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Apresentação..........................................................................................................4
2º Encontro - A Família.....................................................................................15
Bibliografia...........................................................................................................37
Anexos
Bom Estudo !
Coordenação Nacional do MST
São Paulo, novembro de 2011
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ORIENTAÇÕES GERAIS
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1º Encontro - A infância: que tempo da vida é este?
Objetivos do encontro
a) Discutir o que é a infância e o seu sentido para as pessoas
dos assentamentos / acampamentos;
b) Entender como as crianças de nossos acampamentos e
assentamentos vivem sua infância.
Preparando o encontro
O Encontro
Apresentação da Mística
Coordenador e coordenadora:
Dar boas vindas ao grupo, pedir para que as pessoas se
apresentem, dizendo como receberam o convite para esse encontro e o
motivo de terem vindo.
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Apresentar o caderno (você pode ler a apresentação do caderno).
Em seguida, apresentar os objetivos deste primeiro encontro e como será
desenvolvido.
Leitura do Poema:
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O mar é – lago sereno,
O céu – um manto azulado,
O mundo – um sonho dourado,
A vida – um hino d’amor!
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- Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
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Nesse tempo, o sentimento de pai e mãe era diferente. Como ainda
não se tinha muito conhecimento sobre as doenças e como tratar delas, a
mortalidade infantil era muito grande. Por isso, as pessoas não
costumavam se apegar muito aos filhos pequenos, porque a chance deles
sobreviverem era pequena.
A partir do séc. XVIII, as transformações provocadas pelo avanço
do capitalismo – a solidificação da sociedade de classes, o avanço da
ciência e a luta dos trabalhadores – é que vão atribuindo à criança um lugar
social diferente dos adultos e vai se dando outro sentido à infância. A
criança não é mais vista como o adulto que será, e a infância passa a ser
compreendida como um tempo próprio de vida, com suas características e
necessidades, um tempo a ser vivido por todo ser humano.
No capitalismo, o período da infância se torna importante também
para preparar o novo consumidor, o trabalhador obediente e disciplinado,
que não reage, não se organiza e aceita a realidade como está. Muitos
fatores têm contribuído para que nossas crianças não vivam a sua infância.
No Brasil, vivemos um longo processo de lutas para garantir os direitos
das crianças; somente nos anos 90 foram criados o Estatuto da Criança e
do Adolescente e o Conselho Tutelar. Mas mesmo com todas estas leis,
será que nossa sociedade trata melhor as crianças do que antigamente?
Olhando de perto o que vemos sobre a realidade vivenciada por nossas
crianças?
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• a atuação questionável dos órgãos governamentais e do Estado,
como, por exemplo, o Conselho Tutelar, a escola, unidades de
saúde, que, muitas vezes, em vez de orientarem os pais, jogam
sobre eles a culpa pela miséria em que vivem;
• o abandono;
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pretende a transformação da sociedade como um todo. Para tanto, é
preciso que o MST se debruce sobre os sujeitos dessa construção e, por
isso, temos que nos voltar para este tempo da vida, a infância, um tempo
tão importante para a formação do sujeito. O MST entende que o ser
humano se faz em toda a sua existência, sendo que nos primeiros anos de
vida é que se constroem as bases dos valores e princípios da vida em
sociedade.
A primeira experiência de cuidado coletivo das crianças no
Movimento aconteceu nos anos 90, no Ceará, depois nos cursos de
formação, nos encontros e nas cooperativas. A preocupação com as
crianças no MST apareceu com a libertação das mulheres, quando estas
começaram a vir para as atividades públicas (cursos, produção, militância),
quando saíram de casa. Quando as mulheres se descobriram como seres
sociais, como cidadãs, com capacidades, direitos e deveres. No meio
camponês, ainda hoje, é tarefa exclusiva das mulheres cuidar e educar as
crianças, principalmente até os 5 ou 6 anos.
A Marcha Nacional de 2005, onde marcharam para Brasília 12 mil
pessoas de acampamentos e assentamentos de todo o Brasil, foi muito
importante para que o Movimento Sem Terra se desse conta da situação
em que vivem os Sem Terrinha.
Foi organizada uma Ciranda Infantil Itinerante para as crianças que
estavam na Marcha. Era muita criança, e nos preocupava como estávamos
tratando nossas crianças, pois de manhã fazia muito frio e tinha criança
que vinha descalça e sem agasalho, sem tomar café, sem tomar banho, do
jeitinho que tinha sido entregue no dia anterior para seus pais; muita
criança com piolho, feridas, desnutridas, com marcas de violência pelo
corpo.
Esta realidade foi discutida pela Direção Nacional e pela
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Coordenação Nacional do Movimento, compreendendo o debate sobre a
infância e as crianças Sem Terra como fundamental para avançarmos na
luta, pois a luta por uma nova sociedade depende da construção de novas
relações entre as pessoas e com a natureza. Uma sociedade igualitária, justa
e fraterna, onde cada ser vivo humano, animal ou vegetal seja respeitado.
Os debates levaram ao primeiro Seminário Nacional sobre a
Infância no MST, em maio de 2007, com a participação de dirigentes
nacionais, militância dos setores, educadores e especialistas em educação.
Neste seminário foram debatidas importantes questões sobre o lugar da
infância no MST e que ainda devem ser constantemente discutidas em
nosso meio, como estamos fazendo agora, pois assim poderemos
contribuir de forma mais consciente para a formação de nossas crianças
como sujeitos Sem Terra.
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Resumindo:
O lugar da criança do Movimento é no MOVIMENTO. Ela não
pode ser pensada em separado da luta de sua família, de todos e todas Sem
Terra. Ela está presente no dia a dia da comunidade, nos acampamentos,
nas mobilizações, nos Encontros e cursos de formação. Por isso, temos
que reconhecer a criança como sujeito do nosso Movimento. Temos que
garantir espaços para o protagonismo das crianças, espaços para brincar e
com intencionalidade pedagógica. Valorizar os/as educadores/as infantis,
garantindo a eles melhor formação pedagógica e humana. Repensar
constantemente nossa relação com as crianças. Lutar por políticas públicas
que garantam espaços e condições para que nossas crianças vivam sua
infância com dignidade.
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2º Encontro – A Família
Objetivos do encontro
a) Compreender a família de hoje em nosso meio;
b) Refletir como a família pode contribuir para que nossas crianças
vivam sua infância.
Preparando o encontro
O Encontro
Apresentação da Mística
Coordenador e coordenadora:
Dar boas vindas ao grupo, pedir para as pessoas novas se
apresentarem (se houver), dizendo como receberam o convite para esse
encontro e o motivo de terem vindo.
17
De maneira breve, resgatar o encontro anterior (tema, objetivos,
discussões etc.).
Em seguida, apresentar os objetivos deste segundo encontro e
como será desenvolvido.
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uma mulher e filhos).
A organização da família que conhecemos é a da família burguesa,
que é monogâmica, em que a sexualidade é reprimida, fechada na
residência e separada do trabalho. Neste modelo familiar acontece uma
divisão sexual dos papéis, cabendo às mulheres o cuidado com a casa e a
educação dos filhos, e aos homens o trabalho fora, a liberdade.
Convivem com este padrão familiar muitos outros tipos de família
e seus traços continuam presentes até os dias atuais.
No modelo de família trazido pelos imigrantes da Europa que se
fixaram no campo brasileiro, por exemplo, a moradia e o trabalho
coincidiam no mesmo lugar – apesar de, muitas vezes, a família não ter a
posse da terra – o trabalho era valorizado e aos homens cabia a produção
que iria trazer renda para a família. Este tipo de família tinha um sentido
comunitário maior, a comunidade era fundamental para a produção e a
vida social girava em torno da igreja, da escola, dos espaços comunitários.
Já em diversas sociedades indígenas, as famílias se confundiam com
a própria aldeia, os filhos iam sendo educados também por esta
comunidade, o casamento aparecia como um ritual, e se diferenciava
também pelo grande número de filhos, necessários para o trabalho.
Em ambas estruturas familiares, a criança ainda é cuidada pela
mulher, que também é responsável pelo trabalho doméstico e pelo cuidado
dos pequenos animais e da produção agrícola para o sustento da família.
As famílias camponesas assimilaram muitas características destas
organizações familiares, mas também tem passado por profundas
transformações: diminuíram o número de filhos, a rigidez (em relação à
disciplina, ao trabalho, à sexualidade etc.) e as mulheres ainda assumem um
papel de destaque no sustento da família.
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Em 2007, dados do IBGE dizem que nas áreas urbanas 37% das
famílias são chefiadas por mulheres e no campo 19%. Chefe, segundo o
IBGE, é quem detém a maior renda da casa.
De modo geral, podemos dizer que o modelo de família mudou
muito. A família está mudando o seu jeito de ser e também o jeito de
educar os filhos. O que vemos hoje não são somente famílias compostas
por pai, mãe e seus filhos, mas famílias em que convivem crianças de pais
diferentes ou de mães diferentes, em que as várias gerações (avós, pais, tios,
filhos, primos) moram todas em uma mesma casa. Há também diversas
situações em que as crianças são criadas somente pelos avós, pela mãe,
pelos tios, ou mesmo por outras famílias, mas raramente somente pelo pai.
Pelo que vimos anteriormente, num grande número de famílias a mulher é
a única responsável pela manutenção da vida e educação dos filhos, muitas
vezes sem qualquer participação do pai.
A expansão do agronegócio e dos valores da sociedade de
consumo têm levado os trabalhadores do campo à condição de pobreza e
enfraquecimento de sua identidade. E com isso a família camponesa está
deixando de produzir alimentos diversificados, passando a produzir um só
tipo de cultura (soja, cana, leite etc.) tendo que comprar o alimento que
poderia produzir na terra.
Vários problemas sociais, que antes eram mais presentes nas
cidades, passam a ser frequentes também no campo, como a violência, a
dependência do álcool, do fumo e de drogas, que são doenças físicas e
sociais e precisam ser tratadas. Sozinho ninguém sai dessa dependência,
estas pessoas precisam da ajuda coletiva para se recuperar.
As famílias Sem Terra têm importantes tarefas na construção desta
vida coletiva. Lembramos que a família é o primeiro espaço de produção e
reprodução da vida, pois é nela que se dá o inicio da formação dos seres
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humanos, que constituirão a sociedade. É a família aquela que prime-
iramente apresenta à criança um conjunto de regras, moral, formas e
procedimentos que podem estar vinculados com maior ou menor força
aos valores da sociedade capitalista.
A reforma agrária é uma forma de garantir a soberania alimentar
de nosso país, produzindo uma grande variedade de alimentos de
qualidade (grãos, legumes, verduras, frutas, pequenos animais, leite, ovos),
sem veneno, protegendo o ambiente, as águas e o solo. Mesmo sabendo
das contradições e problemas produzidos pela sociedade de classes, se-
guimos lutando porque acreditamos ser possível viver melhor.
Essa construção é cotidiana e deve se dar em todas as dimensões
de nossa vida. Em nossa casa, por exemplo, os serviços que garantem a
sobrevivência de todos devem ser responsabilidade de toda a família, pois
todos precisam comer, ter sua roupa lavada, a casa arrumada e isto não é
tarefa só de mulher, mas de cada morador/a. Se cada um fizer alguma
coisa em casa, não fica pesado para ninguém, aí tem mais tempo para
brincar, passear, ler, assistir um filme juntos.
É preciso que possamos desde agora educar nossas crianças com
valores como: igualdade nas relações entre homem e mulher, respeito aos
idosos, à orientação sexual, às crianças, às pessoas com deficiências,
responsabilidade frente à vida e a tudo que é vivo; ter solidariedade,
indignação diante de qualquer injustiça contra o ser humano e a vida,
valorizando, assim, a coletividade.”
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c) Vamos olhar um pouquinho para as famílias do assentamento / acam-
pamento? As famílias têm problemas com álcool, drogas, fumo,
violência? Como isso pode influenciar na educação das crianças?
Resumindo:
A família, independente de como ela esteja organizada, é um dos
espaços importantes de vivência da infância das crianças. É também um
espaço de formação de valores, de princípios, de jeito de viver a vida, por
isso, em nossos assentamentos precisamos nos preocupar sempre em
como as famílias vivem, cuidam e educam as crianças.
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3º Encontro: A Criança e a Coletividade
Objetivos:
a) Debater a importância da coletividade na formação da criança;
b) Perceber que a criança se educa nas relações que se estabelecem
onde ela vive, na família, no assentamento ou acampamento, na
escola.
Preparando o Encontro
Coordenador e Coordenadora:
Dar boas vindas ao grupo, pedir para as pessoas novas se apre-
sentarem (se houver), dizendo como receberam o convite para esse em-
contro e o motivo de terem vindo.
De maneira breve, resgatar o encontro anterior (o tema, objetivos,
discussões etc.).
Em seguida, apresentar os objetivos deste terceiro encontro e
como será desenvolvido.
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pessoas a perceberem as diferenças que aparecem nas relações entre os
adultos e as crianças.
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procura garantir uma organicidade interna, partindo dos núcleos de base,
das brigadas de famílias, da organização da produção e da comercialização
com formas de cooperação entre as famílias. Valoriza a organização da
comunidade como um espaço de encontro, onde haja espaço para todos
(adultos, crianças, idosos), no lazer, no esporte, na escola, onde a
comunidade participa e intervém.
Viver em coletivo é uma grande aprendizagem para nós adultos e
para as crianças. Aprendemos e ensinamos no coletivo, daí a importância
de cultivar os valores e princípios da classe trabalhadora, como a
solidariedade, o respeito à pessoa humana e às decisões coletivas, o valor
da vida.
O MST na sua filosofia defende e trabalha na perspectiva da
construção de um outro ser humano, baseado em outros valores, para
tanto, viemos fazendo o esforço de criar espaços coletivos, como os
encontros de Sem Terrinha, as Escolas Itinerantes, as Cirandas Infantis
permanentes ou itinerantes para que as crianças, que em geral têm pouca
voz, possam dialogar e reivindicar para o poder público e para o próprio
Movimento o que querem para os assentamentos e acampamentos de
Reforma Agrária, para que possam vivenciar experiências coletivas e dizer
o que pensam sobre o mundo.”
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nos preocupamos com nossa conduta frente às crianças, como o
consumo de bebidas alcoólicas, palavrões, discriminação e preconceito
racial, de gênero, com a orientação sexual etc.?
c) Que espaços coletivos temos para as crianças na nossa comunidade? Se
temos, o que pode ser melhorado para que as crianças de todas as
idades possam usufruir dele e, se não temos, o que podemos fazer?
Resumindo:
A criança observa e aprende no meio em que vive, por isso,
precisamos ficar atentos sobre o nosso comportamento como adulto.
Muitas vezes chamamos a atenção das crianças por conta de seu
comportamento e não nos damos conta de que elas aprenderam conosco
(por exemplo: discriminar pessoas, ser violento com os outros, destruir a
natureza)
As crianças devem ser vistas e tratadas por nós adultos como
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sujeitos capazes de realizarem muitas ações. Precisam ser respeitadas na
sua individualidade. Elas se educam na comunidade, nas relações entre elas,
com os adultos e no contato com a natureza.
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4º Encontro – Cuidar e Educar
Objetivos do encontro
a) Entender que a educação e o cuidado na infância não estão sepa-
rados;
b) Compreender como a sociedade cuida e educa as crianças;
c) Refletir que tipo de educação dará conta de formar o ser humano
nas suas diferentes dimensões.
Preparando o encontro
O Encontro
Apresentar a Mística
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Coordenador e coordenadora:
Dar boas vindas ao grupo, pedir para as pessoas novas se
apresentarem (se houver), dizendo como receberam o convite para esse
encontro e o motivo de terem vindo.
De maneira breve resgatar o encontro anterior (o tema, objetivos,
discussões etc.).
Em seguida, apresentar os objetivos deste quarto encontro e como
será desenvolvido.
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conseguirem atacar os pintinhos com facilidade, o número de galinhas
pode ser aumentado e vice-versa. Após a brincadeira, realizar uma
conversa, fazendo comparações com a realidade da vida.
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médicas com exames para a mãe, que tem o direito de ser acompanhada
em todos os momentos, da gravidez ao parto.
Ainda temos muito forte em nosso meio a ideia de que educar os
filhos é tarefa apenas da mãe. Como temos discutido nos outros en-
contros, a tarefa de educar os filhos envolve toda a família (pais, mães,
irmãos, avós...) e também a comunidade, a escola, cada um exercendo seu
papel nessa tarefa.
Além da família, da escola e da comunidade existem outros meios
que influenciam no comportamento das pessoas e no jeito de ver as coisas
do mundo, como por exemplo a televisão, o rádio, o jornal, a revista que
estão a serviço dos que concentram a riqueza. Por isso, devemos estimular
um olhar crítico de nossos Sem Terrinha sobre os meios de comunicação e
fortalecer as nossas iniciativas de comunicação popular.
Um aspecto importante é a educação alimentar. A criança forma o
seu gosto pelos alimentos desde muito cedo, daí a importância de oferecer
todo tipo de alimento a elas como verduras, frutas, legumes, carne, ovos,
cereais, evitando o excesso de doces e açúcares, alimentos industrializados
e produzidos com agrotóxicos.
Entendemos que nos espaços onde convivem adultos e crianças, o
jeito que os adultos se relacionam entre si e com a elas vão educando-as
para a convivência social, que pode ser plena de autonomia, liberdade,
responsabilidade, respeito e solidariedade - ou não.
O diálogo é fundamental para a criança aprender a ter confiança
em si mesma, aprender a tomar decisões e ir compreendendo a realidade a
sua volta. Quando nos dirigirmos a uma criança sempre devemos nos
colocar na sua altura (sentado, de cócoras), pois isso facilita o diálogo,
aproxima o mundo dos pequeninos dos adultos. É preciso ter clareza de
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que fazemos parte do mesmo mundo, no entanto as crianças vivem um
tempo de vida diferente dos adultos.
A criança também aprende brincando, aguça sua curiosidade e
desperta criatividade, por isso, a importância de valorizarmos o brincar e
de brincarmos com as crianças, resgatando inclusive a cultura popular e os
brinquedos e brincadeiras que estão desaparecendo com a “plastificação” e
“mecanização” dos brinquedos. Construir brinquedos com as crianças e
brincar com elas é uma forma criativa de educar. Nos centros comunitários
de nossos assentamentos e acampamentos é importante garantir os
espaços específicos para as crianças brincarem (ex.: Parque infantil),
mesmo sabendo que as crianças vão continuar brincando em todos os
espaços.
Educar com amor não significa permitir que a criança faça tudo
aquilo que deseja fazer, significa também colocar limites, tratando a criança
com respeito, conversando com ela sobre o motivo dos limites,
orientando-a e garantindo que ela possa compreender e participar das
decisões coletivas. Não podemos também fazer tudo pelos filhos, a
superproteção impede o crescimento, a iniciativa, a criatividade da criança.
Em nosso meio temos muitas crianças com necessidades especiais.
Elas têm direito ao convívio social e a desenvolver tarefas e ações, desa-
fiando seus limites. Cuidar e educar essas crianças são um grande
aprendizado e compromisso com seu desenvolvimento humano, e quando
necessário devemos buscar informações e ajuda de especialistas.
O ambiente afetivo e de respeito entre pais, os filhos e a
comunidade é necessário para a criança firmar-se dentro de si mesma, ter
condições para dar conta das tarefas que pode exercer sozinha como:
tomar banho, vestir-se, divertir-se, brincar, limpar, colaborar com as tarefas
da casa ou do assentamento e acampamento, dormir e alimentar-se.
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É num clima de diálogo e de confiança que os pais e adultos vão
colocando os limites para a criança, rumo à conquista da verdadeira
autonomia, em que a criança entenderá que nem tudo o que ela quer é
possível de realizar, mas que há um mundo de possibilidades a ser cons-
truído por todos nós.”
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Resumindo:
Ao cuidar de uma criança, já estamos educando-a, pois dependen-
do da forma como atendemos suas necessidades básicas ela irá formando
hábitos, sentimentos, se desenvolvendo fisicamente, afetivamente, social-
mente e intelectualmente. É importante que tenhamos sempre presentes
em nossas atitudes, para com o outro e para com a gente mesmo, os
valores e princípios da sociedade que queremos construir.
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5º Encontro: O Trabalho
Objetivos do encontro
a) Refletir sobre o sentido do trabalho na vida das pessoas;
b) Discutir de que maneira as crianças estão inseridas no trabalho no
assentamento/acampamento.
Preparando o encontro
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O Encontro
Apresentação da Mística
Coordenador e coordenadora:
Dar boas vindas ao grupo, pedir para as pessoas novas se apresen-
tarem (se houver), dizendo como receberam o convite para esse encontro
e o motivo de terem vindo.
De maneira breve resgatar o encontro anterior (o tema, objetivos,
discussões etc.).
Em seguida, apresentar os objetivos deste quinto e último encontro
de nosso caderno e como será desenvolvido.
Atividade I
Trabalho de criança
não pode ser com facão,
tampouco com veneno
que se põe na plantação.
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Trabalho de criança
não é no canavial,
é dar milho pra galinha
que anda pelo quintal.
Trabalho de criança
tem que ser pra aprender
que todo mundo precisa
cooperar, mas não sofrer.
Trabalho de criança
é tarefa, ocupação,
mas é preciso ter cuidado
pra não virar exploração.
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ficam com grande parte da riqueza que produzimos. Mas será que o
trabalho que hoje está tão ligado à exploração, pode também ser impor-
tante para a construção de uma outra sociedade, em que se transformará
em forma de libertação, de educação?
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No entanto, não podemos considerar toda atividade de trabalho
que realizamos como trabalho explorado, pois em nossas práticas coti-
dianas, seja no assentamento ou acampamento, seja em nossas mobili-
zações e espaços de estudos, o trabalho adquire outro significado, resga-
tando seu caráter libertador.
A concepção de trabalho do MST tem como base a formação
humana. Isso significa que o trabalho educativo é aquele não explorado
pelo capital, mas o trabalho que permite a criação, a construção de novas
relações com outro ser humano e com a natureza.
Neste sentido, o trabalho faz parte do cotidiano de todos os
membros de nossa comunidade, inclusive das crianças, não como
exploração infantil, mas como atividade privilegiada de construção de
valores e do exercício da cooperação. Nos acampamentos e assenta-
mentos as crianças estão presentes em todos os espaços: nas casas, nas
festas, encontros, na Ciranda Infantil, nos roçados, na Escola e na
organização do próprio acampamento e assentamento. Por exemplo, na
escola, organizando um quintal agroecológico onde as crianças aprendem a
se relacionar com a terra, produzindo para complementar alimentação
escolar. Ao participar desses espaços, as crianças também vão contribuindo
com seu trabalho para a produção da vida, da resistência dos sujeitos do
campo, construindo suas relações e experiências dentro das suas
possibilidades reais, e nesse processo vão construído sua existência na
coletividade.
Como, então, poderíamos diferenciar a participação das crianças
em atividades que criem o senso de responsabilidade, de ações que
podemos considerar como exploração do trabalho infantil? Na nossa
compreensão, o que caracteriza uma atividade de exploração do trabalho
infantil é quando a atividade envolve principalmente: a) período integral,
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horário inadequado e uma carga horária elevada; b) atividades estressantes,
em locais inadequados, incompatíveis com a idade; c) quando impedem a
criança de ter acesso à escola, às brincadeiras, a se relacionar com outras
crianças; d) quando compromete a sua dignidade, a saúde e a autoestima, a
convivência com a família e outras pessoas.
Feita esta diferenciação do que é o trabalho que explora a criança,
do trabalho capaz de construir novas relações sociais e novas consciências,
é preciso que integremos as crianças às atividades diárias que
desenvolvemos. Educamo-nos no trabalho, na família, na comunidade, nas
brincadeiras, nos movimentos sociais, na escola; na ciranda Infantil, no
parque infantil, aprendemos e ensinamos no coletivo, pois viver em
coletivo é o que dá possibilidade à existência humana.”
Para conversar:
a) Qual a diferença do trabalho na agricultura familiar/camponesa
com relação ao trabalho no agronegócio? Existe exploração? Co-
mo? Onde? De quem é a terra, os instrumentos de trabalho?
Quem fica com o lucro?
b) Em que medida o trabalho realizado por nossas crianças é educa-
tivo e em que medida ele pode se tornar um processo de explora-
ção?
c) A criança não é um pequeno adulto, mas como vamos educando-a
para que assuma a responsabilidade dentro de suas possibilidades
(como a organização dos seus brinquedos, da sua roupa, das suas
coisas, ou mesmo das tarefas diárias da família)?
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Resumindo:
O trabalho tem uma grande importância para o desenvolvimento
da humanidade, pois é ele quem permite aos homens e mulheres,
organizados coletivamente, modificarem a natureza e, assim, modificarem
a sua própria condição no mundo, transformando-os em construtores de
sua história. Na sociedade capitalista, o trabalho se torna a base da
exploração de homens, mulheres e crianças, pois a riqueza socialmente
produzida é dividida de forma desigual. Nosso esforço no MST é resgatar,
através de práticas sociais e coletivas, o trabalho como elemento libertador,
capaz de construir novas relações sociais, novas consciências individuais e
coletivas e cultivar os valores socialistas.
Confraternização
Combinar com o coletivo como fazer uma festa de encerramento
com as crianças, inaugurando a ação proposta (ex. parque infantil, ciranda,
biblioteca).
43
44
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
45
Filmes e Documentários
46
ANEXO I: Sinopse de filmes
47
Ali, menino de 9 anos e filho de pais humildes,
perde o único par de sapatos da irmã. Os dois
começam a revezar a utilização do par restante,
enquanto Ali treina para conseguir uma boa
colocação em corrida, o prêmio da qual será
um novo par de sapatos.
FILHOS DO
PARAÍSO
48
Mulher que escreve cartas para analfabetos na
Central do Brasil ajuda menino, após sua mãe
ser atropelada, a tentar encontrar o pai que
nunca conheceu, no interior do Nordeste. Prê-
mio de melhor atriz e melhor filme no Festival
de Berlim e vencedor do Globo de Ouro de
CENTRAL DO melhor filme estrangeiro.
BRASIL
49
Quando o professor da escola primária de
Shuiquan tem de se ausentar durante um mês,
o presidente da pequena aldeia, Tian, apenas
consegue encontrar uma adolescente de 13
anos, Wei Minzhi, para o substituir. O profe-
ssor Gao adverte-a para que não permita que
NENHUM A mais alunos abandonem a escola, garantindo-
MENOS lhe o pagamento de 50 yuan e mais um
pequeno extra se for bem sucedida. Minzhi,
pouco mais velha que alguns dos seus alunos
(do 1º ao 4º ano, na mesma classe), pouco mais
pode fazer do que escrever texto no quadro e
ensinar uma ou outra canção.
O filme se passa em 21 de março, Ano Novo
no Irã. Uma menina deseja comprar um
peixinho dourado. Com a ajuda do irmão, ela
convence a mãe a dar o dinheiro para a compra
do peixe. O caminho para o mercado é cheio
de surpresas, dificultando que a menina alcance
O BALÃO seu objetivo. Isso, no entanto, não é motivo
BRANCO para que ela desista, iniciando uma aventura
pelas ruas de Teerã. Essa história traz a
imagem de uma criança que não desiste de seu
propósito, apesar de todas as dificuldades que
encontra em seu caminho.
50
Dois irmãos ainda crianças partem em um
trem para a Alemanha, onde supostamente
vive o pai que nunca conheceram. Durante a
viagem, eles enfrentam sérias dificuldades e
são obrigados a amadurecer, abandonando
precocemente a infância.
PAISAGEM NA
NEBLINA
Duas crianças são os protagonistas de uma a-
ventura que explora os limites tragicômicos do
absurdo social que divide os moradores das fa-
velas e os habitantes da cidade. Reféns de uma
situação criada por uma sucessão de equívocos,
Japa e Branquinha acabam presos numa man-
COMO NASCEM são onde mora uma família Americana. As cri-
anças sem saber lidar com essa situação, vêm
OS ANJOS
suas chances de saírem 'dessa' afunilar e tomar
rumos que eles jamais poderiam imaginar.
Retrata a história de sete crianças israelenses e
palestinas em Jerusalém que, apesar de mora-
rem no mesmo lugar vivem em mundos com-
pletamente distintos, separados por diferenças
religiosas. Com idades entre 8 e 13 anos,
raramente elas falam por si mesmas e estão
isoladas pelo medo. Neste filme, suas histórias
PROMESSAS DE
oferecem uma nova e emocionante perspectiva
UM NOVO
sobre o conflito no Oriente Médio.
MUNDO
51
Anos 70. Aos 6 anos Roberto Carlos Ramos
(Marco Ribeiro) foi escolhido por sua mãe (Jú
Colombo) para ser interno em uma instituição
oficial que, segundo apregoava a propaganda,
visava a formação de crianças em médicos,
advogados e engenheiros. Entretanto a reali-
O CONTADOR dade era bem diferente, o que fez com que
DE HISTÓRIAS Roberto aprendesse as regras de sobrevivência
no local. Pouco depois de completar 7 anos ele
é transferido, passando a conviver com crian-
ças até 14 anos. Aos 13 anos, ainda analfabeto,
Roberto tem contato com as drogas e já
acumula mais de 100 tentativas de fuga.
Considerado irrecuperável por muitos, Rober-
to recebe a visita da psicóloga francesa Mar-
gherit Duvas (Maria de Medeiros). Tratando-o
com respeito, ela inicia o processo de recu-
peração e aprendizagem de Roberto.
52
ANEXO II: Orientações para construir um parque infantil
53
“CAIXA DE AREIA”
“Brincar, viver e ser feliz”
54
“BALANÇOS”
“Precisa ter muitos balanços.
Tem até fila para brincar” (educando)
55
“O PÓDIUM”
“O pódium é muito legal para brincarmos,
dá uma sensação de vencedor” (educando)
56
“FAROLZINHO”
“O farolzinho é o mais legal de todos” (educando)
57
“PULA MACACO”
“Mesmo quem não conseguir, o importante é tentar.
O desafio ajuda a educação a avançar” (Zé Pinto – educador popular)
58
59
“TUNEL”
“A vida é um túnel e as crianças
gostam de brincar nele” (educando)
60
61
62
63
64
65
66
67
68
69
70
71
Hino do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
Refrão:
Vem, lutemos punho erguido
Nossa Força nos leva a edificar
Nossa Pátria livre e forte
Construída pelo poder popular
Refrão:
Vem, lutemos punho erguido
Nossa Força nos leva a edificar
Nossa Pátria livre e forte
Construída pelo poder popular
Refrão:
Vem, lutemos punho erguido
Nossa Força nos leva a edificar
Nossa Pátria livre e forte
Construída pelo poder popular
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