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HERMENÊUTICA 2
1. Introdução
Será que um mesmo texto da Bíblia pode ter mais de uma interpretação válida? A resposta é
não. Só há uma interpretação verdadeira e é aquela que o autor pretendia dizer. Qualquer
interpretação que não responda o que Deus pretendia que significasse quando foi escrito é falsa.
Para entendermos o significado do texto lido temos que entender tanto o pensamento de Deus,
quanto a intenção do autor humano ao escrever cada parágrafo, frase e palavras do texto
sagrado. A desconsideração desse simples princípio gerou heresias como Testemunhas de
Jeová, Mórmons e Adventistas.
Talvez algumas pessoas possam ficar confusas com isso, pois sempre ouvimos dizer de pessoas
consagradas que tendo lido a Bíblia centenas de vezes, a cada vez aprendendo uma coisa nova
no texto. Não podemos confundir o significado com suas aplicações. O significado é único, a
aplicação e implicações é que são diversas.
O conhecimento, entendimento e prática da Bíblia Sagrada é imprescindível para o
crescimento espiritual do cristão (Js 1.8; Sl 119.11,105; At 8.30; Tg 1.22). Desta forma, estudar
o texto bíblico, procurando conhecer seu real significado também é deveras importante para
uma vida cristã sadia, mesmo porque a maioria dos erros doutrinários surgem da má
interpretação de textos bíblicos gerando assim as ai(/resij (gr. Hairesis – 9 vezes no NT e é
traduzida por seita, facção, partido e heresia).
A hermenêutica é a disciplina que trata da interpretação da Bíblia. O termo deriva-se do
verbo grego e(rmhneuth/j [transliterado: hermeneutes (o termo aparece em 1 Co 14.28 em
uma variação de diermhneuth/j, uma única vez em todo o Novo Testamento e é traduzido
por interprete)]. Ainda o verbo grego e(rmhneu/w [transliterado: hermeneuô aparecendo 3
vezes no NT (Jo 1.42; 9.7; Hb 7.2), onde sua tradução tem relação com interpretação] Os termos
correlatos podem significar tanto traduzir, como explicar ( ver o verbo grego diermhneu/w =
significando: interpreto, explico, exponho, significo, qv. Lc 24.27).
Em certo sentido, tradução é uma explicação, é explicar numa língua o que foi expresso em
outra. Portanto, interpretar inclui esclarecer e tornar inteligível o que era obscuro ou
desconhecido.1Tentecomo teste conseguir a verdadeira interpretação de Isaías 21.11 na
versão de Almeida Revista e Corrigida.
Conhecemos a Hermenêutica Geral que é o estudo das regras que regem a interpretação do
texto de qualquer obra escrita e a Hermenêutica Especial que é o estudo das regras que se
aplicam a gêneros literários específicos. Ex.: Tipos, profecias, leis, história, poesia, alegorias,
parábolas etc.
Com a Hermenêutica Sacra, procuramos discernir a verdadeira intenção do autor, qual a real
aplicação do texto e qual a aplicação desse mesmo texto para as nossas vidas, entendendo que
a matéria-prima de nosso trabalho é a Bíblia Sagrada, um livro único e de caráter especial pois
é a Palavra inspirada de Deus (2 Tm 3.16; 2 Pe 1.21).
Uma hermenêutica correta levará à uma exposição mais apropriada. A hermenêutica cuida da
interpretação e significado do texto, ao passo que a homilética trata da exposição e aplicação
deste texto, respondendo a pergunta: Que mensagem isto tem para nós, na atual conjuntura?
1
ZUCK, Roy B. – A Interpretação Bíblica – pg. 21 – Edições Vida Nova - 1997
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Quem está no trono? Não eu, mas Cristo.
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Para tanto, conforme nos apresenta Berkhof, podemos propor “uma discussãode interpretação
tríplice da Bíblia, a saber: (a) Gramatical, incluindo a interpretação lógica, (b) Histórica,
incluindo também a interpretação psicológica; (c) Teológica.”2
A hermenêutica também é extremamente necessária à apologética (disciplina que trata da
Defesa da Fé). Muitos críticos da Bíblia perguntam: “Como você poderia crer na Bíblia, estando
ela crivada de erros?”, qual seria nossa resposta? Muitos cristãos diriam que apesar de qualquer
evidência em contrário o tema questionado relaciona-se com a fé, apegando-se tenazmente à
sua crença???......Todavia a própria Bíblia demonstra a necessidade de apresentarmos respostas
(Cl 4.5,6; 1 Pe 3.15-16), o próprio Senhor Jesus nos ensina a amar a Deus com entendimento
(Mt 22.37), e isso obtemos com uma hermenêutica correta.
3. Dificuldades de interpretação
Os abismos
A maioria das pessoas que está iniciando na vida cristã e algumas mais antigas também, têm
dificuldades em entender certos trechos da Bíblia. Às vezes são palavras ou mesmo expressões
que não conhecem. Isso ocorre porque a Bíblia é um livro muito antigo. Começou a ser escrita
há 3.400 e último livro a ser escrito foi há quase 2.000 anos. Aproximadamente 40 autores
diferentes escreveram em três línguas diferentes: Hebraico, Aramaico e Grego. Tudo isso
contribui para dificultar a compreensão de certos trechos.
2
BERKHOF, Louis – Princípios de Interpretação Bíblica – Editora Cultura Cristã - 2000
3
ZUCK, Roy B. – A Interpretação Bíblica – pg. 22 – Edições Vida Nova - 1997
4
Uwe Wegner em seu livro “Exegese do Novo Testamento – Manual e Metodologia” – pg. 11 – Editora Sinodal
– 1998; nos apresenta a seguinte definição: “Os dicionários comumente definem o termo ‘exegese’ como
‘comentário ou dissertação para esclarecimento ou minuciosa interpretação de um texto ou de uma palavra’. O
termo deriva-se da palavra grega e)ch/ghsij/exegesis, que tanto pode significar apresentação, descrição ou
narração como explicação e interpretação. Quando se fala de exegese bíblica, entende-se o termo sempre no
segundo sentido aludido, ou seja, como explicação/interpretação. Exegese é, pois, o trabalho de explicação e
interpretação de um ou mais textos bíblicos. O fato de usarmos o termo técnico ‘exegese’ para o trabalho de
interpretação ‘minuciosa’, como assinala acima Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, ou seja, de uma explicação
que procura fazer uso de vários recursos e instrumentos científicos para entender o texto das Sagradas Escrituras.
A exegese distingue-se, portanto, de outras interpretações bíblicas pelo seu caráter mais científico, detalhado e
aprofundado.”
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A leitura da Bíblia não pode ser feita como se lê um jornal. É necessário o auxílio de uma
técnica para uma boa compreensão chamada hermenêutica que veremos na próxima aula.
Você resolve escrever uma carta aos jovens de uma congregação, pois você está preocupado
com a vida espiritual deles. Manda a carta ao presbítero responsável para que seja lida na
reunião de mocidade.
Imagine agora que o malote contendo essa carta caia do avião no meio de uma floresta e fique
perdida por 2.000 anos. Muita coisa acontece nesses anos. Talvez uma guerra nuclear tenha
ocorrido. Novos valores morais tenham sido implantados na sociedade. A tecnologia seja
muitíssima mais avançada.
Alguém então encontra essa carta escrita em português, uma língua então extinta. Três
especialistas se encarregam de traduzi-la para a língua falada por eles. Cada um deles
possivelmente dará uma interpretação diferente de algumas palavras ou frases, ou até mesmo
da carta inteira. Pergunta-se: todos os três interpretes estão corretos? Não, certamente. Estará
mais correto aquele que se aproximar mais da intenção que o autor tinha ao escreve-la.
As dificuldades que esses interpretes imaginários tiveram ao tentar entender a carta é a
mesma que nós temos hoje em interpretar a Bíblia. Há abismos entre nós e as Escrituras que
bloqueiam nossa plena compreensão.
O Abismo histórico
Há um abismo histórico pelo tempo decorrido. Para um intérprete do futuro algumas coisas
poderão não fazer sentido.
Para entendermos o texto lido temos que entender o contexto histórico em que foi escrito.
Quando por exemplo entendemos a extrema crueldade e pecaminosidade do povo de Nínive
compreendemos o porque da antipatia de Jonas pelos ninivitas.
O Abismo geográfico
O abismo cultural
Há um abismo cultural. A nossa cultura é diferente da cultura hebréia. A cultura diz respeito
a valores morais e éticos. É quase impossível fazermos uma leitura de um texto antigo sem a
interferência de nossa cultura, de nossas idiossincrasias. Um sociólogo chamado Harold
Garfinkel usa como analogia o aquário. “É impossível estudar pessoas ou fenômenos como se
estivesses olhando para um peixe num aquário de uma posição fora do aquário: cada um de nós
está dentro de seu aquário.”
O abismo lingüístico
Há um abismo lingüístico. A Bíblia foi escrita em três línguas, hebraico, aramaico e grego que
possuem estruturas e expressões idiomáticas diferentes da nossa língua. Quem estuda algum
idioma sabe o que são expressões idiomáticas. Por exemplo há uma expressão na língua inglesa:
“I love to see Old Glory paint the breeze” que se fosse traduzida ao pé da letra seria: “Gosto de
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ver a Velha Glória pintar a brisa”, sem sentido nenhum. No entanto a expressão “Old Glory”
refere-se a bandeira dos Estados Unidos e “paint the breeze” significa ondular ou drapejar ao
toque do vento. Sabendo disso uma outra tradução faz mais sentido: “Gosto de ver a Bandeira
dos Estados Unidos tremulando ao vento”
4. Importância da Hermenêutica
Em primeiro lugar uma boa interpretação dos textos sagrados é essencial para um ensino
correto da Bíblia.
Diversos versículos da Bíblia, se mal interpretados, dão margem a distorções e enganos.
Duas pessoas poderão dar duas interpretações diferentes e antagônicas de um mesmo texto, se
não se utilizarem da hermenêutica. As seitas heréticas, por exemplo, se fundamentam em
versículos mal interpretados da Bíblia para justificar suas perigosas doutrinas.
A própria Bíblia nos alerta quanto a isso quando fala de pessoas que propositalmente distorcem,
deturpam e adulteram a Palavra de Deus (2 Cor. 4.2 – falsificando a palavra de Deus). Outros
ainda se aproveitam dos versículos difíceis de entender e os distorcem, para sua própria
condenação (2 Pe 3.16).
Há também aqueles que são sinceros mas que por ignorância também distorcem o sentido único
e verdadeiro do texto. Por isso é importante aprendermos essa ciência da interpretação.
Exemplo 1
JOÃO 10.28 – “...e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará das
minhas mãos.”
Exemplo 2
COLOSSENSES 1.15 – “...o qual (Jesus) é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a
criação.”
- O texto prova que Jesus foi um ser criado, pois a palavra primogênito quer dizer PRIMO –
Primeiro + GENITO criado, primeiro criado.
- Jesus na realidade era o herdeiro de toda a criação, pois essa expressão assume uma
conotação de preeminência, de ter uma posição privilegiada, herdeiro. Por exemplo vemos que
a Davi em Salmo 89.27 foi atribuído esse título apesar dele não ter sido de fato o primogênito
(primeiro filho).
Exemplo 3
NAUM 2.4 – “Os carros se enfurecerão nas praças, chocar-se-ão pelas ruas, e seu parecer é
como o de tochas, correrão como relâmpagos”
Errado pois essa profecia se aplicou no passado. Era uma profecia contra Nínive e fala de sua
queda que já ocorreu.
Exemplos de heresias:
- O líder mórmon Brigham Younf teve mais de 30 mulheres baseado no fato de Abraão ter
possuído Sara e Hagar.
- Os mórmons batizam seus parentes mortos baseado em 1 Cor 15.19
Alguns ateus se arriscam a usar a própria Bíblia para provar que “não há Deus”, baseado em
Salmos 14.1.
“Para entender a Bíblia adquadamente, precisamos esvaziar nossas mentes de todas as idéias,
opiniões e métodos modernos e procurar transportar-nos para a época e o ambiente em que
viviam os apóstolos e os profetas que a escreveram” JOHN F. JOHNSON
“A não ser que acreditemos tenha a Bíblia caída do céu de pára-quedas, escrito com uma pena
celestial numa língua celestial curiosa, exclusivamente adequada como instrumento de
revelação divina, ou então que foi ditada por Deus direta e imediatamente, sem referência a
nenhum costume regional, estilo ou perspectiva, seremos obrigados a encarar os abismos
culturais. Isto é, a Bíblia retrata a cultura de sua época.” R.C. SPROUL
Quando não consideramos os abismos culturais entre o nosso tempo e o tempo em que foi
escrito o texto bíblico corremos o risco de cometer dois erros:
1- Concluir que tudo o que está escrito deve ser cumprido hoje em dia.
2- Projetar para o texto um significado que só faz sentido nos dias de hoje.
Precisamos então levar em consideração algumas questões e algumas técnicas para não
distorcermos o sentido único e verdadeiro do texto sagrado.
OS CONTEXTOS
Contexto imediato
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Uma passagem ou versículo deve ser estudado em seu contexto, e não isoladamente dos
versículos que o cercam.
Versículos. Os autores dos livros bíblicos originalmente não escreveram em versículos como
nós conhecemos hoje. Eles escreviam parágrafo por parágrafo, como em todos os livros
comuns. A divisão em versículos foi instituída posteriormente para facilitar a memorização, o
que é muito bom. Ajuda-nos também a localizar com mais velocidade um determinado
trecho.No entanto isso traz um efeito colateral que é o de considerarmos cada versículo como
um universo em si mesmo. Isso tem levado muitos a interpretar versículos isoladamente,
atribuindo significados totalmente diferentes do que o autor pretendia, gerando heresias
danosas.
Em primeiro lugar nem sempre o versículo corresponde a uma frase. Há frases que estão
parte num versículo, parte em outro. Em segundo lugar, uma frase só terá sentido completo
quando for lida junto ao bloco maior de pensamento que é o parágrafo. Os provérbios são os
únicos versículos que podem ser estudados como uma unidade de pensamento. Mesmo assim,
alguns só terão sentido quando analisados junto aos demais próximos, pois eles foram
agrupados por temas.
Capítulos. A divisão em parágrafos nos livros acontece em função da organização das idéias.
O parágrafo é composto de frases relacionadas a um assunto. Na Bíblia, os parágrafos estão
mais ou menos organizados nos capítulos que também foi instituída posteriormente, não
fazendo parte do original.
Se for possível, devemos adquirir Bíblias divididas em parágrafos e não em versículos. Caso
não tenhamos uma Bíblia assim, podemos usar alguns recursos oferecidos pelas Bíblias
comuns.
Na maioria das Bíblias, o tradutor acrescentou títulos agrupando os capítulos e versículos por
assunto. Exemplos: Jesus censura os escribas Marcos 12.38 a 40; A oferta da viúva pobre
Marcos 12.41 a 44. Repare também que o número do versículo que inicia um novo tema aparece
em negrito e os números dos capítulos são maior que os demais e também aparece em negrito.
Isso tudo nos ajuda a distinguir o que chamamos de contexto imediato, ou seja, o grupo de
versículos imediatamente anteriores e posteriores ao versículo analisado
Livro. A unidade maior do pensamento do autor é o próprio livro. Um estudo sério da Bíblia
não começa num versículo e sim no livro. Devemos estudar o livro e em seguida os parágrafos
para então sabermos o que o versículo realmente quer dizer.
Para estudarmos um livro da Bíblia precisamos, antes de mais nada, conhecer o autor
humano.
1. Quem foi o autor? (Parentesco, caráter, temperamento, características morais e religiosas,
sua idade quando escreveu
2. O que o levou a escrever? Qual o tema principal do livro?
3. Em que circunstâncias escreveu? (Estava preso? Estava no governo? Estava triste?...)
4. A quem escreveu?
Essas perguntas respondidas nos ajudarão a obedecer uma regra muito importante da
hermenêutica:
Um texto nunca vai significar aquilo que nunca significou para seu autor e seus leitores
Como exemplo podemos citar o dom de “ciências” descrito na Bíblia. Para nós a palavra
ciências nos faz lembrar tecnologia, física, química. Para Paulo e seus leitores a palavra ciência
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A maiorias dessas perguntas são respondidas pelo próprio texto. Veja Lucas 1.1 a 4 :
Visto que muitos houve que empreenderam uma narração coordenada dos fatos que entre nós
se realizaram, conforme nos transmitiram os que desde o princípio foram testemunhas oculares
e ministros da palavra, igualmente a mim me pareceu bem, depois de acurada investigação de
tudo desde sua origem, dar-te por escrito, excelentíssimo Teófilo, uma exposição em ordem,
para que tenhas plena certeza das verdades em que foste instruído.
Cultura – O complexo dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições e De outros
valores espirituais e materiais transmitidos coletivamente e característicos de uma sociedade.
Dicionário Aurélio.
Cultura envolve o que as pessoas pensam e crêem, dizem, fazem e produzem. Envolve
relacionamento, funções sociais, religião, política, comércio, economia, geografia, a língua,
tudo isso influencia seu modo de vida e no caso do autor bíblico o que ele escreve.
Sabemos muito bem o quanto os missionários transculturais precisam aprender da cultura do
povo a ser evangelizado. Há uma enorme diversidade de paises e cada um tem sua própria
cultura. Na Inglaterra, por exemplo dirige-se do lado esquerdo da rua.
Quando abrimos a Bíblia é como se estivéssemos entrando num país estranho. Há um choque
cultural. Vemos maneiras diferente de agir, de se vestir, de pensar. Precisamos, para uma
melhor interpretação da Bíblia, conhecer o contexto cultural do livro.
Segue abaixo alguns exemplos de textos que necessitam do conhecimento de certos aspectos
do contexto cultural para serem entendidos. Foram divididos em aspectos culturais diferentes:
Política
1. Por que o rei Belsazar concedeu a Daniel a terceira colocação no governo babilônico, e não
a segunda? (Dn. 5.7, 16). Resposta: Porque, como conta a história secular, Belsazar de fato era
o segundo no comando. Seu pai, Nabonido, que era o primeiro, ausentara-se do país por um
longo período.
2. Porque Boaz foi até a porta da cidade falar com os anciãos sobre o terreno de Noemi? (Rt
4.1) Resposta: A porta da cidade era o lugar oficial para a realização de negócios e para o
julgamento de casos (Dt 21.18-21;22.13-15; Js 20.4; Jó 29.7)
Religião
1. Porque Moisés mandou “...não cozerás o cabrito no leite da sua própria mãe”? (Ex 23.19;
34.26; Dt 14.21) Resposta: Porque isso fazia parte de uma prática no ritual cananeu. Deus não
queria que os israelitas participassem de nenhuma prática religiosa dos cananeus.
Economia
1. Por que o parente mais chegado de Elimeleque deu a sandália a Boaz ? (Rt 4.8, 17) Resposta:
Esse ato simbolizava a cessão de direitos de uma pessoa sobre a terra que pisava. Agia-se assim
quando era concluída a venda de um terreno.
Leis
1. Por que em 2 Reis 2.9 Eliseu disse a Elias “... Peço-te que me toque por herança porção
dobrada do teu espírito”. Resposta: De acordo com Deuteronômio 21.17, o primogênito de uma
família tinha direito de receber em dobro sua parte da herança deixada pelo pai. Eliseu, na
realidade, queria ser o seu sucessor.
Agricultura e pecuária
1. O que há de tão estranho no fato de Samuel pedir chuva ao Senhor na época da colheita do
trigo? 1 Samuel 12.17? Resposta: A colheita acontecia em maio ou junho, dentro do período
de seca naquela região, que ia de abril até outubro. Se chovesse nessa época ficaria evidenciado
poder de Deus.
2. Por que o Senhor perguntou a Jó, em Jó 39.1 se ele sabia o tempo em que as cabras monteses
têm os filhos? Resposta: Essas cabras escondem-se nas montanhas quando vão parir e ninguém
ainda conseguiu ver o nascimento de seus filhotes, nem os modernos pesquisadores. Deus
estava querendo acentuar a ignorância de Jó.
Vestimentas
Resposta: A palavra “seio” pode significar uma dobra na roupa que funcione como bolso.
2. O que significa a ordem “Cinge os teus lombos”? (Jó 38.3, 40.7 e 1 Pe 1.13? Resposta:
Quando um homem necessitava correr, trabalhar ou guerrear, enfiava a sua túnica numa faixa
larga em torno da cintura, para ganhar maior liberdade de movimentos. Para nós o sentido a
expressão poderia ser parafraseada como “arregaçar as mangas”
Vida doméstica
1. Qual o significado de Efraim... é um pão que não foi virado, em Oséias 7.8? Resposta: Se
um pão não for virado assa mais de um lado que do outro. Oséias estava apontando para a falta
de equilíbrio de Efraim, que dava mais atenção a umas coisas que a outras.
2. Por que em Lucas 9.59 o homem disse que queria enterrar o pai antes de Seguir Jesus?
Resposta: Se não compreendermos o costume local envolvido corremos o risco de julgar que
Jesus foi insensível nessa questão. Enterrar o pai queria dizer esperar o pai morrer, seja quantos
anos isso levasse. Muito provável sua intenção era receber a herança. Jesus tinha urgência e
queria gente desapegada a bens.
Geografia
1. Por que a carta para a igreja de Laodicéia, em Apocalipse 3.16, dizia que os membros
daquela igreja eram “mornos”, nem “quentes” nem “frios”? Resposta: A Igreja era
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Estrutura Social
1. Por que Jesus mandou os discípulos não cumprimentarem ninguém pelo caminho? (Lc 10.4)
Resposta: Os cumprimentos daquela época eram muito longos. As pessoas se curvavam várias
vezes e comentavam os acontecimentos do dia. Jesus não queria ser anti-social, mas tinha
urgência no cumprimento da missão.
2. Por que as pessoas, nos tempos bíblicos, às vezes jogavam pó sobre a cabeça? Ver Jó 2.12;
Lm 2.10; Ez 27.30; Ap 18.19. Resposta: Eles demonstravam o quanto pesar estavam sentindo.
Era como se estivessem numa sepultura, debaixo da terra.
Comentários Bíblicos.
6. Análise Gramatical
O estudo da Palavra
Lexicologia • Etimologia
(O Significado das palavras) • Usus Loquendi
• Sinônimos e antônimos
Morfologia • Contextos
ESTUDO DA PALAVRA
Sintaxe – Colocar em ordem
Estudo do modo como as palavras
relacionam-se com o texto.
O Discurso
Sim, por diversas razões, as palavras assumem significados diferentes nos diferentes trechos da
Bíblia. Para não errarmos ao interpretar o texto sagrado, faz-se necessário considerarmos as
regras de interpretação gramatical.
As palavras assumem significados diferentes porque qualquer língua viva é dinâmica. O tempo,
à distância e a cultura influenciam na mudança entre o sentido primeiro da palavra e o sentido
falado.
Na nossa própria língua vemos que, com o passar do tempo o sentido original das palavras vai
mudando. Vemos também que palavras assumem sentidos diferentes dependendo da região do
Brasil.
A análise das palavras é fundamental para a sua compreensão de qualquer texto, inclusive a
Bíblia. A interpretação gramatical das palavras exige a verificação de quatro aspectos:
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1. Pela etimologia
2. Pelo emprego utilizado pelo autor (Usus Loquendi)
3. Pelos sinônimos e autônimos
4. Pelo contexto empregado
Na maioria das vezes uma palavra que sobrevive muito tempo numa língua acaba adquirindo
muitas denotações (significados específicos) e conotações (implicações complementares),
diferentes do original. Veja alguns exemplos:
A palavra “tratante” originalmente significava uma pessoa que tratava de negócios. Hoje
tratante é uma pessoa desonesta.
A palavra “libertino” era o filho do escravo liberto, hoje é uma pessoa depravada.
A palavra “evangelho”, no grego clássico significava “a recompensa por boas novas” dadas ao
mensageiro. Mais tarde veio a significar apenas “boa mensagem”. No Novo Testamento
adquiriu um significado especial “as boas novas de salvação” em Jesus Cristo.
Entretanto nem sempre uma palavra no Novo Testamento tem o mesmo significado do grego
clássico. A etimologia não é um método muito seguro para se descobrir o significado das
palavras.Temos que tentar descobrir o que a palavra significava para o autor e o seus leitores.
diferente daquela que Paulo tinha quando escreveu suas epístolas. Outro exemplo é a palavra
dunamis (poder). Muitos tem feito por conta própria, para efeito homilético, a substituição da
palavra “poder” em Romanos 1.16 por “dinamite”. “Pois não me envergonho de evangelho,
que é dinamite de Deus... Para dar uma idéia de que o poder de Deus é como dinamite:
explosivo. É claro que Paulo quando escreveu Romanos não queria dizer que o poder de Deus
era explosivo pois ele não conhecia a dinamite.
2. Outro erro muito comum é definir o significado teológico de uma palavra pela
etimologia e seus sinônimos no português.
Isso ocorre quando o estudante não conhecedor da língua original do texto (grego ou hebraico)
recorre ao significado da palavra em português, que é uma tradução.
Pelo emprego utilizado pelo autor – Um método mais seguro para descobrir o significado de
uma palavra é chamado “usus loquendi” (o uso feito por quem fala).
A etimologia estuda o significado original das palavras. Sabemos, no entanto, que as palavras
evoluem, assumindo outras conotações com o passar do tempo. Por isso devemos tentar
identificar qual era o significado que aquela palavra empregada tinha para o autor.
Exemplo 1
O que significa “pais” para o autor dessa frase? A palavra “pais” pode ser traduzida de três
maneiras diferentes:
Exemplo 2
Uma só palavra pode ter muitos significados nos diferentes livros da Bíblia, pelas razões já
expostas, como por exemplo a palavra sarx (carne). Veja a variedade de significados que ela
tem:
• Elemento Físico de homens e animais – Gn 40.19; Lv 6.27. Paulo tinha uma enfermidade
que assolava sua carne (Gl. 4.13)
• Descendência humana – Jesus descendia de Davi “segundo a carne” (Rm 1.3). Rm 4.1
• Natureza Humana – 1 Co. 1,26 – fala da sabedoria da carne (humana). 2 Co 10.3-5 fala
que Paulo não usava armas carnais (humanas)
• Natureza Pecadora – que é contrária a Deus. Rm 7.18; Ef. 2.3 Gl 5.16,17.
Num contexto, uma palavra só pode ter um significado, e é aquele que o autor pretendia que
tivesse.
Ambigüidade proposital
O princípio acima é fundamental, mas precisamos admitir que em alguns casos o autor
propositadamente usa do recurso da ambigüidade. Exemplo: Paulo afirmou que “ toda
mulher... que ora, ou profetiza, com a cabeça sem véu, desonra a sua própria cabeça” (1
Co 11.5) há uma dupla interpretação possível, pois o uso do véu honrava a cabeça, pois
lhe cobria, e honrava o marido (cabeça), pois o uso do véu denotava ser a mulher casada.
Pelos sinônimos e autônimos – Um erro comum na interpretação dos textos ocorre quando
atribuímos a uma palavra o sentido que uma outra palavra sinônima tem. Precisamos descobrir
as distinções, muitas vezes sutis, que os sinônimos tem.
Exemplos
Em Colossenses 2.22 temos preceitos (leis que devem ser obedecidas) e doutrinas (verdades
que nas quais se deve crer)
A observação dos autônimos também são ferramentas muito úteis para determinação do
significado das palavras.
Exemplos
Em Romanos 8.4-9 o que significa a palavra “carne”? Corpo Físico ou natureza pecaminosa?
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Vemos no texto que “carne” está sendo comparada com “espírito”. Nos versículos 6,9 e 11
vemos que “espírito” significa Espírito Santo e não espírito humano. Portanto o sentido
mais provável é que “carne”seja natureza pecaminosa.
Muitas vezes nos perguntam: “ Por que as Bíblias não são todas iguais? “
Todas as versões são importantes. Existem aquelas que seguem mais de perto a forma do
grego e do hebraico, chamadas literais-modificadas, e são especialmente úteis para um estudo
cuidadoso. Já as versões chamadas idiomáticas, prestam-se melhor ao povo em geral por sua
forma mais natural de expressão em português.
Ap 1.5
“....nos lavou de nossos pecados,” Revista e Corrigida
“...nos libertou de nossos pecados,” Revista e Atualizada
A palavra grega traduzida por “lavou” é lousanti e a traduzida por “libertou” ou “livrou” é
lu/santi(NA27). A pronúncia das duas palavras é quase a mesma. Assim, se os escribas
estivessem escrevendo o que os outros ditavam, em vez de estarem copiando enquanto
escreviam, alguns poderiam pensar que fosse “ou” e outros, “u”.
Lc 14.5
Alguns manuscritos trazem “filho” – uio\j (NA27), outros por “jumento” -o)/noj (Receptus) e
ainda outros por “filho de jumento”. As pessoas que fizeram a Revista e Corrigida acharam que
os manuscritos que dizem “jumento” eram os mais certos, enquanto as que fizeram a Revista e
Atualizada acharam mais certa a palavra “filho”.
Na primeira frase o sentido da palavra coroa é literal, ou seja o sentido exato da palavra. Na
segunda frase, coroa toma o sentido figurado, pessoa velha. Seria uma maneira enfeitada de
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Quem está no trono? Não eu, mas Cristo.
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dizer. Na terceira frase coroa o sentido da palavra coroa assume uma conotação simbólica,
representativa de uma outra coisa completamente diferente. No caso a frase é um versículo do
livro do Apocalipse e coroa pode simbolizar a nação de Israel onde as doze estrelas seriam as
doze tribos, a lua simboliza a revelação do Antigo Testamento e o sol e a luz a revelação do
Novo Testamento.
Expressões literais e figurativas normalmente se referem a fatos históricos reais de
entendimento imediato, enquanto expressões simbólica devem contar com recursos para um
bom entendimento para não cair no problema do subjetivismo ou alegorização, como uma
análise do contexto, como veremos mais tarde.
Quando não distinguimos se uma expressão deva ser interpretada de forma literal ou simbólica
corremos o risco de distorcer a intenção do autor ao escrever.
Muitas vezes dizemos coisas que não devem ser entendidas literalmente; são apenas modo de
falar. É o que chamamos de “linguagem figurada”. Da mesma forma a Bíblia Sagrada apresenta
diversos textos em linguagem figurada, muitas vezes com uma significação peculiar para
determinado povo e época (expressão idiomática), cujo significado, se for traduzido
literalmente, torna-se um tanto obscuro. Vejamos:
Filemom 7
Para nós o centro das emoções é o coração. Para os gregos, eram as entranhas. Então, quando a
palavra “entranhas” não está-se referindo a uma parte do corpo, a tradução mais natural no
português é “coração”. Outros exemplos:
Coração
Rins
Os hebreus costumavam dizer que os desejos vinham dos rins, usando essa palavra em sentido
figurado. Para nós, os rins não têm nenhum valor figurativo. Veja ainda nas versões Revista e
Corrigida e Revista e Atualizada os seguintes textos: Sl 16.7; Dt 32.14; Sl 7.9 e Pv 23.16.
Ventre
Usos básicos: Mt 12.40, 15.17; 1 Co 6.13; At 14.8; Lc 1.41 e João 3.4 – Ler nas versões Revista
e Corrigida e Linguagem de Hoje.
Significado Semântico
Às vezes, a relação de uma palavra com o enunciado mostra um significado peculiar que
está amalgamado ao contexto, isto é, sua significação depende de sua relação dom o texto em
que está inserida. Vejamos
Dormir – referindo-se
Casa – referindo-se
Nome
At 1.15 – grego: “...o)/xloj o)noma/twn...” traduzido: “... multidão dos nomes..”. Leia o mesmo
texto na versão Revista e Corrigida.
Mc 19.29: Revista e Corrigida – “... por amor do meu nome...”
Linguagem de Hoje – “... por minha causa...”
Sangue
Uma palavra muito importante na Bíblia é “sangue” (ai(ma- grego transliterado- haima – 95
vezes no NT grego). Seria bom examinar com muito cuidado para ver os seus significados.
Vamos notar que o significado varia de um versículo para outro.
exercício: Qual a diferença semântica da palavra grega pi/stij (translitrado – pístis = fé)
nos textos: Hb 11.1; Gl 5.22 e 1 Co 12.9?
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Quem está no trono? Não eu, mas Cristo.
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Ainda um outro exercício: Apresente uma paráfrase alterando as palavras pouco usadas
por outras palavras ou expressões com o mesmo sentido dos seguintes textos:
- Mt 5.22 - Ef 2.11b
- Mt 23.7 - Rm 8.4
- Mt 4.23 - Tg 1.2
7. Análise Teológica
Um estudante da Bíblia, numa primeira análise, chega a pensar que o Deus inspirou o Antigo
Testamento é diferente do que inspirou o Novo Testamento, devido ao contraste entre essas
duas partes das sagradas escrituras.
Na visão de alguns, o Antigo Testamento representa a Lei de um Deus irado enquanto o Novo
Testamento a Graça de um Deus amoroso.
Esse assunto vem sendo estudado há milhares de anos e no decorrer desse período surgiram
alguns sistemas teológicos que tratam da relação entre os dois Testamentos a saber:
Unidade testamentária
1) O Antigo Testamento não tem validade para nós cristãos pois diz respeito à religião judaica.
2) O Novo Testamento é a Nova Lei.
No nosso entender, nenhuma das duas teses está correta. O Antigo Testamento não pode ser
desprezado porque ele foi cumprido no Novo. O Novo não pode ser considerado como uma
nova lei pois leva ao legalismo, que é o cumprimento mecânico das cerimônias, das
vestimentas, dos altares, dos dias e lugares consagrados, das autoridades clericais, etc..
Muitos se questionam como as pessoas poderiam ser salvas antes de Cristo. Deus usa método
contínuo ou descontínuo ao tratar com o homem?
Algumas teorias surgiram para explicar especialmente a história da salvação. São sistemas
elaborados que apresentam suas visões, alguns de continuidade ( Deus sempre agiu de uma
maneira) outras de descontinuidade (Alguns fatos levaram Deus a mudar de plano).
Normalmente nós nos enquadramos em uma dessas teorias através do doutrinamento básico
que recebemos via classe de novos convertidos ou por influência de um discipulador ou por
livros que lemos. O que a maioria das pessoas não sabe é que não há uma só teoria.
Essa matéria não tem por objetivo definir qual modelo é o correto. Temos que esclarecer, no
entanto, que a aceitação de uma dessas teologias vai influenciar diretamente na maneira como
interpretamos o texto bíblico. Não se esqueça que somos fortemente influenciados pelas nossas
próprias crenças pessoas(idiossincrasias).
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Quem está no trono? Não eu, mas Cristo.
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Teoria Liberal
Os teólogos liberais vêem a Bíblia como um produto evolutivo da religião de Israel. A medida
que a consciência religiosa de Israel se tornava sofisticada, sua teologia também se sofisticava.
Para eles a Bíblia não é contínua, uma vez que refletia as mudanças de pensamentos dos homens
com o passar do tempo na sua tentativa de entender a Deus.
Teoria Dispensacional
Os dispensacionalistas também não vêem a Bíblia como contínua. Para eles a história da
salvação sofreu mudanças com o passar do tempo, seguindo um padrão que se repete a saber:
1) Deus dá ao homem um conjunto específico de responsabilidades ou padrão de obediência.
2) O homem não consegue viver à altura desse conjunto de responsabilidades, e
3) Deus reage com misericórdia concedendo um novo conjunto de responsabilidades, ou seja,
uma nova dispensação.
Há variações quanto ao número de dispensações. Uns dizem quatro, outros nove, outros sete e
outros oito. Basicamente podemos dizer que a maioria dos estudiosos concorda com as
seguintes dispensações:
1) Dispensação da Inocência ou Liberdade. Começa com a criação de Adão e Eva e termina
quando eles pecaram pela desobediência. Gênesis 1.28 a 3.6.
2) Dispensação da consciência – Após a queda do homem, a sua consciência passou a ditar
suas regras de conduta e mordomia a Deus. Mais uma vez o homem se perverteu, vindo um
juízo por meio de um dilúvio. Gênesis 4.1 a 8.14.
3) Dispensação do governo civil – Deus ordena aos homens espalharem-se pela Terra e a
governarem. Em vez disso eles preferiram construir a torre de Babel. O Juízo veio pela confusão
de línguas. Gênesis 8.15 a 11.9.
4) Dispensação da Promessa – Abrange o período dos patriarcas e recebe esse nome por causa
da promessa que Deus fez a Abraão que ele herdaria uma terra e bênçãos. Jacó desobedeceu
saindo da terra prometida indo se estabelecer no Egito. O juízo foi à escravidão. Gênesis 11.10
a Êxodo 18.17.
5) Dispensação da Lei Mosaica – Essa dispensação durou de Moisés até a morte de Cristo.
Deus deu mandamentos detalhados de ordem prática da vida. Israel fracassou não
permanecendo fiel a esses mandamentos. O Juízo foi à divisão do reino em duas partes e à
escravidão. Êxodo 18.2 a Atos 1.26.
6) Dispensação da Graça – Nessa dispensação, na qual nós estamos vivendo hoje, a
responsabilidade do homem é aceitar o Dom da justiça de Deus. Como o homem tem rejeitado
esse Dom o próximo juízo será a grande tribulação.Atos 2.1 a apocalipse 19.21.
7) Dispensação do Milênio – Ocorrerá com a instalação de um reino milenar e a
responsabilidade do homem será a obediência ao governo pessoal de cristo. No final desses mil
anos haverá uma rebelião final que terminará com o Juízo Final. apocalipse 20.
Variações e divergências
Há pequenas variações entre os dispensacionalistas, como o de considerar a tribulação como
uma dispensação à parte. Alguns estudiosos leigos, influenciados pelos comentários da Bíblia
de Referência de Scofield, acreditam que a Lei e a Graça são meios alternativos para a salvação,
ou seja, você é quem escolhe qual meio quer ser salvo. Entretanto grande parte dos teólogos
dispensacionalistas concordam com a declaração de Ryrie:
A base da salvação em cada era é a morte de Cristo, a exigência para a salvação em cada era é
a fé; o objeto da fé em cada era é Deus; o conteúdo da fé muda nas várias dispensações.
Teoria Luterana
Martinho Lutero via a continuidade na Bíblia . Ele acreditava em duas verdades bíblicas sempre
presentes: a Lei e o Evangelho.
Lei – Refere-se a deus em seu ódio ao pecado; seu juízo; sua ira.
Evangelho – Refere-se a Deus em sua graça; seu amor; sua salvação.
Esses dois aspectos de Deus estão presentes em toda a Bíblia, tanto no AntigoTestamento
quanto no Novo.
A Lei reflete a santidade do caráter de Deus. Deus não pode privar-se dela pois isso o tornaria
um Deus amoral em vez de um Deus santo.
A graça é uma resposta divina ao fato do homem nunca poder satisfazer o padrão de santidade
exigido pelo Senhor.
Podemos então identificar em toda a Bíblia a Lei a o Evangelho. Basta fazermos perguntarmos
ao texto: Isso fala de julgamento sobre mim, ou fala de consolo?
Se for julgamento é a Lei, se for consolo é Evangelho. Veja os exemplos abaixo:
Para os teólogos luteranos, Lei e Graça não representam dois períodos diferentes. São, na
realidade dois aspectos da personalidade de Deus: Sua Santidade e sua Graça e estão presentes
em todas as partes da Bíblia.
Os teólogos das alianças vêem a história bíblica coberta por duas alianças:
1) Aliança de obras – Essa aliança foi um acordo feito entre Deus e Adão. Deus prometeu
vida mediante obediência perfeita e morte como castigo pela desobediência.
2) Aliança da graça –Essa aliança é um acordo feito entre Deus e o pecador. Deus promete
salvação mediante uma vida de fé, e o pecador promete uma vida de fé e obediência. Todos os
crentes do Antigo Testamento bem como os crentes contemporâneos fazem parte da Aliança da
graça.
Os teólogos da aliança crêem que todas as alianças descritas acima fazem parte de uma só
aliança da graça. Sua ênfase a continuidade da história da salvação não poderia admitir tantas
alianças que no final seriam dispensações com outro nome. As diversas alianças não são
disjuntivas, mas sim complementares. Uma aliança não abole a outra.
Modelo Epigenético
Há uma teoria interessante chamada Epigenética que diz que a revelação divina é análoga ao
crescimento de uma árvore oriunda de uma semente. Primeiro vem a plantinha, depois a árvore
nova, vindo então árvore em pleno crescimento. Não há então fase imperfeita, pois uma árvore
em qualquer fase do crescimento é perfeita. Não há meio árvore. Diferente por exemplo da
construção de um edifício, que só será considerado inteiro quando for todo acabado.
Essa teoria vê a Bíblia como uma unidade orgânica. Através dos tempos Deus foi revelando
progressivamente o conceito de salvação, da mesma maneira como uma árvore vai adquirindo
raízes, troncos, galhos e folhagens.
Muitos vêem nessa teoria um caminho intermediário entre teólogos das alianças que criticam
os teólogos da dispensação por não primarem pela unidade fundamental da Bíblia e os
dispensacionalistas acusam os teólogos da aliança de não reconhecerem as muitas distinções
em toda a Bíblia como por exemplo entre Israel e a Igreja.
Teologia e hermenêutica
É importante reconhecermos que, de uma forma ou de outra, todos nós somos influenciados por
algum desses sistemas teológicos e que isso nos leva interpretarmos o texto bíblico com
preconceito teológico.
A forma oriental de comunicação era bem concreta. A visão abstrata do pensamento ocidental
pode, as vezes, achar exagerada a grande utilização de figuras de linguagem encontradas no
texto bíblico, todavia, não podemos esquecer a visão concreta dos povos da época, onde, por
exemplo a idéia da proteção divina estaria ligada a um conceito de “Rocha e Escudo”, “Asas
protetoras”, etc.
A linguagem figurada é um recurso que nós utilizamos constantemente em nosso dia a dia.
Frases como “Esta chovendo canivete” , “Ninguém engole esse argumento” ou “morri de rir”
são exemplos disso.
Quando dizemos “está chovendo canivete” é claro que a palavra “canivete” está sendo usada
no sentido figurado. Não se trata de canivete de verdade. A maneira usual de dizer essa frase
seria “está chovendo muito forte”. O Motivo de usarmos a frase figurativamente, nesse caso, é
o de dar ênfase ao fato de que a chuva é muito forte.
O mesmo acontece com a Bíblia. Os diversos autores dos livros sagrados utilizaram
amplamente desses recursos. Estudiosos catalogaram mais de 200 tipos de figura de linguagem
diferentes utilizados na Bíblia.
Vejamos alguns exemplos:
1. Símile – É uma comparação em que a coisa lembra outra explicitamente (usando como,
assim, tal qual, tal como) . Exemplos: 1 Pe 1.24; Lc 10.3; Sl 1.3.
COMPARANDO....
AINDA OUTRAS....
• Metonímia – Consiste em substituir uma palavra por outra. Na Bíblia existem pelo menos
três tipos de metonímia. a) Causa pelo efeito – a causa é usada em lugar do efeito. Exemplos:
Jr.18.18; Pv 12.18; At 12.18..
B) O efeito é usado em lugar da causa – Davi disse: “Eu te amo, ó Senhor, força minha”
Salmo 18.1. A força (efeito) é empregada em lugar da causa o Senhor.
C) O objeto é usado em lugar de outro semelhante ou que está a ele relacionado. Exemplo: 1
Co 10.21
• Sinédoque – Substituição da parte pelo todo, ou do todo pela parte. Exemplos: Pv 1.16;
Rm 16.4
Parábolas. Podemos dizer que parábola são Símiles ampliadas, pois nela ocorrem comparações
explicitas.
Alegorias. São Metáforas ampliadas, pois as comparações não são explicitas
Provérbios. Às vezes são Parábolas reduzidas, às vezes são Alegorias reduzidas.
Parábolas
A palavra Parábola vem do grego paraballo que significa “Lançar ou colocar ao lado de”. É
algo colocado ao lado de outra coisa para efeito de comparação.
Uma parábola típica se utiliza de um evento da vida normal para acentuar ou esclarecer uma
verdade espiritual.
Finalidades
1) Revelar verdades aos crentes através de um modo mais fácil de entender conceitos que
seriam difíceis de se explicar em palavras. ( Mt 13.10-12)
2) Facilitar a memorização de fatos importantes
3) Às vezes ocultar verdades daqueles que tem o coração endurecido (Mt 13.10-13)
Jesus foi, certamente, o mais se utilizou de parábolas como método de ensino. Nos Evangelhos
a palavra parábola aparece mais de 50 vezes. No entanto, o Antigo Testamento está repleto
delas.
A interpretação das parábolas deve seguir os mesmos passos de outros textos da Bíblia. A saber:
Exemplo.
A parábola dos trabalhadores na vinha (Mt 20.1-16) se não for lido todo o contexto imediato
que começa no capítulo 19.16, pode-se ocorrer outras interpretações diferentes da que Jesus
tinha em mente. Lendo todo o contexto entendemos que um jovem rico havia se aproximando
do Mestre e perguntado: “Bom mestre, que bem farei, para conseguir a vida eterna?”. Jesus
apercebendo-se do seu apego às riquezas propôs que ele vendesse tudo que tinha e lhe seguisse.
O jovem então se entristece e retira-se. Pedro então toma da palavra questiona o que ele iria
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ganhar por ter abandonado tudo para seguir a Jesus. Jesus responde a pergunta de Pedro no
verso 28 mas conta uma parábola para ensinar o conceito que “muitos primeiros serão os
últimos e muitos últimos serão os primeiros” trazendo uma reprimenda a Pedro pelo
pensamento mercantilista que ele teve.
Os elementos usados nas parábolas são os do cotidiano, daí a necessidade de se conhecer bem
o contexto histórico que envolve as pessoas que ouviram.
Comércio – Pescador, construtor, mercador, dinheiro, juros, dívidas, tesouro, patrão, servos,
credor, devedor, coletor de impostos, viajante, pérola, administrador.
Domésticos – casas, cozinhar, fermento, comida, costurar, moedas, varrer, dormir, comer,
crianças brincando, viúva. Odres, porteiro.
Temos que distinguir as parábolas do Antigo Testamento que falavam a respeito de Israel
das do Novo Testamento que falavam a respeito do Reino de Deus.
Alegorias
Paráboras x Alegorias
PARABOLAS ALEGORIAS
Uma ampliação do Símele Uma ampliação da Metáfora
Um só foco de comparação Vários focos de comparação
A interpretação, quando houver, vem As interpretações estão entremeadas na
localizada logo após a história, e em alguns história
casos logo no início
Provérbios
O que é um Tipo?
A palavra “tipo”, derivada do grego typos, aparece 15 vezes no Novo Testamento traduzida
para o nosso idioma de diversas maneiras:
Em todas essas traduções: sinal, figura, modelo, prefiguração, exemplo, padrão, há uma idéia
comum de correspondência ou semelhança entre dois elementos.
Tipo é uma instituição teológica ordenada por Deus que prefigura alguma verdade ligada ao
cristianismo.
O dilúvio tipificava o batismo nas águas, pois o dilúvio significou a morte para os perversos
enquanto o batismo nas águas retrata a morte de Cristo e a identificação do crente com ela.
O reconhecimento dos tipos e antítipos nos ajuda a entender a função das festas e sacrifícios
instituídos no Antigo Testamento. Eram sombras de coisas futuras que cumpriram em Cristo,
não sendo portanto obrigação nossa cumprir esses preceitos, Cristo já cumpriu por nós.
continuidade. Ajuda-nos a ver a mão de Deus na história pois os tipos foram projetados como
instrumentos divinos.
Símbolos
Símbolo Elemento
simbolizado
A maioria dos teólogos evangélicos não crê em símbolos universais, ou seja símbolos que
apresentam o mesmo significado em toda a Bíblia. Acreditam que existem os símbolos
regulares, que estão presentes na maioria dos textos bíblicos com o mesmo significado ou
parecido. Podemos verificar que um mesmo símbolo pode ter significados diferentes,
dependendo do contexto.
Tipos x Símbolos
Símbolos Tipos
São apenas sinais, não sendo inteiramente Representam o elemento comparado por
similares ao elemento comparado semelhanças em diversos aspectos
Não prefigura, ou seja não prevê, pode até Precede e prefigura o elemento comparado.
coexistir no mesmo tempo do elemento Aponta para o futuro.
comparado
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Números simbólicos:
Um – unidade e primazia
Dois – relação, diferença , divisão
Três – solidez
Quatro – cessação, fraqueza, fracasso, provação, experiência, modificação, criatura, terra,
mundo.
Cinco – o fraco com o forte, Emanuel, Deus governando, capacidade, responsabilidade, etc..
Seis –limitação, domínio humano, manifestação do mal, disciplina.
Oito – novo começo, o novo em contraste com o velho
Dez – perfeição ordinal
Doze – o governo de Deus manifesto no mundo. Número do povo de Deus.
Quarenta – Provação, teste de prova.
Nomes simbólicos:
Cores simbólicas:
Branca – Pureza
Púrpura ou roxo –Realeza
Vermelho – Derramamento de sangue
Interpretação de profecias
A profecia:
1) Prediz eventos futuros (Ap 1.3; 22.7 , Jo 11.51)
2) Revela fatos ocultos ao presente (Lc 1.67-79; Ap 13.6-12)
3) Ministra instrução, consolo e exortação (Amós; At 15.32; 1 Co 14.3,4,31)
1) Uma profecia pode ser cumprida logo após ser pronunciada ou muito tempo depois.
2) Uma profecia pode ser revogada
3) Muitas profecias são cumpridas literalmente (principalmente as que se referem a Cristo)
4) As profecias sempre fazem parte de um todo, sendo necessário compara-la com outras
profecias da Bíblia
5) O profeta via junto os fatos que seriam cumpridos separadamente
1) Os profetas geralmente falam de coisas futuras como se fossem presentes a seus olhos ( Is
9.6)
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Quem está no trono? Não eu, mas Cristo.
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2) Os profetas também falam de coisas futuras como se fossem passado (Is 53)
Muitas profecias não se cumpriram porque eram condicionadas a uma reação humana. Jonas
pregou que dentro de quarenta dias a cidade de Nínive seria destruída. As pessoas se
arrependeram e Nínive não foi destruída, Deus mudou de planos, e não consta que elas sabiam
dessa condição, o que nos leva a concluir que as profecias condicionadas nem sempre são
explicitas. Veja Jeremias 18.7-10.
Outras profecias no entanto não serão mudadas. São aquelas que não dependem da atitude
do homem e sim do juízo de Deus. São profecias absolutas.
No que diz respeito ao Reino de Deus, as profecias são ao mesmo tempo condicionadas e
absolutas. São absolutas porque elas vão se cumprir, e são condicionadas quanto ao tempo de
seu cumprimento.
A interpretação da profecia:
A Besta de Apocalipse:
A mulher sentada sobre os sete montes (Ap 17.9) nunca poderá ser interpretado literalmente
pois não há mulher tão grande que possa ocupar tantos montes assim.
Há ainda um método chamado de analógico que faz uma interpretação literal adaptada a uma
outra realidade. Por exemplo a batalha do Armagedom para alguns se dará não com cavalos e
sim com tanques.
Muitos irmãos e irmãs costumam dizer: “...está escrito....”, mas muitas vezes o irmão ou a irmã
disse não se encontra em parte nenhuma da Bíblia, outras vezes cita parcialmente um texto
bíblico como se fosse uma verdade completa.
Creio que isso ocorre, primeiro, devido ao conhecimento periférico das Sagradas Escrituras e
em segundo lugar, devido ao dogmatismo, isto é, ensinos recebidos como dogmas que as vezes
não estão em linha com as o Texto Bíblico.
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Bibliografia