Você está na página 1de 3

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA –PROPGPQ


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA – PPGS/UECE

Silvio Rodrigo Alves Ferreira


Com o intuito de dialogar com a obra “A representação do eu na vida
cotidiana”, especificamente o tópico “O tato com Relação ao tato”, inicialmente
faz-se necessário contextualizar que nossa sociedade é construída por nós
indivíduos e que ao nos relacionarmos com o outro, nos tornamos atores
protagonistas que articula, agencia e vivência relações sociais.

Viver em sociedade nos desafia a buscar reconhecimento e autorização


para a efetivação de práticas que desejamos fomentar, seja na vida social,
econômica e política. Dito isso, o foco principal desta nota fundamentada pelos
escritos do autor Erving Goffman nos possibilita pensar em alguns trânsitos
estratégicos de fazer e tornar representações na vida cotidiana que se
debruçam nas relações cotidianas.

Pensando o processo político brasileiro no mundo hoje, podemos notar e


tomar como base para esse diálogo, o cenário político que se desenha no
Brasil, pela presença da figura/imagem do Presidente da República, conhecido
como Jair Messias Bolsonaro — “O capitão” — que revela em seus discursos
um modelo de espetáculo baseado em um discurso político de legitimação da
corrupção, articulando ações inversas, utilizando o modelo de família com forte
influência patriarcal, movimento esse que se apresenta no desenho mundial,
que hoje nos proporciona uma nova roupagem da “velha política”, baseada na
troca de favores, interesses individuais, venda da fé, desmonte de políticas
públicas e contra à luta dos trabalhadores.

Nesse sentido, Goffman assume que para esse processo acontecer é


preciso que haja uma manutenção desse espetáculo e que é possível que
exista uma possibilidade de manejo para o que se pretende alcançar. Segundo
o autor, existem duas estratégias gerais sobre o tato com relação ao tato, que
na primeira observação diz que o ator deve ser “sensível às insinuações e estar
disposto a aceitá-las, pois é mediante as indicações que a plateia pode avisá-lo
que seu espetáculo é inaceitável e que faria melhor em modificá-lo
rapidamente se quiser salvar a situação”.

Com a nova gerência do país, Bolsonaro se envolve entre polêmica e


recuos em que se gerou grandes embaraços em relação à administração
pública, visto que tais ações desagradaram a uma grande parcela da
população. Em nome da fé, da religião e do conservadorismo, podemos
denotar que o presidente firma a marca do seu governo no desmonte das
discussões de diversidade sexual e pelas tentativas de desqualificar a ciência,
interessado em fortalecer alianças religiosas, que nos últimos anos conseguiu
concentrar uma grande participação nos acentos importantes de decisões da
vida pública.

Tendo como exemplo, o Jornal Estadão pontua uma situação em que se


percebe relações de manejo na política, na qual diz que “sem citar nomes, o
presidente Jair Bolsonaro afirmou que alguns ministros não têm o devido tato
político, o que gera “alguns imprevistos” para o governo. Em tom mais
conciliador, o presidente falou aos integrantes da bancada do Nordeste no
Congresso, pela manhã, que espera ter “harmonia” para mudar a situação do
Brasil”.

Em um segundo momento, Goffman apresenta como uma segunda


estratégia o fato de que se o ator tiver de não representar devidamente os
fatos, deve fazer isso de acordo com a etiqueta adequada às falsas
representações. Ao dizer uma inverdade, por exemplo, o ator deve guardar
uma sobra de troça na voz, para caso seja apanhado possa negar qualquer
pretensão de seriedade e dizer que estava apenas gracejando. Tal afirmação,
corrobora com a nova onda de fake News que por vez acaba propagando
mentiras, falsas notícias, com objetivo de fomentar e garantir ações baseadas
no senso comum e bases ideológicas, desmobilizando o que já foi construído e
conquistado.

Tendo como outro exemplo, Souza (Colunista da UOL), no que se refere


a crise pandêmica diz que “em visita a Goiás, a pretexto de elogiar o brasileiro
que leva comida às mesas do país, Bolsonaro chamou de "frouxos" os patrícios
que conseguem tomar precauções contra o vírus. "Graças a vocês que não
pararam, nós da cidade continuamos sobrevivendo", disse Bolsonaro. "Se o
'fique em casa, a economia a gente vê depois', fosse aplicado no campo,
teríamos desabastecimento, fome, miséria e problemas sociais. Parabéns a
vocês que não se mostraram frouxos na hora da angústia", ele acrescentou,
citando a Bíblia”.

Diante desse contexto, podemos perceber nas ações do presente


governo, informações que o autor nos apresenta como elementos
dramatúrgicos da situação humana, como a preocupação pela maneira como
as coisas são vistas e a ambivalência com relação a si mesmo e ao seu
público.

Você também pode gostar