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Universidade Estadual do Ceará – UECE

Programa de Pós Graduação em Sociologia – PPGS


Mestrado Acadêmico
Disciplina: Seminário de Dissertação
Professor: (Gil) Geovani Jacó de Freitas
Mestrando: Antonio César Freire Espíndola Cavalcante

PROPOSTA DE TEXTO DE QUALIFICAÇÃO – MESTRADO SOCIOLOGIA

1. INTRODUÇÃO
SUGESTÃO; INICIE SEU TRBALHO COMO UMA FRASE
AFIRMATIVA DIZENDO QUAL O OBJETO DELE. ISTO JÁ ANUNCIA
QUAL É A DO TRBALHO E AS SUAS PRETENSÕES DE PESQUISA. DEPOIS
CONTINUE COM O QUE INICIOU EM SEGUIDA.
Os primeiros movimentos de participação concreta na política partidária dos
movimentos neopentecostais aconteceram ainda no início dos anos 1980, com a eleição
de representantes desse segmento para comporem o parlamento em todos os níveis de
legislatura e isso representou uma mudança significativa no cenário da política
brasileira.
A ascensão de políticos oriundos, não do estamento tradicional, mas de camadas
cujo apoio veio, sobretudo, dos integrantes de instituições cristãs neopentecostais, que
são aquelas igrejas que professam o cristianismo como dogma de fé e têm fundamento
dogmático escorado na chamada Teologia da Prosperidade ou no Evangelho da
Prosperidade representou um fenômeno novo no quadro partidário nacional.
Deve-se ressaltar que essa Teologia defende que a benção financeira é o “desejo
de Deus para os cristãos, e que a fé, o discurso positivo e as doações pecuniárias para os
ministérios contribuirão para aumentar a riqueza material do crente em Jesus Cristo.”
Esse tipo de discurso religioso tem conseguido arregimentar um contingente
significativo da população brasileira a buscar participar e pertencer a esses grupos
religiosos e igrejas ancoradas no discurso neopentecostal.
Há por trás dessa teologia um projeto, e mais do que isso, um “plano de
salvação”1, ancorado na participação política de lideranças religiosas, na defesa dos
valores conservadores e ainda na imposição de uma agenda de costumes. Importa dizer
1
O plano de salvação é a promessa da vida eterna em Cristo Jesus, caso o crente paute a sua vida pelo
respeito e exercício da doutrina da bíblica e ainda que seja um fiel dizimista, porque “Deus devolve em
bênçãos materiais tudo aquilo que é entregue no altar Dele.
que toda essa pauta é levada aos parlamentos com a eleição dos representantes dessas
igrejas.
O discurso neopentecostal, para além do apelo dogmático e religioso, tem
atraído à atenção dos pesquisadores em Ciências Sociais, principalmente por se tratar de
um fenômeno relativamente novo, principalmente no Brasil. Esse movimento tem um
forte caráter de transformação social, quando interfere diretamente no processo político,
pautando o parlamento e produzindo novas legislações baseadas em comportamentos
doutrinários religiosos.
Nesse contexto, nos últimos anos, tem havido uma elevada e significativa
participação do meio religioso neopentecostal nas esferas de poder em todo o país, quer
seja na atuação legislativa, no executivo, desempenhando funções de gestão pública, por
meio de cargos de livre nomeação e exoneração, bem como na política partidária,
disputando e ocupando cadeiras nos parlamentos, tanto no Congresso Nacional, quanto
nas Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais.
Para corroborar com esse argumento, ao avaliar os dados da quinquagésima
quinta (55ª) legislatura do Congresso Nacional (2015-2018)2, a Frente Parlamentar
Evangélica3 no Congresso Nacional, eleita em 2014, era composta, em 2016, por 87
deputados federais e 3 senadores, num total de 90 parlamentares.
Na legislatura posterior (2018 - 2022) a quinquagésima sexta (56ª) houve uma
elevação exponencial do número de parlamentares eleitos pelo voto evangélico. Foram
195 deputados federais e 8 senadores eleitos, o que representou um aumento de 216%
em relação a legislatura anterior.
Algumas razões podem ser apontadas como responsáveis por esse significativo
crescimento dos parlamentares evangélicos no Congresso Nacional. Em primeiro lugar
há que se destacar o forte crescimento das igrejas neopentecostais e sua abrangência e
aderência junto à população brasileira, sobretudo a partir da segunda metade do Século
passado. O último Censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –
IBGE, revelou um crescimento de 61% na população declaradamente evangélica nos
últimos 10 anos.

2
WIKIPEDIA. Frente Parlamentar Evangélica. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Frente_Parlamentar_Evang%C3%A9lica#Bancada_evang%C3%A9lica.
Acesso em: 8 de mar. 2023
3
Grupamento de parlamentares eleitos por diversos partidos com o apoio do eleitorado
evangélico/cristão, que unidos, defendem pautas legislativas comuns, ligadas à defesa dos valores cristãos
conservadores e dos costumes.
O estudo demonstrou que, no ano 2000, 26,2 milhões de pessoas declaravam
pertencer a alguma denominação de vertente cristã evangélica, o que, há época,
representava 15,4% da população. No censo de 2010, entretanto, houve uma
significativa elevação desses números, tendo os evangélicos alcançado a marca de 42, 3
milhões de fiéis, atualmente correspondendo a 22,2 % da população brasileira.
Todavia, esse crescimento aconteceu e foi captado pelo Censo de 2010 em todas
as chamadas correntes evangélicas. Diferente da religião cristã apostólica romana, onde
há uma homogeneidade de doutrina e liderança, as denominações evangélicas são
bastante diversas quanto às doutrinas adotadas e não há uma única liderança
hierárquica.
Muito ao contrário, as igrejas evangélicas neopentecostais não possuem uma
hierarquização vertical engessada e a adoção de uma única corrente doutrinária. Essa
decisão, de qual doutrina seguir, geralmente dá-se por meio dos conselhos eclesiais
dessas igrejas. Portanto, não seria adequado adotar um único critério para definir o
perfil dos evangélicos neopentecostais. Na sua essência, professam a mesma fé cristã,
mas, do ponto de vista doutrinário e organizacional, há divergências acentuadas.
Outro recorte importante, que sedimenta ainda mais o caráter heterogêneo da
comunidade evangélica e o recorte de gênero. Ao descer a esse detalhamento, o censo
de 2010 revelou que a maioria evangélica é do sexo feminino, com 58% da participação
total, enquanto os negros representam 42% do universo evangélico.
Ao refletir sobre esses dados, o pesquisador José Eustáquio Alves 4, argumenta
que o Brasil tem atravessado uma importante transição religiosa. Para ele nem sempre
as forças políticas que atuam no campo popular compreendem a dimensão religiosa.
Eustáquio afirma que “as esquerdas, em geral, têm bastante preconceito e
desqualificam o fenômeno religioso e desqualificam o fenômeno religioso na vida
humana”. Com efeito, a explosão de novas denominações evangélicas e a participação
de seus representantes na vida político-partidária não obteve, até a atualidade, a devida
compreensão e atenção pelo estamento político tradicional, em especial as correntes
políticas de esquerda.
Além do desconhecimento do campo, é certo que a esquerda subestimou esse
eleitorado, cuja base popular se fortaleceu ao ponto de eleger um candidato a
presidência da república. Assim, Eustáquio argumenta que a esquerda “desqualifica” o

4
ALVES, José Eustáquio. Religião e Política: Um olhar sobre o campo religioso brasileiro. Universidade
de São Paulo - SP. 2019.
campo evangélico como oponente político, o que fica evidenciado, como afirmei acima,
com a eleição de um candidato obscuro, com participação longeva e apagada na
política, para o cargo de presidente da República, em 2018, no confronto com o
candidato da esquerda, Fernando Haddad.
Ao aprofundar a análise acerca da transição religiosa pela qual o Brasil
atravessa, Eustáquio aponta quatro fatores que contribuem para esse fenômeno: O
primeiro dele é o declínio absoluto e relativo das filiações católicas. Ao verificar o
censo de 2010, é possível perceber que há uma forte migração de fiéis que professavam
a religião católica apostólica romana para as denominações evangélicas.
Em relação especificamente aos estados, o censo de 2010 demonstra que o
menor percentual de católicos foi encontrado no Rio de Janeiro, com 45,8%. Por outro
lado, o maior percentual era no Piauí, com 85,1%. Em relação aos evangélicos, a maior
concentração estava em Rondônia com 33,8% e a menor no Piauí com 9,7%.
Em segundo lugar, para acelerar a transição religiosa, Eustáquio aponta a
velocidade pela qual as filiações evangélicas estão acontecendo. No censo de 2010
pode-se perceber que entre os anos de 2000 e 2010 houve um incremento de 22,2% no
número de pessoas que adotaram a religião evangélica como prática. Um aumento
absoluto de 16 milhões de pessoas.
Eustáquio aponta também o crescimento do percentual das religiões não cristãs.
Nesse sentido, destaca-se que o censo de 2010 também trouxe dados relevantes a esse
respeito. As religiões espíritas, por exemplo, cresceram 1,3% da população, passaram de
2,3 milhões em 2000, para 3,8 milhões de pessoas, ou seja, 2,0% da população.
Por outro, o pesquisador ressalta o avanço das pessoas que se declaram “sem
religião”. Esse contingente também ganhou proporção, com 8% da população se
declarando dessa forma. Em 2000 eram 12, milhões (7,3%), ultrapassando os 15
milhões em 2010. Os adeptos de outras religiões não cristãs, como a umbanda e o
candomblé não sofreram modificação, com 0,3% da população em 2010.
A relação da política partidária com o discurso religioso neopentecostal tem
levado pesquisadores como Machado (2006), Maia (2006) e Gonçalves (2016) se
debruçaram sobre o tema e buscaram pontos de contato entre a atividade política e as
denominações neopentecostais, cuja penetração tem sido avassaladora entre as classes
socioeconômicas menos favorecidas.
Os estudos acerca da participação dos evangélicos de corrente neopentecostal
tem crescido no Brasil, sobretudo após a segunda metade dos anos 1980, quando
começaram a surgir e ganhar relevância as primeiras igrejas evangélicas
neopentecostais, ou seja, denominações religiosas que têm a sua doutrina voltada para a
aplicação de Teologia da Prosperidade.
Essa doutrina tem origem nos Estado Unidos ainda no Século XIX e foi adotada
no Brasil apenas na segunda metade do século passado. O precursor da Teologia da
Prosperidade no Brasil é o líder da Igreja Universal do Reino de Deus – IURD, bispo
Edir Macedo, que, em 1977, apresentou essa corrente doutrinária aos fiéis. Todavia,
outros líderes como o missionário RR Soares, líder da Igreja Internacional da Graça
também fundamentou a doutrina da sua igreja na Teologia da Prosperidade.
A formulação da Teologia da Prosperidade está centrada, segundo Mariano
(2005) em confissões positivas e é usando a fé com essas confissões que o fiel alcança a
benção. Afinal, “o cristão tem poder”. De alguma forma, essa teologia adota um “preço”
(valor) aquilo que o fiel entrega a Deus. Isto é, à medida que o fiel se sacrifica, entrega
o dízimo e as ofertas, mesmo com o sacrifício das finanças pessoais, ele será
recompensado por Deus. Seria uma espécie de investimento: quando mais o fiel entrega,
mais ele receberá no futuro.
A comparação com o modelo de acumulação do capitalismo não é mera
coincidência, afinal, a doutrina foi concebida no berço do capitalismo mundial e a chave
para o fiel ser abençoado é conseguir acumular bens materiais aqui nesse plano.
Grande parte das igrejas neopentecostais que alcançam destaque e engajamento
dos fiéis adotam esse tipo de doutrina, fundada exatamente no sacrifício pessoal para ter
a promessa de receber muito mais em um futuro próximo.
Interessante observar que a Teologia da Prosperidade é diametralmente oposta a
doutrina adotada por grande parte da Igreja Católica Apostólica Romana, sobretudo nos
anos 1980, com a Convenção de Puebla e o Concílio Vaticano II, que consagrou a
“opção preferencial pelos pobres”.
Sendo assim, essas denominações começaram a ganhar relevância no aspecto
político à medida em que seus líderes tornaram-se socialmente conhecidos, muito em
função da inserção dessas igrejas nas programações das emissoras de rádio e televisão,
por meio do arrendamento de horários para a exibição de cultos, com o objetivo de
difundir a Teologia da Prosperidade, mas também pela participação político-partidária
de seus representantes junto aos partidos políticos e nas casas legislativas.
Desse modo, os líderes das igrejas neopentecostais, pela exposição na mídia e
pela inserção na política partidária, ganham visibilidade e relevância, sendo, alguns
deles, reconhecidos como líderes de comunidades, recebendo, muitas vezes, recursos
públicos para a aplicação em projetos sociais encabeçados por entidades paraestatais por
eles dirigidas.
A aplicação da Teologia da Prosperidade das igrejas neopentecostais das
comunidades periféricas das grandes cidades e centros urbanos contribuiu para
consolidar o crescimento desse segmento. Mariano (1999). Essas igrejas buscaram
acomodarem-se à realidade social que encontraram e acolheram as pessoas que
procuraram se integrar como membros.
As igrejas neopentecostais também abandonaram hábitos ascéticos, isto é, são
aqueles cercados de rituais e cerimônias e exemplo da Igreja Católica Apostólica
Romana. Ao contrário, as entidades neopentecostais buscaram romper com tais práticas,
retirando marcas distintivas e tradicionais que são aquelas que acompanham a
denominação religiosa, por exemplo, a utilização ostensiva do crucifixo e da imagem
(estátua) de santos nos templos, no caso da igreja católica romana.
De outra forma, as denominações neopentecostais criam novos ritos, crenças e
práticas conservadoras do ponto de vista moral e social. A exemplo da IURD, que criou
uma série de procedimentos (ritos) a serem seguidos pelos fiéis para alcançar a benção,
como a “Fogueira Santa de Israel”, a “Corrente dos Empresários” e a “Sessão do
Descarrego”.
Já a Igreja Internacional da Graça criou o “Santo Óleo” para ser aspergido nos
fiéis que procuram a cura física ou espiritual. Há ainda outros exemplos bastante ricos,
mas, voltarei ao tema mais à frente. Nessa perspectiva, Machado (2006) aprofunda as
raízes dessa interpenetração entre o neopentecostalismo e a política partidária, já
apontando, no início do novo milênio, tendências de aumento da participação da
bancada evangélica na política partidária nacional.
Para a pesquisadora, as matrizes da relação entre política e religião estão
vinculadas a determinados elementos históricos como os primeiros questionamentos
acerca da laicidade da política, quando ainda no Século XIX, no Brasil, protestantes
questionavam a inibição ao culto de matriz cristã protestante, tendo em vista ser à época
do Império brasileiro e a religião cristã católica romana era a religião oficial do país.
Ainda segundo Machado (2006), nos primeiros anos deste século, os debates e
as críticas acerca da “secularização” da religião por meio da atuação de grupos de
políticos ligados às denominações neopentecostais foram bastante evidenciados.
Já Maia (2006) ao refletir sobre as razões do crescimento dos evangélicos na
política partidária destaca o fato de que “diversos segmentos, grupos organizados e
instituições vêm assumindo o papel de mediadores entre a sociedade e o Estado
tomando o lugar de instâncias mais tradicionais como o partido político ou o sistema
midiático.”
A mídia tem papel fundamental também na mediação, sobretudo porque há uma
maior inserção dos líderes evangélicos nos meios de comunicação, que assumem o
papel de comunicadores para as massas, não apenas evangélicos, mas aqueles que
também aderem de alguma forma ao discurso moral e conservador irradiado.
É importante frisar que além do discurso eminentemente religioso, esses pastores
comunicadores inserem conteúdos de cunho político como a crítica social e as gestões e
as personalidades públicas. Este fenômeno, no entanto, se dá, em populações mais
carentes, cuja ausência de políticas de estado mais eficazes é flagrante.
Em outras palavras, quando o Estado não aparece como propulsor de políticas
públicas em comunidades extremamente carentes, a igreja evangélica neopentecostal,
utilizando-se dos veículos de comunicação, toma o seu lugar, atuando sobre o velho
princípio clientelista tão usual na política tradicional.
A brecha aberta pela falta de políticas públicas capazes de atender as
necessidades da população mais carente nas periferias dos centros urbanos, como por
exemplo, a ausência de atendimento médico-hospitalar, a falta de creches e escolas,
além de centros de recuperação de adictos, visando recuperar pessoas dependentes
químicas, fez com que as denominações religiosas passassem a ser verdadeiras
referências para essas comunidades.
Não que possam substituir o poder público no atendimento dessas necessidades,
mas, muitas vezes, essas igrejas se tornam verdadeiros “centros de serviço social”,
amparando no que é possível essas comunidades.
Neste contexto, Batista (2017) destaca o trabalho desenvolvido pela Fundação
Edmilson, entidade evangélica dirigida pelo ex-jogador de futebol evangélico, José
Edmilson Gomes de Moraes ou apenas Edmilson, nome adotado por ele para o futebol.
O ex-jogador é membro da Igreja do Evangelho Quadrangular e é responsável
pela administração da fundação que atende as comunidades carentes do município de
Taquaritinga, no interior de São Paulo.
A fundação oferece oficinas esportivas e culturais, além de serviços como
aferição de pressão arterial, teste de glicemia, cortes de cabelo, espaço para os cuidados
de beleza, aconselhamento jurídico com advogados, conscientização sobre tratos a
animais e ao meio ambiente, recreação com exercícios físicos e dança, espaço kids,
espaço de leitura e doação de livros.
Não é à toa que a participação de agentes políticos que incorporam o discurso
evangélico neopentecostal se efetiva, em todos os estados da federação, com mais vigor,
nas camadas sociais mais desfavorecidas por políticas públicas de maior impacto no
cotidiano dessas comunidades. Maia (2006).
Para destacar a participação efetiva das igrejas e atores neopentecostais nas áreas
mais carentes das grandes cidades do país vale destacar pesquisa feita em 2011 pela
Fundação Getúlio Vargas - FGV, que apontou o Espírito Santo como o estado que
abriga a maior quantidade relativa de evangélicos do país.
Segundo o levantamento o estado conta com mais de hum (01) milhão de
evangélicos ou cerca de 15% da população. Com IDH de 0,802 está entre os sete
melhores do Brasil, todavia, o estado apresenta desequilíbrio na distribuição de renda, e
cidades como Marataízes, Vila Velha, Cachoeiro e Cariacica, apresentam renda per
capita de R$ 750,00 ou meio salário mínimo em 2023.
Segundo a Secretaria de Estado de Economia e Planejamento do Espírito Santo,
há atualmente vivendo em comunidades da grande Vitória aproximadamente de 73 mil
pessoas. Esse cenário favoreceu a instalação de consolidação de denominações
evangélicas no estado e mais precisamente nas periferias.
Já nos referimos a participação assistencial dessas entidades neopentecostais
junto as comunidades carentes das periferias das grandes cidades, mas é necessário que
seja uma abordagem quanto a participação eminentemente religiosa e qual é o
comportamento dos líderes dessas igrejas.
Nesse contexto, Maia (2006) atribui o crescimento do discurso neopentecostal na
política a pouca ou ineficiente participação do estado na vida das comunidades. Não é à
toa que a participação de agentes políticos que incorporam o discurso evangélico
neopentecostal se efetiva, em todos os estados da federação, com mais vigor, nas
camadas sociais mais desfavorecidas por políticas públicas de maior impacto no
cotidiano dessas comunidades.
Gonçalves (2016) vai além, comprovando, em sua análise dos discursos de
parlamentares evangélicos da Câmara dos Deputados do Estado do Rio de Janeiro, a
predominância de uma agenda conservadora que reverbera na postura desempenhada
por esses agentes políticos frente aos mais diferentes temas que entram em tramitação
no Congresso Nacional.
Assim, as afirmativas de Gonçalves (2016), que tomam como ponto de partida,
parlamentares evangélicos da Região Sudeste do País nos levam a questionar se a
construção do discurso religioso neopentecostal é feita de forma semelhante ou não pela
maioria dos atores políticos oriundos dessas agremiações religiosas, independente de
localização geográfica ou dogma religioso ou se a produção do discurso muda e adequa-
se aos programas e propostas dos partidos político/eleitorais, seguindo suas cartilhas
regionais, propositivas e de interesses de grupos.
Assim, tomamos como objeto de pesquisa como essa agenda neopentecostal se
materializa na política cearense, de que forma o campo político cearense incorpora a
retórica neopentecostal e sobre quais parâmetros o faz. Para fins desse estudo, indaga-
se: que mecanismos retóricos compõem esse fenômeno da integração da política
partidária com o discurso evangélico neopentecostal?
Como este discurso é estruturado? A partir de quais parâmetros sociais podem
ser pensados e efetivados? Para dar conta dessas questões, tomamos como objeto de
pesquisa duas personagens que integram o Parlamento do Estado do Ceará: Apóstolo
Luis Henrique (PP-CeCE) e Dra. Silvana (PL-CECe), conhecidos como integrantes da
chamada “bancada da Bíblia” na Assembleia Legislativa do Estado do Ceará.
Selecionamos esses dois parlamentares porque seus discursos revelam com
clareza as influências da racionalidade neopentecostal na política cearense. Esses dois
parlamentares integram a corrente neopentecostal das denominações a que pertencem. O
apóstolo Luiz Henrique é fundador da igreja de Jesus, entidade que é o líder e
presidente, e sua atuação acontece em Fortaleza, no bairro Messejana e adjacências.
Seu discurso é formado a partir da doutrina bíblica que orienta a sua
denominação, com forte apelo para o crescimento espiritual e a “libertação dos vícios”.
De outra forma, o discurso dele também se escora em temas como a recuperação dos
adictos e cita como exemplo a própria experiência como ex-usuário de entorpecentes
que, segundo ele, “teve a vida transformada por Jesus”.
Já a médica doutora Silvana (assim registrada na Justiça eleitoral) é pertencente
à Assembleia de Deus, igreja tradicional, com penetração em todo o estado do Ceará.
Sua atuação como parlamentar é pautada pela defesa dos valores conservadores e
reacionários, sendo derivados do aprendizado bíblico.
Além da formação do discurso religioso, a parlamentar também forma seu
discurso político nas ações sociais, sobretudo na área da saúde e educação, todavia, com
ênfase na saúde já que possui formação em medicina.
Neste sentido, nos questionamos ainda como esses parlamentares adaptaram a lógica
neopentecostal à política partidária e, em que medida, esses discursos constroem
mecanismos de sedução de eleitores evangélicos e não evangélicos, incentivando-os a
aderirem a uma plataforma político/partidária específica que possibilitou o êxito dessas
candidaturas na campanha eleitoral de 2018.
Desta forma, a presente pesquisa busca identificar os elementos retóricos
presentes nos discursos desses dois parlamentares durante a campanha eleitoral de 2018,
como essas estratégias discursivas são estruturadas e a partir de quais parâmetros sociais
podem ser compreendidas. Como nos lembra Canclini (1987) conhecer não é compilar
dados segundo seu aparecimento espontâneo, é dar-lhe sentido na lógica social. Assim,
não nos cabe, aqui, apenas reproduzir o material de campanha desses dois
parlamentares, mas primordialmente dar-lhe um sentido na lógica social.
Esta pesquisa parte, assim, do pressuposto de que os usos de elementos retóricos
típicos do universo evangélico neopentecostal impactaram objetivamente no resultado
do pleito de 2018, atuando na escolha de determinados eleitores originados,
principalmente, das camadas populares provenientes dos bairros cuja renda per capta e a
qualidade de vida são baixas, ou seja, no vazio de políticas públicas voltadas para este
segmento tão olvidado pelo Estado.
Em se tratando de revisão de literatura, tem sido um dos desafios recentes dos
pesquisadores das Ciências Sociais procurar entender o engajamento das chamadas
igrejas neopentecostais do cenário político partidário brasileiro. É crescente a influência
e a participação de grupos e políticos ligados às denominações evangélicas nas esferas
de Poder, quer seja no Executivo, Legislativo e, mais recentemente, no Judiciário,
especificamente no âmbito da Suprema Corte do País, com a indicação de um
pastor/jurista para ocupar lugar no Supremo Tribunal Federal5.
De acordo com Coelho, (2021), a transformação do sujeito religioso em sujeito
político favoreceu sobremaneira o crescimento e a participação dos neopentecostais na
política partidária:

5
CONSULTOR JURÍDICO. André Mendonça é empossado no STF e já herda cerca de mil processos.
Disponível em: https://www.conjur.com.br/2021-dez-16/andre-mendonca-toma-posse-stf-assume-900-
processos#:~:text=O%20ex%2Dadvogado%2Dgeral%20da,Aur%C3%A9lio%20Mello%2C%20a
%20quem%20suceder%C3%A1. Acesso em: 8 de mar. 2023.
A partir da década de 1980 observa-se a massiva entrada de evangélicos (de
matriz protestante) na esfera política, É evidente a eleição de líderes
religiosos e que fazem parte do sistema de governo. Tempos atrás, os
‘evangélicos’ não deveriam relacionar-se com o mundo e muito menos
envolver-se em questões políticas. Porém, essa realidade transformou-se em
uma visão e concepção bíblico-teológica sobre o cosmo e a política e,
radicalmente, adquiriu novos contextos evangélicos latino americanos que
não apenas participam, mas opinam e influenciam o Estado e a Nação a
desfrutarem das promessas religiosas envolvidas nos planos políticos.
(GUADALUPE, 2019, p.??)

Coelho (2021) pontua que o campo progressista, definido por ele como sendo
um campo de contravalores aos conservadores que não aceitam a abertura ao diálogo
com as minorias. Nos últimos anos, observou-se não apenas o deslocamento de grupos
neopentecostais para a política, mas também uma reorganização da direita e o seu
fortalecimento nas esferas públicas.

Todos esses aspectos levantados pelo pesquisador apontam para o crescimento da


vertente política neopentecostal dentro do que chamou de “onda conservadora”. Esse
crescimento tem sido notado mais fortemente após a eleição de Jair Bolsonaro à
presidência da República. As forças políticas conservadoras aglutinaram-se em torno de
um projeto reacionário trazido pelo programa de governo do executivo federal.

Além disso, também houve a intensificação das pautas conservadoras nos principais
veículos de comunicação, bem como nas redes sociais. O Congresso Nacional, com
perfil conservador e de extrema direita, recebeu 195 deputados e 8 senadores
pertencentes à Frente Nacional Evangélica que ajudaram a engrossar o discurso moral
conservador acrescido da vertente religiosa.

Já para Silva (2015), desde os anos 1980 até hoje os candidatos oriundos de
correntes evangélicas neopentecostais têm ganhado sucessivas eleições para o poder
legislativo. De acordo com o Portal 3606 o Brasil registrou recorde de candidatos que
usam denominações evangélicas, o grupo que cresceu 26% na comparação com 2018.
Nas eleições de 2022, 520 dos nomes nas urnas estavam relacionados à igreja
evangélica, entre pastores, irmãos, reverendos. Em 10 anos o número de candidatos com
esses títulos cresceu 128%.

6
PODER 360. Brasil tem recorde de candidatos com denominações evangélicas. Disponível em:
https://www.poder360.com.br/eleicoes/brasil-tem-recorde-de-candidatos-com-denominacoes-
evangelicas/#:~:text=O%20Brasil%20registrou%20recorde%20de,exemplo%2C%20aponta
%20levantamento%20do%20Poder360. Acesso em: 9 de mar. 2023.
Para ele, a presença de evangélicos na política partidária tornou-se mais evidente
após a Constituinte, por meio da atuação da Igreja Universal do Reino de Deus – IURD,
fundada em 1977 por Edir Macedo. Como já mencionado, a inserção dos evangélicos na
política partidária foi observada no início dos anos 1980, com a eleição de
representantes da Igreja Universal do Reino de Deus – IURD para cargos legislativos no
município do Rio de Janeiro.

Daquele momento histórico para a atualidade muita coisa mudou, sobretudo no que
tange a organização dos representantes evangélicos em partidos políticos identificados
com os programas conservadores. Houve ainda a criação de agremiações partidárias
inicialmente exclusivas para abrigar pessoas com o perfil evangélico. Exemplo disso foi
a criação por pastores da IURD, em 2003, do Partido Municipalista Renovador – PMR,
com apoio de mais de 457 mil eleitores.

Em 2006, o partido passou a se chamar Partido Republicano Brasileiro – PRB e


mais recentemente adotou apenas a denominação Republicanos. Todavia, além do
Republicanos, há também outros partidos conservadores que abrigam representantes de
correntes evangélicas, como o Partido Liberal – PL, o Podemos, o Avante e o PSDB.

A participação de evangélicos nas eleições legislativas brasileiras passou a


ganhar mais destaque a partir do início da década de 1990. Embora, entre os
parlamentares eleitos, fosse possível identificar representantes de diferentes
igrejas, foi com a IURD que se iniciou o que se poderia chamar de
«candidaturas oficiais» das igrejas. Segundo Oro (2003), a IURD realiza
recenseamentos de seus fieis antes das eleições, de modo a saber com
precisão o número de eleitores de que dispõe. Esses dados seriam
apresentados aos bispos regionais, que, por sua vez, os encaminhariam à
liderança nacional. A partir daí, a Igreja avaliaria quantos candidatos deve
lançar em cada município ou estado. Trata-se, pois, de uma estratégia
centralizada, de âmbito nacional e coerente com a própria centralização
decisória da IURD. (MARIANO, 2004, p.?).

Percebe-se que a academia, sobretudo as Ciências Sociais, tem buscado


compreender esse fenômeno recente da política partidária brasileira, alavancada por
concepções cristãs religiosas de matriz conservadora. Silva (2021) considera que a
presença de evangélicos na mídia.
Ressalte-se que a participação desse segmento nos veículos de comunicação
começou ainda no final dos anos 1970, com a iniciativa do líder da IURD, Edir Macedo,
em arrendar (alugar) um espaço em uma emissora de rádio do Rio de Janeiro para
transmitir os cultos da IURD que estava começando. Esse movimento acompanhou uma
prática muito comum nos Estados Unidos desde os anos 1940 de pastores utilizarem os
veículos de comunicação com a finalidade de transmitir seus cultos.
Um dos grupos de comunicação mais importantes do Brasil, que conta com uma
rede de emissoras de televisão, rádios, portais da Internet e jornais impressos pertence à
IURD, trata-se do Grupo Record de Comunicação. Mas, também podemos citar a Rede
Internacional de Televisão, de propriedade da Igreja Internacional da Graça, dirigida
pelo missionário RR Soares.
Silva (2021) reforça que a presença dos evangélicos na mídia mostra a
relevância da participação desse segmento na vida política do país e atraiu a atenção de
antropólogos e sociólogos. Todavia, segundo ele, há dificuldades inerentes ao tema,
como a dificuldade para a obtenção de dados concretos sobre as igrejas evangélicas.
Seguindo uma linha similar, o pesquisador Tadvald (2016) afirma que a pesquisa
sobre religião e política recai predominantemente no Congresso Nacional. Ele destaca
que há uma lacuna nos estudos sobre religião e política que sejam mais abrangentes e
permitam a análise dos parlamentos estaduais e municipais. Oro (2003) e Carvalho
(2017) apud Tadvald (2016) para realçar algumas tendências de estudos de casos e de
localidades particulares, desde a esfera municipal, estadual, até o Congresso Nacional.
Uma das abordagens para o tema religião e política Machado (2017) é o recorte
acerca do crescimento e a reformulação do discurso neopentecostal quando se refere à
sexualidade e relações de gênero, debate que tem ganhado espaços nas casas
legislativas, levado por representantes,sobretudo das igrejas evangélicas
neopentecostais, reforçando a tese de que esse segmento tem ganhado influência
substancial junto a sociedade brasileira, que tem escolhido parlamentares conservadores
para representá-los para levar o contraponto discursivo ideológico aos parlamentos por
meio da construção discursiva.
Quanto a metodologia escolhida para a pesquisa optamos por utilizar a análise
de discurso com o objetivo de aprofundar o estudo acerca da construção do discurso
político/religioso desses dois parlamentares integrantes da “bancada da Bíblia" 7 na
Assembleia Legislativa do Estado do Ceará.
Buscaremos trabalhar com a análise dos discursos proferidos pelos dois
parlamentares na tribuna da Assembleia Legislativa do Ceará e que estão consignados
nos arquivos da Casa, além de entrevistas concedidas por ambos aos veículos de
comunicação e ainda a compilação das postagens dos perfis dos parlamentares nas suas
redes sociais, especificamente Instagram e Facebook.
7
A expressão “Bancada da Bíblia” é usado pela imprensa e por cientistas políticos para agrupar membros
do Congresso Nacional e dos legislativos estaduais e municipais que se autodenominam evangélicos e
que defendem as mesmas pautas apregoadas por lideranças evangélicas.
A análise de discurso é uma vertente da linguística que se ocupa em estudar o
discurso e, como tal, evidencia a relação entre língua, discurso e ideologia. Silva e
Araújo (2017).

Partindo da ideia de que a materialidade específica da ideologia é o discurso


e a materialidade específica do discurso é a língua, trabalha a relação língua-
discurso-ideologia. Essa relação se complementa com o fato de que, como
diz Pêcheux (1975), não há discurso sem sujeito e não há sujeito sem
ideologia: o indivíduo é interpelado em sujeito pela ideologia e é assim que a
língua faz sentido (ORLANDI, 1999, p. 17).

Com efeito, a metodologia em tela vai ajudar a identificar na pesquisa os traços


ideológicos impregnados no discurso, bem como vai permitir perceber a intersecção
entre o pensamento religioso e o discurso político. Também será possível recortar traços
persuasivos ou não acerca daquele conteúdo que traga sentido para os eleitores do
segmento evangélico. É por meio da análise do discurso que a construção da narrativa
persuasiva pode ser detectada e estudada, sendo possível determinar quais ênfases estão
sendo trabalhos nas argumentações e ainda a capacidade de atingir os objetivos.
É fundamental percebermos que o uso do discurso é ideológico, não se pode
fugir dessa máxima apontada por Aristóteles no seu Aa República. Nos discursos dos
parlamentares representantes das igrejas neopentecostais, mais especificamente aqueles
que participam da “Bancada da Bíblia” na Assembleia Legislativa do Estado do Ceará
me parece incontroverso que estejam impregnados da forma de ver o mundo e do
alinhamento político-partidário. Mas, em que medida esse discurso atravessa o conteúdo
religioso e como ele pode usado como forma de persuasão é tarefa da metodologia
escolhida apontar na pesquisa.
De acordo com Duarte (2014), na análise de discursos deve levar em
consideração as seguintes questões: sobre o quê se fala? Quem fala? Quando fala?
Como fala? Por que fala? A análise de discurso, aplicada à pesquisa ora proposta,
revela-se fundamental para a tentativa de desvendar o que está por traz do discurso
religioso ideológico praticado pelas lideranças evangélicas com mandato parlamentar na
Assembleia cearense.
Para Boudon (1998), é preciso utilizar o método para verificar as “boas razões”
que o falante tem para afirmar o que afirma. A pesquisa se propõe a investigar quais os
objetivos do discurso, o que se pretende com ele. A metodologia proposta deverá
cumprir o papel de permitir o aprofundamento de todas as questões apresentadas pelo
trabalho e possibilitar a visualização dos resultados. Portanto, na análise dos discursos,
buscamos estabelecer a lógica que ligou os dados às proposições do estudo. (DUARTE,
2014). A metodologia da análise do discurso cumprirá a tarefa de identificar a relação
entre a língua, o discurso religioso e o político, na medida em que confrontamos a forma
como cada um deles é elaborado, o primeiro, construído e destinado ao púlpito, e o
segundo feito para atingir os eleitores.
Vamos trabalhar buscando comparar os pontos de contato e distanciamento de
cada um e tentar identificar os elementos que os ligam à atividade político-parlamentar,
na tentativa de avançar no entendimento da problemática da inserção dos representantes
evangélicos no mundo secular político-parlamentar e na eleição de representantes do
segmento neopentecostal para as casas legislativas, em especial, no Estado do Ceará.
Buscar-se-á desvendar os sentidos que estão impregnados nos discursos construídos por
esses parlamentares representantes da “Bancada da Bíblia”.

A Análise do Discurso, como seu próprio nome indica,


não trata da língua, não trata da gramática, embora todas
essas coisas lhe interessem. Ela trata do discurso. E a
palavra discurso, etimologicamente, tem em si a ideia de
curso, de percurso, de correr por, de movimento. O
discurso é assim palavra em movimento, prática de
linguagem: com o estudo do discurso observa-se o
homem falando (ORLANDI, 1999, p. 15)

Especificamente em se tratando da construção do discurso religioso/político a


metodologia da análise de discurso vai contribuir também para colocar luz nos sentidos
produzidos por essa espécie de construção discursiva. Ainda dentro da metodologia da
análise discursiva o trabalho visa abordar a memória discursiva, que vem a ser os
discursos pretéritos já elaborados fundamental para a compreensão do que está sendo
produzido como discurso na atualidade e se houve correção de rota nos argumentos e
postulações.
É por meio do uso desse conceito que é possibilita o dizer, constituindo-se na
forma do “pré-construído”. (ORLANDI, 1999). Portanto, as significações e efeitos de
sentido anteriormente reproduzidos em volta deste ou daquele discurso. (SILVA e
ARAÚJO, 2017). A função da análise de discurso visa a avaliar em profundidade o
material discursivo produzido pelos parlamentares em estudo, desde os
pronunciamentos orais e reduzidos a termo, bem como entrevistas a veículos de
comunicação, manifestações nas redes sociais e eventuais discursos pertinentes a
temática do trabalho realizados fora da Casa legislativa. Também será possível
estabelecer as relações porventura existentes entre os sujeitos do discurso e os seus
interlocutores.
A análise de discurso contribuirá com a pesquisa pela forma abrangente pela
qual permite uma abordagem sistêmica aos conteúdos e aprofunda as suas percepções.
Espera-se, com o trabalho, fazer um mergulho nos discursos apontados anteriormente,
de forma pontual, perpetrados por esses representantes do parlamento estadual na
perspectiva de desvelar as relações existentes entre o dogma religioso e a ideologia
político/partidária a partir do entendimento da essência dos discursos produzidos e da
descoberta dos seus sentidos para os seus interlocutores.
A pesquisa está estruturada em três capítulos aos quais discorrerei a seguir. No
primeiro capítulo, INTITULADO ... trato sobre as origens do movimento cristão
neopentecostal no Brasil, apresento como esse movimento se estabeleceu
historicamente, suas principais características e, em quais fundamentos sociais e
teológicos foi consolidado. Ainda no primeiro capítulo apresento as principais doutrinas
religiosas aplicadas por esse segmento cristão evangélico, entre as quais a mais
difundida nesse meio, a Teologia da Prosperidade, e de que forma elas se distinguem
das doutrinas adotadas pelas chamadas denominações tradicionais.
No segundo capítulo da pesquisapesquisa, DENOMINADO ..... mostro o
fenômeno da transformação do Brasil católico para o evangélico nos últimos 30 anos e
quais fatores contribuíram para que representantes das igrejas neopentecostais
ganhassem assento nos parlamentos brasileiros e, em especial, na Assembleia
Legislativa do Estado do Ceará.
Abordo, ainda, que essa transformação permitiu a ascensão das denominações
neopentecostais ao protagonismo político/religioso e quais aspectos contribuíram para
arregimentar uma parcela significativa da população a aderir a esse movimento
religioso.
No terceiro e último capítulo INTITULADO ... traço um perfil dos líderes
religiosos oriundos das denominações neopentecostais, em particular do deputado
estadual apóstolo Luiz Henrique (Republicanos) e da deputada estadual doutora Silvana
(PL), integrantes da “Bancada da Bíblia” no Parlamento estadual.
Descrevo e identifico como esses dois representantes constroem seus discursos
político/religiosos por meio da análise de discurso dos pronunciamentos, entrevistas e
postagens nas redes sociais, no período das eleições estaduais de 2018.Verifico se a
construção do discurso político/religioso é feita de forma semelhante ou se existem
peculiaridades inerentes a cada mandato. Por fim, identifico os mecanismos retóricos
que integram o discurso político/religioso, com foco no discurso evangélico neo
pentecostal e explico como esse discurso é estruturado para atingir o público evangélico
neopentecostal e não crente.
21 A ORIGEM DOS NEOPENTECOSTAIS E A TEOLOGIA
DA PROSPERIDADE

12.1 As origens dos protestantes e pentecostais no Brasil

Os representantes das denominações cristãs oriundas da chamada Reforma


Protestante8 chegaram ao Brasil ainda nos Séculos XVI e XVII, quando o país recebeu
holandeses e franceses, duas nações profundamente influenciadas pelo movimento
protestante nascente no Velho Continente. Aqui chegaram e encontraram a dominação
portuguesa, então adepta da chamada contrarreforma9, que viria a ser o movimento
encabeçado pela Igreja Católica Romana para combater as ideias e postulados
separatistas dos cristãos protestantes, dissidentes da Igreja do Papa.
Todavia, o marco da chegada dos protestantes ao Brasil aconteceu no dia 19 de
março de 157710 foi a celebração do primeiro culto dessa denominação, que se deu no
Rio de Janeiro, no interior da Baía de Guanabara. Ressalte-se que esse evento marcou
não apenas a celebração do primeiro culto cristão, não católico, no Brasil, mas foi
também o primeiro das Américas.
Esse culto foi organizado e celebrado por líderes religiosos franceses em
contraponto à permanência jesuíta que já habitava o Brasil desde a chegada dos
europeus por aqui. A simbologia e o protagonismo do gesto dos protestantes que aqui
aportaram geraram um documento que viria a ser o primeiro documento teológico das
Américas, denominado Confesso Fluminense, formulado em 08 de fevereiro de 1558.

Destes incidentes originou-se uma confissão de fé conhecida como:


“Confessio Fluminensis” e nos chama a atenção a profundidade teológica
desta confissão de fé escrita em tão pouco tempo e nela estão contidas
questões sobre o que criam a respeito de Deus, Jesus Cristo, Espírito Santo,
os sacramentos, livre arbítrio, perdão de pecados, imposição de mãos,
casamentos, votos monásticos, os santos e pessoas falecidas. (RIPOLI, 2018,
p. 212).

8
A Reforma Protestante foi um movimento de reforma religiosa ocorrido na Europa, no século XVI. Esse
reformismo religioso foi iniciado por Martinho Lutero, um monge alemão insatisfeito com a cobrança de
indulgências pela Igreja Católica Romana.
9
A contrarreforma foi o conjunto de ações tomadas pela Igreja Católica romana no sentido de barrar o
avanço do protestantismo na Europa.
10
CHANCELARIA. O primeiro culto protestante celebrado no Brasil. Disponível em:
https://www.mackenzie.br/s/gemkt/revista/88/chancelaria.html#:~:text=No%20dia%2010%20de%20mar
%C3%A7o,de%20pastores%20e%20mission%C3%A1rios%20franceses. Acesso em: 10 mar. 2023.
Visando estabelecer uma divisão histórica sobre a chegada do protestantismo no
Brasil e a invasão portuguesa, deve-se ressaltar que, de acordo com Alencar (2005) há
dois tipos de protestantismo: o protestantismo pentecostal de vertente escatológica e o
protestantismo contemporâneo, cuja menção à chegada ao Brasil já fizemos.
É acerca da chegada os pentecostais em terras tupiniquins que vamos centrar a
nossa análise inicial. Sobretudo porque é dessa vertente religiosa que surgirá a corrente
neopentecostal contemporânea. Os pentecostais chegam ao nosso país apenas no início
do Século XX, mais precisamente em 1910, com trezentos anos de atraso em relação às
confissões calvinistas e luteranas que por aqui anteriormente se estabeleceram no Rio de
Janeiro.
Com a chegada de Luigi Franciscon é fundada a “Congregação Cristã do Brasil”,
em 1910, e em 1911, também chegam ao país Daniel Berg e Adolf Gunnar Vingren para
implantação da “Missão de Fé Apostólica” que, anos após a sua fundação, se conciliou
na “Assembleia de Deus” (ALENCAR, 2005). A criação da Assembleia de Deus rompe
com a hegemonia do campo protestante no país, tendo em vista que as denominações
luteranas e calvinistas já haviam sedimentado suas raízes desde os Séculos XVI e XVII
e as primeiras denominações pentecostais, por outro lado, chegam com uma doutrina
fundada não apenas na salvação pela Graça, mas também pelas obras manifestas do
Espírito Santo.
A Assembleia de Deus, com sua doutrina pentecostal, que vem a ser a
valorização dos chamados “dons do Espírito Santo11” é considerada naquele momento
histórico uma “novidade” do ponto de vista teológico e espiritual já que o alicerce dessa
doutrina são os “dons do Espírito” e não fazem parte da pregação das chamadas igrejas
confessionais tradicionais.
Dessa forma a Assembleia de Deus influenciou outros movimentos pentecostais
posteriores e, atualmente, mais de 100 anos após o seu estabelecimento, a denominação
apresenta diversas vertentes que buscam encontrar uma identidade em meio ao
emaranhado de opções oferecidas no mercado pentecostal brasileiro. (FAJARDO, 2015,
p. 39).
Diferente das confissões de cunho Luterano ou Calvinista, cuja doutrina está
sedimentada na salvação pela Graça - para além dessa postulação - as denominações
pentecostais pregam a transformação pessoal e espiritual por meio da atuação direta do

11
RESPOSTAS BÍBLICAS. O que são e quais são os dons do Espírito Santo? Disponível em:
https://www.respostas.com.br/o-que-sao-os-dons-do-espirito-santo/ Acesso em: 10 mar. 2023
Espírito Santo na vida do fiel que, ao receberem “gratuitamente” os dons manifestos de
Deus, passam a viver e manifestar esses dons, quais sejam: fé, cura, milagres, profecia,
discernimento de espíritos, variedade de línguas, interpretação de línguas etc.
Para Fajardo (2015) essa diversidade e esgarçamento institucional da
Assembleia de Deus reflete o que acontece de forma ainda mais ampla no campo
pentecostal, da qual é uma das mais antigas representantes. Vale dizer que, mais à frente
quando o trabalho abordará especificamente as igrejas neopentecostais estará recortando
uma das vertentes derivadas do que se convencionou chamar de “pentecostalismo
clássico” pregado pela Congregação Cristã do Brasil.
Exatamente pelo fato de diferenciarem-se das congregações tradicionais, aqui
entendidas como aquelas que chegaram ao Brasil no período da colonização
(calvinistas, luteranos), as igrejas pentecostais têm uma organização diferenciada,
sobretudo quando se aborda o critério de hierarquização das suas lideranças e ainda a
capacidade fragmentação que possuem.
Enquanto a Assembleia de Deus se fragmentou descentralizando suas igrejas e
flexibilizando sua lideranças, a Congregação Crista do Brasil manteve a sua unidade
organizacional com certo grau de coesão, ou seja, permaneceu com a estrutura
verticalizada, com uma liderança nacional tendo sob sua tutela igrejas filiadas com a
mesma designação (nome da Igreja). Outras igrejas, entretanto, seguiram caminhos
distintos, não respeitando hierarquização ou se ligando a “denominações mães”, sendo
chamadas de igrejas independentes, como é o caso da Igreja de Jesus, denominação
neopentecostal, fundada em Fortaleza – Ceará, pelo deputado apóstolo Luiz Henrique, à
qual abordarei mais à frente.
Nesse sentido, do ponto de vista litúrgico, a Assembleia de Deus permitiu uma
extensa mudança no seu comportamento desde a sua fundação. Em razão dessa
fragmentação e da falta de organização hierárquica, as liturgias comuns ao padrão da
Assembleia de Deus se perderam, as denominações “filiais” não estão obrigadas a
seguir a ordem litúrgica adotada pela Assembleia de Deus “matriz” o que permitiu
também a quebra do ascetismo, que pode ser explicado como um estilo de vida adotado
pelos fiéis embasado numa ética de santidade considerada necessária ao usufruto das
bênçãos. (FERREIRA, 2015, p.22).
A partir desse entendimento ocorreu o surgimento de outras denominações na
primeira metade do Século XX, como a Assembleia de Cristo (hoje Igreja de Cristo),
cisão calvinista das Assembleias de Deus (a seguir trataremos apenas como ADs)
fundada em 1932, em Mossoró-RN. Há ainda a Igreja Batista Sueca, fundada em 1912,
no Rio Grande do Sul, representante do “pentecostalismo de migração”, haja vista ser
fundada por colonos suecos (VALÉRIO, 2013).

12.2 O crescimento das igrejas pentecostais

É possível perceber que, por suas características fragmentárias, não


centralizadoras, as denominações pentecostais oriundas do tronco da Assembleia de
Deus experimentaram crescimento relativamente rápido no Brasil, principalmente a
partir dos anos 1950. Nesse ano, segundo Fajardo (2015), criou-se o “movimento das
tendas” que originalmente inspirou a instalação da Igreja do Evangelho Quadrangular,
fundada pelo missionário norte-americano, Harold Williams.
Essa denominação é um exemplo concreto de como houve um rompimento com
a liturgia tradicional da Assembleia de Deus, ao criar outros padrões e costumes,
inclusive no modo de se vestir dos membros, diversos do pentecostalismo clássico, além
da adoção de rituais de cura divina. Cada denominação, dentro do seu propósito de
pregar o evangelho de Cristo pela difusão dos “dons do Espírito Santo” acabaram
adotando padrões próprios, lideranças locais e liturgias reconhecidas pelos seus
membros, ainda que não adotadas por outras denominações pentecostais semelhantes.
Além da Igreja do Evangelho Quadrangular outras denominações surgiram no
mesmo momento histórico, como a Igreja Deus é Amor, fundada pelo seu líder, David
Miranda, um dos pioneiros da radiodifusão evangélica no país, pois a suas pregações
eram transmitidas pelas ondas do rádio, o que contribuiu sobremaneira para o
crescimento da sua igreja e, posteriormente, para alavancar o neopentecostalismo.
Todavia, é preciso destacar algumas características da igreja fundada por David
Miranda. Apesar de seguir a doutrina dos “dons do Espírito Santo”, a Igreja Deus é
Amor defende a adoção de um forte ascetismo por parte de seus membros, há uma
exigência de comportamento “padrão” e é exigido o rigor nas vestimentas diárias.
Mas essas igrejas são fruto de um trabalho de evangelização eminentemente
urbano, pois suas bases estão sedimentadas nas periferis das grandes cidades brasileiras,
sobretudo na locomotiva do Brasil, São Paulo, que experimentava forte crescimento
econômico a partir dos anos 1970.
21.3 O nascimento das igrejas neopentecostais no Brasil

Desde a sua chegada ao Brasil o meio pentecostal vem experimentando forte


crescimento, em grande medida explicado pela forma descentralizada e não
hierarquizada pela qual as denominações pentecostais estão organizadas. Mas também
há o aspecto doutrinário que interfere nesse desempenho, sobretudo pelo alcance que a
doutrina dos “dons do Espírito Santo” tem em grande parte o povo cristão.
Entretanto, antes de entrar especificamente no aspecto histórico dessas
denominações neopentecostais, inicialmente é preciso identificar o que é a doutrina
neopentecostal. De acordo com Oro (2001) o neopentecostalismo é um tipo de
pentecostalismo que emergiu no Brasil a partir da década de 1960 e que é de difícil
conceituação.
Oro aponta que essa doutrina recebeu diversas conceituações como “agência de
cura divina” Monteiro (1979), “sindicato dos mágicos” Jardilino (1994),
“pentecostalismo autônomo” Bittencourt (1994), “pentecostalismo de segunda e terceira
ondas” Freston (1993), “neopentecostalismo” Mariano (1995) e “pós-pentecostalismo”
Siepierski (1997). Portanto, vários pesquisadores se debruçaram a estudar o fenômeno
neopentecostal e a buscar estabelecer uma formulação que mais se aproxime do que
vem a ser a prática dessas igrejas.
As práticas dessas igrejas são comuns e podem ser descritas, de forma geral, a
adoção de rituais de cura e libertação (exorcismo) por meio da ação do Espírito Santo e
ainda adoção da chamada Teologia da Prosperidade, a qual nos referiremos mais
adiante. Destaque-se que há uma exaustiva propaganda acerca das curas e milagres
nessas igrejas, o que tem permitido o aumento da procura dos fiéis por essas
denominações neopentecostais.
Segundo Mariano (2005) comparadas às denominações pentecostais
precedentes, as neopentecostais apresentam poucos traços de seita (no sentido
sociológico do termo), essas denominações são mais adaptáveis à sociedade de
consumo. Nessa perspectiva, é possível estabelecer o contato da ideologia capitalista
quando se utiliza de ferramentas como a publicidade e o marketing para difundir suas
práticas.
Eficientes no marketing, fazem intenso evangelismo através da mídia
eletrônica. Mais liberais, abandonaram vários traços sectários de sua religião
e romperam com o ascetismo contracultural, de origem puritana,
personalizado no velho estereótipo pelo qual os crentes eram reconhecidos e,
muitas vezes, estigmatizados. Diminuíram, por princípio e estratégia
proselitista, suas exigências éticas e comportamentais. Com isso, “nascer de
novo” tornou-se menos traumático. (MARIANO, 1997, p. 124).

Por outro lado, essas igrejas neopentecostais abandonam a ideia de ascetismo


trazido pelas primeiras igrejas pentecostais quando chegaram ao Brasil e ainda pratico
dentro do “pentecostalismo clássico”. Há uma ruptura clara entre o modus de agir
sectário das pentecostais clássicas migrando para um modelo mais adaptável à
sociedade moderna. Os neopentecostais se afastam do perfil do “crente assembleano”,
Bíblia na mão, terno e gravata, para adotar um comportamento secularizado 12. Isto é, o
membro passa a se comportar socialmente de forma semelhante aos não crentes,
abandonando estereótipos.
Mariano (2006) explica bem essa mudança comportamental que reflete também
e, principalmente, seu objetivo: a salvação. “Seguir seus ensinamentos constituem,
acima de tudo, meios infalíveis de o converso se dar bem nesta vida e neste mundo,
relegando o velho paraíso celestial a segundo plano.”
O movimento torna-se especialmente atraente aos estudos da academia a partir
dos anos 1970, com as grandes e profundas transformações pelas quais o movimento
pentecostal experimentou influenciado pelas mudanças acontecidas principalmente nos
Estados Unidos e, posteriormente, replicadas no Brasil por meio de igrejas como a
Igreja Universal do Reino de Deus – IURD, fundada pelo seu líder, Bispo Edir Macedo.
A IURD nasceu em 1977 onde funcionava uma antiga funerária, no bairro
Abolição, no Rio de Janeiro. O primeiro culto foi realizado em 09 de julho daquele ano.
Desse marco histórico para a atualidade a IURD transformou-se na maior denominação
neopentecostal do Brasil e a primeira da América Latina. A IURD também destaca-se
como a pioneira a adotar a Teologia da Prosperidade e utilizar os veículos de
comunicação de massa para difundir a doutrina.
Ao lado da IURD também é possível apontas a Igreja Internacional da Graça,
fundada pelo missionário RR Soares e ainda a Igreja Mundial do Poder de Deus, todas
dissidências da Igreja Universal do Reino de Deus – IURD e que adotam práticas
neopentecostais semelhantes, com a exaltação aos poderes de cura, libertação
(exorcismo) e o caminho de alcançar as bênçãos espirituais e materiais de Deus por
meio da adesão à Teologia da Prosperidade.
12.4 A Teologia da Prosperidade e sua chegada ao Brasil
12
BRASIL ESCOLA. Secularização. Disponível em:
https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/secularizacao.htm Acesso em: 11 mar. 2023
O olhar sobre o neopentecostalismo sob o prisma de suas práticas doutrinárias
será fundamental para a compreensão da aceitação dessa vertente cristã e como seus
líderes constroem seus discursos com o objetivo de persuadir o público à conversão
religiosa. Nesse sentindo, é fundamental aprofundar o conhecimento sobre a chamada
Teologia da Prosperidade e de que forma ela se relaciona com o crescimento do
neopentecostalismo no Brasil.
Essa doutrina teve sua gênese nos Estados Unidos da América na segunda
metade do Século XX. Naquela época, várias igrejas pentecostais já adotavam práticas
como a cura divina e a crença do poder da fé em Jesus Cristo para a superação das
adversidades financeiras e econômicas, além dos problemas relacionados ao
comportamento e a alma humana.
Na linha de pregação do que se denominou Health and Wealth Gospel destacou-
se o pregador Kenneth Hagin13, associado ao Movimento da Confissão Positiva 14 de
grande adesão nos Estado Unidos e aqui no Brasil. De acordo com Ribeiro (2007)
Hagin, após uma adolescência pobre, marcada por enfermidades e experiências de ser
curado por intermédio da Confissão Positiva 15 foi evangelista da Igreja Batista e em
função de suas experiências religiosas pentecostais, tornou-se, em 1937, pastor da
Assembleia de Deus.
A importância de Kenneth Hagin para o estabelecimento do que viria a ser
posteriormente a Teologia da Prosperidade foi fundamental, principalmente pela ampla
divulgação dos primeiros postulados oriundos da Confissão Positiva e que inspirou
outros pregadores:
Como pregador e divulgador dos postulados da Confissão Positiva, Hagin
inspirou-se em Essek William Kenyon (1867-1948). Kenyon também havia
sido pregador sem vínculos denominacionais e suas idéias estavam ligadas ao
poder do pensamento positivo, em especial as concepções de Phineas
Quimby (1802-1866) e de Norman V. Pearle (1898-1993) e à Ciência Cristã,
cuja fundadora foi Mary Baker Eddie (1821-1910). Todavia, ele não
escrevera ou pregara sobre o tema da prosperidade. A influência sobre Hagin
será, sobretudo, nas questões da cura divina e da Confissão Positiva.
(RIBEIRO, 2007, p. 51).

13
As obras de Kenneth Hagin possuem caráter de divulgação, com forte penetração nas igrejas do Brasil,
em especial nas lideranças. Os conteúdos são facilmente identificados nas pregações das igrejas, eventos
e atividades na mídia.
14
A Confissão Positiva, movimento que influencia igrejas neopentecostais, tanto no Brasil quanto no
mundo, tem origem no século 19, quando Essek William Kenyon, nascido em 1867, passou a pregar
influenciado pelas ideias de Finéias Parkhusst Quimby, conhecido como curandeiro e hipnotizador, além
de fundador de uma corrente chamada “Novo Pensamento”.

15
O prólogo da Teologia da Prosperidade também contou com o forte
impulsionamento dos meios de comunicação dos Estados Unidos. O destacado
televangelista Oral Roberts influenciou Hagin sobremaneira sobre o tema da
prosperidade, com ênfase no retorno material e financeiro que a disseminação dessa
doutrina pode possibilitar a partir das ofertas, dízimos e contribuições dos fiéis.
No Brasil, as primeiras manifestações relacionadas à Teologia da Prosperidade
surgiram ainda em meados dos anos 1970, coma algumas igrejas pentecostais
começaram a divulgar o conjunto de doutrinas ligadas à prosperidade pessoal e a benção
divina por meio da utilização dos meios de comunicação. As igrejas como a Igreja
Universal do Reino de Deus – IURD, a Igreja Internacional da Graça, a Igreja Renascer
em Cristo e Ministério Palavra da Fé são exemplos de denominações que adotam a
Teologia da Prosperidade como máxima teológica das suas organizações.
Ribeiro (2015) argumenta que a Teologia da Prosperidade apesar de se
fundamentar na cura divina, na libertação e na benção por meio da aquisição de bens
materiais, cada igreja formula seu modo às ênfases relativas à prosperidade e as
doutrinas religiosas afins. Seguindo o raciocínio, deve-se ressaltar que a Teologia da
Prosperidade inverte a promessa de uma felicidade futura, no plano espiritual da
salvação, para a consolidação de uma vida de bênçãos e vitórias e realizações pessoais,
materiais e financeiras ainda nesse plano, ou seja, aqui mesmo, na Terra.
A Teologia da Prosperidade tem grande semelhança ao postulado capitalista da
acumulação à medida em que o capitalista é bem sucedido, acumula bens materiais e
usufrui desses bens de forma imediata. Também assim na Teologia da Prosperidade, a
promessa é de conseguir as bênçãos dos céus para acumular bens materiais e usufruir
deles no Paraíso terreno. Gondim (2009) afirma que o sucesso e aceitação da Teologia
da Libertação no Brasil estão relacionados ao contexto econômico e dos demais países
da América Latina:

Em um continente empobrecido, a Teologia da Prosperidade chega como


uma alternativa divina com promessas de saúde e riqueza; um escape aos
sufocantes problemas da perversa realidade continental. Com uma prática
liturgicamente pentecostal, e com premissas muito próximas do
protestantismo evangélico fundamentalista, essa Teologia tornou-se a mais
vigorosa influência teológica na incipiente fé latino-americana. Nos
segmentos socialmente deprimidos, ela foi reelaborada, apropriou-se dos
símbolos da religiosidade popular e firmou-se como um neopentecostalismo,
ou protestantismo popular. Entre a classe média, enxergou-se a Teologia da
Prosperidade como uma fuga da burguesia evangélica, que sempre desejou
subir socialmente, mas sentia-se agora perigosamente condenada a descer
com o rápido empobrecimento do Continente.(ANO, p.?)

Nesse sentido, a busca pela prosperidade financeira parece ser a principal mola
que impulsiona os fiéis a aderirem ao discurso das igrejas neopentecostais. O alcance da
independência financeira, a quitação de uma dívida impagável, a compra de um bem
“sonho de consumo” são desejos que permeiam a mente das pessoas atraídas pelo
discurso neopentecostal da prosperidade.
O discurso religioso construído pelos líderes dessas denominações fundamenta-
se segundo Stella (2018) na segunda epístola de Paulo aos Coríntios – capítulo 9 –
versículo 6: “Aquele que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia com
fartura, com abundância também ceifará”.
Fica evidente a tentativa de articulação do texto bíblico com a doutrina que
defende o “sacrifico” pessoal dos bens em prol da denominação a à qual pertence, a
dedicação ao trabalho, aos moldes da meritocracia16 para alcançar a riqueza material e
as bênçãos divinas aqui mesmo no plano terreno. Pierrat (1993) critica a doutrina ao
afirmar que há uma tentativa de forçar a compreensão de que o cristão recebe conforme
a soma que doa.
Como já expostodito, a Teologia da Prosperidade, cujo nascedouro aconteceu na
maior democracia capitalista do planeta, está fortemente associada a á ideia de que a
felicidade espiritual e a material estãoá atreladas a à capacidade de acumulação do fiel.
Quanto mais ele se “sacrificar”, ou seja, abrir mão em favor da igreja a á qual está
congregado, dos seus bens em forma de doação a título de ofertas e dízimos, o crente
estará se aproximando do Paraíso prometido por Cristo.
Afinal Deus “não nos criou para a miséria e sofrimento material, mas para a
fartura e a abundância de bens”. Nessa linha, Mariano (1999, p.??) aponta outro trecho
bíblico que orienta a doutrina da prosperidade. É o caso da viúva pobre que ofertou duas
moedas, tudo que possuía para o seu sustento (Lc 21.1-4). O autor insiste que esse texto
é utilizado pelos líderes da prosperidade como um “exemplo a ser imitado”.
Apesar de não ser objeto de o trabalho confrontar as teses da Teologia da
Prosperidade mas, sobretudo, apresentá-la e mostrar como a doutrina foi
instrumentalizada pelas igrejas neopentecostais. Todavia, é importante pontuar que há

16
É um sistema que privilegia as qualidades do indivíduo como a inteligência e a capacidade de trabalho,
e não sua origem familiar ou suas relações pessoas.
forte resistência dessa doutrina entre outros grupos evangélicos, em especial, os
“clássicos”. Pierrat (1993, p. 151) aponta que não se pode recortar parte o texto bíblico e
desconectá-lo do contexto histórico.

A noção de que receberemos somente se dermos é uma perversão da ideia


cristã de caridade. Isso tem mais a ver com o utilitarismo pagão, que avalia
todos os atos morais da vida segundo o benefício recebido por aquele que o
pratica. A ética cristã que devemos dar, porque Deus nos deu primeiro. Para o
cristão, o dar deve ser um ato de adoração, gratidão e amor, não um exercício
em que se calcula o quanto receberemos de volta (1Jo 4.19).

A relação direta e interligada das igrejas neopentecostais e os postulados da


Teologia da Prosperidade são indissociáveis, a doutrina faz parte da ascensão e
aceitação dessas denominações e a difusão das práticas da prosperidade é fator decisivo
para garantir a massiva arregimentação de fiéis nos últimos 40 anos. A Teologia da
Prosperidade segundo Gabatz (2013) tem criado a convicção de que a obtenção de
lucro, não constitui num problema ético ou moral. Para o autor o sucesso dessa doutrina
está fundamentada no milagre, na magia, na manipulação da emoção, na solução de
todos os problemas.
A retórica do discurso da Teologia da Prosperidade está impregnada no discurso
religioso e que, mais à frente será também apropriado pelo discurso político/partidário
visando a elevar a participação dos representantes dessas agremiações nas casas
legislativas do país. Esse discurso é profundamente aderente porque ataca questões
muito presentes no cotidiano da população, como a questão financeira, o sofrimento
pessoal e a possibilidade de adquirir bens materiais e o reconhecimento social.
Como dito, a doutrina da prosperidade é uma ferramenta fundamental para
sedimentar os valores e ideais das igrejas neopentecostais e principalmente refletir o
pensamento dos seus líderes. O dinheiro é um ponto fundamental para identificar o
crente abençoado por Deus. De outra forma, a pobreza é resultado da falta de fé do
crente ou a ação direta do diabo na vida do indivíduo.
Ao avançar na pesquisa, o trabalho vai aprofundar a ideologia da Teologia da
Prosperidade integrada ao discurso dos neopentecostais que participam da política
partidária, com foco nos dois parlamentares integrantes da “banca da Bíblia” na
Assembleia Legislativa do Ceará. Gabatz (2013) afirma que esse discurso (o conteúdo
dos sermões) não pode ser posto em dúvida sob nenhuma hipótese, nem as orientações
dos pastores, missionários e obreiros. As falas não podem ser questionadas. Se houver
alguma dúvida “ela vem do diabo”.
Nos discursos dos líderes neopentecostais que utilizam a doutrina da Teologia da
Prosperidade o diabo é muito citado como sendo a origem de todo o mal na vida do
crente e, por via indireta, pode também ter influência maligna no campo político. De
acordo com Nogueira (1986, p. 18) os demônios se constituem como obstáculos que
impedem a possibilidade de alcançar o paraíso aqui na Terra. “Dessa polarização resulta
que tudo o que afasta os homens de Deus é uma manifestação do diabo”.

12.5 O surgimento da Igreja de Jesus e a Assembleia de Deus no Ceará

A Igreja do Senhor Jesus é uma denominação evangélica de viés doutrinário


evangélico neopentecostal, fundada em 2006, em Fortaleza – Ceará, pelo seu líder e
presidente Luiz Henrique Castelo, Lima, ou simplesmente apóstolo Luiz Henrique. É
uma igreja considerada independente, isso é, não está ligada hierarquicamente a
nenhuma outra denominação, tendo liberdade pastoral, doutrinária e administrativa.
Seguindo a linha neopentecostal, a Igreja do Senhor Jesus reconhece os dons “do
Espírito Santo” como sendo principiológicos na construção da ação espiritual da
denominação, sendo a cura milagrosa, a libertação (exorcismo) e o “nascer de novo” 17
como adoção de estilo de vida. O cristão neopentecostal acredita que é preciso renunciar
ao mundo terreno que o cerca para abraçar o “novo mundo” espiritual prometido por
Jesus Cristo. “O meu reino não é desse mundo”.
Além das práticas identitárias que reconhecem a Igreja do Senhor Jesus como
uma igreja evangélica neopentecostal, ainda há a adoção da Teologia da Prosperidade
como ferramenta para alcançar o paraíso na Terra. A marca da presença dessa teologia
pode ser notada não apenas pelos discursos da sua liderança (pastores, presbíteros,
obreiros), bem como do seu presidente, apóstolo Luiz Henrique, mas também pela
presença de rituais de doações, ofertas, dízimos à igreja.
Desde o seu início, em 2006, quando a igreja estava instalada na garagem de um
parente do apóstolo Luiz Henrique, até a atualidade, muita coisa mudou. A estratégia de
evangelizar tendo como ponto alto a doutrina da prosperidade surtiu efeito e, em 2017,
fruto das doações financeiras dos membros e de um terreno de 10 mil metros quadrados

17
Nascer de novo foi uma expressão utilizada por Jesus Cristo para afirmar que aqueles que o seguirão
devem mudar completamente de vida, ou seja, de uma vida de pecado, para uma vida em santidade.
doados pela prefeitura municipal do Eusébio – Ceará, a Igreja do Senhor Jesus
inaugurou a sua segunda unidade. Um mega templo com capacidade para abrigar 25 mil
pessoas sentadas e 40 mil em pé, sendo um dos maiores do Brasil.
De acordo com o jornal Diário do Nordeste18 a catedral foi construída em
aproximadamente 01 (um) ano com dinheiro proveniente de doações dos fiéis da igreja.
“Somente em Fortaleza, a Igreja do Senhor Jesus possui mais de 15,6 mil pessoas
cadastradas”. A velocidade de crescimento e os números apresentados mostram a força
dessa denominação que, em menos de 20 anos, conseguiu se colocar como uma das
mais importantes representantes do neopentecostalismo do Norte e Nordeste.
Resta evidente que a fórmula adotada pela maioria das igrejas neopentecostais
brasileiras apresenta resultados satisfatórios quando observamos aspectos como
crescimento do rebanho e crescimento físico e administrativo. A retórica da salvação e
das bênçãos de Deus ainda no plano terreno se o fiel for fiel “no dízimo e nas ofertas”.
Por certo, a Igreja do Senhor Jesus não descobriu a fórmula de associar a pregação
fundada nos “dons do Espírito Santo” com a doutrina da prosperidade, mas, tem
conseguido sucesso na sua aplicação.
Ainda na esteira desse rápido crescimento, a denominação inaugurou, em 2012,
a rádio Jesus FM (102,3)19 uma emissora que transmite 24h de conteúdo “gospel”, sendo
utilizada predominantemente pelo seu líder, apóstolo Luiz Henrique, para difundir as
pregações aos fieis da igreja e ao público atingido pela emissora. Vale lembrar que,
umas das mais importantes estratégias para a disseminação da Teologia da Prosperidade
é a mídia e o rádio tem sido um importante aliado dessas igrejas desde os anos 1970,
com as irradiações da Igreja Universal do Reino de Deus - IURD e de outras igrejas
neopentecostais.
Além da Igreja do Senhor Jesus, cujo líder é o apóstolo Luiz Henrique, também
é foco deste o trabalho conhecer a história da Assembleia de Deus no Ceará,
denominação que abriga da deputada doutora Silvana, uma das líderes dessa
denominação no Ceará e representante do segmento evangélico pentecostal e
neopentecostal na Assembleia Legislativa do Estado do Ceará.
Antes de mencionarmos especificamente a instalação do primeiro templo da
Assembleia de Deus no Ceará, é preciso resgatar uma breve história de seus fundadores.

18
DIARIO DO NORDESTE. Inaugurado megatemplo no Eusébio. Disponível em:
https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/metro/inaugurado-megatemplo-no-eusebio-1.1829164
Acesso em: 12 mar. 2023.
19
JESUS FM. Disponível em: https://www.radiojesusfm.com.br/ Acesso em: 13 mar. 2023.
De acordo com o Diário Pentecostal 20, . Aa pioneira do pentecostalismo cearense
seria Maria de Jesus Nazaré Araújo que, em 1914, desembarcou em solo cearense
oriunda de Belém do Pará, onde foi uma das primeiras integrantes da nascente
Assembleia de Deus no Brasil. Maria de Nazaré, inicialmente estabeleceu-se no interior
do estado, na cidade de Uruburetama – CE, posteriormente se transferindo para a
capital, Fortaleza.
Juntamente com o pastor Adriano Nobre, também oriundo da AD em Belém do
Pará, mas de origem cearense, realizaram o primeiro culto pentecostal em Fortaleza, na
Fazenda Lagoinha, sendo esse o marco da fundação da Assembleia de Deus no Ceará.
Em 1935 a igreja alugou um galpão na Rua Tereza Cristina, 673 – Fortaleza – Ceará –
propriedade que foi adquirida pelos membros em 1936 e, em 1942, foi inaugurado o
templo da Assembleia de Deus, denominado, Templo Central, que funciona até os dias
de hoje.
A Assembleia de Deus é considerada uma denominação pentecostal clássica,
todavia, uma série de integrantes dessa denominação seguem os preceitos da Teologia
da Prosperidade, inclusive, assuem o discurso que marca a utilização dessa ferramenta
doutrinária. Apenas a título de exemplo, cito o pastor Silas Malafaia, integrante da
Assembleia de Deus Vitória em Cristo, talvez, o maior expoente da Teologia da
Prosperidade do Brasil, juntamente com o líder da Igreja Universal do Reino de Deus,
bispo Edir Macedo.
A deputada doutora Silvana, assim como o deputado apóstolo Luzi Henrique,
assumem discursos religiosos bastante similares e defendem pautas morais e
conservadoras que agradam ao público protestante, evangélico pentecostal e
neopentecostal. Entretanto, no debate do cotidiano do parlamento há divergências no
discurso, muitas vezes motivadas pelo embate eleitoral, tendo em vista que disputam o
mesmo eleitor evangélico.
No capítulo segundo abordarei a inserção dos neopentecostais na política
partidária, aprofundando com esse fenômeno foi possível, que fatores contribuíram para
a participação de evangélicos nas casas legislativas, com ênfase na participação desses
dois atores na política cearense.

20
DIÁRIO PENTECOSTAL. Conheça a história da Assembleia de Deus Templo Central em Fortaleza.
Disponível em: https://www.diariopentecostal.com/2019/07/conheca-historia-da-assembleia-de-deus.html
Acesso em: 13 de mar. 2023.
3. (CAPÍTULO 2) PONHA O TÍTULO QUE VOCÊ PLANEJA COLOCAR NO
CAPÍTULO

ESCREVA AQUI AS SUAS PRETENSÕES SOBRE O CAPÍTULO. QUAIS


QUESTÕES VOCÊ PRETENDE DESENVOLVER PARA DEMONSTRAR A SUA
ARGUMENTAÇÃO. QUAL A BASE DO SEU PLANO DE ANÁLISE? QUE
CATEGORIAS VOCÊ PRETENDE CONSIDERAR FUNDMENTAR A SUA
PROPOSTA DE ANÁLISE. O CONTEÚDO DESTE CAPÍTULO TERÁ COMO
FONTES ENTREVISTAS OU OUTRAS FONTES IMPORTANTES PARA
AFUNDAMENTAÇÃO? QUE AUTORES DARÃO SUPORTE AO SEU PLANO DE
ANÁLISE AQUI PROPOSTO?
ESTS ASPECTOS SÃO MUITO IMPORTANTES PARA QUE A BANCA DE QU
ALIFICAÇÃO ENTENDA COMO VOCÊ ESTÁ PENSANDO, DE AGORA EM
DIANTE, PESQUISAR E EXPOR OS SEUS RESULTADOS ESTRUTURADOS NOS
CAPÍTULOS PROPOSTOS.

4 (CAPITULO 3) PONHA O TÍTULO QUE VOCÊ PLANEJA COLOCAR NO


CAPÍTULO

REFERÊNCIAS

AS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SÃO OBRIGATÓRIAS EM


QUALQUER FASE DO SEU TEXTO.

Você pode considerar, para efeito explicativo, dois tipos de referências:


1) A BIVLIGRAAFIA REFERIDA NO TEXTO ATUAL
2) LISTAGEM DAS OBRS QUE ESTÃO PREVISTAS DE SEREM LIDAS
PARA FUNDAMENTAÇÃO DAS ANÁLISES PREVISTAS.

ANEXOS OU APÊNDICES
CASO VOCÊ TENHA UM OU OUTRO, É ACONSELHÁVEL QUE VOCÊ
ABRA UMA SESSÃO PARA ELES. ÀS VEZES ISTO AJUDA A BANCA A
PENSAR CONTIGO COMO MELHOR APAROVEITAR NA ANÁLISE E
ESCRITA DO TEXTO.

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