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Mestrado em Práxis Urbana Pastoral

Curso: Democracia, cidadania e laicidade.


Professor: Dr. Rubens Muzio
Aluno: F. Diassis Andrade.
Data: 19/01/2023

Resenha
PROENÇA, Wander de Lara. Do sigilo nas lojas maçônicas ao grito
revolucionário nas ruas: percursos da participação evangélica na política
brasileira. Em: MUZIO, Rubens, ed. Revolução Silenciosa. São Paulo: Editora
Recriar, 2022.

Este artigo de natureza histórico-teológico, o autor aborta um assunto tanto


presente quanto antigo na história política brasileira, principalmente, a participação
de evangélicos e seu crescente envolvimento nas últimas décadas.
Proença (2022, pp. 135-136) discorrer do assunto, dividindo o capítulo em
três partes principais além da introdução e das considerações finais com a intenção
de responder as seguintes perguntas: como foi a relação entre fé e política quando
o Brasil recebeu os primeiros protestantes? Qual foi o comportamento evangélico,
incluindo protestantes e pentecostais, em relação à política brasileira ao longo do
século XX? Quem são os evangélicos que se identificam politicamente com a direita
e com a esquerda? O que os leva a este posicionamento? Quais são as pautas ou
demandas dos evangélicos quando buscam a eleição de seus representantes para
cargos públicos? Como se dá a relação entre crença e religião em um Estado laico?
Tendo como desenvolvimento de sua temática: Fé e política no
desenvolvimento do protestantismo no Brasil, é abordada inicialmente por Proença
com a chegada dos primeiros protestantes no Brasil colonial, ou seja, a primeira
inserção no país, pelos huguenotes (calvinistas franceses) liderados por Nicolau
Villegaignon em 1955, alguns pastores enviados por Calvino da cidade de Genebra,
Suíça com o propósito de difundir o culto protestante. Estes foram expulsos em
1560 por conta de conflitos com líderes políticos e religiosos portugueses. Além dos
calvinistas franceses, o Brasil colonial teve a presença de protestantes holandeses
entre 1630 e 1654. Estes se estabeleceram inicialmente em Pernambuco e outras
partes do Nordeste. Mais uma vez, por conta de conflitos políticos econômicos,
houve a batalha de Guararapes, o que culminou com a expulsão dos protestantes
holandeses. Um ponto importante abordado pelo autor do artigo é com relação ao
apoio da Maçonaria aos primeiros protestantes, principalmente cedendo o espaço
da loja para a realização dos cultos, reuniões e atividades sociais.
Com a chegada da coroa portuguesa no Brasil, o protestantismo passou a ter
uma relativa liberdade por conta do Tratado de Aliança e Amizade e Comércio e
Navegação com a Inglaterra. Uma data significativa contribuição para o
protestantismo foi dado pela abertura que Dom Pedro II deu para o casal de
missionários escoceses, o médico Robert Kalley e Sarah Kalley. Estes casal por
conta do relacionamento amistoso e político na época, foi permitido abrir o permeio
templo congregacional do Brasil, em Rio Janeiro de 1855. A respeito da chegada do
protestantismo em solo brasileiro, já levando em conta o que o autor do artigo
apresentou, não poderia deixar de mencionar a chegadas de outras tradições
protestantes em solo brasileiro como: os Luteranos em 1824, os Metodistas em
1835, os Congregacionais em 1855 (como já mencionado), os Presbiterianos em
1859, os Batistas em 1870 e os Adventistas em 1890. A Igreja Católica por conta da
chegada de profissionais europeus (sobre influência do protestantismo) e as suas
ideias sanitárias, precisou se adequar com relação aos seu cemitérios. Como diz
Proença (2022, p. 141) “a influência protestante, entretanto, demonstrou-se em
termos políticos, fazendo com que o Estado brasileiro fosse gradativamente
assumindo o controle da morte no país, culminando na definitiva administração dos
cemitérios pelo poder público com o advento da República, em 1889, assegurada na
Constituição de 1891, que selou a laicidade do Estado brasileiro, selando a
separação entre igreja e Estado. A primeira metade do século XX ficaria marcada
por uma total ausência da participação evangélica na esfera da política pública,
prevalecendo a indiferença e o distanciamento, como outsiders, que vivem em seu
próprio mundo, tendo como slogan: "o crente não se mete em política”. Tal
comportamento é fruto, em parte, de sua visão escapista da história, decorrente de
uma escatologia dispensacionalista nominada de pré-milenismo, originária nos EUA,
com projeção das ideias de uma vida melhor no devir apocalíptico. Por conta do
pentecostalismo surgindo nos EUA e sua expansão no Brasil, Proença diz que a
partir de 1910 desenvolveu-se com os nomes de Congregação Cristã e Assembleia
de Deus, surgindo nos anos de 1950 outras igrejas pentecostais como a Igreja
Quadrangular e o Brasil para Cristo.
Acredito que todo esse ambiente protestante mesclado com o
pentecostalismo, mudaria o comportamento político dos evangélicos nas próximas
décadas (1960 em diante).
Para Proença, o engajamento de evangélicos na política pode ser mais bem
entendido com cinco razões, a saber:
1. Nas décadas de 1960 e 1970, o medo do comunismo era generalizado
entre os protestantes, pois era associado ao ateísmo, interferência no
comportamento e valores sociais, famílias, fechamento de igrejas e
perseguição aos cristãos. Por conta desse medo, a Igreja começou a
vincular o bloco da União Soviética e sua visão comunista com a
esquerda. Com a notícia de que nos países onde se instalou o regime
socialista, o ateísmo se difundia nas escolas, igrejas foram fechadas,
missionários e líderes perseguidos e mortos. Como forma de defesa
contra essa ameaça comunista envolvendo a oposição brasileira, os
protestantes, com grande representatividade, apoiaram e abordaram
estrategicamente o regime militar instalado no país após o Golpe de 31 de
março de 1964, fixando-se assim desde aquela época no imaginário
coletivo protestante a identificação imediata de governos militares de
direita como os defensores da pátria, da religião e da família.
2. Por canta das eleições para a constituinte de 1988, e a nova Constituição
do País, instrumentalizando-se a participação político-partidária de
evangélicos para assegurar os seus interesses e valores morais na nova
Carta Magna. Aqui se destaca a Igreja Assembleia de Deus, com a
mobilização para eleger seus representantes a fim de fortalecer a igreja
contra as ideia comunistas e a possível volta da Igreja Católica como
religião oficial do Estado.
3. A nova visão teológica advinda do neopentecostalismo. Essa vindo dos
EUA, ganhando notoriedade principalmente com as igrejas: Universal do
Reino de Deus, Internacional da Graça de Deus e Renascer em Cristo.
Essas Igrejas sobre a bandeira da teologia da prosperidade, apresentou
para os seus adeptos: 1 – uma vida de felicidade e sucesso possível
nesta vida, 2 – o cristão deve buscar projeção na sociedade (um
empresário bem-sucedido, ou na ocupação de cargos importantes na
esfera pública) com a ideia de que o “crente deve ser cabeça e não
cauda”.
4. Uma visão teológica que o cristão é chamado para governar. Uma vez
que a ideia é de ser cabeça e não cauda, é preciso que a igreja ocupe
cada vez mais espaços públicos de governo em vez de serem governados
por incrédulos. Com base na teologia do domínio com a ideia de que a
igreja é responsável por estabelecer princípios cristãos nos diversos
setores da sociedade.
5. A influência evangélica sobre o espaço público, apoiando as lideranças
políticas com orações, leitura da Bíblia ou algum tipo de auxílio espiritual.
Sendo uma ideia americana, com a finalidade de desenvolver um
cristianismo aplicado a política, principalmente convertendo os políticos e
servidores públicos a visão cristã evangélica.
Os evangélicos de direita e de esquerda como é apresentado neste artigo,
tem sua origem conceitual na Guerra Fria, por conta da polarização entre a União
Soviética e os Estados Unidos, ou seja, entre o comunismo e o capitalismo. Para
Proença, tudo isso mexeu com o imaginário evangélico, acimentando assim a ideia
de que o que é de direita é bom, positivo e divino e o de esquerda é ruim, negativo e
diabólico. No decorrer deste capítulo, o autor desenvolver todo o labor político,
levando em consideração as expressões políticas dos últimos meses do ano de
2022. Proença concluí o capítulo apresentando quatro tendências do cenário pelo
qual o Brasil se apresenta: 1 - Por conta do vertiginoso crescimento evangélico,
mais e mais cristão estarão envolvidos na política. O que é bom para um lado, mas
prejudicial por outro, por conta da natureza política em essencial. 2 - O constante
conflito entre os evangélicos tanto de esquerda quanto de direita. 3 - O crescimento
dos desigrejados e a ampliação dos outsider ou melhor dizendo, de cristãos que não
estarão vinculado a nenhum seguimento religioso ou partidário. 4 - A participação
evangélica de forma ativa e plena.
A proposta de Proença a meu ver é além de histórica-teológica, social. A
igreja continuará vivendo a tensão existe entre o “já e o todavia não”.

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