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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO CEARÁ


Mestrado Profissional em Planejamento de Políticas Públicas – MPPPP
(Turma 21. Amapá)
Disciplina – Teoria Política II
II Atividade (12.02.2021)

Nelceia Margareth da Silva Figueiredo Chermont


Prof. Dr. Emanuel Freitas

1-Como, e em que medida, é possível pensar o Brasil a partir da ideia de “poliarquia”?


Responda a partir dos elementos pontuados por Robert Dahl.
Para responder à pergunta acima, faz-se necessário dilui-la em três pontos básicos
para, verdadeiramente, se fazer compreender. Primeiro, é imprescindível expressar o que se
entendeu do texto de Robert Dahl – Democratização e oposição pública (2015) sobre as
possibilidades da Poliarquia, para então se pensar na probabilidade de um sistema de
poliarquia no Brasil. O que se exigiria explicar o segundo ponto da pergunta, o como pensar
esse sistema em um país que tem em sua história, outras formas e regimes de governos.
Assim, se chegaria ao terceiro e último ponto. Dialogar em que medidas, essas formas de
governos, que sedimentaram pelas sedes de poder. Governos estes, que mantêm incubados
ressentimentos classistas, permissivos a uma aristocracia e uma elite vergonhosa que têm se
alojando no poder, algumas vezes por golpes, configurados nas representações de 33 de seus
38 presidentes em 130 anos de república. Ressaltando que, desses 33 notáveis, 15 são
militares, ainda que o último deles, tenha sido expulso do exército. A partir deste
entendimento, intenciona-se, chegar a alguns argumentos que justifiquem a possibilidade ou
não de uma forma plena e inclusiva de democracia – a poliarquia.
Em seus pressupostos, Dahl (2015) trata da “[...], característica-chave da democracia,
que é a contínua responsividade do governo às preferências de seus cidadãos, considerados
como politicamente iguais.” Para ele, o termo "democracia" deveria ser reservado, para “um
sistema político que tivesse, como uma de suas características, a qualidade de ser
inteiramente, ou quase inteiramente, responsivo1 a todos os seus cidadãos” (p.1). Para tanto,
ele trata de três condições que são necessárias, mas não suficientes, à democracia. Essas
condições dizem respeito às preferências dos cidadãos, considerados politicamente iguais, já
que, todos os cidadãos plenos deveriam ter oportunidades plenas. Esses cidadãos deveriam
formular suas preferências; deveriam ter o direito de expressar suas preferências a seus
concidadãos e ao governo através de ações individuais e/ou coletivas. Cientes de que, essa
liberdade de expressão, teria que ter o compromisso com a verdade e com a responsabilidade
1
Significa ser ajustável, ser àquele que responde as expectativas, aquele que dá retorno, que é receptivo, volúvel
2

sobre a informação. E, por último, serem, “igualmente, consideradas na conduta do governo,


ou seja, consideradas sem discriminação decorrente do conteúdo ou da fonte da preferência.”
(p. 1)
Dahl, supõe que, para que essas condições se tornem possibilidades, elas têm que
alcançar o maior número de pessoas de um país, o que ele chama de Estados-nações, isto é, se
apenas um lugarejo for alcançado, não fará efeito no restante dos lugares. É preciso envolver a
multidão ou pelo menos, a maior parte dela. É preciso ultrapassar as fronteiras dos Estados. É
imprescindível envolver as instituições da sociedade para que estas possam aprovar, pelo
menos, oito garantias institucionais, das quais, cinco se repetem igualmente, nas três
oportunidades, colocadas por ele: são elas: 1. Liberdade de formar e aderir a organizações, 2.
Liberdade de expressão, 3. Direito de voto, 4. Direito de líderes políticos disputarem apoio e
voto e 5. Fontes alternativas de informação.
Na segunda oportunidade (Exprimir preferências), duas garantias se ampliam a
primeira oportunidade (6. Elegibilidade para cargos políticos e 7. Eleições livres e idôneas).
Na terceira oportunidade (Ter preferências igualmente consideradas na conduta do governo)
acrescenta-se a garantia para que as instituições possam fazer com que as políticas
governamentais dependam de eleições e de outras manifestações de preferência.
A partir da análise do autor sobre essas oito garantias institucionais devidas aos
cidadãos, ele pontua vários elementos que permitiriam a existência de diferentes regimes
políticos, como: amplitude da oposição, da contestação pública ou da competição política
permissíveis; direito de participação na contestação pública que permitiria comparar
diferentes regimes segundo sua inclusividade. E, controle da contestação pela conduta do
governo.
Segundo Dahl, “quanto maior a proporção de cidadãos que desfrutam do direito, mais
inclusivo é o regime” (p.3). Porém, nem sempre a contestação pública é plenamente inclusiva,
afirma este autor ao exemplificar os regimes da Grã-Betânia, Suíça e União Soviética. Para
ele, “nenhum grande sistema no mundo real é plenamente democratizado” (p.5). após essa
constatação, ele afirma que,

As poliarquias podem ser pensadas então como regimes relativamente (mas


incompletamente) democratizados, ou, em outros termos, as poliarquias são
regimes que foram substancialmente popularizados e liberalizados, isto é,
fortemente inclusivos e amplamente abertos à contestação pública. (p.5)
3

A partir desses fundamentos, já se tem algum subsídio para se responder ao segundo e


ao terceiro ponto da pergunta: Como, e em que medida, é possível pensar o Brasil a partir
da ideia de “poliarquia”?
Partindo-se das compreensões de Robert Dahl (2015), de que existem diferentes graus
e diferentes níveis de democratização. E de que, a poliarquia não é o grau de perfeição da
democracia, mas sim, uma forma de governo, onde há uma extensa participação
popular/social, tanto quanto, ampla participação e envolvimento político de cidadãos,
representantes de grupos e classes sociais na política. E ainda, que nenhum país já chegou a
atingir a plena democracia formal na história da humanidade, pois que sempre houve e sempre
haverá problemas de inclusão política de cidadãos nos processos democráticos, chegar-se-á à
conclusão de que o Brasil, que já passou por várias formas de governos 2 no decorrer de sua
história, tem em seu período republicano, a partir de 1891, o encaixe, quase que perfeito, nos
quatro níveis de democratizações de ordem crescente tratados e definido por Robert Dahl.
Nas “hegemonias fechadas que se caracterizam pela baixa participação social nas
eleições e poucos candidatos em disputa política”, visualiza-se os contextos vivenciados na
república velha, oligárquica, dos coronéis ou do café com leite, onde a indicação política era
totalmente voltada para os homens da classe alta formada pela elite, pela oligarquia que
dominou por tanto tempo os meios políticos. Nestas hegemonias fechadas, acredita-se que
possa se encaixar, também os períodos militares, tanto a disfarçada ditadura civil de Vargas,
quanto o Período Militar de 1964 a 1985.
Já nas hegemonias inclusivas, também se pode mencionar a controversa gestão de
Getúlio Vargas, enquanto populista, que ora era o pai dos pobres, aprovava políticas públicas
clientelistas, ora, puxava a corda e era a mãe dos ricos.
Destaca-se neste período o fato de que as mulheres lutaram e conseguiram o direito ao
voto, ao sufrágio universal (1932), ainda que suas participações políticas ainda sejam mínimas
até hoje, tanto que, elas são “reclutadas” por cotas partidárias.
As hegemonias inclusivas envolvem também a democracia de 1945 e o
parlamentarismo de 1961 até 1964, período em que houve grande participação social,
movimentos sociais, grande envolvimento social nas direções do país e nas eleições,

2
PERÍODO COLONIAL (1500-1822). MONARQUIA (1822-1889) Primeiro Reinado (1822-1831) Período
Regencial (1831-1840) Segundo Reinado (1840-1889). REPÚBLICA: de 1889 aos nossos dias. Mas a
República se divide em vários períodos: República Velha (1889 a 1930). República Nova (a partir de 1930).
Ditadura Civil, sob o governo de Getúlio Vargas (de 1937 a 1945). Volta da Democracia (a partir de 1945).
Parlamentarismo (de 1961 a 1964), sob o governo de João Goulart. Ditadura Militar (de 1964 a 1984). Volta
da Democracia, mais uma vez (de 1985 aos nossos dias). Disponível em https://brainly.com.br/tarefa/7146155.
Acesso em 01.02.2021, às 17h22
4

entretanto poucos candidatos em disputas políticas. Os “caciques” dos partidos políticos


sempre foram ligados às oligarquias.
O Brasil da atualidade, pelo que se observa, está vivenciando, desde 2014, inúmeras
ações, comandadas por partidários de direita pela tomada do poder. Entrou em curso uma
série de atos envolvendo grande parte do Congresso Nacional como pautas bombas, coros de
ofensas públicas e de “fora Dilma”, usos indevidos da imagem e das falas da Presidente, nas
quais se distorciam as verdades. Houve conluios envolvendo o judiciário. Houve conspirações
de juízes, procuradores, delegados e investigadores da Operação Lava Jatos, tudo foi feito e
resultou no impeachment da, então, Presidente do Brasil. Este fato é conhecido como o Golpe
de 2016. Mas a tomada do poder não terminaria aí. Era preciso isolar “os comunistas” o que
se deu, consequentemente, com a prisão do maior representante da esquerda do país (Luiz
Inácio Lula da Silva) e a destituição de seus direitos políticos.
Em tudo isso, como ficou a participação popular? Bom, grande parte da sociedade
defendeu o impeachment, ficou de acordo com as atitudes do Congresso Nacional, foram para
as ruas defender suas opiniões ou simplesmente embarcaram nas opiniões dos outros e, ainda
defendem essas atitudes como corretas. Hoje, essa população, em sua grande maioria, prática
a política do consentimento e não luta contra o escarnio dos elevados índices de inflação que
provocam os exagerados aumentos de preços. Não se importaram com as aprovações das
reformas (CLT e Previdência). Não estão se importando com as mortes em massa,
consequência de uma pandemia mundial, por falta de gestão nacional. Não se importam com
o aumento do gás de cozinha, da carne, do feijão, do arroz, da gasolina, etc., acatam como
sendo culpas de governos passados, não enxergam as mazelas que ocorrem na atualidade.
Um expressivo número de brasileiros, ainda veneram a um mito3 com um histórico
nada convencional e politicamente incorreto. Não se importam com quem vai ser eleito,
diminuíram as participações democráticas. E, vivem sob as tutelas de mentiras,
cuidadosamente elaboradas para manutenção de um status de ignorância político-social. E,
para piorar, muitos dos processos de inclusão social de minorias, de direitos adquiridos, de
direitos humanos, passaram a ser questionados como ilegais e imorais. Não há contestação
pública, não há participação popular. Vive-se um marasmo social.
Encaixaria esse momento do Brasil, considerando a baixa participação social nas
eleições, mas com grande variedade de candidatos em disputa política, no nível de
democratização das Oligarquias competitivas. Observa-se um pilatismo popular quanto aos
caminhos do país. Usa-se da tecnologia para se divulgar mentiras, falsas informações e se
3
Presidente da republica Federativa do Brasil – Jair Messias Bolsonaro.
5

envolve o povo em comodismos auto aceitáveis, visto que, há uma liberdade de se estudar, se
pesquisar, se discutir, porém, não há interesse da população nas verdades dos fatos. E usa-se
de violência física, psicológica, moral para se denegrir àqueles que têm opiniões contrárias.
como resultado das eleições, tem-se, ainda no poder, políticos com velhas práticas de
politicagem. Políticos que compram votos, políticos que lançam inúmeros comparsas para
somarem para eleição de um “preferencial.” O Brasil é um país de acordos regimentais.
Acordos que beneficiam os blocos de interesses privados. Este país é formado por bancadas
nas Casas de Leis4, e o que menos interessa é o povo.
Como observado, o Brasil, ora caminha para um envolvimento consciente e
democrático. Ora, retrocede. Para que este país seja considerado uma poliarquia, ele precisa
sofrer pesadas mudanças de comportamentos. Precisa de uma larga participação social.
Precisa ser inclusivo no sentido de garantir ao outro, o que se defende como correto para si.
Precisa ter liberdade consciente de expressão. Precisa que mais pessoas se envolvam e se
candidatem às eleições. Precisa que essas pessoas, representem a diversidade social que tem
neste país. Precisa se organizar em movimentos pré-eleições dessas representações Precisa
eleger um presidente e outros políticos que respeitem e aceitem as contestações públicas como
ações normais do processo democrático. E que reflitam sobre o teor das mesmas.
O Brasil tem todos as oportunidades e as garantias institucionais citadas por Roberto
Dahl (2015). Elas estão escritas, pois a Constituição de 88 as determina. Mas, o povo, as
ignora. E enquanto não tomar posse desse conhecimento com consciência. Enquanto não
entender que direitos são correlatos de deveres. Enquanto não se perceber servil a uma elite
enfadonha. Enquanto não se envolver, não participar e se incluir nas questões políticas de seu
país; enquanto delegar aos outros o cuidar de seus direitos, continuará, massa de manobra.
Fato que dificultará o avançar do processo democrático e deixará mais longe a possibilidade
de uma poliarquia – forma de governo, no qual há ampla participação da sociedade nas lutas
por seus direitos e cumpridores conscientes de seus deveres, somada a ampla participação
popular na política, com ampla eleição democrática de representantes dessa sociedade
organizada. Sociedade esta, ciente, de que sua participação não acaba no ato de colocar seu
voto nas urnas, pois que, é necessário acompanhar, vigiar, cobrar, participar e contestar
sempre, contra aquilo que não está correto. Seria um estado democrático de direito
participativo, o que não deixaria brechas para que os governantes não estivessem a serviço do
povo.

4
Câmaras de vereadores, de deputados estaduais, federais e de senados
6

2-Como posso analisar a ideia de “Brasil acima de tudo”, tal como projetado na última
disputa presidencial, a partir da ideia de “comunidade imaginada” definida por
Benedict Anderson?

Um slogan é uma frase de fácil memorização usada em contexto político, religioso


ou comercial como uma expressão repetitiva de uma ideia ou de um propósito.
Um slogan político geralmente expressa um objetivo ou alvo – "Trabalhadores do
mundo, uni-vos!" [...]. Slogans variam do escrito ao visual, do cantado ao vulgar.
Quase sempre sua natureza simples e retórica deixa pouco espaço para detalhes e,
como tal, servem talvez mais a uma expressão social de propósito unificado, do que
a uma projeção para uma pretendida audiência. Slogans são atrativos
particularmente na era moderna de bombardeios informacionais de numerosas fontes
da mídia5

A ideia contida no slogan da campanha do candidato à Presidência da República do


Brasil – Sr. Jair Messias Bolsonaro para o período de 01.01.2019 a 31.12.2022, ainda é
constantemente utilizada por seus eleitores, admiradores e correligionários, mesmo depois de
quase dois anos à frente da maior função do executivo do país ter demonstrado que o “Brasil
acima de tudo, Deus acima de todos,” não corresponde a ideia vendida na campanha – que
seria a de valorização do nacionalismo e do povo brasileiro. Toma-se como base para essa
afirmação, os conceitos trabalhados por Benedict Anderson na obra “Comunidades
imaginadas: Reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo” (2008). Nesta obra, o
autor expõe as diferenças entre os termos nação, nacionalidade (condição nacional) e
nacionalismo.
Para Anderson (2008, p. 32) a nação é,

uma comunidade6 política imaginada – e imaginada como sendo intrinsecamente


limitada e, ao mesmo tempo, soberana. Ela é imaginada porque mesmo os membros
da mais minúscula das nações jamais conhecerão, encontrarão, ou sequer ouvirão
falar da maioria de seus companheiros, embora todos tenham em mente a imagem
viva da comunidade entre eles.

A partir desta definição, este autor trabalhou inúmeras características que enquadram
melhor os entendimentos do que seja uma nação. Referiu-se a Ernest Renan (1997) ao afirmar
que a essência de uma nação consiste em que, todos os indivíduos tenham muitas coisas em
comum, e que também que todos tenham esquecido muitas coisas. Que a nação é uma

5
Breve história dos slogans políticos nas eleições do Brasil republicano de Adolpho Queiroz e Carlos
Manhanelli. Publicado pela Revista Signos do Consumo – V.1, N.2, 2009. P. 235–253. Disponível em
www.revistas.usp.br › article › download.
6
Entendendo-se o termo comunidade usado Benedict Anderson (2008) não está restrito a espaço geográfico, mas
às coisas comuns cultivadas por pessoas e que extrapolam os limites dos espaços territoriais.
7

comunidade limitada, pois, independentemente de sua dimensão, ela sempre terá fronteiras
finitas e que, nenhuma delas será comparada a extensão da humanidade.
Para ilustrar a compreensão sobre nação, lança-se mão das teorias de João Ubaldo
Ribeiro em sua obra “Política: Quem manda, por que manda, como manda.”. Para ele

Nação quer dizer muitas vezes raça comum, valores comuns, hábitos comuns, arte
comum – ou seja, cultura, no sentido mais amplo, fazendo com que um cearense se
sinta membro da mesma nação que um gaúcho e vice-versa, pois, apesar das
diferenças regionais, eles têm uma comunidade forte entre si (1998, p.36)

E o nacionalismo, ele nasce da ideia de nação? Toda nação é nacionalista? Como


explicar o nacionalismo projetado no slogan “Brasil acima de tudo...” do governo Bolsonaro?
Recorreremos a afirmação de Ernest Gellner (apud Anderson, 2008, p.32-33) de que “o
nacionalismo não é o despertar das nações para a autoconsciência: ele inventa nações onde
elas não existem.” Mais uma vez o autor direciona-se para o imaginário, para a invenção, para
a criação humana, para como as comunidades se organizam para a sua sobrevivência. Assim,
tudo se transforma em cultura. E na cultura estão os costumes, as crenças, as religiões, as
normas, as regras, as definições de raças, de etnias, de comportamentos, de dominações, de
status, seja por condições financeiras ou sociais, etc.
Assim, pode-se entender que o nacionalismo pode envolver inúmeras nações por
ideais e propósitos que são enraizados culturalmente. Um exemplo é o amor à pátria. Esta é
geograficamente delimitada. E tem dentro dela, inúmeras nações. A estas nações é ensinado
formalmente que se deve amar ao seu país. Não haveria erro nisso, se o ato de amor ao seu
país, não defendesse a morte daqueles que nasceram neste mesmo país, que o amam na
mesma dimensão, mas discordam das formas como são representados esse amor.
Não há nada de errado nos símbolos nacionais (Bandeira Nacional, Hino Nacional,
Brasão da República e o Selo Nacional), em conhecê-los, saber suas histórias, cultivá-los e
cultuá-los. Não há erro em se aprender a melodia, o ritmo e a harmonia do Hino Nacional e
assim aprender a cantá-lo em momentos cívicos ou não. O erro está em como esses elementos
do nacionalismo são usados para se chegar ao poder. E, como continuam sendo usados para se
manter no poder. Compreende-se que o nacionalista é um defensor da soberania de seu país,
pelo bem comum de seu povo. Essa noção de povo, está relacionada àqueles que nasceram
nesse país ou adquiriram sua nacionalidade, o que Anderson chama de condição nacional.
O Brasil tem 521 anos de história. Já vivenciou muitas formas de governo. E desde a
República Velha (1891), experiencia os usos de slogans em campanhas de presidenciáveis e
por governos eleitos. Nesses 130 anos, os slogans mais contundentes foram incutidos pelos
8

governos militares (64 a 85) nas memórias dos brasileiros pelo civismo ensinado nas escolas
por meio formal do currículo escolar. Este civismo foi ensinado via matérias/disciplinas
como: Estudos Sociais, Educação Moral e Cívica, OSPB (Organização Social e Política do
Brasil (OSPB) e Estudos dos Problemas Brasileiro (EPB). A partir da redemocratização do
Brasil, oito7 presidentes assumiram a gestão do país. Mas, nenhum dos seus slogans se
assemelha a ousadia do adotado pelo atual presidente desta República Federativa – Jair
Messias Bolsonaro, “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” 8 lema esse, inspirado em um
brado de paraquedistas militares surgido após a decretação do A-I-5. Bolsonaro e seu vice
(General Hamilton Mourão) fizeram parte desse grupo militar.
O slogan é ousado, por vender a ideia “do mito medieval, do herói branco que
promove a cristianização e a civilização.”9 O messias que veio para salvar o país da corrupção
e do comunismo. A campanha foi tão bem elaborada que tudo o que rodeia o presidente é
repassado ao povo como simplório, homem comum, vindo do povo, eleito pelo povo e
defensor do povo. A ideia é tão bem vendida que seus eleitores, mesmo àqueles que têm uma
certa intelectualidade, o consideram como mito. Ignoram que este senhor foi soldado e foi
expulso do quartel por arquitetar contra seus superiores. Que este senhor viveu à custa dos
seus eleitores por 28 anos como parasita no Congresso Nacional. E que em todos esses anos,
ele apresentou um único projeto de lei. Votou contra inúmeros projetos e direitos sociais. Foi
agressivo e desrespeitoso em várias situações.
É declaradamente misógino, homofóbico, racista, tem aversão aos indígenas. Inseriu
três dos seus quatro filhos homens nas câmaras de leis. Usa, com apoio de pastores, a religião
evangélica para se promover e se segurar no poder. É um negacionista. Incentiva a negação à
ciência. Incentiva o desrespeito à escritores nacionais. Desfaz-se da arte e da cultura,
incentiva a morte daqueles a quem ele chama de bandidos, esquerdistas...
Desfez os conselhos de proteção ao meio ambiente, de proteção à floresta, de proteção
aos processos de inclusão. Defendeu a aprovação da Reforma da Previdência. Requereu sigilo
sobre as investigações sobre seu filho senador. Tem um comportamento revés ao cargo que
ocupa. Tira o Portal da Transparência econômica do ar, quando seus maus feitos são

7
José Sarney (85 a90), Fernando Collor de Melo (90-92). Itamar Franco (92-94), Fernando Henrique Cardoso
(95-2003). Luiz Inácio Lula da Silva (2004-2010), Dilma Rousseff (2011-2016). Michel Temer (2016-2018) e
Jair Messias Bolsonaro (2019)
8
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/10/slogan-de-bolsonaro-foi-inspirado-em-brado-de-paraquedistas-
militares.shtml
9
Disponível em https://averdade.org.br/2020/01/brasil-acima-de-tudo-deus-acima-de-todos-e-o-pseudo-
arquetipo-da-coloniza cao-luso-jesuita/
9

publicizados. Negou, nega, fez e faz campanha contra a prevenção da maior pandemia 10 de
todos os tempos e que já matou mais de 230 milhões de brasileiros.
Não ordenou a compra de vacinas para os brasileiros. É um ser pequeno frente ao
cargo que ocupa, pois, afasta investidores estrangeiros do Brasil e mina a confiança entre os
agentes econômicos internos. Em sua gestão, pessoas passaram a não ter o que comer, volta-
se a viver abaixo da linha da pobreza. Os índices de aumento são praticamente dobrados. A
exemplo do gás de cozinha que no último ano do governo Dilma custava em média R54,07
(cinquenta e quatro reais e sete centavos) e hoje (Fevereiro de 2021) custa R$ 104,00 (Cento e
quatro reais). É um defensor do uso de armas. Libera incentivos fiscais para as compras de
armas e aumenta o de alimentos e remédios. Tem grande maioria de militares a seu favor.
Assim como incluem-se professores que o defendem. Independentemente do uso da prática de
fake news, para jogar o povo contra as instituições, o governo Bolsonaro se mantém no poder.
E, aqueles que o idolatram, não se importam com os esclarecimentos dos fatos
Por último, em troca de inúmeras reformas acordadas em campanha, liberou recursos
para emendas parlamentares, fez acordos com a velha política dos partidos chamados de
Centrão para eleger os presidentes do Congresso Nacional. Todos esses pontos são
argumentos que demonstram que Jair Messias Bolsonaro, não é um nacionalista. Ele é, como
diz Max Weber (2012)11, um demagogo, carismático que se fez acreditar por um público
ávido de representantes divinos, de heróis, de guerreiros, de justiceiros. Um sujeito que usa o
nome de Deus em ações como rezar antes de se alimentar, como se ajoelhar, e, deste modo, se
faz venerar por àqueles que são submissos a sua dominação.

3-A crítica da democracia como regime dos “desejos ilimitados dos indivíduos”, na
forma de “ódio”, pode ser observada, contemporaneamente, a partir de que elementos?
Cite casos e analise-os à luz da discussão de Rancière.
A crítica da democracia como regime dos desejos ilimitados dos indivíduos é
observada em vários momentos do texto de Benedict Rancière (2014). Ao se fazer uma leitura
mais minuciosa do texto, destaca-se vários pontos (em negrito), do quanto a liberdade, o
respeito às diferenças, os direitos iguais, os direitos à sexualidade, o avanço da ciência, os
princípios democráticos, o princípio abrangente da modernidade e o princípio social da
ilimitação que traz em sua essência os desejos ilimitados dos indivíduos, etc., têm sido
questionados. Ressalta-se, em contraponto, as defesas daqueles que se veem bem-nascidos,

10
Enfermidade epidêmica amplamente disseminada
11
WEBER, Max. “Os tipos de dominação”. Economia e Sociedade (vol. 1). 4.ed. EdUNB: Brasília, 2012.
10

eleitos pelo poder divino, (crença estabelecida pelo princípio da filiação e da transmissão,
hoje é o princípio da tradição humana preservada), que têm suas raízes resguardadas e
repassadas de gerações a gerações.

 Problemas da humanidade: Casamento homossexual, Reprodução


artificial. São sintomas que traduzem um mesmo mal e tem uma única causa – a
democracia;
 A democracia é sinônimo de abominação por todos os que acreditam que
o poder cabia de direito aos que a ele eram destinados por nascimento ou eleitos
por suas competências. Ainda hoje é uma abominação para aqueles que fazem
da lei divina revelada o único fundamento legítimo da organização das
comunidades humanas;
 Ao lado desse ódio à democracia, a história conheceu as formas de sua
crítica. A crítica reconhece sua existência, com o propósito de estabelecer seus
limites. (p.8-9)
 As leis e as instituições da democracia formal são as aparências por trás das
quais e os instrumentos com os quais se exerce o poder da classe burguesa. A luta
contra essas aparências tornou-se então a via para uma democracia “real”, uma
democracia em que a liberdade e a igualdade não seriam mais representadas
nas instituições da lei e do Estado, mas seriam encarnadas nas próprias da vida
material e da experiência sensível. (p.9)

 Nós nos acostumamos a ouvir que a democracia era o pior dos governos,
com exceção de todos os outros. Mas o novo sentimento antidemocrático traz uma
versão mais perturbadora da fórmula. O governo democrático, diz, é mau quando
se deixa corromper pela sociedade democrática que quer que todos sejam iguais e
que todas as diferenças sejam respeitadas. (p.10)

 Os deslocamentos que a palavra democracia sofreu em duas décadas, na


opinião intelectual dominante. No livro de Milner (2007), esse deslocamento se
resume pela conjunção de duas teses. A primeira opõe de maneira radical o nome
de judeu e o de democracia. A segunda divide essa oposição ao princípio de duas
humanidades: uma humanidade fiel ao princípio da filiação e da transmissão, e
uma humanidade que se esqueceu desse princípio e persegue um ideal de
autoengendramento que é também um ideal de autodestruição. Judeu e democracia
estão em oposição radical. [...]. Naquele tempo, Israel era enaltecido por ser uma
democracia. Entendia-se por democracia uma sociedade governada por um
Estado que assegurava a liberdade dos indivíduos e a participação da maioria
da vida pública.

 As declarações dos direitos humanos representavam a carta magna dessa


relação de equilíbrio entre a força reconhecida da coletividade e a liberdade
assegurada dos indivíduos. O contrário da democracia chamava-se então
totalitarismo [...]. o Estado total era o Estado que suprimia a dualidade do Estado
(Nazismo-raça) e da sociedade (comunismo-classe).

 Princípio democrático torna-se o princípio abrangente da modernidade


 Princípio estatal da totalidade fechada, hoje é o princípio social da
ilimitação.
 Princípio da filiação e da transmissão, hoje é o princípio da tradição
humana preservada -
 Princípio do novo discurso antidemocrático

 Os direitos do homem são os direitos dos indivíduos egoístas da


sociedade burguesa. A questão é saber quem são esses indivíduos egoístas. Para
Marx, eles eram os detentores dos meios de produção, ou seja, a classe
dominante, da qual o Estado dos direitos humanos era o instrumento. A sabedoria
11

contemporânea vê as coisas de outro modo. Indivíduos egoístas substituídos por


consumidores ávidos – por homem democrático. (p.28)

 A burguesia substituiu as numerosas liberdades, conquistadas duramente, por


uma única liberdade sem escrúpulos – a do comércio (p.30)

São inúmeros os fatos que provocam a crítica à democracia e que compõem o


princípio do novo discurso antidemocrático, entre estes destacam-se: uniões de pessoas de
mesmo sexo, adoção de crianças por pessoas em uniões estáveis que sejam de mesmos sexos,
sistemas de cotas em universidades, programas de bolsas para atendimentos de minorias (que
na verdade são maiorias), programas de ações afirmativas, mulheres empoderadas por
qualificações diversas e em posições de gestões que antes eram ocupadas por homens, pobres
entrando e se formando no ensino superior, garantias de direitos a julgamentos justos, fatos
que desembocaram um ódio aos Direitos Humanos. Religiões que tutelam a Deus, como um
ser que lhes pertence, e a aqueles que não se enquadram, os julgamentos intempestivos e
arrogantes se dão na terra mesmo, mas em nome de Deus. Ódio dos ricos sobre os pobres,
ranços entre: etnias, raças, regionalidades, nacionalidades, costumes, hábitos, culturas, etc.
Percebe-se o quanto é difícil para a democracia sobreviver às não-aceitações dos direitos às
diferenças, não aceitações estas que ferem o princípio maior da democracia – o respeito ao
outro como a si mesmo.
Os trechos abaixo, também são recortes da obra de Rancière (2014). E propositalmente
foram escolhidos para subsidiar um outro elemento contemporâneo que se faz presente
enquanto materialização da crítica aos regimes democráticos. Elementos estes que são
contrários aos princípios democráticos de direito e exaltam o uso da necessidade da ordem
social, pela tomada do poder pela força das armas. Tomada esta, que coloca as estruturas
políticas, jurídicas, individuais e coletivas da sociedade sob a compulsoriedade de governos
de caráteres personalistas, quase sempre ditatoriais, ligados às instituições militares, às
guardas nacionais ou à governos declaradamente extremistas.

 É do povo e de seus costumes que eles se queixam, não das instituições de seu
poder. Para eles, a democracia não é uma forma de governo corrompido, mas
uma crise da civilização que afeta a sociedade e o Estado através dela. Daí o
vaivém que, à primeira vista, pode parecer estranho. Os maiores críticos que não se
cansam de denunciar essa América democrática da qual viria todo o mal do
respeito das diferenças, do direito das minorias e da ação afirmativa que mina
nosso universalismo republicano são os primeiros a aplaudir quando essa mesma
América trata de espalhar sua democracia pelo mundo através da força das armas.
(p.10)
 [...] a democracia é o governo do povo por ele mesmo e, portanto, não pode ser
trazida de fora pela força das armas (p.13)
12

 [...]. A democracia triunfava, mas era necessário ter em mente tudo que seu triunfo
significava levar a democracia a outro povo não é levar apenas os benefícios do
estado constitucional, eleições e imprensa livres. É levar também a bagunça. [...]
levar a liberdade é também levar a liberdade de errar. [...] a democracia, por não
ser o idílio do governo do povo por ele mesmo, por ser a desordem das paixões
ávidas de satisfação, pode e até deve ser trazida de fora pelas armas de uma
superpotência, entendendo-se por superpotência, não simplesmente um estado que
dispõe de uma força militar desproporcional, mas, de modo mais geral, do poder
de controlar a desordem democrática. (p.14)
 A democracia ergue-se, mas a desordem ergue-se com ela: os saqueadores de
Bagdá, que se aproveitam da nova liberdade democrática para aumentar seu bem em
detrimento da propriedade comum, lembram, de sua maneira um tanto primitiva, um
dos grandes argumentos que havia trinta anos propunham a “crise” da democracia: a
democracia, diziam os relatores, significa o aumento irresistível de demandas que
pressiona os governos, acarreta o declínio da autoridade e torna os indivíduos e os
grupos rebeldes à disciplina e aos sacrifícios exigidos pelo interesse comum.
(p.15)
 Assim, os argumentos que apoiam as campanhas militares destinadas ao avanço
mundial da democracia revelam o paradoxo [...]. a democracia parece ter dois
adversários. De um lado, opõe-se a um inimigo claramente identificado, o governo
do arbitrário, o governo sem limites que denominamos, conforme à época,
tirania, ditadura ou totalitarismo. Mas essa oposição evidente esconde outra mais
intima. O bom governo democrático é aquele capaz de controlar um mal que se
chama simplesmente vida democrática. [...]: o que provoca a crise do governo
democrático nada mais é que a intensidade da vida democrática. Mas essa
intensidade e a ameaça subsequente se apresentavam com um duplo aspecto. De um
lado, a “vida democrática” identifica-se com o princípio anárquico, que afirmava
o poder do povo, do qual os Estados Unidos, assim como outros estados ocidentais,
conheceram as consequências extremas nos anos 1960 e 1970 [...]. (p.16)
 [...]: ou a vida democrática significava uma ampla participação popular na
discussão dos negócios públicos, e isso era ruim, ou significava uma forma de vida
social que direcionava as energias para as satisfações individuais, e isso também
era ruim. A boa democracia deveria ser então uma forma de governo e de vida social
capaz de controlar o duplo excesso de atividade coletiva ou de retração
individual inerente à vida democrática. [...]: a democracia como forma de vida
política e social, é o reino do excesso. Esse excesso significa a ruína do governo
democrático e, portanto, deve ser reprimido por ele. [...]: o fato de as
democracias serem “ingovernáveis” prova superabundantemente a necessidade de
serem governadas e, para eles, é legitimação suficiente do cuidado que tomam
justamente em governá-las (p.17-18).

Observa-se nos trechos acima termos como: queixas do comportamento do povo e de


seus costumes, mas não das instituições e de seus poderes; crise da civilização, o respeito das
diferenças, do direito das minorias e da ações afirmativas como um mal que causa a crise da
civilização; a bagunça, a desordem das paixões ávidas de satisfação, a desordem social, a crise
da democracia que acarreta o declínio da autoridade e torna os indivíduos e os grupos rebeldes
à disciplina e aos sacrifícios exigidos pelo interesse comum, satisfações individuais,
intensidade da vida democrática, entre outras. Todas são vistas como males da democracia.
Em contrapartida, o autor também fala das “intervenções de Estados, que se dizem
democráticos” pelo uso da força das armas, da força militar desproporcional como forma de
controlar a desordem democrática, a anarquia e a vida democrática.
13

Essas intervenções têm sido comuns na América Latina como no Chile, na Argentina e
no Brasil. Este último vivenciou a Ditadura Militar entre os anos de 1964 a 1985. Mas,
sempre houve a negação do terrorismo de Estado, das prisões arbitrárias, das torturas, dos
sequestros, dos assassinatos, dos desaparecimentos de desafetos ao novo regime, da repressão
política de diferentes setores da sociedade, da censura às informações e a arte, da proibição de
partidos políticos, onde foram autorizados apenas dois partidos, um de direita e o outro de
esquerda, mas que, por temor, tornou-se de consentimento. Além da especulação financeira e
das altas taxas de desempregos, do exílio e da negação da ciência. Com todos esses fatos,
ainda existem àqueles que são saudosistas desses tempos e não o reconhecem como ditadura e
sim como um estado democrático de direito, quando na verdade foi um período totalitário.
Mas, as resistências também foram inúmeras. Resistia-se pela arte – produção cultural
(música, teatro, cinema), pelas mobilizações populares, pelas campanhas políticas para eleger
o presidente (Diretas Já), pela redemocratização do país, pela anistia (volta dos exilados), pela
reforma partidária, pela mudança do bipartidarismo para o pluripartidarismo. Em 88 aprovou-
se a “Constituição Cidadã”12 e se redemocratizou o país. Nos tempos atuais, 35 anos após o
fim da ditadura militar no Brasil, vê-se a volta dos mesmos comportamentos contra a
ilimitação da vida democrática como: a arbitrariedade, a violência, a formação de grupos com
requintes paramilitares de apoio ao governo de um ex-militar, o obscurantismo, o
negacionismo à ciência, às ameaças à vida e à liberdade. Vê-se um verdadeiro estado de
horror se instalando. E, é inegável o comodismo e o consentimento de grande parte da
sociedade brasileira e o rendimento, o consentimento às loucuras de seu mito. Vive-se ainda,
uma negação dos direitos à diversidade, dos direitos humanos, da nova vida democrática. E
novamente, essa forma de governo se diz defensora da democracia.
Paralelo ao que se vive no Brasil, os EUA enfrentaram por quatro anos essa negação
dos direitos democráticos. Porém está tentando conseguir, pelo voto, recuperar o Estado
democrático de direito. Há poucos dias viu-se Mianmar (nação asiática) ser tomada por um
Golpe Militar sobre sua democracia. Em todos os atos de agressão à essa forma de governo,
onde a liberdade, o direito à diversidade, os direitos individuais ilimitados, a nova vida
democrática, etc., são suas maiores conquistas, mas também seus maiores incômodos. Um
perigo a ser combatido. São vistos como inaceitáveis e são ameaças constantes para a
democracia aos olhos de grande parte da sociedade. É necessário, é urgente, articular as
resistências contra o perigo do totalitarismo e do fascismo disfarçado de democracia, se aloje
novamente no Brasil.
12
Termo usado por Ulisses Guimarães em constantes discursos históricos.
14

4-Em que medida conceitos ou ideias apresentadas durante a disciplina podem auxiliar
na configuração de seu objeto de pesquisa? Responda citando ao menos dois autores.

O Projeto de pesquisa da dissertação do MPPPP da UECE tem como título


“Avaliações de Políticas públicas para formações de professores da Educação Básica no
Amapá entre os anos de 2012 a 2020.” Este, enquadra-se na área de concentração de
Planejamento e Políticas Públicas e dentro da linha de pesquisa de Avaliação de Instituições
Públicas, Programas e Projetos Institucionais. Nesta proposta, pretende-se pesquisar os
resultados das políticas públicas de formações de professores da Educação Básica no Amapá
entre os anos de 2012 a 2020. Sabe-se que a partir da Constituição de 88 e da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) nº 9394/96, inúmeros programas e projetos
que visaram e ainda visam a melhoria da qualidade da educação foram colocados em prática
neste país. Melhoria esta, expressa, também nos planos nacionais e estaduais de educação de
2001 e 2014.
Para responder à questão central objetiva-se na pesquisa: levantar quais políticas
públicas de qualificações de professores estatutários foram planejadas e efetivadas pelo
Estado do Amapá no período de 2012 a 2020. Pesquisar os índices de matrículas, abandonos
e conclusões dos cursos desses programas. Pesquisar qual o número de mestres e doutores
foram formados. Pesquisar qual o quantitativo de mestres e doutores estatutários formados
por esses programas, atuam em suas áreas de vinculações e analisar se os índices de docentes
formados pelos programas de qualificações de professores para a Educação Básica atenderam
e atendem aos Planos Estaduais de Educação e ao PNE.
As principais categorias de análises serão as políticas públicas, as formações de
professores, os planejamentos e as efetividades de políticas públicas de qualificações de
docentes em serviço (de estatutários).
A qualidade do ensino que reflete na aprendizagem ou não dos alunos é um debate que
se arrasta por décadas na educação brasileira. Como afirmado anteriormente, a partir da
Constituição Federal de 88, da LDB nº 9394/96 e dos Planos Nacionais de Educação (PNE)
de 2001 e de 2014, este último refletido no Plano Estadual de Educação do Amapá (PEE/AP-
2015) tem-se observado um número elevado de professores graduados e pós-graduados nas
escolas, em especial, nas escolas da rede estadual, campo de verificação da pesquisa de
dissertação. Essa formação é resultado de uma política pública. E as políticas públicas
resultam de participações e envolvimentos políticos, de movimentos sociais, de lutas
15

ideológicas e de classes, de conquistas de direitos, de ações democráticas e de adequação


necessária às exigências de mercado...
Todos esses pontos são estudados na disciplina Teoria Política II, ainda que não
especificamente voltada para as qualificações dos professores. Porém, os autores estudados
podem e irão fundamentar e subsidiar a compreensão do tema. A exemplo tem-se a obra “O
que é política?” de Hannah Arendt (2002). Nesta ela trata do que é a política, de como a
política é uma criação humana. E que ela nasce das relações “entre os homens, que a
liberdade e a espontaneidade dos diferentes [...] são pressupostas necessários para o
surgimento de um espaço entre homens, onde só então se torna possível a política, a
verdadeira política.” E ainda, “que o sentido da política é a liberdade." (p. 3). Ela fala das
“ferramentas de produção e do instrumentário técnico de cada época. Afirma que os homens
produzem, destroem e reconstroem. E que o “fato de que o poder destruir e o poder produzir
estão em equilíbrio”. (p.34). E isso se dá pela educação, pelo conhecimento, pela
aprendizagem dos usos das técnicas. Tudo está ligado à política. Ela também fala da
velocidade do processo de produção e consumo e que o equilíbrio entre produzir e aniquilar
não é perturbado através dessa técnica moderna e do processo com o qual ela comprometeu o
mundo dos homens.
O ponto no qual ela trata sobre o conceito de trabalho, de produção e de dominação é
interessante ao tema da pesquisa, pois que, o trabalho docente e a formação técnica desse
trabalhador são indispensáveis ao sistema de produção e este visa atender as necessidades da
sociedade e do mercado.
Max Weber13 é um dos teóricos que se pretende usar na dissertação. Ele chama a
atenção por tratar de capitalismo contemporâneo, de liderança, de direito ao voto, de
democracia, de igualdade, de minimização do poder de mando. De dominação, de distribuição
dos poderes de mando nas mãos de diferentes indivíduos. Fala do processo político de
organização do poder, onde ele trata da ordem social, que ela diz respeito ao “próprio
processo de diferenciação social que, partindo da divisão do trabalho, libera determinados
indivíduos para o exercício privilegiado da atividade política, enquanto os demais precisam
dedicar-se as atividades de subsistência econômica.” (WEBER apud SEEL, 2011, p.145).
todos esses pontos poderão subsidiar uma análise histórico-crítica sobre as qualificações
necessárias dos professores.

13
SELL, Carlos Eduardo. Democracia com liderança: Max Weber e o conceito de democracia plebiscitária.
Revista Brasileira de Ciência Política, 2011, n. 5 (on line).
16

O projeto de dissertação está sendo construído e reconstruído no decorrer desses


primeiros fundamentos. Tem-se aprendido muito nas disciplinas do mestrado. Tem-se,
também se refletido, revisto ideias acomodadas sem as devidas cientificidades. Isso tem sido
fantástico. Daí afirmar que nas releituras destas disciplinas, encontrar-se-á amparo teórico em
inúmeros outros autores.

REFERÊNCIA
ANDERSON, Beneditc. Comunidades Imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão do
nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

ARENDT, Hannah. O que é política? Fragmentos das Obras Póstumas. 3.ed. Rio de Janeiro,
2002, (Primeiro texto: O que é política?)

DAHL, Robert. Poliarquia: participação e oposição. São Paulo: EdUSP, 2015.

QUEIROZ, Adolpho. MANHANELLI, Carlos. Breve história dos slogans políticos nas
eleições do Brasil republicano. Revista Signos do Consumo – V.1, N.2, 2009. P. 235–253.
Disponível em www.revistas.usp.br › article › download. Acesso no dia 10.02.2021

RIBEIRO. João Ubaldo. Política: Quem manda, por que manda, como manda. 3.ed.rev. Rio
de Janeiro: nova Fronteira, 1998.

SELL, Carlos Eduardo. Democracia com liderança: Max Weber e o conceito de democracia
plebiscitária. Revista Brasileira de Ciência Política, 2011, n. 5 (on line).

WEBER, Max. “Os tipos de dominação”. Economia e Sociedade (vol. 1). 4.ed. EdUNB:
Brasilia, 2012.

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