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Há muito se discute sobre o exercício da religião e da sexualidade.

O debate
que surge protagoniza mudanças e adaptações nas mais diversas religiões. A
discussão não fica somente no âmbito da possibilidade ou não de mulheres
exercerem o sacerdócio, da possibilidade ou não do casamento para os
sacerdotes, dos casos de pedofilia envolvendo sacerdotes, etc. A configuração
social do momento acirra para a aceitação de pessoas homossexuais e de
práticas comuns previstas para os casais heterossexuais, como a adoção e
direitos matrimoniais, por exemplo.

A ideologia veiculada pelas religiões, como as católicas, as evangélicas,


protestantes, islâmicas, conserva um conflito não resolvido com a questão da
sexualidade. Isso porque vem para desempenhar um papel regulador dos
comportamentos e não o de esclarecer sobre os dogmas das religiões.

Muitas religiões ainda consideram o desnudar do corpo como algo obsceno e


imoral, e não como um fato natural. Para a maioria é inaceitável o uso de
métodos contraceptivos em relação ao planejamento familiar, são contrários ao
sexo antes do casamento, condenam o adultério, o aborto e o
homossexualismo (sendo considerado pecado), há liberdade quanto às
variações sexuais, mas a prática do sexo anal é condenado.

O Estado brasileiro tornou-se formalmente laico a partir da primeira


Constituição Republicana de 1891. Mas um olhar mais atento, podemos
observar que os evangélicos e outros grupos religiosos estão ocupando
espaços importantes dentro do cenário político. Encontramos representantes
no Parlamento Nacional (Frente Parlamentar Evangélica, 2003; Pastoral
Parlamentar Católica, 1991; Frente Parlamentar em Defesa da Vida e da
Família, 2007; Frente Parlamentar em Defesa das Comunidades Tradicionais
de Terreiros, 2011), assim como em organizações da sociedade civil e em
associações de classe (União de Juristas Católicos do Rio de Janeiro e de São
Paulo – esta última conta com o celebrado Ives Gandra, um dos maiores
juristas do país).

Embora os evangélicos sejam mais citados nas matérias jornalísticas (em


1.062 matérias contabilizadas, os evangélicos são referidos 358 vezes – entre
título, subtítulo e matéria), eles não são os únicos a se posicionarem de modo
controverso e em defesa de posições ditas conservadoras (os católicos são
referidos 239 vezes no mesmo quantitativo de matérias). Assim podemos
constatar que os religiosos estão presentes e atuantes dentro e fora do
parlamento, com uma voz ativa forte.

Do outro lado, temos o Governo Federal que trata de assuntos delicados e


polêmicos. Como por exemplo, o Programa de Combate à Violência e à
Discriminação Contra LGBT’s e Promoção da Cidadania Homossexual, mais
conhecido como Programa Brasil Sem Homofobia, apresentado em 2004. O
programa tem o objetivo de propor e executar políticas públicas contra a
homofobia de forma transversal aos Ministérios e secretarias do governo
federal. Uma das ações do programa foi à criação de um kit contra a homofobia
para ser distribuído nas escolas. O kit ficou conhecido como “Kit Gay” e o
mesmo não teve a aprovação das bancadas religiosas do Congresso Nacional.
“A questão existe e precisa ser debatida e respeitada. A opção sexual não diz
respeito ao Estado, mas o preconceito, o bullying e as doenças sexualmente
transmissíveis dizem. Enquanto não deixarmos as crenças religiosas e o
conservadorismo de lado para discutir de forma madura e respeitável a
questão, o Estado não poderá trabalhar corretamente para combater a
violência contra os que se declaram homossexuais, bissexuais e transexuais. O
Brasil precisa de políticas de ações inclusivas culturais e de respeito”, destacou
a presidenta da Comissão de Cultura deputada federal Jandira.

Na opinião do deputado Jean Wyllys, “é imprescindível nesse momento debater


com a sociedade esse tema, já que o fundamentalismo vem tolhendo os
espaços de discussão dos direitos das minorias culturais”.

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