, como já temos
estudado, segundo o texto em que estas ocorrem no mesmo livro.

EXEMPLO:

Um exemplo de como diferentes autores empregam a mesma palavra em sentido


diferente, está nas cartas de Tiago e de Paulo. A palavra OBRAS quando aparece só
nas cartas de Paulo aos Gálatas e aos Romanos, significa o oposto à fé, isto é, as
práticas da lei antiga como fundamento de salvação. Na carta de Tiago, ao contrário,
sempre se usa a mesma palavra no sentido de “obediência e santidade”, que a
verdadeira fé em Cristo produz na vida dos salvos.

Outro exemplo é o verbo ARREPENDER-SE. No Novo Testamento, constantemente


se usa no sentido do pecador “mudar de mente”, isto é, no sentido de mudar de
opinião, de convicção íntima, de sentimento. Enquanto que no Velho Testamento, tem
significações tão diferentes, que unicamente o contexto, em cada caso, as pode
aclarar. Tanto assim é que, no Velho Testamento se diz de Deus, que “se
arrependeu”, expressão que os escritores do Novo Testamento nunca empregam ao
referir-se a Deus, a não ser quando faziam citações do Velho Testamento. É, pois,
evidente ao dizer “Deus se arrependeu” não devemos tomar tal palavra no sentido em
que nós entendemos quando nos referimos ao homem que se arrependeu.

b) PARALELOS DE IDEIAS

Para conseguir a ideia exata e completa do que as Escrituras ensinam quanto a


determinado texto, talvez obscuro ou discutido, consulta-se não só as palavras
paralelas, mas também os ensinos, as narrações e atos contidos nos textos ou
passagens elucidativos que se relacionam com o referido texto obscuro ou discutido.
Esses textos ou passagens chamam-se “PARALELOS DE IDEIAS”. Exemplos:

UNIVERSIDADE DO REINO Hermenêutica Bíblica 22


• Quando Jesus instituiu a Ceia, dando o cálice aos discípulos. Ele disse: “Bebei dele
todos...” (Mt 26.27). Isto quer dizer que só os ministros devem participar? A
congregação não pode? Vejamos que ideia nos proporcionam os paralelos:

Em 1Co 11.22-29, nada menos que seis versículos consecutivos nos falam de
“comer pão” e “beber o vinho”, como fatos inseparáveis da ceia, em que tomavam
parte todos os membros da Igreja, sem distinção. É, pois, uma invenção dos homens,
destituída de fundamentos bíblicos, participarem uns dos pães, e apenas uns poucos
do pão e do vinho.

• Quando Jesus disse: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja”, estaria
constituindo Pedro como fundamento da mesma, estabelecendo o primeiro dos
Papas, como pretendem os católicos? Primeiramente notemos que Cristo NÃO disse:
“Sobre ti, Pedro”, nem “sobre esta pedra”, mas disse “sobre esta ROCHA” Mt 16.18
(este é o sentido real da palavra). Mas que Rocha? Nada melhor que as palavras
paralelas de Cristo e Pedro para determinar o significado do texto. Pois bem, em Mt
21.42, 44 Jesus se apresenta como a pedra fundamental ou “cabeça” da esquina, já
profetizada no Velho Testamento. Em conformidade com esta ideia, o próprio Pedro
declara que Cristo é a Pedra Viva, a principal de ângulo em Sião, a Pedra desprezada
pelos judeus e que foi feita Cabeça de Ângulo (1Pe 2.4,8). Paulo confirma e esclarece
a mesma ideia, falando dos apóstolos, profetas, mas como sendo o Cristo a principal
pedra angular, na qual cada edifício bem ajustado cresce para ser um templo santo.
Deste fundamento da Igreja, posto pela pregação de Paulo, “como sábio construtor”
entre os coríntios (1Co 3.10, 11) disse o apóstolo que “ninguém pode por outro
fundamento, senão o que foi posto, que é Cristo”. Estudando estes e outros paralelos,
chegamos à conclusão de que Cristo neste texto, não constituiu Pedro como
fundamento de Sua Igreja.

c) PARALELOS DE ENSINOS GERAIS

Para esclarecimento e reta interpretação de determinadas passagens não bastam os


paralelos de palavras e idéias; é necessário acudir ao teor geral, ou seja, os ensinos
gerais das Escrituras. Achamos indicações desta espécie de paralelos na própria
Bíblia, em expressões de ensinar conforme as Escrituras e de serem anunciadas, tal
qual, pela boca dos profetas (ou pregadores) e de os profetas usarem o seu dom
conforme a medida de fé, isto é, segundo a analogia ou regra da doutrina revelada
(1Co 15.3, 4; At 3.18; Rm 12.6).

EXEMPLOS:

• Dizem as Escrituras que “o homem é justificado pela fé sem as obras da lei”. Pois,
se alguém tira desta expressão o ensinamento de que o homem de fé está livre das
obrigações de uma nova vida, conforme os preceitos divinos, comete um erro ainda
que consultando alguns paralelos do texto. É necessário consultar o teor ou doutrina
geral das Escrituras que se referem ao assunto. O que foi feito esclarecerá que essa
interpretação é falsa por contradizer completamente o espírito e desígnio do
Evangelho, que em toda parte previne o crente contra o pecado, exortando-o à pureza
e à santidade.
UNIVERSIDADE DO REINO Hermenêutica Bíblica 23
• Dizendo as Escrituras: “O Senhor fez todas as coisas para os seus próprios fins, e
até o ímpio para o dia do mau” (Pv 16.4), quererá ensinar que Deus criou o ímpio para
condenação, como alguns interpretam o texto? Certamente que não, pois, segundo o
teor geral das Escrituras em multidões de passagens, o Senhor não deseja a morte
do ímpio, não quer que ninguém pereça, mas que todos se arrependam.

d) PARALELOS APLICADOS À LINGUAGEM FIGURADA

Às vezes é preciso consultar os paralelos para determinar se uma passagem deve


ser tomada ao pé da letra ou em sentido figurado. Várias vezes os profetas nos
apresentam a Deus com um cálice na mão, por exemplo, dando de beber aos que
quer castigar, caindo estes por terra, embriagados e aturdidos (Na 3.11; Hc 2.16; Sl
75.8). Esta representação, breve e sem explicação em certos textos, encontra-se
aclarada no paralelo de Isaias 51.17, 22, 23, onde aprendemos que o cálice é o furor
da ira ou justa indignação de Deus, e o aturdimento ou embriaguez, assolações e
quebrantamentos insuportáveis.

A propósito da linguagem figurada, é preciso recordar aqui que ALGUMA


semelhança ou igualdade entre duas coisas, pessoas ou fatos, justifica a comparação
e uso da figura.

EXEMPLO:

* Quando Cristo chama de OVELHAS a seus discípulos, é natural que não


apliquemos a eles todas as qualidades que encerra a palavra OVELHA, a qual aqui é
usada em sentido figurado.

* Cristo, o Cordeiro: refere-se ao seu caráter manso e seu destino de ser sacrificado,
como o cordeiro dos israelitas.

Redenção: pagamento de dívida;

Pecado: dívida;

Perdão: remissão da dívida ou da culpa.

Quinta Regra:

É NECESSÁRIO
CONSULTAR AS
PASSAGENS
PARALELAS

UNIVERSIDADE DO REINO Hermenêutica Bíblica 24


VI) FIGURAS DE LINGUAGEM NA BÍBLIA

A Palavra de Deus é revelada ao homem através de linguagens, proporcionando


assim, o nosso entendimento:

1) Inspiração Divina. Segundo o testemunho da própria Escritura Sagrada, ela foi


“divinamente inspirada, útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a
educação na justiça, com o fim do homem de Deus ser perfeito, e perfeitamente
habilitado para toda boa obra”. Numa palavra, a Escritura tem por objetivo fazer o
homem “sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus” (2Tm 3.15,16).

2) Simplicidade. O entendimento da Bíblia é simples para o sábio (para aquele que


tem a instrução do Mestre dos mestres).

3) Exortações, Obrigações, Promessas e Deveres. A cada passo, as páginas da


Bíblia revelam grandes princípios cristãos expressos em linguagem simples e clara,
evidente e palpável.

4) Histórias, narrativas e profecias. A forma descritiva das passagens difere dos


autores humanos, mas não altera o principio divino.

5) Grego e Hebraico. Os textos do Antigo Testamento estão escritos em Hebraico e


Aramaico, línguas dos judeus, enquanto que os escritos do Novo Testamento foram
escritos em Grego.

FIGURAS DE LINGUAGEM NO TEXTO BÍBLICO

Ocorre quando uma palavra ou expressão é usada em sentido diferente daquele que
lhe é próprio. Baseiam-se em certas semelhanças ou em relações definidas.

O propósito das figuras de linguagem:

✓ Dá vida e cor a uma passagem

✓ Chamar a atenção

✓ Tornar ideias abstratas mais completas

✓ Ajudar a guardar informações

✓ Abreviar uma idéia (Jo 1.29)

✓ Encorajar à reflexão, ponderação (Sl 52.8)

Expomos a seguir, uma série de figuras com seus correspondentes exemplos, que
precisam ser estudados detidamente e repetidas vezes:

1. Metáfora – É a figura em que se afirma que alguma coisa é o que ela representa
ou simboliza, ou com o que se compara (Zc 3.8; Sl 18.2; Lc 13. 32).

UNIVERSIDADE DO REINO Hermenêutica Bíblica 25


2. Símile - É uma comparação expressa pelas palavras semelhante ou como. A
ênfase recai sobre algum ponto de similaridade entre duas ideias, grupos, ações, etc.
(Is 53.2; 1Pe 1.24; Sl 1.3,4).

3. Metonímia – É o emprego do nome de uma coisa pelo de outra com que tem certa
relação (Gn 25.26; Lc 16.29; Gn 41.13; Jó 32.7; At 8.30).

4. Sinédoque – É a substituição de uma ideia por outra que lhe é associada (Mt 3.5;
6.11; Gn 3.19; 19.20).

5. Hipérbole - É a afirmação em que as palavras vão além da realidade literal das


coisas. De uso vasto, consiste no uso de um exagero retórico (Gn 22.17; Dt 1.28; ).

6. Ironia - É a expressão dum pensamento em palavras que, literalmente entendidas,


exprimem sentido oposto (Gn 3.22; Jz 10.14; Jó 12.2; 1Rs 22.15; 1Co 4.6,8; 1Rs
18.27; Mt 27.40).

7. Prosopopeia - É a personificação de coisas ou de seres irracionais (Sl 35.10; Jó


12.7; Gn 4.4).

8. Enigma - É a enunciação de uma ideia em linguagem difícil de entender (Jz 14.14).

9. Alegoria - É a narrativa em que as pessoas representam ideias ou princípios (Gl


4.21-31). Ver também Sl 80.8-15; Jo 10.1-18.

10. Parábolas - É uma forma de história colhida da natureza ou de ocorrências


diárias normais, que lança luz sobre uma lição moral ou religiosa (Mt 13.1-9; 24-30;
31-32; 44-; 45,46).

11. Fábula - É uma alegoria histórica, na qual um fato ou alguma circunstância se


expõe em forma de narração mediante a personificação de cousas ou de animais.
Ex.: "O cardo que está no Líbano, mandou dizer ao cedro que lá está: Dá tua filha por
mulher a meu filho; mas os animais do campo, que estavam no Líbano, passaram e
pisaram o cardo" (2Rs 14.9).

12. Provérbio - Trata-se de um ditado comum. Ex.: "Médico cura-te a ti mesmo" (Lc
4.23); "Nenhum profeta é bem recebido em sua própria terra" (Mt 6.4; Mt 13.57)

13. Interrogação - Somente quando a pergunta encerra uma conclusão evidente é


que é uma figura literária. Interrogação é uma figura pela qual o orador se dirige ao
seu interlocutor, ou adversário, ou ao público, em tom de pergunta, sabendo de
antemão que ninguém vai responder. Ex.: “Não fará justiça o Juiz de toda a terra?”
(Gn 18.25). “Não são todos eles espíritos ministradores ...?” (Hb 1.14). “Quem
intentará acusação contra os eleitos de Deus?” (Rm 8.33).

14. Apóstrofe - O vocábulo indica que o orador se volve de seus ouvintes imediatos
para dirigir-se a uma pessoa ou coisa ausente ou imaginária. Ex.: “Ah, Espada do

UNIVERSIDADE DO REINO Hermenêutica Bíblica 26


Senhor, até quando deixarás de repousar?” (Jr 47.6). “Meu filho Absalão, meu filho,
meu filho Absalão!” (2Sm 18.33).

15. Profecia - A profecia da Escritura pode ser definida como a inspirada declaração
da vontade e propósitos divinos (comp. Is 61.1,2 com Lc.4.17-21). Não se deve
esquecer que Jesus é o tema de toda a profecia (1Pe 1.10,11).

16. Tipos - É uma classe de metáforas que não consiste meramente em palavras,
mas em fatos, pessoas ou objetos que designam fatos semelhantes, pessoas, ou
objetos no porvir (Hb 9.8,9; Jo 3.14; Mt 12.40).

17. Símbolos - É uma espécie de tipo pelo qual se representa alguma coisa ou
algum fato, por meio doutra coisa ou fato conhecido, para servir de semelhança ou
representação. É diferente do tipo por não prefigurar a coisa que representa. Ele
simplesmente representa o objeto (Ap 5.5; 1Pe 5.8; Js 2.18). Os símbolos podem ser
apresentados na forma de objetos (sangue, ouro, etc.); nomes (Abraão, Israel, Jacó,
etc.); números (seis, sete, oito, etc.) e cores (púrpura, escarlate, etc.).

18. Poesia - É a mensagem de Deus revelada através do lirismo da poesia judaica.


Está presente desde Gênesis até o Apocalipse. A poesia hebraica não possui rima.
Composta por paralelismo: sinonímico – o segundo verso repete com sinônimos (Sl
20.2,3; Pv 23.24,25); antitético – o segundo verso é uma antítese ao primeiro (Sl 1.6;
71.7; Pv 12.1,2) e sintético – o segundo verso amplia a mensagem do primeiro (Sl
19.7; 119.97,103; Pv 23.23).

19. Paradoxo - Denomina-se paradoxo a uma preposição ou declaração oposta à


opinião comum. Ex.: “Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos". (Mt 8.22). “Coais o
mosquito e engolis o camelo”. (Mt 23.24). “Porque quando sou fraco, então é que sou forte” (2Co
12.10).

20. Eufemismo - Consiste numa linguagem branda, para evitar impacto. Ex.: “e quando
disse isto, adormeceu” (At 7.60).

21. Antítese - Inclusão, na mesma frase, de duas palavras, ou dois pensamentos,


que fazem contraste um com o outro. Exemplos: “Vê que proponho hoje a vida e o bem, a
morte e o mal” (Dt 30.15). “Entrai pela porta estreita (larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz
a perdição e são muitos os que entram por ela) porque estreita é a porta e apertado o caminho que
conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela” (Mt 7.13,14).

22. Personificação - É atribuir características humanas a coisas, ideias ou animais


(Gn 4.10; Nm 22.30).

23. Zoomorfismo - É atribuir características animais a homens ou a Deus (Sl 91.4).

24. Antropopatismo - É atribuir sentimentos humanos a Deus (Gn 6.6; Dt 13.17; ).

25. Antropomorfismo - É a linguagem que atribui a Deus ações e faculdades


humanas, e até órgãos e membros do corpo humano (Gn 8.12; Ex 15.16; 2Cr 16.9; Sl
8.3; Sl 34.16; Sl 74.11; Lm 3.56; Zc 14.4; Tg 5.4).

UNIVERSIDADE DO REINO Hermenêutica Bíblica 27


HEBRAÍSMOS

Damos a seguir, alguns exemplos de hebraísmos.

Relembrando, hebraísmos são certas frases e expressões do idioma hebreu (falando


pelos israelitas), as quais ocorrem em nossas traduções da Bíblia, escrita
originalmente em hebraico e grego. É necessário, como já temos citado, algum
conhecimento desses hebraísmos para podermos usar devidamente a primeira regra
de interpretação. Tendo-o em mente, veremos aclarados muitos pontos obscuros e as
contradições aparentes explicadas.

Exemplos:

a) Era costume entre os hebreus chamar a uma pessoa, filho daquilo ou daquela
coisa que, especialmente caracterizava a essa pessoa, de modo que ao indivíduo
pacífico, por exemplo, e ao bem disposto, chamavam-no “filho da paz”; ao entendido e
iluminado, chamavam-no “filho da luz”; aos desobedientes, “filhos da desobediência”,
etc. (Veja Lc 10.6; Ef 5.6).

b) As comparações, às vezes, expressavam-se mediante negações, como foi, por


exemplo, quando Jesus disse: “Aquele que me recebe, recebe não a mim, mas ao
que me enviou”, o que equivale dizer: “Quem recebe a mim, não recebe tanto a mim,
quanto ao que me enviou” ou “não somente a mim, mas também ao que me enviou”.

Do mesmo modo se deve interpretar, quando lemos: “Não procuro (somente) a minha
vontade, mas a vontade daquele que me enviou”, o que equivale: “Trabalhai não (só)
pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna”.

Os hebraísmos devem ser compreendidos segundo a língua hebraica, e não segundo


a nossa língua (português).

Terceiro exemplo: Os nomes de pais ou antepassados são usados para significar


sua posterioridade (Gn 9.25). Os nomes de Jacó e Israel são usados para designar a
posterioridade do patriarca.

Quarto exemplo: O termo “FILHO” é empregado no lugar de descendente. Por


exemplo, os sacerdotes são chamados de “filhos de Levi”; em 2 Sm 19.24, Mefibosete
é chamado de filho de Saul, quando na realidade era filho de Jônatas; 2Rs 8.26 diz
que Atália é filha de Onri e no v. 18, diz que é filha de Acabe, quando na verdade ela
era filha de Acabe e neta de Onri; Jesus é chamado filho de Davi, isto é, descendente
direto através da mãe e do pai putativo.

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CONCLUSÃO

Concluímos este curso de Hermenêutica Bíblica, lembrando o inspirado ensino do


apóstolo Pedro às igrejas: “...nenhuma profecia da Escritura provém de particular
interpretação; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana;
entretanto, homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo”
(2Pe 1.20,21). Que o Espírito Santo seja sempre o nosso eterno intérprete. Amém.

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BIBLIOGRAFIA

BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE – Sociedade Bíblica do Brasil.


BERKHOF, Louis. Princípios de Interpretação Bíblica. São Paulo: Editora Cultura
Cristã, 2004.
LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e Seus Intérpretes. São Paulo: Editora Cultura
Cristã, 2004.
VIRKLER, Henry. Hermenêutica Avançada: Princípios e Processos de Interpretação
Bíblica. São Paulo: Editora Vida, 2001.
http://www.ie-silvalde.net

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