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CRIMINOLOGIA

AULA 01

Ementa: AGOZINO, Biko. Counter-colonial Criminology: a critique of imperialist


reason, Virginia, Pluto Press, 2003; ALAGIA, Alejandro, Codino Rodrigo. La
Descolonización de la Criminología en América. Buenos Aires. Ediar, 2019;
ANDRADE, Vera. Pelas Mãos da Criminologia: o controle penal para além da
(des)ilusão. Rio de Janeiro. Revan, 2012; ANITUA, Gabriel Inácio. História dos
Pensamentos Criminológicos. Rio de Janeiro: Revan, 2008; FLAUZINA, Ana Luiza.
Corpo Negro Caído no Chão: o sistema penal e o projeto genocida do Estado brasileiro.
Rio de Janeiro, Contraponto, 2008; KRENAK, Ailton. A vida não é útil. São Paulo.
Companhia das Letras, 2020; MANOEL, Jones, LANDI, Gabriel. A revolução
africana:uma antologia do pensamento marxista. São Paulo, Autonomia Literária, 2019;
OLMO, Rosa del. Ruptura Criminológica. Caracas: Universidad Central de Venezuela:
ed de la Biblioteca, 1979; _______________, Segunda Ruptura Criminológica. Caracas:
Universidad Central de Venezuela, Facultad de Ciencias Jurídicas y Políticas, 1990;
______________, A América Latina e sua Criminologia. Rio de Janeiro. Revan, 2004;
SOZZO, Máximo, Viagens Culturais e a Questão Criminal. Rio de Janeiro, Revan,
2014; ZAFFARONI, Raúl. Em Busca das Penas Perdidas. Rio de Janeiro, Revan, 1991.

Maximo Sozzo tradutore traditore em Viagens culturais e questão criminal.


Criminologia tradução de saber hegemônico, com dois pontos altos na AL, o
positivismo e a criminologia crítica. Não tradução literal do texto hegemônico, seja no
positivismo, seja na criminologia crítica. Traduções não literais.
Zaffaroni: Criminologia e aproximações desde un margen. Realismo marginal.
Lei e ordem, realismo criminológico. Não negar a questão criminal, que é objetiva.
Realismo de esquerda. Zaffaroni realismo marginal, criminologia caudaloso rio, e
aproximações desde nossa margem latino-americana e periférica (Vera: criminologia
antropofágica – manifesto antropofágico de Oswald Andrade).
Fundador da medicina brasileira e antropologia, Nina Rodrigues, fez na Bahia
tradução acrítica da obra do Lombroso. Paradoxos. Pesquisas de campo. Livro “O medo
na cidade do RJ”, revolta dos Malês da Bahia, com fontes de Nina Rodrigues. Paradoxo
de marco teórico racista e realidade que emanava potência africana.
Bevilaqua e Tobias Barreto, autores críticos, na ambiência do século XIX,
discursos sobre a questão criminal. Ao ajustar o foco das lentes (Gislene Leder), quando
estudamos positivismo, nos assombrávamos com a quantidade de pesquisas empíricas
sobre a realidade brasileira. Paradoxos.
Os intelectuais da virada do Século XIX ao XX, seja no campo positivista crítico
ou acrítico, ou fora do campo (Tobias Barreto), essas pesquisas fazem com que esses
criminólogos/juristas estejam interpretando o Brasil a partir da criminologia, e não
querendo traduzir uma teoria e adaptar à realidade brasileira aquela teoria. É o mal dos
juristas, e o ensino do DP idem. Encaixar o povo brasileiro. Recuperar intelectuais que
escreviam romances, participavam da vida política. Não encaixar o Brasil em teoria
hegemônica.
Trazer Foucault para o Brasil, mas sem tradução literal. Ele diz que no século
XIX e XVIII, Europa ocidental abandona suplício para trabalhar disciplinas, mas no
liberalismo à brasileira, suplício nunca excluído, pois primeira CF liberal, CF/1824
legitima a escravidão quando diz que a propriedade rege toda a sua plenitude. Como
escravizados eram propriedade, a escravidão é legitimada sem que a palavra apareça.
Suplício e liberalismo ao mesmo tempo. Por mais que seja uma referência, não encaixar
o Brasil na teoria Foucaultiana ou Marxista.
Buscar a interpretação do Brasil a partir do nosso quadrado criminológico,
trabalhando com a história – não escrita – da criminologia na AL. Fragmentos: Clóvis
Bevilaqua, “Direito penal científico”. Ele colocou Euclides da Cunha como
criminólogo, “Os sertões”.
Roberto Lyra é fonte para trabalhar com fragmentos de fonte de criminologia
brasileira, que compõe a criminologia da AL. É um criminólogo modernista, não
positivista. Abolicionista penal à sua maneira. Nunca disse isso, mas faz crítica
contundente da prisão. Artigo Salo de Carvalho e Lucas Viana, que trabalham Roberto
Lyra na história da criminologia brasileira.
História da criminologia brasileira, periférica, fragmentos, história a ser escrita.
Marcos temporais.
Brasil penúltimo país a abolir escravidão (só Marrocos depois), e nas américas o
último. Século XVIII. Período anterior ao surgimento da criminologia como disciplina,
na república (XIX – XX), medo no fio da história produz discursos com relação ao povo
brasileiro. Embates contra o protagonismo dos afrodescendentes, africanos, povos
indígenas, na ideologia nação que se consolida em 1922. Ao longo do século XIX,
“Crime e guerra no Brasil contemporâneo”, na longa duração da história brasileira,
teremos o processo de constituição do sujeito matável, em cenário de naturalização do
genocídio negro e indígena.
521 anos de colonização. Indagar o passado, entender como povos indígenas
resolviam seus problemas. Povos africanos idem. E conhecer teoria hegemônica
europeia, conjunto das escolas criminológicas.
Na virada do século, de acordo com Massimo Pavarini (entender o objeto da
criminologia é entender a demanda por ordem), positivismo estratégico para fundação
de república conservadora que não vai dar protagonismo. Embates políticos da
república, entre república liberal mais radical, que perde a batalha, e republicanismo
conservador. O positivismo aparece estrategicamente em demanda por ordem, para
manter, via discurso científico, a população não branca como menor, fazendo
interpretação racista e autoritária do povo brasileiro. Darcy Ribeiro – O povo brasileiro.
Primeiro marco temporal é o surgimento da criminologia na virada do XIX ao
XX.
Segundo marco, república velha, 1930-1945, fundação do Estado brasileiro,
Brasil império, mas é governo de Getúlio Vargas fechado, historiografia conservadora
da USP contra Getúlio, “populista”, que é uma esfinge. Traços de autoritarismo. Vem de
processo revolucionário, coluna prestes, depois nazifascismo, depois estado
previdenciário, voto feminino, trabalhismo (não pai dos pobres e mãe dos ricos – mais
profundo). Livro Angela Castro Gomes, A invenção do trabalhismo.
Getúlio instituindo o Estado correicional, mas ao mesmo tempo o Estado de
bem-estar social. Prisão getulista interessante. Algo mais complexo. Sistematização do
Estado brasileiro como uma esfinge, correicionalista e bem-estar. “O positivismo como
cultura”. Período autoritário de Vargas, mas maiores conquistas dos trabalhadores.
Inclusive negros – dia da raça. Gilberto Felisberto Vasconcelos, O príncipe da moeda.
1945-1964 mesmo marco temporal. Getúlio de 1945 diferente, do queremismo.
Eleito nesse marco temporal com apoio do partido comunista. Trabalhismo e
comunismo se unem, um grande momento de emancipação do povo brasileiro, até
suicídio de Getúlio. José Celso Martinês Correa, encenou Os sertões em vídeo, diz que
em sua geração, o suicídio de Getúlio adiou em 10 anos o golpe militar, impedindo uma
grande articulação que produção o golpe de 2016. Povo se rebela, queima jornal.
Como a questão criminal perdeu espaço nesse marco temporal, entre 1945 e
1964. Há uma grande produção criminológica positivista de XIX-XX, depois grande
produção criminológica 1930-1945 positivismo correicionalista, que erige sistema
penal, prisões e polícia brasileira. Mas em período de crescimento econômico, depois
JK, abertura democrática e participação popular, baixa produção criminológica, com
poucos autores trabalhando a questão criminal comparada com a virada do século do
1930-1945. Tese do Rusche, de que o capitalismo nos momentos de bem-estar social,
preocupação com o criminal tende a ser menor, não fica no centro da questão política,
não seria isso? Pouca ênfase no penal, e mais narrativas criminais na literatura,
jornalismo. Texto Clarice Lispector, execução do Mineirinho.
Não é um vazio, mas na história da produção criminológica, Rosa Del Olmo AL,
livros publicados naquele momento, entre 1945-1964, narrativas, livros de traduções de
criminologia mais funcionais. Mas questão penal retoma com o golpe militar.
1964-1980. Outra ruptura. Especialmente nos anos 1970, uma criminologia da
resistência dos DH’s, feita pelos juristas, pois será resistência à ditadura. Questão
criminal entra por porta política. Depois ciclo das ditaduras militares na AL, e uma
proliferação de traduções literais/não literais da teoria criminológica crítica da Europa
para cá. Criminologia crítica se apresenta na AL, circularidade imensa, eixo central na
Venezuela com Rosa del Olmo e Lolita Anyar de Castro, grandes irradiadoras e
produtoras de criminologia crítica, além de professores que visitaram o país entre 70-80,
especialmente Alessandro Baratta, que anda pelo Brasil, AL, México, Venezuela, lido
por todos. Criminologia crítica que aparece como resistência ao poder autoritário da
tortura, morte, letalidade das polícias.
1973, crise do petróleo, crise de exportação, que detonou na AL as “décadas
perdidas”, 1980-1990, grande regressão dos direitos do trabalho, do emprego, do
desmonte do Estado de bem-estar social (Loic Wacquant), e começo de neoliberalismo,
capitalismo de barbárie, capitalismo pós-industrial.
Nesse momento histórico, a guerra contra as drogas tem papel fundamental.
Rosa del Olmo percebeu isso. Política criminal de drogas faz a transição da ditadura
para a democracia, fazendo o deslizamento do inimigo interno, subversivo, para
traficante, com estereotipo do jovem, preto, morador de favelas, sujeito matável da
nossa contemporaneidade. A política criminal de drogas não é só burra, é importante
para construção de controle social rígido, que detenha as populações empobrecidas e
sem emprego nas décadas de 1980-1990. Discussão no marxismo e o rotulacionismo, de
crise do capitalismo ou capitalismo com crises cíclicas (Rusche, não é história linear,
dependendo da demanda por ordem, mais ou menos prisões).
Wacquant, em 1990, disse que o neoliberalismo não destrói o Estado, senão
produz o Estado de polícia (Foucault – Segurança, território e população). Criminal no
centro da política. Todos criminalizados hoje. “Crime e guerra no Brasil
contemporâneo”, judicialização e criminalização a partir do fim da ditadura, mesmo
forças populares apostaram na judicialização, esquerda que perdeu o chão da fábrica
para litigio no STF e MP. Quem fala sobre a pandemia é o MP, não o médico de saúde
coletiva. Delírio judicializante. Dispara taxas do grande encarceramento, nas américas
como um todo, nos governos populares também (Brasil PT, aumento, política criminal
de drogas com aumento de 40% - lei que aposta em duas pontas esquizofrênica, duro ao
tráfico e brando do consumo, a ponta pobre é a ponta do tráfico).
Rebater crítica à criminologia crítica, de que não trabalhou raça e gênero,
decolonizada e racializada. Trazer autores desde a década de 1970, mostrar que na
história da criminologia crítica, há sim essa discussão. Fundadores da criminologia
crítica no Brasil, Roberto Lyra Filho e Juarez Cirino dos Santos (tradutores do
marxismo, às vezes até literal, mas que produziram edifício teórico metodológico
fundamental para pesquisas empíricas posteriores – alicerces teóricos no Brasil para
produção de criminologia crítica e empiria que nos alimentou a todos nós, Veras, Salo,
etc.), mas focar nas pesquisas empíricas posteriores.
Lyra Filho, proposta brasileira para a interpretação do que seriam os direitos, em
Direito achado na Rua. “Pelas mãos da criminologia”, Vera Andrade, história da
criminologia brasileira, dois eixos: teórico-crítico (Cirino), e histórico-crítico (Vera
Malaguti e Nilo Batista). Vera transita entre esses dois eixos. Criminologia crítica
brasileira entre esses dois eixos, teórico-crítico e histórico-crítico. Campo para produção
de pesquisas da brasilidade, texto do Boletim do IBCCRIM, “criminologia em
pedaços”.
Trabalhar criminologia crítica em torno dessa bibliografia da ementa, de 1970,
sem se referir à imensa produção criminológica que acontece nesse imenso marco
temporal de 2000-2020. Criminologia crítica que produziu esse campo fértil, para arar
empirias críticas na realidade brasileira, não positivistas, mas críticas.
Próxima aula Rosa del Olmo. Trabalhar metodologia, pauta latino-americana de
criminologia (sem pauta de lavagem de dinheiro, tráfico de pessoas e de drogas).
“Primeira ruptura criminológica” e “Segunda ruptura criminológica”, briga para criar
criminologia crítica latino-americana.

AULA 02

Mudou aula. Pergunta que acompanha as Veras (“Criminologia em pedaços” –


criminologia para a brasilidade), criminologia crítica não racializa, não trabalha com
gênero? História não escrita. O que é criminologia crítica, para a Vera.
Brizola, com Carlos Magno Serqueira, ICC. Mestrado Cândido Mendes.
Movimento da criminologia volta a acontecer. Quanto mais a questão criminal ia para o
centro da questão, como aconteceu após 1980, menos criminologia havia nas
universidades. Mestrado na UCAM. Há 30 anos, só Cirino Paraná, Salo e Amilton, Vera
Andrade e Vera Malaguti ainda se doutorando. Hoje, no Brasil todo. Interpretar o
neoliberalismo, quando ele estava entrando, e grande ruptura com a questão criminal
nos anos 1990, o grande encarceramento.
Sempre no campo da esquerda, campo popular, surge a pergunta de que
criminologia crítica não tinha propostas concretas. Resposta: A única que teve resposta
concreta, a outra só atualiza positivismo e funcionalismos, criminologia funcional ao
desenvolvimento do capitalismo. Acusam que criminologia crítica não trabalhou gênero
e raça. Trabalhar isso.
Criminologia não apenas crítica, mas da brasilidade, ligado à AL. Afinal de
contas, o que é criminologia crítica, que campo é esse que falamos? Falar da
criminologia crítica a partir de visão que Vera foi amadurecendo ao longo da vida,
militância acadêmica e da vida.
A criminologia crítica tem confluência daquilo que Vera Andrade chama de
acúmulo. Zaffaroni caudaloso rio que temos que observar da nossa margem, que vem
com os saberes hegemônicos. Essa acumulação de saber, para chegar à criminologia
crítica. Lolita dizia isso. Rosa del Olmo idem, dizem que criminologia crítica vem de
duas vertentes: a) Vanguarda do estrutural-funcionalismo da criminologia anglo-
saxônica (Stanley Cohen), para Baratta. Rosa del Olmo: A esquerda conhecia muito
pouco a criminologia dos EUA e Canadá (Margareth Bear). Acúmulo/encontro do saber
do rotulacionismo, momento histórico em que há o deslocamento do objeto no
funcional-estruturalismo, que passa a ser a ação dos sistemas penais, diferente do
positivismo, que estuda os sistemas penais como algo dado, laboratório de discurso
biológico. Agora, o objeto são os processos de criminalização. Desde estudos de
Sutherland, Becker, Goffman, trabalham processos de criminalização primária
(tipificações penais – o que é considerado crime), trazendo para o século XX a definição
radical de Beccaria do Século XVIII (o delito não é um fato em si, é um fato jurídico”),
frase que Carrara politiza a questão. Politizam no micro, não no macro. Além disso,
criminologia radical, marxista, nos EUA.
Ao trabalhar agências de controle penal como objeto, como agentes
criminalizadores, produtores. Quando Sutherland descobre as cifras ocultas,
criminalidade distorção estatística que recai sobre os mais pobres, esse acúmulo que
vem da criminologia funcional-estruturalista, que produz o que chamamos em
epistemologia de uma ruptura epistemológica, pois começa a negar o objeto em si.
Quem é o criminoso? Até Matza, que avançam mais ainda, trabalhando o que é ser
considerado desviante, técnicas de neutralização. Tudo isso, até chegar do ano mágico
de 1968 (Baratta) – sociologia estadunidense começa a fazer a passagem da negação do
conflito, no sentido de não negar mais o conflito. Manifestado do Darendorf,
convidando a sociologia a sair da ideia do consenso. Isso, no direito, é fundamental, que
trabalha a sociedade civil, não o conflito.
Em torno de 1968, tudo isso se radicaliza. Dois livros que mudam tudo, a partir
de 1968 (punição e estrutura social + vigiar e punir).
Criminologia crítica como lago com alguns afluentes.
b) Outra acumulação é o marxismo. Embora os clássicos do marxismo não
dedicados exclusivamente à questão criminal, tem textos de Marx Furto da lenha caída,
depois crítica ao conceito de igualdade no direito (ninguém criticou o iluminismo como
Marx – manifesto comunista; questão judaica; crítica ao programa de Gotha) + autores
marxistas, como Rusche (judeu, alemão, gay, comunista, manuscrito se perde, suicídio
1954) + William Bonguer (suicídio quando nazistas entram em Amsterdam – é mais
reducionista econômico, índices criminais e desemprego) + Pachukanis, grande crítico
marxista (quando se refere ao que fazer na revolução, cai nos biologismos, defesas
sociais – olhar livro no seu tempo), fuzilado no período Stalinista, mas é a grande leitura
crítica do DP marxista.
O abolicionismo penal e a produção anarquista sobre isso também faz parte
dessa história. Os anarquistas tinham leitura acumulada de crítica ao Estado e ao
sistema penal, à prisão, à polícia, que vem de longa data, e vai desafogar em vários
movimentos abolicionistas. O abolicionismo também, com lugar na criminologia crítica,
com crítica até mais radical. Há marxistas abolicionistas (Vera); liberais radicais
abolicionistas; anarquistas abolicionistas. Mas o primeiro congresso internacional
abolicionista, de 1981, no Canadá, organizado pelos Quackers (protestantes radicais,
quase socialistas, interessante nas lutas contra a guerra do Vietnã, em 1968), e o
abolicionismo negro estadunidense (Angela Davis, membro do partido comunista
americano, sempre abolicionista, e toda discussão em 1968, movimento negro na
vanguarda na luta contra as prisões – e isso é pouco dito e escrito nos livros sobre essa
história). Abdias do Nascimento casou com Elisa Larck, estadunidense, que o conheceu
através das lutas pela liberação dos Panteras Negras.
Esse caudaloso rio, de Zaffaroni, desagua nesse campo crítico.
Vera: O grande divisor de águas, numa história da criminologia, é ser ou não
discursos legitimantes da pena. Criminologia crítica são todos os discursos
deslegitimantes da pena. Garantismo legitimante da pena, como foi o do Ferrajoli.
De onde surgiu que criminologia crítica não era racializada?
Baratta: Criminologia crítica é o desdobramento do autor (não DP ou
criminologia do autor) para perspectivas objetivas estruturais e funcionais, e
deslocamento das causas (abandono do paradigma etiológico) para mecanismos de
construção social. Enfoque macrossociológico, não apenas o objeto, mas o que acontece
geopoliticamente e historicamente. Pavarino: Para entender o objeto da criminologia,
deve-se entender a demanda por ordem (para entender a criminalização da bruxa,
entender a demanda por ordem dos projetos de centralização da igreja, surgimento dos
primeiros processos de acumulação de capital e centralização do Estado, depois
mentalidade obsidional Delumout, até século XVIII).
Ferri, positivista e sociólogo, tralhava a causalidade social da criminalidade.
Bonguer, marxista e socialista, também cai nessa armadilha.
Criminologia estadunidense apenas após bem-estar social, Roosevelt.
Mesmo que aprofundemos no objeto, ainda é macrossociológico. Interferir e
trabalhar a partir da realidade.
O final do livro do Baratta tem um problema, que a Paula Cavalcanti
desenvolveu em seu livro, o problema da criminologia crítica dos anos 1970 (não
preveria os movimentos do capitalismo, neoliberalismo e décadas de 1970-1980). Surge
o realismo de esquerda, Brasil transição democrática, políticas de segurança pública e
polícia democrática. Falar de polícia hoje igual a 30 anos atrás? Movimento negro nos
EUA cheio de ideias radicais e interessantes sobre a polícia.
Baratta: Prisão momento superestrutural essencial para manutenção da escala
vertical da sociedade. Sistema penal reproduz a realidade social. Faz um continuum
entre a escola, discriminações, segregações, estereótipo – filtros sucessivos entre a
escola e a prisão. Prisão é cerimônia de degradação, regimes de degradações, processo
de desculturação e aculturação.
Adeus às ilusões “re”. Os bons carcereiros. Abandonam praticas soviéticas
penais, equívocos no nosso campo, da história das revoluções.
Relação entre cárcere e sociedade, quem é excluído e quem exclui (Baratta),
segue de mil modos (in)visíveis.
Dois livros que fundam a criminologia crítica:
Punição e estrutura social (Rusche e Kirchheimer 0 livro de 1938, escrito pelo
Rusche, e Kirchheimer o completa, após morte, com equívoco clássico da criminologia
crítica dos anos 1970, achando que estado de bem-estar social pré-queda dos EUA,
também no livro do Baratta último capítulo, tendência do capitalismo é diminuir
tamanho, pois não funcional econômica no capitalismo. Wacquant – funcional de outras
formas, não trabalho dos presos, mas privatização dos presídios). Artigo do Melossi,
“Rusche a biographical essey”, história desse manuscrito. História do Rusche trágica,
não consegue nunca sair de Frankfurt, que migra para NY, no período de Rooseveelt.
Seu livro é traduzido, mas não é publicado. Antes disso, manuscrito se perde, Inglaterra
e guerra com Alemanha, preso como espião. Livro só traduzido em 1968, ano mágico,
revolucionário.
Vigiar e punir, interpretação do Foucault + estudos sobre a prisão.
Livro do Rusche entre 1938-1939, e lido depois de 1968. Primeiro a relacionar
condições sociais, mercado de trabalho e sistema penal. Ninguém mais do que o Rusche
historicizou o sistema penal. A tese dele é que quando o capitalismo tem braços/mão de
obra com muita oferta, as penas tendem a ser mais cruéis/massivas e a incidir sobre o
corpo, pois braços não necessários. Explicar extermínio Brasileiro hoje isso. Foucault,
século XVI, mercantilismo, muda – pena de Galés, funcional ao mercantilismo [remar];
desterro. A ideia importante é que o Rusche nos dá uma pista de que o sistema penal
não é ontológico, ele difere de acordo com as demandas por ordem (Pavarini), de
acordo com as fases de desenvolvimento do capitalismo na Europa. Construção
europeia.
Problema do livro, Kirchheimer, século XX tendência das penais mais
condicionais, trabalho na prisão perdem valor econômico, probation. O que aconteceu
foi o contrário, a partir de 1990. Vários autores críticos vão atualizar na virada do século
XX para o XXI, com a crise do capitalismo, neoliberalismo, crise estrutural do
emprego. Sem ideal do capitalismo intervencionista Keynesiano de pleno emprego.
Discussão marxismo trabalho, mais-valia, teoria do valor, Marildo Meneguet.
Vigiar e Punir: Foucault lê e cita pouco Rusche. Joel Rufino dos Santos, livro
“Époras do social: de como os intelectuais podem trabalhar para os pobres”. Ele faz
categorização dos intelectuais brasileiros, e faz uma dos intelectuais pedantes. Como
tem pouca citação em seu livro, e cita pouco Rusche. O capítulo sobre disciplinas, é
completamente embebido do capítulo de disciplina do livro do Rusche. O Foucault
pegou o livro do Rusche e levou adiante ao futuro, em caminho luminoso. Texto “Marx
com Foucault”, Alexandre Mendes UERJ. Foucault do partido comunista Francês, até
invasão Hungria. Trabalha com economia política do corpo, microfísica do poder,
trabalhando instituições penais como poder exercido como estratégia. Não trabalha
classe, senão indivíduo X Estado como rede de relações tensas, mas incorporado em seu
discurso a questão das classes, está implícito. Fala de disposições, manobras, táticas,
técnicas e funções, mas dentro dessa visão maior, de economia política do corpo (teoria
da mais-valia marxista).
A grande virada de Foucault: Na França, da ordenação de 1670 até revolução, as
formas gerais de prática penal, rígida hierarquia de castigos, com questão simbólica, do
crime de lesa-majestade, do suplício, que Foucault descreve como técnica que repousa
na arte quantitativa do sofrimento (pena é produzir dor), e que seria um ritual
organizado, onde o poder é marcado no corpo do condenado. Seria uma manifestação de
força, uma função jurídico-política, um cerimonial de reconstituição da soberania
lesada. Ritual sem limites.
As técnicas funcionais até revolução francesa, a partir do século XVIII, passam a
ser perigosas, pois cerimônias começam a produzir solidariedade popular. É tudo o que
a mídia de hoje faz para não nos solidarizarmos com criminalizados e criminalizáveis,
nós e eles (categorias fantasmáticas da criminologia do senso comum). Crítica da
reforma das luzes – iluminismo não é a razão, mas nova estratégia política, que não é
punir menos, mas punir melhor, racionalmente, punição e repressão função regular, mas
criando nova tecnologia do poder de punir, que tem a ver com o sistema penal da
revolução industrial (mudanças na tecnologia de punir).
O mais importante: Constitui-se um sistema concebendo para gerir
diferencialmente as ilegalidades, e não suprimi-las. O iluminismo jurídico penal surge
para gerir diferencialmente as ilegalidades populares. Não à toa é o DP da revolução, do
medo do povo. Chegamos até aqui, mas agora não será mais assim. Aquilo que
Sutherland chegou, cifras ocultas, seletividade, Foucault trabalha de outra forma. Nova
tecnologia do poder de punir, produz arquitetura de fábricas, escolas, asilos e prisões.
Dessa arquitetura institucional que se forma sociedade disciplinar, que vai produzir a
decolagem econômica do ocidente (nos asilos, manicômios, prisões, o trabalho
obrigatório, a salvação é pelo trabalho).
Paralelo com política criminal de drogas: Desde o primeiro relatório da primeira
prisão, de Howard de 1777, igual hoje. Gislene Neder, “Discurso jurídico e ordem
burguesa no Brasil”, mostra o primeiro relatório do Ministério da Justiça sobre a
primeira prisão, casa de correção, igual ao do Howard. Foucault: O aparente fracasso da
prisão esconde seu principal objetivo (o aparente fracasso da política criminal de
drogas), que é organizar a transgressão das leis em tática geral de sujeições,
subjetividades, subjetivações. A justiça é o principal instrumento para o controle
diferencial das ilegalidades populares.
Depois disso, tivemos um vácuo, uma leitura da década de 1970, que já não
encaixava no que acontecia, a devastação do neoliberalismo na AL. Décadas de 1980 e
1990, décadas perdidas. Wacquant livro criticável, datado, mas ele vai fazer a
atualização para o final do século XX do livro do Rusche: Não é que está se
desbaratando o estado social, é que o penal está começando a substituir as redes
coletivas. Aquela população que deixa de ser atendida no declínio do Welfare State nos
EUA e Margaret Tatcher na Inglaterra, populações começam a aparecer criminalizadas,
nas prisões. Livro “Gestão da miséria penal”, pobreza criminalizada. Trabalha não só
estatística e economicamente, mostrando deslocamento da população afrodescendente,
deixando de ser atendida aqui e atendida lá + produção e cultura de subjetividade,
projeto tolerância zero.
Técnicas, até o texto “Crime e guerra no Brasil contemporâneo”, da Vera
Malaguti, criminal centro da gestão da vida pública. Gestão policial da vida, policização
da vida, policização do MP, do PJ, da sociologia e das ciências sociais. O problema
agora é a desconstrução do que Foucault chamou de Estado de polícia em outro livro.
Problema de transporte, operação policial, prende alguém. Políticas públicas passadas
por filtro policialesco jurídico-penal.
É esse campo que autores trouxeram. Livro do Wacquant totalmente ligado à
questão racial. Professor francês branco, foi para EUA para fazer etnografia sobre boxe,
discípulo de Bourdieu. Lugar afro, academia de boxe, e todos perguntavam se ele já foi
preso, quantas vezes. Começou a ver que a maioria das pessoas já presas. Livro
racializado.
Essas traduções vão para a AL como um todo, produzindo novas pesquisas e
teorias a partir de objetos locais.
Ampliar conceito do que é criminologia crítica, com afluentes da vanguarda do
funcionalismo e da criminologia liberal estadunidense, marxista, anarquista e
abolicionista, produzindo então o grande demarcador dos discursos criminais: é
(des)legitimante da pena. Tobias Barreto, deslegitimante da pena, crítico (não é
positivista). É esse o campo de criminologia crítica, que iremos desvendar, tentando
construir uma história dessa tradução da criminologia crítica para a realidade latino-
americana, completamente ligada à realidade latino-americana.

Perguntas:

Perigo de cooptação de discursos pelo conservadorismo. Transfobia no


feminismo. Angela Davis e Flausino (artigo em “discursos sedisiosos”). Há uma
possibilidade de reencontro de movimentos, inclusive potente para difundir
abolicionismo.

AULA 03

Movimentos identitários acusam criminologia de não ter racializado ou


generificado a questão criminal. Trabalhar a partir da nossa margem. Somos muito
isolados, não conhecemos o maravilhoso campo criminológico que AL tem.
Cirino e Lyra Filho, que traduziram criminologia marxista literalmente,
necessário par produzir campo de saber de pesquisas empíricas no Brasil. A partir deles.
Trabalharam para produzir a criminologia da brasilidade (Vera Andrade), com base
crítica sólida. O que é a criminologia crítica, afinal? Caudaloso rio das ideias
criminológicas (Zaffaroni). 1968 ano fundamental historicamente para o pensamento
crítico e ação política nas américas, países socialistas, Europa. Depois, livro Rusche
resgatado em 1968. Vigiar e punir, Foucault. Dois clássicos da criminologia crítica.
Depois, Cárcere e fábrica, livros latino-americanos. Pátria grande.
Alvino de Sá, criminologia da USP, começa como psicólogo positivista, depois
Zaffaroni “Em busca das penas perdidas”, se dizia o homem da praça, contador de
histórias.
O que foi 1968, anos 1970, e construção de criminologia crítica periférica da
AL. Próxima aula Rosa del Olmo (“A face oculta das drogas” + “Rupturas
criminológicas”). Ela foi a primeira a trabalhar um projeto inacabado de construção de
história da criminologia na AL, não só da criminologia crítica (“AL e sua criminologia”,
focando na criminologia crítica) + Maximo Sozzo (“Traduytore traditore”) + livro
Anitua (“História dos pensamentos criminológicos”). Sozzo tenta recuperar essa história
no “Viagens culturais”, mas Rosa foi a grande artífice de olhar latino-americano sobre a
questão criminal, na construção de caminho metodológico (Lyra, Cirino, Zaffaroni,
Lolita Aniar de Castro, e Rosa especial). Criminologia latino-americana como
atualização da história do sujeto matável – quem se criminaliza e quem sociedade tem
medo (escravizado quilombola, rebelde, capoeira, sambista, sem-terra, fukeiro,
comerciante varejista de drogas, mulheres encarceradas). Nosso objeto é o alvo do
poder punitivo como um todo.
Tanto a primeira como a segunda ruptura, a face oculta das drogas e AL e sua
criminologia, é um convite para pesquisar realidade latino-americana. Homenagem à
Rosa metodóloga.
Marcos temporais, totalização (Milton Santos), atravessando espaço e tempo.
1970, pensar qual era a demanda por ordem (Massimo Pavarino – objeto da
criminologia é a demanda por ordem), os ciclos das ditaduras civil-militares na AL.
Criminologia na periferia (não positivista, pois é legitimadora), crítica, no Brasil e AL, é
a da resistência às ditaduras. Rosa era super crítica, por isso ela faz crítica a como, de
uma certa forma, essa criminologia de 1970 era muito militância jurídica, luta pelos
DH’s (Amilton Bueno, Cirino, Tavares), defendendo presos políticos e produzindo a
resistência. O discurso jurídico entra na criminologia – sempre tem ganho (medo
quando só sociologia, sem trabalhar junto com o direito penal). Não apenas traduções de
Rusche/Marx ou Foucault. Eram separados e críticos. Nilo Batista lia os dois. Gislene
Neder. Isaidê Machado Neto. A esquerda demorou para entender Foucault, que tem
formação marxista e depois abandona, nega e critica, mas fez parte desse olhar que
atualizou e avançou.
História do presente, de 50 anos atrás (Capítulo IX Anitua – movimentos de
libertação nacional e as criminologias latino-americanas): A gênese da criminologia na
AL, nos anos 1970, o devir revolucionário era algo fundamental. Revolução Cubana em
1958, com impacto enorme nas Américas, mas antes há a revolução mexicana Zapatista,
fora da Europa, história linda, assim como Revolução do Haiti influenciou no Século
XIX, e poucos conhecem. Devir revolucionário está impregnando saber acadêmico, DP
e criminologia crítica. A ideologia da libertação. Entre 1960-1970, vários movimentos
(Montoneiros, Tupac-Amaru, MR-8 e Aliança Nacional Libertadora Brasil), com pauta
anti-imperialista (não usava colonialista), e América Central, guerrilhas (Colômbia, as
FARC, história desde grande massacre no partido comunista nos anos 1950, depois
1960 deposição de presidente não socialista, mas progressista, na Guatemala, e vários
movimentos revolucionários [revolução sandinista 1980]). Se contrapõe ao que era
chamado, nessa criminologia que começa a surgir, ao terrorismo de Estado. Demanda de
ordem era de tortura, militarização intensa. Ditaduras com ilhas. Joel Rufino dos Santos
se exilou na Bolívia, Darcy Ribeiro. Em 1974, primeiro congresso de criminologia
crítica na Venezuela, fundamental para surgimento da criminologia crítica na AL. Nilo
deu aula nos anos 1980 em mestrado que Lolita e Rosa, trazendo Nils Cristie, Stanley
Cohen, Basaglia (desmanicomialização, impulsionou reforma psiquiátrica no Brasil).
De 1970 para frente, a tese do Basaglia entrou no processo de redemocratização
brasileira, e inúmeros psicanalistas e psiquiatras participaram desse processo, e o
manicômio caiu, mas prisão ficou, não foi desconstruída. Basaglia diz que a velha
criminologia morreu, em congresso em Maracaibo, periferia da periferia.
Rosa começa a fazer crítica da criminologia crítica nesse congresso como
realidades distanciadas da realidade brasileira. Questiona as traduções literais de
Foucault e Marx. Não podemos ser copistas das teorias, mesmo que críticas. Daí que
Sozzo pega “Traduttore traditore”. Rosa dizia que não queria fazer “má digestão de
teorias alheias”, copistas. Foi a tradutora da criminologia anglo-saxônica crítica,
juntando teoria do desvio e teoria marxista. Grande tradutora, não copista. Trabalhava
com teoria da dependência (Enzo e Falleto, FHC). Livro Darcy “O processo
civilizatório” (teorias da dependência).
Rosa del Olmo escreve livro pequeno sobre a história da criminologia na
Argentina. Quando ela fala das rupturas – com estudos datados – ela fala da ruptura
metodológica no sentido de nos atirarmos em nossa realidade, trabalhar com enfoque
multidisciplinar, crítico e radical, com pauta específica. Ter a própria pauta. Tráfico de
pessoas (e não migrações ilegais), lavagem de dinheiro (incapacidade de poder
financeiro de mapear capital financeiro na periferia), reproduzindo pauta do FMI na
questão criminal. Instar a produzir nossa própria pauta, visão latino-americana sobre
drogas, criminologia.
Duas fundadoras da criminologia crítica na AL, Lola e Rosa.
Lola Aniar de Castro: Formação na Espanha, funda instituto de criminologia da
Universidade de Zulia. Critica positivismo, rotulacionismo. Trabalha com a ideia de
criminologia da reação social. Ela vai propor, como Vera, a conjugação do
rotulacionismo, interacionismo simbólico na criminologia, com o marxismo. Trabalha,
assim como Rosa, devires revolucionários, intervenção na realidade.
Confluência de exílios: México, Costa Rica, Venezuela, Peru e Bolívia –
pensamento criminológico na ambiência cultural do exílio. Chile exílio, mas golpe
muito rápido. Uruguai, Brizola, e depois NY, graças ao Cárter. Em torno desses lugares,
tinha uma profusão de discussão criminológica crítica. Zaffaroni, na argentina,
criminologia crítica realista marginal.
No Brasil, RJ, 1985, encontro do Instituto Interamericano de DH’s da OEA
(Fragoso, Tavares, Lyra Filho, Cirino, Batista). A grande contribuição e pesquisa
coletiva da criminologia latino-americana “Sistema penales e derechos humanos em
América Latina”, coordenada pelo Zaffaroni. Revista de Direito Penal, da UERJ.
Criminologia da reação social – poder penal subterrâneo, Lolita. Artigo “O
jardim ao lado”, crítica ao penalismo conservador, dizendo que a libertação não é
campo fechado, e que criminologia não pode ser neutra. Bergali propõe o fim da
criminologia (Basaglia – velha criminologia morreu) em 1980, a partir dessa polêmica
entre Lola e Novoa Monreal, começando uma sociologia jurídico-penal. Baratta se
insere.
Crítica à crítica (Rosa), e crítica da filosofização e juridicização da criminologia,
contra Baratta (traduções literais – pauta de criminologia latino-americana).
Criminologia crítica no Brasil começa com traduções literais marxistas de Lyra Filho e
Cirino, este quem traduziu Baratta.
Rosa mostra o nascimento positivista da criminologia, até ruptura da
criminologia crítica.
Esse mosaico compõe a criminologia na periferia, latino-americana.
Criminologia crítica para produzir teoria deslegitimante da pena.

AULA 04 – ROSA DEL OLMO

Agozino Bico, “Counter-colonial criminology: uma crítica da razão imperialista”


(2003), livro muito importante de professor nigeriano, que faz criminologia na periferia
contemporânea + “La descolonizacion de la criminologia en America Latina”, de Alagia
e Codino (2019) + Ana Luiza Flauzina, “Corpo negro caído no chão” (2008) – rupturas
que criminologia crítica na periferia produz.
Metodologia de pesquisa em criminologia de Rosa del Olmo. Maior criminóloga
contemporânea no mundo. Muitas pesquisas empíricas da realidade latino-americana,
porém pouco conhecida.
Adileia Castilho, Revista Venezuelana de estudos da mulher, 2008, v. 13, a. 31,
que faz recorte na obra da Rosa. Produção sobre gênero. Socióloga e antropóloga.
Feminista e revolucionária. Mãe Catalã ativista contra Franco na Espanha, lutadora da
república, responsável pelo exílio dos filhos dos republicanos para França e México,
morrendo no exílio, no México, quando Rosa tinha 12A. Estudou sociologia na
Universidade de Wiscotsen, e viveu os anos 1970, depois mestrado e doutorado em
Cambridge. Ligação com criminologia anglo-saxônica, criticando o Barata. Textos
sobre drogas em 1971, uso indiscriminado de psicofármacos. Relação forte com
revoluções da AL (Cuba e Nicarágua [Los tiguines de somoza]).
O tempo das grandes derrotas da esquerda são bons para fazer autocrítica, crítica
à política de drogas de Cuba, e Nicarágua mesmo presidente desde 1980.
Extensa produção bibliográfica. Produziu olhar latino-americano sobre drogas
no Brasil.
Ruptura criminológica, 1979 + Segunda ruptura, 1990 (livros datados, um pouco
de realismo de esquerda) + AL e sua criminologia + Criminologia argentina + Face
oculta das drogas, etc. Racializou e generificou sua produção inteira. Grande tradutora
também.
Ruptura criminológica (1979): Política criminal, nem importada nem imposta a
nós, e não trabalhar a ideia do delito como fenômeno universal, senão a partir da
realidade da AL. Estudo sobre “bandas juveniles”, gangues, trabalhando problemas
metodológicos de pesquisa. Pergunta: Existem gangues nas classes altas da Venezuela?
Já trabalha a ideia do rótulo. Produtora de estatísticas.
Teoria criminológica nem abstrata nem universal. Violência estrutural da AL.
Realidade colonizada, com os vestígios do genocídio dos povos originários e
escravização e história de colônia da AL. Produção decolonial, a partir do olhar latino-
americano.
A segunda ruptura, 10 anos depois, foi para desmistificar os pressupostos
principais da criminologia. Literatura como testemunho. Briga “o jardim ao lado”.
AL e sua criminologia. Transnacionalização do controle social – encontro entre
guerras, pós-guerra e ideologia da defesa social, e depois consumação da ideia do
indivíduo delinquente. Em cima disso que Sozzo escreve tradutore traditore.
As primeiras importações: a penitenciária e os CP’s (políticas criminais). Depois,
gabinetes de identificação (“Intenção e gesto”, Olívia Gomes da Costa, estudando o
começo da identificação no começo do Século XX) + institutos de criminologia e sua
metodologia de exame da personalidade do delinquente. Esforços continentais de
difusão.
A criminologia na Argentina: Trabalha antecedentes na Argentina, como
criminologia crítica. Condições sociopolíticas em que se consolidou, trabalhando
imigração e desenvolvimento do movimento operário, resposta governamental (leis e
prisões), trabalhando principais fundadores. Sociologia sem história é osso sem carne,
recai sempre em positivismo funcionalista. Sociologia historicizada é caminho
importante.
“Face oculta das drogas” + “Geopolítica das drogas”: Saturação funcional à
ocultação do problema – bodes expiatórios, pânico moral. Produz bode expiatório ao
demonizar envolvidos no comércio de substâncias alcançadas pelo proibicionismo.
Discurso médico sobre as drogas, depois discurso jurídico-penal, e na política criminal
de drogas, estereótipo médico que trabalha vítima, doente, epidemia, jargão da saúde
pública, e discurso jurídico penal com estereótipo do criminoso, narcotraficante,
inimigo, guerrilheiro. Historiciza questão de drogas, e ambos os olhares produzem olhar
que oculta o político e econômico, trabalhando o problema das drogas como psicológico
e individual. Politização latino-americana sobre as drogas. Policização das forças
armadas.
Começar com “AL e sua criminologia”.

AULA 05 – EUGENIO RAUL ZAFFARONI E NILO BATISTA


Zaffaroni e Rosa, criminologia do lugar, da AL. Criminologia não separada de
seu DP. Quando a criminologia se afasta muito do DP, historicamente não foi um bom
sinal – sociologia sistêmica; psiquiatria, medicina e psicologia individualista, fica
positivista. Se perde. Sem a história e o DP, perde grande parte do seu sentido.
Zaffaroni nasceu em 1940. Foi juiz. Formação católica. Pensa a AL através do
DP. Densa formação em filosofia. Gay. Grande responsável pelo casamento igualitário
na Argentina, construção jurídica dele. Criminólogo com presença impressionante na
ruptura dos anos 1970. Quadro fundamental hoje na Argentina, com grande influência –
diferente dos governos populares daqui, vide o STF – conseguindo ocupar espaço
político com seus discípulos, nos tribunais regionais, superiores e políticos. A questão
criminal na pátria grande. Não é marxista, várias vezes equivoca-se nas críticas. Não é
abolicionista penal.
“Criminologia: aproximaciones desde el margen” (1988): No prefácio, ele diz
que na dogmática, faltava algo, a política criminológica e sua estreita dependência da
política geral, e dogmática penal imenso esforço para racionalização de criminalização
irrealizável, de cuja origem criminológica positivista é racista e colonialista. Propõe
realismo marginal. Contrapõe realismo marginal, a partir da nossa margem, dialogando
com os realismos de esquerda e de direita no panorama criminológico em geral.
Incorpora livro fundamental (Guerreiro Ramos + Darcy Ribeiro [O processo
civilizatório]). Incorporação da AL no processo do capitalismo central. Incorporar nossa
realidade através de nossa história. Discurso criminológico em seus marcos temporais,
saber repressivo da colônia e sustentador após primeiras potências industriais.
Resistência ao genocídio colonizador. Movimentos do Tupac Amaru (questão indígena).
Revoltas bolivianas. Sublevação de Pablo Zarat. Movimentos indígenas na Bolívia.
Criminologia na periferia é de resistência ao poder punitivo, dentro do marco da nossa
incorporação ao capitalismo central. Desenha um quadro onde mostra que Américas são
experiência única (Darcy), caldeamento de povos originários, povos africanos no Brasil
e povos rejeitados na Europa (degredados portugueses, imigrantes pobres, expulsos pela
inquisição e movimentos de exclusão e segregação da Europa, pobres do sul da Europa),
orientais e Chineses. E positivismo surge como grande discurso homogeneizador. Saber
criminológico como racista e colonialista, produzindo o primeiro apartheid
criminológico, construção do estereótipo pobre, selvagem e feio.
O segundo livro, “Em busca das penas perdidas”, em 1989 (Difíceis ganhos
fáceis, Vera): Dedicado ao Luk Houslman (Penas perdidas). Discurso de deslegitimação
do sistema penal na AL, trazendo para o centro a crise de legitimação do discurso
jurídico penal no nosso continente. Construção do discurso jurídico penal a partir da
ideia do realismo marginal do livro anterior. Situação crítica do sistema penal latino-
americano, com discurso crítico do DP, esgotadas justificações. Realidade letal.
Sistemas penais da AL como realidade letal. Seletividade, reprodução da violência.
Estruturais de todos os sistemas de poder penais – sem ilusões “re”, de criminologia que
quer produzir boa prisão e boa polícia. Renúncia expressa à legalidade penal por
controle militarizado sobre população pobre e dissidentes. Repressivo ao interiorizar a
disciplina, configurando sociedade de vigilância da sociedade (meios de comunicação).
Propõe uma clínica da vulnerabilidade, não como a sociologia trabalha de forma
vulgar (Edson Silva – crítica à sociologia da vulnerabilidade, que produziu os
programas dos governos populares). Olhar para a policização. Vulnerabilidade ao poder
punitivo, e não como sinônimo de pobreza, marginalização, eufemismos que sociologia
gosta de dizer para não falar pobre (Joel Rufino dos Santos, pensador negro, categoria
“pobre”). Brizola, “populações carentes” – “me chama de pobre”. Clínica da
vulnerabilidade, vulnerabilidade ao poder punitivo – incorporado por Alvino de Sá, que
fez a passagem de professor de criminologia de psicólogo de laudos do sistema para
criminólogo crítico a partir da clínica da vulnerabilidade, policização dos policiais,
academia, sociologia.
O último texto, sobre Wayne Morrison, trabalhando o conceito criminológico do
Matza, “técnicas de neutralização”, dizendo por que a criminologia latino-americana
não quis trabalhar o genocídio, que fica em rubrica dos DH’s, não incorporada pela
criminologia, quando os grandes massacres (“A palavra dos mortos” – massacre a conta
gotas, genocídio neocolonizador) e genocídios aconteceram ou pelas forças policiais ou
forças armadas sendo usadas como polícia. Um assunto e questão criminológica.
Massacre a conta gotas, quando olha o conjunto da obra e quem é morto, vê um
genocídio em curso, como o movimento negro trabalha, Abdias do Nascimento.
Raul lança livro novo de criminologia, incorporação disso tudo, de criminologia
desde o princípio racializada, “descolonizada” (criminologia crítica latino-americana faz
isso o tempo todo, é sua essência), feminina (Rosa del Olmo e Lola Aniyar de Castro –
Venezuela). Epistemologias do Sul, Boaventura, criminologia do ser-aqui, periférica.

NILO BATISTA – PENSAMENTO JURÍDICO-PENAL DO ZAFFARONI

Zaffaroni penalista. Origens: 1973, jovens penalistas latino-americanos


surpreendidos com o volume “Teoria del delito”, com uma qualidade surpreendente,
professor da Universidade Católica de La Plata – jurista católico, e agora mais do que
nunca, amigo do Papa, fantástica viragem jurídico penal (antes 1960, Pio XII, Epístola
de Paulo, espado), guinada, doutrina penal da igreja católica. O fim da dogmática, “filha
do positivismo”, era segurança jurídica. No mesmo tempo, artigo de professor espanhol,
Enrique Ginbernard Ordeit – “Tem a dogmática jurídico-penal futuro?” – e Welzel diz
que foi uma pena não ser um alemão escrito. Exaure a ilusão da dogmática na segurança
jurídica, era o máximo que tínhamos.
Em 1980, aparece o tratado de DP, 5 volumes, obra imponente. Ele já era juiz,
mais conhecido. Ainda ali, a função do DP era produzir segurança jurídica. Já faz a
teoria da pena, levantada a partir de Anton Bower, mentira que todo manual de DP tem,
retribucionismo, o que era a onda dos professores alemães, progressistas, sonho do
projeto alternativo, tinham se despedido (movimento do Adeus a Kant e Hegel), em
nome de “prevenção integrativa” de Roxin, como se a pena tivesse integrado algo ao
longo dos séculos. Crítica ao retribucionismo, ficando no compósito da prevenção
reintegrativa.
Pesquisa no Instituto Interamericano de DH’s. Pesquisa feita em 16 cidades
latino-americanas, mudando a vida de quem participou. Sistema penais, nos
desempenhos reais, confrontados com manuais de DP esperançosos, viram que não dava
para seguir nesse sentido.
Faz o “Em busca das penas perdidas”. DP da descrença, mas não DP da
colaboração. Capacidade de trabalho fantástica. Mais crédulo. Livro Nilo, anos 1970,
dizia que não existe DP subjetivo, senão poder punitivo.
Dominabilidade não pertence à dogmática conglobante, mas á tipicidade, Autor
comissivo doloso deve dominar o fato. Mudou. Mais próximo da autoria, categoria –
especialmente nos crimes especiais – na tipicidade objetiva sistemática. Ele colocou na
conglobante. Mudou.
Teoria negativa da pena: Descoberta do Tobias Barreto, e a partir daí, e de
outros elementos – comparação com a coerção direta, medida constritiva, não raro
violenta, mas que dispõe de racionalidade, pois remove perigo, assim como prisão em
flagrante, é medida constritiva, violência, mas com racionalidade. Mas a pena não, é
sempre a sangue frio. Perversidade do distanciamento. Crimes de ímpeto – os grandes
achavam que era culposo (Homero, dados, mata, sem tento [resíduo disso, homicídio
privilegiado, injusta provocação violenta provocação da vítima). Nilo não gosta do
nome agnóstica (inacessível o conhecimento), Zaffaroni gosta, mas todos sabem para
que a pena sabe. Teoria negativa, pois não sabemos uma função positiva, a não ser
infligir dor e violar direitos, que não é positiva. Danos, males. Pena portadora do mal no
DP. O máximo mal.
Tentar reduzir ao máximo possível a pena, pois é infecunda, estéril, ao contrário
de outras sanções, que representam uma alteração animadora na ordem social (sanção
reparadora, simbólica ou real, restitutiva). Pena é inflição de dor.
A dogmática teleológica-funcional redutora: A funcionalidade de dogmática
comprometida com a realidade é conter ao máximo possível do poder punitivo, que é o
elefante nas sociedades de classe, injustas. Se sabemos que o sistema penal é isso,
função da dogmática é conter ao máximo possível o poder punitivo, controlando os
processos de criminalização, controlando sua legalidade, constitucionalidade,
racionalidade (CTB não pode aumentar a pena por omissão de socorro ainda que vítima
esteja morte, pois direito não pode sancionar o descumprimento de deveres inúteis). É
isso uqe podemos dispor – legalidade, constitucionalidade/convencionalidade e
racionalidade.
O mais importante é compreender o espaço da teoria do delito como espaço do
conflito entre poder punitivo e direito penal (saber jurídico que se ocupa da
interpretação das normas penais). Lei penal, programação criminalizante. Poder
punitivo. Agências que o viabilizam é sistema penal. Direito penal é o nome desse saber
jurídico redutor. Teoria do delito campo de permanente confronto dialético entre poder
punitivo que quer se expandir através do sistema penal, e DP que quer conter o sistema
penal, com os filtros da legalidade, racionalidade e constitucionalidade. Não consegue
conter 100%, ver racionalidade da pena.
Tipo objetivo conglobante: Se teoria tivesse escrita em Alemão, até japoneses
estariam falando dela (Prefácio). Nos permite trabalhar mais de perto com elemento
fundamental ao jurista, a antinormatividade. Não mundo Bindingano de normas e
valores neokantianos, ethos do DP germânico. Onde se vê matar alguém, pena de 6-20
anos, extrai norma, proibido matar. Deixar de prestar socorro a criança, há norma, não
no plano da moral ou dos valores, senão no plano da sintaxe desse tipo legal, obrigado a
socorrer criança abandonada. É o material de trabalho dos juristas, normas. A primeira
coisa a verificar, depois da tipicidade sistemática (confluência do pragma típico do
acontecimento com o tipo legal), verificar se há lesividade, se há antinormatividade. No
país que tem pena de morte, quando o carrasco dá a injeção letal, está matando alguém,
e besteira dizer que fez conduta típica. Norma do homicídio recortada pela norma do
dever jurídico de quem mata. Recortou a norma. Não há antinormatividade. Não precisa
dizer que é típico mas antijurídico. Exercício de dever legal, antinormatividade. Sem
pântanos.
Afetação insignificante: O que falta é tipicidade conglobante, sem lesividade.
Jogos esportivos, boxe, ações fomentadas pelos direito – lesões cirúrgicas e esportivas
(MMA ridículo).
Ilicitude afirmativa: Não investigamos a falta, mas sim a presença da permissão.
Grande modelo da ilicitude é exercício de um direito. Constatada a antinormatividade,
verificar a licitude (permitida), como legítima defesa, ou hoteleiro que retém bagagem
do hospede (penhor legal), sem apropriação indébita.
Acabar com os elementos subjetivos de justificação: Se está em LD, não tem que
saber, se objetivamente exerce o direito. Se soubesse que não está, não estaria, é a
lógica dos elementos de justificação. Se situação objetivamente justifica conduta, não
tem que ter consciência. A paixão dos penalistas pela simetria. Erros.
Culpabilidade por vulnerabilidade: Vulnerabilidade ao sistema penal. Na versão
brasileira, comparar o livro argentino com o brasileiro, diferente. Na Argentina, terceiro
elemento da culpabilidade. Para nós: 1) Espaço de autodeterminação, sua vontade deve
participar de alguma forma + 2) Possibilidade de compreensão da ilicitude + 3) Esforço
por vulnerabilidade, que não existe na hipótese do agente provocador, ou quanto ao
crime praticado por orientação do agente provocador, levado por agente do Estado para
praticar crime.
Nilo estendeu isso – baixo esforço por vulnerabilidade participa do fundamento
de causas de exclusão da culpabilidade. Ex.: Coação moral irresistível, o fundamento
dela – o que falta – é espaço de autodeterminação. Participa ativamente, sob coação
moral irresistível. Mas Nilo acha que participa pelo baixíssimo esforço da
vulnerabilidade, quem o colocou nessa situação de vulnerabilidade foi o coator.
Possibilidade de compreensão da ilicitude: obediência hierárquica espontânea –
subordinado cumprindo ordem. Não tem possibilidade, já que não pode ser
manifestamente ilegal, de ilicitude, mas há baixíssimo esforço de vulnerabilidade, pois
foi superior que o colocou nessa situação.
Zaffaroni tem a grande virtude de ser o grande penalista da pátria grande, AL.
Fez o circuito, dois doutoramentos.

Teoria negativa da pena é a teoria brasileira de Tobias Barreto. Zaffaroni a


recompôs, mas a teoria é de Tobias Barreto. Percepção genial de aproximar a pena da
guerra. Penas eram aplicadas pelas vítimas na Idade Média. Modelo da vingança era
plástico, pois pressupõe a composição – simbólica ou material, não apenas financeira –,
o exílio ou a revanche. Muito mais plástica do que a rigidez da pena.
Vivemos um tempo particularmente infeliz. Todos acham que a pena resolverá
tudo, e não resolve. Pesquisa sobre Maria da Penha – não funciona, não é verdade, é
mentira. Reação: Não pode ser! Nova lei de licitação: Serra, crimes hediondos contra
saúde pública, 10-15A, significando o legislador impedindo a individualização judicial,
inconstitucional por violar garantia individual do art. 5º da CF, e não é apenas a legal,
senão também a judicial e a executória, ao menos desde o final do século de XIX. Se
legislador faz pena de 10 a 15 anos, que é sinônimo algébrico de 2 a 3, mutila a garantia
individual, uma das suas etapas, a mais importante e a mais adequada, pois é evidente
que na individualização, juiz tem muito mais condições do que o legislador. Não
obstante, penas da nova lei: reclusão 4-8A (semiaberto), 1-2. Outra, 3-5 anos.
Legislador tirou a individualização da pena. STF ainda não decidiu as leis do Serra. A
solução ideal seria – não aplicar a escala penal da lei de drogas – tirar a sanção
mínima, chance de outro do legislador burro. Fica o máximo e não tem mínimo.
Tendência.
Demanda de autonomização do sistema penal, da esquerda, forças progressistas,
é antidemocrática. Política criminal deve ser traçada pelo eleito, dentro das leis. Pelo
CN. Não é polícia que traça política criminal. Não obstante, requisição de autonomia,
com críticas surreais.
Se a dogmática pode prestar para algo, é para conter poder punitivo. Se não for
para isso – só elegância lógica às opressões penais – é algo estúpido. Sistemas penais
são muito ruins. Casa de horror. Antipsiquiatria, acabar com manicômios, mas prisão
não. Esquerda transformação social impulsionada pelo sistema penal. Ao contrário, é
contra. Os progressos da humanidade são sempre contra o sistema penal, pois ele
sempre está a favor de quem está conservando.
Pena é falsa, baixa sustentação por discursos falsos. A teoria é nossa, brasileira.
Teoria negativa. Tobias Barreto. Criador de teoria que é a porta de saída que nós
temos, nossa teoria, para não ficar tributário de teorias europeias, e eles é que irão
aprender. A pena é um monstro infecundo, que só sabe olhar para trás. Prevenção, talvez
na Alemanha, mas aqui, com sangue escorrendo, precisamos de teoria nossa. Pensar
soberanamente. Temos muita coisa importante, e muita gente sofrida. Luiz Gama.
Dogmática brasileira, como isso foi feito. É o nosso desafio. Nossas recepções. Por que
criminólogos podem fazer isso – Rosa del Olmo.

AULA 06 – VERA ANDRADE

Jurista.
História da criminologia do Brasil – totalidade geográfica do Brasil, Milton
Santos, tempo e espaço, recorte em totalidade de longa duração – observar marcos
temporais. História oficial do Brasil começa no “descobrimento”. Ausências na
criminologia, ausências do poder punitivo, que chega com o poder punitivo, ausência de
como povos originários resolviam conflitos – último livro do Zaffaroni.
Marcos: República, começo da criminologia, fim da escravidão, embolado. Até
primeira república, até 1945, hegemonia do positivismo e instalação do Estado
correicionalista brasileiro – o Estado, na verdade, pois a revolução de 1930 é história
incrível, Coluna Prestes (evitar erro histórico de olhar com os olhos de agora o Estado
correicionalista que estava se montando).
Do surgimento da criminologia até 1930, velha república, pequenos esboços de
Estado correicionalista bastante erigido para dar conta do que sobrou da emancipação
da escravidão e das demandas dos povos originários, que nação e que república seria
isso. Em 1930, grande ruptura, Estado correicionalista, mas perspectiva integracionista
(criminologia do Roosevelt nos EUA).
De 1945 até 1964, temos um tempo sintomático que tenha pouca produção
criminológica, pois foi o momento em que crime não estava no centro dos
acontecimentos, bom sinal para a sociedade. Unidade comunistas e trabalhistas,
queremismo, 2ª eleição Getúlio Vargas, enfrentamento capital externo, imperialismo,
suicídio, desenvolvimentismo, bossa nova e modernismo brasileiro (Roberto Lyra
grande criminólogo desse momento, ainda positivista, mas Brasil modernista).
Golpe militar, guerra às drogas em 1970, escalada penal de políticas de
segurança pública, equívocos da constituinte, das esquerdas que judicializaram a
questão também. O criminal volta ao centro da questão.
1970, criminologia crítica começam a circular. Livros Rusche (1938) e Foucault
lido e traduzido (Rusche só 1990). Movimentos emancipatórios e revolucionários ao
redor do mundo em 1968 (Rosa del Olmo, Lolita, encontro de Bergali e Zaffaroni,
colombianos, intervenção na suprema corte colombiana que matou os melhores juristas
progressistas). Ambiência conflitante. Criminologia crítica começa a circular, também
no Brasil.
Trabalhamos Rosa del Olmo (decolonial, racializada, generificada – é
atravessada e faz uma crítica de uma simples tradução de teoria feita no hemisfério
norte, mesmo sendo marxista. Vai propor também rupturas epistemológicas e
metodológicas). Roberto Lyra, cirminólogo modernista. Depois, criminologia crítica.
Enquanto isso, criminologia funcionalista e positivistas, manuais.
Contribuições metodológicas da Rosa, maneira como pesquisa (AL e sua
criminologia; políticas de saúde e droga; face oculta das drogas; criminologia
positivistas com encontros, cátedras, livros publicados).
Depois, Zaffaroni na aula passada. Inovação epistemológica no campo jurídico-
penal do Zaffaroni, e que sua criminologia não pode ser pensada sem pensar que ele
produz alternativa jurídico-penal latino-americano, ao mesmo tempo em que propõe
criminologia das margens, levando em conta a AL. Novo livro do Zaffaroni, trabalha
uma criminologia do ser-aqui (um pouco Heidegger e Nietsche). Criminologia que
trabalhe as ausências, aquilo que ele não é dito (diz isso desde criminologia:
aproximacion desde al margem + em buscas das penas perdidas, discursos jurídico-
penais ficções gastas, marco da AL era letalidade pura). Metodologia de trabalhar o que
foi silenciado, o grande genocídio. Ideia das técnicas de neutralização do Matza, na
criminologia, para questionar a criminologia, a partir de Wayne Morrison
(Neozelandês), que não trabalhou genocídio dos povos originários e genocídio.
Metodologia criminológica do Zaffaroni, ligada à sua teoria jurídico-penal, com
olhar a partir das margens do caudaloso rio dos discursos criminológicos.

Vera Andrade: Outra geração, criminologia brasileira. Trajetória: Interior do RS,


estudou na UFSM, mestrado, doutorado UFSC. Orientanda de Baratta. Cirino, Vera
Andrade, Teodomiro Dias Neto e Sabadell são os grandes tradutores de Baratta.
Alinhada à criminologia crítica. Mas sua vida acadêmica faz essa passagem –
também sua obra – de uma incorporação (Darcy [Zaffaroni e Vera], adaptações – O
processo civilizatório). Trabalha teoria crítica marxista como incorporação às nossas
margens, depois se atira nas margens.
Abolicionista, feminista (Maria Lúcia Karam). Feminismo não punitivo, Malu e
Vera. Livro dela, Baratta e Lenio Streck, em que ela está esquematizando isso, enquanto
Malu escreve esquerda punitiva. Mãe produção independente de duas filhas. Muitos
ataques misóginos, e continua tendo. Academia muito masculina no DP e criminologia,
especialmente no Sul.
Textos: 1) Livro em sua homenagem, “Criminologia à Vera”, da Vera Malaguti +
2) “Criminologia em pedaços, manifestos para uma criminologia da brasilidade”.
Prefácios feitos à obra dela, maravilhosos. Baratta se refere à tese doutoral – A
ilusão da segurança jurídica – como momento de grande luz. Solidão do Baratta,
instituto de filosofia social fechado, em 1990, avanço do poder punitivo. Três pares de
metadiscursos (discurso da modernidade; discurso da dogmática jurídico-penal;
discurso oficial do sistema). Conexão funcional entre objeto e estrutura econômica,
social e cultural na perspectiva histórica (criminologia crítica marxista). Relevo das
promessas não cumpridas da segurança jurídica. Novo garantismo, minimalismo, no
sentido da contenção do poder punitivo. Redução de danos para nossas práticas. Não é
teoria reformista, senão uma criminologia de salvar vidas. Garantismo positivo, visão
deslegitimante da pena e sistema criminal – corte fundamental no objeto criminológico.
Livro que, embora não trabalhe a realidade brasileira, vê a ilusão da segurança
jurídica, fundante do direito. Hoje, esquerda judicializa tudo. Auge da ilusão jurídica.
Contra tecnicismo e descontextualização.
Nilo: Vera, admirável jurista. Um pouco do que o Zaffaroni tem. Coloca na
berlinda a dogmática geral, e penal em especial. Ciência funcionalmente ambígua.
Saber visceralmente político, apresentado como neutro/técnico/científico. Autor fez
com a dogmática o que Foucault fez com a penitenciária, denunciando a contradição
entre práticas e discursos. Impasses derivados da ilusão da segurança jurídica. Parceria
criminologia e penalismo crítico – saída da Vera jurista era fazer o que Heleno Fragoso
disse, articular parte e todo. Dogmática teleológica funcional redutora de Zaffaroni –
assumir funcionalidade e, reconhecido real desempenho (seletividade, arbitrariedade),
dirigi-la para redução do poder punitivo, excluindo o que for inconstitucional, ilegal ou
republicanamente irracional, contendo no mínimo possível.
Sistema penal máximo vs. cidadania mínima, prefácio da Sabadell. Vera
Malaguti chama de Ciladania (CF 1824 liberal legitimava escravidão sem falar nela,
propriedade privada – cidadania e liberalismo que não fez a passagem europeia
[tradução crítica do Foucault, do Suplício ao disciplinamento no século XVIII – no
Brasil, disciplinamento incorporado pelo liberalismo, mas suplício/tronco ainda na
praça]). Alargar cidadania em sentido pleno. Conjuntura de medo da criminalidade,
quebra conceito de cidadania feita pelo capitalismo (DP inimigo, o que não merece
garantias). Cidadania cingida.
Garantias lidas como privilégios no Brasil. Aumento de penas, novos delitos,
regimes, políticas criminais com derramamento de sangue. Além disso, educação
comunicacional que produz uma adesão subjetiva à barbárie (menino Henry, martírio
reproduzido). Meios de comunicação subordinado à barbárie oferecem minuciosa
educação sentimental.
Livro Vera o controle penal para além da desilusão, prefácio Cirino: Pensar a
criminologia do capitalismo patriarcal neoliberal globalizado da AL, em exercício de
pedagogia que afeta professores, pesquisadores, animais, gaia, mãe terra. Trata-se do
humanismo emancipatório do Baratta. A partir do solo fértil da criminologia crítica,
propõe-se uma construção dialética de sistema aberto da criminalidade como
criminalização, com novo referencial de situações problemáticas. Latinidade
criminológica na descrição da recepção e construção da teoria crítica do norte. O
resultado é acúmulo de saber criminológico sobre o genocídio do poder punitivo na AL,
cuja dimensão negativa aparece na visão do DP para salvar vidas humanas, e dimensão
positiva.
Vera, grande sistematizadora da criminologia brasileira, vai articular, para
termos criminologia racializada, generificada, recepção com novo terreno fértil encima
dessa realidade.
O que fazer, pergunta Lenin – esperar revolução futura, ou trabalhar com visão
Matza, prisão está aqui, e sempre pode piorar. Logo, redução de danos. Alguma resposta
dar. Joel Rufino dos Santos. Alguma resposta, redução de danos, ainda que não acabe
com ele agora.
“Pelas mãos da criminologia”, trabalha história da criminologia como trabalho
em progresso, começado por Rosa (AL e sua criminologia), continuado por Anitua e
interpretado por Massimo Sozzo.
Recepção da teoria crítica, para trabalho em andamento, na AL, trabalhando com
Anitua e Sozzo. No Brasil, história começou a ser desenhada. Roberto Lyra, “Direito
penal científico”, primeira tentativa de tentar fazer história interessante – com laivos
positivistas, mas grande positivista. Darcy Ribeiro ainda positivista idem, pensadores
em seu tempo.
Interpelemo-nos por resgatar a utopia dos anos 1970 a partir do acúmulo de
saber da modernidade-colonialidade. Venezuela lócus fundacional da escola crítica, pelo
protagonismo de duas mulheres (Rosa e Lola), dialogando com Sozzo sobre potências,
coloca os limites da recepção e construção de criminologia latino-americana, na
periferia (não “da” periferia), fazendo uso da hermenêutica da suspeição (Rosa),
buscando objeto e projeto articulado e sistematizado e crítico para criminologia da AL.
Quadro de referências com 3 aproximações ao obscuro objeto da criminologia: 1)
Totalidade do controle social, feita por Lola + 2) Mudança de nome para sociologia do
controle penal, de Roberto Bergalli (Argentino exilado em Barcelona) + 3)
Funcionalidade da nossa criminologia para salvar vidas humanas (Zaffaroni, “Em busca
das penas perdidas”). Além do debate entre Lola e Novoa, sobre desorientação da
criminologia crítica.
A palavra dos mortos, de Zaffaroni, criminologia cautelar – cautela – podendo
usar (Vera tem dúvidas, também redução de danos).
Vera aponta dois caminhos no Brasil: Eixo teórico-crítico materialista,
representado por Cirino + Eixo histórico-crítico, em torno do ICC, trabalhando história
do Brasil. São eixos que se cruzam e complementam, deixando-se atravessar pelos mais
diversos sentidos transdisciplinares, da geografia à psicanálise. Argumentos contra
críticos de não oferecer alternativas. Epistemologias mecanicistas trabalham discurso
tautológico, dogma da pena, mais profundas técnicas de vigiar e punir em ciclo vicioso.
Alerta que no debate sobre descolonização da criminologia, produção crítica não se deu
por processo de transculturação, mas por complementariedade mais sutil e complexa,
que fez surgir criminologia crítica latino-americana, criativa, visceralmente ligada à luta
dos povos contra acumulação de capital na periferia. Tradução e incorporação.
Inversão: Pensar a criminologia a partir de nós mesmos, em que outro é sentido
dialógico, não enunciados matricial (outro do Europeu). Transbordamento para além do
nosso acúmulo teórico. Tradução do marxismo, Foucault, mas Brasil não é sociedade
disciplinar como foi a Europa, Foucault não é universal. Transbordamento, para além
desse acúmulo teórico, trabalhando violências múltiplas que atravessam etnias, faixas
etárias, gêneros, classes sociais. Criminologia organicamente ligada ao nosso lugar.
Atravessamento. Solo fértil para discussão de política criminal, em que raízes ibéricas
não apaguem memória indígena para soluções não penais de conflitos humanos e
sociais.
Inquisição, genocídio colonizador e escravização de povos, importante. Crise do
DP entre deslegitimação e expansão. Garantismo crítico, que tem abolicionismo como
horizonte. Minimalismos e abolicionismos. Não perder de vista as pluralidades em
dinâmicas desses discursos. Abolicionismo como teoria comprometida com práxis dos
movimentos sociais – não diletante ou acadêmico – o seu próprio anti-platonismo vai na
contramão de teorias totalizadoras, em argumentos ontologizantes. Minimalismos: 1)
Meios para abolicionismos; 2) Fins em si mesmos; 3) Meios para garantismos.
Propõe que nos movimentos em direção à utopia abolicionista, trabalhar com
metodologia minimalista garantista, estratégia. Trincheira de defesa do povo brasileiro.
Quem tem o horizonte abolicionista, não é um fim em si mesmo, tem visão de longa
duração. Política criminal somente construída pela construção da crise de legitimação
dos sistemas penais na periferia, fora da moralidade maniqueísta e eficácia invertida –
redução de danos, provenientes da ilusão da segurança jurídica e defesa social,
estendendo esses danos para trabalhadores do sistema, como policiais e agentes
penitenciários (clínica da vulnerabilidade – policização – Zaffaroni Em busca das penas
perdidas).
Por fim, “Verso e reverso do controle penal: desaprisionando sociedade da
cultura punitiva”, homenagem à Baratta. Dimensão de capacidade de agregar ideias
diversas em direção estratégica e libertária.
“Criminologia em pedaços”: Discussão dentro do feminismo. Propõe aliança
para a brasilidade, algo que possa trabalhar esses paradoxos aparentes da criminologia
crítica no Brasil contemporâneo. Boletim de Março de 2020 do IBCCRIM. Feminismo
trouxe para a criminologia impacto tão grande como o discurso androcêntrico e como
interacionismo e marxismo. Feminismo ruptura tão grande quanto ruptura crítica.
Introdução “Mulheres presas por drogas na américa andina”, da Rosa.
Vera fala das tensões entre movimento descriminalizador e criminalizador,
legitimante da pena. Dentro do feminismo e antipunitivista. Teoria da desigualdade
classista, genocídio racista policial militarizado na AL. Teoria da desigualdade racista e
do genocídio racista policial militarizado na AL (Zaffaroni: Todos os genocídios se
deram por força de ações policiais ou forças armadas usadas como polícia). Intersecção
gênero, classe, raça/etnia, atravessados, com nenhuma preponderância. Trabalha os
discursos das ausências e dos limites (Zaffaroni “Criminologia das ausências”, o que
não foi tratado pela criminologia). Movimento feminista, legitimante da pena,
criminalizador, ela explica a necessidade de nominação criminal, que vai produzir
simbólico dentro do capitalismo patriarcal – o feminismo que vai propor ideias
criminalizadoras está procurando tentativa de nominação da violência simbólica do
capitalismo patriarcal contra as mulheres. Esse debate seria um despedaçamento do
saber crítico (criminologia em pedaços), um grande desperdício democrático.
Criminologia das margens, do Zaffaroni, que busca salvar vidas, e propõe uma
criminologia da brasilidade, em que povos africanos e indígenas – grande ausência do
discurso criminologia – e mulheres, apareçam como objeto e método de solução de
conflitos. Crítica à crítica que se faz as traduções marxistas, descontextualizadas. Na
verdade, criminologia crítica já atirada à realidade brasileira. Passagem em sua vida, da
incorporação da teoria crítica para trabalhar realidade brasileira. Crítica é anacrônica –
que criminologia crítica é essa que não trabalha gênero, raça, etnia e colonialidade? Ela
está posta, viva, pulsando. Acúmulos. Mostra como criminologia, nos anos 1990, tinha
as seguintes linhas de pesquisa: 1) Recepção/traduções; 2) Criminologia crítica,
feminismo e questão racial; 3) Da recepção à construção, uma criminologia crítica em
busca da brasilidade e latinidade; 4) Justiça restaurativa (Marília Montenegro [grupo
Asa branca] + Vera Andrade + Camila Prando), não capturada pela lógica do tribunal,
sem lógica punitiva (como Conselhos Tutelares, capturados, verdadeira delegacia de
polícia).
De que capitalismo estamos falando aqui? De qual patriarcado? De qual
racismo? Capitalismo dependente e periférico. Colonização do modo de produção
escravista e de economia agrária e latifundiária. Propõe que, para superar o purismo do
discurso identitário, misturar, mestiçagem. Contra o purismo, uma razão abolicionista
minimalista teria que incorporar também a legitimidade da nomeação simbólica –
argumento do movimento feminista (e movimento negro, gay), no sentido de convidá-
los a transcender a pena. Transcender a pena como solução dos nossos conflitos.
Nomeação. Simbólico. Justiça restaurativa, pensar movimentos sociais e como
se relacionam com o sistema penal (antropóloga que pesquisou os casos dos meninos
emasculados de Altamira, movimento das mães que mobilizam sistema penal em busca
de justiça – discutir para além das penas. Movimento pedia que governo do Estado
aplicasse ECA em medidas preventivas de adoção de juventude que não fosse
violentada sistematicamente). Acúmulo criminológico, categoria fundamental.
Nominação da produção do simbólico que movimentos feministas trazem
(supostamente legitimante da pena). Perspectiva de escuta. Norte ao abolicionismo,
acolhimento, afeto. Conversar setores que não conversariam. Disputar setores.
Despedaçamento do setor crítico, que esquece teorias críticas da pena e pensam ter
funcionalidade. Movimentos de mães, familiares que perderam filhos pro sistema penal,
não é discurso punitivista, senão algo completamente diferente, crítica profunda ao
sistema penal, patriarcado, e pensamos que é mero punitivismo.
Policização, aparente incompatibilidade entre minimalismo garantista e
horizonte teleológico abolicionista X existência das polícias, massacres genocidas no
século XX, com uso da tecnologia moderna. Colonialismo, ocupação policial de
território estrangeiro, quem protagonizou grandes genocídios foram polícias e agências
do poder punitivo, que não respondiam ao controle jurídico. Autonomização. Não em
função bélica, mas política. Ditaduras de segurança nacional, Lola diz que se produzia
exercício de poder punitivo formal, e poder punitivo paralelo, e subterrâneo. Pluralismo
punitivo. Se deslegitima a pena, não se compatibiliza com a polícia pois se tem a ideia
apenas do poder punitivo subterrâneo, pulsão a autonomizar-se, exercício do poder
punitivo próprio (milícias). Força-tarefa da lava-jato, nem está mais no MPF. Zaffaroni
chama a atuação das nossas forças policiais como exercícios de ocupação e
autocolonização, reproduzindo como forças policiais de colonização fizeram.
Mal-estar na civilização, de Freud, e depois Bauman escreve livro mal-estar, Joel
Birman mal-estar na pós-modernidade. Freud trabalha no entre guerras, maiores
matanças da história do planeta, o paradoxo entre segurança e liberdade individual,
como paradoxo total da civilização ocidental. Intervenção estatal na discussão jurídico-
penal, emergências (“la perene emergência”). Algo que sempre vai deixar de lado a
liberdade. Escalada penal no Brasil.
AULA 07 – COUNTER-CRIMINOLOGY

Criminologia contra-colonial. Anti-imperialista e crítica à criminologia por ter


sido silente aos danos coloniais imperialistas que essa criminologia trouxe. Origem da
criminologia mais concentrado nos países colonizadores, e colonizados tendem a
importar acriticamente, sem saber se são efetivas em seus territórios.
Erros grosseiros de Marx e Engels. Anacronismo homem branco e classe média.
Pós-estruturalismo. Repetindo cantiga Nietscheana, traduzida para o francês.
Usar estupro como metáfora é usar agronegócio com holocausto para
vegetarianismo.
Margens não dialogam com as margens. Arte potência Lukács.

AULA 08 – ROBERTA PEDRINHA

Criminologia na periferia. Da senzala à favela. Classe, raça, letalidade,


aprisionamento, drogas, em espaço do rebotalho. Violência produzida pelo Estado.
Espaço da periferia, espaço da criatividade, laços afetivos.
Atuação preventiva, evocação de direitos, elevando IDH, melhorando qualidade
de vida e criação de contextos sociais cada vez mais favoráveis. Pensar em reflexão do
Pavarini, dilema vivenciado entre direitos e poderes. De qual lado ficaremos? Em que
polo? No campo dos direitos ou no dos poderes?
Espaço da periferia vira espaço em que se colocam os poderes em detrimento
dos direitos. Trazer voz e dor das pessoas é o desafio de quem tem comprometimento e
voz que nem sempre se silencia.
No momento atual, 10-15% população brasileira sem refeições diárias, fome, e
quadro de insegurança alimentar se projeta para quase metade do fim do ano até o fim
do ano, na emergência disso, Carolina de Jesus, Diário de uma favelada, negros que
ficam amarelos de fome. Cenário de miséria, na periferia, operações policiais, chacina,
troca de tiros, violência nos espaços. Ao invés políticas públicas inclusivas e
preventivas, braço de policiamento de política criminal de guerra, combate,
enfrentamento, com todos dispositivos letais (caveirão, helicópteros, motocicletas),
arcabouço bélico trazido para esses espaços. Covardia, crueldade, terror nessas
populações que trazem para nós as permanências da época da escravidão.
Escalonamento de humanidade. Pessoas efetivamente consideradas inferiores
(racializados – indígenas e negros).
Para além do tratamento imposto por seletividade no sistema penal, que
(re)produz seletividade, perspectiva de questão racial que é estruturante desse sistema
penal. Se coloca como vertebração desse modelo preventivo, não algo apenas externo
em dados, ou seletividade lançada a partir de operações do sistema punitivo. Está ali
como vertebração, estruturando de dentro o olhar do sistema penal que vai se lançar,
tanto na forma oficial (sistema penal oficial pelo encarceramento –
superencarceramento) e extraoficial/informal/subterrâneo (Lola – entranhas carcomidas
do modelo punitivo, com execuções sumárias, extrajudiciais – morte sem pena, autos de
resistência, mortes por intervenção policial).
Política de drogas ferramenta usada pelo Estado para grande encarceramento,
das medidas socioeducativas de internação às prisões que aniquilam a identidade
humana. Territórios e espaços de pobreza das favelas periféricas, conduzidas dali ao
cárcere, na melhor hipótese.
Sistema penal oficial, autorizado, que desumaniza, reifica e embrutece pessoas,
rompendo espaço afetivo, em prisões embrutecidas, com perfil de interno em que 2/3
negros e pobres, periferia racializada.
Fanon, indivíduo não nasce negro, indivíduo torna-se negro, não critério
físico/genético/biológico. Negritude se coloca como forma de subordinação do outro,
inserindo-o como não-humano e sub-humano, hierarquização. Racismo não apenas no
plano individual ou institucionalizado (Estado), senão estrutural. Nova racionalidade na
questão racial, levada ao sistema penal e o erige, pilar constitutivo. Das Ordenações
Filipinas 1603, em cada legislação, mutilações negros + Código Criminal Império 1830,
abolindo penas físicas (CF/1824), salvo negros escravizados (suplícios), em 50 açoites
diários máximo (controle penal da escravidão) + 1910, Revolta da Chibata, insurreição
negros que não aceitam mais ser açoitados, baixas patentes negras na Marinha.
Violência física, suplícios e torturas, permanência de perseguição do corpo
negro, espoliado e saqueado, que foi mercadoria, ainda hoje é o corpo dado ao desfrute
dos sistemas punitivos. Mesmo corpo negro alvo nas periferias das torturas, incursões
policias. Corpo negro caído no chão, posição crânio caudal, posição decupto-fetal
(defesa), orla de tatuagem de pólvora (queima-roupa). Achile Mbembe, necropolítica no
necrocapitalismo, corpos aos quais se dirige, em lugares específicos. Zoe, categoria
matável, não bios, vida (Agamben). Indignos de vida Zaccone, favelados negros.
Sérgio Verani, globalização do extermínio e assassinatos em nome da lei –
justificativas. Polícia reproduz racismo estrutural, mas que é estruturante de todo o
sistema punitivo oficial. RDD’s, cárcere no cárcere, art. 52 LEP, com absoluto
embotamento dos sentidos, pois até percepções sensoriais e visuais são negadas a essas
pessoas (cheiros e cores), com perspectiva temporal diversa. Público do RDD mais
negro do que negros que integram sistema carcerário (quase 80% negros e pobres).
Olhar interseccional, Kymberle e Angela Davis, entrecruzamento questão racial, classe
e gênero masculino.
Controle penal da escravidão não acaba nem com a república. CP 1890 outras
formas de criminalização da negritude, após abolição (capoeiragem, vagabundagem e
formação de quadrilha capoeiragem estratégico criminalização negros) + hoje,
criminalização por drogas, nova estratégia de punição dos pobres negros periféricos.
Abolição, que caminha das senzalas aos presídios. Visão abolicionista passa pela
ruptura com política de drogas – horizonte, iniciado pela política de drogas (1/3 presos).
Realidade feminina carcerária, 2/3 drogas. Droga dispositivo. Ausência racionalidade de
aferir por que uma é lícita e outra não. Saúde coletiva, saúde pública, que mata tudo.
Ausência de racionalidade, mortes overdose tão pequeno vs. mortes guerra às drogas.
Práticas letalidade megaoperações. Política de um tigre de papel, população que devora
os próprios filhos.

Vera: Atravessamento classe e raça na periferia. Casal Schedinguer, papel dos


criminólogos, guardiões da ordem ou defensores dos DH’s (Joel Rufino dos Santos,
esquerda política da defesa dos direitos [não se trata de direito à segurança, mas
segurança dos direitos]). Texto Nilo, criminologia sem segurança pública, questionando
esse sentido. Final livro Introdução criminologia, pensar segurança em tempo de
catástrofes, defesa civil, proteção da vida (pandemia, lama, fogo, chuva), e insegurança
alimentar. Carolina de Jesus. Josué de Castro, geografia da fome no Brasil.
Questão racial estruturante como vertebração, transbordando da seletividade
para se transformar em poder configurador, vertebrador, a racialização estrutura. Não é
que sistema penal é seletivo, a racialização estrutura o sistema penal, vertebra.
Letalidade policial. Desaparecidos (maior que ditadura). Texto Joel Rufino dos
Santos, “O lugar do negro”, tornar-se negro (Fanon).
História: Programação criminalizante no Brasil. Diferentes etapas do
desenvolvimento econômico-social-cultural brasileiro e diferentes programas penais
punitivos historicamente, olhando em perspectiva. Crítica traduções literais do Foucault
(Europa troca suplício e disciplina X CF/1824 liberal com sociedade e ordenamento
jurídico conjugação do suplício com disciplina, sem passagem) – trabalhar história
brasileira.
RDD, cárcere no cárcere, público mais negro. Ao longo do tempo, PPL – tortura
em si – acrescida de outras formas, incomunicabilidade. Pátio presídio orelhão 1980.
Neoliberalismo aprofundado. Embotamento dos sentidos da prisão – Kiko Gofman,
sociólogo que virou cineasta, valetes em slow motion, tempo na prisão (mesmo
marxismo, tempo trabalho humano), apropriação e deterioração do tempo do homem
(Rusche).
De Canudos a Jacarezinho, história de massacres. Captura do tempo das vidas, a
constituição do sujeito matável no Brasil, se dedica não à fraqueza/vulnerabilidade, mas
potência de população morta/torturada. Potência que juventude pobre negra de
transformação. Criminologia na periferia tenta dar conta da potência que essa
população, gente brasileira, tem. Não vitimização, mas potência latente, até o dia em
que isso muda historicamente.
Zaffaroni “A palavra dos mortos”, massacres, ouvir heróis calados, história a
contrapelo Walter Benjamin. Heróis mortos que não estão na história oficial. Mortos nas
chacinas, Canudos, Revolta dos Malês. Negritude e indígenas. Pizzarro, Hernan Cortez.
Reproduzir colonialidade. Aplauso à barbárie.

AULA 09 – ALEJANDRO ALAJEA (A DESCOLONIZAÇÃO DA


CRIMINOLOGIA NA AMÉRICA)

Criminologia da libertação e lutas descolonizadoras na África. Controle social


Lola (dispositivo racializado de biopoder Sueli Carneiro, raça dispositivo biopoder –
raça como fundamental ferramenta nesse conjunto de controle social), conjunto sistemas
normativos que estabelecem rede de contenções com aderência a raça e classes.
Processos de racialização Achile Mbembe. Quijano raça padrão universal de
hierarquização modernidade-colonialidade que persiste até hoje. Mbembe, raça devir
negro do mundo, neoliberal todos negros. Novos processos de apartação, inclusive com
o encarceramento. Criminologia e racismo Evandro Piza. Guerreiro Ramos negro tema
(corpos negros que morrem como números, índices sociais) para negro vida (pessoas
centralmente afetadas pelos processos de criminalização – vidas negras tiradas).

AULA 10 – CORPO NEGRO CAÍDO NO CHÃO

Criminologia crítica, racializada, generificada, decolonizada. Ana Luiza


Flauzino. Racismo categoria fundante. Zaffaroni genocídio negros e povos originários.
Produção criminológica para brasilidade (Vera Andrade).
AL e sua criminologia, da Lola + Roberto Lyra “DP científico” (artigo Salo) +
Zaffaroni letalidade e genocídio em massa + Massimo Sozze Tradutore traditore
(tradução literal do positivismo e criminologia crítica) + racialização e colonização
(Vera Andrade, nem purismo, nem identitário [despolitiza e vitimiza]). Ler Milton
Santos, totalidade, totalizar pelo atravessamento de tempo e espaço – historicizar
espaços. Situar na geografia humana. Constituição do sujeito matável (Vera Malaguti),
quilombo, capoeira, vadiagem, samba, droga, atualizável (homem livre). Desconstruir o
sujeito matável na criminologia da periferia. Hasta la vitoria siempre.

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