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Introdução:
Nos dias atuais aquela velha pergunta continua na mente de muitas pessoas que
vivem no ambiente da igreja “quem realmente precisa de Hermenêutica?” Essa pergunta
é importante para cada pessoa que estuda a Palavra de Deus. Pessoas há que sustentam a
ideia de que a tarefa hermenêutica é algo restrito ao grupo de crentes seletos e
iluminados.
Esta é uma daquelas questões que não deveria ser suscitar debates. Uma vez que
todos nós, de modo ou de outro, somos intérpretes de tudo o que nos cerca. Mas,
interpretar a Bíblia? Ora, por que há essa necessidade de interpretar as Escrituras?
Muitos cristãos dizem que não precisam estudar hermenêutica, ou seja, julgam que não
precisam dela. Os que pensam na necessidade da disciplina hermenêutica argumentam
que a Bíblia é um livro divino, e assim, “exige de nós algum treinamento especial para
entendê-la”.1 Mas, tal resposta deixa-nos em uma situação paradoxal, conforme nos
lembra AlonsoSchökel: “Se alguém é capaz de falar de maneira absolutamente clara e
tornar-se compreensível com eficácia irresistível, esse tal é Deus; portanto, se há alguma
palavra que poderia não exigir hermenêutica, essa seria a palavra divina”2
Mas por que todos precisam de hermenêutica? Esta é fundamental pergunta que
precisa ser feita no estudo das escrituras! A Hermenêutica é importante para o pastor,
1
KAISER JR, Walter C.; SILVA, Moisés. Introdução à Hermenêutica Bíblica. São Paulo: Cultura
Cristã, 2002, p. 14.
2
ALONSO-SCHÖKEL, Luis. Hermenéutica de la Palavra. Madrid: Cristandad, 1986, volume 1, p.83
professor, seminarista, membro da igreja local. Todos necessitam da hermenêutica em
maior o menor grau. Mas, por quê?
Mas, um ponto importante não é fato que as escrituras precisam ser interpretadas
por causa de sua natureza divina, mas exatamente por causa do seu lado humano. As
Escrituras são apropriadamente chamadas “palavra divina em palavras humanas” 4 Esta
necessidade interpretativa é necessária exatamente porque a linguagem humana é
“equivoca”5 A linguagem humana tem gerado muitos mal-entendidos, e por esta razão se
faz necessário o estudo da hermenêutica.
Outra razão pela qual se deve empreender o estudo da Hermenêutica Bíblica está
no fato de que a Bíblia, como palavra de Deus, oferece três desafios importantes. Estes
desafios ou dificuldades precisam ser considerados durante todo processo hermenêutico.
1. O Abismo Cultural:
3
OSBORNE, Grant. R. A Espiral Hermenêutica. São Paulo: Vida Nova, 2009, p. 27.
4
DIAS. Cassio Murilo. Manual de Exegese Bíblica. São Paulo: Paulinas, 2006, p. 11
5
KAISER JR, Walter C.; SILVA, Moisés. Introdução à Hermenêutica Bíblica. São Paulo: Cultura
Cristã, 2002, p. 14.
A necessidade da interpretação bíblica se mostra quando observa-se o ambiente
histórico-cultural no qual a Bíblia foi escrita. “O mundo em que os escritores da
Bíblia viveram já não existe. Está num passado distante, com suas características,
cosmovisões, costumes, tradições e crenças”, isso é importante ser pensando,
também precisa-se ressaltar que os “intérpretes da Bíblia devem levar em conta o
jeito de escrever daquela época, a maneira de expressar conceitos e ilustrar as
verdades, para poder transpor a distância cultural”.6
Alguém já disse que cada “um de nós vê a realidade através dos olhos
condicionados pela cultura e por uma variedade de outras experiências.” 7
2. As Línguas Originais.
6
LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e Seus Intérpretes – Uma Breve História da Interpretação.
São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p.24
7
VIRKLEY, Henry. Hermenêutica Avançada. São Paulo: Vida, 1987, p 12
Um dos aspectos fundamentais para a necessidade da interpretação é a condição
espiritual do homem. O homem depois da queda possui os “olhos do entendimento”
entenebrecido (Efésios 4.17-18) – observemos a expressão: “entenebrecido no
entendimento” [ ἐσκοτωμένοι τῇ διανοίᾳ- eskotômenoi tê dianoia] aponta para o fato de que
a mente do homem foi afetada pela queda. Logo, ele não consegue compreender
adequadamente a Palavra de Deus. A evidência textual desta necessidade é certamente 1ª
Coríntios 2.14-15 – o homem natural não pode entender as realidades espirituais.
8
VIRKLEY, Henry. Hermenêutica Avançada. São Paulo: Vida, 1987, p.10
9
Idem.
Teologia Bíblica
**
**
Ibid, p.11.
10
ANGLADA, Paulo Roberto Batista. Orare et labutare: A Hermenêutica Reformada das Escrituras.
São Paulo: Editora Mackenzie: CPAJ, In. Fides Reformata 2/1(1997), p.2.
IV – OS PRESSUPOSTOS TEOLÓGICOS E A NECESSIDADE DA
HERMENÊUTICA.
11
ANGLADA, Paulo Roberto Batista. Introdução à Hermenêutica Reformada. Anamindeua: Knox
Publicações, 2006, p.18.
12
ANGLADA, Paulo Roberto Batista. Introdução à Hermenêutica Reformada. Anamindeua: Knox
Publicações, 2006, p.136.
exegese”13 da Reforma. A própria Escritura (Evidência Interna) dá testemunho de si
como inspirada por Deus (Ex. 4. 22; Jz 6. 8; Is 43. 14; ISm 15. 23; Jr. 1. 4; Mt 5. 17, 17;
Jo10. 35; Hb. 3. 7ss).
Aquilo que nós compreendermos sobre a autoridade absoluta das Escrituras fará
toda diferença no estudo hermenêutico das Escrituras. Packer vai nos dizer que a
autoridade das Escrituras “repousa na inspiração”14 A Bíblia guia a nossa vida e dita a
forma como devemos ver e adorar a Deus naquilo que ele requer de nós. Cristo sempre
apelou para as Escrituras como a um tribunal supremo. Em qualquer controvérsia ele
usava a expressão “está escrito” indicando que a palavra final deve ser dada a Palavra
inspirada por Deus. Vejamos isso detalhadamente em Mateus 4.4,6,7,10. Cristo ao usar
a expressão “está escrito” usa a forma verbal em grego “ge,graptai” – gégraptai
–e um verbo no perfeito que indica uma ação continua, significando “permanece
escrito, então, o Senhor Jesus esta apelando para a autoridade da Bíblia como fonte
autorizada da verdade.
Mas, o que é essa doutrina? A resposta mais simples e clara que podemos
oferecer a esta pergunta e que o “Sola Scriptura ensina que a Bíblia regula a vida em
sua totalidade15a Confissão de fé fala-nos do quanto as Escrituras são realmente suficientes
para a igreja. Os teólogos puritanos declaram: “Todo o conselho de Deus concernente a
todas as coisas necessárias para a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é
13
Ibid, p.137.
14
PAKER, James I. Vocábulos de Deus. São Paulo: Fiel, 2002, p. 33.
15
SCHWERTLEY, Braian. M. Sola Scriptura e o Princípio Regulador do Culto. Tradutor: Marcos
Vasconcelos. São Paulo: Editora os Puritanos, 2001, p.1.
expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela.”
(CFW – capítulo 1. Seção 6) – veja-se: 2ª Tim.3.15-17.
Aqui nós temos um conceito subjacente ao Sola Scriptura [Somente a Escritura] que
é o de Toda Scriptura [ Toda Escritura], também desenvolvido na reforma protestante; e, de
Acordo com Fred Klooster, “este ponto de vista a respeito da Escritura como “única e
completa’ (sola e tota Scriptura) é exclusivamente reformado” 16
Então, ao interpretamos o texto sagrado devemos ir até uma Bíblia suficiente. Não
estamos interpretamos um documento incompleto, imperfeito que precisa ser adicionado
com outros ditos, ou com novas revelações; o estudo sério e laborioso das Escrituras se
torna compensador quando pressupomos que estamos diante da vontade suficiente de Deus
apresentada nas Escrituras.
16
Apud¸ BEEKE, Joel. R. Vivendo para a Glória de Deus – Uma Introdução à Fé Reformada.
Tradutor: Francisco Wellignton Ferreira. São Paulo: Editora Fiel, 2010, p. 150