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A TRANSIÇÃO RELIGIOSA NO BRASIL: NOVA SOCIALIZAÇÃO

CONSERVADORA COM INTENSO ATIVISMO POLÍTICO-


PARTIDÁRIO.

RESUMO
O presente trabalho é continuação do estudo já abordado nos artigos “A NOVA QUESTÃO
RELIGIOSA: a chamada Transição Religiosa e a Política Partidária no Brasil recente” e “A
TRANSIÇÃO RELIGIOSA NO BRASIL: contribuição sobre alguns dos aspectos históricos,
sociais e políticos”, todos tentando contribuir para a análise da sociedade brasileira, mormente
na imbricação entre as práticas político-partidárias e profissões religiosas. A metodologia
adotada foi a histórico-dialética, utilizando levantamento bibliográfico e os dados numéricos
relativos ao tema abordado fornecido por diferentes fontes (IBGE, Pew Research, TSE,
Datafolha) para fundamentar a percepção da existência da chamada Transição Religiosa assim
como o incremento permanente dos usos de nomenclaturas de postulantes aos cargos de
Deputados Estaduais e Distritais de orientação religiosa cristã evangélica no curso dos últimos 5
pleitos gerais.

Palavras-chave: Transição Religiosa. Política. Religião.

ABSTRACT
This work is a continuation of the study already addressed in the articles “THE NEW
RELIGIOUS QUESTION: the so-called Religious Transition and Party Politics in recent
Brazil” and “THE RELIGIOUS TRANSITION IN BRAZIL: contribution on some of the
historical, social and political aspects” all trying to contribute to the analysis of Brazilian
society, especially in the intertwining between political party practices and religious
professions. The methodology adopted was the historical-dialectical one, using a bibliographical
survey and numerical data related to the topic addressed provided by different sources (IBGE,
Pew Research, TSE, Datafolha) to support the perception of the existence of the so-called
Religious Transition as well as the permanent increase of uses of nomenclatures of candidates
for the positions of State and District Deputies of evangelical Christian religious orientation in
the course of the last 5 general elections.
Key-words: Religious transition. Politics. Religion.

INTRODUÇÃO

O presente artigo é parte de um estudo ainda em andamento cujo objetivo é


contribuir com as análises atualmente em andamento no Brasil quanto à chamada
Transição Religiosa, nesse caso observando seu aspecto político-eleitoral.
O presente trabalho, assim como “A NOVA QUESTÃO RELIGIOSA: a
chamada Transição Religiosa e a Política Partidária no Brasil recente” e “A
TRANSIÇÃO RELIGIOSA NO BRASIL: contribuição sobre alguns dos aspectos
históricos, sociais e políticos” aborda o considerável aumento no registro de
candidaturas contendo nomes de candidatos relacionados, de alguma maneira, à
1
profissão de fé (como “irmão”) ou função (como “missionário”, “pastor”, “bispo”,
“levita”, “presbítero”, “evangelista” e “apóstolo”) em igrejas de credo cristão
evangélico no curso do tempo ao se considerar os pleitos gerais de 2006, 2010, 2014,
2018 e 2022 aos cargos de Deputado Estadual.
O estudo também realizou análise comparativa dentro do mesmo período e dos
mesmos pleitos com as nomenclaturas indicando profissão de fé e/ ou exercício de
função eclesiástica católica (“padre” ou “frei”) ou de matrizes africanas (“pai”),
cruzando os dados de maneira a efetuar também a análise no contexto da orientação
religiosa do país como um todo.
O levantamento foi realizado em todas as candidaturas cujos pedidos de registro
ao cargo de Deputado Estadual (e Distrital), em todas as Unidades da Federação (UFs),
foram realizados nos pleitos acima mencionados, considerando qualquer expressão, por
extenso ou abreviada (como “padre” ou “pe”, “irmão” ou “ir”), desconsiderando haver
ou não candidato sido eleito ou se teve ou não o seu pedido de registro concedido pelo
TRE pois o objetivo do estudo é buscar a intenção dos candidatos em participar usando
a nomenclatura, e não seu sucesso ou problemas de natureza registral ou judicial.
A metodologia que pretendemos haver adotado é a materialista-dialética para
compreensão dos fatos sociais. Partimos do pressuposto da existência de uma sociedade
divida em classes que lutam entre si pelo controle e distribuição dos recursos materiais.
Entendemos, também, que as lutas de classes são também fracionadas entre os
diferentes interesses do blocos existentes dentro das classes, inclusive nas dominantes.
Compreendemos, também, que a realidade como um todo deve ser entendida dentro das
suas contradições, tendo em vista que os fatos sociais apresentam aspectos muitas vezes
contraditórios entre si. Adotamos, ainda, a perspectiva de que as ideias dominantes
numa dada época histórica são aquelas defendidas pelas classes dominantes, assim
como compreendemos haver diversos pontos de vista com que os fenômenos sociais
podem e devem ser analisados, além de ser necessária a construção de uma teoria
através de um processo englobando uma proposta, sua negativa e a negativa dessa
negativa.
Feitas essas considerações, foi realizada análise quantitativa de dados relativos
aos candidatos inscritos nos pleitos eleitorais gerais de 2006, 2010, 2014, 2018 e 2022
pretendendo concorrer ao cargo de deputados estaduais pelos 26 Estados da Federação e
de deputados distritais pelo Distrito Federal.
A busca foi feita com base nos nomes registrados (“nome do candidato”) junto
ao Tribunal Superior Eleitoral para concorrer ao cargo conforme consta no site
2
DivulgaCand1, não se realizando quaisquer outras buscas relativas às pessoas dos
candidatos e/ ou credos professados.
Não foram levados em consideração candidatos que professem quaisquer religiões
e/ ou defendam quaisquer práticas e/ ou pautas religiosas mas que não utilizaram nomes
relativos à profissão de fé cristã, evangélica ou católica, como “nome de candidato”.
Assim, se o candidato exercer função de padre ou pastor (e.g. o capixaba Magno
Malta), mas não registrar candidatura contendo expressão indicativa de afiliação
religiosa, não foi considerado na pesquisa.
Foram feitos cortes para as seguintes nomenclaturas para os cristãos evangélicos os
nomes de “pastor”, “pastora”, “pr”, “pr.”, “bispo”, “irmão”, “irmã”, “ir”, “ir.”, “missionário”,
“miss”, “miss.” e “apóstolo”; para os cristãos católicos “padre”, “pe”, “pe.” e “frei”.
Foram, também, realizados levantamentos comparativos entre os dados de
maneira a averiguar a existência (ou não) de incremento entre as nomenclaturas
analisadas e em que proporção dentro dos 5 (cinco) pleitos analisados.
Foi, também, realizado levantamento bibliográfico de artigos acadêmicos, teses,
livros, capítulos de livros, relatórios e estudos realizados sobre a temática, partindo da
noção de se tratar de um evento único – a chamada Transição Religiosa – que se está
estudando através do levantamento de suas características, manifestas ou não.
O trabalho está dividido da seguinte maneira: à Introdução segue-se o Capítulo
1, que aborda o tema da Transição Religiosa no Brasil e na América Latina com
informações de trabalhos científicos e pesquisas de opinião. O Capítulo 2 a seguir
compreende o levantamento quantitativo realizado no site do DivulgaCand2 mantido
pelo TSE nos pleitos eleitorais gerais dos anos de 2006, 2010, 2014, 2018 e 2022
analisando o aumento absoluto e proporcional (entre o número geral de pretendentes)
nos pedidos de registro de candidatura aos cargos de deputados estaduais e distritais
com qualquer denominação religiosa, especialmente cristãs evangélicas. Já o Capítulo 3
subsequente apresentamos a Fundamentação Teórica para a realização do presente
estudo, onde se discutiu o embasamento teórico com base na metodologia adotada que
forneceu os subsídios para que fosse realizada a presente análise e onde foram
apresentadas as problematizações relativas à questão debatida. À Fundamentação
Teórica segue o Capítulo 4, com os Resultados do levantamento a discussão dos
números. Encerramos com as Considerações Finais onde discutimos os resultados e o
trabalho como um todo.

1
Para visitar: https://divulgacandcontas.tse.jus.br/divulga/#/.
2
Mais informações em: https://divulgacandcontas.tse.jus.br/divulga/#/.
3
A seguir, apresentamos o Capítulo 1, que trata mais especificamente do tema da
Transição Religiosa enquanto fato social.

1. TRANSIÇÃO RELIGIOSA..

Como discutido alhures (ROCHA 2021), entendemos ser a Transição Religiosa


um fato social em curso, em diferentes estágios e graus, em toda a América Latina
correspondendo, em apertadíssima síntese, à modificação de um predomínio da fé cristã
católica apostólica romana para o predomínio de uma profissão de fé cristã protestante
ou evangélica, como denominaremos doravante.
Como debatido anteriormente (ROCHA 2021), a própria denominação da
América Latina teria origem gálica e referir-se-ia à fração do continente “onde se reza
em latim” (NEDER CERQUEIRA 2016) –a referência se dava em virtude do idioma
utilizado durante o ofício das missas antes do Concílio Vaticano II ainda segundo o rito
tridentino3.
Salientamos não ser esse fato social recente, não obstante sua intensificação da
última década do século XX, ao menos no Brasil, objeto do presente trabalho, e
continua n as 3 primeiras décadas do século XXI (ALVES, CAVENAGHI, BARROS
2014).
Conforme verificamos alhures (ROCHA 2021), adotamos os trabalhos de
quaisquer naturezas sobre a religiosidade dos brasileiros no período de tempo
correspondente aos pleitos eleitorais aqui abrangidos para embasar nosso levantamento
que ainda está em andamento e que o presente corresponde à sua 3ª etapa.
Os levantamentos são os de Alexander Moreira-Almeida, Ilana Pinsky, Marcus
Zaleski, Ronaldo Laranjeira, publicado na Revista de Psiquiatria Clínica publicada pela
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), volume 37, nº 1, em 01 de
janeiro de 2010, entrevistando 3.007 pessoas maiores de 13 anos entre novembro de 2005 e
abril de 2006; o segundo, levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE)4 no Censo 2010 consistindo na entrevista presencial direta (face-a-face) realizada

3
Correspondente ao rito instituído no Concílio de Trento no séc. XVI onde foi estabelecido o latim
eclesiástico como idioma para profissão da santa missa e outros ofícios católicos romanos, e unificadas
práticas e missais (Nota do Autor); mais informações em Storia dela Chiesa. La Chiesa al tempo del
Concilio di Trento (1545-1563).Tradução italiana do original francês de Alessandro Galuzzi, O.M. Turim,
ed. SAIE, 1977.
4
Mais informações em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-
de-noticias/releases/14244-asi-censo-2010-numero-de-catolicos-cai-e-aumenta-o-de-evangelicos-
espiritas-e-sem-religiao.
4
entre 1º e 31 de agosto de 2010; o terceiro foi trabalho realizado pelo Instituto Pew Research5
ouvindo 2.000 pessoas no Brasil entre outubro de 2013 e fevereiro de 2014; o quarto,
pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha6 entre 7 e 8 de dezembro de 2016 com 2.828
pessoas maiores de 16 anos; o quinto, nova pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha com
2.948 entrevistados maiores de 16 anos entre 5 e 6 de dezembro de 2019; o sexto e
último, novo levantamento realizado pelo Instituto Datafolha7 entre 30 de agosto e 1º de
setembro de 2022.
Abaixo segue o gráfico correspondente aos números dos levantamentos supra (gráfico
produzido para o trabalho apresentado no XI CONINTER e ainda a ser publicado):

Gráfico 1 – Evolução das Filiações Religiosas no Tempo


Fonte: IBGE; Instituto Pew Research; Instituto Datafolha.

A tabela abaixo (ROCHA 2022) contém os dados do gráfico:

Ano Católicos Evangélicos


2005/6 66,5 23,7
2010 64,6 22,2
2013/4 61 26
2016 50 22
2019 50 31
2022 50 27
Tabela 1 – Evolução das Filiações Religiosas no Tempo
Fonte: IBGE; Instituto Pew Research; Instituto Datafolha.

Entre 2005/6, a população autodeclarada de profissão religiosa católica romana


correspondia a mais de 2/3 do total e como observado alhures (ROCHA 2022) quase o

5
Para maiores detalhes, consultar: https://www.pewresearch.org/religion/2014/11/13/religion-in-latin-
america/.
6
Detalhes em: https://datafolha.folha.uol.com.br/opiniaopublica/2016/12/1845231-44-dos-
evangelicos-sao-ex-catolicos.shtml.
7
Maiores dados em: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/09/datafolha-lula-lidera-com-45-
seguido-por-bolsonaro-32-ciro-9-e-tebet-5.shtml.
5
triplo dos declarados evangélicos. Em 2022 a proporção estava próxima a 1,7 (um
inteiro e sete décimos) como observado alhures (ROCHA 2022).

2. O AUMENTO NO REGISTRO DE NOMENCLATURAS COM


DENOMINAÇÕES RELIGIOSAS EVANGÉLICAS PARA CÂMARAS
ESTADUAIS E DISTRITAL EM NÚMEROS.

Pretendemos analisar no presente um dos aspectos que consideramos mais


significativos da Transição Religiosa: seu engajamento político-partidário e ativismo com teor
e pautas declaradamente religiosas por parte dos professantes de credos cristãos-evangélicos
comparativamente aos católicos.
A tabela nº 03 abaixo de candidatura com denominações relativas à participação na
vida religiosa evangélica evoluiu, tomando-se por base os nomes de candidatos registrados
perante o Tribunal Superior Eleitoral para os cargos de Deputado Estadual nos 26 estados e
Distrital no DF. Denominamos “Pr” como “Pastor(a)”, “Ir” como “Irmã(o)”, “Ms” como
“Missionária(o)”, “Ap” como “Apóstola(o)”, “Bp” como “Bispa(o)”, “Ev” como
“Evangelista”, “Pb” como “Presbítero” e “Lv” como “Levita”:

Ano Pr Ir Ms Ap Bp Ev Pb Lv
2006 149 70 9 0 19 2 2 0
2010 158 65 29 5 18 5 3 0
2014 230 86 25 8 22 4 2 1
2018 272 95 30 7 20 7 1 1
2022 290 71 53 13 33 6 3 0
Tabela 3 – Evolução das Nomenclaturas Evangélicas entre os Candidatos às Câmaras Estaduais e
Distrital/ individualizadas por nome
Fonte: Divulgacand/TSE.

A tabela nº 4 aponta os incrementos proporcionais encontrados no período analisado


(pleitos eleitorais para deputado estadual e distrital de 2006, 2010, 2014, 2018 e 2022) nas 8
denominações acima apontadas:

Aumento % Pr Ir Ms Ap Bp Ev Pb Lv
2006/22 94 1,4 489 1.200* 73 200 50 0
Tabela 4 – Evolução proporcional das Nomenclaturas Evangélicas entre os Candidatos às Câmaras
Estaduais e Distrital
Fonte: Divulgacand/TSE.

6
A despeito da evolução em 7 das 8 nomenclaturas aqui apontadas, é importante
verificar que o crescimento, apesar de nítido, não é absolutamente contínuo e linear
entre todas as denominações, o que não obsta a tendência geral ao crescimento contínuo
e que se verificou acima.
A tabela nº 5 traz as variações nos crescimentos dentro do período considerado
entre as 8 denominações de credo cristão-evangélico consideradas (em porcentagem:

Relação Pr Ir Ms Ap Bp Ev Pb Lv
2006/10 6 -7,2 222,22 X* -5,27 150 50 0
2010/14 45,56 32,3 -13,8 60 22,22 -20 -33,33 X*
2014/18 18,26 10,46 20 -22,5 -9,1 75 -50 0
2018/22 6,61 - 25,3 76,67 85,71 65 -14,29 200 -100
Tabela 5 – Evolução Proporcional das Nomenclaturas Evangélicas entre os Candidatos às Câmaras
Estaduais e Distrital nos Períodos Indicados
Fonte: Divulgacand/TSE
* Não se aplica em virtude do número inicial zero.

A tabela nº 6 abaixo apresenta a evolução das candidaturas trazendo as


denominações de orientação religiosa cristão católica romana “Padre” e “Frei”, além da
denominação religiosa de matriz africana “Pai” no período de tempo indicado:

Ano Padre Frei Pai


2006 20 2 3
2010 17 3 1
2014 17 1 2
2018 11 2 6
2022 4 0 10
Tabela 6 – Evolução das Nomenclaturas de matriz Católica e Africana entre os Candidatos às
Câmaras Estaduais e Distrital
Fonte: Divulgacand/TSE.

As tabelas de número 7, 8 e 9 trazem a evolução do número de candidaturas com


denominações indicando orientações religiosas de matriz cristã evangélica, cristã católica
romana e africana nos pleitos eleitorais no presente discutidos, apresentando também a
evolução percentual correspondente em fração:

Ano Total Aumento


2006 251 Não se aplica
2010 283 12,74%

7
2014 378 33,56%
2018 439 16,13%
2022 469 6,83%
Incremento total (2022/2006) 86,85%
Tabela 7 Evolução no Número Total e Evolução Proporcional das Nomenclaturas de Matriz Cristã
Evangélica entre os Candidatos às Câmara Estaduais e Distrital nos Períodos Indicados/ geral
Fonte: Divulgacand/TSE.

Ano Total Aumento


2006 22 Não se aplica
2010 20 -9,1%
2014 18 -10%
2018 13 -27,8%
2022 4 -69,3%
Incremento total (2022/2006) - 81,81%
Tabela 8 Evolução no Número Total e Evolução Proporcional das Nomenclaturas de Matriz Cristã
Católica entre os Candidatos às Câmara Estaduais e Distrital nos Períodos Indicados/ geral Fonte:
Divulgacand/TSE.

Ano Total Aumento


2006 3 Não se aplica
2010 1 -66,66%
2014 2 50%
2018 6 200%
2022 10 66,66%
Incremento total (2022/2006) 233,33%
Tabela9 Evolução no Número Total e Evolução Proporcional das Nomenclaturas de Matriz
Africana entre os Candidatos às Câmara Estaduais e Distrital nos Períodos Indicados/ geral Fonte:
Divulgacand/TSE.

A tabela nº 10 apresenta a evolução no número total e a respectiva proporção no


número de candidatos às Câmaras Estaduais e Distrital no período analisado:

Ano Total Aumento


2006 13.826 Não se aplica
2010 15.330 10,87%
2014 18.048 17,72%
2018 18.954 5,01%
2022 17.347 -8,48%
Geral 2006/2022 25,46%

8
Tabela 10 Evolução do Número Total e Respectiva Proporção no Número de Candidaturas às
Câmaras Estaduais e Distrital nos Períodos Indicados
Fonte: Divulgacand/TSE.

A tabela nº 11 apresenta a evolução na proporção das candidaturas com


denominações de orientação religiosa cristã evangélica, católica romana e de matriz
africana entre o número total de candidatos dentro do período indicado (eleições para as
câmaras estaduais e distrital nos anos de 2006, 2010, 2014, 2018 e 2022):

Ano Evangélicos Católicos Matriz Africana


2006 1,815% 0,159% 0,0216%
2010 2,465% 0,13% 0,0065%
2014 2,094% 0,0997% 0,011%
2018 2,316% 0,068% 0,0316%
2022 2,703% 0,023% 0,0576%
Tabela 11 Evolução das Proporções de Candidaturas com Nomenclaturas Indicativas de
Orientação Religiosa Cristã Evangélica, Cristã Católica Romana e Africana Sobre o Número Total
de Candidaturas às Câmaras Estaduais e Distrital
Fonte: Divulgacand/TSE.

A tabela nº 12 a seguir mostra a evolução dentro das eleições ocorridas no


período indicado da proporção entre as candidaturas contendo denominação de
orientação religiosa cristã evangélica e as com nomenclaturas contendo orientação de
matriz cristã católica:

Ano Comparativo absoluto Proporção (vezes – X)


2006 251/22 11,4 X
2010 283/20 14,15 X
2014 378/18 21 X
2018 439/13 33,77 X
2022 469/4 117,25 X
Tabela 12 Evolução no Número Total e Proporcional das Nomenclaturas Evangélicas e Católicas
entre os Candidatos às Câmaras Estaduais e Distrital nos Períodos Indicados
Fonte: Divulgacand/TSE.

Consideradas as UFs individualmente, a tabela nº 13 apresenta a evolução no


curso do tempo das candidaturas com as nomenclaturas cujas abreviaturas estão abaixo
indicadas no tempo dentro do período analisado no presente trabalho:

9
UF Pr Ms Bp Ir Ap Ev Pb Lv
SP 130 21 10 17 3 4 1 0
MG 79 5 6 8 0 2 1 1
RJ 136 15 13 16 0 3 0 1
BA 59 12 12 31 3 0 1 0
RS 27 7 3 4 0 1 0 0
PR 36 5 5 3 1 1 0 0
PE 46 11 3 54 1 0 3 0
CE 37 3 3 21 5 0 1 0
PA 43 1 1 20 0 1 0 0
SC 10 2 3 1 1 0 0 0
GO 51 4 8 13 4 0 1 0
MA 30 3 1 41 0 0 0 0
PB 25 3 0 18 0 0 0 0
ES 51 8 3 4 0 3 0 0
PI 14 6 0 13 0 0 0 0
RN 9 5 2 16 0 0 0 0
AM 30 8 0 8 0 1 0 0
MT 20 1 2 3 0 1 1 0
AL 19 2 3 14 1 0 0 0
DF 57 6 20 7 2 0 0 0
MS 19 1 2 1 1 0 0 0
SE 20 2 9 9 1 0 0 0
RO 22 0 1 12 0 1 0 0
TO 26 0 2 12 0 1 0 0
AC 41 9 0 6 9 0 0 0
AP 36 3 0 9 1 0 0 0
RR 26 3 0 26 0 1 2 0
Tabela 13 Número total de candidatos às Câmaras Estaduais e Distrital utilizando-se de
denominações religiosas cristãs evangélicas no período indicado por UF separados por
denominação nos 5 pleitos eleitorais considerados
Fonte: Divulgacand/TSE.
A tabela nº 14 abaixo apresenta o número total de candidaturas com
denominações de orientação cristã evangélica consideradas no período analisado em
relação ao número total de candidaturas por UF:

UF Total de candidaturas com Proporção sobre total de


nomes evangélicos candidatos (%)
SP 186 1,838

10
MG 102 1,665
RJ 184 1,927
BA 118 3,362
RS 42 1,183
PR 51 1,364
PE 118 4,177
CE 70 2,328
PA 66 2,041
SC 17 0,748
GO 81 2,152
MA 75 2,926
PB 46 2,423
ES 69 2,714
PI 33 2,967
RN 32 2,448
AM 47 1,809
MT 28 1,833
AL 39 2,588
DF 92 2,204
MS 24 1,452
SE 41 3,433
RO 36 1,676
TO 41 2,865
AC 65 3,057
AP 49 2,657
RR 58 2,67
Tabela 14 Número total de candidatos às Câmaras Estaduais e Distrital utilizando-se de
denominações religiosas cristãs evangélicas no período indicado por UF no período e proporção
sobre o total de candidatos nos 5 pleitos por UF
Fonte: Divulgacand/TSE.

A tabela nº 15 apresenta o número de candidaturas totais por estado nos pleitos


considerados (2006, 2010, 2014, 2018 e 2022) utilizando nomenclaturas indicativas de
profissão religiosa cristã católica (padre, frei) somadas à de matriz africana (pai) e a
proporção correspondente à soma das candidaturas utilizando as nomenclaturas padre,
frei e pai sobre o total de candidaturas no período:

UF Pe, Fr Pai Proporção (%)

11
SP 12 3 0,148
MG 10 0 0,163
RJ 2 2 0,042
BA 2 1 0,085
RS 1 8 0,253
PR 7 0 0,187
PE 2 0 0,071
CE 2 2 0,133
PA 1 0 0,031
SC 6 0 0,264
GO 10 0 0,265
MA 1 0 0,039
PB 6 0 0,316
ES 4 0 0,157
PI 1 0 0,09
RN 0 0 0
AM 1 2 0,115
MT 1 0 0,065
AL 1 0 0,066
DF 2 2 0,096
MS 0 0 0
SE 2 0 0,167
RO 0 1 0,046
TO 1 0 0,069
AC 0 0 0
AP 0 0 0
RR 1 1 0,092
Tabela 15 Número total de candidatos às Câmaras Estaduais e Distrital utilizando-se de
denominações religiosas cristãs católicas e de matriz africana no período indicado por UF e
proporção sobre o total de candidatos nos 5 pleitos por UF
Fonte: Divulgacand/TSE.

A tabela nº 16 apresenta as UFs com o número de candidatos utilizando


quaisquer das denominações religiosas aqui abordadas, sejam elas cristãs evangélicas ou
católicas ou, ainda, de matriz africana, em todo o período, com o número de
candidaturas utilizando especificamente alguma das denominações cristãs evangélicas
aqui analisadas e a proporção de candidatos utilizando denominação evangélica sobre o
total das nomenclaturas com denominações de orientação religiosa:

12
UF Total Evangélicas Proporção
SP 201 186 92,53
MG 112 102 91,07
RJ 186 184 98,92
BA 120 118 98,33
RS 43 42 97,67
PR 58 51 87,93
PE 120 118 98,33
CE 72 70 97,22
PA 67 66 98,51
SC 23 17 73,91
GO 91 81 89,01
MA 76 75 98,68
PB 52 46 88,46
ES 73 69 94,52
PI 34 33 97,05
RN 32 32 100
AM 48 47 97,91
MT 29 28 96,55
AL 40 39 97,5
DF 94 92 97,87
MS 24 24 100
SE 43 41 95,34
RO 36 36 100
TO 42 41 97,62
AC 65 65 100
AP 49 49 100
RR 59 58 98,3
Tabela 16 Número total de candidatos às Câmaras Estaduais e Distrital utilizando-se de quaisquer
denominações religiosas; número de candidatos utilizando-se de denominações cristãs evangélicas e
proporção entre os dois número por UF e no total dos 5 pleitos analisados.
Fonte: Divulgacand/TSE.

Apresentaremos, a seguir, a fundamentação teórica relativa à problemática


tratada no presente trabalho.

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

13
O presente trabalho busca discutir e problematizar o que entendemos ser um
movimento orquestrado, consciente e desejado de atuação político-partidária por parte
de professantes de credos cristãos evangélicos no Brasil.
Necessário, portanto, tecer concisas ponderações de cunho metodológico para
que seja possível à comunidade científica em geral verificar e confrontar os pontos
percorridos e o ponto de observação adotado para averiguar a proficuidade (ou não) dos
resultados e discussões aqui propostos.
Conforme já expusemos à Introdução, partimos do ponto de vista de ser a
sociedade constituída por diferentes classes sociais que lutam entre si pelo domínio dos
bens sociais escassos. Esses bens são, de modo geral, fruto do trabalho humano e
possuem como função precípua a produção e reprodução do modo de vida daquela
comunidade humana dentro de um dado espaço-tempo considerados, principalmente,
sua cultura e desenvolvimento tecnológico.
Nesse sentido, utilizamos como pressuposto a certeza da existência também de
lutas nas classes que se dividem também de acordo com os interesses de cada indivíduo
ou grupo de indivíduos posto que, como preceitua Giorgy Plekhanov, a atuação da
pessoa individual flexionada com a conjuntura histórica ajuda a construir a realidade. O
mesmo autor explica, também, que uma determinada luta pode ser encarada segundo
diferentes pontos-de-vista e, consequentemente, o que pode significar para uma classe
social ou fração da classe uma luta de libertação pode significar, para outra, a supressão
de um privilégio – abrindo, consequentemente, espaço para materialização patente do
método materialista dialético marxista que tentamos utilizar em nosso estudo.
Respectivamente ao fenômeno da Transição Religiosa propriamente dita, e
utilizando a metodologia que propomos no presente, compreendemos ser um fenômeno
que está, atualmente, dentro do escopo político-partidário e eleitoral abordado no
presente trabalho, embasado e desfrutando da liberdade conferida pela Constituição
Federal que pretende proporcionar um Estado Democrático de Direito com a
participação o mais ampla possível e com maior liberdade possível de expressão.
Noutro giro, quadros político-partidários de orientação manifestamente cristã-
evangélica como do ex-Presidente da República Jair Messias Bolsonaro com respeito à
indicação de um nome “terrivelmente evangélico” para uma vaga no Supremo Tribunal
Federal8910, e a indicação do ministro André Mendonça, além dos fatos recentes

8
Conforme apurado em: https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/07/10/bolsonaro-diz-que-vai-
indicar-ministro-terrivelmente-evangelico-para-o-stf.ghtml.
14
acontecidos em 08 de janeiro de 2023, comprovam não ser o respeito à diversidade
democrática em si um valor primordial justamente para esse grupo numeroso e
significativo que faz da liberdade para manifestação política a aleivosia desse princípio
constitucionalmente garantido.
Alexandre Brasil Fonseca (FONSECA 2020), mostra a articulação político-eleitoral
cristã evangélica no Brasil ao uso intensivo da tecnologia da informação – WhatsApp,
Facebook ou quaisquer outros meios disponíveis – num ambiente fragmentado e com uma
multiplicidade de ideias articulada por valores básicos defendidos universalmente:
“O foco é individual, e a religiosidade ocupa importante lugar de conforto
mútuo e entretenimento. Esse discurso dá origem à Nova Direita Cristã e
assume a defesa de valores conservadores como parte do seu pacote. Ser
cristão passa a implicar obrigatoriamente na afirmação da liberdade
individual e do liberalismo econômico, junto à ‘defesa da família’, que na
prática reúne um conjunto de valores morais tradicionais relacionados à
cultura branca, masculina, evangélica e heterossexual americana.”

O discurso é dos valores cristãos neoconservadores – liberalismo econômico,


proteção e defesa da família tradicional cristã e, sobretudo, anatemização de qualquer
“esquerdismo” (FONSECA 2020).
Respectivamente à chamada Teologia da Prosperidade, conforme explica Paulo
Romeiro (ROMEIRO 1993), trata-se de um cadinho de ideais pouco ortodoxas, sem um
fundamento teológico substancial, mas que tem por característica primordial o foco na
fé individual.
Nesse sentido, possíveis sofrimentos ou “provações” são derivadas da falta de fé
do indivíduo que, consequentemente, está sendo privado das “graças” que são saúde
(em sentido amplo) e a prosperidade material – ou, como explica Romeiro, “pobreza e
doença são resultados visíveis do fracasso do cristão que vive em pecado ou que possui
fé insuficiente” (ROMEIRO 1993).
Outro aspecto significativo a ser salientado é a chamada “retórica da perda” (VITAL DA
CUNHA, EVANGELISTA 2019), presente fortemente na propaganda e ideário político-
partidário identificado como cristão evangélico, onde é veiculado o discurso (ou narrativa)
apresentando-os como defensores de uma ordem social, política e sobretudo moral segura,
tradicional, e sob constante e permanente ataque da “modernidade”.
Essa narrativa faz parte de um conjunto de exposições que busca explorar o
medo, a insegurança e a dúvida na população, facilmente identificável numa massa

9
Mais informações em: https://www.metropoles.com/brasil/bolsonaro-diz-ter-nome-terrivelmente-
evangelico-para-o-stf.
10
Mais detalhes em: https://gauchazh.clicrbs.com.br/politica/noticia/2021/07/bolsonaro-decide-
indicar-andre-mendonca-para-vaga-de-marco-aurelio-no-stf-ckqsa9xfn005u013bkke3hl78.html.
15
abandonada à própria sorte desde sempre como a brasileira (SOUZA 2009), e que,
conforme Christina Vital da Cunha:
“A Retórica da Perda pode ser considerada como uma tática discursiva
articulada por diferentes lideranças sociais e políticas (dentre elas, religiosas)
baseada em um imperativo: o retorno da ordem, da previsibilidade, da
segurança e da unidade. É um discurso que se contrapõe a mudanças sociais
experimentadas socialmente no mundo e que a literatura sociológica detectou
de modo significativo a partir dos anos 1990 e, no Brasil, especialmente, a
partir de meados dos anos 2000.

A seguir, abordaremos os resultados alcançados.

4. RESULTADOS ALCANÇADOS

Identificamos crescimento no curso do tempo no volume de nomenclaturas de


candidatos aos pleitos das Câmaras Estaduais e Distrital, tanto no número absoluto de
candidatos usando nomes de orientação cristã evangélica como também no número
proporcional.
Esse crescimento e a sobrerrepresentação consequente no volume de
candidaturas utilizando denominação cristã evangélica com relação às demais crenças,
principalmente cristã católica, atingiram o auge no pleito de 2022, onde pesquisa
realizada pelo Instituto Datafolha suso mencionado indicava (em setembro) 50% de
cristãos católicos e 27% de cristãos evangélicos, numa proporção aproximada de 1,85
X ou 85% a mais de católicos em relação aos evangélicos entre a população entrevistada
e declarada conforme os levantamentos referenciados e que serviram de embasamento
para o presente levantamento.
Enquanto isso, o número de candidaturas com nomenclatura cristã-evangélica
entre os pretendentes a cargos nas Câmaras Estaduais e Distrital no pleito de 2022 era
117,25 vezes maior, ou 11.726% maior, o correspondente a uma sobrerrepresentação
216,9125 vezes maior ou 21.912,25%.
É certo que o crescimento não se deu de maneira uniforme com relação ao total
das nomenclaturas analisadas no presente trabalho pois, entre as 8 denominações
analisadas (exatamente por serem as mais populares) – pastor, missionário, bispo,
irmão, apóstolo, evangelista, presbítero e levita – houve crescimento em 7 delas e
estabilidade em 1 (levita) conforme analisado na tabela 5.
Entre as denominações de orientação cristã evangélicas, destacamos “Pastor”
por representar a que possui maior número total de requerimentos (1.099 num total de
1.810 nomes com nomenclaturas evangélicas, ou 60,718%), e, entre as UFs. representa
volume maior que ¾ do total das candidaturas com nomenclatura evangélica no período
16
todo considerado (2006, 2010, 2014, 2018 e 2022) nos estados de MG e MS; entre 2/3 e
¾ em SP, RJ, PR, ES, MT e AP; entre ½ e 2/3 em BA, RS, CE, PA, SC, GO, PB, AM,
DF, RO, TO e AC, com o que verificamos que em 20 das 27 UFs a nomenclatura
“Pastor” corresponde ou à maioria absoluta ou à igualdade da soma de todas as outras 7
denominações cristãs-evangélicas consideradas.
Importante salientar que o registro de candidaturas com a nomenclatura “Pastor”
apresentou crescimento em todo o período analisado, ou seja, entre 2006 e 2010, 2010 e
2014, 2014 e 2018 e 2018 e 2022.
Outra nomenclatura que sobressai é “Irmão”, sendo a 2ª preferida (387 entre
1.810 ou 21,38%) no cômputo geral, e a mais utilizada em PE (54 em 118 ou 45,76%),
MA (41 em 75 ou 54,67%), RN (16 em 32 ou 50%) e empatando com “Pastor” em RR
(26 em 58, ou 44,82%). Não obstante, diferentemente de “Pastor”, não apresentou
crescimento constante em todo o período: depois de decrescer no período entre
2006/2010, cresceu entre 2010/2014 e 2014/2018, tendo tido nova redução no pleito de
2022.
A denominação “Missionário” também merece destaque em virtude de seu
crescimento: foi, a partir de 2018, a 3ª nomenclatura predileta entre as 8 analisadas
(desbancando “Bispo”), e inclusive aproximando-se em 2022 da denominação “Irmão”
(53 a 71). Ressalte-se que tal tendência, não obstante aparentemente consolidada, pode
sofrer revezes tal e qual aconteceu com a denominação “Irmão” que sofreu declínio
significativo no número de pedidos de registro de candidatura entre 2018 e 2022 caindo
de 95 para 71, redução de 25,3% (superior a ¼).
Importante, ainda, sublinhar a diminuição nos pedidos de registro de candidatura
com denominações católico-romanas dentro do período analisado.
Conforme aponta a tabela nº 08, houve significativo decréscimo no número total
de candidaturas com utilizando as expressões “Padre” e “Frei” no curso do tempo,
passando de 22 pretendentes às Câmaras Estaduais e Distrital em 2006 para 4 em 2022,
redução proporcional de 81,81%.
Ao declínio dos pedidos de registro de candidatura com denominação cristã
católica romana no curso do tempo contrapõe-se o aumento no número de pedidos
contendo a denominação “Pai” entre os pretendentes às Câmaras Estaduais e Distrital,
movimento percebido entre os períodos 2014/2018 (2 para 6, aumento de 200%) e
2018/2022 (6 para 10, aumento de 66,67%).
É possível, também, inferir com os dados fornecidos que a denominação
“Pastor” foi a mais utilizada em todos os períodos eleitorais entre os candidatos às
17
Câmaras Estaduais e Distrital em todos os pleitos analisados, sendo seguida de “Irmão”
(em todos os pleitos), “Missionário” (a partir de 2010 quando desbancou “Bispo” e
“Padre”) e “Bispo” (4ª nomenclatura em 2006 atrás de “Pastor”, “Irmão” e “Padre”, e a
partir de 2010 atrás das 2 primeiras e “Missionário”), e a diminuição relativa da
importância de “Padre” que passou de 3ª nomenclatura mais registrada em 2006 para 5ª
em 2010, 2014 e 2018 para 8ª (entre as 11 analisadas) em 2022.
Abaixo, realizaremos as considerações finais sobre os resultados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados alcançados apontam para a concordância com os trabalhos


utilizados como referências bibliográficas para o presente e com os resultados obtidos
nos trabalhos anteriormente realizados (ROCHA 2021;2022), percebendo orientação
manifesta e efetiva por parte das inúmeras denominações cristãs evangélicas no sentido
de apresentar candidatos identificados por sua nomenclatura com sua filiação ao seu credo.
Conforme discutido nos resultados, a sobrerrepresentação é perceptível no
campo político-partidário por 2 vieses: o aumento contínuo e constante, notadamente da
denominação “Pastor”, cujo pedido de registro compõe mais de 3/5 do total dos pedidos
realizados em todo o período contendo denominações cristãs evangélicas, ou 57,5% do
total dos pedidos contendo todas os nomes de candidato analisados no presente
contendo indicações religiosas (católicas + evangélicas + matrizes africanas), com 1.099
registros entre 1.909 nomes religiosos totais.
A literatura aponta para a existência de um processo de “transição religiosa”, ou
mudança de profissão religiosa majoritária entre os brasileiros da matriz cristã-católica
para cristã evangélica, e um dos pontos que compreendemos importantes para
consolidação e ampliação do fenômeno é exatamente o engajamento político-partidário.
Os últimos estudos realizados pelo Observatório do Legislativo Brasileiro11
apontam para uma diversidade na atuação da Frente Parlamentar Evangélica cujo foco
não se dá apenas nas chamadas “pautas religiosas”, mas uma diversidade de interesses e
projetos e debates que reflete a ampliação do leque de apoio dentro da sociedade e uma
busca por legitimidade perante o restante dos movimentos políticos organizados.
Demais disso, é importante ainda repisar a existência da mentalidade substancial
onde “irmão vota em irmão” e a ênfase no mérito individual havido pela fé, pela graça

11
Mais informações em: https://olb.org.br/atuacao-da-frente-parlamentar-evangelica-na-camara-dos-
deputados/.
18
de Deus, traduzido em saúde física e psicológica associada à prosperidade, e a visão
individual da busca pelas bênçãos (traduzidas nas graças supra) corresponde à exigência
do comportamento íntegro em todas as áreas, fundamentando assim racionalmente a
escolha dos candidatos indicados ou “abençoados” aos cargos políticos públicos através
do processo eleitoral.
A presença de “Pastores” e “Irmãos” indica os 2 polos (pregadores e audiência)
unidos na busca de ocupar o espaço político com “virtuosos” oriundos desses
movimentos religiosos que, conforme aponta o estudo do OLB supra, postulam diversos
temas para buscar votos e legitimidade não apenas perante o público eleitor cristão
evangélico em si, mas numa parcela mais substancial da sociedade que se poderia
chamar mais conservadora e que se vê representada por temas como proteção à
propriedade privada via intensificação das atividades e investimentos em segurança
pública e legalização do porte e posse de armas de fogo, repúdio ao aborto sob o prisma
da proteção da vida, denúncia e repúdio às práticas políticas consideradas corruptas,
enfim, inúmeras pautas que não são exclusivas do movimento religioso protestante, e
algumas delas (como a anticorrupção) abrangendo da esquerda à direita do espectro
político nacional.
Verificamos, assim, concordando com outro trabalho anteriormente relacionado
(ainda a ser publicado e apresentado no XI CONINTER), haver um aumento contínuo
levando à sobrerrepresentação que, por sua vez, alimenta o fenômeno da transição
religiosa enquanto amplia a base de apoio às pautas que defendem.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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19
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Religiosa e a política partidária no Brasil recente. In: Humanidades, políticas públicas
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A TRANSIÇÃO RELIGIOSA NO BRASIL: CONTRIBUIÇÃO SOBRE ALGUNS DOS


ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E POLÍTICOS. Trabalho apresentado no XI
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Revista Internacional de Direitos Humanos, vol. 16, n. 29. São Paulo, ed. Rede
Universitária de Direitos Humanos, 2019.

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