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1. O maior desafio que enfrenta a Igreja no começo do novo milênio é a tarefa que
sempre lhe foi confiada: a Evangelização. A Igreja é chamada em cada época, e, portanto,
também na nossa, a abraçar de uma maneira nova o mandato missionário do Cristo
Ressuscitado: “Ide, portanto, e fazei discípulos em todas as nações, batizando-as em nome
do Pai, do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-as a obedecer tudo que vos ensinei” (Mt
28, 19-20).
Para Mateus, fazer “discípulos” e fazer “cristãos” são a mesma coisa. “Fazer
discípulos” está no coração da contínua vocação e missão da Igreja. A Igreja, fundada por
Cristo, é enviada para evangelizar o mundo; ela vive num permanente estado de missão e
encontra sua verdadeira razão de existir nessa missão.
A evangelização do mundo de hoje - a nova evangelização era de grande interesse
e sempre comentada por São João Paulo II - é uma tarefa na qual a Igreja deposita grande
esperança; entretanto, a Igreja está muito ciente dos inumeráveis obstáculos que enfrenta
nesse trabalho, muito por causa das mudanças extraordinárias que acontecem no nível
pessoal e social e, acima de tudo, por causa de uma cultura pós-moderna que passa por
uma série crise.
O processo sempre crescente de secularização e uma verdadeira “ditadura do
relativismo” (Bento XVI) produziram uma ausência tremenda de valores em muitos de
nossos contemporâneos, ausência esta que é acompanhada por um alegre niilismo que
redunda numa erosão alarmante da fé, um tipo de “apostasia silenciosa” (João Paulo II) e
um “estranho esquecimento de Deus” (Bento XVI).
Essa situação, tristemente tão presente em países de antiga tradição cristã, é
contrastada com um tipo de “boom religioso” caracterizado pela sua ambivalência e
ambiguidade. O Santo Padre Bento XVI mencionou esse fenômeno em Colônia (Alemanha),
dizendo: “Eu não desejo desacreditar todas as coisas que se encaixam nesta descrição (...).
Mas, frequentemente, a religião torna-se um produto a ser consumido. Uma pessoa pega e
escolhe o que quer, e alguns até sabem como lucrar com isso”.
Considerem a invasão de seitas religiosas, a difusão de atitudes e estilos de vida da
New Age, e fenômenos pseudo-religiosos como a magia e o oculto. Na verdade, o mundo
globalizado tornou-se um território gigante de missão. Como o salmista diz de maneira tão
dramática: “O Senhor, ele se inclina lá dos céus sobre os filhos de Adão, para ver se resta
um homem de bom senso, que ainda busque a Deus” (Sl 13(14), 2). Hoje, é mais urgente
do que nunca pregar Cristo no grande e moderno areópago da cultura, da ciência, da
economia, da política e da mídia. A messe é grande e os trabalhadores são poucos (Mt 9,
37). Esse campo vital de ação para a Igreja requer uma radical mudança de mentalidade,
um autêntico e novo despertar de consciência em todos. Novos métodos são necessários,
como novas expressões e uma revitalizada coragem.
Desta forma São João Paulo II exortou a Igreja no começo do terceiro milênio: “Eu
frequentemente tenho repetido o chamado para uma nova evangelização durante estes
anos. Eu o repito novamente para enfatizar que devemos renovar aquele impulso original e
nos permitir ser preenchidos com o zelo da pregação apostólica depois de Pentecostes.
Devemos despertar em nós mesmos aqueles sentimento de São Paulo que exclamou: “Ai
de mim se eu não evangelizar!”” (1Co 9, 16).
Em suas palavras para os bispos alemães em Colônia, o Papa Bento XVI
manifestou um profundo desejo apostólico: “Devemos refletir seriamente em como podemos
empreender uma verdadeira evangelização, e não apenas uma nova evangelização, mas
frequentemente uma verdadeira primeira evangelização. As pessoas não conhecem Deus,
elas não conhecem Cristo. Um novo paganismo está presente, e não é suficiente apenas
manter a comunidade de fiéis, apesar de isso ser muito importante (...) Acredito que, juntos,
devemos encontrar novos caminhos para trazer o Evangelho ao mundo de hoje pregando
de uma maneira nova o Cristo e estabelecendo a fé”. As palavras desses dois papas
servirão para guiar nossa reflexão na conexão entre a evangelização do mundo de hoje e
os movimentos eclesiais e as novas comunidades.
2. Entre os muitos frutos produzidos para a vida da Igreja pelo Concílio Vaticano II, o
novo momento associativo dos fiéis leigos, sem dúvida, ocupa um lugar especial. Devido à
eclesiologia e a teologia dos leigos desenvolvidas pelo Concílio, muitos grupos referidos
hoje como “movimentos eclesiais” e “novas comunidades” surgiram ao lado de associações
tradicionais.
Novamente o Espírito interveio na história da Igreja, dando origem a novos carismas
que possuem uma dinamismo missionário extraordinário e que respondem de uma maneira
apropriada aos desafios de nosso tempo, grandes e dramáticos como são. São João Paulo
II, que acompanhou essas novas realidades eclesiais com uma atenção e cuidado pastoral
particulares, afirmou: “Um dos dons do Espírito para o nosso tempo é, verdadeiramente, o
florescimento de movimentos eclesiais que, desde o início de meu pontificado, vi e continuo
vendo como uma razão de esperança para a Igreja e para a sociedade”. O Papa estava
profundamente convencido que esses movimentos eclesiais eram uma manifestação de um
“novo advento missionário”, de uma grande “primavera cristã” preparada por Deus no limiar
do terceiro milênio da Redenção. Verdadeiramente esse foi um dos maiores momentos
proféticos de seu pontificado.
Os movimentos eclesiais e as novas comunidades contêm um potencial precioso de
evangelização desesperadamente necessário para a Igreja nos dias de hoje. Entretanto, a
sua riqueza ainda não foi completamente reconhecida ou valorizada. São João Paulo II
disse: “Frequentemente no mundo de hoje, dominado por uma cultura secular que propõe
modelos de vida sem Deus, a fé de muitos é particularmente testada e frequentemente
sufocada e extinta. Portanto, existe uma necessidade urgente de um forte testemunho e de
uma formação cristã sólida e profunda. Que grande necessidade existe hoje de
personalidade cristãs maduras, conscientes de sua identidade batismal, de seu chamado e
missão na Igreja e no mundo! É aqui que os movimentos eclesiais e as novas comunidades
aparecem: eles são a resposta fomentada pelo Espírito Santo para esse desafio dramático
no fim do milênio. Vocês são a resposta providencial!”.
Aqui o Papa salienta as duas prioridades fundamentais da evangelização, do “fazer
discípulos” de Jesus Cristo hoje: uma “sólida e profunda formação” e uma “forte
testemunho”. Essas são as duas áreas nas quais os movimentos eclesiais e as novas
comunidades estão produzindo frutos para a vida da Igreja. Esses grupos estão se tornando
em verdadeiros “laboratórios da fé” e em autênticas escolas de vida cristã, de santidade e
de missão para milhares de cristãos em todas as partes do mundo.