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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UECE

FACULDADE DE EDUCAÇÃO DE ITAPIPOCA – FACEDI


CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
LABORATÓRIO DE PESQUISA EM CIÊNCIA POLÍTICA

MIKAELE PEREIRA DE SOUSA

RESENHA DOS TEXTOS

ITAPIPOCA – CE
2021
RESENHA 1:

KAMRADT, João Francisco Hack. CELEBRIDADES E POLÍTICA: redução da


democracia representativa ou novas formas de engajamento. Compolítica7: Porto Alegre,
2017.

O artigo, Celebridades e Política: redução da democracia representativa ou novas


formas de engajamento, é de autoria de João Francisco Hack Kamradt, e o texto faz parte da
Revista Compolítica e foi publicada em maio de 2017. João é Doutor em Sociologia e Ciência
Política pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestre em Sociologia Política
pela UFSC. Graduado em Comunicação Social com ênfase em Jornalismo pela Faculdade
Ielusc. É docente nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Cinema e Design
Gráfico da UniSociesc e dos cursos de Jornalismo, Administração e Nutrição da Faculdade
Ielusc, ambos em Joinville (SC). Tem se dedicado, na área de teoria política contemporânea,
ao estudo da relação existente entre as celebridades políticas, os políticos celebrizados e a
representação política no contexto brasileiro.
Kamradt, com uma escrita muito fluida e com um texto muito bem articulado, traz
discussões relevantes que são frutos de uma percepção da realidade política do século XXI,
que foi se construindo aos poucos, e discutido há pouco tempo. Tal debate é sobre
celebridades e política ou celebridades na política, ou como ele chama: A política de
celebridades. No seu artigo, João Hack Kamradt traz a seguinte interrogação: “A política de
celebridades é responsável por diminuir os avanços da democracia representativa? Ou o
contrário, ela representa novas formas de engajamento político?
Dentro dessa perspectiva, o autor utiliza-se do pensamento de Neil Postman, autor,
educador e teórico da mídia, o qual é conhecido por seus livros sobre tecnologia e educação,
incluindo o seu mais conhecido, o qual é mencionado, “Amusing Ourselves to Death (1985).
Robert Putman, cientista político também norte-americano, autor do livro: “Bowling Alone
(1995) é outro teórico citado. Ambos os autores são utilizados como âncoras para explicar o
delinear histórico da discussão presente. Pois, para elucidar a dimensão do que são hoje as
celebridades na política e a posição destas em relação ao assunto e como isso tem afetado a
democracia representativa, é preciso explanar tudo o que está envolvido em torno do termo
“Celebridades”. Nesse sentido, os dois autores são usados para esclarecer que o
entretenimento serve para desviar a atenção dos cidadãos, do que era importante e a cobertura
feita eram prejudiciais a representação política.
No entanto, é John Street é que vai fundamentar a ideia proposta no trabalho, o que
foi uma ótima escolha, uma vez que suas principais pesquisas foram sobre política e mídia
política/cultura popular, portanto um conhecedor da área. Assim sendo, posicionando a
celebridade como algo já estabelecido na sociedade como uma atividade, Kamradt, sem fazer
juízo de valor, faz uma reflexão pertinente sobre a importância dos políticos celebridades e do
impacto que eles geram em campanhas, mandatos etc. E ele faz isso ao longo do texto que
conta com três pontos e as considerações finais.
O autor na introdução, situa o leitor em que pé está toda a atmosfera em volta do que
é a relação entre celebridades e política. Ele cita casos conhecidos e de outro campo, que é o
esporte, como quando em um jogo do Brasil de classificação para a copa do mundo, em que
pediram para Tite, técnico da seleção, que concorresse para presidente do País nas eleições de
2018. Olhando desse ponto de vista, parece claro o desejo do povo de eleger alguém que eles
já conhecem bem e simpatizam por ele. Semelhantemente, em outro exemplo, um ator
mundialmente conhecido, Wagner Moura, fez duras críticas a reforma da providência e ao
governo do Michel Temer. O vídeo viralizou e tomou grandes proporções.
NEsses, dentre outros exemplos, pode-se ver que as “celebridades” estão
constantemente adentrando ao campo político, mesmo que às vezes seja brincadeira, ou de
forma ativista, mas fica claro que com o tempo, e obviamente devido as ferramentas digitais e
com isso digo, as redes sociais, estão possibilitando um caminho que leve os “famosos” a
serem reconhecidos não somente por seus trabalhos, porém, agora também, por seus
posicionamentos políticos.
É válido ressaltar que o texto deixa claro que as celebridades não querem apenas
buscar a vida política ser políticos, eles elas também desejam fazer isso de verdade. João
Dória foi o exemplo citado, dado que antes de entrar para a política, ele era empresário e ex-
apresentador, e que aderiu as redes sociais para se beneficiar e propagar sua imagem política.
Ele enfatiza que questões como essas, a qual foi trazida à tona pelo entretenimento e pelas
revoluções culturais, como a disseminação da indústria cultural e da “cultura de massas”,
proporcionou um aumento significativo da dimensão de “celebridade”. Ele já então utiliza o
Postman e o Putman, na qual os dois argumentam que a presença cotidiana da mídia e o fato
de que não há como separá-loa do processo político. Um acredita que o entretenimento seria
responsável por desviar a atenção das coisas que realmente importam na sociedade, enquanto
Putman acredita que o entretenimento seria responsável por causar o desmantelamento do
engajamento cívico, o que acabaria criando dificuldades para a democracia.
Por conseguinte, um ponto claro que se destaca e é bastante conclusivo para o autor é
que a relação entre política e celebridade só pode ser compreendida como uma forma de
degradar o sistema de participação democrática que é influente até hoje. Entretanto, como
analisa Street, a celebridade possui um influente papel na cultura política, uma vez que como
se pode ver artistas, músicos e celebridades em geral participam ativamente do debate político
brasileiro.
Para entender a relação entre celebridades e políticas se faz necessário a
compreensão do que são “celebridades”, o que pode parecer óbvio, mas para o entendimento
do texto é importante que o autor defina. E é o que ele faz. O que são celebridades? o que
representam? Como os teóricos os definem? Ademais, sua explanação sobre celebridades, ele
a define utilizando o conceito de Rojek, o qual segundo ele são um fenômeno moderno e está
associado a fama. É frisado que tal fenômeno é fruto da democratização, da industrialização e
o processo de secularização, como o é definido por Braudy (1997), Gabler (2000) e Rojek
(2008). Em vista disso, Weber é citado de forma bem particular, visto que falar de
secularização sem falar dele, pode ser considerado um pouco ousado.
O texto continua argumentando de forma eficaz, agora usando nomes como Turner,
John Thompson, West e Orman e outros; esse últimos, aliás, foram essenciais para identificar
e categorizar as celebridades políticas. David Marsh é um teórico citado que ajuda a
compreender a ideia central do artigo. Segundo ele, o uso político de elementos da cultura
popular e das celebridades é uma expressão cínica do populismo, em que a aparência e o
modo de se apresentar substituem os princípios políticos.
O autor continua e destaca que as celebridades estão crescendo na política e é
puramente pela exposição midiática, na qual estão envolvidosas. O sociólogo norte-
americano, Richard Sennet, disse: “A internet é usada como vitrine, em vez de uma
ferramenta de comunicação”. No caso das celebridades, utilizam esse recurso tanto para a
interlocução, como também é utilizada como uma forma de exposição, o que por ora os
aproxima do seu público. Isso é reafirmado pelo autor quando ele diz que o foco da mídia
jornalística em personalidades políticas criou uma “tabloidização” da política, resultando na
reorientação da política para que esta passe a servir aos interesses da publicidade ao invés dos
interesses do público em geral.
Em um dado momento ele chega a “culpar” a modernidade por todas as
transformações em volta da política e as celebridades, que logo mais é evidenciado por ele
como algo útil para o desenvolvimento de novas formas de engajamento político, mas que ao
mesmo tempo pode prejudicar a democracia. Destarte, concluindo, Kamradt reafirma ao dizer
que há uma grande relevância desse assunto para a compreensão do ambiente político e da
sociedade moderna. Não obstante, citando os autores mencionados ao longo do texto, ele
responde a pergunta que foi feita no começo do artigo, o que pode perceber que é uma opinião
dele, com a qual ele finaliza com a discussão: “A política de celebridades não oferece
qualquer tipo de renovação democrática. A posição tradicional era aquela que sugere que a
política de celebridades é responsável por diminuir os avanços da democracia representativa.”
RESENHA 2

KAMRADT, João Francisco Hack. O capital celebridade e suas articulações em outros


campos: a teoria de Bourdieu estendida e o caso de Felipe Neto. SciElo Brasil, 2021.

O artigo, O capital celebridade e suas articulações em outros campos: a teoria de


Bourdieu estendida e o caso de Felipe Neto, é de autoria de João Francisco Hack Kamradt e
foi publicado na Revista Brasileira de Ciência Política. O autor do texto é Doutor em
Sociologia e Ciência Política pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Programa
de Pós-graduação em Sociologia e Ciência Política, Florianópolis, SC, Brasil. Professor da
Faculdade IELUSC, Curso de Comunicação, Joinville, SC, Brasil.
Kamradt, no presente artigo traz uma pesquisa análise sobre as celebridades, e de
acordo com ele, elas possuem um papel fundamental em uma sociedade em que hoje as
pessoas vivem por e através de representações. Pierre Bourdieu, sociólogo francês, é a base
teórica fundamental para o texto, uma vez que ele utiliza seus conceitos, como capital e
campo. Tendo em vista isso, ele aponta no texto que a celebrização é um capital. É claro que
Hack não poderia apenas falar da teoria de Bourdieu sem fazer referências ou estender a teoria
aos tempos de hoje. O digital influencer e Youtuber, Felipe Neto foi a persona famosa
escolhida para servir de exemplo.
Ao longo do texto não é especificado porque ele, embora os argumentos mostrados
possam explicar isso. Mas o autor revela como esse capital, que o Youtuber tem, vem sendo
utilizado. Como é exposto, mais do que atuarem no campo midiático ou do entretenimento, os
famosos influenciam e participam ativamente do processo político. Nesse sentido, João
mostra uma nova definição do papel do indivíduo que acumula “capital” de celebridade e usa
esse recurso como influência em outros campos, tal como o político e econômico.
O autor enfatiza logo na introdução, citando Nick Couldry, que é professor de Mídia,
London School of Economics and Political Science, dizendo que os meios de comunicação
são tudo e um pouco mais para quem quer ascender socialmente, visto que o indivíduo
midiático em destaque ganha uma importância que é notado por todos. Essa notoriedade
chamou a atenção de estudiosos do campo como Wright Mills (1982), Boorstin (1971) e, mais
recentemente, Marshall (1997), Rojek (2008), Turner (2004), Dahlgren (1995), Street (2004,
2012), Wheeler (2012), entre outros. Os políticos perceberam a grandiosidade de ficar
conhecidos; viram as estratégias tradicionais não mais funcionando, bem como os
profissionais políticos perdendo espaço e popularidade, então a solução foi mudar as táticas,
sejam elas ações populistas ou campanhas personalizadas. A título de exemplo tem o Barack
Obama em 2008, que usou a cultura popular e o entretenimento a seu favor.
O questionamento que fica e é ressaltado por Kamradt é: A celebridade seria apenas
uma faceta do capital simbólico? Ou outra face do capital político? E a celebrização configura
um capital próprio? Então, que capital seria? Por isso, partindo dos conceitos de Bourdieu, o
autor vai argumentar ao longo do artigo que as celebridades se tornarem um capital específico
e desempenham um papel na transformação do campo político e do campo simbólico, e para
isso, há uma análise de como o digital influencer, Felipe neto vem articulando o seu capital de
celebridades para falar sobre política para milhões de pessoas.
É salientado, de forma enfática, sobre o papel do entretenimento na mídia, o qual tem
um papel expressivo na sociedade, e está presente na vida dos indivíduos, que por sinal
consomem e assimilam conteúdos com “n” conotações. Nessa perspectiva, Street, autor muito
usado no texto, afirma que vemos agora nossos políticos da mesma forma que vemos nossos
artistas. Os teóricos citados pelo autor, como Thompson e Cardo, evidenciam que de certa
forma para o processo político, a visibilidade impede que o distanciamento atrapalhe uma
relação particular com o eleitorado. Ademais, o autor foi feliz ao introduzir ao leitor no
contexto político e social da cultura pop, o que deixou o texto rico em informações.
Semelhantemente, de uma forma rápida e sintética, Kamradt explana sobre o
conceito de celebridade, usando as exemplificações de Chris Rojek, o qual segundo ele são
um fenômeno moderno e está associado a fama. É frisado que tal fenômeno é fruto da
democratização, da industrialização e o processo de secularização, como o é definido por
Braudy (1997), Gabler (2000) e Rojek (2008). Em vista disso, Weber é citado de forma bem
particular, visto que falar de secularização sem falar dele, pode ser considerado um pouco
ousado. Para mais, segundo os seus argumentos, as celebridades dão voz a política aos que os
seguem, não porque tem muitos admiradores, mas sobretudo porque eles têm capacidade
social para isso. E aos acontecer isso, os deveres cívicos tradicionais estão sendo substituídos
por formas alternativas de participação, o que leva ou “eleva” o engajamento político.
Na metade do texto ele vai responder à pergunta da proposta inicial do artigo. O
processo de celebrização se constitui como um novo tipo de capital ou é uma ampliação do
capital simbólico? Para isso, ele retorna brevemente aos conceitos de campo, capital e habitus
de Bourdieu, o qual um complementa o outro, por isso para entender um tem que explicar
todos. Isso foi pertinente, visto que situar o leitor nas teorias que embasam o texto o deixa
melhor mais esclarecedor.
Nesse sentido, é ressaltado no texto, e é uma parte de grande compreensão para a sua
interpretação, que é a popularidade e a notoriedade são dois elementos que podem ser
alcançados em outras áreas de serem convertidas em capital político, como é o caso das
celebridades e artistas em geral, quando entram na vida política, ou participam de forma
ativista ou apenas se posicionam politicamente, ela tem a capacidade de converter seu capital
específico, quer ele seja social ou simbólico, em capital político. Essa, na verdade, é a
realidade da narrativa política hoje. A mídia se tornou o caminho para mais visibilidade
político. Como é demonstrado por Dahlgren, a política já não existe mais fora da mídia. Pelo
contrário, a política está a cada vez mais organizada como um fenômeno da mídia.
Kamradt, salienta ainda que a mídia e a política passaram a disputar o mesmo
espaço: O do entretenimento. De acordo com Meyer, além de caminharem juntos, eles são
indissociáveis. As opiniões, quanto ao entretenimento varia de autor para autor, segundo suas
visões. Tais informações nos dão um parâmetro maior para basearmos nossas próprias
posições. Nesse cenário, políticos precisam alternar constantemente entre as demandas da
política e do entretenimento para manter sua posição e status no campo político, bem como
sua presença na cultura cotidiana de seus eleitores.
O que eles estão querendo dizer de várias formas é que, vivemos em uma Sociedade
do Espetáculo como definiu Guy Debord, o criador do conceito. Segundo ele, é o conjunto de
relações sociais mediadas pelas imagens. Tudo é representado por imagens. Os meios de
comunicação são apenas um instrumento, uma manifestação superficial, mais fortemente
esmagadora. É nessa perspectiva que na carga crescente de textos e imagens do
entretenimento, a performance individual dos políticos é um caminho mais curto para oferecer
aos cidadãos a informação necessária para fazer seus julgamentos políticos. Desse modo, o
autor diz que a celebridade pode ser considerada um campo e um capital simbólico, a qual é a
encarnação mais abstrata de atenção do capital, em que pode habitar e operar com sucesso
como uma mercadoria cultural no campo do entretenimento.
Destarte, o autor encerra o artigo discorrendo sobre a trajetória de “celebridade” do
personagem que incorpora a ideia de capital de celebridade, que é Felipe Neto. Ele faz uma
pequena introdução, situando quem ele é, o que faz, porque ele é conhecido, e, portanto, uma
“celebridade”. E entra na discussão do fato dele ter tanto holofote, principalmente, por causa
de ser público e da dimensão do seu conteúdo, afirmando que Felipe Neto é bem ativo ao que
diz respeito a comentários sobre a política e sobretudo, aos políticos no poder. Assim sendo,
seus posicionamentos são sempre considerados por muitas pessoas, dado que sua persona tem
muito influência. Posto isso, o autor encerra dando suas pontuações finais, ao concluir
dizendo que o capital de celebridade é composto pela capacidade de gerar e de reter atenção.
Se bem mobilizado, quanto mais gera atenção, mais a celebridade consegue aumentar o poder
de atrair os olhares dos mais diversos setores da sociedade.
O autor consegue provar sua teoria e mostra que o capital de celebridade é algo que
vem alterando o jogo político, utilizando como exemplo, o digital influencer Felipe Neto,
figura outrora praticamente desconhecida há dez anos e que hoje é um dos indivíduos mais
assistidos do mundo. Atualmente, as suas posições políticas são utilizadas para criar
articulações em outros campos, como o político. Assim, podemos perceber como ele consegue
gerar e reter atenção do público e direcioná-la para pautas e políticas do seu interesse, seja
criticando ou endossando um candidato, ou mesmo propondo um debate sobre determinada
política pública.

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