Você está na página 1de 13

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ-UECE

FACULDADE DE EDUCAÇÃO DE ITAPIPOCA-FACEDI


LICENCIATURA EM CIÊNCIAS SOCIAIS
LABORATÓRIO DE PESQUISA EM CIÊNCIA POLÍTICA
PROFESSOR: EMANUEL FREITAS

VANESA LIMA BRAGA

PROJETO DE PESQUISA

Itapipoca-CE
2022
PROJETO DE PESQUISA
INTRODUÇÃO
Este trabalho trata-se de uma proposta de pesquisa sobre o
Fenômeno das Candidaturas Evangélicas no Munícipio de Itapipoca na
Campanha Eleitoral de 2020. Meu objetivo com essa pesquisa é explicar como
e quais candidatos a vereador mobilizaram suas pertenças religiosas em
Itapipoca durante a campanha eleitoral de 2020. Minha pesquisa terá como
foco principal as candidaturas evangélicas, pois elas são mais expressivas do
que as candidaturas católicas, portanto acredito que elas podem fornecer mais
casos a serem analisados. Pretendo com minha pesquisa apresentar
elementos que possam contribuir para o entendimento de como se dá essa
relação entre religião e política nas campanhas eleitorais no Brasil. Ao analisar
como esses candidatos mobilizaram suas pertenças religiosas, poderemos
compreender as estratégias usadas por esses candidatos(as) para angariarem
votos, seja ele de grupos religiosos ou dos que não fazem parte desse meio.
Em tempos de pandemia no qual não puderam ocorrer os tradicionais comícios
nem as campanhas porta à porta, as mídias sociais digitais desempenharam
um importante papel na divulgação das candidaturas, dessa forma esse é um
elemento que não posso ignorar em minha pesquisa, ao contrário eles vão me
ajudar a compreender como esses candidatos evangélicos a vereador
mobilizaram suas pertenças religiosas durante a campanha eleitoral de 2020.
Pode-se dizer que cheguei a escolher a temática Religião e Política,
por ela ser bastante atual, ou seja, nos últimos anos vem despertando o
interesse das mídias sociais, dos cientistas sociais, etc. Isso se deveu em
grande parte a eleição de Jair Bolsonaro à presidência da república em 2018,
um candidato que se elegeu mobilizando suas pertenças religiosas,
principalmente através das mídias sociais digitais como o Facebook, Instagram
e WhatsApp. A partir desse momento começaram a aumentar o número de
pesquisas, palestras, cursos e minicursos que abordavam a relação entre
religião e política. Isso não foi diferente no curso de Licenciatura em Ciências
Sociais, da faculdade que frequento. Nele comecei a participar de disciplinas,
cursos, minicursos que de alguma forma traziam a temática Religião e Política
para o debate. Sendo assim, comecei a ter bastante interesse por leituras
dentro da área, passei então a fazer leituras frequentes e conhecer autores que
trabalham com pesquisas sobre religião e política. A partir desse momento
compreendi que seria interessante trabalhar com essa temática e desenvolver
pesquisas sobre fenômenos dentro da área. Minha pesquisa sobre
candidaturas evangélicas em Itapipoca é uma busca por contribuir com essa
discussão. Tendo em vista a ausência de pesquisas sobre a temática no
munícipio de Itapipoca, acredito que minha pesquisa será bastante inovadora.
Dessa forma, acredito que minha relação com o tema foi se
desenvolvendo ao longo do Curso de Licenciatura em Ciências Sociais.
Quando comecei a ter contato com o tema não tinha muito interesse por ele,
porém quando fui lendo artigos, livros de autores que falavam da temática
Religião e Política, passei a ter mais interesse por ele. A participação em
cursos de extensão e minicursos me ajudaram a compreender o quanto o tema
é interessante e atual, suscitando inúmeras pesquisas. Cabe ressaltar também
que em Itapipoca existem diversas igrejas e denominações evangélicas como a
Assembleia de Deus, Presbiteriana, Batista, Igreja Universal do Reino de Deus
(IURDI), etc. O que me despertou um certo interesse em compreender se
essas igrejas vieram a lançar candidaturas oficiais na campanha eleitoral de
2020, ou se não lançaram, apoiaram alguma candidatura. Sendo assim, ao
estudar o fenômenos das candidaturas evangélicas, procurando compreender
como e quais candidatos a vereador mobilizaram suas pertenças religiosas em
Itapipoca durante a campanha eleitoral de 2020, poderei compreender como se
deu a relação desses candidatos com essas igrejas e denominações
evangélicas aqui destacadas.
JUSTIFICATIVA
Pesquisar a temática Religião e Política e dentro dela o fenômeno
das candidaturas evangélicas não é algo tão novo como muitos pensam, porém
vem ganhando mais notoriedade nas mídias sociais, em pesquisas científicas,
seminários e cursos nos últimos anos. Pode-se dizer, portanto, que como
cientistas sociais ou futuro cientistas sociais, não podemos ficar a parte de um
debate tão rico, amplo e por isso mesmo complexo, que é a relação entre
religião e política e o fenômeno das candidaturas evangélicas. Dessa forma,
pretendo pesquisar as candidaturas evangélicas em Itapipoca no ano de 2020,
tendo como foco principal descobrir como, e quais candidatos a vereador
mobilizaram suas pertenças religiosas em Itapipoca durante a campanha
eleitoral de 2020. Este trabalho contribuirá para uma melhor compreensão de
como se dá essa relação entre religião e política em Itapipoca, um tema tão
pouco explorado nas pesquisas empreendidas no munícipio. Acredito pois, que
ela poderá trazer novos elementos, que possivelmente foram pouco explorados
em outras pesquisas. Minha pesquisa incentivará o empreendimento de outras
pesquisas no munícipio de Itapipoca tendo como foco as candidaturas que
mobilizam suas pertenças religiosas durante as campanhas eleitorais.
Cabe destacar que tive o primeiro contato com o fenômeno por mim
pesquisado, no Curso de Licenciatura em Ciências Sociais, no qual um dos
professores que lecionava no curso trabalhava com a temática religião e
política, foi portanto através da participação em suas aulas, cursos e
minicursos, que fui me interessando pelo assunto. A partir de diversas leituras,
o fenômeno das candidaturas evangélicas surgiu como uma questão bastante
atual, que apresenta muitas possibilidades para o desenvolvimento de uma boa
pesquisa, já que envolve diversos atores sociais, que podem ser abordados na
pesquisa, como as candidaturas religiosas a vereador(a); deputado(a);
senador(a), etc. Além daqueles que estão ao redor dessas candidaturas, que
de alguma forma interferem no fenômeno estudado, seja de forma direta ou
indireta. Assim como, a expansão cada vez maior de candidaturas que usam
as mídias sociais digitais para a veiculação de suas campanhas eleitorais. Ou
seja, esse é um espaço que pode fornecer inúmeros dados para minha
pesquisa. Acredito que fazer essa relação entre o fenômeno das candidaturas
evangélicas e as mídias sociais digitais vem se tornando indispensáveis para
uma compreensão mais profunda do tema. Muitas vezes é através dessas
mídias sociais digitais, que esses candidatos evangélicos mobilizam suas
pertenças religiosas em suas campanhas eleitorais.
É importante destacar alguns fatos que ocorreram e ainda vem
ocorrendo, que justificam o desenvolvimento da minha pesquisa sobre a
temática Religião e Política, tendo como fenômeno a ser abordado, as
candidaturas evangélicas. Um desses fatos foi a eleição à presidência da
república de um candidato que se apresentava como católico, mas se elegeu
com forte apoio de diversos grupos e denominações evangélicas nas eleições
de 2018. Já ocorreram candidaturas religiosas a diversos cargos políticos,
porém em nenhuma outra eleição observou-se tão claramente a influência do
uso de pertenças religiosas na eleição de um candidato. Durante a campanha
eleitoral de 2018, Jair Messias Bolsonaro mobilizou em seus discursos
inúmeros símbolos, valores e pautas religiosas, em destaque sua agenda
“conservadora”. Ele afirmou diversas vezes defender os “valores da família
tradicional”, se opondo ao que ele chama “ideologia de gênero”. Ao se dizer
católico, mas ao mesmo tempo ser batizado no Rio Jordão por um pastor,
Bolsonaro acena para católicos e evangélicos. Procurando se legitimar como o
verdadeiro candidato dos grupos cristãos.
Como podemos observar o fenômeno das candidaturas religiosas
merece atenção por parte dos cientistas sociais, já que tende a um constante
crescimento. É importante aqui falarmos que não foi somente Jair Bolsonaro
que se beneficiou do uso de suas pertenças religiosas em uma eleição, seu
partido o PSL (Partido Social Liberal), se tornou o segundo partido com maior
representação no congresso, ficando atrás apenas do PT (Partido dos
Trabalhadores). Sendo assim é importante que analisemos como esses
candidatos religiosos, sejam evangélicos e católicos mobilizaram suas
pertenças religiosas durante as campanhas eleitorais no Brasil. Pode-se dizer
portanto que o fenômeno não ocorre apenas em âmbito nacional, mas
municipal, estadual e federal. Cito o caso das eleições de 2020 em Fortaleza
onde diversos atores políticos procuraram se alinhar a pautas defendidas por
parte dos grupos evangélicos e católicos, com o intuito de angariar votos. Esse
foi o caso da vereadora Priscila Costa que mobilizou uma agenda moral
conservadora, no qual se colocava como defensora da “família tradicional”,
contra o aborto e ao que chamava de “ideologia de gênero”.
Esses casos aqui destacados, me levaram a um questionamento, se
nas eleições de 2020 em Itapipoca alguma candidatura mobilizou suas
pertenças religiosas em sua campanha, em destaque os evangélicos, e se
fizeram isso, como as mobilizaram, fizeram uso das mídias sociais digitais?
Quais estratégias desenvolveram em tempos de pandemia para que suas
propostas, pautas, agendas defendidas chegassem a seus possíveis eleitores?
Acredito que nenhuma pesquisa foi feita em Itapipoca, que trabalhasse com a
temática Religião e Política, menos ainda o fenômeno das candidaturas
evangélicas. Em âmbito nacional o arsenal teórico já existente é bastante rico e
ajudará no desenvolvimento de minha pesquisa. Analisar casos regionais,
poderá fazer emergir elementos novos sobre o fenômeno das candidaturas
evangélicas, que muitas vezes em âmbito estadual, só ganham destaque
quando se referem a capital. Porém não podemos esquecer que os outros
munícipios que por mais que não sejam tão conhecidos, também fazem parte
de toda essa dinâmica eleitoral, tendo também sua importância, não podendo
ser ignorados pela mídias sociais, e muito menos por nós cientistas sociais,
que procuramos explicar os fenômenos sociais.
PROBLEMA
A temática Religião e Política e dentro dela o fenômeno das
candidaturas evangélicas são bastante atuais na Ciência Política, suscitando
todos os anos diversas pesquisas dentro dessa área. Por mais que a temática
venha sendo alvo de interesse dos pesquisadores desde muitas décadas atrás,
o estudo do fenômeno das candidaturas evangélicas passou a ganhar grande
destaque com as últimas eleições, no qual vem aumentando o número de
candidaturas que se identificam como evangélicas. Cabe ressaltar também que
o número de evangélicos no Brasil está em constante crescimento, o que torna
as candidaturas evangélicas um fenômeno que só tende a crescer nas
próximas eleições. Dessa forma, minha pesquisa sobre essas candidaturas
evangélicas em Itapipoca na campanha eleitoral de 2020, faz parte desse
contexto e trará inúmeras contribuições para os estudos sobre religião e
política, em destaque as candidaturas evangélicas. Dessa forma, minha
pesquisa tem como principal objetivo responder a esta pergunta: Como, e quais
candidatos a vereador mobilizaram suas pertenças religiosas em Itapipoca
durante a campanha eleitoral de 2020?
Ao procurar compreender como, e quais candidatos a vereador
mobilizaram suas pertenças religiosas em Itapipoca durante a campanha
eleitoral de 2020, deverei levar em conta algumas variáveis como: sexo, faixa
etária, localidade onde mora o candidato. Porém quando for analisar como
esses candidatos a vereador mobilizaram suas pertenças religiosas, estarão
presentes outras variáveis, que vou destacar ao longo do texto. Como as
eleições de 2020 foram realizadas em plena pandemia de covid-19, acredito
que os candidatos fizeram de alguma forma o uso das mídias sociais digitais,
como o Facebook, o Instagram e o WhatsApp em suas campanhas. Minha
pesquisa será baseada nas publicações desses candidatos. Algumas variáveis
se apresentam importantes como: o formato de divulgação da campanha, ou
seja, esses candidatos utilizaram foto, vídeo? A denominação evangélica do
candidato(a). Será que o pertencimento a denominações evangélicas
diferentes interferiu na forma como esses candidatos mobilizaram suas
pertenças religiosas? Essas candidaturas receberam apoio de suas igrejas, de
seus líderes religiosos? O candidato mencionou em sua campanha a religião,
mobilizou símbolos religiosos? Deverei analisar também se as candidaturas
abordaram temas polêmicos como a legalização do aborto, das drogas, direitos
dos grupos LGBTQIA+, ou seja podem ser considerados defensores de uma
agenda moral conservadora ou não? Será que homens e mulheres mobilizaram
suas pertenças religiosas de forma semelhantes, ou enfocaram em aspectos
diferentes? Essas são apenas algumas das variáveis que serão trabalhadas
em minha pesquisa sobre as candidaturas evangélicas em Itapipoca na
campanha eleitoral de 2020.
LISTA DE AUTORES E CONCEITOS
EVANGÉLICOS
Pretendo usar o conceito de “Evangélicos” baseado na perspectiva
de Joanildo Burity, que compreende que esse termo é ambíguo:
Ao mesmo tempo designando o Luteranismo e uma identidade
particular, expressa no Pietismo alemão no Evangelicalismo
britânico, enfatizando piedade pessoal, biblicismo, fervor
evangelístico e relação atribulada com as estruturas
eclesiásticas e políticas estabelecidas (KYLE, 2009; COLLINS,
2012; NOLL, 2014 Apud BURITY, 2020, p. 197).

No Brasil passou a se chamar de “igreja evangélica” as primeiras


igrejas protestantes que surgiram no país. O autor ainda ressalta que a
generalização do uso do termo para o conjunto de protestantes brasileiros veio
cercado de polêmicas e disputas. Dessa forma, o autor busca demonstrar “a
não linearidade, contingência e pluralidade da forma assumida pela atual
presença política evangélica no Brasil” (BURITY, 2020, p. 197). O autor
ressalta que a participação de evangélicos na política muitas vezes se deu sem
o apoio das denominações religiosas dos quais esses atores políticos faziam
parte, e nem todos se ligavam ou se ligam a uma mesma corrente ideológica, o
que é correntemente pensado. É necessário compreender que o universo
“evangélico” é bastante diversificado, o que torna problemático tratar todos
como conservadores e pertencentes a corrente ideológica de direita. Cabe
destacar também que os:
[...] setores evangélicos com posições de poder em vários níveis
hoje e que se fazem ouvir como os ‘evangélicos’ no discurso de
pessoas e Frentes Parlamentares ou Bancadas Evangélicas
representam um construto heterogêneo e enquanto elite,
também minoritário (BURITY, 2017, p. 53).

Sendo assim, ao estudar candidaturas evangélicas deverei ter


bastante atenção para não tentar encaixá-los em um único modo de ser e de
pensar, pois como vimos o universo “evangélico” não é homogêneo, mas
heterogêneo. Por mais que o termo “evangélico” pareça homogeneizar esse
conjunto de grupos religiosos, eles não são unos, mas diversos. Portanto em
meu trabalho de pesquisa pretendo usar o termo “evangélico”, compreendendo
que ele comporta diversas denominações religiosas protestantes, como os
Históricos, Pentecostais e Neopentecostais. Ao estudar esses grupos tenho
que estar atenta as suas especificidades e não somente suas semelhanças.
Definir o que são os “evangélicos” é importante, pois são eles meu “objeto” de
pesquisa.
ONDA CONSERVADORA
Um outro conceito importante de ser usado em minha pesquisa é o
de “Onda Conservadora”, que o autor Ronaldo de Almeida tão bem explora em
seus textos. Para Almeida o conceito é muitas vezes definido de forma
imprecisa. Dessa forma, o autor se propõe a compreender:
A conjuntura política religiosa no Brasil como composta por
linhas de força que cooperam para a resultante que tem sido
considerada conservadora. Elas não se sobrepõem
completamente, podendo até serem contraditórias em pontos
específicos, mas articulam-se em torno de opositores comuns.
Quatro linhas de força parecem-me centrais para compreender a
conjuntura atual e a participação evangélica no que tem sido
nomeado como “onda conservadora”, a saber: econômica,
moral, securitária e interacional (ALMEIDA, 2017, p. 13).

O aspecto econômico diz respeito a uma ordem meritocrática e


empreendedora, no qual parte dos grupos evangélicos celebram a ideia de
“esforço” e mérito individual, sendo portanto contrários a políticas redistributivas
como o Bolsa Família, se pautando dessa forma em um discurso liberal de
menos interferência do estado na economia. O segundo aspecto elencado que
foi a moral, o autor procura mostrar que esses atores políticos religiosos se
pautam por ideias moralmente reguladoras, ou seja, há uma disputa pela
moralidade pública, no qual as religiões cristãs procuram a sacralização da
família e da reprodução da vida, um exemplo levantado pelo autor é o da
Assembleia de Deus que defende a bandeira de que os direitos do Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA) devem ser estendidos ao feto. Também
abordam o estatuto da família. Para eles a “verdadeira família” é composta por
um homem e uma mulher. O terceiro aspecto o securitário, diz respeito a
demandas para que o governo tenha uma postura mais punitiva e ao mesmo
tempo repressiva, como a redução da maioridade penal, as políticas de
encarceramento, etc, que aprofundam ainda mais a violência do estado para
com a população. O último aspecto elencado pelo autor a interacional, ele
compreende que há nos últimos anos uma maior intensidade nos
antagonismos políticos e morais, ou seja, parte da sociedade se apresenta
como socialmente intolerante. Pode-se perceber portanto o aumento da
intolerância religiosa e política. Para Almeida as religiões e os religiosos
constituem e são constituídos por esse movimento chamado “Onda
Conservadora”, porém os evangélicos não são causa nem resultante desse
processo, eles estão articulados a ele.
Acredito que esse conceito vai ser importante para a minha
pesquisa, pois ele ajudará a explicar em que contexto vem emergindo as
candidaturas evangélicas nas últimas eleições em nosso país. A eleição de Jair
Bolsonaro à presidência da república em 2018 é parte dessa conjuntura, mas
isso não quer dizer que não existissem em outras eleições candidatos
conservadores que defendiam uma agenda conservadora, porém isso ficou
mais explicito nas últimas eleições. Dessa forma, minha pesquisa sobre
candidaturas a vereador que mobilizaram suas pertenças religiosas em
Itapipoca na campanha eleitoral em 2020, procurará descobrir se esses
candidatos fazem parte dessa “Onda Conservadora”, que emergiu com mais
força nos últimos anos, ou não, que não apresentam características que os
colocam como parte desse contexto conservador. Além disso, nos ajuda a
compreender que ideias unem esses grupos evangélicos conservadores, e o
que os diferencia. Abordar o conceito de “Onda Conservadora” nos faz refletir
se o conservadorismo que ficou cada vez mais explícito nos últimos anos é
apenas uma onda ou é algo permanente, que veio para ficar, sendo
incorporado cada vez mais por políticos evangélicos.
VOTO DENOMINACIONAL
Pretendo trabalhar em minha pesquisa o conceito de “Voto
Denominacional” na perspectiva de José Luis Pérez Guadalupe, para o autor
um “Voto Denominacional”, é um voto que:
[...] não representa todos os evangélicos – nem pretendem fazê-
lo – mas apenas os membros de sua denominação ou megaigreja
específica, pois tem votos suficientes para colocar seus
“candidatos oficiais” nas câmaras legislativas (PÉREZ
GUADALUPE, 2020, p. 70).

Um “Voto Denominacional” é “um voto restrito à sua igreja ou


denominação” (PÉREZ GUADALUPE, 2020, p. 70). Essa questão do “Voto
Denominacional” devo abordar em meu trabalho tendo em vista que pretendo
pesquisar candidaturas evangélicas, e o voto baseado no pertencimento a
determinada igreja ou denominação religiosa é bastante recorrente no Brasil e
na América Latina. Muitos evangélicos votam em determinado candidato, pois
ele é o candidato oficial da igreja que frequentam, o que tem o apoio dos
líderes da igreja, e não somente por esses candidatos serem evangélicos. O
apoio da igreja é portanto um fator que pode favorecer em muitos casos a
eleição de um candidato. O quanto a igreja a que pertence o candidato tem
destaque e influencia na localidade em que ocorre a eleição é um ponto que
deve ser analisado. Sendo assim, devo analisar se os candidatos evangélicos
por mim estudados receberam algum apoio das lideranças de suas igrejas ou
não e se isso pode ter influenciado no resultado eleitoral. Para Pérez
Guadalupe não existe um “Voto Confessional” evangélico, ou seja, os
evangélicos não votam necessariamente em evangélicos. Existindo portanto
um “Voto Denominacional” no qual o eleitor evangélico pertencente a
determinada denominação, tende a votar nos candidatos oficiais apoiados por
suas igrejas.
IMAGINÁRIO SOCIODISCURSIVO
Um outro conceito que pretendo usar é o de “Imaginário
Sociodiscursivo”, com base em Patrick Charaudeau, que afirma que:
O Imaginário Sociodiscursivo é uma noção genérica que aponta
para um certo sistema de crenças, em cujo interior pode se
encontrar discursos ideológicos que se essencializam: os –
ismos (igualitarismos, racismos, antissemitismos) são, de algum
modo concretização de imagens que circulam em grupos sociais
a propósito de visões sociais, de imaginários, sobre a maneira
de conceber as relações entre os indivíduos enquanto cidadãos,
as distinções de classe, de raça, de religião (CHARAUDEAU,
2018, p. 50).

Pode-se dizer, portanto, que os indivíduos são ao mesmo tempo


produtores e prisioneiros desses “Imaginários Sociodiscursivos”. Sendo mais
ou menos conscientes para reivindicar ou rejeitar esses “Imaginários
Sociodiscursivos”, dependendo do que está em jogo nessa situação de
comunicação (CHARAUDEAU, 2018). Cabe ressaltar também que:
[...] os imaginários são engendrados pelos discursos que
circulam nos grupos sociais, se organizando em sistemas de
pensamento coerentes, criadores de valores, desempenhando o
papel de justificação da ação social e se depositando, na
memória coletiva (CHARAUDEAU, 2017, p. 579).

Como pretendo trabalhar com análise de discurso em minha


pesquisa, acredito que é importante trabalhar com esse conceito de “Imaginário
Sociodiscursivo” de Patrick Charaudeau, pois, ele está bastante presente nos
discursos de diversos políticos evangélicos, que os mobilizam com o intuito de
receberem o apoio de grupos evangélicos e católicos, mas não somente deles.
O uso de “Imaginários Sociodiscursivos” foi bem presente nas falas de Jair
Bolsonaro, nas eleições de 2018, por exemplo, quando afirmava existir
cidadãos de bem, que no caso eram seus apoiadores, aqueles que defendiam
uma agenda moral conservadora, de acordo com os valores cristãos e os que
eram do mal, que para ele eram seus opositores, ou seja, todos que se
contrapunham a suas ideias. Além disso, afirmava existir no Brasil uma
“ideologia de gênero” que ameaçava a “família tradicional”, assim como a
existência do “perigo” do comunismo que rondava o país. Criou-se portanto a
ideia, de que há um ou alguns inimigos a se combater. Bolsonaro se colocava
como a solução para esses “problemas”. Dessa forma, em minha pesquisa
analisarei se os candidatos a vereador utilizaram ou não “Imaginários
Sociodiscursivos” em suas campanhas. Pretendo compreender se ao
mobilizarem suas pertenças religiosas, essas candidaturas acionaram algum
“Imaginário Sociodiscursivo” para justificar o voto em um candidato evangélico.
Como por exemplo o de que os valores cristãos estão sendo ameaçados, daí a
importância do voto nesse determinado candidato. Acredito que a partir daí
poderei compreender as estratégias de mobilização de pertenças religiosas nas
campanhas por mim estudadas. Ou se não fizeram uso desses “Imaginários
Sociodiscursivos” que outras estratégias utilizaram na mobilização de suas
pertenças religiosas, durante a campanha eleitoral de 2020 em Itapipoca.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Ronaldo de. A Onda Quebrada – Evangélicos e Conservadorismo.
Cadernos Pagu, n. 50, p. 1-27, 2017. Disponível em:
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cadpagu/article/view/8650718.
Acesso em: 11 dez. 2021.

BURITY, Joanildo. Itinerário Histórico – Política dos Evangélicos no Brasil. In:


PÉREZ GUADALUPE; José Luis; CARRANZA, Brenda (orgs). Novo Ativismo
Político no Brasil: Os Evangélicos do Século XXI. Rio de Janeiro: Konrad
Adenauer Stiftung, 2020.

BURITY, Joanildo. Religião e Estado no Caminho da Confessionalização?


Reflexões Sobre as Eleições Municipais do Rio de Janeiro de 2016. Interesse
Nacional, São Paulo, n. 37, p. 48-58, abr./jun. 2017. Disponível em:
http://interessenacional.com.br/2017/09/18/caminho-da-confessionalizacao-
reflexoes-sobre-as-eleicoes-municipais/. Acesso em: 6 jan. 2022.

CHARAUDEAU, Patrick. Entrevista com Patrick Charaudeau. Traduzida por


Ângela Maria da Silva Corrêa. In: GOUVÊA, Helena Martins; PAULIUKONIS,
Maria Aparecida Lino (orgs). Estudos do Discurso: 25 Anos do CIAD-Rio. Rio
de Janeiro: UFRJ, 2018. Disponível em: https://ciadrj.letras.ufrj.br. Acesso em:
12 dez. 2021.

CHARAUDEAU, Patrick. Os Estereótipos, Muito Bem. Os Imaginários, Ainda


Melhor. Traduzido por André Luiz Silva e Rafael Magalhães Angrisano.
Entrepalavras, Fortaleza, v. 7, p. 571-591, jan./jun. 2017. Disponível em:
http://www.entrepalavras.ufc.br/revista/index.php/Revista/article/viewFile/
857/433. Acesso em: 12 dez. 2021.

PÉREZ GUADALUPE, José Luis. Brasil e os Novos Atores Religiosos da


Política Latino-Americana. In: PÉREZ GUADALUPE, José Luis; CARRANZA,
Brenda (orgs). Novo Ativismo Político no Brasil: Os Evangélicos do Século
XXI. Rio de Janeiro: Konrad Adenauer Stiftung, 2020.

Você também pode gostar