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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE PROGRAMA DE PÓS

GRADUAÇÃO – PROPGPQ CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS –


UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO –
PROPGPQ CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS – CESA MESTRADO
PROFISSIONAL EM PLANEJAMENTO E POLÍTICAS PÚBLICAS – MPPPP
DISCIPLINA TEORIA POLÍTICA II1

Ricardo Brito da Silva


ricardo.brito@aluno.uece.br

Para entendermos a definição da política, precisamos recorrer aos seus


principais pensadores, e dentre estes, Nicolau Maquiavel. Este referido autor
destaca que o Estado precisa ser pensado através da realidade concreta das
coisas. A verdade precisa ser analisada como ela é. Utiliza-se de uma lógica
diferente de autores como Platão, Aristóteles e Santo Tomás de Aquino,
buscando ver e examinar a realidade tal como ela é e não como gostaria que
ela fosse.

A partir deste ponto de vista Maquiavel levanta uma situação a nos ser
respondida: como fazer reinar a ordem, como instaurar um Estado estável?
Maquiavel entende que a política deve ser construída pelos homens a fins de
evitar a barbárie e o caos, e que quando alcançada, não será por definitiva,
pois sempre haverá o seu trabalho negativo, ou seja uma ameaça que o seu
trabalho seja desfeito.

Para entendermos o conceito de política a luz do pensamos de Hannah Arendt,


vejamos um diálogo entre Lulinha e Jairzinho.

Lulinha é um revoltado com a política, pois acha que a política deveria melhorar
a sua vida, da sua família e as condições sanitárias de seu bairro. Acha que
todos os políticos são ladrões. Não entende como há tantos gastos com a
políticos e pouco gastos com políticas. Diz Lulinha:

1
Trabalho apresentado a disciplina Teoria Política II sob orientação do prof. Dr. Emanuel Freitas da Silva,
para obtenção de nota parcial.
- Essas ruas sempre esburacadas, não há coleta de lixo, o bairro é perigoso e
os impostos são altos.

Lulinha acha que tudo é culpa dos políticas.

- A política desse país não serve para nada. Só para enriquecer quem lá está.
Nosso saneamento é péssimo. Nossa saúde é precária. Como pode ainda
essas mesmas pessoas continuarem no poder meu Deus?

Assim, indignado, Lulinha vai seguindo sua vida humilde na roça da sua
cidade. Casa humilde com água de poço, os três filhos estudam a cinco
quilômetros e vão andando ou de bicicleta. A mulher pega alguns serviços de
lavadeira no mês para ajudar na renda da casa. O casal consegue ao final do
mês um salário mínimo, quando muito um salário e meio.

Ao encontrar com seu amigo Jairzinho, homem público, com padrão de vida
alto, Lulinha expõe sua revolta:

- Você não odeia a política? Pergunta a Jairzinho, que logo responde:

- E porque odiaria a política? Responde com inquietação a pergunta.

- A política é um instrumento de mudança para a sociedade. Através dela que


os homens podem se relacionar social, legal e democraticamente. Lulinha
então retruca:

- Mas então por que não vamos na prática a política funcionar?

Jairzinho responde:

- Primeiro precisamos entender o que é política. Você já ouviu falar de


Maquiavel, Tomas Hobbes, Hannah Arendt? Lulinha responde:

- Não, nunca ouvi falar dessas pessoas. Mudaram para o nosso bairro esses
dias? Jairzinho responde com sorrisos:

- Não meu caro, são teóricos que estudam sobre a política. Eles estudaram
essa relação entre o homem e a política e deram suas contribuições para a
história da política. Nicolau Maquiavel acreditava que a política estabelece a
ordem no Estado.
- Mas qual Estado? Amapá, Pará, Amazonas? Pergunta Lulinha demonstrando
ser um desconhecer da política como ciência social.

- Não falo de Estado da nossa federação. Falo de Estado como aquele


responsável de prover políticas sociais para melhoria da nossa vida enquanto
cidadão. Entendeu? Pergunta Jairzinho!

- Não muito bem, mas continue! Responde Lulinha.

- Hannad Arendt, acreditava que a política baseia-se no fato da pluralidade dos


homens", ela deve, portanto, organizar e regular o convívio de diferentes, não
de iguais. Ou seja, que para pessoas diferentes conviverem juntas, é preciso
que algo faço uma intermediação. Aí entra a política!

- E como é possível essa relação de pessoas diferentes? Pergunta agora com


muita curiosidade!

- Essa autora diz em suas obras que "O sentido da política é a liberdade." Ou
seja, que a política existe para que o homem seja livre socialmente, mas
respeitando os espaços de todas as pessoas. E Maquiavel também ressalta
que para os homens não vivam em uma guerra e em caos profundo, a política
coloca todos em pé de igualde.

Lulinha começa a ficar a compreender e ao mesmo tempo querer saber um


pouco mais, fazendo agora indagações mais difíceis:

- Mas onde nasceu a política?

Responde Jairzinho:

- Bem meu amigo, eu vou novamente citar essa autora chamada Hannah
Arendt, ela expressa que “política baseia-se na pluralidade dos homens. Deus
criou o homem, os homens são um produto humano mundano, e produto da
natureza humana. A filosofia e a teologia sempre se ocupam do homem, e
todas as suas afirmações seriam corretas mesmo se houvesse apenas um
homem, ou apenas dois homens, ou apenas homens idênticos.” Isso significa
que a política nasceu para resolver os conflitos entre os homens, ou seja, a
política nasceu por causa do homem, assim como a teologia e a filosofia.
- O homem é a-político, ou seja, a política surge entre os homens, em uma
intra-espaço que estabelece a relação entre-os-homens.

Lulinha questiona:

- Mas se a política é para melhorar a convivência entre os homens, porque


então os políticos só pensam em si? E mais, por que são sempre os mesmos
que ocupam os cargos na política, parentes ou pessoas próximas?

Jairzinho responde:

- Parece que você entendeu o que política e agora quer saber da atuação da
política através de seus agentes, o homem político ou agente político.

- A autora que eu já citei diz o seguinte: “A política trata da convivência entre


diferentes. Os homens se organizam politicamente para certas coisas em
comum, essenciais num caos absoluto, ou a partir do caos absoluto das
diferenças.” Quando você escolhe alguém para te representar, você está
autorizando a ele fazer o que você gostaria de fazer pela sociedade. E isso é a
maior demonstração da atuação da política.

- Mas agora você Lulinha começa a entrar em outro assunto dentro da política
que é a democracia.

- Eu não entendo como é que vira e mexe as mesmas pessoas estão no poder.
Parece que a política é um negócio onde se ganha muito dinheiro, questiona
Lulinha.

Nesse momento Jairzinho se utilizara outros teóricos contemporâneos para


tentar explicar a relação entre a democracia e as classes sociais.

Jairzinho complementa sua resposta: - Essa relação é vista como um


casamento entre a economia capitalista e um ordenamento público
democrático.

Lulinha ironiza:

- Por isso que é complicado!

Jairzinho prossegue:
- As sociedades ocidentais foram as fundadoras dessa relação onde os
arranjos familiares foram fundados na dominação masculina. Daí entende-se
que a política é masculina.

Lulinha começa e ficar um tanto confuso com a mistura de capitalismo com a


democracia, e pergunta:

-Então a democracia só existe por causa do capitalismo? Jairzinho responde:

- O capitalismo torna a democracia desigual. Luis Felipe Miguel comenta que


até meados da segunda metade do século XX, os democratas radicais
demonstravam uma consciência aguda de que o ideal democrático se ajustava
mal a uma sociedade de classes e que as desigualdades promovidas pelo
capitalismo geravam graves obstáculos à disseminação de práticas
democráticas genuínas.” O capitalismo acaba por ocultar um democracia
genuína, aumentando as desigualdades entre as classes sociais.

Continua sua exposição dizendo:

- Alguns autores como Pateman, Macpherson, Robert Dahl ao comentarem


sobre o capitalismo e a democracia identificavam os principais obstáculos entre
à realização das promessas da democracia. Tambem que para aprofundar a
democracia seria necessário superar o capitalismo, em uma economia
autogestionária de mercado. John Rawls, outro autor, falar de uma teoria da
justiça, onde se afirma de forma expressa que os caminhos para a construção
de uma sociedade mais justa. (o que inclui, necessariamente, um ordenamento
político democrático) são ou o “socialismo liberal” ou um capitalismo de
pequenos proprietários.

- Isso me parece um tanto complicado demais, questiona Lulinha. Mas o que


seria o conceito de classe? Jairzinho responde o tal da seguinte forma:

- Meu caro, e agora curioso amigo, podemos entender as classes sociais em


três aspectos descrita por Luis Felipe: a queda do muro (tratando-se do Muro
de Berlin, o que marcou o fim da União Soviética); a crise do marxismo e a
cooptação do proletariado.
-No primeiro entende-se que o colapso soviético, no final dos anos de 1980,
que atingiu setores da esquerda que se opunham ao modelo stalinista. Com
isso, mundo afora os partidos comunistas se extinguiram, se transformando
em partidos burgueses tenuamente reformistas ou se condenaram a
irrelevância política.

- No segundo, nasce uma crítica ao modelo monocausal explicado pelo


marxismo. Onde irá nascer uma reformulação do papel feminino, onde era visto
apenas nas atividades domésticas, na visão patriarcal. O papel feminino na
esfera pública, trazendo a necessidade de uma reformulação doméstica.

- O terceiro há uma mudança no panorama social do mundo capitalista


desenvolvido com a acomodação da classe operária è ordem vigente. Gorz,
autor do século XX, explica que a força operária entende que a maior parte da
força operária mantém sua atividade em tempo integral, mas a minoria da mão
de obra consegue manter um padrão de consumo relativamente elevado e
usufruir dos serviços fornecidos por uma massa trabalhadores precários. Nesse
sentido, o proletariado vai perder sua força revolucionária e se torna uma força
social conservadora.

- O que não me é possível compreender é porquê existem governantes que


constantemente estão assumindo e reassumindo o poder? Questiona Lulinha.

- É preciso entrarmos agora em outra temática, os tipos de dominação. Estão


podem ser tradicional, carismática e burocrática, no pensamento de Max
Weber, justifica Jairzinho.

- Além disso, Weber esclarece que “numa democracia o povo escolhe o líder
no qual confia. Existe um modelo chamado de plebiscitário, ou “de seleção de
líderes”, que segundo Weber, é perigoso ao poder parlamentar. É um tipo de
dominação transitória, exemplificada por lideranças de partidos. É legitimado
quando um senhor se sente de confiança das massas e é reconhecido como
tal.

- O fator cesarista é inerente às democracias de massa (sobretudo pela


invenção do sufrágio) e pode ser controlado (seleção parlamentar) ou
aprofundado (seleção cesarista/presidencial) – “Em Estados de massas, este
elemento cesarista é inextirpável” toda espécie de eleição popular direta do
mandatário supremo e, mais além, toda espécie de poder político que se apóia
na confiança das massas e não do parlamento“. Assim, opera um vínculo de
confiança entre as massas e o líder. (uma outra forma de dominação, que
incorpora elementos das outras).

- Qual a diferença entre os tipos de dominação, questiona Lulinha!

-Jairzinho responde:

- Podem existir, segundo Max, três tipos puros de dominação: dominação legal,
dominação tradicional e dominação carismática. Vou lhe explicar cada uma
delas.

- a dominação legal diz respeito a virtude de estatuto. Uma dominação


burocrática. Obedece-se não a uma pessoa, mas à regra estatuída, que
estabelece ao mesmo tempo a quem e em que medida se deve obedecer.
Aquele que ordena é superior cujo direito está legitimado por uma regra
estatuída, no âmbito de uma competência concreta.

- Na dominação tradicional seu tipo mais puro é a dominação patriarcal. O tipo


daquele que ordena é senhor, e os que obedecem são súditos. Obedece-se a
pessoa em virtude da dignidade própria, santificada pela tradição: por
fidelidade.

- A dominação carismática se dá a devoção afetiva à pessoa do senhor e a


seus dotes sobrenaturais (carisma) e, particularmente: a faculdades mágicas,
revelações ou heroísmo, poder intelectual ou de oratória. Seus tipos de mais
puros são a dominação do profeta, do herói guerreiro e do grande demagogo.
Quem manda é o líder. Quem obedece é o apóstolo. Obedece-se
exclusivamente à pessoa do líder por suas qualidades excepcionais. Quando
estes decaem, seu domínio torna-se caduco. A democracia plebiscitária é uma
espécie de dominação carismática sob a forma de dominação de uma
legitimidade originada da vontade dos dominados.

Lulinha comenta:
- A política vai além de um voto que depositamos para uma pessoa. Todos
precisam compreender um pouco mais do verdadeiro sentido da política para
sociedade.

Jairzinho termina:

-De fato meu nobre!

- Deixaremos para esta prosa em outro hora! Até mais companheiro, se


despede Lulinha!

- Até mais! Responde Jairzinho

Fim.

REFERÊNCIAS

ARENDT, Hannah. O que é política? Fragmentos das Obras Póstumas. 3.ed.


Rio de Janeiro, 2002.
MIGUEL, Luis Felipe. Democracia e Sociedades de Classes. Revista Brasileira
de Ciência Política, n° 9. Brasilia, setembro-dezembro. 2012. pp.93-117.

SELL, Carlos Eduardo. Democracia com liderança. Max Weber e o conceito de


democracia plebiscitária. Revista Brasileira de Ciência Política, n° 5. Brasilia,
janeiro-julho. 2011, pp. 139-166.

WEBER, Max. “O presidente do Reich”. Escritos políticos. São Paulo: Martins


Fontes, 2014.

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