SEEU - Processo: 0402158-77.2022.8.07.

0015 - Assinado digitalmente por LEILA CURY - 310981

[10.1] OUTRAS DECISÕES - Decisão em 22/11/2023

PODER JUDICIÁRIO
CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA DE BRASÍLIA
VARA DE EXECUÇÕES PENAIS DO DISTRITO FEDERAL

Processo nº. 0402158-77.2022.8.07.0015

Validação em https://seeu.pje.jus.br/seeu/ - Identificador: PJZ6B HMAEN JC9GJ 7BVZD

Processo: 0402158-77.2022.8.07.0015

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006.

Classe Processual: Pedido de Providências
Assunto Principal: Jurisdição e Competência
Data da Infração: Data da infração não informada
Requerente(s): Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios
Requerido(s): Mutirão ATP

Trata-se de Pedido de Providências instaurado por este Juízo em março de 2022 com o
objetivo de acompanhar o levantamento dos casos de pessoas internadas na Ala de Tratamento
Psiquiátrico - ATP, hoje instalada dentro da âmbito da Penitenciária Feminina do Distrito Federal – PFDF
.

Conforme certidão de Mov. 1.1, a demanda do presente monitoramento surgiu a partir do

envio de Ofícios pelo NUPRI/MPDFT e pelo DMF/CNJ à Direção da ATP, ainda em dezembro de 2021,
fato que originou a elaboração do relatório técnico juntado ao Mov. 1.2, fls. 04/19, por parte do Núcleo de
Assistência Psiquiátrica da PFDF – NUAPQ.

Tal documento, por sua vez, ensejou a realização, por parte desta VEP, de levantamento e
classificação dos casos das pessoas internadas na ATP, em cumprimento de medida de segurança (ou não)
, a fim de identificar a fase em que se encontravam os respectivos processos, bem como as principais
demandas a eles relacionadas, conforme controle juntado ao Mov. 1.3, o qual vem sendo mantido
atualizado até a presente data.

Cumpre registrar que o referido levantamento tem sido realizado de forma manual, uma
vez que os sistemas informatizados utilizados tanto por este Juízo, como pelo sistema prisional, não
dispõem dos parâmetros necessários para promover, de forma automatizada, a coleta e atualização dos
dados necessários para atender à referida demanda.

Em paralelo ao trabalho realizado pela diligente equipe do Gabinete deste Juízo, também
estava sendo acompanhado o andamento dos trabalhos relacionados ao Grupo de Trabalho instituído pelo
CNJ por meio da Portaria nº 142/2021 do CNJ, cuja atuação guardava relação com a matéria tratada nos
presentes autos.

Como resultado da atuação do referido Grupo o CNJ editou, em fevereiro de 2023, a

Resolução nº 487/2023, por meio da qual instituiu a Política Antimanicomial do Poder Judiciário,
promovendo profundas alterações nos fluxos e procedimentos relacionados ao tratamento de pessoas
padecentes de doença mental em conflito com a lei ao longo de todas as fases da persecução penal.

A partir da edição da referida norma, registro que este Juízo promoveu diversas diligências
administrativas e judiciais perante a administração superior do TJDFT, as quais se encontram
devidamente registradas no bojo de Processos Administrativos que lá seguem tramitando.

Ademais, foram realizadas inúmeras reuniões com órgãos cuja atuação está vinculada com
a matéria em apreço, a exemplo do Ministério Público, OAB/DF, SEAPE/DF, Secretaria de Saúde e IML/
PCDF, com o objetivo de promover os alinhamentos necessários em virtude das determinações contidas
na Resolução nº 487/2023 do CNJ.
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Na sequência, esta VEP solicitou a criação de Grupo de Trabalho Interinstitucional, o que

foi acolhido pela Presidência do TJDFT por meio da Portaria Conjunta nº 116/2023, a partir da qual foi
formado por representantes de diversos setores do TJDFT, além de órgãos do Poder Executivo e de
execução, e, desde então, seus integrantes têm realizado tratativas no sentido de encontrar soluções para
os entraves observados com relação ao cumprimento da referida norma.

Ainda no âmbito das diligências promovidas e acompanhadas por este Juízo, registro a
juntada, ao Mov. 5.4 deste pedido de providências, de relatório elaborado pela Seção de Psicopatologia

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Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006.
Forense do IML/PCDF, acerca de visita realizada pelos peritos médico-legistas daquele órgão à ATP, em
agosto deste ano.

Observo, ainda, que foi juntado ao Mov. 6.1, Ofício oriundo da SEAPE/DF, o qual
comunicou o recebimento por aquela Secretaria de demanda promovida pela Câmara Legislativa do
Distrito Federal, requerendo informações acerca das medidas relacionadas ao cumprimento da Resolução
487/2023 do CNJ.

Ao Mov. 7.1, foi juntado Relatório Técnico de inspeção realizada por este Juízo na ATP no
dia 21/07/2023, oportunidade na qual foram tratados relevantes aspectos relacionados ao funcionamento
daquela Ala, uma vez que havia ocorrido à época grave ocorrência culminando com a morte de um dos
segurados.

Prosseguindo no saneamento do feito, observo que foi juntado ao Mov. 8.4 novo Ofício
expedido da SEAPE/DF, por meio do qual foi comunicado o compartilhamento de dados dos internos da
ATP, pela Gerência de Saúde do Sistema Prisional da SES/DF com a FUNAP, fato que teria ocorrido sem
a anuência prévia da SEAPE.

A esse respeito, em específico, cumpre apenas observar que não se vislumbra qualquer
irregularidade no encaminhamento dos referidos dados. Isso porque os documentos juntados ao Mov. 8
indicam que as informações foram requisitadas pela FUNAP no âmbito de projeto voltado para a
implementação de políticas públicas de assistência às pessoas egressas do sistema prisional, nas quais
estão incluídos os segurados da ATP.

Ademais, tais pessoas, para além de estarem custodiadas pelo sistema prisional, são
também pacientes vinculados à Secretaria de Saúde, órgão que é responsável direto pela assistência à
saúde deles e, consequentemente, pela gestão dos dados relacionados com os respectivos tratamentos, os
quais foram compartilhados, no entender desta VEP, sem qualquer irregularidade.

Registro, ainda, a juntada ao Mov. 9.2 do presente feito, de cópia do Despacho proferido
por este Juízo no dia 29/09/2023, no bojo do Processo Administrativo n. 0006121/2023, por meio do qual
foram tecidas considerações relevantes acerca da Resolução n. 487/2023 do CNJ e a implementação da
política por ela instituída no âmbito do Distrito Federal.

Por meio do mesmo Despacho, foram encaminhados à administração superior do TJDFT

dados necessários ao preenchimento de formulário eletrônico encaminhado a todos os Tribunais do país
pelo CNJ, a fim de que fosse realizado diagnóstico atualizado da situação das pessoas submetidas a
medidas de segurança em caráter nacional.

No mesmo ato, foram formalizadas sugestões para a elaboração de um Plano Distrital de

Implementação da Política Antimanicomial no âmbito do TJDFT, conforme demanda também
encaminhada pelo CNJ.

Registro que as sugestões desta VEP foram integralmente acatadas pelo GMF/DF e pela
Presidência do TJDFT, culminando com a elaboração e envio ao Conselho Nacional de Justiça do referido
Plano, cuja cópia também está juntada ao presente procedimento, conforme Mov. 9.3.
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Observo que também foi juntado ao Mov. 9.4 o Manual da Política Antimanicomial do
Poder Judiciário, editado pelo CNJ e lançado no mês de setembro deste ano, com o objetivo de orientar os
órgãos responsáveis pela implementação da referida política e pelo cumprimento da já citada Resolução.

Cumpre salientar que, de acordo com o artigo 18 da Resolução n. 487/2023, foi fixado o
prazo de 6 (seis) meses para a interdição parcial de todos os estabelecimentos, alas ou instituições
congêneres de custódia e tratamento psiquiátrico no Brasil, medida que, no âmbito do Distrito Federal,
alcança a ATP, hoje localizada na PFDF.

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Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006.
Ainda nesse sentido, de acordo com cronograma contido na página 107 do Manual de Mov.
9.4, o próprio CNJ fixou como prazo final para o cumprimento da referida medida o dia 28/11/2023.

Sabe-se que, desde a edição da Resolução 487/2023, diversas medidas administrativas,

judiciais e legislativas foram propostas no sentido de questionar o seu conteúdo, bem como a competência
do CNJ para regulamentar a matéria. Nesse aspecto, podem ser citadas a Ação Direta de
Inconstitucionalidade n. 7389/DF, em trâmite no STF; o Projeto de Decreto Legislativo n. 81/2023, que
tramita na Câmara dos Deputados; e o Projeto de Decreto Legislativo n. 152/2023, que tramita no Senado
Federal.

Além disso, a Presidência do TJDFT também expediu Ofício ao CNJ, acolhendo sugestão
deste Juízo, solicitando a dilação dos prazos instituídos pela Resolução n. 487/2023, demanda que
lamentavelmente restou arquivada por aquele Conselho sem sequer ter tido o seu mérito devidamente
apreciado.

Resta, portanto, ao menos até o presente momento, mantido o prazo final de 28/11/2023
para o cumprimento do disposto no art. 18 da Resolução n. 487/2023 do CNJ, em sua primeira parte.

Dessa forma, determino, com urgência, a concessão de vista do presente pedido de

providências ao Ministério Público e à Defensoria Pública, a quem concedo o prazo comum para
manifestação acerca da interdição parcial da ATP até o dia 27/11/2023 impreterivelmente, data na
qual o presente feito deverá tornar concluso, com prioridade.

Encaminhem, ainda, os autos ao GMF/DF, dentro do mesmo prazo, considerando o

disposto no art. 6º, XIV, da Resolução n. 214/2015 do CNJ.

Comuniquem à SEAPE e à Direção da PFDF e ATP, para ciência desta decisão.

Comuniquem, ainda, à DCCP e ao NCPM, para ciência acerca da possibilidade iminente

do fechamento da porta de entrada da ATP.

Por fim, após o prazo ora fixado, tornem os autos prioritariamente conclusos,
independentemente da juntada das manifestações ora oportunizadas.

CONFIRO FORÇA DE OFÍCIO À PRESENTE DECISÃO.

BRASÍLIA, 22 de novembro de 2023.

Leila Cury

Juíza de Direito
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E-mail: vep@tjdft.jus.br
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