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Capacitação Ministerial

Disciplina: Intepretação Bíblica

1. Algumas definições possíveis

Para iniciamos nosso estudo, é necessário termos alguns conceitos previamente


definidos, a fim, de podermos então compreender a dimensão teórico-prático de nossa
disciplina. A fim de podemos buscar entender em que precisamos nos aplicar com maior
intensidade à melhora, visando o aperfeiçoamento de nosso discurso e prática quanto a
mensagem bíblica.

A) A Bíblia

A Bíblia é o nosso principal objeto em questão. Se o que pretendemos é interpretar


a Bíblia, nada mais importante, saber o que ela é. A Bíblia é a palavra de Deus (FEE;
STUART, 1997, p.17) comunicada à humanidade por meio de homens. Mas, o que isto
significa e, qual sentido desta afirmação para o processo da interpretação bíblica?

Isto implica dizer que, a Bíblia, sendo a palavra de Deus aos homens, em todo
época e cultura é suficientemente poderosa em si mesma. Portanto, o homem não precisa
buscar inovações para transmitir a mensagem viva e poderosa (cf. Rm 1, 16-17) contida
nas Escrituras Sagradas e, também não tem o direito de interpretá-la de acordo às suas
vontades e desejos (cf. II Co 4,2 e II Pd 3,16) – perfil do falso profeta. Nisto consiste a
afirmação de Roy Zuck, ao relatar que, o que a Bíblia tem por “objetivo é revelar a
verdade e não ocultá-la”, exigindo da parte de seu leitor e interprete que a entenda da
melhor maneira possível e sem quaisquer tipos de manipulação e distorções. Como
afirmou precisamente Zuck (1994, p.25), “As Escrituras são chamadas de santa e deve ser
tratada como tal (2 Tm 3,15)”.

Por ser a Bíblia um livro escrito a séculos e séculos atrás, acompanha a essa
realidade muitos fatores que dificultam sua interpretação, por exemplo, as questões
culturais, de escritas, geográficas, costumes, literários, etc. Considerando este e outros
fatos, não podemos cair na maligna ideia de que a Bíblia é fácil de ser interpretada. Não
queremos aqui dizer que é impossível. Antes, o que afirmamos, é que o processo de
interpretação exige disposição, pesquisa, sensibilidade, dedicação, oração,
direcionamento do Espírito Santo, bom senso e fidelidade à palavra de Deus.

B) Hermenêutica
Basicamente entendida como ciência da interpretação, a hermenêutica tem um
papel fundamental na história desde a antiguidade. Terry se tratando sobre a grandeza e
necessidade da hermenêutica, afirma que:

“A hermenêutica é tanto ciência como arte. Na qualidade de


ciência, anuncia princípios, investiga as leis do pensamento e da
linguagem e classifica seus fatos e resultados. Como arte, ensina
como esses princípios devem ser aplicados e comprova a validade
deles, mostrando o valor prático que têm na elucidação das
passagens mais difíceis...” (apud, ZUCK, 1994, p.21)

A hermenêutica, por sua vez, é o percurso que se toma para a boa interpretação
bíblica. A hermenêutica enquanto disciplina apresenta ao intérprete as ferramentas as
quais o auxiliará no processo da interpretação. O principal aspecto da hermenêutica está
no fato de podermos “compreender [o] sentido [da Bíblia] para a época”, e então
estarmos aptos para trazer também “seu significado [...] para nossos dias” (ZUCK, 1994,
p.10). Sabe-se que para a mensagem bíblica refletir à realidade atual, é necessário e
exige-se do intérprete a leitura social de sua sociedade, ambiente o qual pretende realizar
a proclamação do Evangelho de Cristo.

Ao nos direcionarmos para a Bíblia como intérpretes, precisamos, buscar responder


três perguntas básicas que nos impedirá de sermos infiéis à sua mensagem. As perguntas
são: “que diz o texto”, “que quer dizer” e “como se aplica a mim”, isto consiste num
processo intelectual e espiritual (ZUCK, 1994, p.10 e 16). Estas perguntas são
fundamentais para podermos saber o que o texto falou para o povo da época, o que fala
ao povo de hoje em um contexto e época distante e o como a partir do novo contexto esta
mensagem se aplica na atualidade.

Dito isto, e tendo em vista as muitas questões que nos dificultam na interpretação
bíblica. Precisamos fazer todo o possível para que não haja de nossa parte interpretações
equivocadas das Escrituras, Zuck (1994, p.15) nos alerta sobre este perigo, dizendo que
“quando a bíblia não é interpretada corretamente, a teologia de um indivíduo ou de uma
igreja pode ser desorientada ou superficial...” diríamos que quando a Bíblia é mal
interpretada, a vida corre grande perigo. Pois, o resultado da interpretação manipulada,
equivocada e distorcida reflete na relação comprometida dos indivíduos com Deus, e
automaticamente a vida.
C) O intérprete e o ouvinte da Bíblia

O intérprete é um ser falível, cheio de problemas e dificuldades na vida, ou com


algum ou outro dilema, exigindo que, ao buscar interpretar as escrituras não se exclua da
mensagem ali contida. Todos, na condição de intérprete da Bíblia, “precisa depender do
Espírito Santo”, isto implica o fato de termos a plena certeza que neste processo não
haverá em qualquer situação uma mensagem distorcida e de manobra (cf. Jo 16,13), mas
uma mensagem verdadeiramente entendida e direcionada pelo poder do Espírito do Deus
vivo.

Quem são os ouvintes da palavra de Deus pregada? São pessoas repletas de dilemas
e, em situações muitas vezes delicadas de vida, em que, buscam de Deus respostas de
como e quando proceder, pois sabem e acreditam em um Deus que pode fazer algo. Em
vista disto, entendemos certamente que a pregação deve ter por base a cruz de Cristo e
visa glorificar, exclusivamente, a Deus, à medida que alcança corações e transforma
realidades pelo poder do Espírito Santo (PIPER, 2003, p.19).

Dentro da condição, em que, todo ser humano se encontra a Bíblia, a palavra de


Deus, em todos os momentos “revela-nos [o caráter de Deus], seus planos e suas regras”
(ZUCK, 1994, p.29) para todos os homens, afim, de conduzi-los ao caminho da vida, com
o objetivo de introduzi-los ao Reino de Deus que é uma verdade eterna. E nesta dimensão
encontram o interprete e ou ouvinte da Bíblia.

Atividade Prática:

Análise do texto de I Pedro 2,15

1) Qual o contexto de escrita do texto?

O contexto de escrita do texto, é de uma perseguição contra àqueles que se


converteram ao Evangelho e estão testemunhando a fé de forma precisa, é uma carta
direcionada aos irmãos dispersos (cf. I Pd 1,1), o contexto específico gira em torno da
injustiça sofrida por eles e a motivação de insistirem com postura digna da fé.

2) O que o texto trata em sua totalidade?

O estilo de vida dos cristãos em sociedade, independente das condições. Mas, é um


convite à mesma Igreja continuar firme sem negar sua existência, enquanto forasteiros e
testemunhando o poder do Evangelho diante de toda e qualquer situação (I Pd 3,15)
3) O texto está inserido a um discurso mais amplo, se sim, o versículo
pode ser interpretado somente nele?

Sim. Observe primeiramente que o versículo em si, é isolado, pois faz parte de um
relato mais amplo, ou seja, o texto completo em que se encontra o conselho do versículo
15 é I Pedro 3, 8-22. Esses cristãos eram difamados e condicionados a situações delicadas
por conta de seu testemunho e fé (cf. I Pd 1,6; 2,12; 3,14-17). A comunidade chamada
como Povo de Deus pelo apóstolo Pedro se caracteriza por sua pureza de fé frente ao
sistema dominante e opressor romano – Período de Nero. O versículo não pode ser
interpretado sem considerar todo contexto.

2. Elementos do método histórico gramática no processo da interpretação

Ao longo dos tempos, foram se desenvolvendo métodos hermenêuticos e exegéticos


para se compreender o processo de escrita das literaturas antigas, entre elas a Bíblia
Sagrada. Mesmo em meio as problemáticas proveniente de muitos dos que buscaram
oferecer caminhos a ler e interpretar a Bíblia, precisamos afirmar em meio às
implicações, o que foi afirmado por Fee e Stuart quando diz que: “A chave à boa exegese,
e, portanto, a uma leitura mais inteligente da Bíblia, é aprender a ler cuidadosamente o
texto e fazer as perguntas certas ao texto” (cf. 1997, p.22), nisto consiste compreender o
método interpretativo.

A leitura cuidadosa e a pergunta certa, depende de alguns processos para


verdadeiramente nos proporcionar bons resultados. Buscaremos nas linhas que se
seguem, apresentar as características básicas para o processo histórico gramatical, na
tentativa de poder cooperar neste processo da leitura e da pergunta. Cabe aqui deixamos
claro que o método é mais completo, pois exige desde uma tradução do texto da língua
original até a observação mais minuciosa do texto como um todo. No processo de leitura
e interpretação bíblica algumas características básicas são indispensáveis. Tais como as
que se seguem.

A) Análise básica e necessária do livro

A Bíblia em seu conteúdo geral é de caráter espiritual. Isto nos condiciona a


entender que não se precisa espiritualizar a Bíblia, pois ela em sua originalidade é
espiritual. Quando afirmamos que a Bíblia é a palavra de Deus ou que ela é divinamente
inspirada, estamos consequentemente atribuindo o seu caráter espiritual e só precisamos
trata-la como tal. Como disse Zuck “Deus é o autor divino da Bíblia”, isto implica dizer o
que Deus é, “fez e deseja fazer” (cf. 1994, p.20).

Ao expor um texto bíblico, é extremamente necessário que o intérprete saiba ao


menos quem são os personagens responsáveis por aquilo que ele está afirmado. Os
personagens do texto são cruciais para dar segurança e confiabilidade ao expositor.
Embora creditamos os livros bíblicos aos seus respectivos autores, existe o fato de o texto
está se tratando de algum ou para algum personagem específico. O que estamos aqui
buscando entender é a importância de cada personagem no texto a ser interpretado.

Prestemos atenção no texto de Mateus 21,12-17 – quem são os personagens


envolvidos? Mateus autor principal relatando o advento de Jesus no templo contra os
cambistas e religiosos gananciosos que faziam do templo local de comercio; principais
dos sacerdotes e escribas; crianças louvando em reconhecimento do senhoril de Cristo;
Os coxos e cegos representando os miseráveis da sociedade que tinham seus direitos
negados.

Uma outra questão importantíssima, a se atentar, é quanto a data de escrita do livro


o qual está sendo exposto como também a linguagem temporal do texto a ser
interpretado. Isto já ajuda bastante a localização contextual da mensagem a se apresentar.
A questão da data reflete o fato de não podermos conversar diretamente aos autores e
ouvintes da escrita – texto bíblico – estudada, exigindo os devidos cuidados com certas
afirmações, como por exemplo, Gênesis 19,38; 22,14 (onde se diz até o dia de hoje)
reafirmar e trazer tais relatos à atualidade sem considerar o tempo que foi dito, é um erro
grotesco, pois as condições geográficas, culturais, as próprias gerações são outras.

B) Análise do contexto histórico

A principal característica de um texto escrito, neste caso a Bíblia, gira em torno do


seu contexto. As mensagens bíblicas foram desenvolvidas dentro de um contexto
histórico específico. Compreender este contexto nos ajuda muito a não distorcer sua
mensagem original, que deve ser nossa principal preocupação como intérpretes da Bíblia.

As realidades vividas, ou melhor, as características históricas dos livros da Bíblia,


ou de uma boa parte deles são diferentes. O contexto do profeta Malaquias, não é o
mesmo de do Evangelho de Mateus. As características contextuais que envolve a carta
paulina a Filemon não são os mesmos da Carta de Apocalípse do apóstolo João. Nas
palavras de Fee e Stuart (1997, p.22), “o contexto histórico, [é] que diferirá de livro para
livro” e não pode ser diferente. Atentar a estes detalhes nos é necessário e imprescindível
na busca por uma boa e verdadeira mensagem bíblica.

Na tentativa de compreensão do contexto histórico, busca-se descobrir o que levou


a origem do texto como tal, ou seja, quais os motivos e preocupações que permitiram a
mensagem ser transmitida ao ouvinte da época. Em vista disto, temos que, portanto,
lembrar que o texto o qual estaremos observando, pode estar relacionado com outro/s
texto/s das escrituras (cf. STUART; FEE, 2008, p.35).

C) Análise das características textual/literário indispensável

Uma das importantes questões a observar neste aspecto é o gênero literário.


Compreender qual o gênero do texto é necessário, pois dentro dele, é possível perceber o
sentimento, a emoção, o espírito de ser, como um todo, de seus personagens dentro da
história em que se encontram. Por este fato, saber se o texto trata de um aspecto jurídico,
uma narrativa, uma história, uma poesia, um romance, uma profecia, uma parábola, uma
carta, etc., (cf. ZUCK, 1994, p.147-156) é importante para uma boa interpretação bíblica.

Um outro elemento essencial, na análise textual/literário, a estarmos atento nos


textos sãos as figuras de linguagem. Elas são características que não podem passar
desapercebidas no processo de interpretação dos textos bíblicos. Não podemos tornar real
o que tem em si sentido figurado. Este é mais um erro gritante que muitas vezes
intérpretes das escrituras cometem, mas que podem ser evitados com um pouco de
cuidado e amor pela palavra de Deus e as pessoas. Alguns dos tipos de figuras de
linguagem que muito encontramos na Bíblia, segundo Zuck (1994, p.167-186) são:
retórica (Gn 18,14; Jr 32,27; Rm 8,31), metáfora (Jr 50,6; Jo 10,7), hipérbole (Dt 1,28;
Mt 16,26; Lc 6,42), Ironia (I Rs 18,27; Jó 12,2), pleonasmo (Jó 42,5; At 2,30; Mt 2,10),
etc.

D) Análise do ambiente social do texto

No processo de interpretação dos textos bíblicos, o ambiente social, é um dos


principais aspectos a ser considerado. Saber o que envolve todos os personagens
envolvidos no texto estudado deve ser de fundamental interesse para o intérprete. Buscar
saber quais as características sociais dominantes presentes no texto é mais que necessário.
Sabe-se que as questões econômicas, políticas, religiosas, sociais – hábitos e costumes,
etc., são naturais das culturas e, no caso bíblico, não é diferente, a ponto de ser ignorado.
Isto é importante para que a mensagem a ser transmitida não trate do que o texto não
propõe.

Ignorar este processo é comprometer inevitavelmente, em alguma caraterística, a


mensagem do Evangelho. Pois, esta mensagem é apresentada dentro de um contexto
histórico e social verdadeiro e que não podem ser desapercebidos. Por exemplo, o que
implica a mensagem de Jesus contida em Mateus 9, 35-38? O texto nos remete a uma
questão histórica e social no discurso de Jesus, em que, se direciona uma crítica a
realidade econômica – um povo vivendo em numa condição de extrema miséria;
apontando a situação política – governantes indiferentes com o povo e denunciando o
sistema religioso – líderes religiosos cooperando para a intensificação da miséria do
povo.

Atividade Prática:

Descobrindo as características de Salmo 29,1-11

Autoria do Salmo 29 – Rei Davi; Qual estilo é o texto do Salmo em questão – Poema;
Quais as questões sociais podem ser percebidas no texto – As questões giram em torno da
necessidade de todos os homens, independentemente de sua condição (v,1-2), saber quem
ele é como criatura diante do Criador e reconhecendo a sua grandeza como único e
verdadeiro Rei (v,4) e também permite pensar em um povo que está com certo receio
quanto a sua segurança (v,11), sendo convidado a descansar no cuidado soberano do
Senhor.

3. Regras para a interpretação bíblica

A afirmação de que “As Escrituras em si não são obscuras” (ZONDERVAN, apud,


ZUCK, 1994, p.28), nos é necessária para pensar outras questões que implicam o fato da
interpretação bíblica. Ainda que saibamos que muitas questões nos impossibilitam a
interpretar a Bíblia precisamente, isto não é uma questão de desmotivação. Pois, a Bíblia
pode ser entendida por todos, isto implica a ação sobrenatural do Espírito Santo na vida
de cada leitor.

Mas, esta afirmação não isenta nenhum daqueles que desejam expor as verdades do
texto bíblico à negligência de atitudes básicas e necessárias para tal. É, em vista disto,
que pensaremos aqui algumas regras básicas, que vemos como sendo indispensáveis para
o processo da interpretação bíblica.

A) Leitura do texto e da perícope a ser analisada

A leitura da Bíblia é uma prática natural do cristão. Mas, aqui queremos pensar
sobre não somente uma leitura cotidiana e, não estamos ignorando a necessidade da
mesma, mas pensar uma leitura à qual nos permite uma compreensão de fé e prática e,
consequentemente, uma leitura que nos permite a exposição da mesma, por meio da
compreensão.

Aqui temos que deixar algo claro. A leitura da Bíblia e a sua interpretação deve ser
desprovida de quaisquer interesses pré-concebidos por parte do intérprete. Hoje há muitas
formas de se ler e interpretar as Escrituras Sagradas, por exemplo, “materialista;
sociológica; feminista; psicológica; negra” e, nestes muitos processos se esquecem que a
Bíblia naturalmente já possui uma mensagem e ela não “defende os interesses humanos”
(cf. BRAKEMEIER, 2003, p.64). Isto não quer dizer que a mensagem bíblica não é
condicionada aos problemas humanos ou uma resposta a eles.

Antes, o que estamos buscando afirmar é que a Bíblia não deve ser utilizada para
alcançar fins puramente humanos, pois o fim da mensagem bíblica é revelar a vontade de
Deus, por meio de Jesus Cristo, a todas as pessoas na face da terra e em todos os tempos.
O que nos compete é sermos íntegros e morais na transmissão da mensagem, pois ela
senda a palavra de Deus, “é fidedigna e competente” (ZUCK, 1994, p.83), e não
podemos, em hipótese alguma, omitir estas grandezas.

Leia sempre e cuidadosamente a Bíblia, pois é dala que utilizará o texto a


interpretar e expor. Esta/s parte/s que denominamos de perícope, é onde dedicará seu
esforço para compreensão. Não somente leia a Bíblia, mas busque em outras ferramentas
a relação de seu texto base com outros relatos bíblicos. Fazendo isto, não só há um
esforço para compreender o texto em questão, mas também superar toda e qualquer
leitura espiritualista, ou seja, aquela despreocupada com as questões que rodeiam o texto,
como também o valor prático e sua aplicação para as nossas vidas (cf. ZUCK, 1994,
p.13).

B) Percebendo as palavras chaves do texto


As palavras chaves do texto ou do livro nos permite a percepção teológica no texto
abordado. É importante atentar-nos que estas palavras chaves aparecem por repetição,
como exclusiva (s) do livro e/ou de forma enfática. Este processo exige muita
sensibilidade e ainda assim, corre-se o risco, de as palavras chaves não serem facilmente
percebidas ou de fato não existir dentro do texto conduzindo o intérprete a buscarem
outros caminhos para melhor compreender o texto.

Destacamos três, dentre tantos textos, que nos possibilitam perceber palavras
chaves, por exemplo, João 21,15-19, percebe que palavras chaves são dominantes no
discurso de Jesus e Pedro (me amas e apascente as minhas ovelhas); já no texto do antigo
testamento, por exemplo, Habacuque 2,1-4 (O justo viverá pela fé), é uma palavra
enfática/impacto, não é exclusiva, pois a ideia de uma vida pela fé rodeia toda Bíblia. As
vezes a palavra para ser perceber a trama do texto é de caráter exclusivo, por exemplo, a
mensagem de Filipenses 2, 5-11, é completamente desenrolado com base no versículo 7
por meio do termo grego ekenosen (esvaziar-se, despojar-se), ainda que a mensagem em
si conduz à mensagem de Isaías 53.

C) Qual a teologia contida no texto

Ter uma visão geral da mensagem do livro é importante para se compreender


melhor a mensagem específica, ou seja, o texto em questão. Este processo é fundamental
para não dar margem a fazer dos escritores bíblicos pessoas confusas na sua maneira de
falar, ou seja, não ter uma mensagem específica. A mensagem bíblica é objetiva e nós
intérpretes temos que validar sua objetividade e não distorcê-la com tantos outros
assuntos paralelos. Em vista disto, nos apoiamos ao que afirmara Fee e Stuart (1997,
p.14), dizendo que, “o alvo da boa interpretação é simples: chegar ao ‘sentido claro do
texto’”.

Compreender o sentido do texto, ou melhor, o que o texto diz de forma simples,


clara e verdadeira é se apropriar da teologia proposta pelo próprio texto e, este deve ser o
alvo do intérprete bíblico. Quando afirmamos aqui que devemos nos apropriar da teologia
do texto, estamos afirmando simplesmente que todos ao falar das escrituras sagradas
estão fazendo, sob alguma ou outra perspectiva, teologia. A Bíblia nos oferece teologia,
ou seja, nos oferece conhecer e falar sobre Deus e sua relação com a criação. A questão é
que tipo de teologia está sendo feita e propagada pelos intérpretes.

Atividade prática
Descobrindo palavras chaves no texto de Lucas 8,19-21

Diferencial do texto gira numa trama de relação familiar e fé prática. Nisto surge a ideia
que, quem compõem a verdadeira família de Deus, não é qualquer um, mas esta família é
composta por aqueles que ouve a palavra – conhece/ouvir - e a executa/praticar com toda
seriedade provinda do coração. Isto implica dizer que a verdadeira aceitação da palavra e
a conduta de vida reflete uma unidade. Neste caso vamos perceber que a ideia principal
do texto estará ligada com outras partes do livro e do pensamento do autor (cf. Lc 5,1;
11,28 e At 18,11 – pessoas que ensinam, ouvem e pratica a palavra).

4. Cuidados no ato da pregação e a relação entre o Antigo e o Novo Testamento

Muitos cuidados precisamos ter quando o assunto é buscar compreender a vontade


de Deus para nossas vidas e daqueles que nos cercam. Neste processo o principal
caminho é a dependência total do Espírito Santo que nos conduz à verdade infalível (cf.
Jo 16,13). Esta é a principal postura de fé que precisamos ter quando o assunto é
transmitir as verdades das Escrituras Sagradas.

Cientes de nossa plena limitação, dependemos daquele que conhece toda verdade e
pode alcançar todos os corações, o Espírito Santo (cf. ZUCK, 1994, p.25-26). Esta
dependência nos ajudará não somente a compreender a relação da palavra de Deus entre o
Antigo e Novo Testamento, mas a sermos verdadeiros com aqueles que nos escutam e
termos uma compreensão mais verdadeira quanto aos planos de Deus a todos nós.

A) Quais os cuidados a se evitar?

Precisamos tomar todo cuidado, contra a tentação do falso anúncio e perversão do


Evangelho proposto por Cristo. A palavra de Deus foi distorcia desde o princípio
provocando sérias e drásticas consequências a toda a humanidade. Neste processo,
precisamos ter algo claro em mente, ou seja, o fato de o Evangelho proposto por Cristo e
toda mensagem bíblica possuir características próprias e insubstituíveis.

Outro cuidado que precisamos ter, é o ato negligenciar o preparo acreditando na


revelação imediata do Espírito Santo em cima do púlpito. Aqui nos remete
inevitavelmente ao conselho do apóstolo Paulo a Timóteo (II Tm 2,15), nos preocupar a
manejar bem a palavra dignifica nossa fé.
A autoconfiança, é um outro perigo que os pregadores correm. Como disse Piper
(2003, p.36) “Os perigos da autoconfiança e da auto exaltação no ministério da pregação
são tão traiçoeiros que Deus irá golpear-nos, se preciso for, a fim de quebrantar nossa
autoconfiança e o uso despreocupado de nossas técnicas profissionais”. Também
devemos lembrar que “uma atitude de apatia ou arrogância em relação à Bíblia não
colabora para o entendimento correto da verdade de Deus” (ZUCK, 1994, p.25).

B) Como os dois testamentos se comunicam entre si?

Certamente a Bíblia é um livro que revela o plano da salvação de Deus ao homem,


e neste processo há uma interligação em seu conteúdo. Contudo, é verdade que para
perceber esta relação entre o Antigo e o Novo Testamento, é necessário cautela, pois nem
todo conteúdo, devido seus contextos e objetivos de escritas, se relacionam.

Neste processo ainda podemos falar sobre a citação que os autores bíblicos fazem
entre si, por exemplo, pode se perceber isto em Mateus 12,18-21 em que há uma
referência direta de Isaías 42,1-9 também em Romanos 1,17 citando diretamente
Habacuque 2,4. Mas além das citações, podemos encontrar textos que nos remete a outras
partes da Bíblia pela relação de conteúdo, por exemplo, em Joel 2,28-32 e Atos 2,1,13
existe uma relação por meio de conteúdo. Isto não quer dizer, que, o que aparentemente
são idênticos é uma relação precisa, este é um erro grotesco que cometemos.

Muitas outras referências que ligam os dois testamentos podem ser aqui descritas,
tais como: o apóstolo Paulo recitando o livro de Jó 5,13 em I Coríntios 3,19; em Mateus
21,42 Jesus lembra do que outrora fora dito sobre ele, remetendo seus ouvintes ao Salmo
118,22; em Atos 2,34-35 Pedro menciona a mensagem contida no Salmo 110 (cf.
GEISLER E NIX, p.34-37), entre tantos outros assuntos.

Comparar conteúdo por similaridades não é a mesma coisa de uma relação genuína,
por exemplo, relacionar a alegria descrita em I Tessalonicenses 1,6 ou em Filipenses 4,4
com a alegria descrita em Habacuque 3,18, não é um ato prudente, pelas situações em que
ambos os textos foram escritos. Precisamos buscar a verdadeira relação entre os textos e
não meramente a repetição de termos.

C) A importância e a responsabilidade do ensino das Escrituras Sagradas: A


aplicação para vida.
É uma grande alegria a alguém ter o privilégio de poder compartilhar a palavra de
Deus às demais pessoas. Dito isto, precisamos nos conscientizar da tamanha
responsabilidade. Martin Lloyd-Jones (1984, p.105) disse que “o pregador deve ser um
homem[/mulher] piedoso[/a]”, e isto só é uma verdade quando a palavra de Deus é uma
realidade vivida. Esta responsabilidade não é condicionada somente ao fato de falarmos,
mas sermos um modelo de vida naquilo que falamos, a fim de que, aqueles que nos
escultam permitam ser alcançados pela mensagem de vida.

Roy Zuck (1994, p.15) observa precisamente que “A interpretação é fundamental à


aplicação. Se nossa interpretação [afirma Zuck] não for correta, podemos acabar
aplicando a Bíblia da forma errada. A forma como você interpreta diversas passagens
afeta diretamente seu comportamento e também o de outras pessoas”, e nisto consiste
sabermos a implicação geral de ensinar as Escrituras Sagradas.

Atividade Prática

A mensagem em Oséias 4,6 e 6,6 é similar à mensagem encontrada em Mateus 22,29.


Existe uma relação entre os dois textos, a relação consiste no fato expressivo de o povo
errar e sofrer por não querer conhecer e/ou praticar a vontade de Deus.

BIBLIOGRAFIAS

BRAKEMEIER, Gottifried. A autoridade da Biblía: Controvérsias, Significado e


Fundamento. São Leopoldo: Sinodal/CEB, 3ª ed., 2003.
FEE, Gordon D.; STUART, Douglas. Entendes o que lês? Um guia para entender a
Bíblia com auxílio da exegese e da hermenêutica. São Paulo: Vida Nova, 2ª ed., 1997.
______________________________. Manual de Exegese Bíblica. São Paulo: Vida
Nova, 2008.
GEISLER, Norman; NIX, William. Introdução Bíblica: Como a bíblia chegou até nós.
São Paulo: Vida, 2006.
LLOYD-JONES, D. Martin. Pregação e Pregadores. São José dos Campor/SP: Fiel,
1984.
PIPER, John. Supremacia de Deus na pregação: Teologia, estratégia e espiritualidade
do ministério de púlpito. São Paulo: Vida Nova, 2003.
ZUCK, Roy B. A interpretação Bíblica: Meios de descobrir a verdade da Bíblia. São
Paulo: Vida Nova, 1994.

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